educação - parte vii - os pensamentos: focado e difuso

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EDUCAÇÃO - PARTE VII -
ensino/aprendizagem, tanto a Psicologia como
a Neurociência concordam integralmente sobre
a importância da ATENÇÃO ou sua falta.
OS PENSAMENTOS: FOCADO E DIFUSO
Aprendemos melhor com a atenção focada.
Quando nos focamos no que estamos
Assisti à competição final da
temos de melhor: nossa inteligência mais
aprendendo, o cérebro situa aquela informação
modalidade futebol das Olimpíadas 2016. A
desenvolvida. A manifestação da inteligência no
no meio do que já sabemos, fazendo novas
“Pátria em chuteiras”, como dizia o grande
reino animal está intimamente relacionada com a
conexões neurais. Essa rede de compreensão
cronista Nelson Rodrigues, vingou-se da
formação de uma estrutura biológica responsável
em expansão é a alma da aprendizagem.
Alemanha, nossa algoz na última Copa do
pela recepção e interpretação de sinais do
Quando nossa mente divaga, nosso
Mundo. É verdade que foi por cobrança de
ambiente e do próprio organismo, e que também
cérebro ativa uma porção de circuitos neurais
pênaltis; é certo que os jogadores foram metidos
atua no planejamento e na execução de ações
que murmuram sobre coisas que não têm nada
em brios por um comentarista esportivo tão
motoras, o CÉREBRO.
a ver com o que estamos tentando aprender.
chato quanto famoso e pela própria torcida.
Mas, lavamos a alma!
O cérebro
humano pesa 1200g,
Sem foco, nenhuma lembrança clara do que
estamos aprendendo fica armazenada. Ao ler
As Olimpíadas apresentam com-
o do chimpanzé
petições que escapam à lógica do seu objetivo
400g, o do rato
declarado de congraçamento entre indivíduos
somente 2g, o do
e povos, celebração da superioridade da espécie
elefante
humana sobre a Terra. Quando pensamos desse
5000g. Se consi-
ponto de vista, ficam sem sentido as
derarmos a relação
que já temos sobre o mesmo assunto. O pensar
modalidades de luta, boxe, luta greco-romana,
massa do cérebro/
focado é essencial para realizar qualquer tarefa
judô, caratê etc. Por outro lado, pensando
massa do corpo, a
sistemática, não repetitiva. Por se tratar de
estritamente como animais, de todas as espécies,
massa relativa do
esforço intelectual mais intenso, ele requer
é contrassenso comemorar a velocidade em terra
homem é doze vezes maior que a do paquiderme.
pausas reparadoras, tal como acontece com
do mais rápido dos nossos representantes –
No caso dos camundongos, o resultado é empate
esforços físicos. Pensar profundamente exige
Ulsain Bolt, 36 km/h – quando um guepardo
para as massas relativas. No entanto, os roedores
manter a mente focada. Quanto mais distraídos
molenga corre a mais de 90 km/h. Gritar vivas
não têm nossas habilidades intelectuais (exceção
estamos, mais superficiais são as nossas
entusiásticos ao mais veloz na água – Michel
feita aos de Brasília). Portanto, é difícil saber o
reflexões.
Phelps, 6,5 km/h – esquecendo o pobre merlin
que faz nossa inteligência superior àquelas dos
que foge de pescadores em lanchas velozes a
demais animais. A Neurociência, pesquisa
110 km/h. Se a espécie humana voasse,
científica do cérebro, que ganhou fôlego nos
deslocamento no ar, certamente perderia para o
últimos 25 anos, busca compreender o funcio-
falcão peregrino que atinge 320 km/h. O besouro
namento do cérebro animal, em especial o
rola-bosta suporta uma carga 1.141 vezes o seu
humano. Ainda não há respostas satisfatórias
próprio peso. Que halterofilista medalha de ouro
sobre o desenvolvimento da inteligência, do
carregaria 12 ônibus nas costas? Se criássemos
aprendizado.
