PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social FAZ SENTIDO? Um estudo das projeções e percepções dos atributos da marca Osklen Luiza Magalhães Oliveira Belo Horizonte 2011 Luiza Magalhães Oliveira FAZ SENTIDO? Um estudo das projeções e percepções dos atributos da marca Osklen Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Comunicação e Artes da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Comunicação Social. Orientadora: Prof. Dra. Ana Luísa de Castro Almeida Belo Horizonte 2011 FICHA CATALOGRÁFICA Elaborada pela Biblioteca da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais O48f Oliveira, Luiza Magalhães Faz sentido?: um estudo das projeções e percepções dos atributos da marca Osklen / Luiza Magalhães Oliveira. Belo Horizonte, 2011. 119f. : il. Orientadora: Ana Luísa de Castro Almeida Dissertação (Mestrado) – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social. 1. Comunicação Empresarial. 2. Moda - Estilo. 3. Planejamento Empresarial. 4. Redes Sociais on-line. 5. Brasil. I. Almeida, Ana Luísa de Castro. II. Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social. III. Título. CDU: 658.012.2 FAZ SENTIDO? Um estudo das projeções e percepções dos atributos da marca Osklen Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Comunicação e Artes da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Comunicação Social. ______________________________________________________________________ Prof. Dra. Ana Luísa de Castro Almeida (orientadora) – PUC Minas ___________________________________________________________________________ Prof. Dr. Júlio Pinto – PUC Minas ___________________________________________________________________________ Prof. Dra. Carla Maria Camargos Mendonça - UFMG Belo Horizonte, 23 de fevereiro de 2011. À minha tia Alda, que me ensinou o valor da vida, mesmo na morte, e à minha mãe, que me ensinou o valor do conhecimento na caminhada pessoal e profissional. AGRADECIMENTOS Agradeço toda força espiritual que me iluminou durante esta trajetória, proporcionando serenidade e fé diante das dificuldades; saúde e disposição para a realização de todo o trabalho. Que os esforços aqui realizados possam contribuir para a minha missão enquanto educadora neste mundo. À minha mãe, Marcia, que sempre me incentivou a progredir nos estudos e me ensinou quão importante é o saber; seu valor para a vida pessoal e profissional. Obrigada por ter me ensinado que conhecimento é um bem que ninguém te toma e que pode transformar, definitivamente, a vida de muitas pessoas. Obrigada também pelo apoio, pelo carinho, pelas palavras de motivação e pela oportunidade de realização deste curso. Ao meu pai, João Carlos, que sempre me mostrou a importância da serenidade em momentos difíceis; de muito valeu utilizar esse aprendizado durante a realização do curso. Obrigada também pelo carinho e apoio, pelo abraço sempre compreensivo e pela oportunidade de realização do mestrado. Ao meu irmão e Mestre, Eduardo, grande exemplo de inspiração para ingresso no curso, de disciplina para as horas de estudo dedicadas e de resultados concretos dos estudos na vida pessoal e profissional. Sem o seu apoio e carinho em tantos momentos de estresse, eu não teria dado conta! Obrigada por tudo, mano! Aos meus amigos, pela compreensão de muitas das minhas ausências em vista dos estudos, pelo apoio e também pela companhia nos momentos em que precisei me divertir e ganhar ânimo para concluir o trabalho: Dani, Thiaguim, Jackie, Tati, Nicolle e Isabella, valeu demais! Aos meus companheiros do mestrado, por todas as dúvidas, dificuldades, alegrias e conquistas compartilhadas! Belinha, Lacerda, Anita, Luana, obrigada por tudo meninas! Em especial ao meu amigo Rodrigo, um companheiro e tanto de trabalhos apresentados em sala, estudos, angústias e algumas “cervejotas” para aliviar as tensões! Ao gerente de Relações Corporativas da Osklen, pela disponibilidade de informações. Aos meus professores do curso, pela seriedade, pelo conhecimento compartilhado e pela disposição para ensinar. Em especial à minha orientadora Ana Luísa, pela dedicação a este trabalho, por sua competência profissional para o desenvolvimento desta pesquisa e por muitos incentivos nos momentos em que me senti incapaz! Obrigada por tudo, Ana! E, por fim, ao meu querido Mestre e amigo, Albino. Palavras nunca serão suficientes para expressar minha gratidão por todo o apoio dispensado em minha vida acadêmica e profissional. O que seria da minha trajetória sem o seu auxílio, sem os livros emprestados, sem os artigos que publicamos juntos? É sempre uma honra contar com sua presença em minha vida. Muito obrigada por tudo! RESUMO Esta pesquisa avaliou a projeção dos atributos de uma marca do setor de moda brasileira e as percepções dos participantes da comunidade virtual da marca. Adotando como perspectiva de análise a produção de sentido na comunicação e tendo como base os estudos de marca e de marca de moda, buscou-se perceber como a marca constrói o discurso organizacional por meio da projeção de seus atributos; além de identificar as lacunas deste discurso nas percepções dos participantes da comunidade virtual da marca. Neste sentido, esta pesquisa se propôs ao estudo da marca organizacional, sua relevância para as empresas e os processos simbólicos que constróem os atributos de uma marca; bem como o processo de comunicação de marca sob uma perspectiva da produção de sentido. A pesquisa também se propôs ao estudo da relevância do simbólico para marcas de moda e tratou de algumas especificidades midiáticas deste campo. Inicialmente, buscou-se entender como a marca, por meio de suas redes simbólicas, pode proporcionar interação entre organização e sujeitos. Na sequência, entendendo a marca como uma construção simbólica, buscou-se perceber como a comunicação, sob a abordagem da produção de sentido, pode auxiliar na compreensão do processo de interação. A pesquisa empírica buscou levantar que atributos da marca são relevantes para a liderança da empresa e como eles são projetados nas estratégias de comunicação. E, tendo como objetivo final perceber as construções de sentido sobre os atributos, por parte dos participantes da comunidade virtual da marca, foi feita uma análise qualitativa do fórum da comunidade, bem como uma pesquisa sobre que atributos são associados à marca. Os resultados desta análise evidenciam as diversas produções de sentido sobre a marca da organização, por parte dos participantes da comunidade, tendo a comunicação como mediadora destes processos. Palavras-chave: Marca organizacional. Marcas de moda. Comunicação. Produção de sentido. ABSTRACT This study evaluated the projection of the attributes of a brand of Brazilian fashion industry and the perceptions of participants from the virtual community of the brand. Adopting the perspective of analysis as the production of meaning in communication and based on studies of brand and fashion brand, it was sought to understand how the brand builds the organizational speech through the projection of its attributes, and identify the weaknesses of this speech in perceptions of participants from the virtual community of the brand. Therefore, this research aims to study the organizational brand, its relevance to business and the symbolic processes that build the attributes of a brand; and also the brand communication process from a production of meaning perspective. The research also proposed to study the relevance of symbolic in fashion brands and showed some specific medias of this field. Initially, it was sought to understand how the brand, through its symbolic networks, can provide interactions between organization and individuals. Further, understanding the brand as a symbolic construction, it was sought to understand how the communication, under the approach of production of meaning, may aid in understanding the interaction process. The empirical research sought to raise brand attributes that are relevant to the company's leadership and how they are projected in communication strategies. Furthermore, with the ultimate goal of realizing the construction of meaning about the attributes of the brand, through the perspective of the participants from the virtual community, it was made a qualitative analysis of the community forum, as well as a research about which attributes are associated with the brand. The results of this analysis highlighted the various productions of meaning about the brand of the organization, by the participants of the community, with communication as a mediator in these processes. Keywords: Organizational brand. Fashion brands. Communication. Production of meaning. LISTA DE FIGURAS Figura 1: Modelo do Processo de Interdependência Identidade/Imagem.................................35 Figura 2: Modelo da Dinâmica da Identidade Organizacional.................................................37 Figura 3: Modelo Visão-Cultura-Imagem.................................................................................63 Figura 4: Catálogo de Moda Brazilian Soul Guaraná (1).........................................................71 Figura 5: Catálogo de Moda Brazilian Soul Guaraná (2).........................................................71 Figura 6: Campanha Publicitária Amazon Guardians (1).........................................................72 