Antigo Império

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história do Antigo Egipto
A história do Antigo Egipto divide-se em dez períodos distintos, não incluindo a sua
pré-história:
1. Período pré-dinástico (Antes de 3100 a.C.)
2. Período Arcaico (1ª e 2ª dinastias)
3. Antigo Império (da 3ª à 6ª dinastias)
4. Primeiro Período Intermédio (da 7ª à 11ª dinastias)
5. Império Médio (12ª e 13ª dinastias)
6. Segundo Período Intermédio (da 14ª à 17ª dinastias)
7. Império Novo (da 18ª à 21ª dinastias)
8. Período Líbio (da 22ª à 25ª dinastias)
9. Período Tardio (da 26ª à 30ª dinastias)
10. Período Ptolemaico (304 a.C. - 30 a.C.)
11. Império Romano (31 a.C. - 337 d.C.)
12. Época Copta (337 - 641)
13. Conquista Árabe (641)
As mudanças de período indicam épocas de agitação política e social.
Tabela de conteúdo
[esconder]
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1 Período pré-dinástico
2 Período Arcaico
3 Antigo Império
4 Primeiro Período Intermédio
5 Império Médio
6 Segundo Período Intermédio
7 Novo Império
8 Período Líbio
9 Período Tardio
10 Ver também
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Período pré-dinástico
O mais antigo indivíduo "mumificado" data de cerca de 3300 a.C., embora não seja uma
verdadeira múmia. O corpo está patente no Museu Britânico e recebeu a alcunha de
"Ginger" por ter cabelo ruivo. O Ginger foi enterrado nas areias quentes do deserto,
talvez com algumas pedras empilhadas sobre o cadáver para evitar que este fosse
comido por chacais. As condições quentes e secas dissecaram o corpo, evitando que os
músculos e os tecidos moles se decompusessem. O Ginger foi enterrado com alguns
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recipientes de cerâmica, que teriam contido comida e bebida para sustentar o morto na
longa viagem até ao outro mundo. Não existem registos escritos sobre a religião ou
deuses do tempo, e não se sabe se era intenção dos antigos egípcios que o corpo fosse
preservado. Sabe-se apenas que quando começou a 1ª Dinastia já os egípcios tinham os
seus costumes estabelecidos.
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Período Arcaico
Sarcófagos no Museu do Louvre
O mais antigo faraó da 1ª Dinastia que se conhece foi Menes. Conhecemos o seu nome
porque está escrito numa paleta usada para a maquilhagem (só os homens usavam
maquilhagem). As práticas funerárias dos camponeses teriam sido as mesmas dos
tempos pré-dinásticos, mas os faraós mereciam algo melhor. Para eles inventou-se a
tumba em Mastaba (esta palavra provém da palavra egípcia moderna para "banco",
porque à distância se assemelham a um banco de lama). Numa tumba em mastaba, era
escavada uma câmara profunda, que era depois revestida com pedra, tijolos de lama ou
madeira. Na superfície, a lama era empilhada e ficava marcando o local uma forma
semelhante a um croquete. Embora isto resultasse numa tumba muito maior, também
resultava numa tumba muito mais fresca. O cadáver tinha tempo para se decompor e
apodrecer. E este facto iria preocupar os sacerdotes primitivos, que tinham teorias muito
claras acerca do Ka e do Ba do falecido. O Ka era aquilo a que hoje chamaríamos o
espírito, e era uma parte essencial da pessoa, quer ainda viva, quer depois de morta, se
bem que só depois da morte o Ka passasse a ser encarado como uma entidade. O Ba da
alma é mais semelhante a um fantasma. Era a parte da alma que vagueava pela terra,
composta pelo Ka e pelos restos físicos do corpo. A ausência de portas nas tumbas (ou,
pelo menos, a ausência de portas reais em contraponto às que eram pintadas nas
paredes) pode indicar que os antigos egípcios pensavam que o Ba podia atravessar
material sólido. Numa tentativa de preservar os corpos dos faraós falecidos, eles eram
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envolvidos em ligaduras e enrolados em posição fetal, mas nada podia evitar que se
decompusessem.
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Antigo Império
O Antigo Império foi um tempo de prosperidade no Egito. Os faraós uniram firmemente
a terra com um governo bastante centralizado. O Egito foi dividido em nomos, cada um
deles administrado por um monarca. Em geral, os monarcas eram parentes próximos
dos faraós e muito leais a eles.
Com a união entre o Alto e o Baixo Egito solidificada, os faraós voltaram sua atenção
para as expedições ao exterior com a intenção de aumentar a riqueza da nação. O Egito
olhava principalmente para o sul, em busca de ouro, e par o leste, em especial para
Serabit el- Khadim, no Sinai, onde havia cobre e turquesa. Os egípcios fundaram
assentamentos nesses locais e lutaram contra os beduínos, núbios, sírios, cananeus e
palestinos. Também estabeleceram assentamentos no oeste, no oásis de Bahariya no
deserto ocidental. Esse local era determinante para facilitar o comércio por terra. As
expedições às essas áreas tiveram o efeito desejado: a riqueza do Egito aumentou e os
faraós puderam gastar a recente fortuna conquistada em imensos monumentos.
O Antigo Império também presenciou o surgimento do culto solar. As pirâmides têm a
forma do benben***, onde Aton-Rá, o deus criador no culto solar, apareceu pela
primeira vez. Mais tarde no Antigo Império, o culto solar tornou-se mais dominante
com a construção de templos do sol em várias cidades por todo o Egito.
O Antigo Império começou com a subida ao trono da Terceira Dinastia, e a construção
das pirâmides teve início quase imediatamente. O segundo faraó da dinastia, Dsojer,
mandou construir a primeira pirâmide em Sacara. Imhotep, seu vizir, conhecido por sua
inteligência, também serviu como sumo sacerdote do culto solar em On (Heliópolis),
supervisionou a construção da pirâmide e foi seu arquiteto. A pirâmide, chamada de
"pirâmide de degraus", é, em essência, seis mastabas, uma sobre a outra, com cada nível
menor que o anterior. Ninguém sabe muito bem o que a pirâmide pretendia representar,
mas alguns arqueólogos imaginam que a idéia era de que o monumento tivesse a
aparência de uma escada para o céu.
***A colina que foi a primeira terra a se levantar das águas, de
acordo com a mitologia egípcia antiga.
Por volta da 4ª Dinastia, a arte do embalsamamento teve o seu início. Mas antes, uma
nota de cautela sobre embalsamamento, mumificação e preservação:
Embalsamar e mumificar, na essência, são a mesma coisa. Embalsamar (do latim in
balsamum, que significa "pôr em bálsamo", que é uma mistura de resinas aromáticas) é
muito semelhante ao processo de mumificação no sentido em que os cadáveres são
untados com unguentos, óleos e resinas. A palavra múmia provém de um mal-entendido
acerca do processo. Os corpos mal embalsamados (do Período tardio) são com
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frequência negros e muito quebradiços, e pensou-se que tinham sido preservados por
imersão em betume, sendo que a palavra árabe para betume é mumiya.
Existem muitas técnicas modernas para embalsamar um corpo, mas nenhuma estava
disponível no tempo dos antigos egípcios (congelamento, salmoura, etc.). O único
método que conheciam era a secagem do corpo na areia quente, o que deixava o corpo
bastante diferente de um corpo vivo e o transformava num local não muito apropriado
para o Ka. Essa também não era uma maneira muito referente para tratar o faraó. Mas a
resposta para estes problemas veio do Nilo.
O Nilo tem cheias anuais. Sem ele, o Egipto não seria mais do que um deserto
atravessado por um rio. As inundações trouxeram às margens do rio a argila
indispensável para tornar as terras férteis. Além disso, quando a cheia recua deixa ficar
atrás de si poças de água que secam ao sol e que, quando evaporam por completo,
deixam o solo coberto por uma substância cristalina branca, chamada natro. Uma
análise moderna desta substância revela-a uma mistura de bicarbonato de sódio e sulfato
de sódio ou carbonato de sódio com cloreto de sódio (sal). A qualidade mais notável
desta substância é a sua elevada hidroscopia. Atrai e absorve humidade. Além disso,
também é um pouco antisséptica. No Reino Antigo já se conheciam as propriedades
antissépticas do natro, e os órgãos internos da rainha Hetepheres foram retirados do
corpo e colocados numa solução de natro (de cerca de 3%), mas quando a caixa foi
aberta continha apenas lama. As primeiras tentativas de mumificação foram falhanços
completos, e isto era reconhecido pelos embalsamadores, que trataram de preservar a
forma do corpo, o que fizeram envolvendo-o em ligaduras embebidas em resina.
Tornaram-se tão bons nesta arte que um exemplar da 5ª dinastia, um músico da corte
chamado Waty, ainda mostra detalhes de verrugas, calos, rugas e características faciais.
A moda seguinte nas tradições funerárias começou com uma Mastaba glorificada. O
arquitecto desta edificação construiu seis Mastabas quadradas, cada uma um pouco
menor que a anterior, empilhadas umas sobre as outras. O arquitecto deste edifício
revolucionário foi Imhotep e o faraó para quem o túmulo foi construído chamou-se
Zoser (ou Djoser). Zoser pode ter sido o primeiro faraó da 3ª dinastia, mas este facto
não está confirmado. O desenho de Imhotep é actualmente conhecido como pirâmide de
degraus, e é encarado como protótipo para as pirâmides posteriores. Imhotep deve ter
sido um homem fora do comum. Numa terra onde o faraó era a personificação viva de
Deus, a grandeza do arquitecto foi reconhecida mesmo no seu próprio tempo (algo a que
muitos génios não tiveram o prazer de assistir) e foi-lhe atribuído o título de "Chanceler
do Rei do Baixo Egipto, Primeiro Depois do Rei do Alto Egipto, Administrador do
Grande Palácio, Nobre Hereditário, Sumo-Sacerdote de Heliópolis, Chefe Construtor,
Escultor e Fazedor de Vasos". É um título e peras para qualquer época.
