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UNIVERSIDADE LUSÍADA DE LISBOA
Faculdade de Arquitectura e A rtes
Mestrado integ rado em Arquitec tura
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Faculdade de Arquitectura e Artes
Mestrado Integrado em Arquitectura
O terraço como exemplo de um facto arquitectónico
definidor de uma topografia de relação com a
paisagem
Rui Alexandre Castanho Sequeira
Lisboa
Novembro 2013
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I S B O A
Faculdade de Arquitectura e Artes
Mestrado Integrado em Arquitectura
O terraço como exemplo de um facto arquitectónico
definidor de uma topografia de relação com a
paisagem
Rui Alexandre Castanho Sequeira
Lisboa
Novembro 2013
Rui Alexandre Castanho Sequeira
O terraço como exemplo de um facto arquitectónico
definidor de uma topografia de relação com a
paisagem
Dissertação apresentada à Faculdade de Arquitectura e
Artes da Universidade Lusíada de Lisboa para a
obtenção do grau de Mestre em Arquitectura.
Orientador: Prof. Doutor Arqt. Joaquim José Ferrão de
Oliveira Braizinha
Co-orientador: Prof. Doutor
Herculano Seixas de Azevedo
Lisboa
Novembro 2013
Arqt.
Orlando
Pedro
Ficha Técnica
Autor
Orientador
Co-orientador
Rui Alexandre Castanho Sequeira
Prof. Doutor Arqt. Joaquim José Ferrão de Oliveira Braizinha
Prof. Doutor Arqt. Orlando Pedro Herculano Seixas de Azevedo
Título
O terraço como exemplo de um facto arquitectónico definidor de uma
topografia de relação com a paisagem
Local
Lisboa
Ano
2013
Mediateca da Universidade Lusíada de Lisboa - Catalogação na Publicação
SEQUEIRA, Rui Alexandre Castanho, 1989O terraço como exemplo de um facto arquitectónico definidor de uma topografia de relação com a
paisagem / Rui Alexandre Castanho Sequeira ; orientado por Joaquim José Ferrão de Oliveira
Braizinha, Orlando Pedro Herculano Seixas de Azevedo. - Lisboa : [s.n.], 2013. - Dissertação de
Mestrado Integrado em Arquitectura, Faculdade de Arquitectura e Artes da Universidade Lusíada de
Lisboa.
I - BRAIZINHA, Joaquim José Ferrão de Oliveira, 1944II - AZEVEDO, Orlando Pedro Herculano Seixas de, 1963LCSH
1. Casas com terraço
2. Universidade Lusíada de Lisboa. Faculdade de Arquitectura e Artes - Teses
3. Teses – Portugal - Lisboa
1. Terrace houses
2. Universidade Lusíada de Lisboa. Faculdade de Arquitectura e Artes - Dissertations
3. Dissertations, Academic – Portugal - Lisbon
LCC
1. NA7521.S47 2013
AGRADECIMENTOS
A apresentação e realização desta dissertação significa, principalmente o fim de uma
etapa da minha vida e de um longo percurso académico. São inúmeras as pessoas
que contribuíram para que este sonho seja uma realidade e que foram determinantes
na minha vida de estudante, e deste modo, agradeço desde já a todas elas.
Gostaria de referir os professores Joaquim Braizinha e Orlando Azevedo (Orientador e
Co-orientador, respectivamente), pela sua disponibilidade e pelos seus inesgotáveis
ensinamentos transmitidos durante todo este tempo entre a cadeira de Projecto III e no
apoio na realização deste documento.
Quero agradecer ainda a todos os meus professores, mas principalmente a dois que
fizeram parte deste meu curso de Arquitectura, mais concretamente à Professora Lígia
Félix e ao Professor Álvaro Cidrais, por tudo aquilo que me transmitiram durante o
curso, pelo incentivo, dedicação e disponibilidade incondicional que demostraram.
Em último lugar, e principalmente, a toda a minha família, em especial à minha mãe e
ao meu pai, pelo amor, incentivo e paciência que tiveram durante todo este meu
percurso até aqui.
“Todo o estado de alma é uma passagem.
Isto é, todo o estado de alma é não só
representável por uma paisagem, mas
verdadeiramente uma paisagem. Há em nós
um espaço interior onde a matéria da nossa
vida física se agita. Assim, uma tristeza é
um lago morto dentro de nós, uma alegria,
um dia de sol no nosso espírito. E – mesmo
que se não queira admitir que todo o estado
de alma é uma paisagem – pode ao menos
admitir-se que todo o estado de alma se
pode representar por uma paisagem. Se eu
disser «há sol nos meus pensamentos»,
ninguém
compreenderá
que
os
meus
pensamentos são tristes.
(…) Ora,
essas paisagens fundem-se,
interpenetram-se, de modo que o nosso
estado de alma, seja ele qual for, sofre um
pouco da paisagem que estamos a observar
– um dia de sol, uma alma triste não pode
estar tão triste como num dia de chuva – e,
também, a paisagem exterior sofre do nosso
estado de alma – é de todos os tempos
dizer-se, sobretudo em verso, coisas como
que «na ausência da amada o sol não
brilha», e outras coisas assim.”
PESSOA, Fernando (2009) – Citações e pensamentos de
Fernando Pessoa, Alfragide: Casa das letras. p. 74
APRESENTAÇÃO
O terraço como exemplo de um facto arquitectónico definidor de uma
topografia de relação com a paisagem.
Rui Alexandre Castanho Sequeira
A presente dissertação aborda as questões inerentes à realização e utilização do
terraço como ideia operativa de Arquitectura. Apresenta-se o modo como a
arquitectura cria uma simbiose entre o facto arquitectónico e a paisagem, seja ela
natural ou construída, na criação de um Lugar. O terraço, como espaço acima de um
determinado nível, é apresentado como uma das ideias possíveis para a criação dessa
relação, na perspectiva de ser definidor de uma topografia e de ter como principal
objectivo uma relação com a paisagem. Nesta investigação, a questão sobre o modo
como este espaço se poderá complementar ao espaço de Miradouro, num contexto
urbano, tanto nas suas ideias comuns de relação com a paisagem, bem como na
articulação entre os conceitos de Tipologia e Morfologia urbana.
Palavras-chave: Terraço, Espaços Acima do Nível, Topografia, Miradouro
PRESENTATION
The terrace building as an example of defining a topography and
landscape relationships
Rui Alexandre Castanho Sequeira
The present dissertation approaches the inherent subject of the production and use of
terrace as an operative idea of Architecture. It shows how the architect creates a
symbiosis between the architectural element and the landscape, natural or artificial,
creating a Place. The terrace, as the Space located above other certain levels of
reference, will be presented as a possible idea of creating this relationship, in the
perspective of defining a topography that has a relationship with the landscape as its
main aim. Here, in this investigation, there is reised the question of how this space can
complement the space of a Viewpoint in an urban context, in the common idea of a
relationship with the landscape, as well as in the articulation between the concepts of
the Typology of Building and Urban Morphology.
Keywords: Terrace, Spaces Above Level, topography, Viewpoints
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Ilustração 1 – Imagem referente a crianças a brincar numa casa de árvore,
Margarida Botelho (Botelho, 2006, p. 6) ........................................................... 21
Ilustração 2 – Imagem referente a crianças a brincar numa casa de árvore,
Margarida Botelho (Botelho, 2006, p. 6) ........................................................... 21
Ilustração 3 – Esquema conceptual de organização da dissertação. (Ilustração
nossa, 2013)..................................................................................................... 24
Ilustração 4 – Diagrama estrutural da relação entre os três capítulos relativos
ao Temas com as obras Literárias e arquitectónicas. (Ilustração nossa, 2013) 27
Ilustração 5 – Paisagem referente à civilização Inca, Machu Pichu. (National
Geographic, 2010)............................................................................................ 29
Ilustração 6 – Uso do existente como arquitectura. (Norberg-Schulz, 1981, p.
17-51) ............................................................................................................... 30
Ilustração 7 – Santuário em Atenas. (Norberg-Schulz, 1981, p. 30) ............... 32
Ilustração 8 - Templo funerário da rainha Hatshepsut. (Norberg-Schulz, 1981,
p. 29) ................................................................................................................ 34
Ilustração 9 - Templo funerário da rainha Hatshepsut (Dreyfus, Keller e
Roehrig, 2005, p. 135) ...................................................................................... 34
Ilustração 10 – Desenhos diagramáticos referentes ao templo de Hatshepsut.
(Ilustração nossa, 2013) ................................................................................... 34
Ilustração 11 – Pintura referente à topografia de Nelson e Canterbury, “Seis
dias em Nelson e Canterbury”. (McCahon, 1950) ............................................ 35
Ilustração 12 – Desenho referente à Acrópole grega de Le Corbusier.
(Corbusier, 2004, p. 61) ................................................................................... 39
Ilustração 13 – Montagem de várias imagens do filme “Le Mépris” relativo à
Casa Malaparte. (Godard, 1963) ...................................................................... 40
Ilustração 14 – Desenhos diagramáticos relativos à Casa Malaparte.
(Ilustração nossa, 2013) ................................................................................... 41
Ilustração 15 – Montagem de várias imagens do filme “Le Mépris” relativo à
Casa Malaparte. (Godard, 1963) ...................................................................... 42
Ilustração 16 – Montagem fotográfica relativa à Casa Das Mudas. (Guerra,
2005) ................................................................................................................ 43
Ilustração 17 – Desenhos diagramáticos relativos à Casa das Mudas.
(Ilustração nossa, 2013) ................................................................................... 43
Ilustração 19 – Arquitectura clássica. Acrópole. Atenas (Norberg -Schulz,
1981, p. 75) ...................................................................................................... 44
Ilustração 20 – Desenhos diagramáticos referentes ao Pártenon. (Ilustração
nossa, 2013)..................................................................................................... 45
Ilustração 21 – Foto de Andreas Feininger à paisagem urbana de Nova Iorque.
(Feininger, 1942) .............................................................................................. 47
Ilustração 22 – “Expedição”(Hasucha, 2005) .................................................. 48
Ilustração 23 – Experiências urbanas (Cullen, 1971, p. 178-181)................... 49
Ilustração 24 – “ Viajante sobre o mar de nuvens” (Friedrich, 1815) .............. 50
Ilustração 25 – Montagem com base nesta obra de Friedrich, onde é possível
verificar apenas a paisagem. (Ilustração nossa, 2013) .................................... 50
Ilustração 26 – Desenho referente à cidade Catal Huyuk. (Caceres, 2011) ... 51
Ilustração 27 – Desenho diagramático referente ao modo como as coberturas
se definiam como ruas. (Ilustração nossa, 2013) ............................................. 51
Ilustração 28 – Charles Chaplin a saltar de cobertura em cobertura, imagem
retirada do Filme “The Kid”. (Chaplin, 1921) .................................................... 52
Ilustração 29 – Desenho diagramático a partir do conceito de “Visão serial” do
percurso até Alfama, Lisboa. (Ilustração nossa, 2013) .................................... 54
Ilustração 30 – Foto de Andreas Feininger à relação entre as pedras tumulares
e os arranha-céus de Nova Iorque. (Feininger, 1921) ...................................... 56
Ilustração 31 –O Terraço do Chaillot Palace. (Institut Français D' Architecture,
2013, p. 147) .................................................................................................... 58
Ilustração 32 – Desenho diagramáticos referentes à relação do terraço deste
palácio com a Torre Eiffel. (Ilustração nossa, 2013) ........................................ 58
Ilustração 33 – Miradouro S. Pedro de Alcântara. (Ilustração nossa, 2013) ... 59
Ilustração 34 – Montagem fotográfica referente à ligação com a cidade do
Projecto de ampliação do Museu Machado e Castro. (Bryne e Malagamba,
1999) ................................................................................................................ 60
Ilustração 35 – Desenhos diagramáticos referentes ao Projecto de ampliação
do Museu Machado e Castro (Ilustração nossa, 2013) .................................... 60
Ilustração 36 – O terraço e a paisagem (Jencks, 1987, p. 139) ...................... 61
Ilustração 38 – Desenhos diagramáticos referentes a esta cena retirada do
filme “Lisbon Story”. (Ilustração nossa, 2012) .................................................. 62
Ilustração 37 – “Lisbon Story” com plano de fundo a cidade de Lisboa e o seu
Rio Tejo. (Wenders, 1994) ............................................................................... 63
Ilustração 39 – Foto de Andreas Feininger a uma das ruas de Nova Iorque.
(Feininger, 1942) .............................................................................................. 65
Ilustração 41 – Espaço público localizado no terraço sul no Centro Cultural de
Belém. (Ilustração nossa, 2013) ....................................................................... 69
Ilustração 42 – Fotos referentes à relação entre o espaço público do primeiro
terraço com o espaço público/privado do segundo terraço. (Ilustração nossa,
2013) ................................................................................................................ 71
Ilustração 43 – Desenho referente ao prolongamento da Rua S. Tomé para o
terraço referente ao Silo-automóvel. (Ilustração nossa, 2013) ......................... 72
Ilustração 44 – Desenhos Diagramáticos referentes à passagem entre os dois
terraços e a sua relação ente público/privado. (Ilustração nossa, 2013) .......... 72
Ilustração 45 – Momento de entrada para o café/bar “ O Terraço”. (Ilustração
nossa, 2013)..................................................................................................... 73
Ilustração 46 – Terraço referente ao café/bar “ O Terraço”. (Ilustração nossa,
2013) ................................................................................................................ 73
Ilustração 47 – Espaço público de dois Miradouros de Lisboa. (Ilustração
nossa, 2013)..................................................................................................... 75
Ilustração 48 – Diagrama de organização de ideias referentes aos casos de
estudo. (Ilustração nossa, 2013) ...................................................................... 77
Ilustração 49 – Babilónia (Larrinaga, 1959-1962) ........................................... 79
Ilustração 50 – Pintura referente aos jardins suspensos da Babilónia por Martin
Heemsherck. (Heemskerck, 1500s) ................................................................. 80
Ilustração 51 – Estratégia topográfica para o edifício dos jardins suspensos.
(Ilustração nossa, 2013) ................................................................................... 81
Ilustração 52 – Desenhos diagramático da estratégia topográfica para o
edifício dos jardins suspensos. (Ilustração nossa, 2013) ................................. 81
Ilustração 53 – Desenhos relativos à nova arquitectura. (Ferris, 1986, p. 58128) .................................................................................................................. 85
Ilustração 54 – “Edifícios Montanha” desenhos de Hans Poelzig do seu artigo
referente :”El hombre ya la tierra” (Marques, 2001) ......................................... 86
Ilustração 55 – Imagem promocional para o filme Metropolis. (Lang, 1927) ... 87
Ilustração 56 – Imagens capturadas do filme Metropolis que apresentam esta
cidade futurista. (Lang, 1927) ........................................................................... 88
Ilustração 57 – Imagens capturadas do filme Metropolis que apresentam esta
cidade futurista. (Lang, 1927) ........................................................................... 89
Ilustração 58 – New York City – 1940 – 1950. (Feininger, 1940) .................... 89
Ilustração 59 – A fábrica de automóveis e pista de corrida Lingotto da Fiat.
(Truco, 1923) .................................................................................................... 90
Ilustração 60 – A pista de corrida para automóveis na cobertura do edifício.
(Truco, 1923) .................................................................................................... 91
Ilustração 61 – Relação entre a faixada de Versalhes e os Jardins. (Benayas,
2012-2013) ....................................................................................................... 92
Ilustração 62 – Versalhes, Pierre Le Pautre – Planta dos jardins e parque de
Versalhes. (Centeno e Freitas, 1991, p. 179) ................................................... 94
Ilustração 63 – Desenhos diagramáticos referentes à evolução dos jardins de
Edward Wiebe, 1896. (Brown, 2000, p. 12) ...................................................... 95
Ilustração 64 – Montagem com base em fotos, referente aos lagos de
Versalhes. (Benayas, 2012-2013) .................................................................... 96
Ilustração 65 – Estatuaria. (Benayas, 2012-2013) .......................................... 97
Ilustração 66 – Desenho referente a um modelo de Balaustradas. (Bonifácio,
2002) ................................................................................................................ 98
Ilustração 67 – Balaustradas e relação com a paisagem. (Google streetview,
2009) ................................................................................................................ 98
Ilustração 68 – Imagem retirada do filme “Last Year at Marienbad”. (Resnais,
1961) ................................................................................................................ 99
Ilustração 69 – Obra de Étienne Allegrain referente à relação entre o Palácio
de Versalhes e a Natureza proporcionada pelos seus jardins. (Million, 1999,
p.298-299) ...................................................................................................... 101
Ilustração 70 – Centro Cultural de Belém – terraço sul. (Ilustração nossa,
2013) .............................................................................................................. 102
Ilustração 71 – Relação das ruas com o Rio Tejo e Margem Sul. (Ilustração
nossa, 2013)................................................................................................... 104
Ilustração 72 – Terraço Norte – Reflexo dos Jerónimos no espelho de água.
(Ilustração nossa, 2013) ................................................................................. 105
Ilustração 73 – Relação visual entre o Terraço Sul e os elementos da
paisagem de Lisboa. (Ilustração nossa, 2013) ............................................... 106
Ilustração 74 – Montagem a várias horas do dia dos sistemas Ferroviárias e
Rodoviários em Alcântara e Algés. (Ilustração nossa, 2011) ......................... 110
Ilustração 75 – Rio (Ilustração nossa, 2011) ................................................. 112
Ilustração 76 – Desenho diagramático referente à relação ente Lisboa e o Rio
Tejo. (Ilustração nossa, 2011) ........................................................................ 112
Ilustração 77 – Limites. (Ilustração nossa, 2011) .......................................... 112
Ilustração 78 – Desenho diagramático referente à ideia de Limite em
Alcântara. (Ilustração nossa, 2011) ................................................................ 112
Ilustração 79 – Transição. (Ilustração nossa, 2011) ..................................... 112
Ilustração 80 – Desenho diagramático referente à transição entre espaços em
Alcântara. (Ilustração nossa, 2011) ................................................................ 112
Ilustração 81 – Escala. (Ilustração nossa, 2011) .......................................... 114
Ilustração 82 – Desenho diagramático referente à relação ente a escala dos
vários edifícios em Alcântara. (Ilustração nossa, 2011) ................................. 114
Ilustração 83 – Ruptura. (Ilustração nossa, 2011) ........................................ 114
Ilustração 84 – Desenho diagramático referente aos momentos bruscos de
Ruptura em Alcântara. (Ilustração nossa, 2011) ............................................ 114
Ilustração 85 – Fluxos. (Ilustração nossa, 2011)........................................... 114
Ilustração 86 – Desenho diagramático referente aos Fluxos em Alcântara.
(Ilustração nossa, 2011) ................................................................................. 114
Ilustração 87 – Desenho diagramático do objectivo de relacionar Lisboa como
Rio Tejo através da ideia operativa: Terraço. (Ilustração nossa, 2012) ......... 115
Ilustração 88 – Os vários elementos que compõem a paisagem de Alcântara
na vista a partir do terraço proposto. (Ilustração nossa, 2012)....................... 116
Ilustração 89 – Desenho referente ao objectivo do projecto: Relacionar
visualmente o terraço proposto com vários elementos de Lisboa e com o Rio
Tejo. (Ilustração nossa, 2012) ........................................................................ 117
Ilustração 90 – Atmosfera da vivência no terraço proposto. (Ilustração nossa,
2012) .............................................................................................................. 117
Ilustração 91 – Planta de implantação referente ao terraço proposto.
(Ilustração nossa, 2012) ................................................................................. 118
Ilustração 92 – Corte explicativo da relação do terraço tanto com o resto do
projecto como com a paisagem. (Ilustração nossa, 2012) ............................. 118
Ilustração 93 – Atmosfera do projecto individual proposto. (Ilustração nossa,
2012) .............................................................................................................. 119
SUMÁRIO
1. Introdução ............................................................................................................. 21
1.1 Âmbito............................................................................................................... 21
1.2 Metodologia ...................................................................................................... 22
1.3 Organização do documento .............................................................................. 22
2. Enquadramento do trabalho do ano .................................................................... 25
2.1 Enquadramento científico.................................................................................. 25
2.2 Enquadramento do programa no sítio ............................................................... 25
2.3 Enquadramento com a proposta individual ....................................................... 26
3. O Arquitecto como modificador da natureza ...................................................... 29
3.1 O território como suporte da arquitectura .......................................................... 30
3.2 Relação entre lugar, sítio e topografia ............................................................... 35
3.3 Considerações finais relativas ao Arquitecto como modificador da Natureza .... 45
4. O Terraço como espaço acima-do-nível.............................................................. 47
4.1 Espaços acima-do-nível .................................................................................... 48
4.2 Percurso até estes espaços .............................................................................. 52
4.3 Terraço e miradouro: olhar sobre a paisagem ................................................... 55
4.4 Considerações finais do Terraço como espaço acima-do-nível ......................... 63
5. Relação entre espaço público/privado entre terraço e miradouro .................... 65
5.1 Considerações finais da relação entre espaço público/privado estre terraço e
miradouro................................................................................................................ 75
6. Casos de estudo ................................................................................................... 77
6.1 Jardins suspensos da Babilónia ........................................................................ 78
6.2 As novas topografias utópicas e realizadas: o exemplo cinematográfico de
Metropólis e a obra arquitectónica da fábrica da Fiat: Lingotto................................ 83
6.3 O parterre: o exemplo dos jardins do Palácio de Versalhes .............................. 92
6.4 Centro Cultural de Belém ................................................................................ 102
6.5 Conclusão casos de estudo ............................................................................ 108
7. Proposta do ano lectivo ..................................................................................... 109
7.1 Apresentação de Alcântara segundo um problema ......................................... 109
7.2 Apresentação do objectivo para Alcântara ...................................................... 115
7.3 Considerações finais da proposta do ano lectivo ............................................ 119
8. Conclusão ........................................................................................................... 121
Referências ............................................................................................................. 123
Bibliografía .............................................................................................................. 129
O terraço como exemplo de edifício definidor de uma topografia e de relação com a paisagem
Rui Alexandre Castanho Sequeira
20
O terraço como exemplo de edifício definidor de uma topografia e de relação com a paisagem
1. INTRODUÇÃO
1.1 ÂMBITO
A presente dissertação surgiu no decorrer do desenvolvimento dos trabalhos no
âmbito da unidade curricular de Projecto III (5ºano), do curso de Arquitectura da
Universidade Lusíada de Lisboa, tal como na sua interligação com uma curiosidade, já
há muito presente. No momento, da concretização do exercício de projecto, revela-se
que qualquer intervenção de Arquitectura deverá pressupor a investigação de um
Tema, consoante uma ideia operativa que invoque um sítio e por sua vez levará, à
criação de um Lugar, por outras palavras, um pleno facto arquitectónico.