Figura 7: Campanha Publicitária Amazon Guardians (2).........................................................72 Figura 8: Bicicleta Carbon Free R(e)volution..........................................................................73 Figura 9: Campanha publicitária United Kingdom of Ipanema – Moda Beach Wear e Surfe..78 Figura 10: Campanha publicitária United Kingdom of Ipanema – Morro da Urca...................78 Figura 11: Campanha publicitária United Kingdom of Ipanema – Alusão à Garota de Ipanema.....................................................................................................................................79 Figura 12: Catálogo Riachuelo Coleção Rio de Janeiro – Beach Wear....................................79 Figura 13: Catálogo Riachuelo Coleção Rio de Janeiro – Garota de Ipanema e Morro da Urca...........................................................................................................................................80 Figura 14: Catálogo Riachuelo Coleção Rio de Janeiro – Lapa, Calçadão e Morro da Urca...80 Figura 15: Coleta Seletiva no São Paulo Fashion Week...........................................................86 Figura 16: Parceria São Paulo Fashion Week e projeto Carbon Free......................................87 Figura 17: Exposição Oi Estilo Skate – Participação da grife Osklen......................................88 Figura 18: Exposição Oi Estilo Skate – Osklen e Skate............................................................89 Figura 19: Oskar Metsavaht e o processo de pigmentação das roupas da coleção Oceans Verão 2011................................................................................................................................91 Figura 20: Cenografia do desfile Osklen Oceans Verão 2011..................................................93 Figura 21: Projeção do tridente de Poseidon no desfile Osklen Oceans Verão 2011...............93 Figura 22: Poseidon..................................................................................................................94 Figura 23: Osklen Oceans Verão 2011 - Escamas de peixe.....................................................94 Figura 24: Osklen Oceans Verão 2011 – Tecido molhado.......................................................95 Figura 25: Osklen Oceans Verão 2011 – Óculos de mergulho.................................................95 Figura 26: Osklen Oceans Verão 2011 – Rede de pesca..........................................................96 Figura 27: Pesquisa junto à comunidade Osklen....................................................................102 LISTA DE QUADROS Quadro 1: Quadro Comparativo – Diferenciando Marca de Produtos e Marcas Organizacionais.........................................................................................................................22 Quadro 2: Quadro Demonstrativo - Estudos de Imagem Organizacional................................33 Quadro 3: Quadro Demonstrativo – Especificidades Midiáticas da Moda...............................61 Quadro 4: Quadro Demonstrativo – Principais atributos da marca Osklen..............................83 LISTA DE SIGLAS ABTH – Associação Brasileira Terra dos Homens SPFW – São Paulo Fashion Week WGSN – Worth Global Style Network WWF – Fundo Mundial da Natureza WWF – UK – Fundo Mundial da Natureza – Reino Unido UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................12 2 COMPREENDENDO MARCAS.......................................................................................15 2.1 A importância das marcas para as organizações...........................................................15 2.2 De marcas de produtos para marcas organizacionais...................................................19 2.3 Compreendendo o processo de construção simbólica da marca...................................23 2.3.1 A identidade organizacional...........................................................................................27 2.3.2 A imagem organizacional...............................................................................................30 2.3.3 A interdependência entre identidade e imagem organizacional: um processo relacional e simbólico..............................................................................................................35 2.4 A Comunicação de marcas...............................................................................................41 3 MARCAS DE MODA..........................................................................................................45 3.1 A construção do simbólico nas marcas de moda............................................................45 3.2 Moda: algumas abordagens.............................................................................................51 3.3 As especificidades midiáticas do campo da moda..........................................................53 4 METODOLOGIA................................................................................................................62 5 COMPREENDENDO A VISÃO, A CULTURA E AS PERCEPÇÕES SOBRE A MARCA OSKLEN..................................................................................................................69 5.1 Oskar e Osklen: a história da grife e sua relação com sustentabilidade......................69 5.2 A visão da marca e os principais atributos da sua identidade......................................75 5.3 Como a marca constrói sentidos: a projeção de seus atributos nas estratégias de comunicação............................................................................................................................84 5.3.1 Desfile Osklen – Oceans Verão 2011.............................................................................85 5.3.2 Campanha publicitária Osklen – Oceans Verão 2011...............................................97 5.4 Como a marca constrói sentido: as percepções dos usuários da comunidade virtual.....................................................................................................................................100 6 CONCLUSÃO E CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................................104 REFERÊNCIAS....................................................................................................................108 APÊNDICE A – Roteiro de Entrevista...............................................................................113 APÊNDICE B – Roteiro de Pesquisa..................................................................................114 ANEXO A – Campanha Publicitária Osklen Oceans Verão 2011.........................................................................................................................................115 12 1 INTRODUÇÃO Esta pesquisa busca compreender como uma organização constrói e projeta atributos de sua identidade, representados pela marca, por meio de estratégias de comunicação e como esses atributos são percebidos pelos diversos interlocutores. Teve como propósito avaliar como os participantes de uma comunidade virtual da marca constroem sentidos a partir dos processos discursivos da organização, considerando a comunicação da marca como mediadora desse processo. Acreditamos que este tema distingue-se pela proposta de compreensão dos processos comunicativos dentro do contexto organizacional, onde a comunicação atua como mediadora das relações entre a organização e seus interlocutores. Neste processo, entendemos que a marca constitui-se como discurso organizacional e, por meio da projeção e percepção de seus artefatos simbólicos, possibilita a construção de sentidos. O estudo tem como objeto empírico a organização Osklen, escolhida por fazer parte do mercado de moda brasileiro, apresentando relevância nacional no setor. Além disso, a grife apresenta notoriedade ao abordar o tema sustentabilidade em campanhas publicitárias, temas de coleções e projetos institucionais; além de utilizar matéria-prima sustentável para a confecção de suas roupas e acessórios. Nosso objeto de estudo é entender, a partir da marca, como a Osklen constrói seu discurso organizacional por meio de atributos da sua identidade que são projetados em estratégias de comunicação. Desta forma, buscamos compreender de que forma este discurso se apresenta na visão estratégica da liderança da empresa e em ações de comunicação; e como ele é percebido pelos participantes da comunidade virtual da marca. Definimos o discurso de uma organização como uma ação comunicacional construída a partir de sua realidade e do contexto social na qual se insere e que impacta as interpretações e ações dos atores sociais, que por meio da linguagem constroem significados simbólicos que (re)constroem a realidade social. A construção social da realidade só é possível por meio das interações que ocorrem entre a organização e seus interlocutores e no compartilhamento de um universo simbólico; que não se fundamenta somente no sentido semântico das interpretações de determinados discursos; mas também nas crenças e valores dos atores envolvidos. Sob esta perspectiva, o discurso organizacional é, portanto, construído a partir da interação signica de seus interlocutores. 