Relatório Iniciação Científica - Gabriella Pedrosa

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA
Programa Institucional de Iniciação Científica
Roteiro para elaboração do Relatório Final de Atividades
(Máximo de 20 páginas de papel A4, letra corpo 12 e espaço simples)
CADA BOLSISTA DEVERÁ APRESENTAR UM RELATÓRIO INDIVIDUAL E ANEXÁ-LO EM FORMATO
PDF EM SEU SISTEMA DE FOMENTO PARA A POSTERIOR APROVAÇÃO DO ORIENTADOR, ALÉM
DE PREENCHER OS DEMAIS CAMPOS SOLICITADOS.
A ser elaborada pelo bolsista, com supervisão do orientador
1.1. Programa: Programa de Iniciação Científica Voluntária da UFMG
Nº do Edital: PRPq - 2014
1.2. Modalidade de relatório: FINAL
Deve ser apresentado 30 dias após o último dia de vigência do Programa (até 30 de
agosto para PIBIC/CNPq e 31 de março para PROBIC/FAPEMIG), ou quando houver
substituição do aluno bolsista durante a vigência do Programa (até 30 dias após
efetivada a substituição).
.
1.3. Identificação:
Nome do bolsista: Gabriella Pedrosa Santos Cunha
Número de Matrícula: 2015024357
Nome do curso: Letras
Nome do orientador: Luana Lopes Amaral
Unidade/Departamento do Orientador: FALE
Título do projeto de pesquisa do orientador: Alternâncias de Objeto no
Português Brasileiro
1.4. Período do relatório:
Data de início e de término da atividade do bolsista:
Junho/2016 – Fevereiro/2017
1.5. Relatório técnico-científico (usar linguagem científica, mostrando clareza,
objetividade e concisão):
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 Introdução e fundamentação
“Alternância verbal” ou “alternância argumental” (Levin, 1993; Levin; Rappaport
Hovav, 2005; Cançado et al., 2013) é um fenômeno referente às diferentes formas que os
verbos podem se apresentar, considerando a distribuição e a posição sintática de seus
argumentos. Na Linguística, a área de pesquisa que aborda esse conteúdo é a da
Semântica Lexical, já que entre os verbos que realizam a mesma alternância é possível
encontrar certas propriedades semânticas em comum. O verbo quebrar, por exemplo,
pode aparecer em duas sentenças diferentes e com distintas estruturas, como pode ser
observado a seguir:
(1) a. O menino quebrou a janela.
b. A janela (se) quebrou.
Esse é um fenômeno típico da alternância verbal, em que o verbo quebrar alterna entre
duas estruturas: causativa em (1a) e incoativa em (1b).
Uma das possíveis maneiras de encontrar e determinar tais propriedades é
através da análise dos papéis temáticos atribuídos aos argumentos do verbo. Segundo
Cançado e Amaral (2016), o verbo, estabelecendo uma relação de sentido com seu
sujeito e seus complementos, atribui-lhes funções, um papel para cada argumento. São
essas funções que chamamos de papéis temáticos. Pode-se evidenciar, então, que os
papéis temáticos são noções semânticas que apresentam relações diretas com estruturas
sintáticas. A hipótese é que haja propriedades comuns em relação ao papel temático
atribuído aos argumentos dos verbos, nos quais ocorre a mesma alternância. No caso do
exemplo (1) acima, pode-se perceber que há uma alteração na estrutura argumental das
sentenças. Em (1a), o menino é causa, e a janela é paciente. Já em (1b) há apenas um
argumento: a janela, que recebe o papel temático de paciente.
Outra possível análise é através da decomposição de predicados. De acordo
com Cançado e Amaral (2016), a decomposição de predicados é não apenas uma
metalinguagem utilizada para representar o sentido dos verbos, mas também uma forma
de analisar a composicionalidade semântica desses itens lexicais. Portanto, em relação à
alternância, pode-se encontrar nos verbos analisados, componentes de sentido em
comum. Ainda em relação ao exemplo em (1), em termos de decomposição de
predicados, tem-se a generalização de que todos os verbos que apresentarem a estrutura
abaixo poderão participar da alternância:
(2) [[X ACT] CAUSE [BECOME [Y <STATE>]]]
Tendo como base essas duas formas de análise, foi desenvolvida neste projeto
uma pesquisa sobre a alternância locatum-sujeito nos verbos do português brasileiro
(PB). O termo locatum-sujeito foi proposto por Levin (1993). Nessa alternância, verbos
que permitem uma configuração sintática do tipo SN1 V SN2 P SN3 também permitem uma
configuração sintática do tipo SN3 V SN2. Em síntese, o SN2 que aparece como objeto
indireto passa para a posição de sujeito. Um exemplo desse tipo de fenômeno é dado
abaixo:
(3) a. O homem encheu o balde de água.
b. A água encheu o balde.