O tema eleito decorre da interligação com uma memória pessoal, em que no universo
infantil estava presente o impulso e o fascínio em subir a árvores, a muros ou a
qualquer suporte que deixe as crianças num nível mais elevado, dando-lhes a
sensação de domínio sobre o que os rodeia. Pessoalmente, qualquer tipo de espaço
elevado sempre foi alvo da minha curiosidade, despertando-me o interesse em
pesquisar aprofundadamente sobre o assunto.
Ilustração 1 – Imagem referente a crianças a brincar numa
casa de árvore, Margarida Botelho (Botelho, 2006, p. 6)
Rui Alexandre Castanho Sequeira
Ilustração 2 – Imagem referente a crianças a brincar
numa casa de árvore, Margarida Botelho (Botelho, 2006,
p. 6)
21
O terraço como exemplo de edifício definidor de uma topografia e de relação com a paisagem
Entendido como um tema de Arquitectura, quis de imediato, quando foi apresentado o
sítio de intervenção do exercício de Projecto III do ano lectivo 2011/2012, articulá-lo
com a ideia de criar um terraço de relação visual com os diversos elementos da
Paisagem de Lisboa neste sítio. Se por um lado esta ideia se enquadrava neste sítio,
por outro, ia ao encontro dos dois temas do ano: A cidade como Paisagem e o Espaço
público.
Nesse exercício, que se localizou em Alcântara, aquilo que esteve inerente à criação
de um terraço relacionou-se, inicialmente, com uma leitura do referencial de situação,
do sítio.
Surgiu então a primeira ideia operativa de projecto: a criação de um terraço, com a
consequente formulação de uma pergunta abrangente do programa a pensar:
Poderão os terraços, enquanto espaços elevados em edifícios singulares,
equivaler-se aos miradouros, na relação com a paisagem urbana?
1.2 METODOLOGIA
Na execução desta investigação adoptei metodologia fenomenológica que me levou a
uma compreensão do conceito de terraço na relação com a Paisagem. Só será
possível tal ser concretizado através da pesquisa sustentada pelas obras de referência
arquitectónica e literárias, pela maneira como estes diferentes autores desenvolveram
diferentes ideias, e, deste modo, ajudando-me a sintetizar o que aqui se explora. Por
outras palavras, procurou-se a resposta à questão aqui colocada.
1.3 ORGANIZAÇÃO DO DOCUMENTO
O presente documento está organizado em três grandes capítulos.
No primeiro capítulo, referente ao tema, apresentarei o modo como o arquitecto cria
uma simbiose entre o facto arquitectónico e a paisagem, seja ela natural ou
construída, na criação de um Lugar. O terraço, como espaço acima de um
determinado nível de referência, será apresentado como uma das ideias possíveis
para a criação dessa relação e pelo modo como complementa o espaço de miradouro.
Numa perspectiva tipológica de praça-terraço, definidor de uma topografia e de ter
Rui Alexandre Castanho Sequeira
22
O terraço como exemplo de edifício definidor de uma topografia e de relação com a paisagem
como principal objectivo o proporcionar de um momento de pausa com uma relação
com a paisagem urbana.
No segundo capítulo serão apresentados os casos de estudo. Os quatro casos não
serão expostos exaustivamente na óptica de dissecação de todas as suas
características, serão antes apresentados com base na existência de ideia comum que
aqui interessa destacar: o terraço como definidor de uma topografia.
No último capítulo é exposta a proposta do ano lectivo. Aqui, será apresentado o
trabalho do ano que serviu de caso prático a este tema. Mais uma vez, este projecto
não será apresentado de um modo exaustivo, mas focando-me sempre no âmbito que
interessa abordar, no contexto deste tema: a Praça-Terraço
Esta dissertação está organizada segundo o seguinte diagrama conceptual:
Rui Alexandre Castanho Sequeira
23
O terraço como exemplo de edifício definidor de uma topografia e de relação com a paisagem
Ilustração 3 – Esquema conceptual de organização da dissertação. (Ilustração nossa, 2013)
Rui Alexandre Castanho Sequeira
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2. ENQUADRAMENTO DO TRABALHO DO ANO
2.1 ENQUADRAMENTO CIENTÍFICO
A unidade curricular de Projecto III é essencialmente um espaço de experimentação e
síntese.
Aqui se conclui a meditação entre o acto projectual e o facto arquitectónico. Da escala
do território, à cidade e a escala do edifício.
Entende-se que uma proposta de arquitectura implica investigar uma ideia, enunciar
diversas situações que possam privilegiar a aproximação a um conceito, a vocação de
um sítio, a edificação de um lugar, o conhecimento dos usos e a fabricação de um
facto urbano na cidade.
Fundamentalmente, o objectivo é a integração de todas as vertentes nos processos de
investigação e desenvolvimento, gerindo sagazmente as contradições e os
interessesdivergentes
ou
contraditórios
entre
os
diversos
participantes/protagonistas/destinatários, essenciais a uma equipa de trabalho
pluridisciplinar, bem como edificar a capacidade de desenvolver uma compreensão
transdisciplinar.(Braizinha, 2001)
2.2 ENQUADRAMENTO DO PROGRAMA NO SÍTIO
O programa do ano lectivo dividiu-se em duas zonas de estudo – Alcântara e Algés.
Em ambos os casos está presente a consciência da existência de uma metrópole
(Lisboa), a qual se insere num território; de um lugar e de um sítio. “[…] Pretende-se
que na escala do lugar se construa uma ideia de sistema, ou seja, uma articulação
entre objectos.” (Torres, 2010, p. 16)
O conteúdo programático para Alcântara consiste num Centro de Artes e cinema.
No caso de Alcântara, o programa consiste no reconhecimento de um contexto cultural
que é marcante na cidade de Lisboa, tanto pela presença do Quartel da Marinha de
Alcântara, conhecido como 31 da Armada, como pelas diferentes malhas, ruas e
edifícios culturais como Museu do Oriente ou o Palácio das Necessidades.
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O terraço como exemplo de edifício definidor de uma topografia e de relação com a paisagem
Programa específico: Centro de Artes e Cinema (Escola de cinema + Sala polivalente
de exposições + salas atelier de ensaios e aulas + auditório + livraria + gabinetes
administrativos e salas de reuniões + sala de refeições + cafetaria).
2.3 ENQUADRAMENTO COM A PROPOSTA INDIVIDUAL
Alcântara
Interligar os temas do ano – “A cidade como paisagem” e “Espaço-público” com uma
ideia operativa para o projecto desenvolvido para Alcântara.
Através da identificação de um problema em Alcântara, fixar um objectivo para a sua
resolução.
Evocar a ideia da criação de um terraço que se relacione com o Rio Tejo e com os
vários elementos da Paisagem de Lisboa.
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O terraço como exemplo de edifício definidor de uma topografia e de relação com a paisagem
Ilustração 4 – Diagrama estrutural da relação entre os três capítulos relativos ao Temas com as obras Literárias e
arquitectónicas. (Ilustração nossa, 2013)
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O terraço como exemplo de edifício definidor de uma topografia e de relação com a paisagem
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O terraço como exemplo de edifício definidor de uma topografia e de relação com a paisagem
3. O ARQUITECTO COMO MODIFICADOR DA NATUREZA
O desenvolvimento desta investigação, começa com este capitulo, referente ao Tema.
Neste capítulo começarei por introduzir e dar as bases que foram importantes para o
meu entendimento sobre este assunto.
Sendo um trabalho desta disciplina de Arquitectura, e porque o tema o requer, neste
capítulo, procurei perceber as questões relacionadas com as primeiras premissas para
um início de um projecto de arquitectura, questões essas relacionadas com a própria
natureza, e na relação com os conceitos de sítio e lugar. Estes conceitos, com base
em diferentes autores que estudaram sobre estes assuntos, serão relacionados com a
complexidade que é a sua articulação na criação de uma ideia de arquitectura.
Ilustração 5 – Paisagem referente à civilização Inca, Machu Pichu. (National Geographic, 2010)
A Natureza existe para o Homem, que é responsável pela sua integridade e
complexidade, procurando em cada tempo, sem a destruir, o melhor modo para o
efeito. Trata-se de criar a paisagem propícia ao desenvolvimento da sociedade
humana, exaltando a própria Natureza. (Telles apud Alexandre, 2011, p. 31)
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O terraço como exemplo de edifício definidor de uma topografia e de relação com a paisagem
3.1 O TERRITÓRIO COMO SUPORTE DA ARQUITECTURA
A capacidade de interagir com o ambiente e de o modificar de algum modo em seu
proveito é própria do homem. (Albrecht e Benevolo, 2002, p. 13)
A primeira acção que o Homem teve sobre a natureza foi a de a alterar.
Desde os primórdios dos tempos e durante toda a evolução humana, o homem
sempre teve a capacidade e a necessidade de alterar a natureza, de modo a usufruir
das suas potencialidades. Ao ligar esta questão à arquitectura, e na perspectiva de
Leonardo Benevolo1, em “A História da Cidade”, referente aos tempos tornados
imemoriais: o que era construído era apenas um resultado de uma alteração
superficial que o homem fazia ao ambiente natural. Tirava, portanto, proveito de tudo o
que a natureza tinha para oferecer, dando-lhe um sentido prático, como o vestir, comer
e, o que interessa aqui, um abrigo, um refúgio2.
Ilustração 6 – Uso do existente como arquitectura. (Norberg-Schulz, 1981, p. 17-51)
A ideia a reter através desta referência ao homem nestes tempos, no contexto desta
investigação, tem a ver com o facto de que o homem sempre se baseou e usou o que
o envolve para actuar em seu proveito. Desde cedo, percebeu a complexidade e a
potencialidade que a natureza lhe oferecia, assim como a necessidade de que cada
sítio deveria ter uma leitura e interpretação diferente com o avançar dos tempos.
1
Leonardo Benevolo (1923-) nasceu em Orta, na Itália. Arquitecto e urbanista, estudou arquitectura em
Roma e doutorou-se em 1946. Desde então passou a ensinar História da Arquitectura nas Universidades
de Roma, Florença, Veneza e Palermo.
2
Leonardo Benevolo, em “A História da cidade”, refere que nesses tempos tornados imemoriais pela
evolução actual da arquitectura, “O ambiente construído não passava de uma modificação superficial do
ambiente natural, imenso e hostil, no qual o homem começou a mover-se: o abrigo era uma cavidade
natural ou um refúgio de pelos sobre uma estrutura simples de madeira.” (Benevolo, 2007, p. 13). Na
perspectiva de Lewis Mumford, terá sido, porém, a caverna a dar ao homem antigo a sua primeira
concepção de espaço arquitectónico. (Mumford, 1982, p. 9)
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30
O terraço como exemplo de edifício definidor de uma topografia e de relação com a paisagem
Chegando à criação, na Roma antiga, do conceito de Genius Loci, e é abordado do
seguinte modo pelo arquitecto Christian Norberg-Schulz3:
Acredita-se que todo o ser “independente” possuía um genius, um espírito guardião.
Esse espírito dá vida às pessoas e aos lugares, acompanha-os do nascimento à morte,
e determina seu carácter ou essência. Até os deuses tinham seus genius, o que bem
ilustra a natureza fundamental do conceito. (Norberg-Schulz, 1995, p. 454)
Este autor interpreta este conceito no sentido de habitar num lugar protegido, a tal
referência ao espírito guardião, e em paz. Como um modo de demarcar ou diferenciar
um lugar do outro, um espaço4 que se transforma num facto arquitectónico da
construção, e que considera ser esta a verdadeira origem da arquitectura. Genius Loci,
no fundo, é a busca pela essência do Lugar, e é entendido através de uma leitura feita
pelos sentidos, que visa captar a essência do sítio.Todas estas ideias de Schulz,
levam ao verdadeiro propósito do acto de construir e fazer Arquitectura, que é fazer
com que um sítio se torne um lugar, que conserve a sua identidade durante um
determinado período de tempo.
3
Christian Norberg-Schulz (1926-2000) foi um arquitecto norueguês, historiador de arquitectura e teórico.
Apesar de Norberg.Schulz ter feito arquitectura no seu país de origem, ficou internacionalmente
conhecido pelos seus livros sobre história da arquitectura e pela sua escrita teórica.
4
ESPAÇO, s. m. (latspatium determinada extensão superficial; extensão indefinida). 1. Sentido filosófico –
meio ideal caracterizado pela exterioridade das suas partes, no qual são localizados os nossos perceptus,
isto é, a percepção que não tem como referente a realidade. 2. Para intuição comum, o espaço é
caracterizado por ser: homogéneo, isto é, os elementos que nele podemos distinguir pelo pensamento
são indiscerníveis qualitativamente; isótopo, visto que nele todas as direcções têm as mesmas
propriedades; contínuo; ilimitado. 3. Sob o ponto de vista geométrico euclidiano é tridimensional,
homoloidal. 4. A negação das duas propriedades referidas em 3. Corresponde àquilo a que chamamos
espaços não euclidianos ou híper espaços. 5. Do ponto de vista psicológico, é referenciável um espaço
relativo que resulta dos dados imediatos da percepção implicando a sua fenomenologia. 10. O Espaço
arquitectónico é a ordem espacial plasmada e pensada em termos de arquitectura. Espaço interno e
externo pela sua métrica, regra do comportamento do homem e as contrapartidas físicas que cria,
transformadas em percepções cinéticas pelo observador e que são o prolongamento virtual da
humanitariedade do Ser. 11 O espaço lógico e epistemológico representa o quadro da prática social,
quadro que imprime os seus traçados e linhas de força no espaço físico. 12. O espaço-tempo é um meio
a quatro dimensões, alterando a tridimensionalidade do espaço euclidiano, pelo tempo; surge como
potencialidade de uma quarta dimensão, isto é, quatro variáveis solidariamente necessárias para verificar
completamente um fenómeno. A posição que lhe deve ser destinada no espaço não é totalmente
independente da posição em que deve ser colocada do tempo. (Bonifácio, Rodrigues e Sousa, 2005, p.
137)
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31
O terraço como exemplo de edifício definidor de uma topografia e de relação com a paisagem
Ilustração 7 – Santuário em Atenas. (Norberg-Schulz,
1981, p. 30)
A construção de um qualquer edifício, não poderá seguir um pensamento virado
apenas para a sua construção, para aquilo que se quer construir, deixando
completamente de parte aquilo que o rodeia. Deverá então ter a consciência da
existência de uma envolvente, não apenas naquilo que o demarca, mas sim nas
características da sua localização. Por outras palavras, e pegando naquilo que Garcia
Lamas5 refere em “Morfologia urbana e desenho da cidade”:
A forma urbana não poderá ser desligada do seu suporte geográfico- e este é um
elemento tão importante como os factos construídos. O sítio contém já em muitos
casos a génese e o potencial gerador das formas construídas, pelo apontar de um
traçado, pela expressão de um lugar. (Lamas, 1992, p. 63)
Deste modo, percebe-se que o processo criativo na elaboração de um projecto de
arquitectura, não poderá ser separado da pré-existência, que serve como apoio e
como elemento condicionador para aquilo que será a forma6. arquitectónica. Lamas
5
José Manuel Ressano Garcia Lamas arquitecto, nascido e formado em Lisboa, Portugal, e doutorado em
urbanismo (Aix-en-Provence, França, e Lisboa). Autor do livro “Morfologia Urbana e Desenho da Cidade”.
É Professor Catedrático da Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa. Realizou
numerosos projectos de arquitectura e planos de urbanismo, tendo recebido, em 1997/98, o “Prêmio de
Mérito Especial” do Conselho Europeu de Urbanistas.
6
FORMA, s. f. (lat. Forma) configuração ou aparência externa de um objecto. A figura, tal como é definida
por linhas, ângulos e suas intercepções. Opõem-se à matéria que constitui esse objecto. Tal oposição,
nas artes plásticas e em arquitectura, existe meramente na aparência, uma vez que a forma é a
expressão de uma ordem estética que molda a matéria até transportar para o domínio do sensível. Ao
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O terraço como exemplo de edifício definidor de uma topografia e de relação com a paisagem
Garcia, quando refere que “[…] o sítio é um «génio» determinante e inseparável da
arquitectura – no fundo, é já a génese da arquitectura.” (Lamas, 1992, p. 64), percebese que tem como base aquilo que Norberg-Schulz refere.
Não se pode falar de Arquitectura sem se perceber que existiu um suporte inicial,
muito antes de se ter pensado em projecto - por outras palavras, um lugar que reúne
uma série de características morfológicas, como é o caso da topografia. Se não
houver esta interligação, de imediato se percebe a falta de relação entre o facto
arquitectónico e o lugar.
Sem essa relação, as intervenções seriam meros objectos desprovidos de qualquer
tipo de entrosamento com a envolvente e, ao mesmo tempo, com a população, pois
deixa de haver um sentimento de pertença e de identificação, devido à falta de algo
que apele quer à memória colectiva, quer à realidade física do lugar. E como cada
lugar tem as suas características topográficas distintas, cada intervenção deverá ter em
conta essas mesmas características, encarando-as como estímulos e não como
obstáculos. (Correia, 2011, p. 5)
O templo funerário da rainha Hatshepsut (XVIII dinastia) em Deir-el-Bahari, é um dos
exemplos de como é possível utilizar o sítio como elemento estruturador de uma ideia
de Arquitectura. O pensamento para esta obra adveio da sugestão de uma
continuidade topográfica fornecida pelo edifício, através de terraços que substituem
parte do rochedo que lá existia.
A Arquitectura egípcia manter-se-á fiel a este tipo de templo. Num templo meio
subterrâneo, como, por exemplo, o templo funerário da rainha Hatchepsut (XVIII
dinastia), em Deir-el-Bahari, o santuário e a sala hipostila estão dissimulados no
rochedo, mas os pátios abertos, que correspondem ao peristilo dos templos
construídos à superfície, estão sobrepostos em terraços. (Upjohn, 1987, p. 68)
conferir à matéria qualidades sensíveis que expressam um sentido, o artista realiza as suas tarefas
primordiais: dominar o mundo material ao conferir valor; pelas formas definidas encontrar uma linguagem
de valor universal. (Bonifácio, Rodrigues e Sousa, 2005, p. 137)
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O terraço como exemplo de edifício definidor de uma topografia e de relação com a paisagem
Ilustração 8 - Templo funerário da rainha
Hatshepsut. (Norberg-Schulz, 1981, p. 29)
Ilustração 9 - Templo funerário da rainha Hatshepsut (Dreyfus, Keller e Roehrig,
2005, p. 135)
Ilustração 10 – Desenhos diagramáticos referentes ao templo de Hatshepsut. (Ilustração nossa, 2013)
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O terraço como exemplo de edifício definidor de uma topografia e de relação com a paisagem
3.2 RELAÇÃO ENTRE LUGAR, SÍTIO E TOPOGRAFIA
Ilustração 11 – Pintura referente à topografia de Nelson e Canterbury, “Seis dias em Nelson e
Canterbury”. (McCahon, 1950)
No entendimento de Aristóteles7, o lugar não se define por si mesmo, mas sim pela
diferença e delimitação que este tem com outros lugares e com a relação a um
determinado corpo, que nos leva a permitr o entendimento dos vários lugares
existentes. “A forma é o limite da coisa, enquanto o lugar é o limite do corpo
continente.” (Aristóteles, 1995, p. 126)
Por outro lado, o lugar não é algo que possa ser pensado ou construído “no momento”,
mas sim algo que se vai desenvolvendo com o tempo, que dependerá de uma série de
factores e características que trabalham em simultâneo, tais como o desenvolvimento
7
Aristóteles nasceu em 384 a.C., na cidade de Estagira. O sistema aristotélico, embora devedor da
distinção matéria/forma concebida pelo mestre Platão, surge, em grande parte como uma espécie de
resposta ao idealismo platónico, nomeadamente à teoria das ideias e seu respectivo dualismo ontológico.
Para Aristóteles, o mundo material apresenta-se como o único ponto de partida para todo o
conhecimento. Assim sendo, a essência das coisas deixa de ser passível de surgir colocada numa
instância transcendente, apartada da natureza. Nesse sentido, a substância (ousia) é considerada
imanente aos próprios entes. Na matéria, a essência denota somente uma expressão potencial e só por
acção da forma, adquire ela realidade. Ao mesmo tempo que lhe permite superar a inverosimilhança da
separação operada por Platão entre o mundo inteligível e mundo sensível, esta doutrina torna possível
também, a Aristóteles a transposição para o âmago da substância de toda a dinâmica do devir.
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O terraço como exemplo de edifício definidor de uma topografia e de relação com a paisagem
de uma atmosfera, que só são possíveis de entender quando esse espaço é vivido.
Sobre o conceito de lugar, o arquitecto Manuel Tainha8 refere:
Lugar não é uma ideia de sítio materializado pela construção. Lugar não equivale
mecanicamente a arquitectura. O Lugar faz-se (vai-se fazendo) e a arquitectura é
apenas um dos seus componentes. A luz e a atmosfera, que são produto de vivência e
sentimento mais que de projectos, configuram o Lugar como recolhimento, Lugar onde
se está mas também se é, em função do enraizamento sedimentado pelo tempo e a
construção. (Tainha apud Gomes, 1991, p. 38)
Percebe-se que, para um sítio ter uma leitura de lugar, deverá haver uma simbiose
entre aquilo que é construído, pela natureza, artificialmente ou não pelo Homem, a
paisagem, e entre o factor tempo.
São diversas as análises do conceito de lugar, mas destaco aqui a de Norberg-Schulz
que refere que o lugar é constituído por dois elementos, a “paisagem” e o
“assentamento”. Ou seja, a existência de uma organização dos vários elementos que o
definem e constituem este espaço, caracterizados por um carácter, uma atmosfera.
A estrutura do lugar deveria ser classificada como” paisagem “ e “ assentamento” e
analisada por categorias como “espaço” e “carácter”. Enquanto “espaço” indica a
organização tridimensional dos elementos que formam um lugar, o “ carácter” denota a
“atmosfera” geral que é a propriedade mais abrangente de um lugar. Em vez da
distinção entre espaço e carácter, podemos partir de um conceito amplo, como o de
“espaço vivido. (Norberg-Schulz, 1995, p. 449)
Só é possível, realmente, perceber o lugar experimentando-o, sentindo-o, muito ligado
directamente aos nossos sentidos, através da experimentação da Arquitectura, como o
9
cheirar, ouvir, ver, tocar, entrando na área da fenomenologia , pois é uma resposta ao
racionalismo mecanicista que sustenta o regresso ao mundo tangível e fundamenta a
consciência da existência dos fenómenos pela experiência da sua percepção.