13 A fim de compreender a construção do discurso organizacional da marca, por meio dos artefatos simbólicos que a marca utiliza para projetar os atributos da identidade da empresa, através de estratégias de comunicação; discutimos sobre a relevância da marca para as organizações, o processo de construção simbólica da marca, a comunicação de marca e as construções de sentido no primeiro capítulo; que tem por objetivo analisar o processo de construção simbólica da marca, sob olhar dos estudos de marca, identidade e imagem organizacional. O capítulo também se propõe ao estudo da comunicação sob uma perspectiva da produção de sentido, elegendo-a como ângulo de visão para a análise desta pesquisa. Dando continuidade aos estudos de marca sob uma perspectiva simbólica, é de nosso interesse entender o lugar e significado do simbólico para marcas de moda. Para tanto, apresentamos no segundo capítulo uma breve revisão sobre a história da moda, entre a metade do século XIX até os dias atuais, a fim de compreender em que contexto histórico o simbólico tornou-se relevante para marcas de moda. A fim de estabelecer um arcabouço teórico capaz de subsidiar as análises sobre as estratégias de comunicação de marca da grife Osklen, o capítulo também apresenta porque a sustentabilidade tornou-se uma tendência para o setor da moda, além de expor algumas abordagens sobre moda e identidade individual, objeto e processo de moda, estilo e tendência. O capítulo também aborda questões sobre algumas especificidades midiáticas de marcas de moda como, por exemplo, a relevância dos desfiles e dos anúncios publicitários para estratégias de comunicação de moda. O percurso metodológico desta pesquisa, descrito no terceiro capítulo, parte de um modelo de análise de Estudo de Caso Único, a fim de abranger diversas evidências, como documentos, entrevistas e observações; para obter conhecimento aprofundado de uma única realidade. A análise das projeções dos atributos de marca da Osklen, bem como a análise das percepções construídas pelos participantes da comunidade virtual da grife, foram baseadas metodologicamente no modelo “Visão – Cultura – Imagem” proposto Hatch e Schultz (2003a; 2003b) e reforçado por Schultz (2005). A análise da visão estratégica da grife foi necessária para o entendimento de que atributos a liderança considera relevantes para a distintividade da empresa. Para a análise da cultura organizacional; entendida como aquilo que a organização realiza, em estratégias de comunicação, para consolidar seus valores e crenças; analisou-se um desfile e a campanha publicitária do mesmo, a fim de compreender a projeção dos atributos da marca em suas estratégias de comunicação. Por fim, para a análise do terceiro aspecto do modelo, foram 14 consideradas as percepções dos participantes da comunidade virtual da marca sobre os atributos projetados pela grife. O objetivo destas análises consistiu em averiguar se houve lacunas entre a visão estratégica da empresa e o que ela projetou sobre a marca; e as percepções dos participantes da comunidade virtual sobre os atributos da marca. A visão estratégica, a cultura organizacional, e as percepções dos participantes da comunidade da marca foram analisadas sob o método de Análise de Discurso, proposto por Heracleous (2006). A partir dos dados empíricos, o penúltimo capítulo trouxe a análise da visão estratégica da liderança da organização Osklen, a fim de identificar os principais atributos que contribuem para a formação da identidade da grife; e a análise de duas ações de comunicação da grife (o desfile e a campanha publicitária do desfile), a fim de analisar a projeção destes atributos nas estratégias de comunicação da marca. Também foi feita uma análise das percepções dos participantes da comunidade virtual da marca sobre os atributos projetados pela grife. Estas análises nos levaram à síntese de todo o trabalho proposto, constituindo as considerações finais, apresentadas no último capítulo desta pesquisa. 15 2 COMPREENDENDO MARCAS Este capítulo apresenta uma revisão da literatura sobre marcas, delimitando a relevância das mesmas para as organizações; o contexto em que elas deixaram de ser importantes somente para a identificação de produtos e serviços no mercado, e passaram a influenciar práticas organizacionais diversas; o processo de construção simbólica de marcas; a relação da identidade, da imagem e da cultura organizacional neste processo; o processo de construção de valor de marca e, por fim, um olhar sobre a Comunicação, na comunicação de marcas. Para compreender marcas organizacionais, adotou-se a perspectiva simbólica sobre as mesmas, uma vez que esta abordagem explicita a relevância dos processos de interação e de produção de sentido para as organizações e seus interlocutores, além de considerar como parte fundamental da construção simbólica, o contexto sócio-cultural. Nesse sentido, espera-se estabelecer um arcabouço teórico capaz de subsidiar as análises sobre a visão estratégica da marca Osklen, empresa brasileira que atua no setor de moda e que foi escolhida como objeto empírico desta pesquisa; bem como a projeção dos atributos da marca e as percepções acerca destes atributos, por parte dos integrantes da comunidade virtual da grife. 2.1 A importância das marcas para as organizações Em um mercado globalizado as organizações podem obter um domínio comum de técnicas avançadas de produção e comercialização, visto que o acesso às informações, cada vez mais facilitado por meios midiáticos especializados no mundo dos negócios e, principalmente, pela Internet; viabiliza o compartilhamento de conhecimento e pode, desta forma, provocar a padronização tanto de produtos e serviços, quanto das estratégias de comunicação (OLINS, 2000). Nesse contexto, a guerra de preços ficou mais acirrada e a necessidade de obter vantagem competitiva capaz de criar um diferencial que não seja facilmente copiado pela concorrência, tornou-se uma questão de sobrevivência no mercado. Diante destes fatores, as marcas têm sido uma importante questão para as organizações, pois, por meio das marcas 16 existe a oportunidade de se construir vantagem competitiva e criar valor financeiro e simbólico (OLINS, 2000). Como as empresas, por meio das marcas, podem obter vantagem competitiva no mercado? Em que contexto as marcas deixaram de ser importantes somente para a identificação de produtos e serviços no mercado, e passaram a influenciar práticas organizacionais diversas, como a relação com os empregados e o papel da empresa na sociedade? Como se dá o processo de construção simbólica de marcas? Qual a relação da identidade, da imagem e da cultura organizacional com este processo? Como o valor de marca é construído? Sob que perspectiva comunicacional a comunicação de marca pode ser abordada? Estas são algumas das questões que serão apresentadas a seguir. Para buscar compreender essas questões é necessário explicitar alguns conceitos sobre o que são marcas. No senso comum, uma marca pode ser um “nome, um logotipo ou uma marca registrada denotando propriedade” (GRAY; BALMER, 2003, p.973), e pode representar uma empresa, uma instituição do governo, um evento, uma organização sem fins lucrativos, um grupo musical, dentre outros exemplos. Tratando-se exclusivamente de marcas organizacionais, as mesmas podem, por meio de um “(...) nome, termo, símbolo, ou design, ou a combinação destes elementos”, identificar “(...) mercadorias ou serviços de um vendedor ou grupo de vendedores”, a fim de “(...) diferenciá-los da concorrência” (HATCH; SCHULTZ, 2008, p. 26). Estas abordagens, no entanto, concentram-se apenas nos aspectos tangíveis da marca, como a cor e formato da logo; o som do nome da marca; a aparência dos produtos, dentre outros fatores (HATCH; SCHULTZ, 2008). Marcas também podem ser compreendidas sob um olhar menos funcional, quando se analisa sua influência sobre o processo de construção de identidade de um indivíduo. A noção do indivíduo sobre quem ele é e como gostaria de ser visto pode ser analisada a partir de referências sobre o uso de determinadas marcas como expressão de sua própria identidade; suas experiências de consumo e as ações de comunicação que objetivam uma relação favorável com seus consumidores. (GRAY; BALMER, 2002, 2003). Nesse sentido, percebe-se que, para além do nome, da fonética, das cores e do design que representam as marcas; uma abordagem menos funcional compreende marcas como um conjunto de símbolos, cujos significados são contextualizados por uma realidade sóciocultural e encontram-se conectados num conjunto de percepções que podem ser sustentadas não somente por meio das interpretações dos consumidores, mas de todos os grupos de 17 relacionamento da marca (BROWN, 2008; GRAY; BALMER, 2002, 2003; HATCH; SCHULTZ, 2008). As marcas são relevantes para uma empresa porque combinam alguns fatores complexos e inter-relacionados. Um desses fatores consiste no fato de que marcas são dispositivos de identificação e diferenciação. Sem as marcas, provavelmente não seria possível identificar e diferenciar certos produtos e serviços. O segundo deve-se à familiaridade com o que está sendo oferecido e, consequentemente, o possível benefício da segurança em consumir uma marca conhecida. O terceiro fator consiste na empatia, na oportunidade de auto-expressão, de complemento e reafirmação da individualidade que