A hipótese levantada é que, assim como no caso do exemplo apresentado
anteriormente, a alternância locatum-sujeito também pode ser explicada através de
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propriedades semântico-lexicais dos verbos alternantes. Para explicitar
propriedades, serão utilizadas estruturas de decomposição de predicados.
essas
 Objetivos
Pode-se estabelecer como objetivo geral desta pesquisa a contribuição para
descrição do Léxico verbal do PB. Este projeto se insere no projeto maior intitulado
"Descrição e representação semântica do léxico verbal do português brasileiro",
desenvolvido pelo Núcleo de Pesquisa em Semântica Lexical (NUPES) da FALE/UFMG. 1
Além disso, tem-se como objetivos específicos da pesquisa os seguintes
pontos:
- Fazer um levantamento extensivo dos verbos do PB que aceitam a
alternância locatum-sujeito;
- Fazer uma leitura do referencial teórico numa abordagem da SemânticaLexical;
- Fazer uma análise dos dados coletados, descrevendo a alternância e a classe
dos verbos que a realizam;
- Propor para uma análise teórica para os dados encontrados.
 Metodologia
Para a realização desta pesquisa, o primeiro processo executado foi a coleta
de dados, através do Dicionário Gramatical de Verbos do Português Contemporâneo do
Brasil (Borba, 1990). Com essa coleta, foi possível encontrar alguns verbos do PB que
realizam a alternância locatum-sujeito (Apêndice A). Após a listagem dos verbos foram
construídas sentenças gramaticais e agramaticais, com base na intuição de falantes do
PB, atentando-se, principalmente, à gramaticalidade das sentenças com o sintagma
preposicionado na posição de sujeito e à ocorrência de uma estrutura com um argumento
SP nucleado pela preposição de ou pela preposição com, como pode ser observado no
exemplo a seguir:
(4) Abastecer
a. O frentista abasteceu o carro de/com gasolina.
b. O carro ficou abastecido de/com gasolina.
c. *O carro (se) abasteceu de gasolina.
d. A gasolina abasteceu o carro.
e. O carro foi abastecido de/com gasolina.
f. ? O carro foi abastecido pelo frentista.
g. O carro já abasteceu.
O procedimento seguinte para a realização da pesquisa foi a revisão
bibliográfica do tema, partindo para leitura de textos da área da Interface SintaxeSemântica Lexical. Foram lidos textos em que se abordava o conteúdo de papéis
temáticos e de decomposição de predicados, ressaltado sua relevância para a sintaxe
(Cançado; Amaral, 2016), e, também, a definição da alternância e de verbos que a
realizam no inglês (Levin, 1993).
Por fim, foi feita uma análise teórica da alternância locatum-sujeito. Nessa
etapa, foram realizadas análises semânticas e sintáticas com os verbos coletados, como
a atribuição de papéis temáticos aos seus argumentos e a decomposição de predicados,
para que fossem evidenciadas as informações presentes na entrada lexical desses
verbos. A partir das informações obtidas com as análises, foi possível compreender a
1
http://www.letras.ufmg.br/nucleos/nupes/
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classe que comporta os verbos que realiza essa alternância, evidenciando as
propriedades semânticas que são relevantes para a gramática.
 Resultados alcançados e discussão
A partir de uma análise dos verbos coletados, pôde-se perceber que apenas
alguns deles permitem a alternância locatum-sujeito (Apêndice A). Como ocorre, por
exemplo, nos verbos decorar, encharcar, preencher, sobrecarregar, melar:
(5) a. João decorou a sala de móveis.
b. Os móveis decoraram a sala.
(6) a. Maria encharcou o pano de água.
b. A água encharcou o pano.
(7) a. O homem preencheu os espaços vazios de quadros.
b. Quadros preencheram os espaços vazios.