8
Manuel Tainha (1922-2012) foi um arquitecto e professor português. É uma figura de referência no
panorama português da segunda metade do século XX, com importante papel na renovação dos modos
de pensar e fazer arquitectura a partir do período do pós-guerra. Formou-se em arquitectura na Escola
Superior de Belas-Artes de Lisboa (ESBAL) em 1950 e fez parte da geração que, em Portugal,
reconheceu o Movimento Moderno, procurando sintonizar a arquitectura com o espírito contemporâneo.
9
Fenomenologia. F. Teoria das aparências sensíveis. Husserl aplicou o nome ao seu método e à sua
filosofia: um sistema logicista e apriorista, baseado na «descrição de essências» e concebido como
«ciência fundamental» de toda a disciplina científica, por «assegurar a objectividade das formas ou leis
lógicas». As técnicas da «descrição fenomenológica» são, de um modo geral, aceites por todas as
correntes filosóficas contemporâneas.
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O terraço como exemplo de edifício definidor de uma topografia e de relação com a paisagem
O arquitecto Josep Montaner10 no seu livro “A modernidade superada” refere que:
Precisamente, a ideia de lugar diferencia-se da de espaço pela presença da
experiência. Lugar está relacionado com o processo fenomenológico da percepção e
da experiência do mundo por parte do corpo humano. (Montaner, 2001, p. 48)
Esta ideia tem um carácter muito mais complexo do que o mero sentido geográfico de
localização, estando, portanto, muito mais interligada com a ideia simbólica do
conceito aqui já aqui referido de “Espírito do Lugar”. No conceito de lugar estão
inerentes questões culturais, relacionadas com aquilo que o envolve, assim como, de
igual modo, as situações existenciais.
Neste sentido, o objectivo essencial da Arquitectura é o de transformar um sítio num
lugar; descobrir os sentidos potenciais que estão presentes num meio dado a
observar. Ou seja, uma obra vai transformar o lugar, não através de uma ideia de
integração, mas de transformação. Como diz Heidegger11, uma ponte transforma a
paisagem, fornecendo um lugar que une as duas orlas do rio mas ao mesmo tempo
faz com que uma se contraponha à outra. “ […] o lugar não existia antes da
construção da ponte […] origina-se somente a partir da ponte[…]”.(Rafael apud
Heidegger, 2010, p. 54)
Deste modo, percebe-se que o acto de fazer arquitectura é muito mais complexo do
que o “simples construir”. Reúne uma série de estudos, de uma leitura do lugar, que
deverá ter um procedimento simultâneo com o próprio projecto. O facto arquitectónico
e o lugar devem-se desenvolver e evoluir em conjunto.
Assim como todo corpo está num lugar, como também em todo o lugar existe um
corpo. Que diremos, então, das coisas que aumentam? Decorre do suposto, que o
lugar tenderá a aumentar com elas, se o lugar de cada coisa não for maior nem menor
que ela. (Aristóteles, 1995, p. 116)
10
Josep Maria Montaner (1954) é arquitecto e catedrático da Escola de Técnica Superior d’Arquitectura
de Barcelona (ETSAB-UPC). Autor de uma vasta obra teórica sobre arquitectura e publicou, entre outros,
os livros “Arquitectura e crítica” (Editorial Gustavo Gili, 2007) e “Sistemas arquitectônicos
contemporâneos” (Editorial Gustavo Gili, 2010). É colaborador habitual de numerosas revistas
especializadas e dos jornais espanhóis El País e La Vanguardia.
11
Martin Heidegger (1889-1976), filósofo alemão, foi um dos mais influentes do século XX. Embora
inspirado na corrente fenomenológica, coloca-se em rutura com os sistemas dominantes na filosofia, de
orientação essencialmente antropológica ou gnosiológica, pretendendo repor no eixo da reflexão filosófica
a questão ontológica.
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O terraço como exemplo de edifício definidor de uma topografia e de relação com a paisagem
No entanto, segundo Aldo Rossi12, esta leitura do lugar, apesar de ter um papel
importante e imprescindível para o projecto, não vai interferir na definição do lugar.
Indo realmente ao encontro de Schulz, visto que o significado do lugar não será dado
pelo projecto mas sim pela sua história, pelo factor tempo, mesmo que esteja presente
uma boa leitura daquele lugar.
Admite-se, no entanto, que o elemento estático, edificado, é fundamental nessa mesma
percepção, porque se à partida, uma intervenção vai interferir com a leitura do lugar, a
permanência do objecto estático reconfigura o local estabelecendo novas hierarquias
espaciais decorrentes da interacção do lugar e sua essência. (Alexandre, 2011, p. 19)
Aos termos Sítio e Lugar, se junta, naturalmente a Topografia13, visto ser a primeira
informação imediata, aos olhos do arquitecto, do sítio onde vai intervir. Estes termos,
constituem uma importância conceptual da realidade do contexto físico, pois são os
“nutrientes-base” para o pensamento projectual. Para Tonia Raquejo, o Sítio, elemento
fundamental da arquitectura :
Pressupõe um espaço onde se estabeleceu uma ordem prévia (ponho as coisas em
seu sítio), sendo, portanto mais determinado e definido que o lugar, que tem um
sentido mais directo com a envolvente […] o lugar constitui-se, enquanto o sítio se
ocupa, cobre-se, envolve-se. (Raquejo, 1998, p. 71)
Trata-se, portanto, de criar uma simbiose entre o facto arquitectónico e a paisagem,
seja ela natural ou construida, na criação de um lugar. Esta relação passa por uma
organização entre a acção do homem e a imposição de uma ordem pelo arquitecto,
que iriam transformar as condições físicas de um determinado contexto. “[…] Dar
ordem e relação ao meio que circunda o homem – é a tarefa do arquitecto. […]”
(Rasmussen, 2007, p. 29)
12
Aldo Rossi (1931-1997) foi um arquitecto italiano. Em 1940, durante a Segunda Guerra Mundial mudase para Como onde estuda num colégio de padres. Em 1949 ingressa no Politécnico de Milão e licenciase em arquitectura em 1959. Durante o curso teve oportunidade de estagiar com alguns arquitectos como
Ignazio Gardella ou Marco Zanuso.Pouco depois de se formar Rossi exerce funções docentes em várias
escolas de arquitectura onde conhece alguns dos mais destacados arquitectos e teóricos da nova
geração dos quais se destacam Ludovico Quaroni, Carlo Aymonino ou Fabio Reinhart.
13
Topografia, s. f. Descrição minuciosa de um lugar, zona ou espaço. É simultaneamente uma arte e a
técnica de representar um plano a configuração de uma porção de terreno, com todos os objectos que se
encontram na sua superfície. (Bonifácio, Rodrigues e Sousa, 2005, p. 260)
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O terraço como exemplo de edifício definidor de uma topografia e de relação com a paisagem
Este pensamento tem estado presente nos mais conceituados arquitectos, como Le
Corbusier ou Siza Vieira. Le Corbusier sempre percebeu a importância da préexistência através do estudo pela via do desenho nos lugares onde futuramente iria
intervir. Tal como Siza Vieira, que mais uma vez através do desenho retirava as
características, percebendo quais eram fundamentais para articular um edifício num
lugar específico.
A criação arquitectónica nasce de uma emoção, a emoção provocada por um momento
e por um lugar. “ […] Começo um projecto quando visito um sítio, programa e
condicionalismos vagos, como quase sempre acontece.” (Siza, 2000, p. 27)
Ilustração 12 – Desenho referente à Acrópole grega de Le Corbusier. (Corbusier, 2004, p. 61)
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O terraço como exemplo de edifício definidor de uma topografia e de relação com a paisagem
Uma obra de arquitectura em que notoriamente se percebe esta clara influência do
território no projecto, mais concretamente da sua topografia, é o da Casa Malaparte
(1938-1940) do escritor Curzio Malaparte, localizada em Punta Massulo, Capri.
Ilustração 13 – Montagem de várias imagens do filme “Le Mépris” relativo à Casa Malaparte. (Godard, 1963)
Para esta casa, o arquitecto estudou a morfologia do terreno. Fez com que esta se
inserisse na paisagem de um modo natural seguindo o mesmo desenho topográfico,
ou seja, o desenho desta casa nasce no seguimento da linha topográfica préexistente.
Lidera, na explicação do seu projecto, diz que “[…] Quando cheguei ao sítio a casa já
lá estava, apenas me limitei a desenhar a paisagem. […]”(Lidera apud Leitão, 2010).
Realmente, é mesmo isso que o projecto sugere, uma casa que se desenvolve com
base na ideia de uma continuação topográfica, através de uma escada que vai dar a
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O terraço como exemplo de edifício definidor de uma topografia e de relação com a paisagem
um terraço com uma grande vista sobre o céu e o mar. Para aceder a esta casa,
somos conduzidos através de um caminho que nos conduz à descoberta do lugar,
onde somos confrontados com o entendimento das condições geográficas que fazem
anteceder esta obra.
Ilustração 14 – Desenhos diagramáticos relativos à Casa Malaparte. (Ilustração nossa, 2013)
Neste projecto, consegue-se reconhecer a importância do conceito, aqui já falado, de
“espírito do lugar”, não apenas pela própria obra, mas igualmente por toda a
experiência deste caminho que antecede até lá chegarmos.
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O terraço como exemplo de edifício definidor de uma topografia e de relação com a paisagem
“As pirâmides do Egipto não seriam tão belas e monumentais sem os espaços
horizontais sem fim que as realçam e até as modificam, conforme a luz de cada dia
[…]” (Niemeyer, 1997, p. 20)
Ilustração 15 – Montagem de várias imagens do filme “Le Mépris” relativo à Casa
Malaparte. (Godard, 1963)
Desenhar e compreender onde se vai intervir é um processo que o arquitecto deverá
ter em atenção. A compreensão e a utilização do território deverá ser, no fundo, a
génese de qualquer projecto de intervenção, a clara noção do contexto onde se está a
intervir.
Transforma ou completa um contexto histórico-geográfico preciso no qual se localiza o
objecto. […] Coloca-se a ênfase nesta função «contextualizadora», a qual pode
defender uma arquitectura. […] Não existe arquitectura completamente independente
do contexto, apenas somente arquitectura que prescinde do contexto imediato para
responder a motivações contextuais mais indirectamente relacionadas com este
contexto imediato. (Muntanõla, 1981, p.107)
A Casa das Mudas do arquitecto Paulo David14 é um exemplo de como é possível
transportar o lugar para a arquitectura, a referida simbiose. Esta interligação teve
como génese a leitura e a compreensão do lugar, chegando à percepção da sua
essência reflectindo-se na sua estratégia projectual.
14
O arquitecto Paulo David nasceu no Funchal, em 1959. Licenciou-se em Arquitectura pela F.A/U.T.L no
ano de 1989. Colaborou com o arquitecto Gonçalo Byrne entre 1988 e 1989 e com João Carrilho da
Graça em 1989. Constituiu atelier próprio no Funchal, exercendo actividade em regime liberal desde
1996.
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O terraço como exemplo de edifício definidor de uma topografia e de relação com a paisagem
Ilustração 16 – Montagem fotográfica relativa à Casa Das Mudas. (Guerra, 2005)
Este edifício insere-se neste lugar e torna-se como um marco para quem o visita,
ficando na memória devido ao seu carácter intemporal na sua conexão com o local.
Por outro lado, esta relação ou interligação entre a paisagem e o edifício, que aqui
acontece de modo natural, tem a ver com o modo como este Centro das Artes se
projecta na paisagem, ou seja, na sua relação entre os vários elementos naturais
existentes, mais concretamente numa interacção entre o Homem e a topografia.
O centro de Artes é a continuação do rochedo em direcção ao céu. Os antigos
edificavam as suas construções em locais previamente escolhidos tendo em conta uma
forte relação com o espaço e a energia telúrica do local. Não sei se foi um acaso a
escolha deste lugar. O espaço pode condicionar ou favorecer a criatividade e a criação
artística. Aqui, é seguramente muito inspirador. (David, 2006, p. 12)
Ilustração 17 – Desenhos diagramáticos relativos à Casa das Mudas. (Ilustração nossa, 2013)
Rui Alexandre Castanho Sequeira
43
O terraço como exemplo de edifício definidor de uma topografia e de relação com a paisagem
Por outro lado, um outro exemplo é o do Pártenon situado na Acrópole15 de Atenas.
Este edifício grego assumiu-se com o avançar dos tempos como um marco naquele
lugar, por outras palavras, a um papel de qualificar esse lugar. Este facto
arquitectónico nasce pelo seu posicionamento na paisagem, como um elemento chave
que complementa a topografia desta montanha.
Fazer com que toda a essência arquitectónica do objecto fique intrínseca ao
lugar/cidade. O Lugar não caracteriza o objecto arquitectónico, antes pelo contrário, de
uma forma tão singular que a sua existência nesse lugar permanece intemporal.
(Alexandre, 2011, p. 21)
Ilustração 18 – Arquitectura clássica. Acrópole. Atenas (Norberg -Schulz, 1981, p. 75)
15
Acrópole - Parte mais elevada e fortificada das cidades gregas. Destacam-se as de Corinto, Tebas,
Argos e Micenas e, sobretudo, a de Atenas, que alcançou o seu esplendor máximo no s. V a.C., durante o
qual construíram os Propileus, o Pártenon, o templo jónico de Niké Áptera (Atena Niké), o Erecteu, o
Odéon e o teatro de Dioniso.
Rui Alexandre Castanho Sequeira
44
O terraço como exemplo de edifício definidor de uma topografia e de relação com a paisagem
Ilustração 19 – Desenhos diagramáticos referentes ao Pártenon. (Ilustração nossa, 2013)
Desde os tempos remotos tem-se reconhecido que diferentes lugares têm diferentes
caracteres. Tal diferença de carácter é muitas vezes tão forte que é suficiente para
determinar as propriedades básicas das imagens exteriores da maioria das pessoas
presentes, fazendo-as sentir o que experimentam e que pertencem ao mesmo lugar
[…] o espaço existencial não pode ser compreendido somente por causa das
necessidades do Homem, mas antes unicamente como resultado da sua interacção e
influência recíproca com um ambiente que o rodeia, que tem de compreender e aceitar.
(Norberg-Schulz, 1975, p. 33)
3.3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
MODIFICADOR DA NATUREZA
RELATIVAS
AO
ARQUITECTO COMO
O Homem, como foi visto, desde cedo entendeu a potencialidade que a natureza lhe
oferecia. Sempre utilizou e manipulou o que o rodeava: as características morfológicas
de um determinado sítio, como é o caso da topografia, com o fim de transformá-lo a
seu proveito. Cabe ao arquitecto, quando cria um obra de arquitectura, revelar que
houve a preocupação em inserir o seu edifício num determinado sítio, por outras
palavras, criar uma simbiose entre o facto arquitectónico e a paisagem. Sem esta
interligação, de imediato se percebe a falta de relação entre o facto arquitectónico e o
Rui Alexandre Castanho Sequeira
45
O terraço como exemplo de edifício definidor de uma topografia e de relação com a paisagem
lugar. Esta relação passa por uma organização entre a acção do homem e a
imposição de uma ordem pelo arquitecto, que iriam transformar as condições físicas
de um determinado contexto.
Com esta investigação percebeu-se que a criação de um lugar não é instantânea. Vaise desenvolvendo com o tempo, depende de uma série de factores e características
que trabalham em simultâneo para a criação desse lugar, passando pela manipulação
da topografia que levará ao fixar de uma atmosfera. Por outro lado lado, viu-se que o
entendimento do lugar passa por uma questão de sentidos, fenomenológica, pois,
defende-se que a sua compreensão passa pelos sentidos, cheirar, ouvir, ver, tocar e
da memória através da experimentação da arquitectura.
Existem inúmeras soluções para esta questão, no entanto, no contexto deste estudo,
irei apenas incidir no desenrolar do próximo capítulo, nos espaços-acima-do-nível,
mais concretamente nos espaços de terraço e de miradouro.
Rui Alexandre Castanho Sequeira
46
O terraço como exemplo de edifício definidor de uma topografia e de relação com a paisagem
4. O TERRAÇO COMO ESPAÇO ACIMA-DO-NÍVEL
Neste capítulo será apresentado o estudo feito sobre o assunto que deu mote a esta
dissertação. Com base no capítulo anterior, é entendida a existência de inúmeras
soluções para a transformação de um sítio em Lugar. No entanto, e como já foi
referido, este assunto partiu de uma vontade de falar sobre espaços acima de um
determinado nível, motivada por uma curiosidade pessoal de obter uma resposta a
uma pergunta já aqui colocada. Aqui, apresentarei os vários conceitos inerentes à
estrutura que é o terraço. Será apresentado como espaço acima do nível, gerador de
uma topografia de relação com a paisagem num contexto urbano, e na sua relação
com o miradouro.
Ilustração 20 – Foto de Andreas Feininger à paisagem urbana de Nova Iorque. (Feininger, 1942)
Rui Alexandre Castanho Sequeira
47
O terraço como exemplo de edifício definidor de uma topografia e de relação com a paisagem
4.1 ESPAÇOS ACIMA-DO-NÍVEL
Ilustração 21 – “Expedição”(Hasucha, 2005)
O conceito de espaço acima-do-nível suporta-se ao livro “Paisagem Urbana” de
Gordon Cullen16, quando o desenho e as fotografias traduzemos vários elementos e
questões inerentes aquilo que é a Paisagem Urbana. Dentro deste assunto, Cullen
refere que esta questão relacionada com o trabalho do arquitecto sobre os diferentes
níveis altimétricos num contexto de cidade17 é algo que deve ser pensado com uma
especial atenção.
Como se sabe, na sua génese, uma cidade é uma estrutura inserida num contexto
existente na natureza fruto das mãos do arquitecto que através da manipulação
topográfica consegue chegar a uma regularidade possível de habitar e de criar
16
Gordon Cullen (1914-1994) trabalhou em dois gabinetes de arquitectura, em Londres. Foi ilustrador e
director artístico de exposições na Grã-Bertanha e nas Índias Ocidentais, antes de se tornar subchefe de
redacção da revista The Architectural Review, logo após a Segunda Guerra Mundial. Actuou como
consultor paisagista junto de várias instituições, bem como da Fundação Ford, relativamente a projectos
urbanos em Nova Deli e Calcutá.
17
CIDADE, s.f. ( latCivitate) A cidade é uma realidade material, um conjunto de qualidades sensíveis, uma
estrutura conceptual, uma estrutura material. Tem um dimensionamento e uma dinâmica própria. A cidade
estrutura as aglomerações populacionais, conferindo-lhes um sentido, uma função e uma finalidade.
(Bonifácio, Rodrigues e Sousa, 2005, p. 81)
Rui Alexandre Castanho Sequeira
48
O terraço como exemplo de edifício definidor de uma topografia e de relação com a paisagem
relações num determinado contexto, reforçando a identidade daquele sítio. Deste
modo, o terreno que se apresenta como um elemento irregular, que oferece contraste
entre diferentes níveis, poderá ser pensado de modo natural ou até mesmo na sua
continuidade artificial, através do modo como irá gerar um determinado espaço ou
edifício num contexto urbano.
A arte de jogar com diferentes níveis é uma parte importante da arte da paisagem
urbana. Variações no nível do terreno podem ocorrer quer directamente, resultantes do
perfil do local quer artificialmente, surgindo as solicitações que o urbanista deve
satisfazer. (Cullen, 1971, p. 177)
Interessa aqui perceber o modo como o homem se relaciona nestes espaços de
diferentes níveis, questão essa relacionada com os sentidos, com a nossa reacção na
vivência neste tipo de espaços.
Mas seja qual for a sua origem, as nossas reacções aos níveis são acentuadas antes
de mais pela sensibilidade particular que sentimos em relação à nossa posição no
mundo. (Cullen, 1971, p. 177)
Ilustração 22 – Experiências urbanas (Cullen, 1971, p. 178-181)
Rui Alexandre Castanho Sequeira
49
O terraço como exemplo de edifício definidor de uma topografia e de relação com a paisagem
Em contexto de cidade, existe sempre um nível de referência onde grande parte da
cidade é assente, e que naturalmente será contrastada através de espaços que fogem
a este nível de referência. Estamos então a falar sobre espaços acima ou abaixo
desse nível de referência. O que se torna importante transportar para esta
investigação, tem a ver, uma vez mais, com a questão relacionada com a sensação de
um determinado utilizador nestes diferentes espaços. E é neste ponto que Gordon
Cullen, refere que:
Qualquer local tem o seu nível de referência, e pode-se estar sobre ele, para cima ou
para baixo. (Será preciso atender também a que cada pessoa transporta habitualmente
o seu próprio nível de referência). Estar acima do nível de referência produz uma
sensação de autoridade e privilégio; estar a baixo, uma sensação de intimidade e
protecção. (Cullen, 1971, p. 177)
Ilustração 23 – “ Viajante sobre o mar de nuvens”
(Friedrich, 1815)
Ilustração 24 – Montagem com base nesta obra de
Friedrich, onde é possível verificar apenas a paisagem.
(Ilustração nossa, 2013)
É com este tipo de questões que o arquitecto trabalha, bem como com a compreensão
de que a cidade é uma estrutura geradora de diversos tipos de vivências
proporcionadas ao homem através do uso natural ou artificial da natureza.
Estas sensações pressupõem uma relação muito directa entre o observador e o seu
meio ambiente. O prazer da sensação de autoridade e privilégio é de uma natureza
Rui Alexandre Castanho Sequeira
50
O terraço como exemplo de edifício definidor de uma topografia e de relação com a paisagem
bastante diferente do prazer de outros efeitos da paisagem urbana. (Cullen, 1971, p.
177)
As sensações de “autoridade” e “privilégio” tornam-se ideias interessantes a expressar
numa cidade, visto que muitas vezes estes espaços proporcionam momentos de lazer
e reflexão associadas a sensações de conforto e confiança a quem os habita.
É através deste jogo de manipulação e utilização topográfica que surge a génese
relativa à ideia de criação de um miradouro18, em contexto urbano ou de um terraço19.
No entanto, esta investigação teve como foque e incidiu na tipologia de terraço, mas
com o sentido tipológico de praça-terraço.