Um parênteses sobre o Baixo e o Alto Egipto. O Baixo Egipto situa-se a norte e
corresponde à zona onde o Delta do Nilo deságua no Mar Mediterrâneo, e o Alto Egipto
situa-se a sul, desde o Deserto da Líbia até pouco depois de Abu Simbel. A razão para
esta designação aparentemente invertida é que o Egipto é o "Presente do Nilo" e como
tal tudo é medido em relação ao rio. O Nilo entra no Egipto no topo, e segue para baixo,
até sair através do fértil delta, para o Mediterrâneo, no Baixo Egipto.
Depois da primeira, várias outras pirâmides de degraus foram construídas, e algumas
foram abandonadas antes de estarem concluídas. Um exemplo notável é o da pirâmide
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torta. Com cerca de metade do edifício construído parece que os construtores recearam
que não iriam conseguir manter o ângulo a que estavam a construir, e decidiram mudálo para outro menos inclinado. O resultado foi uma pirâmide estranha, com o topo
subitamente encurtado.
Há sinais de que cerca de 2675 a.C., o Egipto começou a importar madeira do Líbano.
Cerca do ano 2575 a.C., o faraó Khufu (mais conhecido como Queóps) põe a sua marca
na paisagem. Foi para ele que a maior e a mais famosa de todas as pirâmides foi
construíuda; a Grande Pirâmide de Gizé. Esta pirâmide, quando se olha para o grupo de
pirâmides do planalto de Gizé, não parece ser a maior. Isto é assim porque aquela que
parece mais alta foi construída em terreno mais elevado; na realidade, é 10 metros
menor.
O faraó Khufu também foi responsável pelo envio de expedições à Núbia em busca de
escravos e outros valores. É pouco provável que estas pessoas tivessem sido utilizadas
na construção dos monumentos, pelo menos não de imediato, porque não existiriam em
quantidade suficiente. A Grande Pirâmide deve ter levado muitos anos a ser construída.
Uma teoria popular e convincente diz que os camponeses do Egito teriam construído,
eles mesmos, todos os templos e monumentos durante as cheias. Esta teoria é atraente
por muitos motivos. Quando o Nilo enche, o povo do Egipto não teria tido onde viver.
As cheias do Nilo chegam até à beira do deserto e as suas cheias teriam inundado todas
as áreas de cultivo e habitação. Se houvesse trabalho na construção dos monumentos
durante a estação das cheias, então os agricultores teriam a possibilidade de alimentar e
abrigar as suas famílias. Claro que tudo isso teria sido pago com bens provenientes dos
impostos que os agricultores teriam pago durante a época das colheitas, mas era essa a
natureza do governo. Esta ideia também explica como foi possível que o país se tivesse
tornado, e mantido, estável durante várias centenas de anos.
A construção de pirâmides continuou durante algum tempo. De facto, conhecem-se 80
sítios de pirâmides, embora nem todas permaneçam de pé.
Ainda no Antigo Império, o Egipto controlava as importações de cobre do Sinai,
especiarias e marfim da Mesopotâmia, vinho e azeite de Creta, ouro da Núbia e madeira
de Biblos.
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Primeiro Período Intermédio
Isto leva-nos pelas 5ª e 6ª dinastias, até ao Primeiro Período Intermédio. Há poucos
registos da época, uma vez que se trata de um período muito agitado.
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Império Médio
O faraó Amenemhat I pôs fim a este período agitado, voltou a unificar o país e mudou a
capital para o Egipto do Norte (o Baixo Egipto. Sesóstris I (filho de Amenemhat I) co-
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reinou com ele até ao seu assassinato. Sesóstris I foi capaz de tomar imediatamente o
controlo sem deixar que o país voltasse a resvalar para a agitação. Sesóstris I continuou
a travar guerra com a Núbia.
Em 1878 a.C., o faraó Senusret III tornou-se rei. Prosseguiu as campanhas militares na
Núbia e foi o primeiro a tentar estender o poder do Egipto até à Síria.
Mais tarde, Amenemhat III chegou ao poder. É visto como o maior monarca do Reino
Médio e fez muito em benefício do Egipto. Governou durante 45 anos.
Muitas das maiores acções dos reis da 12ª dinastia tiveram lugar fora do vale do Nilo.
Tal como antes, houve muitas expedições à Núbia, Síria e ao Deserto Oriental, em
busca de valores a minar e de madeira para transportar para o Egipto. Para além disso,
estabeleceu-se comércio com a Creta minóica.
Durante o Reino Médio, a fase seguinte em desenho funerário foram as tumbas
escavadas na rocha. Os melhores exemplos destas tumbas podem ver-se no Vale dos
Reis. Ainda se construíam grandes templos em áreas mais visíveis.
A 13ª dinastia é incluída frequentemente no Reino Médio, se bem que o período parece
ter sido um tempo de confusão e de príncipes estrangeiros provenientes da Ásia,
conhecidos por Hicsos, que se aproveitaram da instabilidade política no Delta do Nilo
para obter o controlo da área e mais tarde estender o seu poder para sul. Os Hyksos
trouxeram consigo a carruagem de guerra puxada a cavalo. Os egípcios não levaram
muito tempo a reconhecer o poder desta carruagem e a começar, eles próprios, a usá-la.
Seja como for, esta quebra no controlo central marca o início do Segundo Período
Intermédio.
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Segundo Período Intermédio
Foram os membros da 17ª dinastia que puseram fim à 13ª dinastia. Queriam manter a
cultura e tradições do Reino Médio e por isso expulsaram os Hicsos.
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Novo Império
A 18ª Dinastia anuncia o início do Novo Império. Neste Novo Reino, a forma dos
caixões mudou da forma rectangular do Império Médio para a familiar forma de múmia,
com cabeça e ombros arredondados. A princípio, eram decorados com penas esculpidas
ou pintadas, mas mais tarde passaram a ser pintados com uma representação do
falecido. Também eram sobrepostos como bonecas russas: um caixão externo de
grandes dimensões continha um outro mais pequeno, que por sua vez continha um
terceiro quase moldado ao corpo. Cada um dos caixões interiores era decorado de forma
mais elaborada que o imediatamente exterior. Datam desta época a maioria das múmias
que chegaram até nós.
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As técnicas de mumificação foram sendo gradualmente aperfeiçoadas com o uso de
natrão cristalino. Todos os tecidos moles, como o cérebro e os órgãos internos, eram
removidos, após o que as cavidades eram lavadas e enchidas com natrão, e o corpo
enterrado numa pilha de natrão. Os intestinos, pulmões, fígado e estômago eram
preservados separadamente e armazenados em vasos protegidos pelos quatro filhos de
Horus: Duamutef (estômago), Qebhsenuef (intestinos), Hapy (pulmões) e Imsety
(fígado). Tanto era o poder destes vasos que mesmo quando os órgãos passaram a
regressar ao corpo após a preservação (21ª dinastia), os vasos continuaram a ser
fornecidos.
Vários faraós conseguiram estender o domínio egípcio até mais longe do que quaisquer
dos seus antecessores, retomando o controlo da Núbia e estendendo o seu poder para
norte até ao Alto Eufrates e às terras dos Hititas e dos Mitanni.
É uma época de grande riqueza e poder para o Egipto. Ao tempo de Amenophis III
(1417 a.C. - 1379 a.C.), o Egipto tornara-se tão rico que deixou de procurar aumentar o
seu poder, e passou a descansar no seu trono coberto de ouro núbio.
Sucedeu-lhe o seu filho, Amenophis IV, que mudou de nome para Akhenaton. Mudou a
capital para uma nova cidade que construiu e a que chamou Akhetaten. Aqui, com a sua
nova esposa Nefertiti, concentrou-se em construir a sua nova religião e ignorou o
mundo fora do Egipto. Este facto permitiu que várias facções clandestinas, descontentes
com o seu novo mundo, crescessem. Uma nova religião era algo que nunca antes tinha
acontecido no Egipto. Antes, tinham chegado novos deuses, que foram absorvidos na
cultura egípcia, mas a nenhum deus novo foi permitido substituir os deuses antigos.
Akhenaton, por seu lado, criou uma religião monoteísta, o Aton. A adoração de todos os
outros deuses foi banida, e foi esta a causa da maior parte da agitação interna. Foi
tembém introduzida uma nova cultura artística, mais naturalista, e totalmente
revolucionária relativamente à tradição do friso estilizado que tinha dominado a arte
egípcia ao longo de 1700 anos.
Tutankhamon
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Para o fim do seu reinado de 17 anos, tomou como co-regente o seu irmão Smenkhkare.
O co-reinado durou apenas dois anos. Quando Akhenaton morreu, alguns dos velhos
deuses ressurgiram. Na verdade, nunca chegaram a desaparecer: o seu culto tinha
apenas passado à clandestinidade. Smenkhkare morreu depois de poucos meses de
reinado solitário, e seguindo à sua morte, foi coroado um jovem que não estava
preparado para as pressões de governar um país tão grande. Por isso, eram os seus
conselheiros que tomavam as decisões. O seu nome de baptismo foi Tutankhaton mas,
com o ressurgimento de Amon, foi rebaptizado Tutankhamon.
