- Congresso Brasileiro de Meteorologia

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INFLUÊNCIA DE SISTEMA FRONTAL NA AMAZÔNIA ORIENTAL: ESTUDO DE CASO
Alexandre Santos de Souza1, Dimitrie Nechet2
ABSTRACT
The knowledge of the Meteorology of the Amazonian area is a great challenge and of fundamental
importance for the progresses of the studies in the area. In this work it is presented a case of a system of
great scale that affected the atmospheric conditions in the Eastern Amazonian. Data were used
schedules of several meteorological elements, extracted of the messages METAR, SPECI, SYNOP and
TEMP. The area in study enclosed the states of Amapá, Pará and Maranhão. It happened on the 09 on
April 11, 2002, in which the displacement of the systems, common of East for West, they came of West
for East, what is not common in the area, in study. Besides the system of great scala, of a front system
of Southern Hemisphere, it had influence of ITCZ and of local effects.
RESUMO
O conhecimento da Meteorologia da região Amazônia é um grande desafio e de importância
fundamental para os avanços dos estudos na área. Neste trabalho é apresentado um caso de um sistema
de grande escala que afetou as condições atmosféricas na Amazônia Oriental. Foram utilizados dados
horários de diversos elementos meteorológicos, extraídos das mensagens METAR, SPECI, SYNOP e
TEMP. A área em estudo abrangeu os estados do Amapá, Pará e Maranhão. Ocorreu nos dias 09 a 11
de abril de 2002, em que o deslocamento dos sistemas, comuns de Este para Oeste, apresentaram-se de
Oeste para Este, o que não é comum na área, em estudo. Além do sistema de grande escala, de um
sistema frontal do Hemisfério Sul, teve influência da ITCZ e de efeitos locais.
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Bacharel em Meteorologia, Av. Dr. Freitas, Conj. 14 Bis, Bl 26, Apto 202, Marco, Belém-Pará, 66087-810, e-mail:
[email protected], Fone: (0xx91)276-8354
2
Professor do Departamento de Meteorologia, Campus do Guamá, Belém-Pará, 66075-900, e-mail: [email protected], Fone
(0xx91)211-1410
INTRODUÇÃO
Os sistemas convectivos são comuns na região amazônica, especialmente, os aglomerados de
cumulonimbus, responsáveis por intensas precipitações, trovoadas e ventos fortes, que produzem
efeitos danosos à população, na agricultura, em todos os tipos de transportes e nas áreas urbanas, com
as enchentes repentinas. O conhecimento do comportamento dos sistemas, em situações normais e
aquelas esporádicas tem sido alvo de pesquisa meteorológica. A duração, intensidade, o deslocamento
dos fenômenos têm importância, no aspecto operacional, para que possa alertar a população, ajudando
a diminuir ao máximo, os danos causados por esses sistemas.
Na região em estudo, na Amazônia Oriental, incluindo os estados do Amapá, Pará e Maranhão,
vários sistemas de grande escala agem na região dependendo da época do ano. A ITCZ(Zona de
Convergênia Intertropical) na época chuvosa(Dez-Mai), regionalmente chamada de Inverno, de
sistemas frontais dos dois hemisférios, na estação de Inverno dos Hemisférios e das Ondas de Este,
principalmente nos meses de junho a agosto.
OLIVEIRA(1986) fez o estudo de trajetórias de sistemas frontais atingindo as latitudes mais baixas
e aqueles que se dirigem ao Nordeste brasileiro, o fazem na maioria das vezes com a convecção
tropical da parte Oriental da Amazônia.
VIANELLO & ALVES(1991) também chamam atenção pelo abaixamento da temperatura na
Amazônia, pela penetração de massas frias, vindo Sul, principalmente na parte Oeste.
PIELKE(1984) no estudo da gênese dos sistemas atmosféricos de mesoescala mostra um tipo de
mesosescala induzido, sinoticamente, pelo deslocamento de distúrbios de grande escala.
SERRA, A . desde a década de 1940 fez estudos sobre a penetração de sistemas frontais na
Amazônia, aproveitando um termo regional chamado de “friagem”, que significa abaixamento de
temperatura na Amazônia, provocado pela penetração de sistemas frontais. Hoje é termo técnico
constando em todas as enciclopédias e dicionários técnicos do mundo.
Este trabalho estuda um caso de deslocamento de sistemas convectivos fora dos padrões do
comportamento normal da região. Normalmente, os sistemas da região deslocam-se para Oeste,
impulsionados pela influência dos ventos alísios. O caso estudado ocorreu no período de 09 a 11 de
abril de 2002 e foi acompanhado com os dados meteorológicos horários do Sistema de Proteção ao Vôo
da área estudada.
Este trabalho, também, objetiva mostrar que, esporadicamente, ocorrem condições meteorológicas
fora do padrão normal e que é possível acompanhá-los, utilizando dos dados, principalmente, dos
aeroportos.
MATERIAL E MÉTODOS
Inicialmente, a mudança de vento verificou-se em trabalho de rotina no Centro de Previsão de
Aeródromo de Belém, responsável pela coleta de dados dos estados do Amapá, Pará e Maranhão, de
fornecer essas informações aos aeronavegantes do transporte aéreo e de fazer a Previsão de
Aeródromo Terminal(TAF) dos principais aeródromos da sua área de responsabilidade.