as marcas oferecem aos indivíduos (OLINS, 2002). As marcas são importantes também porque podem atrair consumidores, por meio dos benefícios racionais e emocionais que podem oferecer; designar reconhecimento visual por meio de seus aspectos tangíveis, como o nome e a cor; identificar e diferenciar produtos e serviços; contribuir para a confiança de investidores; motivar os empregados, quando trabalhar em nome de determinada marca significa, por exemplo, competência profissional; endossar valores organizacionais por meio da projeção dos atributos, utilizando-se de estratégias planejadas de comunicação; além de contribuir para dar distintividade a organização, por meio da construção e reconstrução de significações simbólicas exclusivas sobre a trajetória da marca (BALMER, 2002). Complementando estas perspectivas, Brown (2008) enfatiza que marcas são relevantes para uma organização porque por meio delas pode se desenvolver uma proposta de valor com o propósito de estabelecer um diferencial competitivo em relação às marcas concorrentes. Em outra abordagem de estudo, Kornberger (2010) indica que as marcas podem ser compreendidas sobre quatro perspectivas distintas: marcas como ferramentas de gestão, marcas como catalisadoras da organização, marcas como signo e marcas como mídia. Quando o foco da análise pauta-se nas marcas como ferramentas de gestão, há uma preocupação em se trabalhar com questões sobre produtos e serviços. O objetivo dessa abordagem, cujo teórico David Aaker é tido como principal referência, consiste em estabelecer “um conjunto de ativos que, juntamente com o símbolo e o nome de uma marca, adiciona ou absorve valor oferecido por determinado produto ou serviço, para uma empresa e/ou para o consumidor” (AAKER apud KORNBERGER, 2010, p.7-8). 18 Quando as marcas são vistas como catalisadoras da organização, o foco da análise se dá na marca enquanto um dos principais fatores para integrar a gestão da empresa. As principais autoras desta abordagem são Mary Jo Hatch e Majken Schultz, destacam que a marca, sob essa abordagem, é construída por quatro elementos distintos: a visão estratégica, que significa como a liderança gostaria que a organização fosse percebida; a cultura organizacional, que se expressa por meio dos valores, crenças e comportamento dos empregados da empresa; as imagens externas à organização, desenvolvidas tanto por parte dos consumidores quanto de outros grupos de relacionamento, como a mídia e os investidores e, por fim, a identidade da marca que consiste numa projeção da visão que a empresa possui de si mesma (KORNBERGER, 2010). Ainda sob essa abordagem, entende-se que a marca é simbolicamente criada por meio de interpretações que são produzidas, reproduzidas e, em alguns casos, fatores de motivação para mudanças organizacionais, durante o processo de interação que ocorre entre a empresa e seus grupos de relacionamento, por meio de canais de comunicação diversos. Estas interpretações podem mudar os significados sócio-culturais de aspectos que envolvem a organização, como sua identidade e imagem, por exemplo (KORNBERGER, 2010). A marca, nessa abordagem, é um dos elementos estratégicos fundamentais para direcionar e estruturar a organização. A marca, portanto, não diz respeito apenas sobre determinado produto ou serviço, mas pode representar toda a estrutura interna da organização. É uma perspectiva que tem como foco toda a organização e seu processo produtivo e, portanto, a marca inicia sua projeção e constituição a partir das ações e discursos das lideranças organizacionais (KORNBERGER, 2010). Essa abordagem considera também o papel da alta administração nas escolhas e definições de atributos que impactam a projeção simbólica de valores, atributos racionais e emocionais. O projeto desta pesquisa adotou essa abordagem por considerar a relevância do entendimento de quais atributos os principais líderes e o fundador da marca Osklen buscam construir como valor e significados. Além da alta administração, serão considerados os consumidores e outros interlocutores que contribuem para a construção de sentido sobre a marca, e sua articulação em contextos que envolvem aspectos culturais e sociais da marca; fundamentais para o entendimento das percepções dos participantes da comunidade virtual da grife. 19 Na perspectiva de estudos da marca enquanto signo, sua importância se dá na capacidade de criação de significados e redes simbólicas. Nessa abordagem, o autor Marcel Danesi defende como ponto de partida de análise o contexto social de consumo, e não a organização em si. É uma visão que se preocupa com as perspectivas do consumidor sobre a marca e entende marcas como indicadores sociais. O foco dessa análise se dá nos aspectos críticos e ideológicos que envolvem o consumo de marca. (KORNBERGER, 2010). A perspectiva de estudo de marcas como mídia também parte do ponto de vista da sociedade de consumo. Sob essa perspectiva, uma das estudiosas, a autora Celia Lury, destaca que a marca surge por meio de suas redes de relacionamento e representam um tipo de racionalidade que organiza a economia. Isto porque uma marca pode ser capaz de designar significados a objetos de tal forma a torná-los mais valiosos; tornando-se, portanto, uma “moeda social” e um “modo de significar trocas de mercadorias”. Marcas são, portanto, um meio que proporciona valor e significado que, consequentemente, organiza a economia de mercado (KORNBERGER, 2010). Como a proposta desta pesquisa consiste em compreender a marca sob uma perspectiva organizacional, torna-se necessário entender o contexto no qual as marcas tornaram-se relevantes não somente para a identificação de produtos e serviços no mercado, mas também para toda a organização, influenciando práticas diversas, como a relação com os empregados e o papel da empresa na sociedade. 2.2 De marca de produtos para marcas organizacionais As marcas modificam e impactam a gestão das organizações, os mercados em que as mesmas atuam, além dos modos de produção e consumo; e impactam também nas estratégias de comunicação de uma empresa, na sua identidade e cultura organizacional (KORNBERGER, 2010). Tratando-se especificamente sobre o impacto das marcas nos produtos, as marcas alteraram a definição dos mesmos que, se antes se constituíam apenas por sua funcionalidade, agora precisam também ser considerados sob os seus aspectos simbólicos. Isto quer dizer que mudar as percepções e interpretações sobre determinados produtos tornou-se mais importante que mudar somente sua funcionalidade e seus aspectos físicos. Desta forma, a marca se 20 configura atualmente como “uma interface entre o mundo emocional do consumo e o mundo racional do produto” (KORNBERGER, 2010, p.13). Sob essa perspectiva, as marcas transformaram os produtos em mercadorias pessoais e emocionais, tornando-os objetos sociais carregados de significação simbólica. É neste contexto que surge o conceito de “estilo de vida”, no qual mercadorias podem estruturar certos padrões de comportamento social em torno do universo simbólico que proporcionam, por meio das marcas. Assim, os produtos tornaram-se indicadores de papéis sociais (KORNBERGER, 2010). Nesse contexto, disponibilizar produtos com valor simbólico no mercado, mas manter a organização irrelevante, tanto do ponto de vista social quanto simbólico, tornou-se obsoleto. Não se podia, portanto, pensar somente em marcas de produtos, mas foi também necessário criar marcas organizacionais, a fim de desenvolver significação simbólica para os negócios e as práticas de uma empresa (KORNBERGER, 2010). A mudança de foco nos produtos, de seus aspectos funcionais para seus aspectos simbólicos; bem como a necessidade de significação simbólica para as organizações, ocorreram em um contexto pautado pela revolução informacional e tecnológica. Esta revolução, que teve seu início na década de 1970, transformou os tradicionais métodos de comunicação e publicidade de marcas, bem como alterou o modo de distribuição dos produtos (OLINS, 2000). Uma das mudanças provocadas pela revolução informacional e tecnológica consistiu na alteração dos canais de comunicação: estações de rádio, canais de TV, jornais e revistas passaram a existir em maior quantidade e serem mais especializados em determinados assuntos; tornando-se, assim, fragmentados (OLINS, 2000). Outra mudança consistiu o uso da Internet. A Internet mudou a relação da organização com os consumidores, pois possibilitou a fragmentação de interesses, a individualidade, a auto-expressão e a auto-satisfação por meio de sites diversos, além das redes sociais e, com isso, possibilitou ao consumidor maior acesso a informações sobre produtos, serviços e experiências de consumo. A Internet também permitiu a criação de comunidades virtuais; espaços que podem servir para discussões sobre uma organização e sua marca e que também podem influenciar as relações de consumo. Outro aspecto relevante da Internet consistiu nos sites de compra virtual que alteraram o modo de compra e distribuição de produtos (OLINS, 2000; KORNBERGER, 2010). 