Um dos conselheiros mais influentes de Tutankhamon era o General Horemheb. O faraó
morreu ainda adolescente, e sucedeu-lhe Ay, o qual é possível que tenha casado com a
viúva de Tutankhamon a fim de reforçar o seu direito ao trono. É possível que
Horemheb tenha feito de Ay monarca para servir de rei de transição até que ele próprio
estivesse pronto para assumir o poder. Seja como for, quando Ay morreu foi Horemheb
quem o substituiu, dando início a um novo período de governo positivo. O novo faraó
tratou de estabilizar internamente o país e de restaurar o prestígio que ele tinha antes do
reinado de Akhenaton.
A 19ª dinastia foi fundada por Ramsés I. Ramsés I reinou durante pouco tempo, e foi
Seti I (também conhecido como Sethos I) que lhe sucedeu. Seti I continuou o bom
trabalho de Horemheb na restauração do poder, controlo e respeito do Egipto. Também
foi responsável pela creação do fantástico templo de Ábidos. Seti I e o seu filho,
Ramsés II, são os únicos dois faraós que se sabe terem sido circuncisados. Ramsés II
prosseguiu o trabalho do seu pai e creou muitos outros templos magníficos. Percy
Bysshe Shelley escreveu um poema em torno dele, chamado Ozymandias.
O reinado de Ramsés II é frequentemente citado como a data mais provável do êxodo
dos Israelitas do Egipto. No entanto, não existem registos na história do Egipto de
nenhum dos acontecimentos descritos na Bíblia, e também não existem provas
arqueológicas que os corroborem.
A Ramsés II sucedeu Ramsés III, que travou algumas batalhas e deu lugar a uma série
de reinados curtos, todos sob a direcção de faraós chamados Ramses.
Depois da morte de Ramsés XI, os sacerdotes, na pessoa de Herihor, tomaram por fim o
controlo do Egipto das mãos dos faraós. O país foi de novo dividido em dois, com
Herihor a controlar o Alto Egipto e Smendes a controlar o Baixo Egipto. Foram estes os
novos governantes, da 21ª Dinastia. Estes reis também foram conhecidos como Tanitas,
já que a capital do Império ficava em Tânis. O seu reinado não parece ter tido nenhum
outro marco, e foram subjugados sem luta aparente pelos reis líbios da 22ª Dinastia.
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Período Líbio
O Egipto tinha laços antigos com a Líbia, e o primeiro rei da nova dinastia serviu como
general o último governante da 21ª dinastia. Sabe-se que ele nomeou o seu próprio filho
para a posição de Alto Sacerdote de Amun, posto que anteriormente era hereditário. A
raridade e aglomeração dos registos escritos deste período sugerem que se tratou de uma
época instável. Parece ter havido muitos grupos subversivos, o que acabou por levar ao
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aparecimento da 23ª dinastia, que se desenrolou em simultâneo e em concorrência com
a 22ª. Depois da retirada dos egípcios do Sudão, um príncipe núbio tomou o controlo da
Baixa Núbia. A este príncipe sucedeu Piankhi, e foi este rei que tomou a decisão de
atacar o norte, num esforço de esmagar o seu oponente, que governava na região do
Delta do Nilo. Alcançou conquistas até Mênfis. A dado ponto o oponente de Piankhi,
Tefnakhte, aceitou submeter-se-lhe, mas foi-lhe permitido que permanecesse no poder
no Baixo Egipto, onde fundou a curta 24ª Dinastia.
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Período Tardio
Mênfis e a região do Delta tornaram-se alvo de muitos ataques dos assírios até que
Psammetichus conseguiu reunificar sob o seu controlo o Médio e o Baixo Egipto,
criando a 26ª dinastia e iniciando o Período Tardio. Em 656 a.C. tinha conseguido
estender o seu controlo por todo o Egipto. A dado ponto, sentiu-se suficientemente forte
para cortar todos os laços com a Assíria, e o controlo assírio desapareceu. Este período é
também conhecido como uma époda de esplendor renovado no Egipto. Durante o
reinado de Apries, foi enviado um exército para ajudar os líbios a eliminar a colónia
grega de Cyrene. A desastrosa derrota deste exército deu origem a uma guerra civil que
resultou na ascensão de Amosis II ao trono. Não se sabe muito acerca do seu reinado, à
excepção das notas gregas sobre o seu interesse primordial nas questões domésticas do
Egipto e na promoção de boas relações com os vizinhos. Amosis morreu em 526 a.C. e
um ano mais tarde, em 525 a.C., o Egipto caiu perante o poderio persa. Cambises
tornou-se então o primeiro rei da 27ª Dinastia.
A partir do século XVIII de nossa era
A
Â
B
C
C
F
G
H
H
H
I
J
começaram a surgir na Europa objetos de arte
egípcios, oriundos principalmente de escavações
realizadas em Menfis, e encarados ainda como
meras curiosidades. Amuletos, pequenas
estatuetas funerárias, fragmentos de manuscritos
e sarcófagos de pedra, alguns carregados de
longas inscrições hieroglíficas, foram, pouco a
pouco, chamando a atenção dos eruditos para o
sistema de escrita dos antigos egípcios.
Referências esparsas feitas por autores gregos e
latinos sobre a natureza dos sinais empregados
pelos egípcios aumentavam ainda mais a
curiosidade a respeito do assunto. A escrita dos
obeliscos que haviam sido trazidos para Roma
começou a ser estudada e assim surgiu um novo
ramo da arqueologia o qual, entretanto,
permaneceu estéril por muito tempo em virtude
da falsa direção que os eruditos imprimiram às
suas pesquisas.
9
K
L
M
N
O
P
Q
R
S
T
T
W
Y
Z
A tabela acima mostra os sinais monocon-sonantais ou, por
assim dizer, alfabéticos, da escrita egípcia. As letras indicam o
valor sonoro aproximado de cada figura. O Â indica um som
que só existe nas línguas semíticas: é o ayin hebraico. O C soa
como em ciência, enquanto
que o C soa como em Chile. O H indica um H gutural, enquanto
que o H indica um H áspero.
O L só apareceu na época ptolomaica. O M também aparecia na
forma de um sinal hierático bem simplificado: dois traços
horizontais paralelos unidos, à esquerda, por um traço vertical
inclinado.
Tomou-se como regra geral aquilo que os
autores clássicos haviam dito referindo-se apenas
a uma determinada classe de sinais e concluiuse que cada caracter hieroglífico represen- tava
uma idéia distinta, ou seja, que a escrita era
meramente ideográfica e não reproduzia — de
forma alguma — o som das palavras da língua
falada.
Baseado nesse princípio equivocado, o jesuíta Athanasius Kircher (1602-1680), conhecido por ter sido o inventor
da lanterna mágica, publicou, sob o título de Oedipus Aegyptiacus, pretensas traduções dos textos hieroglíficos
esculpidos nos obeliscos romanos. Champollion acusou-o de ter abusado da boa fé de seus contemporâneos ao
apresentar traduções com frases incoerentes, repletas de misticismo e às vezes obscuras e ridículas, nas quais nem o
autor acreditava, pois muitas vezes ousou apoiá-las sobre citações de autores que jamais existiram. Uma de tais
traduções, de um conjunto de sete hieróglifos, dizia: O criador de toda a fecundidade e todo o crescimento é o deus
Osíris, cuja força vivificante tira Santa Mofta do Céu para seu império. A tradução real, hoje se sabe, era:
Autocrata, senhor absoluto.
O fato é que durante muito tempo se acreditou que a escrita egípcia só era compreendida outrora pelos iniciados
religiosos e que seu teor referia-se unicamente a assuntos misteriosos, objeto de estudos reservados a uma pequena
casta privilegiada, e continha somente doutrinas ocultas e filosofia egípcia. Considerar a escrita totalmente
10
ideográfica só fazia reforçar a tese de que se tratava de uma doutrina sacerdotal secretíssima explicada através de
enígmas. Partindo de tais hipóteses, os estudos dos hieróglifos não podiam mesmo fazer qualquer progresso.
Faltava aos pesquisadores a única coisa que poderia levar ao sucesso da empreitada, isto é, o conhecimento prévio
da língua falada pelos antigos egípcios. Nem se cogitava em usar o conhecimento da língua como ferramenta da
decifração dos hieróglifos, embora se soubesse, mesmo nos primórdios do século XVII da nossa era, que os
manuscritos coptas trazidos do Egito por viajantes haviam sido concebidos na língua egípcia escrita com caracteres
legíveis, já que o alfabeto copta, ou seja, o alfabeto adotado pelos egípcios convertidos ao cristianismo, nada mais
era do que o alfabeto grego acrescido de alguns outros símbolos.
O padre Kircher publicou, em 1643, sob o título de Lingua Aegyptiaca Restituta, o texto e a tradução de
manuscritos árabes recolhidos no Oriente que continham a gramática da língua copta e um vocabulário copta-árabe,
obra que, apesar das imperfeições que apresentava, muito contribuiu para difundir o estudo da lingua copta. O
estudo desse idioma propagou-se na Europa atrelado ao interesse de interpretação da literatura bíblica. Estudiosos
demonstraram a vantagem que a filologia poderia retirar das noções encerradas nos textos coptas e explicavam por
tais meios um bom número de antigas palavras egípcias citadas por escritores gregos.