(8) a. O chefe sobrecarregou o empregado de tarefas.
b. Tarefas sobrecarregaram o empregado.
(9) a. O menino melou a mão de açúcar.
b. A açúcar melou a mão.
Nesses exemplos, as sentenças em (a) possuem a configuração sintática SN1
V SN2 P SN3, já em (b) há uma alteração: SN3 V SN2. Ou seja, o SN que aparece como
objeto indireto em (a) passa para a posição de sujeito em (b). Em (5), móveis é o SN3, em
(5a) ele é objeto indireto do verbo decorar, em (5b) ele passa a ser o sujeito.
Com isso, pode-se definir que os verbos que permitem a alternância locatumsujeito correspondem à classe dos verbos de mudança de estado de posse.
Considerando a decomposição de predicados (Cançado, Amaral, 2016) esses verbos
apresentam a seguinte estrutura:
(10) [[X ACT (VOLITION)] CAUSE [BECOME [[Y <STATE>] POSS Z]]]
A raiz da decomposição acima pertence à categoria ontológica STATE, que
significa estado. O predicado STATE é saturado pela variável Y, formando o constituinte
[Y <STATE>], já que os verbos analisados acarretam a preposição y ficar estado – em
que o estado é denotado por um adjetivo morfologicamente relacionado ao verbo. O
constituinte [Y <STATE>], por sua vez, satura o predicado POSS, que é biargumental,
tendo como outro argumento a variável Z, formando: [[Y <STATE>] POSS Z]], o que
indica que y passa a possuir z. Esse constituinte semântico satura o predicado BECOME,
que indica a mudança de estado denotada pelo acarretamento y ficar estado. Já a
estrutura de BECOME satura o predicado CAUSE, já que este pede um argumento
eventivo. Por ser um predicado biargumental, CAUSE coloca outra posição na estrutura,
saturada pelo constituinte [X ACT], o que indica que é algo ou alguém que desencadeia a
ação, com ou sem intenção. (VOLITION) está associado à noção de volição e,
consequentemente, à noção de agentividade ou causa.
Essa ocorrência pode ser observada nos exemplos a seguir:
(11) a. O jardineiro encheu o balde de terra.
b. O balde ficou cheio (de terra).
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(12) a. A ventania atulhou o quarto de folhas.
b. O quarto ficou atulhado (de folhas).
Em (11a), por exemplo, o jardineiro corresponde a X; Y é representado por o
balde e Z está associado a terra. O jardineiro realizou uma ação (X ACT): encher o balde
de terra; essa ação causou (CAUSE) um resultado: o balde ficou cheio de terra (BECOME
[Y <STATE> POSS Z]). É possível perceber que o STATE (estado) de Y (o balde) após a
ação de X (o jardineiro) é o de ficar cheio; cheio está morfologicamente relacionado ao
verbo encher. Portanto, a decomposição de predicados do verbo encher seria:
(13) [[X ACT (VOLITION)] CAUSE [BECOME [[Y <CHEIO>] POSS Z]]]
Pelo mesmo raciocínio, o STATE em (12a) seria atulhado.
Após analisar a decomposição de predicados dos verbos de mudança de
estado de posse, pode-se estabelecer uma relação com os papéis temáticos atribuídos
aos seus argumentos e também com a estrutura sintática das sentenças. Observe o
exemplo a seguir, referente à alternância locatum-sujeito:
(14) a. A menina lambuzou o menino de mel.
b. O mel lambuzou o menino.
Na sentença (14a), a menina recebe o papel temático de agente, uma vez que
ela é desencadeadora de uma ação, que é lambuzar; na análise sintática, esse termo
representa o sujeito da oração. Por sua vez, o menino pode ser considerado como
locativo, já que ele é o lugar para onde algo se desloca; e sintaticamente, o menino é
objeto direto. Já ao termo mel, é atribuído o papel temático de tema, uma vez que ele é
uma entidade transferida por uma ação; na sintaxe da sentença, de mel é objeto indireto.
Entretanto, em (14b), ocorre uma alteração. O mel, apesar de permanecer com
o papel temático de tema, passa a ser sujeito da oração. Por essa capacidade de se
mover em oposição ao locativo o menino é que o termo o mel é considerado um
argumento locatum, de acordo com Levin (1993). Dessa forma, a alteração que ocorreu
de (14a) para (14b) é considerada uma alternância locatum-sujeito do PB.
