UMA COMPREENSÃO NA ESSENCIA FENOMENOLÓGICA DA DESTERRITORIALIZAÇÃO E BUSCA DA IDENTIDADE CULTURAL DOS CABOCLOS NO TERRITÓRIO CONTESTADO Thiara Gonçalves Campanha e Nilson Cesar Fraga, e-mail: [email protected] Universidade Estadual de Londrina, Departamento de Geociências. Área e subárea do conhecimento: Geografia Humana/ Geografia da População Palavras-chave:Território, Desterritorialização, Identidade Cultural. Resumo: Pensar o território é refletir tanto em sua acepção políticas, simbólicas e ou culturais, ou seja, o território como definido pelo poder e o território enquanto elemento simbólico, que funda identidades e as suas essências territoriais. Tal compreensão permite pensar os reflexos da Guerra do Contestado no território onde esta ocorreu, permeando os conceitos de desterritorialização extrema e a buscada da identidade cultural. Neste sentido, o presente artigo tem como intuito nas percepções humanistas com base fenomenológicas, retratar alguns dos reflexos diante da Guerra do Contestado na Região do Contestado, buscando compreendera possibilidade de processos de desterritorialização extrema em seus aglomerados de exclusão e da busca de suas identidades culturais visando as experiências caboclas, apresentando conceitos diante de tal processo que caracteriza sua formação socioespacial. É apresentado no decorrer deste trabalho, fatos que caracterizam a desterritorialização e a luta do povo caboclo pela sua identidade cultural e social e o quanto o poder político influencia neste processo. Introdução O presente artigo tem como intuito, seguindo os pressupostos da Geografia Humanista com base fenomenológica, compreender a tentativa do processo de desterritorialização extrema dos caboclos da Região do Contestado e a busca pela sua identidade cultural e conseqüentemente a formação socioespacial deste território considerando seus aglomerados de exclusão. A Região do Contestado foi marcada profundamente por uma grande guerra pelo domínio do seu território rico em erva mate e madeira de lei, sendo um dos maiores conflitos em solo nacional, havendo mudanças significativas no território afetado pela guerra no período que antecede a guerra - sua formação -, e posterior a esse conflito- as implicações territoriais do pós-guerra. Considera-se neste trabalho, a experiência pessoal, sentida e vivenciada em alguns pontos marcantes da região do Contestado, mais especificadamente na porção territorial que ficou com Santa Catarina, cujas verificações se deram em trabalho de campo realizado em outubro de 2015. Métodos Para a elaboração do trabalho foram realizadas pesquisas bibliográficas referentes à Guerra do Contestado com destaque sobre a formação territorial e o processo de desterritorializaçãoe a identidade cultural do povo caboclo, dando ênfase os aglomerados de exclusão regional, sob a perspectiva de uma visão humanista, perpassando pela fenomenológica, cujas análises se deram por meio de trabalho de campo, onde foi possível vivenciar o mundo vivido no Contestado, na busca de uma melhor compreensão do tema exposto. Mediante isso, se fez necessária utilização de material bibliográfico secundários e sua contraposição com os levantamentos in loco. Dentre as categorias geográficas estudadas, o território se tornou o mais importante, pois permitiu uma melhor compreensão do papel do conflito e este no processo de desterritorialização. Resultados e Discussão Parte-se do pressuposto, portanto, de que a ocupação territorial, teve como motivo e reflexo, tanto a obliteração da existência dos caboclos, como um viés fortemente marcado pelo racismo e pelo silenciamento, tendo perdurado por mais de 100 anos pós-Guerra do Contestado (FRAGA, 2010; 2011). Neste sentido, a compreensão do conceito de território em suas múltiplas vertentes na Geografia - desde sua abordagem clássica até sua abordagem fenomenológica -, permite que se compreenda o conceito central desta categoria de território e, no mundo real do Contestado, o quanto que esta influenciou e influencia até os dias atuais na região, assim como o modo de vida da população cabocla, levando em conta sua exclusão social e de conflito ainda inerentes a esse grupo humano na suas relações com a sociedade regional, permitindo, desta forma, a compreensão do processo de formação sócioespacial da Região do Contestado, quando se é permitido verificar as implicações e modificações deste território e da identidade territorial dos caboclos, considerando suas crenças e seu modo de vida, que foram de forma brutal, silenciados e levados ao esquecimento pelos poderes públicos por mais de um século. Esse debruçar sobre o território tem causado certa banalização de seu conceito, como indicado por Souza (2004; 2013), em que seu uso é ligado unicamente ao sentido de “extensão física de uma área”, oriundo, principalmente, da concepção clássica da Geografia Política, onde o território seria todo o Estado-nação (SOUZA, 2004; 2013). Souza (2004) ainda indica que o termo “território” fora utilizado primeiramente por Ratzel, em sua obra Geografia Política (CASTRO, 2005; COSTA, 2013), apesar do termo solo ter sido aplicado com maior conjuntura pelo geógrafo alemão. O conceito de território apresenta uma miríade de definições, sendo a categoria geográfica que está mais em voga atualmente. Esse debruçar sobre o território tem causado certa banalização de seu conceito, como indicado por Souza (2004; 2013), em que seu uso é ligado unicamente ao sentido de “extensão física de uma área”, oriundo, principalmente, da concepção clássica da Geografia Política, onde o território seria todo o Estado-Nação (SOUZA, 2004; 2013). E ao pensar na desterritorialização, devem-se conduzir os olhares, também, ao âmbito cultural e simbólico, pois desterritorializar não é apenas expulsar, mas quando se está à margem, se está, também, desterritorializado.Mas, mais contundentemente, o desligamento do território, ou a desterritorialização, esta engendrada tanto ao âmbito político (perda de controle e segurança do território), bem como o âmbito cultural (perda de relação identitária com o território) (HAESBAERT, 2004a). Conclusão Diante dos apontamentos e reflexões expostos assim como na pesquisa realizada, no que se refere à desterritorialização, exclusão, identidade cultural, formação socioespacial, silenciamento e ausência do Estado na região da Guerra do Contestado, pode-se dizer, considerando a questão territorial e delineando uma abordagem humanista com base fenomenológica, que por meio, sobretudo, da realização do trabalho de campo e leituras complementares, que a população cabocla que reside na região do Contestado catarinense é excluída, isso tantos por conta dos aspectos físicos, culturais, sociais, econômicos regionais e até nacionais, pois os caboclos se encontram desolados e esquecidos no desenvolvimento social estadual, principalmente por seus representantes estatais, cujas políticas públicas são ineficientes para a região em questão. Entretanto, a busca constante em preservar sua história e sua identidade cultural, mesmo que em uma ilha de isolamento, faz destes, um povo forte, generoso em meio às adversidades, mesmo com o passar dos anos deste fatídico retrato da história do país, ocorrido entre Santa Catarina e Paraná. Referências ANDRADE, M. C. de. A questão do território no Brasil. 2. ed. São Paulo: Hucitec, 2004. FRAGA, N. C. Território e silêncio: contributos reflexivos entre o empírico e o teórico. In: FRAGA, N. C. (Org.). Territórios e Fronteiras: (re)arranjos e perspectivas. Florianópolis: Insular, 2011. p. 69-86. FRAGA, N. C. Um território de invisibilidade e miséria: cem anos da maior guerra camponesa da América do Sul. In: WEHLING, Arno. et al. (Org.). Cem anos do Contestado: memória, história e patrimônio. Florianópolis: MPSC, 2013. p. 369-392. GOMES, P. C. C. Geografia e Modernidade. 3. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003. HAESBAERT, R. Da desterritorialização à multiterritorialidade. 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