Um filologista de nome Paul-Ernest Jablonsky, homem dotado de vasta erudição, tentou explicar o sistema
religioso do antigo Egito reunindo e classificando as passagens esparsas dos autores gregos e latinos referentes às
atribuições das divindades egípcias e interpretando os nomes de tais divindades à luz dos vocabulários coptas. Tal
tentativa, aparentemente bem fundamentada, não obteria os resultados almejados pois, na verdade, os escritores
gregos e latinos apresentaram apenas noções parciais, locais e incompletas do sistema religioso egípcio e a
interpretação dos nomes das divindades feita por Jablonsky baseou-se em pequeno número de textos coptas, o que
não garantiu a inclusão no estudo de todos os radicais das palavras que formavam os nomes dos deuses egípcios e
também porque os gregos e latinos ao transcreverem os nomes fizeram alterações substanciais neles.
Na segunda metade do século XVIII de nossa era surgiram novas tentativas do mesmo gênero e todas infrutíferas.
O estudo dos hieróglifos acabou caíndo em descrédito e os resultados propalados atingiram as raias da
estravagância. Segundo uns, todas as inscrições egípcias eram relativas à astronomia. Outros achavam que
referiam-se aos preceitos sobre o conjunto ou os detalhes dos trabalhos nos campos e que cada divindade egípcia
representava uma das épocas da faina agrícola. Houve quem tentasse provar a origem comum dos povos da China e
do Egito e que a escrita chinesa era proveniente da escrita egípcia e, então, pretendeu-se interpretar os hieróglifos
com a ajuda unicamente dos dicionários da língua chinesa. Finalmente, um excêntrico pretendeu ter provado,
racionalmente, que as diferentes imagens que formam os hieróglifos nada tinham a ver com a escrita egípcia e
apenas eram simples ornamentos sem qualquer significado a não ser o estético.
Por essa época, um estudioso dinamarquês, de nome Zoëga, profundo conhecedor dos clássicos gregos e da língua
copta, publicou uma grande e importante obra sobre os obeliscos de Roma, na qual reuniu os principais resultados
de suas pesquisas sobre o antigo Egito. Ao tratar dos hieróglifos esculpidos sobre aqueles monumentos, procurou
compatibilizar entre si as noções fornecidas pelos escritores da antiguidade sobre o sistema gráfico dos egípcios.
Ainda que não tenha acertado completamente, conseguiu reduzir a questão a seus termos reais e foi o primeiro a
supor, vagamente, a existência de elementos fonéticos dentro do sistema de escrita egípcia. Entretanto, não deu
extensão maior a tais elementos e reduziu-os a alguns caracteres que precediam as expressões correspondentes,
como se os egípcios usassem o mesmo método do nosso jogo conhecido como carta enigmática.
Esse autor, que conhecia todos os tratados sobre interpretação dos hieróglifos publicados antes dele, combateu a
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idéia tão difundida de que aqueles sinais eram empregados por um pequeno número de adeptos e destinados apenas
à transmissão de segredos sacerdotais. Ele intuia que a mesma escrita usada nos monumentos, conhecida e praticada
pela parte letrada da população egípcia, também fora utilizada na redação habitual de textos relativos a todos os
assuntos, sacros ou profanos. Intuia, também, que uma escrita tão complicada e que exigia conhecimentos de
desenho não poderia ser introduzida facilmente no seio da massa da população. De fato, hoje sabemos que os
egípcios lançaram mão de dois métodos taquigráficos — o hierático e o demótico — empregados com o objetivo de
traçar os caracteres mais rápida e facilmente. Apesar de seus esforços, Zoëga não chegou a bom termo na decifraço
dos hieróglifos porque não abandonou totalmente o falso ponto-de-vista de que a maior parte dos sinais da escrita
egípcia eram meramente ideográficos.
A publicação da obra de Zoëga sobre os obeliscos se deu um pouco antes da expedição de Napoleão ao Egito. Tal
empreitada bélica e científica, já que vários eruditos avançavam junto com a tropa, deu um vivo impulso às
pesquisas arqueológicas sobre o império dos faraós. Os sábios franceses, por meio de desenhos fiéis, fizeram a
Europa conhecer a importância e o prodigioso número de monumentos antigos que existiam no Egito. Visões em
perspectiva, plantas e cortes mostravam o conjunto e os detalhes dos templos, palácios e túmulos e foram
publicados sob o título de Description de l'Egypte. Pela primeira vez o mundo erudito tinha uma idéia fiel da
civilização egípcia e da inesgotável riqueza dos documentos históricos contidos nas inúmeras esculturas e
ornamentos de tão imponentes construções. Saltava ainda mais aos olhos a necessidade de entender o sistema de
escrita egípcio. Por sua vez, a abundância dos textos recolhidos forneceu precioso material para novas pesquisas
sobre o assunto.
Um verdadeiro frenesi percorreu os círculos cultos da Europa quando se divulgou a descoberta de um monumento
bilingue encontrado em Roseta. Em agosto de 1799 um oficial de nome Bouchard, que fazia parte das tropas
francesas que ocupavam a cidade egípcia de Roseta (Rachid, em árabe), à beira do braço oeste do Nilo, em
escavações realizadas em um antigo forte, encontrou uma pedra de granito negro, de forma retangular, na qual uma
das faces, bem polida, mostra três inscrições em três caracteres diferentes. A inscrição superior, destruída ou
fraturada em grande parte, é uma escrita hieroglífica; o texto intermediário contém uma escrita egípcia cursiva e a
terceira e última divisão da pedra é ocupada por uma inscrição em língua e caracteres gregos. A tradução desse
último texto, contendo um decreto do corpo sacerdotal do Egito, reunido em Mênfis, em 196 a.C., para conferir
grandes honras ao rei Ptolomeu V Epifânio (205 a 180 a.C.), deu a plena certeza de que as duas inscrições egípcias
superirores continham a expressão fiel do mesmo decreto em língua egípcia e em duas escritas egípcias distintas: a
escrita sagrada em hieróglifos e a escrita vulgar em demótico.
É compreensível o entusiasmo pelo achado: a posse de textos egípcios acompanhados por sua tradução em uma
língua conhecida vinha, enfim, estabelecer pontos de partida e de comparação tão numerosos quanto incontestáveis.
Isso poderia levar com segurança ao conhecimento do sistema gráfico egípcio, através da análise combinada das
duas inscrições egípcias com a inscrição grega. As hipóteses foram abandonadas e os estudiosos concentraram-se
na pesquisa dos fatos. Marcharam, então, ainda que lentamente, em direção aos resultados positivos.
Em 1802 um ilustre erudito francês, o barão Silvestre de Sacy, examinou o texto demótico da pedra de Roseta e
comparou-o com o texto grego. Nos resultados que publicou estabeleceu as primeiras bases da decifração do texto
intermediário ao determinar os grupos de caracteres que correspondem aos nomes próprios de Ptolomeu, Arsinoe,
Alexandre e Alexandria, mencionados em diversas ocasiões no texto grego.
Logo após um orientalista sueco, de nome Johan David Ackerblad (1763-1819), homem de grande erudição e
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profundo conhecimento do copta, também comparou os dois textos e publicou uma análise dos nomes próprios
gregos citados na inscrição em demótico e de tal análise extraiu um curto alfabeto egípcio demótico ou popular.
Entre os dez nomes que ele identificou estavam o de Berenice e de Ptolomeu e também reconheceu, através do
conhecimento que tinha de seus equivalentes em copta, as palavras gregos e templos e os pronomes lhe e seu.
Entretanto, esse pesquisador, embora tenha sido feliz ao analisar os nomes próprios gregos, não obteve resultado ao
tentar aplicar à leitura das outras partes da inscrição em demótico o conjunto de sinais dos quais ele acabara de
constatar o valor na expressão escrita desses nomes próprios gregos. Não tendo deduzido, de um lado, que os
egípcios ao escreverem as palavras suprimiam em grande parte as vogais mediais e não supondo, por outro lado,
que muitos dos sinais empregados no texto podiam pertencer à classe dos caracteres ideográficos, o sueco, cansado
de vãs tentativas, colocou a pesquisa de lado. Entretanto ficou provado, pelos estudos do erudito francês e do
orientalista sueco, que a escrita vulgar dos antigos egípcios exprimia os nomes próprios estrangeiros por meio de
sinais verdadeiramente alfabéticos.
Seria compreensível que o primeiro texto a ser estudado na pedra de Roseta fosse o que está grafado em
hieróglifos. Seria lógico compará-lo com o texto grego para se obter algumas noções exatas sobre a essência
daqueles sinais. Entretanto, não foi o que ocorreu. Provavelmente a demora no estudo do texto em hieróglifos foi
devido ao mau estado da pedra, pois as fraturas fizeram desaparecer uma grande parte daquela escrita. Para se ter
uma idéia, basta dizer que enquanto o texto em grego apresenta 54 linhas, o texto em hieróglifos tem apenas 14. Se
esse setor estivesse inteiro, com certeza teria sido poupado muito trabalho aos pesquisadores.
Os autores da obra Description de l'Egypte não se ocuparam dos diversos tipos da escrita egípcia. Entretanto,
publicaram excelentes fac-símiles de manuscritos hieroglíficos e hieráticos, bem como cópias bastante fiéis de um
grande número de inscrições encontradas nos monumentos egípcios. Reconheceram, no meio delas, a existência de
alguns caracteres simbólicos mencionados pelos autores gregos, mas trataram apenas de forma genérica as questões
relativas à natureza e às combinações dos sinais elementares.