Portanto, quando o objeto indireto de uma sentença pode aparecer na posição
de sujeito em outra configuração sintática, ocorre a alternância locatum-sujeito. Observe
outros exemplos:
(15) a. O João abasteceu o carro de gasolina.
b. A gasolina abasteceu o carro.
(16) a. O motorista lotou a van de alunos.
b. Os alunos lotaram a van.
Através disso, podemos estabelecer uma relação com a decomposição de
predicados. [[X ACT (VOLITION)] está associado ao papel temático de agente, em que X age,
desencadeando uma ação. O predicado primitivo POSS indica que Y passa a ficar com
algo, assim, Y refere-se ao papel temático de locativo (para onde algo se desloca) e Z é
tema, entidade transferida a Y.
Em (15a), por exemplo, o locativo é o carro e o tema é gasolina. Gasolina é
uma entidade que é transferida para o carro. Com isso, o carro passa a ficar com
gasolina. E o desencadeador dessa ação (o agente) é o João.
Após essa análise, é possível fazer uma comparação entre os verbos de
mudança de estado de posse (os quais permitem a alternância locatum-sujeito) e os
verbos de mudança de posse.
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Os verbos de mudança de posse denotam uma mudança de lugar, mas nesse
caso, o objeto que sofre a mudança de lugar é definido pelo nome contido no verbo e o
locativo é dado por um de seus argumentos. Portanto, os verbos dessa classe
apresentam a seguinte estrutura de decomposição de predicados:
(17) [[X ACT] CAUSE [[BECOME [Y POSS <THING>]]
Nos verbos de mudança de estado de posse, a categoria ontológica da raiz não
pode ser THING (como no caso dos verbos de mudança de posse), pois o objeto locatum
não é um nome contido no verbo, mas sim um argumento da estrutura verbal. Portanto,
os verbos da classe de mudança de posse não participam da alternância locatum-sujeito.
Para concretizar essa ocorrência, observe o exemplo que se segue:
(18)
a. Maria amanteigou o pão de manteiga.
b. *A manteiga amanteigou o pão.
Em (18a), Maria recebe o papel temático de agente, desencadeando uma
ação. O pão é o locativo e manteiga é tema. Portanto, após a ação o pão passa a ficar
com manteiga. Entretanto, apesar dessa ideia de mudança de estado de posse, como
ocorre nos exemplos anteriores, o termo manteiga, na decomposição de predicados está
na própria raiz, o que não ocorre com o argumento locatum. Observe a comparação:
(19)
(20)
a. Maria encheu o vaso de água.
b. [[X ACT (VOLITION)] CAUSE [BECOME [[Y <CHEIO>] POSS Z]]]
a. Maria amanteigou o pão de manteiga.
b. [[X ACT] CAUSE [[BECOME [Y POSS <MANTEIGA>]]
Em (19a), água, que é representado por Z, está fora da raiz na decomposição
de predicados. O que fica na raiz é um termo morfologicamente associado ao verbo:
encher – cheio. Com isso, percebemos que Z é um argumento do verbo. Isso é o que
ocorre com todos os outros verbos que realizam a alternância locatum-sujeito. Já na
sentença (20a), manteiga está dentro da raiz, uma vez que o verbo amanteigar já contém
em seu significado o ato de colocar manteiga e não aceita outro argumento.
Além disso, pode-se perceber que os verbos que realizam a alternância
locatum-sujeito (21b), permitem uma estrutura da forma passiva sintática com posse (21c)
e com agente (21d).
(21)
a. A guia lotou o ônibus de turistas.
b. Os turistas lotaram o ônibus.
c. O ônibus foi lotado de turistas.
d. O ônibus foi lotado pela guia.
Finalmente, deve-se ressaltar que há verbos dessa classe que apresentam um
comportamento sintático além daqueles apresentados até aqui. Em suma, trata-se de
verbos que aceitam a alternância causativo-incoativo, como mostram os exemplos abaixo.
(22)
(23)
a. A tempestade entulhou a praia de lixo.
b. O lixo entulhou a praia.
c. A praia (se) entulhou de lixo.
d. ? A praia (se) entulhou.
a. A chuva encharcou o tapete de água.
b. A água encharcou o tapete.
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c. O tapete (se) encharcou de água.
d. ?O tapete (se) encharcou.
