A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO IDENTIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DAS PRINCIPAIS ÁREAS DE DEGRADAÇÃO, ZONEAMENTO ECOLÓGICO-ECONÔMICO E CURSOS D’ÁGUA DA UNIDADE DE CONSERVAÇÃO APA MARIMBUS-IRAQUARA, BAHIA, A PARTIR DE PROCESSAMENTO DIGITAL DE IMAGENS. FABRINE DOS SANTOS LIMA1 ANDRESSA LOPES DE OLIVEIRA PASSOS2 ANTONIO PUENTES TORRES³ Resumo: Tendo em vista a essencial importância da Geografia dentro da análise ambiental, o presente trabalho faz uso de técnicas de Sensoriamento Remoto e SIG a fim de obter uma eficaz observação sobre o ambiente da APA Marimbuns/Iraquara, buscando principalmente subsidiar ações de preservação e gestão da área em questão, a fim de embasar políticas públicas e evitar possíveis degradações futuras. Palavras-chave: APA, Vegetação, Sensoriamento Remoto. Abstract: Given the crucial importance of Geography in the environmental analysis , this paper makes use of remote sensing and GIS techniques in order to get an effective observation about the APA environment Marimbuns / Iraquara , seeking mainly to subsidize conservation actions and management area in question in order to ground public policies and prevent to possible future degradation . Key-words: APA, Vegetation, Remote Sensing. 1 – Introdução A Área de Proteção Ambiental (APA) é uma categoria pertencente ao grupo de uso sustentável do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), que tem como definição área em geral extensa, com certo grau de ocupação humana, dotada de atributos naturais, estéticos e culturais importantes para a qualidade de vida e o bem-estar das populações (SNUC,2000). .Deste modo, a APA Marimbus/Iraquara, foi criada em 14 de junho de 1993, mediante Decreto Estadual n° 2.216. Localizada no centro do estado da Bahia, na Chapada Diamantina, a APA Marimbus/Iraquara ocupa terras dos municípios de Lençóis, Andaraí, Palmeiras, Iraquara e Seabra, totalizando uma área de 125.400 hectares, sendo limítrofe ao Parque Nacional da Chapada Diamantina, a oeste. 1 - Discente do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal da Bahia. E-mail de contato: [email protected] 2 - Coordenadora do Centro Integrado de Geoinformação – CIGEO do MP/BA. [email protected] 3 - Acadêmico do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal da Bahia. E-mail de contato: [email protected] 4586 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO Segundo a Secretaria de Meio Ambiente do Estado da Bahia - SEMA, a APA Marimbus/Iraquara consiste em um importante instrumento de conservação dos diversos ecossistemas existentes dentro de seus limites, como o pantanal de Marimbus, gerado pela confluência dos rios Santo Antônio, Utinga e São José com uma fauna e flora de grande valor ambiental, localizado ao sul da referida UC; formação geológica calcária, salitre, com inúmeras grutas e cursos d’água, além de formação montanhosa, a exemplo do Morro do Pai Inácio e Morro do Camelo. A gestão de áreas protegidas envolve desafios, como o mapeamento, a aplicação das restrições de uso dos bens naturais para a população local e o reconhecimento e a resolução de conflitos entre os atores sociais envolvidos (BENSUSAN, 2006). Este trabalho faz uso de técnicas de Sensoriamento Remoto ─ utilização conjunta de sensores, equipamentos de transmissão de dados, que subsidiam a observação da superfície terrestre ─ além de utilizar softwares de SIG capazes de realizar análises espaciais e complexas ao integrar dados de diversas fontes e ao criar bancos de dados georreferenciados. O objetivo principal é utilizar técnicas de Sensoriamento Remoto e SIG para avaliar espacialmente a APA Marimbuns/Iraquara, a fim de ter um diagnóstico prévio da situação ambiental da UC em questão. Figura 1 - Localização da área de estudo. Fonte: Sei 2010 e Inema 2014. Organizado pelos autores, 2015. 4587 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO 2 – Desenvolvimento Foram utilizados para o presente trabalho os softwares de geoprocessamento ArcGIS 10 e ENVI 4.6.1; imagens de satélite TM/Landsat-5, disponíveis gratuitamente no site do INPE; imagens ASTER GDEM e cartas de vegetação na escala 1:100.000 (extinta DDF/SEAGRI/BA, hoje SFC/SEMARH/BA). Para possibilitar a análise das áreas degradadas da supracitada Unidade de Conservação foram selecionadas imagens do satélite TM/Landsat-5, com resolução espacial de 30 metros e datadas de setembro de 2009. Este período foi escolhido por este mês ser considerado como estação seca, quando a vegetação ainda não sofre com stress hídrico e apresenta-se fotossinteticamente ativa, ou seja, não apresenta os efeitos da seca, como deciduidade da planta, impossibilitando uma análise mais precisa do comportamento da vegetação. Foi aplicado nestas imagens o Índice de Vegetação por Diferença Normalizada (NDVI). Este índice possibilita a análise da vegetação e as possíveis modificações na cobertura vegetal. O NDVI demonstra a diferença de energia refletida pela vegetação, condensando as informações espectrais e identificando áreas com presença de vegetação e áreas não vegetadas, sendo que os valores deste índice variam em uma escala de -1 a +1. Como ferramentas adicionais para subsidiar a análise da paisagem foram utilizadas a imagem ASTER GDEM e as cartas de vegetação. A primeira possui resolução espacial de 30 metros e permite gerar um modelo digital de elevação, onde é possível verificar as variações no relevo. A segunda, em escala 1:100.000, foi utilizada para auxiliar na interpretação dos dados do NDVI. O