Um cientista inglês, Thomas Young (1773-1829), soube aplicar ao exame comparativo dos três textos da pedra de
Roseta um espírito de método geralmente só adotado nas ciências físicas e matemáticas. Ele reconheceu nas partes
ainda existentes das inscrições demótica e hieroglífica, através de comparação totalmente material, os grupos de
caracteres correspondentes às palavras empregadas na inscrição grega. Tal trabalho, resultado de uma abordagem
sagaz, estabeleceu finalmente algumas noções exatas sobre os dois ramos do sistema gráfico egípcio e de suas
respectivas ligações. Ele acabou fornecendo provas materiais da assertiva dos antigos de que os egípcios
empregavam caracteres tanto figurativos quanto simbólicos na sua escrita. Mas a natureza íntima dessa escrita, suas
relações com a língua falada, o número, a essência e as combinações de seus elementos fundamentais ainda
restavam incertos e hipotéticos.
Young, assim como os autores da Description de l'Egypte, não separou de maneira marcante a escrita demótica da
hierática e encarou como semelhates dois sistemas de natureza inteiramente opostos. Em 1816 ele acreditava na
natureza alfabética da totalidade dos sinais que formavam o texto intermediário da pedra de Roseta e se esforçou
em determinar, por meio do alfabeto estabelecido por Ackerblad acrescido de vários novos sinais aos quais ele
atribuiu um valor fixo, a leitura de 80 grupos de caracteres demóticos extraidos daquela estela. Por outro lado, em
1819, abandonando inteiramente a idéia da existência real de sinais verdadeiramente alfabéticos no sistema gráfico
egípcio, Young afirmou, ao contrário, que a escrita demótica e a dos papiros hieráticos pertenciam, assim como a
escrita hieroglífica, a um sistema composto de caracteres puramente ideográficos. Entretanto, convencido de que a
maior parte dos nomes próprios mencionados no texto demótico da pedra eram suscetíveis de uma espécie de
leitura com o alfabeto de Ackerblad, ele concluiu que os egípcios, somente para transcrever os nomes próprios
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estrangeiros, usavam, como os chineses, sinais realmente ideográficos mas desviados de sua expressão usual para
que, incidentalmente, pudessem representar sons. Persuadido disso, o cientista inglês tentou analisar dois nomes
próprios escritos em hieróglifos: Ptolomeu e Berenice. Tal análise, baseada em um falso princípio, em nada
resultou. Apesar de tais titubeios, Young demonstrou que a hipótese aventada por outros estudiosos de que os
grupos de hieróglifos escritos no interior de anéis ovalados, os assim chamados cartuchos, eram nomes de reis,
estava correta.
Nessa época a questão relativa à natureza elementar do sistema hieroglífico permanecia inalterada: os escribas
egípcios grafafam de forma ideográfica ou exprimiam as idéias anotando o próprio som das palavras? Os trabalhos
de Champollion demonstraram, então, que a verdade se achava precisamente entre essas duas hipóteses extremas,
ou seja, o sistema gráfico egípcio como um todo empregava, simultaneamente, sinais ideográficos e sinais
representando sons. Ele demonstrou, também, que os caracteres fonéticos, da mesma maneira que as letras do nosso
alfabeto, longe de se limitarem apenas a exprimir os nomes próprios estrangeiros, formavam, ao contrário, a parte
mais considerável dos textos hieroglíficos, hieráticos e demóticos egípcios e representavam, combinando-se entre
si, os sons e as articulações das palavras próprias da língua falada egípcia. Tais pontos fundamentais foram
expostos pelo decifrador dos hieróglifos pela primeira vez em 1824, na sua obra intitulada Précis du système
hiéroglyphique. Esses princípios foram aplicados a inumeráveis monumentos quando Champollion passou 16
meses por entre as ruínas do Alto e do Baixo Egito e revelaram-se exatos e precisos. Ao aplicá-los, ele foi capaz de
ler as porções fonéticas dos textos, que na realidade constituem três quartas partes ou mais de cada texto
hieroglífico.
Disso me resultou a plena convicção — afirmou Champollion — de que a língua egípcia antiga não difere em
nada de essencial da língua vulgarmente chamada copta; que as palavras egípcias escritas em caracteres
hieroglíficos sobre os mais antigos monumentos de Tebas e em caracteres gregos nos livros coptas têm um valor
idêntico e não diferem em geral a não ser pela ausência de certas vogais mediais, omitidas, segundo o método
oriental, na ortografia primitiva. Os caracteres ideográficos ou simbólicos, misturados aos caracteres de sons, são
bastante diferentes; eu pude deduzir as leis de suas combinações, seja entre eles, seja com os sinais fonéticos e
cheguei sucessivamente ao conhecimento de todas as formas e notações gramaticais expressas nos textos egípcios,
sejam hieroglíficos, sejam hieráticos.
O texto acima é uma tradução livre de trechos do
discurso que Champollion proferiu, em 10 de maio de
1831, no Collège Royal de France, na aula inaugural de
seu curso sobre a gramática egípcia.
A Decifração dos Hieróglifos — Parte 2
Retorna
14
Mas afinal, de que
maneira Champollion
chegou à decifração dos
hieróglifos? A primeira
palavra do texto em
grego da pedra de Roseta
que ele identificou entre
os hieró-glifos foi o nome
de Ptolo-meu, formado
por oito sinais
envolvidos por um cartucho. Inicialmente teve dificuldades em interpretar os símbolos porque continuava apegado
à idéia de que a escrita egípcia era ideográfica. Quando raciocinou que por ser um nome grego, ou seja, estrangeiro,
dificilmente poderia ter sido grafado com ideogramas, e que provavelmente fora escrito da maneira como era
pronunciado, procurou transpor o nome da língua grega para a egípcia. Para alcançar esse objetivo o linguista
francês percorreu um caminho reverso. Partindo da forma grega do nome, Ptolemaios, verteu o nome, som a som,
do grego para o copta, deste para o demótico, daí para o hierático e, finalmente, para os hieróglifos. O resultado a
que chegou foi Ptolmys. Embora ele soubesse que sinais inscritos em uma elípse indicavam o nome de um faraó,
não sabia estabelecer o sentido da leitura e, assim, não era possível descobrir a correspondência entre as letras e os
hieróglifos.
Quando Champollion teve acesso à
inscrição de um obelisco descoberto em
Philae, as coisas se tornaram mais claras. O
monumento também continha um texto
grafado em hieróglifos, demótico e grego,
no qual aparecia o nome de outro faraó,
Ptolomeu Evergetes II, e, pelo que pode ser
deduzido pela inscrição grega ao pé do
obelisco, o de sua esposa Cleópatra III.
Comparando os cartuchos de Ptolomeu e
Cleópatra, notou que possuíam em comum
os sinais que representavam as letras P, T,
O e L. Havia um pequeno complicador
porque os dois sinais para a letra T eram diferentes em ambos os cartuchos. Ele deduziu, porém, acertadamente, que
eram sinais homófonos, isto é, eram símbolos iguais para o mesmo som como o que acontece, por exemplo, com F
e PH. A conclusão lógica foi a de que alguns hieróglifos tinham mesmo o valor de letras. Desse ponto em diante
seus trabalhos tomaram rumo decisivo. A partir das quatro letras conhecidas foi possível deduzir, por suas posições,
as que faltavam. Passou a contar, então, com um total de 12 fonogramas identificados. Aplicou-os a um terceiro
cartucho e conseguiu decifrar o nome de Alexandre, escrito como Alksentrs.
Na evolução dos estudos, Champollion começou a deduzir os princípios da escrita egípcia. Considerando os
símbolos isoladamente e tomando seus nomes em copta, percebeu a equivalência entre o valor do hieróglifo e a
primeira letra da palavra naquela língua. Por exemplo, o leão, pronunciado labor em copta, tinha o valor da letra L;
15
o desenho da mão, toot em copta, tinha o valor da letra T; o desenho da boca, ro em copta, tinha o valor da letra R, e
assim sucessivamente. Partindo de sons simples assim isolados e aplicando seus valores fonéticos em todos os
trechos em que apareciam, ele buscava, a seguir, ajuda no texto grego para imaginar que som, em copta, poderia ter
a tradução de determinada palavra grega. Até aqui ele estava convencido de que o seu método de tradução
funcionaria com todos os nomes não egípcios. Tendo reunido cartuchos do período greco-romano da história
egípcia, Champollion conseguiu decifrar 79 nomes de reis para os quais identificou todas as letras. Quando,
finalmente, em setembro de 1822, examinou cartuchos de nomes de faraós puramente egípcios — Ramsés e Tutmés
(Tutmósis) — e conseguiu decifrá-los, percebeu que havia encontrado realmente a chave do entendimento da
escrita hieroglífica.
Decifrar o significado dos sinais hieroglíficos e mesmo ler nomes de reis de pouco adiantaria se não fosse
possível traduzir os textos nos quais esses elementos estavam inseridos. Um dos principais fatores que permitiram a
tradução foi o fato da língua copta ter sobrevivido até o século XVI da nossa era como a língua da população cristã
do Egito. Mesmo na atualidade ela ainda é lida, embora não entendida, nas igrejas coptas. Seu vocabulário é
constituido de palavras egípcias suplementadas por um considerável número de palavras emprestadas diretamente
do grego. Profundo conhecedor do copta que era, Champollion tinha condições de traduzir palavras gregas da pedra
de Roseta para aquela língua. Depois que descobriu os princípios da escrita egípcia, passou a procurar nos locais
adequados do trecho em hieróglifos as palavras cujas "letras" correspondiam àquelas das suas traduções em copta.