Na mais antiga cidade do mundo, Catal Huyuk situada na Turquia, no período
neolítico, os espaços elevados, mas concretamente referentes às coberturas dos
edifícios, terraços, tinham uma função contrária ao mundo que conhecemos, sendo
que os seus moradores se deslocavam por cima das coberturas das habitações uns
dos outros. A existência de ruas nesta cidade era nula, com apenas alguns espaços
em comum, onde as açoteias eram o modo de terem contacto com o exterior.
Ilustração 25 – Desenho referente à cidade Catal Huyuk. (Caceres, 2011)
Ilustração 26 – Desenho diagramático referente ao modo
como as coberturas se definiam como ruas. (Ilustração
nossa, 2013)
Datada em cerca de 6700 a.C., Catal Huyuk apresentava um refinado padrão
tecnológico e cultural, com casas de tijolo crus (adobe) dispostas numa eficiente área
urbana, com escoamento de esgotos, canalização de água da chuva. O trânsito devia
ser feito por cima das casas, pois não havia ruas e a entrada das mesmas ficava por
cima, possivelmente sendo alcançada por meio de escadas. A cidade não apresentava
18
Miradouro. Lugar bem situado para contemplar uma paisagem ou alguma coisa notável.
19
Terraço. Pavimento descoberto sobre um edifício ou ao nível de um andar; eirado
Rui Alexandre Castanho Sequeira
51
O terraço como exemplo de edifício definidor de uma topografia e de relação com a paisagem
Fortes ou muralhas, o que presumivelmente não devia ser necessário, devido à sua
postura pacífica. (trilha do vento apud Lourenço, 2011, p. 86)
Um outro caso retratado do cinema relacionado com essa questão do viver a cobertura
é o de Charles Chaplin em “The Kid”, de 1921. Neste filme, Charles Chaplin, autor e
director, faz de personagem principal. Para conseguir alimentar e sobreviver com um
bebé que adoptou, tem que roubar, numa cena, em que estas personagens são
obrigadas a fugir da polícia, através de uma perseguição nos telhados das casas,
saltando de uns para os outros. “[…] O desafio pela permanência nas alturas, onde
parece ser sempre a única saída para a fuga no cinema, tendo a total visibilidade do
desenho urbano envolvente.[…]” (Lourenço, 2011, p. 82)
Ilustração 27 – Charles Chaplin a saltar de cobertura em cobertura, imagem retirada do
Filme “The Kid”. (Chaplin, 1921)
4.2 PERCURSO ATÉ ESTES ESPAÇOS
O percurso que se faz, muitas vezes, num contexto urbano até chegarmos a estes
espaços torna-se numa experiência que transforma a nossa vivência nestes espaços
ainda mais marcante. Por outras palavras, chegar a estes espaços, num contexto
urbano, implica subir através de ruas, largas ou estreitas, compostas por diferentes
edifícios e outros mobiliários urbanos que vão ajudar à caracterização de um percurso.
Rui Alexandre Castanho Sequeira
52
O terraço como exemplo de edifício definidor de uma topografia e de relação com a paisagem
Deste modo, chegar a estes espaços cria uma sensação de recompensa por todo o
“esforço” e caminho feito até aqui, originando no fundo aqui um contraste de
realidades. Neste caso, a recompensa é a de um espaço aberto que projecta o nosso
olhar sobre a paisagem da cidade, tornando-se predominantemente num espaço de
pausa e reflexão.20
Esta questão vai de facto ao encontro da relação que Gordon Cullen faz da ideia de
sensação de infinito numa cidade:
A sensação do infinito não é normalmente aparente no céu que se vê sobre os
telhados. Mas quando subitamente se vê céu aonde normalmente seria de esperar que
se andasse, isto é, ao nível do chão, surge então uma situação de choque, e uma
sensação de infinito. (Cullen, 1971, p. 188)
Com base no conceito e na ideia de Visão Serial, realizei desenhos que tentassem
traduzir o aspecto que a que me refiro.
21
Através de um percurso feito entre a rua da
Sé de Lisboa, a Rua Augusto Rosa, até ao miradouro de Sta.Luzia fui fazendo esta
série de desenhos que tentam demonstrar o modo como um espaço desta natureza
pode atribuir uma recompensa depois de percorrer as várias ruas de Lisboa até lá
chegar.
20
Em contexto urbano, esta subida faz-se, muitas vezes, por ruas, ruelas e caminhos confinados e
balizados por edifícios e construções que limitam a nossa vista, bem como a relação do corpo com o
espaço. Torna-se incrivelmente apaziguador e realizador culminar um espaço com as características
destes pois, além de oferecer todos os regalos para a vista referidos anteriormente, tem a virtude de nos
convidar a lá permanecer, sendo um espaço predominantemente de pausa e reflexão. (Costa, 2009, p.
63)
21
Visão Serial: O percurso de um extremo ao outro da planta a passo uniforme, revela uma sucessão de
pontos de vista, conforme se procura exemplificar através desta série de desenhos (leia-se da esquerda
para a direita). Na planta, cada seta representa um ponto de vista. A progressão uniforme do caminhante
vai sendo pontuada por uma série de contrastes súbitos que têm grande impacto visual e dão vida ao
percurso (como a leve cotovelada que se dá ao vizinho que está prestes a adormecer na missa). Os meus
desenhos não correspondem ao local indicado na planta – escolhi-a porque me pareceu bastante
sugestiva. Repara-se que os mínimos desvios ao alinhamento, as pequenas variações nas saliências e
reentrâncias, em planta, têm um efeito dramático não proporcional na terceira dimensão. (Cullen, 1971,
p.74).
Rui Alexandre Castanho Sequeira
53
O terraço como exemplo de edifício definidor de uma topografia e de relação com a paisagem
Ilustração 28 – Desenho diagramático a partir do conceito de “Visão serial” do percurso até Alfama, Lisboa. (Ilustração nossa, 2013)
Rui Alexandre Castanho Sequeira
54
O terraço como exemplo de edifício definidor de uma topografia e de relação com a paisagem
4.3 TERRAÇO E MIRADOURO: OLHAR SOBRE A PAISAGEM
Foi visto que, na descoberta deste tipo de espaços, em contexto urbano, eles estão
sempre associados a um percurso. Em determinados momentos o seu aparecimento é
feito através de terraços que definem uma topografia e geram espaços de relação com
a paisagem. Deste modo, iremos então apresentar o tipo de vivências e experiências
espaciais, aqui proporcionados pelos terraços e/ou miradouros.
A chegada a estes espaços é apresentada muitas vezes em dois aspectos: como
espaços públicos, através da presença de um café, bancos, jardins que proporcionam
sombra, e de uma vista para a paisagem urbana da cidade. Deste modo, o terraço e o
miradouro são maioritariamente espaços de convívio, lazer e de reflexão.
Após todo o percurso feito até aqui chegar, que muitas vezes é longo e cheio de
diversos tipos de acontecimentos urbanos, o que acontece é que quando aqui se
chega surge uma sensação de memória. Por outras palavras, o verificar e relembrar,
através do olhar sobre estes espaços elevados, de todos os sítios, lugares, ruas,
edifícios, que estiveram presentes nesse percurso. É claro que esta questão pode não
ter nada a ver com o facto de ter sido feito anteriormente um percurso, pode
simplesmente estar relacionada com a vontade de compreender algo na paisagem,
através desta nova perspectiva. 22
Geralmente, é mais fácil perceber uma coisa quando já a conhecemos antemão algo
sobre ela. Vemos o que nos é familiar e ignoramos o resto. Isso significa que recriamos
o observado, em algo íntimo e compreensível. (Rasmussen, 2007, p. 31)
Deste modo, esta perspectiva de um ponto de vista superior torna-se num veículo na
compreensão dos vários elementos que estiveram associados a um percurso ou
memória qualquer de um conjunto, ou não, de elementos urbanos. Esta perspectiva é
usada por Gordon Cullen como uma perspectiva grandiosa:
Entre os meios que podemos utilizar para tirar partido do AQUI e do Além, há
evidentemente a considerar a perspectiva, como um dos mais populares. […] A ligação
22
“ É um espaço que apela aos sentidos e os desperta servindo para vincar ainda mais a presença do
mesmo no nosso espírito e nas memórias das nossas vivências. Todo o seu desenho comporta uma
carga predominantemente pacífica e com o âmbito de lá permanecemos, a partir do diálogo que é criado,
filtrado pelo miradouro, entre nós e a passagem contemplada. Um Miradouro surge quase sempre
associado a um percurso, uma história ou algum elemento que lhe dê lógica, seja na influência e na
obrigatoriedade da localização simbólica de algo que origina o seu desenho ou pelo acesso ao mesmo
que ajuda na sua compreensão e nos explica o seu funcionamento a sua lógica e a sua função.
O miradouro, por assim dizer, tem a função de cortina entreaberta, através da qual as olhadelas
apreciativas são consentidas, quase solicitadas.” (Lisbon Courier, 1960, 3 e 5)
Rui Alexandre Castanho Sequeira
55
O terraço como exemplo de edifício definidor de uma topografia e de relação com a paisagem
do primeiro plano com a paisagem longínqua induz uma sensação de domínio e de
omnipresença. (Cullen, 1971, p.43)
A vista do “Além”
23
, de algo que conseguimos apenas observar e que está fora do
nosso alcance, é apresentada de um modo diferente daquele a que estamos
habituados a conhecer numa primeira pessoa. Os vários elementos que compõem a
paisagem urbana, sejam eles objectos ou edifícios, a uma determinada distância
aparecem-nos como figuras bidimensionais, planas, inseridas no céu. Deixamos de ter
a noção de profundidade, do que está mais perto ou mais longe, vendo apenas os
contornos ou como mancha os vários objectos ou edifícios. Como é possível perceber
através do que o autor Steen Rasmussen refere:
Não percebemos todas as coisas como massa ou vazio. Objectos muito distantes
parecem, muitas vezes, completamente planos. Muitas formações de nuvens são vistas
unicamente como figuras bidimensionais contra o fundo do céu. Um fragmento distante
de costa que surge além do mar parece meramente uma silhueta. Vemos os contornos
mas não temos a impressão da profundidade. (Rasmussen, 2007, p. 77)
Ilustração 29 – Foto de Andreas Feininger à relação entre as pedras
tumulares e os arranha-céus de Nova Iorque. (Feininger, 1921)
23
«Sensação de Além» é a qualidade, de certo modo lírica de algo que está ao mesmo tempo presente e
sempre fora do nosso alcance: está Além. (Cullen, 1971, p.36)
Rui Alexandre Castanho Sequeira
56
O terraço como exemplo de edifício definidor de uma topografia e de relação com a paisagem
Esta fotografia referente a um cemitério em Brooklyn-Queens, Nova Iorque, do
fotógrafo americano Andreas Feininger apresenta a relação entre os arranha céus e as
pedras que o constituem e que por momentos são confundidas por edifícios mas numa
escala menor. Rasmussen referindo-se aos arranha-céus descreve como é a
experiência de os observar em várias altitudes dentro de um avião:
Visto de um avião a grande altitude, até o mais gigantesco arranha-céus é apenas um
bloco alto de pedra, uma mera forma escultural, não um edifício real em que vivem
pessoas. Mas, quando o avião desce, há um momento em que os edifícios mudam
completamente de carácter. De súbito, eles adquirem uma escala humana, tornam-se
casas para seres humanos como nós e não para minúsculas bonecas observadas do
alto. Esta estranha transformação ocorre no instante em que os contornos dos edifícios
começam a elevar-se acima do horizonte, de modo que obtemos deles uma
perspectiva lateral, em vez de os olharmos de cima para baixo. Os edifícios entram
numa nova faz de existência, passam a ser arquitectura em vez de brinquedos bem
arrumados – pois a arquitectura significa formas criadas em torno do homem, criadas
para nelas se viver, não meramente para serem vistas de fora. (Rasmussen, 2007, p.
77)
Na oposição a esta ideia de “Além”, existe um “Aqui”: “[…] O Recinto construído,
mesmo que elementar divide o espaço em Aqui e Ali. […]” (Cullen, 1971, p. 185). Este
“Aqui”, chamado de espaço de terraço e miradouro, é pensado como um espaço
convidativo para passar algum tempo do dia, através da presença de um banco ou de
uma sombra que proporciona um momento de pausa, de lazer e reflexão.
Regra geral, o miradouro, para além da sedução das vistas limitadas ou vastas, possui
ambiente cativante, seja pelo arranjo, seja pela graça local, seja ainda por um simples
banco convidativo. O miradouro, sempre pequenino e verdejante, desperta a ideia de
convite para agradável passeio dos olhos. E a cidade toda ela se descortina, a velha e
a nova, o bairro e o conjunto, os telhados e as ruas, desde esses poisos maneirinhos e
apetecíveis. (Lisboa. Câmara Municipal, 1960)
No remate do edificio Chaillot Palace, Paris, do arquitecto Louis-Hippolyte Boileau,
com a rua é criada uma continuidade de espaço público. O terraço deste palácio, a
eixo com a Torre Eiffel, proporciona uma relação, referida, entra as questões
relacionadas com o “Aqui” e o “Além”. Por um lado, temos um “Aqui”, as colunas
neoclássicas e o espaço público do terraço do palácio Chaillot, e por outro um “Além”,
a cidade de Paris onde a Torre Eiffel se assume como o elemento principal desta
paisagem.
Rui Alexandre Castanho Sequeira
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O terraço como exemplo de edifício definidor de uma topografia e de relação com a paisagem
Ilustração 30 –O Terraço do Chaillot Palace. (Institut Français D' Architecture, 2013, p. 147)
Ilustração 31 – Desenho diagramáticos referentes à relação do terraço deste palácio com
a Torre Eiffel. (Ilustração nossa, 2013)
Um exemplo deste tipo de espaço é o do Miradouro de S. Pedro de Alcântara, em
Lisboa. Este miradouro, construído no século XIX sobre um terreno em socalcos,
oferece uma das mais belas paisagens sobre a cidade de Lisboa. Neste Miradouro, é
possível observar a encosta da Mouraria, o Castelo de São Jorge, a Sé, a baixa
pombalina, S. Vicente de Fora e ainda um pouco do Rio Tejo.
Rui Alexandre Castanho Sequeira
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O terraço como exemplo de edifício definidor de uma topografia e de relação com a paisagem
Um rápido salto ao jardim fronteiro permite-nos observar Lisboa a partir do bairro alto.
É em São Pedro de Alcântara que ele se debruça sobre a baixa. Não há vista mais
generosa para quem estima a cidade. Ao cair da tarde, as ruas orientais ostentam
luminosidade própria. A sé parece dourada. As casas sucedem-se, como panos
imóveis e estendidos, salpicados pelas luzes de muitas janelas. Vale a pena subir a
calçada da glória para ver Lisboa aqui de cima. (Dias, 1994, p. 68)
Deste modo, este miradouro, a partir de 1835, quando foi entregue à edilidade
alfacinha foram feitas as duas plataformas que hoje lá existem, compostas pelos
jardins a cargo do Arquitecto Agostinho da Silva. Na sua plataforma inferior é possível
verificar uma influência francesa no modo como o jardim foi pensado e organizado,
através da forma geométrica e simétrica como as flores e os arbustos eram dispostos,
assim como o lago de repuxo e vários bustos de deus e heróis da mitologia grecoromana. Já na plataforma superior, é marcada por uma densa vegetação e pelo
variado mobiliário urbano, de que são exemplo os bancos.
Ilustração 32 – Miradouro S. Pedro de Alcântara. (Ilustração nossa, 2013)
Este miradouro-jardim, construído no sentido Norte-Sul, é dividido em duas partes, uma
superior e outra inferior, ligadas por boas escadas de pedra, dispostas ao encontro, em
dois sentidos.
A parte alta está a 73m, sobre o nível do Tejo e constitui, como varanda inferior, um
dos pontos mais interessantes para apreciar-se o panorama de Lisboa.
Dali pudemos dilatar a vista pelo vale ocupado pela Avenida da Liberdade e as subidas
do casario pelas numerosas colinas em que assenta a cidade.
Rui Alexandre Castanho Sequeira
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O terraço como exemplo de edifício definidor de uma topografia e de relação com a paisagem
Com os olhos semicerrados, aproximamo-nos da balaustrada. Encostamo-nos.
Respiramos fundo.
Sob a carícia suavíssima de uma brisa fina e subtil, deixamos que lentamente o nosso
olhar se inunde de beleza e a nossa alma se submeta ao feitiço romântico e
empolgante que, em halos de fantasia, nos atira aos braços alados do sonho […].
(Ramalho, 1933, p.92)
O projecto do Arquitecto Gonçalo Byrne para a ampliação do Museu Nacional
Machado de Castro, é um dos exemplos da consciência por parte do arquitecto da
existência de uma cidade no modo como se cria esta ampliação. Se por um lado existe
a relação com a “paisagem urbana” do existente na cidade de Coimbra, por outro
através pátio/claustro/miradouro irá contemplar essa mesma paisagem.
Ilustração 34 – Montagem fotográfica referente à ligação com a cidade do Projecto de ampliação do Museu Machado e Castro. (Bryne e Malagamba, 1999)
Ilustração 33 – Desenhos diagramáticos referentes ao Projecto de ampliação do Museu Machado e
Castro (Ilustração nossa, 2013)
Rui Alexandre Castanho Sequeira
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O terraço como exemplo de edifício definidor de uma topografia e de relação com a paisagem
A cidade é um fenómeno dinâmico e por isso vivo, apresentando um plano um palco
de complexas interacções onde a arquitectura actua como agente transformador dos
espaços. (Byrne, 1999)
Ainda nesta obra é perceptível a existência de um cuidado e preocupação no modo
como esta ampliação se integra no antigo histórico de Coimbra, criando uma simbiose
entre o novo e o antigo, dando ênfanse, principalmente, ao bairro-histórico.
O arquitecto precisa em absoluto da história porque pisa territórios pré-existentes mas
sobretudo porque o projecto que orienta a transformação vive do tempo e no tempo”.
(Byrne, 1999)
Num contexto de terraço utilizado num sentido de tipologia de edifício edilício, ao longo
da História, mais concretamente, após Revolução Industrial e no surgimento dos
novos materiais, começam cada vez mais a surgir terraços na cobertura dos edifícios,
seguindo a mesma lógica de pensamento de proporcionar um espaço de convívio,
lazer e reflexão com a paisagem como plano de fundo. Destaco aqui, o mais
conhecido exemplo de Le Corbusier, da sua Villa Savoye e da Unidade de Habitação
de Marselha. Nestas duas obras, é visível o uso do terraço, habitável, como
continuidade da casa ou da habitação, proporcionando um espaço destinado a um
momento de pausa sobre uma relação com a paisagem.
Ilustração 35 – O terraço e a paisagem (Jencks, 1987, p. 139)
Rui Alexandre Castanho Sequeira
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O terraço como exemplo de edifício definidor de uma topografia e de relação com a paisagem
Le Corbusier e Jeanneret, sobre o modo como projectavam os terraços nos seus
edifícios publicaram um documento titulado de “ Os cinco pontos de uma nova
arquitectura” :
Durante séculos, um telhado tradicional, de águas inclinadas, com o inverno suportava
normalmente a neve, enquanto a casa é aquecida por fogões. Desde que se instalou o
aquecimento central, o telhado tradicional já não serve. O telhado já não deve ser
inclinado, mas sim plano. Deve-se aproveitar as águas e não expulsá-las para fora.
Verdade inquestionável: os climas frios impõem o suprimir do telhado inclinado e
exigem a construção de telhados-terraços planos, com o recolhimento das águas que
se dirigem para o interior da casa. O betão armado, é o novo meio que permite a
realização destas coberturas homogéneas. […] Os terraços-jardim eram muito
opulentos: flores, arbustos e árvores, rela, Por razões técnicas, económicas, funcionais
e sentimentais levaram-nos a adoptar o terraço. (Benevolo, 1999, p. 461)
No filme de Wim Wenders24, “Lisbon Story”, de 1994, que teve como palco principal a
cidade de Lisboa, a personagem Phillip encontra o grupo Português “Madredeus” no
terraço do hotel que se balança para o Pátio D. Fradique. O grupo diz-lhe que
acabaram a sua nova canção “Tejo”. Com uma bela vista sobre os vários elementos
que constituem a paisagem de Lisboa explica o quanto o Rio Tejo é importante para a
sua música e para as suas vidas, “o Tejo é o único testemunho das nossas vidas“.
Ilustração 36 – Desenhos diagramáticos referentes a esta cena retirada do filme “Lisbon Story”.
(Ilustração nossa, 2012)
24
Ernst Wilhelm “Wim” Wenders (Dusseldorf, 14 de Agosto de 1945) é um cineasta Alemão e um das
mais importantes figuras do Novo Cinema Alemão.
Rui Alexandre Castanho Sequeira
62
O terraço como exemplo de edifício definidor de uma topografia e de relação com a paisagem
A percepção da cidade a partir de um miradouro, ou de uma varanda num edifício alto,
apresenta-nos a cidade de outros modos, numa nova escala, contida por novos limites
que se tornam distantes (colinas fronteira, rio). Embora seja uma cidade não
percorrível, é apropriável pelo olhar. Permitindo-nos percepcionar esta nova natureza,
esta nova dimensão da cidade. Já não somos contidos do mesmo modo, nem pelos
mesmos elementos que constroem a cidade nesse nível geral (cidade da superfície).
Reconhecemos ainda aqueles elementos que emergem da cota inferior (marcos de
referencia da cidade de superfície) e o modo como estes continuam a pontuar o
território. Agora já não enquanto caracterizadores espaciais de determinadas zonas
(bairros), passando a assumir-se como elementos que pontuam esse novo território.
Construindo um novo mal espacial. (Rocha, 2000)
Ilustração 37 – “Lisbon Story” com plano de
fundo a cidade de Lisboa e o seu Rio Tejo.
(Wenders, 1994)
4.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS DO TERRAÇO COMO ESPAÇO ACIMA-DO-NÍVEL
Neste capítulo foi apresentado o estudo sobre o terraço como ideia operativa de
Arquitectura, através de uma das suas vertentes tipológicas: como definidor de uma
topografia em contexto urbano gerador de um espaço em praça. Concluiu-se que,
sendo um espaço acima de um determinado nível de referência, pelas suas
Rui Alexandre Castanho Sequeira
63
O terraço como exemplo de edifício definidor de uma topografia e de relação com a paisagem
características de relação com outros momentos, irá proporcionar a quem frequenta
estes espaços uma série de experiências espaciais e outras ligadas aos sentidos,
como a mencionada sensação de “autoridade”, “privilégio” ou de “domínio” sobre o que
os rodeia. Foi igualmente possível perceber, em contexto urbano, que estes espaços
estão sempre associados a um percurso, uma história que termina com este tipo
sistemas
tipologicos,
praças-terraços
ou
miradouros,
apresentando-se
como
recompensas, depois de percorrer as várias ruas e passar por vários edifícios.