21 Nesse sentido, as mudanças causadas pela revolução informacional e tecnológica também alteraram o comportamento de consumo de marcas, que não se associa mais exclusivamente ao consumo de produtos, mas também de serviços; a diversificação e complexificação da promoção de marcas, envolvendo meios multimidiáticos em propostas cada vez mais interativas, ainda que os modos tradicionais de mídia permaneçam com suas devidas contribuições; a criação de marcas globais e, por fim, maior sofisticação em tudo o que envolve as práticas de construção e projeção de marcas (OLINS, 2000). Tantas mudanças não podiam deixar de influenciar o desempenho organizacional. A necessidade de se criar marcas organizacionais, a fim de desenvolver significação simbólica para os negócios e as práticas de uma empresa, não surgiu apenas porque os produtos passaram a serem definidos por suas significações simbólicas. A necessidade dos empregados de se identificarem com a empresa; maior pressão por parte de diversos grupos de relacionamento para maior transparência empresarial; o advento de esforços mais focados em comunicação, e não somente em marketing, além de um sistema econômico mais eficiente e de proporções globais também influenciaram na constituição de marcas organizacionais (HATCH; SCHULTZ; CICCOLELLA, 2004). A busca pela construção de marcas organizacionais foi significativamente influenciada pelos empregados, pois o papel dos mesmos tornou-se mais visível e estrategicamente mais relevante para as organizações. Isto ocorreu porque questões como a importância da marca, sua credibilidade e distintividade no mercado, dependem do comportamento e do comprometimento dos empregados. Além disso, os empregados estão, cada vez mais, sendo vistos como uma oportunidade para expressarem positivamente a marca da empresa, influenciando na experiência de consumo da marca (HATCH; SCHULTZ; CICCOLELLA, 2004; KORNBERGER, 2010). Nesse sentido, a organização passou a investir mais em campanhas de comunicação interna, em eventos para os empregados, em Intranet, dentre outras ações comunicacionais; a fim de tornar, por meio de ações de comunicação, a marca compreensível e relevante para os empregados. Esses investimentos também foram necessários porque a marca se tornou o meio pelo qual a empresa pode criar uma experiência positiva para seus empregados. Uma marca de reputação favorável pode atrair talentos e, dependendo das práticas e políticas de emprego, retê-los (HATCH; SCHULTZ; CICCOLELLA, 2004; KORNBERGER, 2010). A transição de marca de produtos para marcas organizacionais implica também em mudanças no foco dos profissionais e setores responsáveis pelo gerenciamento da marca: se 22 antes apenas os setores de comunicação e marketing se responsabilizavam pela marca, tal transição demanda o envolvimento de toda a organização e reforça a necessidade de toda a organização expressar a identidade distinta da marca (GRAY e BALMER, 2002; 2003). Balmer (2002) apresentam algumas perspectivas de análise para a transição de marca de produtos para marcas organizacionais, apresentadas no quadro a seguir: Responsabilidade funcional Marca de Produtos Diretor de Marketing ou Gestor de Marca Departamento de Marketing Responsabilidade geral Bases teóricas Marketing/ Gestor de marca Marketing Orientação da marca Curto prazo Grupos de relacionamento Consumidores Responsabilidade gerencial Valores Canais de comunicação Mix dos canais de Comunicação de Marketing1 Marcas Organizacionais Presidente Multidisciplinar: presidência, diretoria executiva, diretoria de comunicação e marketing, diretoria de marca. Toda a organização Multidisciplinar: ênfase em marketing, comportamento organizacional, recursos humanos estratégicos e em comunicação Variável: de médio a longo prazo Grupos internos e externos de relacionamento e parceiros Deve ter como base o mix de atributos das subculturas da organização Os canais de comunicação corporativa: 1º: Desempenho de produtos e serviços; políticas organizacionais; comportamento do presidente e da Diretoria Executiva; discurso de toda a equipe organizacional. 2º: Marketing e outras formas planejadas de comunicação Dimensões que exigem alinhamento Desempenho, Promessa, Promoção e Pontos de prova 3º: “boca a boca” Atributos organizacionais/ Promessa/ Cultura/ Comunicação/ Criação/ Experiência/ Ambiente Quadro 1: Quadro Comparativo - Diferenciando Marca de Produtos e Marcas Organizacionais Fonte: Traduzido e adaptado de Balmer (2002, p.7). 1 O Mix de Comunicação de Marketing inclui as áreas de publicidade, promoção de vendas, departamento de vendas diretas, toda a diretoria de marketing e a área de relações públicas da organização. 23 A transição marca de produtos para marcas organizacionais significa, portanto, que toda a organização serve de base para o posicionamento da marca e implica em escolhas específicas para as empresas, como construir processos (...) e executar atividades que serão distintas para a organização quando a mesma for comparada com seus concorrentes ou com as principais tendências de mercado. (...) valores e crenças (...) sustentados pelos empregados e pela liderança administrativa tornam-se elementos-chave em estratégias de diferenciação, ao passo que a própria empresa caminha para se tornar uma marca organizacional (OLINS, 2000, p. 57). Organizações tradicionalmente focadas em se expressar por meio de seus produtos – sejam de atacado ou varejo – e não por meio de um conjunto de fatores (como o ambiente organizacional, os empregados e as estratégias de comunicação para diversos grupos de relacionamento), devem compreender a urgência de uma nova postura. Isto consiste em um desafio para as organizações, pois em alguns casos, levam-se anos para (...) aceitar que a superioridade dos produtos jamais voltará a ocorrer, e que um novo sistema organizacional de crenças precisa ser edificado, construído em torno de produtos que aparentam e podem ser percebidos como distintos da concorrência, de níveis de serviços projetados para sustentar estes diferenciais, e de ambientes e comunicação cuidadosamente planejados para sustentar a idéia da marca. (...) É desta forma que palavras como visão, valores, personalidade, (...), imagem, identidade e, acima de tudo, marca e valores de marca penetram no sistema circulatório da organização (OLINS, 2000, p. 59 – 60). A criação de marcas organizacionais, portanto, pode contribuir para os resultados de uma organização. Nesse contexto, a marca passa a influir no desempenho organizacional e se torna importante para o processo de gestão estratégica, influenciando e sendo influenciada pela sua cultura e identidade. Além disso, a marca age como mecanismo de interface no engajamento da empresa com o ambiente em que ela atua. As marcas estão, cada vez mais, atuando como “(...) interfaces, mediações entre produção e consumo; entre a estrutura planejada de uma organização e o seu desempenho no mercado (...)” (KORNBERGER, 2010, p.22). 2.3 Compreendendo o processo de construção simbólica da marca Nos estudos de construção simbólica da marca, esse projeto considera as abordagens propostas por Hatch, Schultz e Ciccolella (2004) e Hatch e Schultz (2008) que buscam 24 compreender a produção de sentido a partir das interpretações dos atributos racionais e emocionais da marca que ocorrem nas interações entre a empresa e seus grupos de relacionamento, sendo essas interações determinantes para a sustentação ou modificação dos significados culturais e sociais da marca. A escolha destes autores se justifica pela proposta de análise desta pesquisa, que objetivou a compreensão das projeções dos atributos da marca e as percepções construídas pelos integrantes da comunidade virtual da grife Osklen. Construir marcas sob uma perspectiva simbólica implica, portanto, em considerar os grupos de relacionamento que interagem com a organização e constróem significados (imagens) a partir das projeções dos atributos racionais e emocionais da marca (HATCH; SCHULTZ; CICCOLELLA, 2004; HATCH; SCHULTZ, 2008). Nesse sentido, é possível observar que a identidade e imagem organizacional se correlacionam a partir de construção simbólica da marca, que têm como base a cultura organizacional entendida como (...) uma referência para as reflexões coletivas a respeito de quem somos enquanto organização. O conceito de cultura inclui os valores organizacionais. Estes valores são similares à identidade organizacional, no sentido de que focam na problemática do “EU” organizacional; (...) envolvendo códigos formais de conduta que direcionam o comportamento da empresa (HATCH; SCHULTZ; CICCOLELLA, 2004, p.8). A cultura organizacional inclui como elementos que ajudam a defini-la, as práticas, rotinas, símbolos, mitos e histórias que constituem a trajetória de uma organização. Significa também o compartilhamento comum de entendimentos sobre os valores organizacionais (KORNBERGER, 2010). Sob essa visão conceitual da cultura organizacional, explica-se primeiramente como os empregados, por meio da cultura da empresa, produzem significações simbólicas que contribuem para a construção da rede simbólica da marca. A cultura organizacional pode oferecer atributos, fundamentados em valores e crenças organizacionais, que podem ser transformados em símbolos. Essa transformação acontece quando os empregados constróem significações sobre os atributos, e as significações são apreendidas como discursos culturalmente relevantes para o comportamento da empresa (HATCH; SCHULTZ; CICCOLELLA, 2004; HATCH; SCHULTZ, 2008). As significações, quando muito particulares e não