A tarefa era dificultada pelo fato dos egípcios não separarem as palavras umas das outras. Na medida em que
aumentou o número de hieróglifos decifrados, ele inverteu o processo e passou a traduzir para o copta palavras que
ele podia ler em hieróglifos e, assim, entender o seu significado. Havia limitações nesse esquema porque eram
poucas as palavras egípcias que haviam sido preservadas em copta e outras haviam sido tão deturpadas nessa última
linguagem que era difícil reconhecer suas origens no idioma egípcio. Nos casos em que o copta não podia ajudar na
interpretação de uma palavra, Champollion recorria a métodos dedutivos, baseado nas várias ocorrências de uma
mesma palavra em contextos diferentes, ou ao hebreu, idioma no qual foram preservadas muitas palavras do tronco
comum semítico, as quais também foram incorporadas à linguagem egípcia. Desta maneira os egiptólogos puderam
fazer a leitura de praticamente todos os sinais hieroglíficos e entender o significado de grande parte do vocabulário
egípcio.
O grande mistério que envolvia a decifração dos hieróglifos era devido ao fato de que a estrutura desse sistema de
escrita combina três categorias de símbolos: os fonogramas (do grego phone = som + gramma = caracteres
escritos), os ideogramas (do grego idea = idéia + gramma = caracteres escritos) e os determinativos. Ao contrário
do que geralmente se pensa, a escrita hieroglífica é em parte fonética. Muitos dos símbolos funcionam como
fonogramas, ou seja, são sinais gráficos que representam um som fundamental (fonema) ou uma sequência de
fonemas. Nesses casos se emprega uma imagem não para significar o que ela representa, mas apenas pelo valor
fonético daquilo que ela representa. Por exemplo: a figura de uma lebre não é usada geralmente para escrever lebre,
mas sim para grafar os dois sons fundamentais que entram na palavra que significa lebre em egípcio, isto é, o W e o
N. Os fonogramas são sempre consonantais, pois a escrita hieroglífica não grafa as vogais. A prática usual dos
estudiosos ao traduzirem um texto hieroglífico consiste em intercalar entre as consoantes as letras e ou o, mas isso é
meramente convencional. É por isso que os nomes próprios egípcios de faraós e personagens importantes são
grafados por vezes de formas diferentes.
Há três categorias de fonogramas. Aqueles que representam apenas um som são chamados de sinais "alfabéticos".
Eles formam um pequeno conjunto cujos componentes equivalem, aproximadamente, do ponto de vista sonoro, às
letras do nosso alfabeto. A figura da boca, por exemplo, representa a letra R; o desenho da mão, a letra T e um
pedaço de tecido dobrado, a letra S. Os fonogramas que representam dois sons, isto é, sinais que grafam uma
sequência de duas "letras", chamados de biliterais, são, teoricamente, mais de 600, considerando-se o número de
16
combinações possíveis com os diversos sinais "alfabéticos". Na prática, apenas 90 eram empregados. Alguns
exemplos são o desenho de uma cesta, representando as letras NB; a figura de uma lebre, significando WN; um
rosto, indicando as letras HR. Finalmente, os fonogramas que representam três sons, ou seja, grafam uma sequência
de três "letras", denominados triliterais, são cerca de 60. Entre eles figuram um coração e uma traquéia, símbolo das
letras NFR; uma tira de sandália, que era lida como NKH e um pão sobre uma esteira, grafia das letras HTP.
Enquanto que os fonogramas grafam a palavra decompondo-na em seus sons fundamentais, os ideogramas
escrevem-na de maneira global. Eles indicam o significado de uma palavra pictoricamente, sem mostrar como deve
ser lida. Exemplificando: posso escrever Sol foneticamente; mas também posso escrever ideograficamente,
empregando o desenho do Sol. Os símbolos empregados como ideogramas significam aquilo que eles representam e
outras idéias que possam estar associadas a ele. O ideograma do Sol, por exemplo, pode significar o astro em si ou
qualquer outra palavra de sentido associado ao Sol e suas características como luz, brilho, dia, pôr-do-Sol, etc. O
ideograma de um barco pode significar vários tipos de embarcação como bote, barcaça, navio e também verbos
referentes à navegação. Para distinguir uma palavra da outra os egípcios usavam os sinais determinativos, como
veremos mais adiante.
Nessa categoria dos ideogramas, quando a idéia é abstrata e difícil de exprimir com uma só figura, seria natural
que os escribas criassem uma espécie de enigma figurado combinando duas ou mais imagens para escrever a
palavra. E eles faziam exatamente isso. Em português, por exemplo, poderíamos desenhar a figura de um
bochechudo deus dos ventos e um rosto contraído para escrever a palavra ardor. A relação entre representação e
significado pode ser direta ou indireta. É direta, por exemplo, quando se mostra um contorno com um palácio no
ângulo para significar recinto, palácio. É indireta, por exemplo, quando se mostra um falcão para significar o nome
do deus Hórus. Dos aproximadamente 700 hieróglifos que eram de utilização frequente no cotidiano, pelo menos
100 sempre permaneceram ideográficos e nunca se tornaram símbolos fonéticos. É curioso notar que um sinal
ideográfico, além de representar a palavra que retratava, também podia exercer o papel de um determinativo para a
representação fonética da mesma palavra. Exemplificando: o desenho de um obelisco, palavra grafada tekhen em
egípcio, podia significar exatamente isso — obelisco. Mas também podia vir após os hieróglifos fonéticos das
consoantes t+kn+n como um determinativo do significado da palavra obelisco.
Finalmente, os determinativos são sinais que, colocados no final de uma palavra, têm a função de indicar em que
classe semântica se enquadra a palavra que eles determinam. São, portanto, classificadores, puramente gráficos, e
sem correspondentes na língua falada. Por exemplo: tudo aquilo que implica a idéia de violência é seguido pelo
sinal de um braço armado; termos que designam seres de prestígio se encerram com um homem barbudo sentado; o
determinativo de água se emprega com as palavras que designam as grandes extensões de água, os líquidos, e
mesmo com aquelas que significam ter sede ou matar a sede. Embora os determinativos não fossem de uso
obrigatório, tinham importante papel na escrita. Permitiam, por exemplo, que se fizesse a distinção entre palavras
homófonas. Os termos ser estabelecido e sofrer eram escritos da mesma maneira: MeN. O que distinguia as duas
palavras era o determinativo de abstrato (um papiro selado), no primeiro caso, e o determinativo de mal (um
pardal), no segundo. O professor Lionel Casson nos mostra um outro exemplo: As letras hnu podiam ser
pronunciadas como qualquer coisa desde hiniu a ohanou e ter vários sentidos diferentes. Por isso a palavra nunca
é encontrada sem um de vários determinativos: um vaso de cerveja para indicar a palavra de uma medida para
líquidos; um homem fazendo o sinal ritual de regozijo para indicar a palavra correspondente a alegria, e as
figuras de um homem e de uma mulher sobre um símbolo de plural (três traços paralelos) para indicar a palavra
que significava vizinhos ou companheiros. Graças a esse sistema, os egípcios podiam usar o mesmo grupo de
letras para indicar até 10 palavras inteiramente diferentes.
17
Ainda para esclarecer o emprego dos determinativos, façamos de conta que queremos escrever com hieróglifos
palavras da língua portuguesa. Tomemos, por exemplo, a palavra ramo. O desenho de um ramo de árvore pode
representar não só a palavra ramo em si, mas também todas as palavras que contenham o grupo consonantal RM:
Roma, aroma, remo, arma, rima, Remo, etc. Ao escrever uma frase como cortei um ramo de árvore o hieróglifo do
ramo seria usado sem qualquer determinativo. Nos demais casos o ramo seria acompanhado por um hieróglifo que
representasse cidade, para a palavra Roma; um nariz, para a palavra aroma; um remo, para a palavra remo; um
braço armado para a palavra arma; um sinal de conceito abstrato (um papiro selado), para a palavra rima e um
homem sentado para o nome próprio Remo. Se quisséssemos esquever Rômulo, acrescentaríamos ao ramo a letra L
(a figura de um leão) e mais um homem sentado para indicar tratar-se de um nome próprio. Além de servir muito
adequadamente para distinguir palavras homófonas, o determinativo tinha a vantagem de delimitar as palavras
dentro da sucessão contínua dos sinais da escrita, já que não havia espaços em branco entre elas. São essas,
portanto, as três funções que os hieróglifos podiam desempenhar: fonogramas, ideogramas e determinativos.
Alguns sinais exerciam apenas uma delas. Outros podiam exercer, alternativamente, duas ou até mesmo as três
funções. Aparentemente isso tudo poderia gerar uma infinidade de combinações e uma grande confusão. Na prática
as mesmas palavras eram quase sempre escritas do mesmo modo.
Não havia regras fixas para a combinação das três categorias de sinais. Isso dependia dos usos e de tradições, as
quais variaram ao longo do tempo. Entretanto, alguns princípios fundamentais permaneceram estáveis, como se
segue:
1) Os sinais puramente ideográficos estavam essencialmente limitados aos nomes das divindades e aos termos do
vocabulário fundamental. Frequentemente o ideograma é identificado como tal por um traço que o acompanha.
Assim, o desenho de uma boca com o traço representa, ideograficamente, boca, fórmula, enquanto que o mesmo
desenho sem o traço é o sinal alfabético para R;
2) Com muita frequência as palavras são escritas com a ajuda de fonogramas, geralmente seguidos de um ou vários
determinativos, como já vimos nos exemplos dados acima. Assim, SeKHeR, que significa plano, diretiva, era
escrito com os fonogramas S, KH e R, seguidos do determinativo de abstrato (um papiro selado);
3) Os fonogramas são correntemente empregados de forma redundante para explicitar parcial ou totalmente um
ideograma, ou até mesmo um outro fonograma. A figura de um escaravelho pode significar, por si só, KHePeR,
cujo sentido é nascer, vir a ser. Esse hieróglifo é frequentemente combinado com o sinal alfabético R e, nesse caso,
não se lê KHePeR+R, mas apenas KHePeR, pois o R é uma redundância, ou seja, um complemento fonético. Os
complementos fonéticos podem funcionar em vários graus. Um ideograma ou um fonograma de dois ou três sons
podem ser explicitados por outros fonogramas. Por exemplo, a figura de um muro, ideograma para a palavra JeNeB,
que significa exatamente muro, pode ser explicitado por JeN (um peixe) e o sinal alfabético B, enquanto que esse
mesmo JeN é, por sua vez, explicitado pelos sinais alfabéticos J e N.