Estes terraços e miradouros apresentam-se como momentos de pausa e de
contemplação, tendo como plano de fundo a paisagem urbana. Aqui, é possível
compreender melhor, os vários tipos de elementos urbanos, numa escala
completamente diferente que estiveram ou não presentes no percurso até aqui chegar.
Rui Alexandre Castanho Sequeira
64
O terraço como exemplo de edifício definidor de uma topografia e de relação com a paisagem
5. RELAÇÃO
ENTRE ESPAÇO PÚBLICO/PRIVADO ENTRE TERRAÇO E
MIRADOURO
No contexto desta investigação, neste capítulo interessa perceber o modo como estes
dois sistemas: terraço e miradouro, se relacionam, numa perspectiva de criarem ou
não espaço público. Interessa então, de um modo geral apresentar a noção destes
dois conceitos, espaço público e privado, na sua relação urbana, relacionando com o
modo como estes tipos de espaços se reflectem no terraço e no miradouro
Ilustração 38 – Foto de Andreas Feininger a uma das ruas de Nova
Iorque. (Feininger, 1942)
Começo por apresentar a noção destes dois conceitos, de acordo com seu significado
que nos é dado pelo Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea da Academia
das Ciências de Lisboa. Dentro da linguagem de Arquitectura:
Público – […] 1. Que está relacionado com a população em geral, com a comunidade.
Colectivo, Geral. Não é Pessoal. […] 2. Que está relacionado com o Governo, com a
administração de um país. Não é privado. […] 3. Que pertence ao governo, às
autarquias ou é administrado por essas entidades e que pode ser usufruído por toda a
população. Não é privado. […] 5. Que se realiza diante de um grande número de
pessoas ou que pode vir a ser conhecido. […] Publicamente, na presença de várias
pessoas.
Rui Alexandre Castanho Sequeira
65
O terraço como exemplo de edifício definidor de uma topografia e de relação com a paisagem
Privado – […] 1. Que não é público ou não tem carácter público; que não é acessível a
qualquer pessoa – Particular […] propriedade privada. 2. Que não é do Estado ou não
diz respeito ao Estado (…) 3. Que se desenrola à parte; que é reservado a certas
pessoas. […] Que é relativo particularmente à pessoa, à sua intimidade familiar. Intimo,
Pessoal. Vida. […] (em particular, sem participação de terceiros. […] (Casteleiro, 2001)
Estas definições levam-nos a concluir que a noção de espaço público se refere a um
espaço que possui o princípio de ser acessível a todos, onde se pode circular
livremente, conceito esse interligado, muitas vezes, a espaços que oferecem uma
qualquer qualidade relacionada com o lazer e convívio. Estes espaços que possuem
uma série de funções diferentes, com as mais diversas formas e usos, com o avançar
dos tempos ajudam a criar uma memória num determinado lugar. Por oposição, surgenos o conceito de espaço privado, espaço esse dominado por uma entrada controlada,
destinado apenas um público exclusivo que o possa habitar.
Com base em instrumentos analíticos como inquéritos feitos dentro da cidade de
Lisboa foi visto na obra teórica de Vítor Ferreira “Fascínio da cidade : Memória e
projecto da Urbanidade” o modo como o espaço público poderá influenciar a cidade.
A metodologia da investigação empírica realizada apoiou-se em diversos instrumentos
analíticos, nomeadamente num inquérito por questionário, na observação de algumas
zonas de Lisboa. O espaço de referência do estudo reportou-se à Metrópole de Lisboa,
numa configuração social e urbanística. (Ferreira, 2004, p. 123)
Através desta metodologia de investigação empírica, Ferreira observou que tanto os
espaços públicos como as áreas verdes, parques, praças, avenidas, passeios, jardins,
entre muitos outros, enquanto componentes da cidade possuem uma igual importância
quando comparados ao edificado existente. Tiago Coelho, que explorou este tema na
sua dissertação de Mestrado “A fronteira entre o espaço público e o privado” refere
que:
Essa importância prende-se com o facto de se confundir e identificar com a própria
história de vida do respectivo utilizador, concretamente quando este compreende
retrospectivamente usa ligação ao lugar e, no caso concreto dos Jardins, conciliam
uma ideia oitocentista de espaço público e verde urbano. (Coelho, 2007, p. 20)
Deste estudo foi possível reter a ideia de que existem diversos factores por detrás do
modo como estes espaços públicos e áreas verdes são utilizados. Estes factores não
passam apenas por questões relacionadas com a distinção social, mas sim pela
própria idade, o local onde habitam, as próprias condições urbanas da área onde
Rui Alexandre Castanho Sequeira
66
O terraço como exemplo de edifício definidor de uma topografia e de relação com a paisagem
estão - tudo isto está inerente à utilização que as pessoas fazem dos espaços
públicos.25
Toda esta observação vai naturalmente ao encontro daquilo que Kevin Lynch (1981),
no seu livro “A boa forma da cidade“ refere. Este autor defende que o desenho urbano,
dentro de uma lógica de cidade moderna, deverá dar uma especial atenção ao espaço
público, de modo a proporcionar uma boa vida urbana. Contudo, para que tal
aconteça, esse espaço público deverá possuir “vitalidade”; “sensação”; “adequação”;
“acesso” e “ controlo”.
Estes conceitos relacionados com um novo pensamento de desenho urbano surgem
da ideia de que com eles se procurou reabilitar a cidade tradicional, passando para
uma cidade moderna. Este modelo urbanístico vindo da “Carta de Atenas”, teria como
visão a criação de uma nova vida social que adviria de um novo pensamento dos
espaços que iria originar e modificar comportamentos e mentalidades na sociedade. A
ideia aqui a reter teve realmente a ver com o que Portas refere no seu livro “Conceitos
de Desenvolvimento Urbano” : a transição e o fim de um modo de projectar edifícios
como “objectos” sobre um espaço livre sem a existência de uma preocupação na
articulação com a criação de espaço público – ou seja, o espaço público tratado em
segundo plano, como o espaço que sobra depois da construção do edifício. Começouse, de facto, a pensar o oposto, no espaço público, as ruas e praças como sistemas
principais que vão ter tanta ou mais importância que os próprios edifícios, visto serem
os espaços de vivência.
Francisco Serdoura, no seu trabalho “Espaço Público. Lugar de Vida Urbana”
referindo-se a Francis Tibbalds no seu livro “Ten commands of urban design” refere
que no desenho urbano para que possa surgir vida urbana é necessário respeitar
aquilo que o passado nos deu. Do mesmo modo que este desenho deverá ter o
25
“[…] Tais factores permitem escolhas variadas e diferentes avaliações, mas no âmbito geral, a opção
mais referenciada ao que se refere ao espaços públicos, é o facto de “contribuírem para a melhoria da
qualidade de vida dos cidadãos. […] Do ponto de vista etário são significativas e diferenças encontradas
no estudo mencionado, começando pelos mais idosos, onde a importância das zonas verdes é
referenciada, por permitir o “contacto com a natureza” e proporcionar “momentos de lazer”. Os mais
jovens consideram importantes as zonas verdes por permitem um “ambiente saudável”. Estas diferenças
distiguem.se pelo modo como vivem os espaços públicos, o que na maioria das zonas de observação os
idosos surgem como o grupo que mais práticas realizam, associadas ao interior do habitat como por
exemplo as refeições ou os jogos de cartas. Dada a “importância de ser um espaço de encontro com os
outros” constatou-se que a avaliação dos espaços públicos encontra.se principalmente utilizada por
inquiridos com a escolaridade baixa e com idades compreendidas entre os 50 e os 64 anos, levando-nos
a perceber que os mais idosos “parecem encontrar na “rua”, um prolongamento, ou mesmo a ocasião
significativa, para uma desejada partilha de socialização.” (Ferreira, 2004, p.125)
Rui Alexandre Castanho Sequeira
67
O terraço como exemplo de edifício definidor de uma topografia e de relação com a paisagem
objectivo de conseguir criar multiplas funções urbanas no espaço colectivo, assim
como de criar espaço público que tenha como alvo todos os sectores sociais. O
espaço público deverá ter a prioridade máxima quando se faz desenho urbano, como
refere Serdoura :
Deve ainda ser dada prioridade ao planeamento do espaço público e só depois às
construções; os novos espaços urbanos deverão ser desenhados à escala do homem e
satisfazer as suas necessidades, e terão de ser construídos com legibilidade e
“durabilidade”, possibilitando interacções entre as pessoas e o espaço público e viceversa. (Serdoura, 2006, p. 6)
No entanto, e já me referindo ao presente, é cada vez mais ponto assente a
instauração de um novo paradigma dentro desta questão dos espaços públicos num
pensamento de desenho de cidade. O que acontece é que os espaços públicos como
espaços destinados a uso social têm vindo a revelar-se espaços que são proibidos ou
mesmo inacessíveis. No entanto, o conceito de público não se trata de:
Uma qualidade intrínseca a um espaço, mas sim uma construção social e política, que
deriva de vários factores, nomeadamente dos usos ai realizados, do sentido que é
atribuído por um determinado grupo social; da acessibilidade; da tensão entre o
estrangeiro/anónimo e o reconhecimento/encontro; da dialéctica entre proximidade e
distância física e social” (Castro, 2002, p. 54)
Existe, no fundo, cada vez mais um controlo dos espaços públicos, espaços esses
cada vez mais regulados e que originam comportamentos diferentes dos seus
visitantes originando a que o espaço publico comece a ser entendido como um espaço
disfarçado de privado em muitos casos. Tiago Coelho, considera que os espaços
públicos urbanos fazem com que quem viva na cidade frequente esses mesmos
espaços, tornando-os por sua vez mais limitados. É inevitável o crescente número de
espaços chamados "privados" que dão lugar a um declínio de espaços públicos.
Assim, podemos concluir que actualmente estamos perante um novo conceito onde
estes espaços se unem, existindo uma confusão de utilização e más consequências
que alteram o verdadeiro sentido da cidade. 26 Esta realidade começa a por em causa
a importância do espaço público na cidade, visto que, segundo Francesco Indovina:
26
“As pessoas que vivem na cidade tornam-se num tipo de convidados no espaço público urbano
“regulado”, devendo “comportar-se” de maneira cada vez mais codificada. Não se pode evitar que os
espaços privados têm vindo a aumentar, originando consequências urbanas importantes, mais ainda com
o “crescimento da apropriação privada do espaço público. Estamos perante um novo conceito, o
público/privado onde existe uma confusão de papéis e funções que geram consequências e constituem
uma manipulação da cidade.” (Coelho, 2007)
Rui Alexandre Castanho Sequeira
68
O terraço como exemplo de edifício definidor de uma topografia e de relação com a paisagem
- O espaço público é fundamental para o funcionamento de todas as cidades e contribui
para a identificação de cada cidade;
- A existência do espaço público é condição para a socialização e realização das
respectivas manifestações e importante para a qualidade de vida urbana;
- A transformação espaço público/espaço de uso público constitui a passagem de uma
função universalista para uma função descriminada;
- A qualidade de vida individual é também influenciada pela existência de espaço
público e da sua tipologia.” (Indovina, 2002, p. 119)
Por outro lado, novamente tendo por base a investigação de Tiago Coelho dedicada
ao exemplo que apresenta sobre Centro Cultural de Belém que teve como sustentação
uma observação e o fundamento de autores que sustentaram as suas ideias, consegui
transportar isso para a leitura de alguns terraços e miradouros dentro de Lisboa.
Após a minha visita ao CCB, considerei que muitos dos aspectos defendidos eram
justos e adequados. O CCB, edifício localizado numa zona com um forte carácter
social, possui uma grande carga histórica e cultural que, evidentemente, se vai reflectir
no edifício. Esta questão ajuda ainda mais a que este equipamento seja
principalmente frequentado por pessoas entre as idades 24-35 anos, muitas delas
estudantes universitários e de um estrato social elevado.
Ilustração 39 – Espaço público localizado no terraço sul no Centro Cultural de Belém. (Ilustração nossa, 2013)
Rui Alexandre Castanho Sequeira
69
O terraço como exemplo de edifício definidor de uma topografia e de relação com a paisagem
É possível perceber que estamos perante um público muito específico que visita este
espaço colectivo, estando assim destacado o espaço público socialmente "reservado".
(Ferreira, 2004, p. 143)
Um conjunto de códigos disfarçados que a pouco e pouco tendem a controlar o
conceito de "espaço público", tendo em conta alguns aspectos como a propriedade
como sendo pública ou privada tal como os seus limites de uso em relação ao tempo
de utilização; os custos monetários e regras de uso tais como o facto do proprietário
querer silêncio ou não, se é permitido fotografar ou até animais de estimação.
O Silo Auto das Portas do Sol, dos arquitectos Aires Mateus27, localizada no Largo das
Portas do Sol no histórico bairro de Alfama, em Lisboa, foi um dos exemplos que me
chamou mais atenção dentro desta questão. Esta obra se por um lado estabele uma
relação entre a ideia de um terraço que se debruça sobre uma paisagem, por outro
possui características de espaço público/privado.
Aqui com o factor tempo começa-se a estabelecer um novo momento de pausa que
contrasta com a densa malha urbana de Alfama e que se começa afirmar, no fundo,
como um novo miradouro, através destes terraços que permitem observar uma
pespectiva grandiosa desta parte da cidade. O desenho destas plataformas é feito a
partir da definição de uma topografia, interpretada neste sitio, fazendo com que
encontre um prolongamento ou continuidade de espaço público sobre estes terraços.
27
Manuel Aires Mateus (1963), arquitecto português, formou-se na FAUTL, e a partir de 1983 começou a
trabalhar com o arquitecto Gonçalo Byrne, tendo cinco anos mais tarde, com o irmão Francisco Aires
Mateus (1964), estabelecido atelier em nome próprio.
Já leccionou na Universidade Técnica de Lisboa, na Universidade Lusíada, na Universidade Autónoma,
na Academia de Arquitectura de Mendrisio e na Faculdade de Arquitectura de Harvard, nos Estados
Unidos da América. Pelo trabalho desenvolvido em parceria com o seu irmão, tem no seu currículo
prémios como o European Prize for Contemporary Architecture Mies Van der Rohe (2009, 2997, 2000), o
Prémio Ibero Americana de Arqutiectura, o Prémis FAD d’Arquitectura I intervenções Efémeras (2000), o
Prémio Enor (2006), o Prémio Luigi Consenza (2001), O Prémio Valmor (2002), entre outros.
Rui Alexandre Castanho Sequeira
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O terraço como exemplo de edifício definidor de uma topografia e de relação com a paisagem
Ilustração 40 – Fotos referentes à relação entre o espaço público do primeiro terraço com o espaço público/privado do segundo
terraço. (Ilustração nossa, 2013)
Rui Alexandre Castanho Sequeira
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O terraço como exemplo de edifício definidor de uma topografia e de relação com a paisagem
Ilustração 41 – Desenho referente ao prolongamento da Rua S. Tomé para o terraço referente ao Silo-automóvel. (Ilustração
nossa, 2013)
Programaticamente esta obra é composta por um parque de estacionamento coberto
por dois terraços, um deles com café e outro o que faz ligação com a Rua S. Tomé. O
acesso é feito através de um conjunto de escadas e rampas que possibilitam a entrada
para o parque de estacionamento e para as plataformas em terraço.
Durante algumas horas do dia, apesar dos dois terraços terem um acesso público, o
facto do segundo terraço ter um acesso em rampa e um café com determinados tipos
de características, sugere um carácter destinado a um público de classe social média
alta, ou seja, a um público muito específico. Devido a todos os arranjos do mobiliário,
aos próprios valores de consumo do café, é criada uma espécie de “barreira” de
acesso, pelo que quem permanece nestes terraços acaba por preferir ficar pelo
Ilustração 42 – Desenhos Diagramáticos referentes à passagem entre os dois terraços e
a sua relação ente público/privado. (Ilustração nossa, 2013)
Rui Alexandre Castanho Sequeira
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O terraço como exemplo de edifício definidor de uma topografia e de relação com a paisagem
primeiro terraço.
O mesmo acontece no espaço café em Alfama “O terraço”. Este espaço em Terraço,
mais uma vez apresenta-se como espaço público, no entanto, verificou-se igualmente,
que se destina a um público muito especifico. Foi igualmente observado o momento de
entrada, uma espécie de “porta disfarçada” que se pode abrir e fechar, que nos faz
ficar na dúvida se é ou não possível qualquer pessoa lá circular e frequentar.
Ilustração 43 – Momento de entrada para o café/bar “ O Terraço”. (Ilustração nossa, 2013)
Ilustração 44 – Terraço referente ao café/bar “ O Terraço”. (Ilustração nossa, 2013)
Encontramos os sinais desta mutação gradual em fenómenos tão diversos como o
crescente número de condomínios fechados; as concessões privadas de largos e
praças ou as demonstrações comerciais; entre outros. Este modelo de construção
retira o domínio público e potencia a afirmação do privado, levando à perda progressiva
do papel fundamental da esfera pública como elemento estruturador das rotinas
urbanas e consequentemente À representação do espaço público urbano como um
espaço residual entre edifícios e vias. (Coelho, 2007, p. 33)
Rui Alexandre Castanho Sequeira
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O terraço como exemplo de edifício definidor de uma topografia e de relação com a paisagem
Esta situação corrobora com a tendência verificada em Lisboa, onde começam a surgir
espaços como cafés, bares, situados em terraços de edifícios com as mais diversas
funções e características que fazem com que mais uma vez sejam destinados a um
público muito específico. Isto acontece, pois muitos destes edifícios são ou hotéis ou
espaços privados que permitem o acesso a toda a gente ao topo, no terraço, para o
café/bar. No entanto cria-se no momento de entrada uma espécie de barreira, devido a
um código escondido, visto não existir uma clara informação de que estes espaços
são públicos, pelo o que nem toda a gente se sente à vontade para deslocar e
permanecer nestes espaços, principalmente devido a questões relacionadas com o
estrato social. Trata-se no fundo, daquilo que já foi referido, de um espaço público
disfarçado de privado.
O espaço público tem vindo a sofrer mutações em relação ao passado, fazendo-nos
questionar qual o seu papel na “nova cultura da cidade“, e neste campo podem ser
descritos vários aspectos relevantes para esta mudança, tais como:
- O uso do espaço público como ocasião de socialização já não corresponde aos
modelos de vida mais recente;
- O declínio da praça como lugar de agrupamento social, entre os quais as
manifestações políticas, é inevitável, resultado da possível difusão da democracia
electrónica;
- Desenvolveram-se novos “espaços” que, podendo ser privados, desempenham um
papel público, restituindo os tradicionais lugares públicos obsoletos no sentido em que
aqueles novos apresentam “equipamentos” e “condições” que superam os tradicionais;
- A fuga dos espaços públicos é determinada pela situação de insegurança que os
caracteriza;
- As novas instalações, sobretudo difusas, ditam a redução dos espaços públicos na
sua componente infra-estrutural, privilegiando os espaços privados. (Indovina, 2002,
p.121)
Por outro lado, por oposição a estes espaços em terraço em Lisboa, surgem os
espaços de miradouro.
Rui Alexandre Castanho Sequeira
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O terraço como exemplo de edifício definidor de uma topografia e de relação com a paisagem
Ilustração 45 – Espaço público de dois Miradouros de Lisboa. (Ilustração nossa, 2013)
Nestes espaços, a realidade é outra. Após uma observação a estes espaços, percebese que como espaço públicos que são, são usufruídos pelos mais diversos tipos de
pessoas, nomeadamente em termos de faixa etária, situação social, raça etc. Em
todos os casos a sua acessibilidade é feita sem qualquer tipo de momento de entrada
que possa dar a entender o acesso a um espaço privado ou algo que possa sugerir
que se destina a um público específico. Estes espaços tornam-se cenário de
momentos de encontro, convívio e lazer em diversos pontos da cidade com vista para
Lisboa.
A acessibilidade aos espaços públicos representa um valor fundamental da urbanidade,
assinalando que “determinados espaços são acessíveis não só pelas qualidades
arquitectónicas, mas também pela sua capacidade em articular visibilidades e
enunciados, ou seja pela sua capacidade em oferecer deslocações, caminhos e
movimentos, mas também paragens disponíveis e percebíveis pelos seus utilizadores.
(Ferreira, 2004, p. 171)
5.1
CONSIDERAÇÕES FINAIS DA RELAÇÃO
PÚBLICO/PRIVADO ESTRE TERRAÇO E MIRADOURO.
ENTRE
ESPAÇO
O estudo dos conceitos de espaço público e privado permitiu perceber a sua oposição
e a sua relação entre o terraço e o miradouro. Num primeiro momento, foi feita uma
distinção clara quanto aos seus significados e ao que está associado a estes sistemas.
Um espaço público refere-se a um espaço que possui o princípio de ser acessível a
todos. Já um espaço privado, a um espaço controlado, no sentido do seu acesso e do
seu público a que é destinado, ser exclusivo.
O desenho urbano, dentro de uma lógica de cidade moderna, deverá dar uma especial
atenção ao espaço público, de modo a proporcionar uma boa vida urbana. Contudo,
Rui Alexandre Castanho Sequeira
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O terraço como exemplo de edifício definidor de uma topografia e de relação com a paisagem
para que tal aconteça, esse espaço público deverá possuir “vitalidade”; “sensação”;
“adequação”; “acesso” e “controlo”.
No entanto, é cada vez mais notória a transformação destes conceitos, o que nos leva
à ideia de que estamos a entrar num novo paradigma delineado pelo aparecimento de
espaços públicos, muitas vezes limitados no próprio “acesso” e no “controlo”. Foi
comparado e relacionado com o exemplo de alguns tipos de terraço existentes em
Lisboa, e a sua comparação aos miradouros.