A partir desses exemplos, é possível perceber que há sempre a possibilidade
de uma causa na posição de sujeito, revelando a relevância desse aspecto semântico
para a ocorrência dessa alternância. Além disso, é importante atentar-se ao fato de que a
construção da forma incoativa sem a presença do argumento locatum apresenta certo
estranhamento, como mostram os exemplos (22d) e (23d).
 Conclusões
Com a análise dos verbos que permitem a alternância locatum-sujeito foi
possível concluir que há uma nova classe para esses verbos: a classe dos verbos de
mudança de estado de posse, que se difere da classe dos verbos de mudança de posse.
Com isso, pôde-se concluir que esses verbos têm uma estrutura de decomposição de
predicados específica: [[X ACT (VOLITION)] CAUSE [BECOME [[Y <STATE>] POSS Z]]], em
que Y passa a possuir Z através de uma ação de X. Já em relação à atribuição de papéis
temáticos, os resultados desta pesquisa apontam que X pode ser agente ou causa, Y é o
locativo e Z é tema.
Assim, em uma análise sintática, a alternância locatum-sujeito se evidencia:
(24) a. A menina lambuzou o menino de mel.
b. O mel lambuzou o menino.
O termo mel em (24a) que ocupava a posição de objeto indireto - representado
por Z na decomposição de predicados e tema na atribuição de papéis temáticos – passa a
ser o sujeito da oração em (24b). Além disso, com a realização desta pesquisa,
evidenciou-se um comportamento distinto de certos verbos dessa classe: a realização da
alternância causativo-incoativo.
Por fim, a análise da alternância locatum-sujeito fez com que se
apresentassem traços semânticos dos verbos que são relevantes gramaticalmente.
 Referências bibliográficas
BORBA, F. (Coord.) Dicionário gramatical de verbos do português contemporâneo do
Brasil. 2. ed. São Paulo: Editora da Unesp, 1990.
CANÇADO, M.; GODOY, L.; AMARAL, L. Catálogo de verbos do português brasileiro:
classificação verbal segundo a decomposição de predicados. Vol 1 - Verbos de mudança.
Belo Horizonte: Editora UFMG, 2013.
CANÇADO, Márcia; AMARAL, Luana. Introdução à Semântica Lexical: papéis temáticos,
aspecto lexical e decomposição de predicados. Petrópolis: Editora Vozes, 2016.
LEVIN, B. English verb classes and alternations: a preliminary investigation. Chicago: The
University of Chicago Press, 1993.
LEVIN, B.; RAPPAPORT HOVAV, M. Argument realization. Cambridge: Cambridge
University Press, 2005.
APÊNDICE A
8
- Abastecer: João abasteceu o carro de gasolina. / A gasolina abasteceu o carro.
- Abarrotar: Maria abarrotou o armário de roupas. / Roupas abarrotaram o armário.
- Adereçar: A menina adereçou a blusa de brilho. / O brilho adereçou a blusa.
- Adornar: Maria adornou um vestido de pingentes. / Pingentes adornaram o vestido.
- Apinhar: Maria apinhou a confeitaria de doces. / Doces apinharam a confeitaria.
- Atulhar: André atulhou o armário de roupas sujas. / Roupas sujas atulharam o armário.
- Banhar: Carlos banhou a escultura de ouro. / O ouro banhou a escultura.
- Besuntar: O homem besuntou os troncos de cal. / A cal besuntou os troncos.
- Circundar: O pai circundava o filho de livros. / Os livros circundavam o filho.
- Cobrir: Marcos cobriu o chão de pisos. / Pisos cobriram o chão.
- Complementar: João complementou o vinho de água. / A água complementou o vinho.
- Completar: João completou o pote de açúcar. / A açúcar completou o pote.
- Contagiar: A menina contagiou a festa de alegria. / A alegria contagiou a festa.
- Contaminar: O cientista contaminou a água de vírus. / O vírus contaminou a água.
- Decorar: O arquiteto decorou a sala de novos móveis. / Novos móveis decoraram a sala.
- Desabastecer: O homem desabasteceu o carro de gasolina. / A gasolina desabasteceu o
carro.
- Descobrir: O homem descobriu o jardim de flores. / Flores descobriram o jardim.
- Descontaminar: O cientista descontaminou a água de vírus. / Vírus descontaminaram a
água.
- Desembrulhar: O homem desembrulhou o presente de papel. / O papel desembrulhou o
presente.