Se tudo isso parece confuso para você, com certeza não o era para os escribas. Ao escrever uma palavra ele
poderia, na maioria dos casos, adotar um dentre vários métodos diferentes. Podia simplesmente escrever o
ideograma, geralmente acompanhado por um traço vertical sob ele, indicando que aquele sinal tinha valor de
ideograma. Com maior frequência, entretanto, ele usaria fonogramas seguidos por um ideograma, ou seja, por um
determinativo que esclareceria o sentido geral da palavra. Quando existisse um sinal biliteral ou triliteral adequado
o escriba o empregaria e, frequentemente, lhe acrescentaria alguns sinais alfabéticos, mesmo que estes já estivessem
incluídos no fonograma. Tão incômoda e ilógica parece ser essa multiplicidade de sinais, — comenta o egiptólogo
T. G. H. James — que é difícil de entender o processo de raciocínio pelo qual eles evoluiram, e ainda mas difícil de
imaginar porque teriam continuado com tão pouca alteração durante um período de tempo tão longo.
Conforme já dissemos, os egípcios não escreviam as vogais. Elas apenas eram grafadas quando eram
18
semiconsoantes, ou seja, quando exerciam função de consoante. Tal fato não é surpresa para o mundo moderno que
conhece as línguas árabe e hebraica, as quais também não escrevem as vogais. Porém, como diz com muita graça o
escritor Federico Mella, em caso de necessidade, há sempre um árabe ou um israelense por perto para tirar-nos as
dúvidas, ao passo que entre nós não existe nenhum antigo egípcio para nos ensinar. Na maioria dos casos as vogais
não eram escritas e torna-se difícil para nós, e frequentemente impossível, imaginar qual teria sido a pronúncia
correta de tais palavras. Quando viável, os estudiosos baseiam-se nas palavras coptas correspondentes. Vejamos os
exemplos dados por aquele autor: O deus de Tebas se escreve IMN. Eis por que os gregos chamavam de Amenófis,
Amenmenes, etc., os faraós que traziam nomes a ele dedicados; é provável que a dicção certa fosse Amen, como
prefixo, e Amon sozinho. Outro exemplo é o nome de Nefertiti que se escrevia NFRTIITI, obviamente de difícil
pronúncia. Visando somente superar estas dificuldades fonéticas, espalhou-se o uso de inserir entre as consoantes
a vogal E e até mesmo outra se possível. Por esta razão nós chamamos a bela rainha Nefertiti ou Nefertite. É
provável que a dicção mais adequada seja Nofretiti. Mas trata-se apenas de um método circunstancial, ao qual se
recorre na falta de apontamentos, isto é, quase sempre; e também não constitui norma. Por exemplo, o nome do
deus de Mênfis se escreve PTH, e se lê comumente PTAH, e não Peteh ou Petehe. Acrescentamos que esse H era
áspero, mas permanece o fato de que não sabemos como soava no idioma egípcio — salvo em poucas exceções de
que se tem conhecimento. E o autor conclui: Deparamos com diversas dificuldades diante da escrita etrusca:
podemos lê-la, mas não traduzi-la. Aqui, pelo contrário, podemos traduzi-la, mas não pronunciá-la. Isto causa com
frequência muitas desigualdades na maneira de escrever os nomes dos faraós e das cidades.
NOTA: O nome de Ptolomeu era escrito PTOLMIIS. O de Cleópatra era grafado QLIOPATRAT. O T final era uma
desinência feminina, comum a todos os nomes femininos egípcios, o que também se usava em copta e Champollion
bem conhecia. O último sinal, um ovo, enfatizava novamente que se tratava de uma mulher.
A Pedra de Roseta
A Decifração dos Hieróglifos — Parte 1
Retorna
A
A
A
A
A
A
Pedra
Pedra
Pedra
Pedra
Pedra
Pedra
de
de
de
de
de
de
Roseta
Roseta
Roseta
Roseta
Roseta
Roseta
A
A
A
A
A
Pedra
Pedra
Pedra
Pedra
Pedra
de
de
de
de
de
Roseta
Roseta
Roseta
Roseta
Roseta
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A expedição militar e científica que o imperador
Napoleão realizou ao Egito trouxe consigo, entre outras
inúmeras antiguidades, uma pedra encontrada em agosto
de 1799 por soldados franceses que trabalhavam sob as
ordens de um oficial chamado Bouchard. Na luta contra
ingleses e turcos, eles estavam restaurando e preparando
os alicerces para ampliação de um antigo forte
medieval, posteriormente chamado de Forte de São
Juliano, nas proximidades da cidade egípcia de Rachid
(que significa Roseta, em árabe), localizada à beira do
braço oeste do Nilo, perto de Alexandria, junto ao mar.
Dois anos depois, pelo Tratado de Alexandria, o achado
foi cedido aos ingleses e hoje se encontra no Museu
Britânico de Londres.
Tendo ficado conhecida como Pedra de Roseta, é uma
estela de basalto negro, de forma retangular, medindo
112,3 cm de altura, 75,7 cm de largura e 28,4 cm de
espessura e que numa das faces, bem polida, mostra três
inscrições em três caracteres diferentes, em parte gastas
e apagadas em virtude do contato com a areia por
milênios. Na parte superior, destruída ou fraturada em
grande parte, vê-se uma escrita hieroglífica com 14
linhas; o texto intermediário contém 22 linhas de uma
escrita egípcia cursiva, conhecida como demótico, e a terceira e última divisão da pedra é ocupada por uma
inscrição de 54 linhas em língua e caracteres gregos. Os três textos reproduzem o mesmo teor de um decreto do
corpo sacerdotal do Egito, reunido em Mênfis, em 196 a.C., para conferir grandes honras ao rei Ptolomeu V
Epifânio (205 a 180 a.C.), por benefícios recebidos.
Apesar da aparência insignificante da pedra, os estudiosos logo perceberam o seu valor pelo fato de apresentar
textos egípcios acompanhados por sua tradução em uma língua conhecida, o que vinha, enfim, estabelecer pontos
de partida e de comparação tão numerosos quanto incontestáveis. Por ordem de Napoleão Bonaparte a estela foi
reproduzida e litografada e várias cópias enviadas a diversos especialistas em línguas mortas. Entretanto, passaramse 23 anos desde a data de sua descoberta até que um homem, Jean-François Champollion, pudesse decifrar
integralmente o seu conteúdo.
A Pedra de Roseta estará eternamente ligada ao nome de Champollion, pois foi ela que serviu de base aos estudos
que o levaram finalmente à decifração dos hieróglifos. A verdade é que, ajudado pelo fato de que aquela estela
continha o mesmo texto grafado em hieróglifos, demótico e grego, ele reconheceu nela o nome de Ptolomeu em
grego e demótico e, assim, pode identificar o cartucho com o mesmo nome em hieróglifos, dando, assim, um passo
importantíssimo na solução do enígma.
Mas afinal, o que estava escrito nessa famosa Pedra de Roseta? Pelo que diz o texto, o faraó Ptolomeu V Epifânio
havia concedido ao povo a isenção de uma série de impostos e o fato, evidentemente, agradara a todos. Em sinal de
agradecimento os sacerdotes resolveram erguer uma estátua de Ptolomeu V em cada templo e organizar
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festividades anuais em sua honra. Para deixar registrada para sempre tal decisão, gravaram-na em várias estelas
comemorativas e colocaram uma delas em cada templo importante da época. Os soldados de Napoleão toparam
com uma dessas pedras. Apesar de estar mutilada, foi possível reconstituir a totalidade do texto original da estela
graças a outras cópias do decreto que foram encontradas. Ele diz:
No decorrer do reinado do jovem que sucedeu a seu pai na realeza, Senhor dos Diademas, mui glorioso, que
estabeleceu o Egito e foi piedoso perante os deuses, triunfante sobre seus inimigos e que restaurou a paz e a vida
civilizada entre os homens, Senhor dos Festivais dos Trinta Anos, semelhante a Ptah, o Grande, um rei como Rá,
grande rei dos países Alto e Baixo, progênie dos Deuses Filopatores, aprovado por Ptah, a quem Rá deu a vitória,
imagem viva de Amum, filho de Rá, PTOLOMEU, ETERNO, AMADO DE PTAH, no nono ano, quando Aetos,
filho de Aetos, era sacerdote de Alexandria e os deuses Sóteres e os deuses Adelphoi e os deuses Evergetes e os
deuses Filopatores e o deus Epifânio Eucaristo; Pyrrha, filha de Philinos, sendo Athlophoros de Berenice Evergetes,
Areia, filha de Diogenes, sendo Kanephoros de Arsinoe Filadelfo; Irene, filha de Ptolomeu, sendo sacerdotisa de
Arsinoe Filopator; aos quatro do mes de Xandikos, de acordo com os egípcios, o 18ª de Mekhir.
O DECRETO.