Ao falarmos em contexto urbano, foi visto que o miradouro é apresentado como
espaço público, já o terraço, apesar de num nível tipológico de edifício singular se
traduzir como um espaço privado na cobertura de um edifício, foi percebido que a nível
urbano, ao definir-se como um espaço em praça de relação com a paisagem urbana,
assume-se como um espaço de uso colectivo
Rui Alexandre Castanho Sequeira
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O terraço como exemplo de edifício definidor de uma topografia e de relação com a paisagem
6. CASOS DE ESTUDO
Ilustração 46 – Diagrama de organização de ideias referentes aos casos de estudo. (Ilustração nossa, 2013)
Rui Alexandre Castanho Sequeira
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O terraço como exemplo de edifício definidor de uma topografia e de relação com a paisagem
6.1 JARDINS SUSPENSOS DA BABILÓNIA
Os Jardins Suspensos da Babilónia foram um caso de estudo que esteve sempre
presente tanto nesta dissertação como no projecto individual realizado na cadeira de
Projecto III do 5ºano. É um caso teórico, utópico, visto que a sua suposta existência é
apenas confirmada através de textos, das ruinas existentes que levam a
interpretações esquemáticas daquilo que poderão ter sido realmente estes jardins.
Trata-se, então, de uma visão de diferentes autores. No contexto desta dissertação,
será apresentado segundo uma visão relativa à existência de uma estratégia
topográfica que se relaciona com a paisagem, por detrás desta intervenção.
Para apresentar este caso de estudo, começarei por contextualizar muito
sinteticamente, dado não ser esse o assunto aqui a ser explorado.
Estes Jardins, localizar-se-iam na antiga cidade na Mesopotâmia, Babilónia, criada,
sem nenhum dado concreto cronológico, por volta de 1867 a.C, onde as ruínas são
encontradas na cidade existente, Al Hillah, provincia de Babil no Iraque.
Esta cidade ficou conhecida e marcada na História pelo seu desenvolvimento e
avanço, tanto na área técnica como construtiva no campo da arquitectura e da
engenheira. Os vários documentos existentes desta cidade apresentam-na como
significado de engenho, técnica e pela grandiosidade das fortificações, mais
concretamente pela Bíblia e por Vitrúvio.
Outra das características da arquitectura e da engenharia em Babilónia definia-se pelas
estruturas hidráulicas. Com efeito, uma das riquezas mesopotâmicas era de facto a
água, suprida pelos dois principais rios: o Tigre e o Eufrates. Este era o que banhava
Babilónia, construída nas suas margens. Eram as cheias dos dois rios que garantiam a
fertilidade às terras da região e possibilitavam a subsistência na mesma. (Ferreira e
Nazaré, 2005, p. 31)
Rui Alexandre Castanho Sequeira
78
O terraço como exemplo de edifício definidor de uma topografia e de relação com a paisagem
No entanto, Babilónia nas listas mais antigas sempre foi citada pelas suas Muralhas e
pelos Jardins Suspensos. Estas duas construções da Antiguidade foram motivos
suficientes para serem considerados cânones das Maravilhas do mundo, construindo
igualmente para a expansão da sua imagem e simbologia:
Perdurou de diversas formas na cultura ocidental: na associação à terra dos dois rios,
no simbolismo no exílio, da deportação e do poder tirânico (como se lê nos Salmos e
nos livros de Jeremias, Isaías e Daniel), na ideia alegórica de religiosidade falsa (do
tema da Torre de Babel ao Apocalipse de S. João), mas também nos mitos gregos em
torno de Nino, nos romances gregos perdidos (de Nino e Semíramis à Babilónicas de
Jâmblico), no modo como se assumiu, enfim, enquanto forma críptica de designar a
própria Roma, tal como sugerem os textos de Simão Pedro da Galileia. (Ferreira e
Nazaré, 2009, p. 116)
Todos estes factores levam à natural reputação da Babilónia, visto ter sido marcado e
associado a uma imagem exótica oriental, tanto de poder político, como de poder
religioso. A real prova disso é de facto as constantes tentativas por diversos autores
de representar e reconstituírem, mesmo que utopicamente, a cidade da Babilónia,
principalmente os seus jardins.
Ilustração 47 – Babilónia (Larrinaga, 1959-1962)
Para além disso, morfologicamente, Babilónia estaria situada numa planície. É crível
que as suas muralhas e jardins teriam zonas mais elevadas, o que na realidade seriam
elevações artificiais que tinham um principal carácter defensivo. Fazendo, com que a
uma longa distancia, quem se aproximava desta cidade, teria o impacto destas
muralhas e a imagem de defesa que foram proporcionadas pelas técnicas de
Rui Alexandre Castanho Sequeira
79
O terraço como exemplo de edifício definidor de uma topografia e de relação com a paisagem
construção. É exactamente neste contexto, que se torna relevante para esta
dissertação.
Ilustração 48 – Pintura referente aos jardins suspensos da Babilónia por Martin
Heemsherck. (Heemskerck, 1500s)
Visto haver uma falta de relevo natural nesta cidade, tal foi levado a cabo através dos
edifícios que o sugeriam. De acordo com os documentos históricos, o rei da Síria que
governava a Babilónia, por amor à sua esposa e vendo a sua tristeza por se relembrar
dos seus tempos de infância, onde nasceu e cresceu numa zona de planícies
composta pela sombra dos bosques e das florestas, decidiu presentear a esposa, com
um edifício que sugerisse estes tais encantos da natureza: os Jardins Suspensos.
Dada a ausência de relevo natural na Babilónia, a obra seria especialmente notável
neste ambiente naturalmente adverso, e surpreenderia quem dele ouvisse falar. É
possível que estes mesmos viajantes observassem, mesmo desde o horizonte, jardins
artificiais elevados da planície, à altura das muralhas, proporcionados pelas técnicas de
construção e de condução da água dominadas pelos povos da Mesopotâmia,
manifestação de luxo num espaço naturalmente desértico. […] Vistos ao longe,
parecem bosques a coroar a montanha onde teriam nascido. Conta a tradição que
certo rei da Síria, que governava a Babilónia, terá metido mãos a esta empresa movido
pelo amor à esposa, a qual, por andar saudosa da sombra dos bosques e das florestas
numa zona de planícies, conseguir convencer o marido a imitar, com uma obra como
esta, os encantos da natureza. (Ferreira e Nazaré, 2009, p. 206)
Rui Alexandre Castanho Sequeira
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O terraço como exemplo de edifício definidor de uma topografia e de relação com a paisagem
Ilustração 49 – Estratégia topográfica para o edifício dos jardins suspensos. (Ilustração nossa, 2013)
Independentemente desta história ser verdadeira ou não, o facto é que se pode
igualmente atribuir a esta construção o carácter estratégico de defesa, através de um
edifício mais alto que avistasse a paisagem. No entanto, o que se torna importante
neste caso, é a utilização da arquitectura, a qual sugere a natureza. A simulação
artificial de uma montanha pela ideia da construção de terraços em jardim que
promovem experiencias espaciais, criam uma atmosfera sobrelevada com um plano
de fundo: a paisagem.
Ilustração 50 – Desenhos diagramático da estratégia topográfica para o edifício dos jardins
suspensos. (Ilustração nossa, 2013)
Rui Alexandre Castanho Sequeira
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O terraço como exemplo de edifício definidor de uma topografia e de relação com a paisagem
Ao que sabemos, as estruturas palatianas estão relacionadas com a definição de
Jardins Suspensos e acredita-se que as plantações em terraços são a sua origem.
Uma arquitectura completa e engenharia moderna eram as características que
poderíamos encontrar nos Jardins Suspensos para alguns autores do período
clássico.28
São os autores greco-latinos, mais concretamente nos finais do séc. XX, que mais
acreditam da real existência passada destes Jardins Suspensos, considerando a
possibilidade de terem existido num parque circunscrito onde actividades cinegéticas
se misturavam com a criação botânica.
Estes Jardins que se traduzem pelo exemplo mais antigo dos chabar Bagh persas ou
jardins quádruplos. O jardim quadrangular tinha tem uma largura de 120 metros na
actual medida de comprimento. As abóbadas obtêm a sua sustentação em pilares de
forma cúbica. Esses pilares são ocos por dentro e para aguentar as árvores são
preenchidos com terra, mas tanto os pilares como as arcadas e as abóbadas são
construídos com tijolo e asfalto. É através de uma escadaria que se chega ao terraço
superior. Ao longo dessa escadaria encontramos espirais hidráulicas cuja água era
bombeada para o jardim. Este jardim fica sobre a margem do rio, que segue por entre
a cidade. 29
28
O que eram os Jardins Suspensos? Ao que parece, esta designação estará relacionada com as
estruturas palatinas. […] Aparentemente, a informação mais credível é a que provém de Beroso, que se
refere às plantações em terraço, do tipo socalco, localizadas no palácio de Nabucodonosor e feitas pelo
próprio. […] Para os autores clássicos, o que ali constituía um theama, ou algo digno de ser visto, era a
arquitectura complexa e elaborada, as estruturas assentes em colunas, pilares e abóbadas, derivadas de
uma engenharia sofisticada e complexa, que tinha ainda como factor suplementar a distribuição dos
recursos hídricos do Eufrates pelos vários níveis sobrepostos. (Ferreira e Nazaré, 2009, p. 114)
29
O jardim possuiu uma forma quadrangular e cada lado tem uma largura de quadro pletros. Consiste em
abóbadas sustentadas por arcadas, que assentam, uma apões a outra, em pilares de forma cúbica. Os
pilares são ocos por dentro e foram preenchidos com terra, de modo que podem aguentar com as árvores
mais frondosas; tanto os pilares, como as abóbadas e as arcadas estão construídos com tijolo cozido e
asfalto. O acesso aos terraços superiores é feito através de uma escadaria, ao longo da qual se
encontram dispostas espirais hidráulicas, por onde a água é continuamente bombeada para o jardim a
partir do Eufrates, por acção das pessoas destacadas para essa função. Com efeito, o rio atravessa a
cidade ao meio e tem a largura de um estádio; o jardim fica mesmo sobre a margem do rio. (Ferreira e
Nazaré, 2009, p. 116)
Rui Alexandre Castanho Sequeira
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O terraço como exemplo de edifício definidor de uma topografia e de relação com a paisagem
6.2 AS NOVAS TOPOGRAFIAS UTÓPICAS E REALIZADAS: O EXEMPLO
CINEMATOGRÁFICO DE METROPÓLIS E A OBRA ARQUITECTÓNICA DA
FÁBRICA DA FIAT: LINGOTTO
O caso de estudo apresentado anteriormente, os Jardins suspensos da Babilónia,
apresentou-se como um exemplo, embora utópico, de como um edifício pode sugerir a
criação de uma nova topografia. Por estarmos a falar de uma dimensão utópica
referente à sugestão de uma topografia através da arquitectura, torna-se necessário
para esta investigação introduzir as questões relacionadas com as novas topografias
utópicas, traduzidas pelas vanguardas para a afirmação da cidade moderna. Neste
caso de estudo que agora apresentarei, irei aprofundar esta ideia através de um outro
momento da história da arquitectura, que tenta produzir esta mesma ideia. Com base
naquilo que foi o movimento futurista da arquitectura, através do filme Metropólis e do
edificio Lingotto da Fiat.
O imaginário moderno, do qual se releva a capacidade de antecipação e noção causal
do futuro, releva, na sua representação, a ambição da criação de suportes
racionalizados na estruturação de cidade como organismo evolutivo de uma maneira
objectiva, quantitativa e cientifica, dado a cidade, à data do período inicial do Século
XIX e à luz de uma consciência crítica, ter perdido a capacidade auto generativa e de
crescimento, e logo ser entendida nos moldes de estrutura clássica como rígida, finita,
limitada e, consequentemente, condenada. (Marques, 2001, p.26)
Desde a Idade Média até ao século XIX, as cidades seguiram este modelo aqui
apresentado, no entanto se esse modelo se adequou a esse tipo de sistema, com a
Revolução Industrial, houve uma mudança de paradigma tanto na sociedade como na
cidade. As cidades, como resultante desta revolução, começaram a receber cada vez
mais pessoas à procura principalmente de trabalho e de uma vida melhor. Sendo um
sistema montado para servir os seus habitantes, esta não se encontrava preparada
para receber esta alteração. Começaram a surgir os bairros operários onde os
trabalhadores eram colocados em habitações sem qualquer tipo de preocupação em
servir os seus moradores.
Esta noção urbana poder-se-á considerar válida até ao Século XIX, período no qual
factores como o acelerado incremento populacional e a gradual consolidação da
Cidade Industrial vêm determinar uma série de aspectos que fazem emergir uma volta
de face no modo de pensar qualitativa e quantitativamente, na organização da cidade.
(Marques, 2001, p. 28)
Rui Alexandre Castanho Sequeira
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O terraço como exemplo de edifício definidor de uma topografia e de relação com a paisagem
Era então necessário haver uma alteração tanto no modo como se pensava cidade,
como no modo que esta se deveria organizar, com fim à criação de um novo sistema
que se adequasse ao que este novo paradigma exigia.
Nova Iorque foi então a “escolhida” para dar resposta a este novo paradigma de
entendimento da cidade moderna, situada no novo continente, que se apresentou-se
como modelo comparativo à metrópole europeia.
O sentido europeu, que em certa medida reage a esta modernidade “precoce”, como
classifica Le Corbusier, enraíza-se na tradição Utopista que até à data viria fornecer um
sem número de modelos teóricos à problemática e concepção de Cidade, e de algum
modo nutrir o próprio imaginário urbano moderno. Passando pelas propostas
Futuristas, que resumem em 1914. (Marques, 2001, p. 28)
Propostas essas referentes ao “Manifesto por uma arquitectura Futurista” e desenhos
da Cittá Nuova, destinados à Exposição dos arquitectos Lombardos que se realizou a
14 de Março de 1914 em Milão de António Sant’Elia30 (1888-1916), os quais traduziam
um novo pensamento para responder a esta nova condição urbana vinda da
modernidade.
Começam então a surgir neste contexto cada vez mais propostas de soluções, ainda
que utópicas para esta problemática urbana da cidade moderna, como é o caso da
publicação nos Estados Unidos da América de Hugh Ferris31 “The Metropolis od
Tomorrow”. Esta publicação tornou-se num marco pelo facto de recolher uma série de
ilustrações de 1915, que se definia como uma sintese daquilo que era uma definição
da modernidade urbana norte-americana e que, no fundo, se baseava num modelo
vivo: Nova Iorque.
30
Antonio Sant'Elia foi um arquitecto italiano. Nascido na cidade de Como, Itália, esteve ligado ao
Futurismo, sendo o seu principal arquitecto e divulgador, influenciado pelas idéias de Otto Wagner e pelas
cidades industriais dos Estados Unidos.
31
Hugh Ferriss (1889 - 1962) foi um delineador americano (cria desenhos e esboços de edifícios) e
arquitecto. De acordo com Daniel Okrent, Ferriss nunca projetou um único edifício notável, mas após sua
morte um colega disse que ele influenciou a minha geração de arquitetos "mais do que qualquer outro
homem. Ferriss também influenciou a cultura popular, por exemplo Gotham City (o cenário para Batman)
e Capitão Sky de Kerry Conran e o Mundo de Amanhã.
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O terraço como exemplo de edifício definidor de uma topografia e de relação com a paisagem
Ilustração 51 – Desenhos relativos à nova arquitectura. (Ferris, 1986, p. 58-128)
Estas propostas assumiam-se como novas topografias na cidade, topografias essas
que era sugeridas pelos próprios edificios através do modelo: arranha-ceús. Os
edificios tranformavam-se nas montanhas da cidade, que por sua vez eram
organizadas em habitações, escritórios etc, como é possível perceber pelos desenhos
de 1920 feitos por Hans Poelzig32.
De qualquer dos exemplos acima citados emerge a nova problemática com que a
modernidade se debate: a estruturação racional de espaço urbanos e a discussão de
modelos verticalizados como suporte ao habitar, emergindo daqui a figura tipo arranhaCéus e a sua eleição como paradigma “redentor” da nova condição metropolitana.
(Marques, 2001, p. 30)
32
Hans Poelzig foi um arquitecto alemão nascido em Berlim em 30 de Abril de 1864 e falecido na mesma
cidade a 14 de Junho de 1936. Um dos principais expoentes da arquitectura expressionista no seu país.
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O terraço como exemplo de edifício definidor de uma topografia e de relação com a paisagem
Ilustração 52 – “Edifícios Montanha” desenhos de Hans Poelzig
do seu artigo referente :”El hombre ya la tierra” (Marques, 2001)
Apresentarei de seguida dois exemplos que se apresentam como respostas a este
novo paradigma urbano: um da área do cinema num registo caricato da cidade
moderna e outro da área de arquitectura.
O cinema, desde os seus primórdios, oferece a sua própria visão das cidades
tornando-se um dos melhores testemunhos da modernização urbana, acompanhando a
própria génese de modernidade e difundindo a condição moderna que a urbanista
tomara nos últimos decénios. A cidade moderna, aquando da formação da disciplina
cinematográfica, é já um processo em pleno decurso, dando este último um reflexo
sintomático, em paralelo, da sua génese e manifestação. (Marques, 2001, p. 50)
O filme Metropolis de 1927 realizado por Fritz Lang é desenrolado numa cidade
futurista onde não é possível perceber o exacto ano onde se passa o filme. Ao longo
das décadas, muitos estudiosos e críticos de cinema tentaram localizar no tempo
Metropolis, mas o ano onde se desenrola este filme é deixado em aberto. O que se
torna necessário perceber para o contexto desta dissertação não se trata da história
do filme, mas sim a atmosfera desta cidade futurista. Este filme torna-se, no fundo,
numa sintese, embora caricata, dos conteúdos vanguardistas e dos temas centrais
que envolvem a modernidade.
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O terraço como exemplo de edifício definidor de uma topografia e de relação com a paisagem
Ilustração 53 – Imagem promocional para o filme Metropolis. (Lang, 1927)
Rui Alexandre Castanho Sequeira
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O terraço como exemplo de edifício definidor de uma topografia e de relação com a paisagem
A cidade é apresentada logo no início do filme num modelo de cidade moderno,
através da verticalidade dos edificios construídos e a opressão de um horizonte
coberto por estruturas futuristas. Percebe-se a existência da vontade de apresentar
esta cidade fora da escala do Homem, num contexto urbano, como simbolo principal
desta modernidade.
Na década de 20 o cinema é, efectivamente, o grande arauto da modernidade às
massas. É dentro da discussão que lhe é aberta que emergem temáticas relativas à
disciplina espacial, muito antes do conceito de experiência de centralidade espacial ter
sido adoptada como um dos temas centrais à discursividade teórica e prática pelo
construído do Movimento Moderno, através das suas vanguardas. (Marques, 2001, p.
74)
Esta cidade de Metropolis é composta por um complexo universo de edifícios
modernos, estilo arranha-céus, que se ligam através de passagens aéreas
constituídas por um denso trânsito e nos céus por aeroplanos, tal como meios de
transporte que se adaptam a este universo futurista, onde os próprios céus são
construídos.
A materialização de um imaginário urbano assente, no entanto, sobre a experiencia do
Real na abrangência visual que expõe. Se, por um lado, se recorre a uma cenografia
ultra-racionalista, representativa de uma nova estética social, o substracto romântico da
Cultura germânica faz representar-se também no oposto ao estereótipo modernista
através dos lugares idílicos que se fazem revelar e que se prendem às noções
evocativas de Tempo e de Memória referenciadas, as quais por sua vez, são também
alegóricas a uma condição natural e ancestral do espaço. (Marques, 2001, p. 75)
Ilustração 54 – Imagens capturadas do filme Metropolis que apresentam esta cidade futurista. (Lang, 1927)
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O terraço como exemplo de edifício definidor de uma topografia e de relação com a paisagem
Ilustração 55 – Imagens capturadas do filme Metropolis que apresentam esta cidade futurista. (Lang, 1927)
Quem conhece a cidade de Nova Iorque, ao ver o filme de Fritz Lang, percebe a clara
semelhança ou inspiração que esta cidade teve neste realizador para a criação da
cidade que aparece no filme Metropolis. De facto, Lang assume essa inspiração
quando em 1965 descreveu a sua primeira visita à cidade de Nova Iorque: as luzes e
sombras, os edifícos, as próprias pessoas e como esta cidade serviu de mote para a
criação de Metropolis:
Metropolis, nasceu com a minha primeira visão dos arranha-céus de Nova Iorque em
Outubro de 1924. Enquanto visitava Nova Iorque, eu pensei que era um cruzamento de
múltiplas e confusas forças humanas, cegas e que se encontravam umas nas outras
num desejo irresistível de explorar e sobreviver numa ansiedade perpétua. Passei um
dia inteiro a passear pelas ruas. Os edifícios pareciam velas verticais, cintilantes e
muito leves, um cenário luxuoso, suspenso no céu escuro para deslumbrar, distrair e
hipnotizar. À noite, a cidade não dava apenas a impressão de vida: ela vive como as
ilusões vivem. Eu sabia que devia fazer um filme sobre todas estas impressões. (Lang
apud, Marques, 2001)
Ilustração 56 – New York City – 1940 – 1950. (Feininger, 1940)
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O terraço como exemplo de edifício definidor de uma topografia e de relação com a paisagem
Um outro caso que é possível perceber esta procura e experimentação para dar
resposta a este novo paradigma vindo pelo movimento moderno e pelas suas
vanguardas, foi a do edificio da Fiat, Lingotto em Turim, Itália. Este edíficio, projectado
pelo jovem arquitecto, na altura, Mattè Trucco, para uma enorme fábrica de
automóveis da Fiat, entre 1916 e 1923, teve como destaque o seu terraço33.
Ilustração 57 – A fábrica de automóveis e pista de corrida Lingotto da Fiat. (Truco, 1923)
Este edifício estava organizado em cinco andares, de modo a ser possível dar
manutenção às várias etapas que são necessárias para o apoio técnico dos
automoveis.34
33
“[…]Depois de visitar a fábrica da Ford em Detroit em 1912, V.G. Agnelli começou a promover as
produções de automóveis Taylorizadas em Itália. Através da alta militarização climática da Primeira
Grande Guerra que lhe deu a chance de impor autoridade de uma produção em linha sobre cobertura da
emergência nacional.
Primeiro, a força laboral não resistiu a este passo mas os trabalhadores ocuparam subsequentemente
esta fábrica destruída, a um ano da sua conclusão, reflecte a virulência com o qual os sindicatos
resistiram à tirania da racionalização de Agnelli. Não obstante, os princípios de ordenado, a produção
sequencial para que este edifício extraordinário foi projectado, ainda prevalecem hoje e isso, sem dúvida,
vai de alguma forma explicar porque este vasto, de 5 andares, armado em loft industrial ainda está em
uso.
