ossa bem - Chico Amaral

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E STA D O D E M I N A S
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Q U A R T A - F E I R A ,
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D E
A G O S T O
D E
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CULTURA
LUALUARÁ
O finlandês Heikki Sarmanto se rende à magia da música
brasileira e entrega suas composições para Claudya cantar
Um show de bossa bem
temperada
SÉRGIO GONZAGA
AILTON MAGIOLI
Irmãos na música. A definição do pianista e compositor
finlandês Heikki Sarmanto soa a
mais perfeita tradução para Lualuará, projeto do produtor Marcos Gonzaga, que será apresentado amanhã em Belo Horizonte, no Teatro Sesiminas. Mineiro
radicado na Europa, Gonzaga
convidou Sarmanto para compor o repertório do CD que seria
letrado por Fernando Brant, arranjado por Juarez Moreira e interpretado pela cantora Claudya
de Oliveira, acompanhada de
músicos mineiros.
A gravação, com a participação de todos os envolvidos, ocorreu no estúdio Bemol, em BH. A
previsão é de que chegue às lojas
brasileiras até 15 de setembro,
pela Dubas Música. Originalmente lançado na Europa, já é
Heikki Sarmanto e
Claudya de Oliveira
revelam muitas
afinidades no trato
com a bossa e o jazz
sucesso em emissoras de rádio
finlandesas, segundo o produtor, graças à popularidade de
Heikki Sarmanto em seu país.
No Brasil, a julgar a popularidade da intérprete de Evita nos palcos (Cláudia agora assina com y,
além de adotar o sobrenome
Oliveira), tem tudo para repetir
a performance.
■ PAIXÃO PELOS
RITMOS DO BRASIL
Músico acompanhante de
grandes damas internacionais do
jazz – de Ella Fitzgerald a Sarah
Vaughan –, Sarmanto detectou
na brasileira o timbre ideal para
cantar suas músicas que, além de
letras em português de Fernando
Brant, acabaram ganhando o
suingue brasileiro, graças à direção musical do guitarrista Juarez
Moreira. Ex-aluno do Berklee College of Music, em Boston (EUA),
Sarmanto passou a admirar a
música brasileira quando estudava na Academia de Música Sibelius, em Helsinki.
Bem ao estilo do que os gringos classificam como brazilian
jazz, a parceria Sarmanto-Brant
resultou na mais pura bossa,
com o auxílio de músicos experientes como o baterista Esdra
“Neném” Ferreira e o baixista Kiko Mitre. Amanhã à noite, todos
estarão juntos no palco do Teatro Sesiminas para mostrar canções como Apaixonado e Bate o
Coração. A surpresa vai ficar por
conta da participação de Fernando Brant, que promete cantar. “É
um direito de todos”, justifica o
poeta, que há 14 anos excursiona em show ao lado do amigo
Tavinho Moura.
Segundo Brant, a sonoridade
da língua portuguesa é uma das
razões para o sucesso da música
brasileira no exterior. “A nossa
língua tem um som musical”,
explica. Juarez Moreira concorda, lembrando que, apesar da limitação, a aceitação da língua
portuguesa é grande no mercado musical. “O disco tem um estilo que agrada muito ao público lá fora”, acredita Claudya de
Oliveira, chamando a atenção
para o fato de a bossa nova cativar fãs no exterior.
“Além disso, os arranjos do
Juarez Moreira são muito bem
elaborados”, elogia a cantora, que
acredita no potencial da faixa Senhora das Águas, calcada nos
sambas afros de Baden Powell.
Segundo ela, Heikki Sarmanto é
um compositor muito versátil,
que compõe do jazz ao blues,
além de ter reconhecido veio
clássico. “O Heikki faz uma fusão
incrível entre o jazz e o clássico”,
salienta Claudya, que classifica
Lualuará de impecável.
De BH, o grupo seguirá para
Brasília (dia 11) e Goiânia (12), ficando São Paulo e Rio de Janeiro
mais para a frente. No exterior,
os shows foram realizados em
março do ano passado, na Finlândia, Itália e Portugal. Com
planos de um novo projeto no
Brasil, com uma cantora de Brasília cujo nome prefere manter
em sigilo, o produtor Marcos
Gonzaga também foi o responsável pelo CD Sounds, feito originalmente para o mercado europeu, que reúne o violonista
Weber Lopes, a cantora Ângela
Evans e o baixista Ivan Corrêa e
que até novembro deverá ser
lançado também no Brasil.
LUALUARÁ
Show de lançamento do CD que
reúne o finlandês Heikki
Sarmanto, a cantora Claudya de
Oliveira e músicos mineiros.