atinge
um livro, um blog, ou qualquer outra narrativa,
nossa mente constrói um modelo mental que
nos permite compreender o que estamos lendo
e faz uma ligação com o universo de modelos
Há dois tipos principais de distrações:
sensorial e emocional. Os distrativos
sensoriais são estímulos que nos chegam do
meio externo; conversas, músicas, mensagens
eletrônicas, odores etc. Os distrativos
emocionais são mais poderosos. Subvertem e
conturbam nossos pensamentos até que
a categoria espécime mais velho, com todas as
A popularização, pela mídia, de
tenhamos força de vontade para afastá-los. Se
funções vitais em pleno funcionamento, nós,
generalizações e informações parciais sobre as
não conseguimos fazê-lo, transformam-se em
humanos, não seríamos páreo para a tartaruga,
descobertas neurocientíficas produziu inúmeras
transtorno mental.
a menos que o Brasil enviasse um certo ex-
interpretações sobre o funcionamento do
Serendipidade é palavra nova para nós
-presidente como competidor. De outra parte,
cérebro. Elas se espalharam e criaram o que os
brasileiros. Trata-se de um anglicismo, originário
nessa fantasiosa Olimpíada do Mundo Animal
pesquisadores chamam de neuromitos. Assim,
da palavra inglesa serendipity, criada pelo
que acabamos de imaginar, seríamos imbatíveis
segundo eles, não é verdade que usamos
escritor britânico Horace Walpole em 1754, a
nos jogos que envolvessem raciocínio,
somente 10% do nosso cérebro nem existem
partir do conto persa infantil Os três príncipes
inteligência.
períodos críticos de desenvolvimento durante a
de Serendip. Essa história de Walpole conta as
infância. É falsa a afirmação de que se a criança
aventuras de três príncipes do Ceilão, atual Sri
int eligênci a,
A
não aprender uma habilidade durante essa
Lanka, que viviam fazendo descobertas
definida como um
“janela de oportunidade”, quando adulta não
conjunto de habi-
aprenderá mais. O certo é considerar que o
lidades para reso-
cérebro na infância é mais afeito à aprendizagem.
lução de pro-
As afirmações que durante o sono o cérebro é
blemas, apren-
“desligado” para descansar e medicamentos
dizagem e memó-
melhoram a inteligência também são errôneas. A
ria, não é uma
Neurociência, em particular a Neuro-anatomia,
e x c l u s i vi d a d e
já realizou estudos bem detalhados sobre a
humana. Ela está presente em todo o reino
geografia do cérebro. Assim, neurocirurgiões
pensamento difuso, despretensioso, em que a
animal. Essa evidência já era notada por Charles
podem correlacionar, com precisão, sequelas em
mente vagueia à deriva, exercita-se, com
Darwin, o pai do evolucionismo, que
atividades motoras e psíquicas dos pacientes
certeza, o pensamento focado. Se assim não
considerava que os homens e animais
com lesões em certas regiões cerebrais.
fosse, as questões não estariam lá, subjacentes.
compartilham as mesmas faculdades mentais
Entretanto, para entender o desenvolvimento da
Podemos resumir o assunto com a
embora em níveis bem diferentes. Dessa
inteligência, da aprendizagem, como fenômeno
seguinte assertiva: o cérebro humano só se
maneira, apesar de não termos a mesma visão
fisiológico, há um longo caminho a percorrer.
desenvolve com o pensamento focado, que por
das águias, a audição dos gatos ou sequer a
Passa pela familiarização de termos como
sua vez é essencial para o pensamento difuso
força do chimpanzé (nossos parentes evolutivos
neurônios, axônios, dendritos, neuro-
produtivo, origem da criação.
mais próximos), podemos compensar todas as
transmissores, sinapse, mielina etc.
habilidades dos outros animais utilizando o que
Para assegurar êxito no processo
inesperadas. Sabemos hoje, como disse Louis
Pasteur, que o acaso só favorece a mente
preparada. A descoberta, a invenção, pode ser
casual, fortuita, mas não inesperada. Ao
contrário, a busca da solução, da resposta, ao
desafio repousava no cérebro de forma
inconsciente. Antes de realizar esse
Profº. Teomar Soledade Júnior.
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