34
“[…]Os cinco andares sao ordenados sequencialmente para fornecer manutenção e testes de motor,
motor de usinagem e montagem do corpo, caixa de velocidades e do trabalho eléctrico, pulverização,
estofamento, suspensão e direcção diferencial, produção e testes de camião. de forma cúbica. Os pilares
são ocos por dentro e foram preenchidos com terra, de modo aguentar com as árvores mais frondosas;
tanto os pilares, como as abóbadas e as arcadas estão construídos com tijolo cozido e asfalto. O acesso
aos terraços superiores é feito através de uma escadaria, ao longo da qual se encontram dispostas
espirais hidráulicas, por onde a água é continuamente bombeada para o jardim a partir do Eufrates, por
acção das pessoas destacadas para essa função. Com efeito, o rio atravessa a cidade ao meio e tem a
largura de um estádio; o jardim fica mesmo sobre a margem do rio.
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O terraço como exemplo de edifício definidor de uma topografia e de relação com a paisagem
Para o contexto desta investigação, o último piso, o piso de terraço, tem como função
algo pouco usual para a cobertura de um edifício, uma pista de betão armado que
servia tanto para corridas de automóveis como para aterragem de helicópteros. Ideias
estas trazidas, como já referi, por um pensamento utópico, vindo das vanguardas e do
movimento moderno, que constantemente punha em prática todas estas experiencias
urbanas que se traduziam como novas topográficas para a cidade.
Quaisquer que sejam as circunstâncias tecno-sociais em torno da sua elevação, este é
um trabalho pioneiro na aplicação da construção em betão armado de uma fábrica
industrial. De um ponto de vista estrutural, a inovação mais notável foram as rampas
helicoidais de automóveis em que cada extremidade do bloco foi preparada por um
sistema extremamente elegante de nervuras de betão armado, de um sistema que
lembra os projectos teóricos de Baudot e parece antecipar as realizações posteriores
de Pier Luigi Nervi, como sua fábrica de lã Gatti construída em Roma, em 1953.
(Frampton e Futagawa, 1923, p. 195)
Por outro lado, o aproveitamento desta cobertura em terraço com plano de fundo a
paisagem da cidade de Turim, serviu de inspiração para mais tarde, em 1952,
Corbusier utilizá-lo no seu bloco de habitação de Marselha.
Esta última tem lugar ao ar livre, sobre o telhado, numa área de 1680 pés por 260 pés
em que uma pista de betão armado foi fornecida. Nas extremidades da banca para
essa faixa sobe cerca de 15 pés e esta activação do telhado, juntamente com a sua
forma altamente escultural serviu para inspirar Le Corbusier na concepção do telhado
para o bloco de apartamentos Unité, construído em Marselha em 1952. (Frampton e
Futagawa, 1923, p. 195)
Ilustração 58 – A pista de corrida para automóveis na cobertura do edifício. (Truco, 1923)
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O terraço como exemplo de edifício definidor de uma topografia e de relação com a paisagem
6.3 O PARTERRE: O EXEMPLO DOS JARDINS DO PALÁCIO DE VERSALHES
Este caso de estudo apresentou-se como um caso importante por ser um outro modo
de utilizar a ideia operativa de terraço. Tratou-se de um dos casos estruturadores do
projecto individual, desenvolvido e apresentado no capítulo seguinte, devido à sua
forte componente de querer criar um lugar, uma experiência espacial, dentro deste
terraço. Esta obra, o Palácio de Versalhes, como é natural, dentro da lógica que aqui
tenho vindo a seguir, não terá como foco o edifício e o seu interior, mas sim os
espaços exteriores, num grande terraço em jardim que constroem a sua própria
paisagem. Apresentarei muito sumariamente o contexto em que se insere este edifício
e estes jardins no tempo e História.
Ilustração 59 – Relação entre a faixada de Versalhes e os Jardins. (Benayas, 2012-2013)
O Palácio de Versalhes, localizado a cerca de 18 quilómetros do centro de Paris,
começou a ser construído em 1969 pelo arquitecto francês Le Vau, que se encarregou
de desenhar o esquema para a fachada virada para o jardim. Contudo, pouco tempo
depois Le Vau viria a falecer e, como tal, foi o arquitecto francês Jules HardouinMansart, sobrinho de um dos mais importantes arquitectos franceses da época:
François Mansart quem ficou encarregue de acabar a obra. Em comparação ao
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O terraço como exemplo de edifício definidor de uma topografia e de relação com a paisagem
projecto de Le Vau, este novo sofreu uma grande ampliação, de modo a conseguir
acolher a casa real.
A Fachada Jardim, que na intenção de Le Vau deveria ser a principal vista do Palácio,
foi extraordinariamente prolongada, sem ter havido o cuidado de lhe modificar a
composição arquitectónica. (Jason, 1986, p. 544)
Este Palácio, mandado edificar pelo Rei Luís XIV, figura de destaque da monarquia
absolutista francesa, teve como principal desejo a criação de interiores
interiores
luxuosos que fossem sinónimo do seu poder, como comprova seguinte citação:
As características barrocas, ainda que não oficialmente reconhecidas, reapareceram no
maior empreendimento do rei, o Palácio de Versalhes. A mudança correspondia ao
gosto do próprio Luís XIV, menos interessado em teorias arquitectónicas e exteriores,
monumentais que em interiores luxuosos que proporcionassem um quadro adequado a
si próprio e à sua corte. (Jason, 1986, p. 543)
Embora de suma importância, os espaços inferiores não são o objecto de estudo desta
pesquisa, recaindo o interesse sobre os espaços exteriores deste edifício, os jardins.
Os Jardins do Palácio de Versalhes, projectados pelo paisagista Barroco André Le
Nôtre, constituem um marco neste edifício, percorrendo vários quilómetros a ocidente
da Fachada correspondente ao Jardim. Esta situação não significa que o palácio e o
jardim se apresentem como dois elementos distintos, mas sim na perspectivação do
jardim como um prolongamento da arquitectura:
À parte o seu magnificente interior, o aspecto mais fascinante de Versalhes é o parque
que se estende por vários quilómetros a ocidente das Fachada do Jardim. O seu
traçado, de André Le Nôtre (1613-1700), relaciona-se tão intimamente com o plano do
palácio que se torna o prolongamento natural do espaço arquitectónico. (Jason, 1986,
p. 543)
Rui Alexandre Castanho Sequeira
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O terraço como exemplo de edifício definidor de uma topografia e de relação com a paisagem
Ilustração 60 – Versalhes, Pierre Le Pautre – Planta dos jardins e parque de Versalhes. (Centeno e Freitas, 1991, p. 179)
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O terraço como exemplo de edifício definidor de uma topografia e de relação com a paisagem
É importante referir, antes de desenvolver este caso de estudo, que a ideia conceptual
de arquitectura na criação de um jardim, teve ao longo dos tempos uma evolução na
sua leitura formal, como é possível verificar nos desenhos esquemáticos de Edward
Wiebe em “The Paradise of Childhood”, 1896.
Ilustração 61 – Desenhos diagramáticos referentes à evolução dos jardins de Edward Wiebe, 1896. (Brown, 2000, p. 12)
Estes jardins, denominados pelo conceito francês: Parterre, são inseridos em terraços,
pensados dentro de uma lógica geométrica composta por vários elementos que o
constituem, como as flores, estátuas, lagos etc.
Como o interior de Versalhes, estes jardins convencionais, com os seus terraços,
tanques, sebes aparadas e estatuária, destinavam-se a proporcionar um cenário
apropriado às aparições do rei em público. Formam uma série de “salas ao ar livre”
para as esplêndidas festas e espectáculos de que Luís XIV tanto gostava. O espírito do
Absolutismo é ainda mais evidente na regularidade geométrica imposta a uma região
interna que no próprio palácio. (Jason, 1986, p. 553)
Estes elementos inseridos em terraço, que de seguida irão ser desenvolvimentos,
tornam-se, como é possível verificar pelas imagens, na própria construção da
paisagem. Através da utilização de uma topografia plana, que nos dá a sensação de
infinito, ou seja, uma perspectiva grandiosa sobre a paisagem, referente ao próprio
jardim.
De seguida, irei apresentar, os elementos mais importantes que definem e compõe
este jardim, na sua sugestão de criar uma paisagem: Água, Estátuas e os Bosques.
Rui Alexandre Castanho Sequeira
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O terraço como exemplo de edifício definidor de uma topografia e de relação com a paisagem
Água
O genial Le Nôtre foi exímio na arte de povoar os jardins de Versalhes, Chantilly e
Meudon com incontáveis grutas, fontes, cascatas, lagos etc. (Centeno e Freitas, 1991,
p. 172)
Um dos elementos que se destaca nestes parterres tem a ver com a utilização da
água. Através da criação de fontes, grutas, cascatas, lagos, etc. criavam-se momentos
decorativos e muitas vezes cénicos que ajudam na tal configuração geométrica dos
jardins. Por outro lado, o elemento “água”, naturalmente dentro da lógica da criação de
um jardim, é indispensável pelas razões óbvias relacionadas com a rega e com o
circuito de renovação de água. No entanto, neste jardim de Versalhes, não foi o que
aconteceu, tornando a obra ainda mais dispendiosa.
O caprichoso Luís XIV, ao impor a edificação do palácio de Versalhes num local onde a
água escasseia, tornou inevitáveis as mencionadas dificuldades. Na verdade, qualquer
artista jardineiro dos séculos XVIII e XVIII sabia que a proximidade de água era uma
das mais importantes condições para a existência de um belo jardim; ou seja, era
impensável localizar uma zona ajardinada num sítio sem cursos de água. (Centeno e
Freitas, 1991, p. 172)
Ilustração 62 – Montagem com base em fotos, referente aos lagos de Versalhes. (Benayas, 2012-2013)
É interessante referir que, segundo Friedrich Fromman Verlag, para que um lugar
reúna as condições necessárias para a criação de um jardim, este deverá deve
possuir: uma orientação no sentido sul, este e oeste, para uma boa exposição solar ao
mesmo tempo que abrigada dos ventos; terreno não muito húmido, seco, forte, leve ou
areno; uma bela vista; zona de fácil acesso e situada junto a uma localidade;
abundância de poços de água ou ribeiras. (Verlag, 1967, p.499)
Rui Alexandre Castanho Sequeira
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O terraço como exemplo de edifício definidor de uma topografia e de relação com a paisagem
Estatuaria
O uso de estátuas e outros elementos em pedra em Versalhes ajudam igualmente à
criação de uma atmosfera nestes espaços. Nestas esculturas estão presentes o gosto
e a inspiração na mitologia greco-romana, no entanto é no uso das Balaustradas35 que
irá ainda mais ajudar ao significado de riqueza e poder que o edifico já acarreta.
Em Versalhes os lagos de Apolo e Latona, além das esculturas de Baco, Ceres, Flora
ou o rapto de Proserpina, entre a infinidade de tantas outras esculturas e
representações da mitologia greco-romana. (Centeno e Freitas, 1991. p. 176)
Ilustração 63 – Estatuaria. (Benayas, 2012-2013)
Estas Balaustradas eram um dos elementos que constituíram os chamados parterres
de broderie, sendo uma das inovações da arte francesa da jardinagem de seiscentos.
Tais parterres de broderie, eram sinónimo de riqueza por parte de quem os mandava
cultivar, tornando-se significado de luxo e civilização.
35
BALAUSTRADA Parapeito constituído por fila de balaústres dispostos regularmente coroado de
corrimão ou imposta. Usa-se como remate de uma construção, ou como anteparo de um vão, de uma
varanda, de um balcão ou terraço.
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O terraço como exemplo de edifício definidor de uma topografia e de relação com a paisagem
Ilustração 64 – Desenho referente a um modelo de
Balaustradas. (Bonifácio, 2002)
Se por um lado, a construção destes parterres com estes vários elementos, como
balaustradas, estátuas, fontes, lagos etc, requeriam custos elevados, por outro era
igualmente feita uma plantação das mais variadas flores, espécies-florícolas,
sugerindo que o parterre se parecesse-se com uma carpete de flores multicolor. 36
Ilustração 65 – Balaustradas e relação com a paisagem. (Google streetview, 2009)
36
“ (…) O uso das balaustradas nos parterres foi uma das inovações da arte francesa da jardinagem na
centúria de seiscentos, ensaiada com êxito nos jardins de Liancourt, Reuil e do Luxemburgo. Estes novos
parterres, denominados parterres de broderie, tornaram-se símbolos da riqueza daqueles que os
mandavam cultivar ( aliás, os jardins dos séculos XVII e XVIII são, na opinião do redactor do artigo
Jardins (Acts) I da Encyclopédie, sinónimo de luxo e civilização), e isto porque, para além dos custos
elevados da parte construída ( balaustradas, estatuária, fontes, lagos, etc.), era requerida a plantação de
uma enorme variedade de espécies-florícolas, de modo a que o parterre se assemelhasse a uma carpeta
de flores multicolor, segundo expressão utilizada por Jacques Boyceau no Traité du jardinage. As
quadras do parterre do Trianton de Versalhes são um bom exemplo da grande quantidade de diferentes
tipos de flores e da magnificência dos arranjos florais que distinguem os parterres de broderie(…)”
(Centeno e Freitas, 1991, p. 177)
Rui Alexandre Castanho Sequeira
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O terraço como exemplo de edifício definidor de uma topografia e de relação com a paisagem
Bosques
Um dos outros elementos que ajudam a definir a paisagem destes parterres é o uso do
Bosque. Sempre através de um geometrismo simétrico, estes bosques eram
constituídos por outros elementos agrupados. Como é visível na seguinte citação de
Lima de Freitas:
Em França, nos meados do século XVIII, o jardim inglês teve alguma aceitação; os
enciclopedistas elogiaram a concepção da natureza que lhe estava subjacente, e
muitos deles, como por exemplo Montesquier, plantaram bosques frondosos nas
imediações dos seus palácios. Ainda assim, os franceses jamais se desabituariam do
geometrismo simétrico que tanto caracterizava a sua jardinagem, acabando por
estruturar o bosque com sebes de buxo, alamedas, largos, lagos, bancos, colunas com
vasos, estátuas, cascatas, grutas, pavilhões e, até, ciprestes (estas árvores também
eram plantadas nos parterres para estabelecerem, tal como os demais ornamentos, o
geometrismo das áreas ajardinadas. (Centeno e Freitas, 1991, p. 178)
Os parterres não tinham como objectivo relações meramente visuais entre o edifício e
entre os terraços, afirmando-se antes como o palco de momentos lúdicos aos
cortesãos setecentistas. Uma das principais finalidades destes terraços em parterre
era o recreio, proporcionando momentos de lazer com actividades lúdicas.
Ilustração 66 – Imagem retirada do filme “Last Year at Marienbad”. (Resnais, 1961)
Rui Alexandre Castanho Sequeira
99
O terraço como exemplo de edifício definidor de uma topografia e de relação com a paisagem
A pintura rococó está, aliás, pejada de exemplos demonstrativos de que a maior
utilidade dos jardins – diríamos, até, a sua principal finalidade -, era precisamente o
recreio, e nós sabemos como este magistralmente retratado por Watteau nas Festas
Venezianas e na maravilhosa tela de Fragonard conhecida por O Baloiço. (Centeno e
Freitas, 1991, p. 182)
Dentro destes bosques, e pegando nesta ideia do recreio, eram inseridos vários tipos
de momentos proporcionados por diversos pequenos edifícios espalhados pelo jardim
que ajudavam e criavam uma estruturação no jardim como: pavilhões, palcos para
representação de peças teatrais, casas de ópera, labirintos de buxo37 ou grutas que
albergavam complicados mecanismos accionados hidraulicamente. Estes são apenas
alguns exemplos das inúmeras construções que eram feitas nestes jardins, tudo para
possibilitar aos utilizadores dos palácios o máximo de diversão, ainda para mais
quando eram grandes amantes daquilo que a natureza e do prazer que dava aos
homens.
Versalhes, neste aspecto, é mais uma vez o modelo que influenciou toda a Europa; nos
seus bosques existem vários pavilhões (o Grande Trianon, o Petit Trianon, o Templo do
Amor, a Casa de Verão, o Belvedere, a Casa da Ópera e a Casa da Rainha) e várias
«salas» ao ar livre, como a Sala do Conselho (onde Luís XIV fazia reuniões com os
seus conselheiros), a Sala de Baile (um redondel cercado por um anfiteatro ornado
com colunas e vasos de flores), a Colunada (peristilo circular cujas arcadas estão
decoradas com jogos infantis) e o Teatro de Água (um palco rodeado de cascatas,
fontes e canais). (Centeno e Freitas, 1991, p. 182)
37
“[…] O labirinto do buxo, e o embrechado são também duas importantes edificações desta zona do
parque que fica junto à ribeira do Jamor. No labirinto brincava-se às «escondidas» e à «cabra-cega» - na
parede fronteira ao jardim do labirinto e junto à alameda que dá acesso ao pavilhão Robillion, hoje coberta
por uma soberba buganvília, houve em tempos um fresco cujo tema era precisamente o jogo da «cabracega» -, duas diversões muito apreciadas no século XVIII, não só na corte de Queluz mas também nas
estrangeiras, pois existem vários jardins seiscentistas e setecentistas que possuem labirintos de buxo
para esse efeito, como é o caso, por exemplo, do de Versalhes ou de Aranjuez. […]”(Centeno e Freitas,
1991, p. 184)
Rui Alexandre Castanho Sequeira
100
O terraço como exemplo de edifício definidor de uma topografia e de relação com a paisagem
Ilustração 67 – Obra de Étienne Allegrain referente à relação entre o Palácio de Versalhes e a Natureza proporcionada pelos seus
jardins. (Million, 1999, p.298-299)
Uma crítica a estes jardins, embora negativa, mas que ajuda a perceber a
complexidade destas várias construções é a do historiador e arqueólogo Vilhena
Barbosa. 38
38
«Eleva-se a cascata a grande altura, rematando em um pavilhão oitavado com três janelas e uma
porta, todas de vidraças. No centro do pavilhão levanta-se, a um metro, ou pouco mais, do pavimento, um
tanque de mármore, todo lavrado em delicadas esculturas, tendo em cada uma das faces um bom espaço
aberto no mármore, e tapado com vidro, de modo que quem está sentado em qualquer dos assentos de
veludo carmesi, que estão cortando os quatro ângulos da casa, vê os peixes multicores, que nadam e
brincam dentro do tanque. Do meio deste ergue-se um lindo obelisco de mármore de cores, por onde sae
água para o tanque. Das três janelas, principalmente da que se abre na frente da cascata, goza-se uma
vista encantadora, que tem por primeiro plano o jardim e a quinta, depois o Tejo com os montes que lhe
debruam a margem sul, além a serra da Arrábida, e depois, um pouco para a direita, o vulto sem fim do
Oceano. A parte da entrada deia para um terrado, onde está o depósito de agua da cascata, e para a qual
dão comunicação as duas galerias superiores.» (Barbosa, 1863, p. 379)
Rui Alexandre Castanho Sequeira
101
O terraço como exemplo de edifício definidor de uma topografia e de relação com a paisagem
6.4 CENTRO CULTURAL DE BELÉM
Esta obra contemporânea, projectada pelos Arquitectos Vittorio Gregotti e Manuel
Salgado situada em Belém, Lisboa, teve uma grande referência como caso de estudo
para o projecto individual de Projecto III, assim como para a abordagem do assunto
desta dissertação. Este projecto será apresentado segundo uma visão muito
específica e não na sua totalidade, visto não pretender desviar-me do assunto devido
às inúmeras características que este edifício acarreta. Mais concretamente, pretendo
incidir esta investigação nas estratégias levadas a cabo nos espaços de jardins em
terraço que foram construídos no CCB, não deixando ainda de devidamente as
contextualizar.
Ilustração 68 – Centro Cultural de Belém – terraço sul. (Ilustração nossa, 2013)
Vários foram os factores que motivaram a edificação do Centro Cultural de Belém no
ano 1987. O primeiro deles tem a ver com a situação urbanística desta zona, uma vez
que se tratava de uma extensa área abandonada na zona nobre da cidade constituída
por depósitos de máquinas velhas, o que coincidia com a falta de um lugar onde se
pudesse ser apresentada uma grande exposição internacional. À data, existia apenas
a Fundação Calouste Gulbenkian, no entanto, esta não possuía as dimensões e as
condições museológicas que uma exposição deste carácter acarreta. Acresce a tudo
Rui Alexandre Castanho Sequeira
102
O terraço como exemplo de edifício definidor de uma topografia e de relação com a paisagem
isto a necessidade de existir em Lisboa um grande espaço de depósito de documentos
de carácter geográfico, geológico, científico e arqueológico.
O Centro Cultural de Belém foi construído em curto prazo para que Portugal pudesse
assegurar convenientemente o funcionamento da sua primeira presidência da
Comunidade Europeia.
Não era possível encontrar sitio mais adequado para a realizar.
No enquadramento da Praça do Império, o Centro apresenta-a ao observador atento e
delimita-a a poente com a solidez poderosa da forma de baluarte.
(…) Nunca terá sido possível ter tudo isto ao alcance da mão para ser abrangido
apenas num olhar reflectido, como acontece na Praça do Império, em Lisboa, em que
se vislumbra o relacionamento do povo português com povos diferentes.
A longa fachada dos Jerónimos voltada para a praça torna tudo presente e considerada
no pormenor – das ornamentações densas do estilo manuelino, que vestem, aqui e ali,
a nudez imensa do monumento – dá, num relance, a memória dos séculos portugueses
antes dos descobrimentos e, para o homem de memória, dos oito séculos anteriores,
isto é, de Portus Cale. (Gomes, 1993, p. 67)
Em 1988 surgia um concurso lançado pela Associação Portuguesa de Arquitectos que
visava uma intervenção para toda a zona ribeirinha de Lisboa, a qual incluía a
reconversão do espaço onde se ergueria o futuro CCB.
Esta zona possuía um grande carácter histórico, social e cultural, devido à presença
de edifícios com um grande peso histórico, entre os quais o Mosteiro dos Jerónimos,
um palácio seiscentista (que existia naquele local), a Torre de Belém e o jardim da
Praça do Império ser uma zona junto ao Rio Tejo. No entanto, este edifício definiu-se
como um sucesso na integração com esta envolvente.
Portanto, antes de fazer desenhos já havia três ou quatro elementos que eram muito
claros: não fazer um edifício mas um sistema urbano, ter uma relação com a geografia
e com o Tejo, utilizar a pedra e fazer essa sequência, de um lado mais monumental do
outro mais íntimo. (Gregotti apud Amorim, 2001, p. 63)
O programa para este edifício definia a existência de cinco módulos funcionais, no
entanto, só foram construídos três: o Centro de Exposições, o Centro de Reuniões e o
Centro de Espectáculos.