Teatro Sesiminas (rua Padre
Marinho, 60, Santa Efigênia).
Amanhã, às 21h. Ingressos a R$
12 (inteira) e R$ 6 (meia).
Informações: (31) 3241-7132.
MÚSICA
ETC.
CHICO AMARAL
Email para esta coluna: [email protected]
As listas
Fazer lista dos “melhores qualquer coisa” é
uma futilidade deliciosa. Recentemente, li
que os ingleses escolheram, através de uma
revista, os dez melhores discos da Inglaterra
de todos os tempos. A impressão que a gente
tem é de que toda semana sai uma lista dessas lá. Nesta, o primeiro lugar ficou com Stone Roses, disco de estréia da banda de mesmo
nome, de 1989. Superaram todo mundo. Tentando entender a lógica dos ingleses, deve
realmente encher o saco votar no Sgt. Pepper’s para primeiro, sempre. De eterno, já
basta a rainha. E votaram num disco legal, redondo, cheio de frescor.
Os Stone Roses disseram que queriam fazer
algo tão bom quanto Eletric Ladyland, de Jimi
Hendrix, e até hoje criticam a mixagem. O disco lembra realmente alguma coisa anos 60
mais rock anos 80, o que não é pouco, mas
Hendrix fica fora
da história, a não
ser por alguns truques de estúdio. A
banda terminou
depois do segundo
álbum –Second Coming, de 1994. Era
uma banda boa.
Nada como os Beatles, Stones, Pink
Floyd ou Led Zeppelin, é claro. Prepararam o terreno
para bandas como
Oasis e Blur, através de sua revisão
dos 60. Valeu a
existência curta
dos Stone Roses,
nenhum pouco
pela lista, mas pela
inspiração concentrada em dois solitários discos.
Uma curiosidade: se você tem o
disco mais votado
(a melhor banda da
última semana),
confira, na faixa
dez, se o cantor não
manda algo “tipo
Caetano Veloso”
num pequeno trecho melódico.
Tentando
entender a
lógica dos
ingleses,
deve
realmente
encher o
saco votar
no Sgt.
Pepper’s
para
primeiro,
sempre. De
eterno, já
basta a
rainha
Sobre o imperdível
Estava prestes a dizer que o disco Stone Roses não era imperdível, mas percebi que essa
palavra não pertence ao universo – nem sublime, nem rasteiro – da arte. O disco é tão legal,
é uma obra de arte, por que se privar de ouvilo? Ao mesmo tempo, “imperdível”, aplicado
como o comentário cultural de revistas e jornais o faz, tem uma conotação consumista antipática. É preciso se defender disso. Tudo é altamente “perdível”; a não-lógica da arte é outra, e o encontro de cada um com ela – encontro que o artista nunca deixa de querer – é algo
imprevisível e sagrado.
A batida perfeita
O nome do último trabalho de Marcelo D2
é pra lá de interessante (e já digo logo o mesmo do disco). Parece marqueteiro, mas existem as palavras “em busca da”, que lhe conferem sinceridade e clareza em sua afirmação
estética. Outra vantagem é que “a busca” pode ser estendida para além do próprio Marcelo, e, assim, tratar-se de uma leitura abrangente dos movimentos musicais mais recentes
ocorridos no Brasil. Marcelo distingue as linhas que lhe importam e propõe a mistura
delas. Estas linhas são as do samba e do hip
hop, que substitui na sua lente outras formas
pop, como o soul e o funk. Ou o rock, que era
um dos ingredientes da busca bem- sucedida
de Chico Science: maracatu com hip hop com
um pouco de Jimi Hendrix.
É uma batida perfeita, o que Marcelo D2
sempre reconheceu. Marcelo bebeu em outras
fontes, como o hip hop dos Beastie Boys, que
realizam um dos trabalhos mais instigantes da
música pop recente. Também encontraram a
batida perfeita, por exemplo, no disco Ill Comunication. Beastie Boys, entre outras aproximações, estão a um passo do samba.
A batida perfeita é uma batida de fusão nacional-internacional (“o cinema falado é o
grande culpado da transformação”), e é perfeita para esse diálogo, ou para essa briga. É um
sincretismo que basicamente transforma o binário do samba em quaternário, acentuando,
como o faz a música pop, o segundo e o quarto tempo. Muitos buscaram (e alcançaram)
uma batida perfeita: João Gilberto, Jorge Ben,
o Milton dos sambas-rock como Viola Violar e
Idolatrada, o Caetano de Transa, os Stones de
Simpathy for the Devil, os Novos Baianos. Mais
recentemente, Lenine e Marcos Suzano, Max
de Castro, Bossa Cuca Nova e Marcelo D2, para
ficar em alguns.
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