processamento das imagens foi desenvolvido em algumas etapas. Primeiramente, foi realizada uma padronização cartográfica dos dados no software ArcGIS 10. No software ENVI 4.6.1 foram realizados procedimentos de correção geométrica das imagens TM/Landsat-5 – a partir das imagens GEOCOVER de outubro de 2000, disponibilizadas gratuitamente no site da NASA –, composição colorida 3R4G5B, mosaicagem e recorte da Unidade de Conservação, da imagem TM/Landsat-5 e cálculo do NDVI. 4588 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO Figura 2 – Layouts gerados na escala 1:350.000. Fonte: Autores do artigo, 2015. O arquivo georreferenciado do Zoneamento Ecológico-Econômico - ZEE da APA Marimbus-Iraquara foi encaminhado pelo INEMA – Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos. O arquivo georreferenciado de cursos d’água advém da Base Digital da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais do Estado da Bahia – SEI, extraído a partir das cartas topográficas em escala 1:100.000. As informações sobre a Geologia da área em estudo são da base do Plano Estadual de Recursos Hídricos, também fornecidos pelo INEMA. Dessa forma, foram confeccionados Layouts no software ArcGIS 10 para a Unidade de Conservação supramencionada, a conter: recorte da imagem TM/Landsat-5, composição colorida 3R4G5B; Modelo Digital de Terreno; mapa de cobertura vegetal; resultado do NDVI; ZEE e Cursos D’água e Geologia. 3 - Resultados e discussão O Índice de Vegetação mais empregado na atualidade é o NDVI (Normalized Difference Vegetation Index) que, ao realçar o contraste da radiação refletida nos 4589 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO intervalos espectrais do vermelho e infravermelho, que é diretamente proporcional à atividade fotossintética, favorece a identificação das distintas fitofisionomias, bem como os impactos relacionados à atividade antrópica, o que foi possível verificar na área em questão. “A assinatura espectral característica de uma vegetação verde e sadia mostra um evidente contraste entre a região do visível, especificamente no vermelho, e do infravermelho próximo, e quanto maior for esse contraste, haverá maior vigor da vegetação na área imageada” (SHIMABUKURO et al., 1999). A análise do NDVI permitiu identificar áreas de vegetação na porção sul da mencionada APA, nas áreas mais altas e ao longo de alguns cursos d’água. As áreas em vermelho, laranja e amarelo possivelmente são formações rochosas ou áreas antropizadas (aglomerados urbanos, solo exposto, cultivos agrícolas), estas áreas estão localizadas em sua maioria, na parte central da UC estudada, em especial na Zona de Agropecuária. ± Figura 3 – Zoneamento Ecológico Econômico da APA Marimbuns Iraquara Fonte: Inema 1997. Organizado pelos autores. Vale ressaltar que na área central da APA está localizado o município de Iraquara, além de diferentes áreas de cultivo de tomate, mamona e cebola. 4590 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO Na parte sudeste da APA existe uma grande concentração de cavernas, tendo em vista o tipo de material existente, que dá origem a ambientes cárstico, o que confere a esta área um forte potencial turístico, sendo este um dos maiores movimentadores da economia da região. . Fonte – PERH 2004 e SEI 2010. Organizado pelos autores, 2015. Na parte central da UC, onde o NDVI indicou os menores índices, nota-se a menor densidade hídrica, segundo a base cartográfica disponibilizada pela SEI. Nesta área também estão localizados sumidouros de rios, tendo em vista que a área corresponde a uma das principais exposições de rochas carbonáticas do estado da Bahia (Souza et al. 1993). A compreensão ambiental da área de estudo necessita, além da utilização das técnicas de visualização espacial, o conhecimento de campo, para subsidiar políticas públicas eficientes, tendo em vista a fragilidade de grande parte da área estudada. Os tipos de uso, em especial a agricultura e a consequente retirada da 4591 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO vegetação, podem interferir diretamente na qualidade de água disponível, justamente por conta da presença dos planaltos cársticos, por exemplo, o que pode ser refletido na vida da população, qualidade ambiental e nas atividades turísticas existentes na região. A relevância da UC fica nítida quando comparada a existência da vegetação e o Zoneamento. As áreas com maior presença de vegetação são as que tem usos mais restritos ou moderados. Uma eficiente gestão, aliada ao cumprimento das determinações existentes no ZEE, permitem um uso concordante com a importância da área ambiental, possibilitando assim a manutenção da qualidade ambiental. 3 – Agradecimentos Agradecemos a CAPES pelo auxílio financeiro, que possibilita a pesquisa e ao Ministério Público do Estado da Bahia, pela estrutura física e auxílio na aquisição dos dados, auxiliando assim na execução do trabalho. 4 – Referências BAHIA (Estado). Decreto nº 2216, de 14 de janeiro de 1993. Cria a Área de Proteção Ambiental Marimbus/Iraquara, nos Municípios de Lençóis, Iraquara, Palmeiras e Seabra, e dá outras providências. BAHIA (Estado). Resolução nº 1.440 de 20 de junho de 1997. Aprova o Plano de Manejo e o Zoneamento da Área de Proteção Ambiental de Marimbus-Iraquara. BENSUSAN, Nurit. Conservação da Biodiversidade em áreas protegidas. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2006. MOREIRA, M. A. Fundamentos do sensoriamento remoto e metodologias de aplicação. 2. ed. 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