Estando reunidos os Sacerdotes Principais e Profetas e aqueles que adentram no templo interior para aparamentar os
deuses, e os Portadores de Abano e os Escribas Sacrados e todos os demais sacerdotes dos templos da terra que
vieram se encontrar com o rei em Mênfis para a festa da assunção de PTOLOMEU, ETERNO, O BEM AMADO
DE PTAH, O DEUS EPIFÂNIO EUCARISTO, o sucessor de seu pai na realeza; estando todos reunidos no templo
de Mênfis nesse dia, declaram que:
considerando que o rei PTOLOMEU, ETERNO, O BEM AMADO DE PTAH, O DEUS EPIFÂNIO EUCARISTO,
o filho do rei Ptolomeu e da rainha Arsinoe, os deuses Filopatores, foi um benfeitor tanto do templo quanto
daqueles que vivem nele, bem como de seus assuntos, sendo um deus oriundo de um deus e de uma deusa amados
de Hórus, o filho de Ísis e de Osíris, que vingou seu pai Osíris, estando propiciamente inclinado em relação aos
deuses, destinou à renda dos templos riquezas e milho e empreendeu muitas despesas para a prosperidade do Egito
e para a manutenção dos templos e foi generoso sobretudo com seus próprios meios; e isentou alguns e abrandou
para outros os impostos e taxas cobrados no Egito, para que essas pessoas e todas as demais pudessem viver em
prosperidade durante seu reinado;
e considerando que ele anulou os débitos que numerosos egípcios e o restante do reino tinham com relação à coroa;
e considerando que para aqueles que estavam presos e aos que estavam sob acusação há muito tempo, ele decidiu
aliviá-los das cargas que pesavam contra eles;
e considerando que ele confirmou que os deuses continuarão a viver das rendas dos templos e das dotações anuais
recebidas, tanto de milho quanto de bens, bem como das rendas destinadas aos deuses pelos vinhedos, jardins e
outras propriedades que pertenciam aos deuses durante o reinado de seu pai;
e considerando que ele também decidiu, em respeito aos sacerdotes, que eles não devem, para admissão ao
sacerdócio, pagar mais do que as taxas estabelecidas durante o reinado do seu pai e até o primeiro ano do seu
próprio reinado; e desobrigou os membros das ordens sacerdotais da viagem anual a Alexandria;
e considerando que ele decidiu que não haverá mais nenhum recrutamento compulsório para a marinha; e que da
taxa sobre tecido de linho fino pago pelos templos à coroa ele reduziu dois terços; e que qualquer que tenham sido
as negligências de tempos passados, ele as corrigiu devidamente, destacando-se muito particularmente as taxas
tradicionais a serem pagas apropriadamente aos deuses; e igualmente a todos ministrou justiça, como Thoth, o
grande e grande; e decretou que aqueles que retornam da guerra e aqueles que foram espoliados de seus bens nas
épocas de turbulência, devem, no seu retorno, ser autorizados a ocupar suas antigas propriedades;
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e considerando que ele autorizou o desembolso de grande quantidade de dinheiro e milho para enviar a cavalaria, a
infantaria e a marinha contra aqueles que invadirem o Egito por mar e por terra, a fim de que os templos e todos
aqueles que habitam na terra possam estar em segurança; e que tendo ido a Lycopolis, no nomo de Busirite, com
um abundante arsenal e outras provisões, para constatar e dissipar o descontentamento provocado por homens
ímpios que perpretraram danos aos templos e a todos os habitantes do Egito, ele a circunvalou de pequenas colinas,
canais e complicadas fortificações; quando o Nilo, que habitualmente inunda as planícies, teve uma grande cheia no
oitavo ano do seu reinado, ele a evitou construindo em numerosos locais desvios para os canais, por um custo
irrisório, e confiando a guarda desses locais à cavalaria e à infantaria, em pouco tempo, ele tomou de assalto a
cidade e matou todos os homens ímpios, tal como o fizeram Thoth e Hórus, o filho de Ísis e Osiris, em tempos
passados, para subjugar os rebeldes no mesmo distrito; e como seu pai havia feito com os rebeldes que haviam
molestado a terra e lesado os templos, ele veio a Mênfis para vingar seu pai e sua própria realeza e os puniu como
eles mereciam; aproveitando-se de sua vinda, ele fez executar as cerimônias adequadas da sua coroação;
e considerando que ele dispensou o que era devido à coroa pelos templos até o seu oitavo ano, não exigindo sequer
uma pequena quantidade de milho ou dinheiro; e que fez descontos também nas multas para os tecidos de linho fino
não entregues à coroa e para os que foram entregues diminuiu as taxas pelo mesmo período; e que ele também
isentou os templos do imposto de uma medida de grão para cada medida de terra sagrada e, da mesma forma, de
uma jarra de vinho para cada medida de terra dos vinhedos;
e considerando que ele fez muitas oferendas a Ápis e a Mnevis e aos outros animais sagrados do Egito, pois ele é
muito mais preveniente do que os reis que o precederam com relação a tudo que lhes dizia respeito; e que para seus
funerais ofertou o que era conveniente com prodigalidade e fausto, e que o que foi pago aos seus santuários
específicos o foi regularmente, com sacrifícios e festivais e outras observâncias costumeiras, e que ele manteve a
honra dos templos do Egito de acordo com as leis; e que ornou o templo de Ápis com um rico trabalho,
dispendendo com isso grande quantidade de ouro, prata e pedras preciosas;
e considerando que ele fundou templos e santuários e altares e reparou aqueles que necessitavam de reparo, tendo o
espírito de um deus benfeitor no que diz respeito à religião;
e considerando que, após levantamento, ele vem reconstruindo, durante seu reinado, os mais honoráveis dos
templos, como se fazia necessário;
em recompensa pelo que os deuses lhe têm dado saúde, vitória e poder, e todas as demais coisas boas, e ele e seus
filhos permanecerão na prosperidade por todos os tempos.
COM FORTUNA PROPÍCIA:
Foi decidido pelos sacerdotes de todos os templos da terra aumentar grandemente as honras devidas ao Rei
PTOLOMEU, ETERNO, O BEM AMADO DE PTAH, O DEUS EPIFÂNIO EUCARISTO, igualmente as de seus
pais, os Deuses Filopatores, e as de seus ancestrais, os Grandes Evergetes e os Deuses Adelphoi e os Deuses
Sóteres e colocar no local mais proeminente de cada templo uma imagem do ETERNO REI PTOLOMEU, O BEM
AMADO DE PTAH, O DEUS EPIFÂNIO EUCARISTO, que será chamado simplesmente "PTOLOMEU, o
defensor do Egito", ao lado do qual deverá permanecer o deus principal do templo, entregando-lhe a cimitarra da
vitória, e tudo será fabricado segundo os usos e costumes egípcios; e que os sacerdotes prestarão homenagem às
imagens três vezes por dia, e colocarão sobre elas as vestimentas sagradas, e executarão outras devoções habituais
como são devidas aos demais deuses nos festivais egípcios;
e construir para o rei PTOLOMEU, O DEUS EPIFÂNIO EUCARISTO, descendente do Rei Ptolomeu e da Rainha
Arsinoe, os deuses Filopatores, uma estátua e um santuário de ouro em cada um dos templos, e colocá-lo na câmara
interior com os outros santuários; e nos grandes festivais nos quais os santuários são levados em procissão, o
santuário do DEUS EPIFÂNIO EUCARISTO será levado em procissão junto com os demais.
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E para que ele possa ser facilmente reconhecido agora e para todo o sempre, deverão ser colocadas sobre o
santuário dez coroas reais de ouro, às quais será acrescida uma naja, à semelhança de todas as coroas ornadas com
najas que estão sobre os demais santuários, no centro da coroa dupla que ele usava quando adentrou o templo de
Mênfis para realizar as cerimônias de sua coroação; e na superfície que rodeia as coroas, ao lado da coroa acima
mencionada, deverão ser colocados símbolos de ouro, em número de oito, significando que esse é o santuário do rei
que uniu os países Alto e Baixo. E como o aniversário do rei é celebrado no 30º dia de Mesore e como também se
celebra o 17º dia de Paophi, dia em que ele sucedeu a seu pai, esses dias foram considerados como dias de devoção
nos templos, pois eles são fontes de grandes bençãos para todos;
e foi decretado ainda mais que um festival terá lugar nos templos por todo o Egito nesses dias de cada mês,
acompanhados de sacrifícios e libações e todas as cerimônias costumeiras dos outros festivais e oferendas serão
feitas aos sacerdotes que servem nos templos. E um festival terá lugar em honra do Rei PTOLOMEU, ETERNO, O
BEM AMADO DE PTAH, O DEUS EPIFÂNIO EUCARISTO, anualmente, nos templos por todos os cantos da
terra no 1º dia de Thoth durante cinco dias, durante os quais eles usarão guirlandas e executarão sacrifícios e
libações e outros sacramentos habituais, e os sacerdotes de cada templo serão chamados os sacerdotes do DEUS
EPIFÂNIO EUCARISTO e mais os nomes dos outros deuses que eles servem; e seu sacerdócio será inscrito sobre
todos os documentos oficiais e será gravado nos anéis que eles usam;
e os particulares serão também autorizados a assistir os festivais e a instalar o santuário supra-mencionado em suas
casas; executar as celebrações supra-mencionadas anualmente, a fim de que todos e cada um possa saber que os
homens do Egito exaltam e honram o DEUS EPIFÂNIO EUCARISTO, o rei, de acordo com a lei.
Este decreto será inscrito sobre uma estela de pedra nos caracteres sagrados e nativos e gregos e será erigida em
cada um dos templos de primeiro, segundo e terceiro graus
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