- Desenfeitar: A mulher desenfeitou a blusa de brilhos. / Brilhos desenfeitaram a blusa.
- Desentulhar: O homem desentulhou a área de bagunça. / A bagunça desentulhou a
área.
- Desinfestar: João desinfetou o objeto com água. / A água desinfetou o objeto.
- Despovoar: O prefeito despovoou o bairro de novos moradores. / Novos moradores
despovoaram o bairro.
- Destampar: O homem destampou o buraco de terra. / A terra destampou o buraco.
- Embrulhar: João embrulhou o presente com papel. / O papel embrulhou o presente.
- Embuchar: Maria embuchou a almofada de pano. / O pano embuchou a almofada.
- Empanturrar: João empanturrou o cachorro de ração. / A ração empanturrou o cachorro.
- Empanzinar: João empanzinou o gato de ração. / A ração empanzinou o gato.
- Empapar: O calor empapou o cabelo de suor. / O suor empapou o cabelo.
- Empastar: Maria empastou o rosto de creme. / O creme empastou o rosto.
- Emplastar/emplastrar: João emplastou a mão de creme. / O creme emplastou a mão.
- Encharcar: Maria encharcou o pano de água. / A água encharcou o pano.
- Encher: O homem encheu o balde de água. / A água encheu o balde.
- Enfeitar: Maria enfeitou a roupa de brilho. / Brilho enfeitou a roupa.
- Ensopar: João ensopou o sapato de água. / A água ensopou o sapato.
- Entulhar: João entulhou a sala de lixo. / O lixo entulhou a sala.
- Entupir: Maria entupiu a caixa de terra. / A terra entupiu a caixa.
- Estampar: Felipe estampou a blusa de estrelas. / Estrelas estamparam a blusa.
- Fornir: João forniu a casa de alimentos. / Alimentos forniram a casa.
- Guarnecer: Maria guarneceu a casa de comida. / Comida guarneceu a casa.
- Infestar: Maria
- Lambuzar: A menina lambuzou o menino de mel. / O mel lambuzou o menino.
- Lotar: Maria lotou o armário de roupas. / Roupas lotaram o armário.
- Melar: O menino melou a mão de açúcar. / A açúcar melou a mão.
- Pintar: O homem pintou o quarto de tinta. / A tinta pintou o quarto.
- Povoar: O prefeito povoou o bairro de novos moradores. / Novos moradores povoaram o
bairro.
9
- Preencher: O homem preencheu espaços vazios de móveis. / Móveis preencheram
espaços vazios
- Pulverizar: João pulverizou o muro com tinta. / A tinta pulverizou o muro.
- Reabastecer: Maria reabasteceu a caixa de água. / A água reabasteceu a caixa.
- Recobrir: João recobriu o jardim de árvores. / Árvores recobriram o jardim.
- Repovoar: O prefeito repovoou a creche de crianças. / Crianças repovoaram a creche.
- Sobrecarregar: O chefe sobrecarregou João de tarefas. / Tarefas sobrecarregaram João.
- Tampar: O homem tampou o buraco de terra. / A terra tampou o buraco.
1.6. Principais fatores negativos e positivos que interferiram na execução do
projeto técnico-científico:
Com relação aos fatores positivos, pode-se citar a grande solicitude da minha
orientadora Luana Amaral. Esse apoio foi essencial para a realização da pesquisa, uma
vez que através dela tive grande suporte em material teórico e dúvidas esclarecidas
rotineiramente. Além disso, também posso ressaltar a presença e ajuda constante da
professora Márcia Cançado, a qual também é pesquisadora do Núcleo de Pesquisa em
Semântica Lexical. A disciplina ministrada por ela de Introdução à Semântica Lexical foi
muito importante para apreensão do conhecimento relativo ao tema pesquisado. Outro
fator positivo para execução do projeto foram as reuniões e os encontros do NUPES, em
que muitos assuntos relacionados foram abordados, fato que engrandeceu minha
pesquisa.
Quanto aos fatores negativos, posso citar alguns pequenos contratempos que
tivemos durante a execução do projeto. Como o período de greve na Faculdade de
Letras, e também a escassa bibliografia sobre o assunto pesquisado em português.
Contudo, todos eles foram superados e pude viver uma ótima experiência em minha
graduação com a realização dessa pesquisa.
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