A nossa proposta assentou exactamente na ideia dos módulos. Aliás é muito curioso,
no concurso internacional, houve um conjunto de 10 arquitectos estrangeiros, grandes
nomes da arquitectura que foram convidados para fazer o concurso. O concurso era
público, então qualquer outro arquitecto poderia se inscrever e concorrer. E o professor
Rui Alexandre Castanho Sequeira
103
O terraço como exemplo de edifício definidor de uma topografia e de relação com a paisagem
Gregotti convidou-me para fazer equipa com ele, eu tinha feito o concurso da frente
Ribeirinha, já conhecia o Gregotti desde 1974 e ele convidou-me para fazer equipa com
ele. Mas a primeira fase, claramente foi o professor Gregotti que marcou o passo e que
definiu o conceito. (Salgado, 2013, minuto 13:50)
Esta intervenção, que incidiu nesta zona da cidade, apesar de estar inserida num
cenário onde estavam presentes diversos edifícios de grande carácter histórico e
cultural, iria alterar uma zona já de si frágil por ter sido deixada de parte sem qualquer
tipo de valor ou ligação urbana. Para além de todas funcionalidades que tem enquanto
equipamento cultural, o CCB tem ainda uma forte componente ligada a espaço
público. Traz vivências urbanas de Lisboa nos percursos exteriores entre os módulos,
lembrando as ruas estreitas de Lisboa, assim como as pequenas praças, núcleos que
se vão descobrindo neste Centro.
O projecto traduz, na sua imagem e no seu desenvolvimento, a função primeira, que é
a de um grande Centro Cultural, integrando, de modo coerente, as outras múltiplas
funções que dão ao complexo toda a dimensão de ambiente urbano, de vitalização e
Ilustração
– Relação
das ruas
com oAmorim,
Rio Tejo e Margem
(Ilustração nossa, 2013)
valorização
da 69
zona.
(Duarte
apud
1989, Sul.
p. 68)
Rui Alexandre Castanho Sequeira
104
O terraço como exemplo de edifício definidor de uma topografia e de relação com a paisagem
Ilustração 70 – Terraço Norte – Reflexo dos Jerónimos no espelho de água. (Ilustração nossa, 2013)
Através de uma inspiração romana e neoclássica, pela valorização da natureza que se verifica
no modo como foi feita a composição dos jardins existentes a Norte e Sul. O jardim a Norte se
por um lado tem uma vista para a Rua de Bartolomeu Dias onde é possível ver a Fundação de
Arte Moderna e Contemporânea, por outro, dali é possível avistar-se o Mosteiro dos Jerónimos,
tanto ao longe, como reflectido num espelho de água existente neste terraço.
Entre a Rua de Bartolomeu Dias e o copo lateral do Centro, no recanto com a torre do
Grande Auditório, há um terraço ajardinado, com relvados e flores e um espelho de
água. É visto das janelas e dos postigos abertos nas paredes que limitam, a sul e a
poente, o espaço rectangular ocupado, onde se entra por uma porta de jardim.
Este jardim é o elemento decorativo que sobressai na nudez maciça da construção, a
jóia do pormenor, como Boitaca e Rodrigo Afonso cinzelaram paradigmaticamente na
Ermida de São Jerónimo. Vittorio Gregotti e Manuel Salgado chamaram a Natureza a
colaborar: Vegetação, água, luz, óptica, com os Jerónimos a reflectir-se no espelho de
água do terraço. (Gomes, 1993, p. 66-67)
Por outro lado, estes arquitectos tiveram a atenção da existência de um rio que está
muito próximo da implantação deste edifício, o rio Tejo. Este rio, detentor de um
grande carácter histórico e cultural, é marcadamente fulcral nesta área, pois foi de
Belém que partiram as naus pra os Descobrimentos, episódio esse da nossa História
que amplamente se reflecte neste edificio. A sua relação aparece nessas tais ruas
perpendiculares e paralelas aos módulos do edifício que têm sempre como visão ao
fundo, um enquadramento com o Rio Tejo, assim como na plataforma sobre elevada
Rui Alexandre Castanho Sequeira
105
O terraço como exemplo de edifício definidor de uma topografia e de relação com a paisagem
que tenta esconder o nosso olhar para a forte presença tanto da linha do comboio
como das densas faixais de rodagem, direccionando-o para o Rio e para a Margem
Sul, como um cenário.
Ilustração 71 – Relação visual entre o Terraço Sul e os elementos da paisagem de
Lisboa. (Ilustração nossa, 2013)
Faz então um remate urbano, devido à relação que estabelece com aquilo que já
existe nas suas direcções, norte, sul, nascente, fazendo com que esteja inserido física
e visualmente na envolvente, definindo um lugar.
Eu lembro-me a primeira visita que ele fez a Lisboa, que foi na véspera do 25 de abril e
que fez a Lisboa, a propósito deste concurso, trazia um papelinho do tamanho de um
bilhete do elétrico em que tinha marcado os módulos, módulos organizados, com ruas
perpendiculares à encosta, para permitirem relações de vistas da encosta para o rio.
Rui Alexandre Castanho Sequeira
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O terraço como exemplo de edifício definidor de uma topografia e de relação com a paisagem
Tinha o esquema, desta plataforma sobre elevada que permite, de alguma maneira,
reduzir o impacto da linha do comboio e da estrada. (Salgado, 2013, minuto 14:30)
Rui Alexandre Castanho Sequeira
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O terraço como exemplo de edifício definidor de uma topografia e de relação com a paisagem
6.5 CONCLUSÃO CASOS DE ESTUDO
Os casos de estudo tiveram a mesma base de estruturação na sua relação com o
assunto desta dissertação. Nos quatro projectos apresentados, aqui, só interessou
apresentá-los na óptica desta investigação. A escolha destes casos de estudo deveuse ao facto de cada um deles apresentar tipos de estratégias diferentes através de um
mesmo modo: em terraço. É claro que todos os terraços têm como objectivo principal
a relação com a paisagem.
Foi percebido que, embora surja com um caso utópico, os Jardins Suspensos da
Babilónia sugeriam a utilização do terraço como gerador de um edifício que tentaria
definir uma topografia, criando a ilusão de uma falsa montanha.
As novas topografias utópicas e realizadas foram uma resposta ao novo paradigma
urbano modernista trazido pelas vanguardas. Tanto a atmosfera dos “céus
construídos” na obra cinematográfica de Metropólis, como do terraço com a função de
pista de corrida para os automóveis na obra arquitectónica da fábrica da Fiat de
Lingotto, assumiam-se como propostas às novas topografias na cidade. Topografias
essas que era sugeridas pelos próprios edifícios através do modelo: arranha-céus e
transformavam-se nas montanhas da cidade. Por outro lado, no caso referente ao
Parterre de Versalhes, a paisagem é construída no próprio terraço através da criação
destes jardins, constituídos por diversos elementos organizados geometricamente que
ajudam a criar uma atmosfera dentro destes terraços. Por último, o caso do Centro
Cultural de Belém acabou por se traduzir num exemplo de como através da criação de
um terraço se pode tentar resolver o impacto que os sistemas ferro e rodoviário têm na
paisagem de uma cidade, escondendo esses sistemas e relacionando o edifício com o
rio Tejo e com a Margem Sul.
Rui Alexandre Castanho Sequeira
108
O terraço como exemplo de edifício definidor de uma topografia e de relação com a paisagem
7. PROPOSTA DO ANO LECTIVO
A proposta lançada no ano lectivo 2011/1012 no âmbito da disciplina de Projecto III do
5ºano de Arquitectura iniciou-se a partir de uma primeira fase, a de trabalho de grupo,
que deu lugar à proposta individual que aqui tenho vindo a desenvolver. Tanto a
primeira como a segunda fase deste trabalho do ano sempre se basearam nos temas
desta cadeira: “ A cidade como paisagem” e o “espaço público”. Começarei pelo
levantamento do referencial de situação, a apresentação do Sítio, que foi
principalmente realizado em grupo e que tendeu à identificação de um problema
existente em Alcântara. Após esta apresentação, irei abordar concretamente aquilo
que foi o caso prático desta dissertação, o projecto individual realizado por mim. Este
projecto não será apresentado pormenorizadamente, mas sim pela sua relação e
ideias-bases que deram origem ao tema desta dissertação.
7.1 APRESENTAÇÃO DE ALCÂNTARA SEGUNDO UM PROBLEMA
Alcântara, freguesia pertencente ao concelho de Lisboa , foi o sitio escolhido para o
desenvolvimento deste projecto.
O projecto individual teve início num trabalho de grupo que incidiu na leitura de
Alcântara segundo a identificação de um problema existente. O problema identificado
teve a ver com o facto de desde o aparecimento dos sistemas rodoviários e
ferroviários na paisagem de Lisboa, a evolução da frente Ribeirinha de Lisboa ter sido
influenciada por estes sistemas. Esta evolução deu-se sobretudo a partir da época em
que a Revolução Industrial se expandiu até Portugal e, nesta zona ribeirinha em
particular, tal se deve à importância do Tejo e do seu porto marítimo, o qual dá à
cidade uma ligação ao mundo.
Rui Alexandre Castanho Sequeira
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O terraço como exemplo de edifício definidor de uma topografia e de relação com a paisagem
Estes sistemas geraram, com o avançar dos anos, limites arquitectónicos de difícil
passagem para as pessoas, culminando numa débil articulação entre a zona junto ao
rio Tejo e a cidade de Lisboa.
Ilustração 72 – Montagem a várias horas do dia dos sistemas Ferroviárias e Rodoviários em Alcântara e Algés. (Ilustração nossa, 2011)
Geraram-se áreas abandonadas, muito ligadas à indústria e muito pouco ligadas ao
potencial, às relações e às vivências espaciais que o Rio Tejo tem para oferecer.
Rui Alexandre Castanho Sequeira
110
O terraço como exemplo de edifício definidor de uma topografia e de relação com a paisagem
6 Imagens, 6 palavras
Rio
"O Tejo é o único testemunho da nossa vida, mais que a cidade" (Lisbon Story, 1994).
O rio, sendo um elemento tão importante para a cidade de Lisboa, a qual nasceu e
desenvolveu-se devido ao seu contacto com o mundo através do porto, não é
devidamente apreciado enquanto parte estruturante da cidade. “ […]a noção de água
não é tão clara, pois é apagada por muitas estruturas e pelo afastamento das
actividades diárias […]” (Lynch, 1982, p. 45). Em Alcântara nem a ligação visual com o
rio está presente, devido às unidades industriais aí localizadas e, por isso, o rio
enquadra-se como um elemento forte pela utilização do porto, no entanto revela-se
como sendo um elemento desligado do espaço urbano de Alcântara.
Limite
Os limites são elementos lineares não usados nem considerados pelos habitantes
como vias. São as fronteiras entre duas partes, interrupções lineares na continuidade,
costas marítimas ou fluviais, cortes do caminho-de-ferro, paredes, locais de
desenvolvimentos… podem ser barreiras mais ou menos penetráveis que mantêm uma
região isolada das outras, podem ser «costuras», linhas ao longo das quais regiões se
relacionam e encontram. (Lynch, 1982, p. 56)
A linha do comboio impõe limites em Alcântara, fazendo com que a presença do limite
manipule a extensão da cidade até ao rio e transformando-se em limites
arquitectónicos que não permitem a relação entre ambos.
Transição
Em Alcântara existe uma estreita relação entre o edificado e a sua natureza industrial
dos dois lados das vias, fazendo com que, apesar dessa relação, Alcântara se torne
numa zona de transição entre Lisboa e o Rio, marcada pelas vias ferro e rodoviárias
que antecedem a chegada à zona fluvial. Muito embora não possua uma identidade
interessante que possa criar vivências espaciais, existe uma “[…] identidade, mas não
no sentido de igualdade com outra coisa qualquer, significando individualidade ou
particularidade. […]” (Ascher, 2010, p. 45)
Rui Alexandre Castanho Sequeira
111
O terraço como exemplo de edifício definidor de uma topografia e de relação com a paisagem
Ilustração 73 – Rio (Ilustração nossa, 2011)
Ilustração 74 – Desenho diagramático referente à relação ente
Lisboa e o Rio Tejo. (Ilustração nossa, 2011)
Ilustração 75 – Limites. (Ilustração nossa, 2011)
Ilustração 76 – Desenho diagramático referente à ideia de Limite
em Alcântara. (Ilustração nossa, 2011)
Ilustração 77 – Transição. (Ilustração nossa, 2011)
Ilustração 78 – Desenho diagramático referente à transição entre
espaços em Alcântara. (Ilustração nossa, 2011)
Rui Alexandre Castanho Sequeira
112
O terraço como exemplo de edifício definidor de uma topografia e de relação com a paisagem
Escala
“[…] Escala não é dimensão, mas sim a dimensão que um edifício reivindica,
implicitamente, aos nossos olhos. […]” (Cullen, 1990, p. 23) Em Alcântara, a escala énos apresentada de um modo um pouco descontrolada devido ao facto destes
edificios não seguirem uma mesma lógica de escala que os relacione.
Ruptura
A falta de continuidade provocada pelos limites arquitectónicos, sem a preocupação de
servir a cidade, fazem com que elementos-chaves, como o rio Tejo ou a ponte 25 de
Abril, percam igualmente interesse na relação com Alcântara. Os constantes
momentos de ruptura provocam uma fraca ligação entre alguns lugares existentes, já
para não falar novamente das próprias vias ferro e rodoviárias.
Fluxos
Os fluxos, ao “chocarem” com a linha do comboio, distribuem-se ao longo dessa
barreira, mas não a atravessam. Pela intensidade, estes tornam-se também barreiras
na livre circulação, “[…]uma auto-estrada pode ser uma artéria de comunicação para o
motorista e um limite para o peão. […]” (Lynch, 1982, p. 74).
Rui Alexandre Castanho Sequeira
113
O terraço como exemplo de edifício definidor de uma topografia e de relação com a paisagem
Ilustração 79 – Escala. (Ilustração nossa, 2011)
Ilustração 80 – Desenho diagramático referente à relação ente a escala dos vários
edifícios em Alcântara. (Ilustração nossa, 2011)
Ilustração 81 – Ruptura. (Ilustração nossa, 2011)
Ilustração 82 – Desenho diagramático referente aos momentos
bruscos de Ruptura em Alcântara. (Ilustração nossa, 2011)
Ilustração 83 – Fluxos. (Ilustração nossa, 2011)
Ilustração 84 – Desenho diagramático referente aos Fluxos em
Alcântara. (Ilustração nossa, 2011)
Rui Alexandre Castanho Sequeira
114
O terraço como exemplo de edifício definidor de uma topografia e de relação com a paisagem
7.2 APRESENTAÇÃO DO OBJECTIVO PARA ALCÂNTARA
No que diz respeito ao projecto de Alcântara, apercebi-me de que estava a lidar com
uma realidade mineral, densa e sólida, levando-me a assimilar o tipo de estereotomia
a ser carregado pelo meu projecto.
A área de intervenção em Alcântara que englobou o estudo do Quartel da Marinha de
Alcântara, conhecido como 31 da Armada, possui uma carga cultural pelas diversas
malhas, ruas e edifícios culturais como o Museu do Oriente ou o Palácio das
Necessidades. Para além disso, esta área é também marcada pela densa avenida 24
de Julho e pela linha de comboio, que como já referido, fazem com que este lado de
Alcântara, Lisboa, esteja “desligado” de relação com o Rio Tejo.
Ilustração 85 – Desenho diagramático do objectivo de relacionar Lisboa como
Rio Tejo através da ideia operativa: Terraço. (Ilustração nossa, 2012)
Rui Alexandre Castanho Sequeira
115
O terraço como exemplo de edifício definidor de uma topografia e de relação com a paisagem
É com estes elementos obtidos num levantamento que me ocorre a ideia de criar um
grande terraço que se por um lado, vai articular todo o espaço do 31 da Armada com
as ruas existentes, vai igualmente articular visualmente o Rio Tejo com Lisboa. Este é,
de facto, o objectivo do meu projecto: criar um espaço público que se desenvolve e
vive num terraço, relacionando-se com os diversos elementos físicos que marcam a
paisagem de Lisboa.
Ilustração 86 – Os vários elementos que compõem a paisagem de Alcântara na vista a partir do
terraço proposto. (Ilustração nossa, 2012)
Rui Alexandre Castanho Sequeira
116
O terraço como exemplo de edifício definidor de uma topografia e de relação com a paisagem
Ilustração 87 – Desenho referente ao objectivo do projecto: Relacionar
visualmente o terraço proposto com vários elementos de Lisboa e com o Rio Tejo.
(Ilustração nossa, 2012)
Quando se começa a desenhar este terraço, cobertura do edifício com um programa
destinado a um Centro de Artes e Cinema, percebe-se que existem vários elementos
da paisagem que ganham destaque - por outras palavras, que “espreitam” para este
terraço. A chaminé da antiga Fábrica São Pedro de Alcântara, a torre pertencente ao
Palácio das Necessidades de Lisboa, o Museu Fundação Oriente, Quartel da Marinha
em Alcântara e a Ponte 25 de Abril, assumiram-se como elementos de escala que
espreitavam para o terraço proposto.
É através desta questão, e da pesquisa sobre o Tema de Terraço em diversos
projectos Como o do Palácio Chaillot de Paris, França, ou o do Palácio de Versalhes
em França, que nasce a ideia de criar igualmente um elemento que se assume na
paisagem, que se relaciona com todos os outros referidos e que explora as ideias
referentes ao “Aqui e ao Além”, um cubo sobre o Terraço.
Ilustração 88 – Atmosfera da vivência no terraço proposto. (Ilustração nossa, 2012)
Rui Alexandre Castanho Sequeira
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O terraço como exemplo de edifício definidor de uma topografia e de relação com a paisagem
Ilustração 89 – Planta de implantação referente ao terraço proposto. (Ilustração nossa, 2012)
Ilustração 90 – Corte explicativo da relação do terraço tanto com o resto do projecto como com a paisagem. (Ilustração nossa, 2012)
Este cubo vai assumir-se em termos programáticos do projecto como o elemento
gerador do programa do edifício. Um espaço alto e com uma vivência com grande
Rui Alexandre Castanho Sequeira
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O terraço como exemplo de edifício definidor de uma topografia e de relação com a paisagem
influência no projecto de Louis Kahn, a Biblioteca de Exeter de 1972, espaço este que
vai ser destinado à Escola de Artes e Cinema que proponho.
Ilustração 91 – Atmosfera do projecto individual proposto. (Ilustração nossa, 2012)
7.3 CONSIDERAÇÕES FINAIS DA PROPOSTA DO ANO LECTIVO
A proposta individual teve como objectivo tornar-se num caso prático, tendo como
suporte a investigação deste tema.
Experimentou-se e questionou-se, de um modo prático, as questões inerentes à ideia
operativa na criação de um Terraço em Alcântara. Este projecto individual, tendo como
uma primeira fase um trabalho em grupo, tentou quebrar, mesmo que apenas
visualmente, o impacto que os sistemas ferro e rodoviários têm nesta zona de Lisboa.
Através do modo como esta plataforma se eleva e se relaciona com outros elementos
mais destacantes desta paisagem, como a ponte 25 de Abril, o Rio Tejo, o Museu do
Oriente, aqui se criou um espaço público que possui como pano de fundo todos estes
elementos de Lisboa, tudo isto no âmbito de uma relação temporal vivenciável.
Rui Alexandre Castanho Sequeira
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O terraço como exemplo de edifício definidor de uma topografia e de relação com a paisagem
Rui Alexandre Castanho Sequeira
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O terraço como exemplo de edifício definidor de uma topografia e de relação com a paisagem
8. CONCLUSÃO
Nesta dissertação procurei basear-me em ideias fundamentadas em casos, dentro
deste tema: espaços acima do nível. Se, por um lado, tentei apresentar e abordar os
vários elementos e aspectos associados ao modo como os espaços acima do nível
proporcionam uma relação com a paisagem, por outro, percebeu-se que muitas vezes
estes espaços estão associados a percursos, momentos estrategicamente montados
na cidade, para tornarem a experiência de descoberta e surpresa verdadeiramente
recompensadora.
Orientada pela pergunta feita anteriormente no início deste estudo:
Poderão os terraços, enquanto espaços elevados em edifícios singulares,
equivaler-se aos miradouros, na relação com a paisagem urbana? Concluímos:
Face ao estudo efectuado, a resposta que se impõe é afirmativa. Conseguiu-se
perceber que, tanto o terraço como o miradouro, nascem de um mesmo pensamento,
de uma igual vontade de proporcionar uma qualquer experiência espacial, relacionada
com o olhar sobre a paisagem. Nestes espaços, é evidente a sua relação com aquilo
que os rodeia. Essa interligação, incorpora uma vivência com os edifícios ou objectos
urbanos, criando no observador a experiência de privilégio e de domínio.
O miradouro apresenta-se como um espaço público de carácter urbano, criado
estrategicamente em locais da cidade que se “projectam” para a paisagem, mas sem
porta que possa sugerir a falsa passagem, de espaço público a espaço privado, tãosomente um espaço de eleição. O terraço sendo um espaço que se localiza na
cobertura de um edifício, é comum a sua utilização ser de carácter privado. No
entanto, e com base naquilo que se procurou fundamentar destacou-se com principal
foque a tipologia de praça-terraço que assume um carácter de uso público. Assim
sendo, o terraço complementa o miradouro.
Com a investigação ficou assente que estes dois factos arquitectónicos são elementos
de extrema importância em contexto urbano. O Homem, como ser complexo, precisa
de momentos de pausa que lhe permitam reflectir e contemplar tanto o mundo exterior
como o seu próprio mundo. A arquitectura através destas duas tipologias deverá estar
preparada para servir estas necessidades e deste modo através deste estudo pode-se
Rui Alexandre Castanho Sequeira
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O terraço como exemplo de edifício definidor de uma topografia e de relação com a paisagem
afirmar que esta proposta de tipologia – praça-terraço, responde a uma questão
contemporânea da arquitectura da cidade.
Rui Alexandre Castanho Sequeira
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O terraço como exemplo de edifício definidor de uma topografia e de relação com a paisagem
REFERÊNCIAS
ACADEMIA DAS CIÊNCIAS DE LISBOA (2001) - Dicionário da Língua Portuguesa
contemporânea da Academia das Ciências de Lisboa. Lisboa : Academia das Ciências
de Lisboa : Editorial Verbo.
ALBRECHT, Benno ; BENEVOLO, Leonardo (2002) – As origens da arquitectura.
Lisboa: Edições 70.
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