compartilhadas por um número significativo de empregados, podem não afetar de modo relevante o comportamento 25 organizacional. Nesse sentido, é possível afirmar que, ainda que haja múltiplas construções de sentido sobre os atributos, nem todos os significados produzidos influenciarão as práticas da organização (HATCH; SCHULTZ; CICCOLELLA, 2004; HATCH; SCHULTZ, 2008). As interpretações que os empregados fazem, tendo como referência os aspectos da cultura organizacional, ou seja, os valores, as crenças, a visão estratégica, dentre outros elementos que marcam a vida cotidiana da organização levam à produção de sentidos sobre como a organização quer ser reconhecida. Isto não quer dizer que as percepções dos empregados sejam coerentes com os anseios da visão estratégica da empresa. Existem sempre os pontos de entendimentos e de fugas, olhares distintos e contradições que coexistem numa disputa de sentidos (HATCH; SCHULTZ; CICCOLELLA, 2004; HATCH; SCHULTZ, 2008). Os empregados têm sido considerados, pela alta administração, como catalisadores e divulgadores dos atributos da marca. Cada vez mais, se reconhece a força e influência que os empregados possuem na construção das percepções sobre a marca, podendo influenciar positiva ou negativamente a experiência de consumo da marca. Nessa perspectiva, o papel dos empregados é muito importante na representação da marca e, nesse sentido, é fundamental que os valores da organização sejam internalizados e expressos nas práticas (KORNBERGER, 2010). Os valores e crenças que são base da cultura organizacional e da visão estratégica da empresa são interpretados e reconstruídos, criando uma rede simbólica cultural, que é constantemente (re) construída durante as interações entre a alta administração e os empregados (HATCH; SCHULTZ; CICCOLELLA, 2004; HATCH; SCHULTZ, 2008). Nesse sentido, a rede simbólica cultural define e constrói a rede simbólica da identidade organizacional; uma vez que a rede simbólica cultural permite, por meio das interações entre a alta administração e os empregados, a construção de “(…) histórias sobre a empresa, autobiografias e outros tipos de narrativas organizacionais, nas quais a organização não só define quem ela é, mas também diz como estas definições surgiram na trajetória da empresa” (HATCH; SCHULTZ; CICCOLELLA, 2004, p.16). A rede simbólica da identidade organizacional e a rede simbólica cultural fornecem material simbólico para a construção de significados sobre a organização pelos grupos de relacionamentos diversos. As percepções que os grupos de relacionamento constróem acerca da empresa constituem em outra rede simbólica: a rede da imagem organizacional (HATCH; SCHULTZ; CICCOLELLA, 2004; HATCH; SCHULTZ, 2008). 26 A interdependência entre a rede simbólica da identidade e da imagem organizacional é mediada pela marca, uma vez que, como explicam Hatch, Schultz e Ciccolella (2004, p.8), “(…) a marca se torna uma representação simbólica da identidade organizacional e é expressa por meio de diversos artefatos”, sendo que estes artefatos podem ser “(...) acolhidos, transformados ou criticados, mas agem como símbolos icônicos na construção de imagens dos interlocutores da empresa (...)” (HATCH; SCHULTZ; CICCOLELLA, 2004, p.14). A rede da identidade e da imagem organizacional, juntamente com a rede simbólica cultural, portanto, constituem a rede simbólica da marca. Essas redes podem impactar significativamente nos diversos grupos de relacionamento da empresa e principalmente nos consumidores da marca, que podem associar a rede simbólica de suas próprias identidades e repertórios culturais com a rede simbólica da marca. A fusão destas redes torna possível a criação de laços emocionais e benefícios de auto-expressão entre a marca e seus consumidores (HATCH; SCHULTZ; CICCOLELLA, 2004; HATCH; SCHULTZ, 2008). A fusão destas redes simbólicas pode se consolidar de tal maneira que pode resultar, de acordo com Hatch, Schultz e Ciccolella (2004), na criação de comunidades de marca. Estas comunidades podem ser iniciadas tanto pela organização que fundou a marca, quanto por seus consumidores. De acordo com Balmer (2004) e Kornberger (2010), estes consumidores, por meio destas comunidades, podem defender e proteger a marca. Comunidades de marca são importantes porque abordam a natureza social da marca, cujo compartilhamento de crenças, significações, rituais e práticas sociais podem unir pessoas de diferentes países e culturas. Nesse sentido, uma comunidade de marca pode ser definida como “uma comunidade especializada e unida não - geograficamente, baseada em relacionamentos sociais que compartilham admiração por determinada marca” (MUÑIZ; O´GUINN apud KORNBERGER, 2010, p.136). Comunidades de marca costumam ser criadas e mantidas também na esfera virtual, em redes sociais da Internet, e podem influenciar nas interpretações dos significados da marca. Os participantes das comunidades de marca podem ser consumidores ou apenas admiradores da marca e ambos podem colaborar com percepções sobre a marca (KORNBERGER, 2010). Três características podem ser abordadas para se pensar comunidades de marca. A primeira é que os participantes da comunidade possuem aspectos em comum de suas identidades individuais e podem expressar parte de seus próprios valores e crenças por meio da marca. A segunda é que existem rituais e tradições que mantêm a comunidade de marca unida e a construção social de significações de marca, por parte de integrantes da 27 comunidade, envolvem alguns aspectos como a interpretação, a avaliação e até mesmo a rejeição de opiniões sobre a marca. A terceira é que comunidades de marca compartilham um senso de responsabilidade moral comum (KORNBERGER, 2010). A construção simbólica da marca, portanto, integra a construção da rede simbólica cultural, da identidade e da imagem organizacional, sendo essas redes mediadas pelas interações entre a alta administração, os empregados e os grupos de relacionamento da empresa, que podem interagir com a organização por meio das comunidades de marca. Para melhor compreensão da rede simbólica da identidade e da imagem organizacional, faz-se necessária a explicitação de conceitos e do processo de construção de identidade e imagem organizacional; bem como da interdependência entre identidade, imagem e cultura organizacional, por meio das abordagens de Gioia, Schultz e Corley (2000) e Hatch e Schultz (2002). 2.3.1 A identidade organizacional A identidade organizacional pode ser compreendida como o conjunto de atributos que uma organização possui e que são percebidos como típicos da trajetória da empresa, por parte de seus empregados e grupos de relacionamento. Ainda que as percepções sofram algumas variações entre os interlocutores e, portanto, não sejam igualmente compartilhadas por eles; os atributos definem a identidade quando algumas destas percepções influenciam políticas, regras, papéis, procedimentos e práticas organizacionais (ALMEIDA, 2006). Sob a perspectiva destas características, pode-se afirmar que a identidade recebe influência do material simbólico da cultura organizacional, ou seja, dos valores e crenças contidos na trajetória e na prática empresarial; e é construída a partir deste contexto cultural, nas interações entre a alta administração, os empregados e grupos de relacionamento da organização; bem como também é influenciada pelo ambiente social, político, econômico, histórico e geográfico em que a empresa atua. Sob essa perspectiva, é possível compreender a identidade organizacional enquanto processo relacional na organização; permeado por constante reinterpretação da realidade e das relações e marcado por tensionamentos (ALMEIDA, 2006). Nesse sentido, é possível perceber 28 a identidade organizacional como fundamentada em significados locais e em símbolos organizacionais e, assim, imersa na cultura organizacional. Os empregados percebem o contexto simbólico da organização e as percepções desenvolvem e mantêm a identidade. A construção simbólica da identidade é comunicada aos empregados da organização pela liderança, mas é interpretada e acionada pelos empregados com base nos padrões culturais desenvolvidos nas experiências de trabalho na empresa e na influência social advinda das relações externas e do contexto organizacional (HATCH; SCHULTZ, 1997, p.358). O caráter instável da identidade, portanto, surge do processo de inter-relações existentes entre os interlocutores, o ambiente e a cultura organizacional. Assim, (...) a identidade não é, e certamente não pode ser, durável em qualquer sentido restrito, mesmo que, aparentemente, ela retenha continuidade nas suas características essenciais. Deve haver fluidez nesta noção; do contrário, a organização estagnará em face das mudanças inevitáveis do ambiente (GIOIA; SCHULTZ; CORLEY, 2000, p.65). Desta forma, ainda que haja continuidade nas percepções dos valores de uma organização, expressos na identidade da mesma e projetados para diversos interlocutores; o sentido destes valores muda constantemente de acordo com as interpretações dos interlocutores, em vários contextos espaço-temporais. Mesmo que estes valores sejam reafirmados ao longo da trajetória organizacional, conferindo aparente estabilidade à trajetória da empresa; a interpretação dos mesmos não é, necessariamente, estável e fixa. (GIOIA; SCHULTZ; CORLEY, 2000). O processo de construção da identidade pode ser analisado sob uma perspectiva denominada história revisionista. Nessa abordagem, entende-se que ocorrem, internamente na empresa, mudanças freqüentes acerca das percepções existentes sobre a organização, o que, conseqüentemente, leva a uma revisão das percepções do passado. Assim, a identidade carrega algumas heranças do passado; outras são substituídas por novas orientações, enquanto outras são reconstruídas a partir de novos fatos ou interpretações. Este processo causa sensação de estabilidade na trajetória da marca, mesmo que esta sofra mudanças ao longo do tempo. Cria-se, sob esta visão, um paradoxo no processo de construção de identidade: (...) a aparente durabilidade da identidade se deve à consolidação dos valores usados pelos interlocutores da organização para expressar quem ou o que eles acreditam que a organização é; mas os sentidos associados a estes valores mudam e, portanto, a identidade é mutável. Por isso, reconceituamos a identidade organizacional como potencialmente precária e instável, sendo, freqüentemente, redefinida e revista pelos interlocutores organizacionais. (...) A instabilidade da identidade é, na verdade, adaptativa para facilitar as mudanças organizacionais em resposta às exigências do ambiente (GIOIA; SCHULTZ; CORLEY, 2000, p.64). 