Foram utilizados dados meteorológicos horários de superfície dos aeroportos de Belém, Santarém,
São Luís, Macapá, Carolina, Carajás, Imperatriz, Tucuruí, Marabá, Altamira, Itaituba, Monte Dourado,
Amapá, Conceição do Araguaia, Tiriós e Trombetas. Esses dados de superfície foram obtidos das
mensagens METAR e SPECI, utilizados na divulgação das condições meteorológicas dos aeroportos
para apoio ao Tráfego Aéreo. Os dados de ar superior são de Belém, mas analisados, no aspecto da
direção do vento em altitude, pelo CPTEC(Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos) e
obtidos do seu site. Foram, também, utilizados imagens de fotografias de satélites, na banda do
infravermelho, obtidos do site do CPTEC
O período estudado foi de 09 a 11 de abril de 2002. Os dados foram da direção do vento,
temperatura do ar, pressão atmosférica(QNH-Pressão ao Nível Médio do Mar, reduzida de acordo com
atmosfera padrão) e precipitação. Os dados de radiossonda de Belém foram utilizados para o cálculo
dos índices.
Foram gerados gráficos do período estudado, mostrando o comportamento anômalo, principalmente
da direção do vento para Este.
ANÁLISE DOS RESULTADOS
No dia 09 de abril, a partir das 11:00 horas local verifica-se um pequeno giro do vento, com uma
variação de 30o , no sentido anti-horário em várias localidades, estacionando em torno de NW o que
define uma penetração de um sistema frontal do hemisfério Sul. À tarde, os sistemas se intensificaram
chegando ao nível de Trovoadas.
No dia 10 em Santarém, pela manhã(07:00-08:00) hora local chuva forte e visibilidade reduzida de
3 km. Tempo, também pela manhã, encoberto em Trombetas, Itaituba, Santarém, Monte Dourado,
Tucuruí e Carajás. À tarde, no setor Oeste da área, a temperatura atinge 22oC, em Altamira, às 12:00
horas local. Vento de W em Trombetas, Monte Dourado e Tucuruí, o que reforça a presença de um
sistema frontal do Sul. Em outras localidade à Este, as temperaturas são bem mais altas, como
Imperatriz, que atingiu 33oC, às 13:00 horas local. A região de Monte Dourado e Santarém, durante
toda a tarde é encoberta por altostratus, com chuva leve contínua, temperaturas baixas e vento de NW.
Belém apresentou ventos de W e cumulonimbus(CB) no final da tarde. Macapá foi atingido pelo
sistema entre 14:00 e 15:00 horas local, quando a direção passou para W, apresentando CB com
trovoadas e chuva passando a ser contínua. A massa fria desloca-se para E e os setores E, SE e S da
região, com exceção de Conceição do Araguaia, durante a tarde passam a sofrer mudança na direção do
vento, que passa gradativamente de NE para NW, como exemplo Imperatriz em que a temperatura caiu
de 33oC às 13:00 horas local para 26oC às 17:00 horas local.
Fig. 01 - Carta Sinótica Metar e imagem de Satélite no Canal Infravermelho Dia 09 1800 UTC (1500 hs Local)
Fig. 02 - Carta Sinótica Metar e imagem de Satélite no Canal Infravermelho Dia 10 1800 UTC (1500 hs Local)
No dia 11 de abril, pela manhã, o tempo permaneceu encoberto na área e predominância de ventos
de W. Já a partir das 13:00 horas local verifica-se, no setor Oeste da região, mudança na direção do
vento de W para E e apenas a permanência da direção W no setor Sul, indicando que o sistema que
afetava a região em situação atípica e deslocou-se para Este, acompanhando o movimento do sistema
frontal. À tarde, ao Norte de 01oN a predominância do vento era de NE e uma predominância dos
ventos de W ao Sul de 01oN(Macapá, Belém e São Luís).
Fig. 03 - Carta Sinótica Metar e imagem de Satélite no Canal Infravermelho Dia 11 1800 UTC (1500 hs Local)
Na verificação do perfil vertical de Belém observa-se a mudança do vento (figura 04 - perfil do
vento dos dias 05 a 16 de abril de 2004), mostrando a variação do vento de W no dia 11 na superfície.
Fig. 04 - Seção Vertical da Atmosfera no Tempo para Belém dos dias 05 a 15 abril
2002.
FERREIRA(2002) nos diz que “os ventos na dianteira da frente fria sopram, normalmente, de NE e
da retaguarda, de SW, resultando em uma convergência do ar ao longo da frente”. Isso ocorreu no
período estudado, com as mudanças dos ventos de NE para NW e SW.
Fig. 05 - Gráficos de Direção do Vento, Temperatura, Pressão Atmosférica e Tempo
Presente. Santarém de 09 a 11 de Abril de 2002.
Fig. 06 - Gráficos de Direção do Vento, Temperatura, Pressão Atmosférica e Tempo
Presente. Macapá de 09 a 11 de Abril de 2002.
Fig. 07 - Gráficos de Direção do Vento, Temperatura, Pressão Atmosférica e tempo
presente. Belém de 9 a 11 de Abril de 2002.
Fig. 08 - Gráficos de Direção do Vento, Temperatura, Pressão Atmosférica, e Tempo
Presente. São Luís de 09 a 11 de Abril de 2002.
Fig. 09 - Gráficos de Precipitação de Santarém, Macapá, Belém e São Luís de 09 a 11
de Abril de 2002.
CONCLUSÃO
Em função da análise feita no trabalho concluímos que na Amazônia Oriental, englobando os
estados do Amapá, Pará e Maranhão, ocorreu a penetração de um sistema frontal, do Hemisfério Sul,
no período de 09 a 11 de abril de 2002. O deslocamento dos sistemas meteorológicos foi de Oeste para
Leste, passando por Santarém, Macapá, Belém e São Luís. É uma situação atípica, detectada em um
trabalho operacional e acompanhada durante todo o período com dados horários. Houve influência da
ITCZ e dos sistemas locais.
Este trabalho torna-se útil para o conhecimento das variações atípicas, contribuindo para um melhor
conhecimento da Meteorologia Tropical e em especial da Amazônia Brasileira.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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