29 Criar e manter uma aparente durabilidade da identidade pode se constituir como fator relevante para o sucesso de uma marca; mas, por outro lado, não se deve descartar a habilidade de adaptação para se sobreviver e se sustentar em ambientes turbulentos (ALBERT & WHETTEN; COLINS & PORRAS apud GIOIA; SCHULTZ; CORLEY, 2000). Diante da perspectiva de análise história revisionista para o processo de construção da identidade, há que se destacar o grande desafio para a manutenção do equilíbrio entre os aspectos duráveis e fluidos existentes na identidade e, desta forma, nas interações organizacionais. A habilidade para construir relacionamentos favoráveis consiste em uma das características para a manutenção e sobrevivência da empresa e que, justamente por se tratar de um contexto multi-relacional, não se deve ignorar os paradoxos inerentes às práticas organizacionais, bem como as devidas contribuições que alguns contrapontos propostos nas interações estabelecidas entre a organização e seus interlocutores possam oferecer. Uma empresa capaz de se sustentar em um contexto complexo e multi-relacional pode compreender que a “instabilidade adaptativa” consiste em uma demanda de relevante impacto nas práticas organizacionais (GIOIA; SCHULTZ; CORLEY, 2000; HATCH; SCHULTZ, 1997, 2002, 2005). As análises sobre o processo de construção da identidade organizacional assemelham-se à perspectiva do processo de construção simbólica da marca, proposta por Hatch, Schultz e Ciccolella (2004), bem como por Hatch e Schultz (2008). Ambas as perspectivas enfocam a construção de uma rede simbólica, cujos significados sociais e culturais são produzidos, reproduzidos e modificados nas (re) interpretações ocorridas entre a organização e seus interlocutores. A caracterização destes processos legitima, novamente, o contexto paradoxal no qual as organizações atuam e o caráter relacional de suas interações. Nesse sentido, é possível afirmar a existência de uma realidade paradoxal no processo de construção e sustentação da identidade de uma empresa quando se compreende que, em uma mesma organização, coexistem diferentes percepções sobre a identidade; sendo estas congruentes em alguns aspectos, porém, conflitantes em determinados pontos. A existência de múltiplas percepções da identidade é natural e necessária, uma vez que para cada grupo de relacionamento de interesse, a organização direciona e ressalta alguns aspectos de seu comportamento. Com isso, pode-se compreender que uma empresa sustenta múltiplas identidades (ALMEIDA, 2005). Para efeito de análise da identidade, pode-se buscar compreendê-la a partir de algumas perspectivas que se interagem e se complementam: a identidade atual, a comunicada, a 30 concebida, a ideal, a desejada. A identidade atual se constitui a partir do que é a organização hoje: seu negócio, o mercado em que atua, seus produtos e serviços, estilo de gestão, estrutura organizacional. A identidade comunicada consiste nos atributos que são expressos nos processos de comunicação. A identidade concebida refere-se às percepções dos interlocutores sobre a organização; se seus atributos geram a imagem, a reputação e o reconhecimento da marca. A identidade ideal surge nos atributos definidos no planejamento estratégico e, por fim, a identidade desejada se encontra na visão que a liderança quer para o futuro da empresa (BALMER apud ALMEIDA, 2005). Outra abordagem para o estudo da identidade indica quatro perspectivas de análise: a identidade percebida, projetada, desejada e aplicada. A identidade percebida consiste nos sentidos que os empregados constroem sobre a empresa. A identidade projetada constitui a auto-apresentação da organização, expressa por meio de símbolos e de outras estratégias comunicacionais. A identidade desejada é aquela existente na mente dos líderes, no que eles idealizam ser a empresa. A identidade aplicada, por fim, consiste no comportamento dos empregados (VAN RIEL apud ALMEIDA, 2005). Entender a identidade organizacional é, portanto, compreender que há paradoxos existentes entre as identidades, no que diz respeito às diferentes percepções dos interlocutores sobre os atributos que as constituem. É perceber as interações entre a liderança, os empregados e os grupos de relacionamento da empresa. É pensar como se constrói o processo de interpretação da identidade, bem como o sentido de continuidade e ruptura. É interpretar a identidade em fluxo, imersa nos relacionamentos da organização, pautados pela cultura organizacional e pelo contexto em que a empresa atua. É, por fim, não dissociar a identidade da imagem, no que diz respeito ao processo de projeção dos atributos da identidade, que pode fornecer material simbólico para a construção de imagens e estas, por fim, podem influenciar a identidade organizacional (GIOIA; SCHULTZ; CORLEY, 2000; HATCH; SCHULTZ, 1997, 2002, 2005). 2.3.2 A imagem organizacional As imagens são importantes para a organização porque podem proporcionar, por meio do conjunto de percepções que as compõem, um meio para simplificar a realidade sobre um objeto (no caso, as organizações); sendo imagens positivas pré-requisitos básicos 31 para o estabelecimento de interações favoráveis entre a empresa e seus interlocutores, impactando nas relações de consumo, de fidelização de clientes e de escolha por uma determinada marca (VAN RIEL, 1997). Imagens também são importantes para as organizações porque podem ser utilizadas, por meio das percepções que as sustentam por parte dos interlocutores da empresa, como referências e, desta forma, funcionarem como dispositivos de estímulo e sustentação das relações com estes interlocutores (ALMEIDA, 2006). Uma vez que as imagens consistem em referencial das características de uma empresa, elas se constituem a partir das interpretações que os diversos interlocutores dão aos atributos que, fundamentados na cultura e na identidade organizacional, são projetados por meio de ações de comunicação. Nesse sentido, é possível afirmar que a gênese da imagem está na identidade organizacional; no conjunto de significados, ou seja, nas percepções que os interlocutores constróem acerca da identidade. O processo de construção de imagem é, ainda, influenciado pelos valores e crenças da cultura organizacional. Além disso, é um processo social, pois se encontra intrinsecamente dependente das relações entre a organização e seus interlocutores (ALMEIDA, 2006). Nesse sentido, pode-se concluir que a construção das imagens organizacionais é influenciada pelo material simbólico oferecido pela cultura e identidade organizacional. Uma vez que os atributos da cultura e da identidade são projetados para os interlocutores, e há construção de percepções sobre os atributos, as imagens tornam-se artefatos culturais usados simbolicamente para perceber a identidade e a cultura da empresa. Sob essa visão, não se pode pensar a imagem dissociada da identidade e do contexto cultural em que emerge (HATCH; SCHULTZ, 1997; GIOIA; SCHULTZ; CORLEY, 2000). Van Riel (1997, p.79) concorda com Hatch e Schultz (1997) sobre o processo de construção de imagens organizacionais, ao afirmar que as imagens são formadas “(...) por meio de cadeias ou rede de associações que são construídas durante um período de tempo, como conseqüência de estímulos que se acumulam lentamente”, construindo um “(...) conjunto de significados que tornam um objeto conhecido e pelos quais é possível descrever, recordar e se relacionar com este objeto” (VAN RIEL, 1997, p.81). A construção de imagens organizacionais perpassa, sob o ponto de vista de Van Riel (1997), um “mosaico de impressões” que não são construídas somente a partir da relação da empresa com seus interlocutores; mas também de outros fatores do contexto organizacional, como a categoria do produto com o qual a empresa trabalha, o país de origem da 32 organização, o próprio setor mercadológico ao qual a empresa atua, a imagem da marca da organização, dentre outros aspectos. Complementando, Almeida (2006) afirma que o processo de construção de imagens envolve (...) a relação direta do indivíduo com seus produtos e serviços; os contatos com os membros da organização; referências de outras experiências; influência de opiniões de terceiros; mensagens dos meios de comunicação; inferências e sensações positivas ou negativas que são agregadas através das relações entre diversos atores sociais. Fatores como crenças, valores, ideologias predominantes em determinados segmentos também exercem um papel preponderante nesse processo. Outro aspecto que também contribui para a imagem de uma organização é a região, cidade ou país em que está inserido o setor do negócio (ALMEIDA, 2006, p.40). Uma vez que as imagens são influenciadas pela cultura e identidade organizacional, além de sofrerem influência dos aspectos descritos por Van Riel (1997) e Almeida (2006), é possível afirmar que não há controle, por parte da liderança sobre os sentidos produzidos sobre a organização. Se a imagem organizacional também é contextualizada nas interações entre a empresa e seus interlocutores, ela pode sofrer o mesmo processo história revisionista definido por Gioia, Schultz e Corley (2000) 2. Assim, pode-se pensar a formação da imagem tanto a partir da revisão de fatos passados, quanto a partir de novos fatos ou interpretações sobre a organização. Sob a perspectiva história revisionista, a imagem organizacional sofre mutações para se adaptar e, assim, caracteriza a estrutura do processo de construção de imagens como flexível e dinâmica. Segundo Gioia, Schultz e Corley (2000), o interesse estratégico da administração não é mais a preservação de uma identidade fixa, mas a habilidade de gerenciar e balancear uma identidade flexível, à luz das mutações nas imagens (...). Manter a consistência se torna a manutenção de uma consistência dinâmica. A instabilidade alimenta a adaptabilidade (GIOIA; SCHULTZ; CORLEY, 2000, p.79). Existem diversos conceitos e abordagens de estudos sobre imagens organizacionais. O quadro a seguir apresenta seis perspectivas, suas definições e principais autores: 2 O processo história revisionista encontra-se detalhado no tópico 2.3.1 33 Denominação Definição na literatura Principais autores Imagem externa construída Percepção dos empregados da organização sobre como os grupos de relacionamento externos vêm a empresa Dutton; Dukerich (1991) Dutton, Dukerich; Harquail (1994) Percepção de prestígio externo Percepção dos empregados da organização sobre como os grupos de relacionamento externos vêm a empresa. Também denominada imagem externa construída Smidts, Pruyn e Riel (2001); Carrol e Riel (2001); Elstak e Riel (2004); Carmeli e Freund (2002); Carmeli (2004) Imagem projetada Imagem criada pela liderança administrativa para ser comunicada aos seus empregados e grupos de relacionamento, podendo representar ou não a realidade Alvesson (1990) Bernstein (1984) Imagem desejada Como a liderança administrativa gostaria de ser vista por seus empregados e grupos de relacionamento, num dado momento, no futuro. Trata-se da percepção idealizada da visão estratégica organizacional Gioia; Chittipeddi (1991) Gioia; Thomas (1996) Impressão transitória Interpretação de curto prazo construída pelos interlocutores através da observação direta ou interpretação de símbolos fornecidos pela organização Berg (1985) Grunig (1984, 1997) Reputação Julgamento coletivo dos interlocutores sobre as ações e realizações da organização. Relativamente estável e de longo prazo Fombrun (1996) Fombrun; Shanley (1990) Quadro 2: Quadro Demonstrativo – Estudos de Imagem Organizacional. Fonte: Adaptado de Almeida (2005, p.70). Percebe-se, de acordo com as abordagens apresentadas na Figura 2, que as imagens consistem em percepções das projeções da identidade e da cultura organizacional, que podem ser construídas de duas formas. Quando as percepções constituem-se a partir do autosentido, significa que as mesmas foram formadas por uma recordação subjetiva de uma experiência que não significa a sua cópia exata, mas uma projeção. Neste caso, a imagem é, 34 portanto, criada pelo próprio agente da ação. Quando as percepções são comunicadas, elas se formam a partir da tentativa do emissor de projetar certa impressão para uma audiência específica. A imagem, portanto, é criada para um terceiro, que não o agente da ação (ALVESSON, 1990). As abordagens “imagem externa construída, percepção de prestígio externo e imagem desejada”, de acordo com suas definições, podem ser comparadas à interpretação de Alvesson (1990) sobre a formação de percepções por auto-sentido. Já as abordagens “imagem projetada” e “imagem desejada”, de acordo com suas definições, podem melhor esclarecer a proposta de Alvesson (1990) sobre o conceito de percepção comunicada. Se há uma percepção comunicada; uma idealização da visão estratégica organizacional; sobre como a organização deseja ser reconhecida, é importante ressaltar que as imagens organizacionais não consistem somente em percepções criadas pelos empregados e grupos de relacionamento da empresa, mas também pelas percepções da liderança sobre a própria organização (ALVESSON, 1990). Sob a visão de Alvesson (1990) o processo de construção de imagem organizacional é resultado de um processo de percepção (auto-sentido) realizado pelos empregados da organização, sendo que essas percepções podem ser influenciadas tanto pelas interpretações dos grupos de relacionamento, quanto pela percepção idealizada (comunicada) da visão estratégica organizacional. Imagens organizacionais se constituem, portanto, em um processo complexo, paradoxal e multifacetado; influenciado por percepções que os empregados, os grupos de relacionamento e a liderança constróem acerca da empresa, e permeado por significações simbólicas da cultura e da identidade organizacional (ALMEIDA, 2006). O processo de interdependência entre cultura, imagem e identidade organizacional será aprofundado a seguir. 35 2.3.3 A interdependência entre identidade e imagem organizacional: um processo relacional e simbólico A interdependência entre cultura, identidade e imagem organizacional pode ser abordada por meio do “Modelo do Processo de Interdependência de Identidade-Imagem”, proposto por Gioia, Schultz e Corley (2000) e representado na Figura 1: Figura 1: Modelo do Processo de Interdependência Identidade/Imagem Fonte: Traduzido e adaptado de Gioia, Schultz e Corley (2000, p.69). Sob a visão de Gioia, Schultz e Corley (2000), este processo tem início nas percepções que os empregados desenvolvem acerca do que eles compreendem ser a empresa e do que eles comunicam sobre a organização para outros grupos de relacionamento. Como Hatch e Schultz (1997, p.359) afirmam: “a imagem é influenciada pelas interações diárias entre os membros organizacionais e audiências externas”. 36 Como os empregados não fazem parte somente do local em que trabalham, mas também participam de outras formas de interações sociais externas a esse ambiente, verificase a constante ocorrência de influências, bem como de efeitos desestabilizadores, fruto das percepções alheias que existem e que se projetam diretamente sobre a organização. Nesse sentido, as percepções produzidas podem contribuir para a revisão e reconstrução do sensopróprio que os empregados possuem da empresa em que fazem parte (GIOIA; SCHULTZ; CORLEY, 2000). Gioia, Schultz e Corley (2000) esclarecem este processo da seguinte forma: quem nós acreditamos ser como organização é parcialmente baseado em como os outros nos vêm; portanto, o feedback dos grupos externos da organização sobre que impressões produzimos neles nos atentam a olhar para nossa identidade e avaliar a similaridade das duas percepções (GIOIA; SCHULTZ; CORLEY, 2000, p.68). Se no exercício de comparação das percepções, as diferenças de entendimentos sobre a organização não afetarem de modo relevante a percepção atual, a identidade organizacional não sofre alterações. No entanto, se essas percepções forem muito conflitantes, surgem diversos questionamentos sobre a imagem e a identidade da empresa. Para tanto, a empresa pode ou mudar a percepção de si mesma, o que significa transformar alguns aspectos da identidade a fim de desenvolver uma imagem futura desejada; ou tentar mudar as percepções externas (GIOIA; SCHULTZ; CORLEY, 2000). Gioia, Schultz e Corley (2000) concluem que o cerne deste processo se encontra no constante exercício cíclico de projeção e reinterpretação, o que significa que a identidade não é estável, nem mesmo desvinculada da imagem. Sob a perspectiva de Hatch e Schultz (1997), as interpretações e a criação de estratégias e visões são produtos de uma cultura e, por isto, não se pode ter controle da identidade e da imagem. A interdependência entre identidade e imagem organizacionais também é apresentada por outro modelo, proposto por Hatch e Schultz (2002). Este modelo tem como foco central a formação da identidade organizacional, articulada com os processos de construção de sentido a partir da cultura organizacional e da imagem, direcionadas para o contexto interno (cultura) e externo (imagens) se influenciam que afetam a identidade organizacional, conforme demonstra a Figura 2: 37 Figura 2: Modelo da Dinâmica da Identidade Organizacional. Fonte: Traduzido e adaptado de Hatch e Schultz (2002, p.991). A cultura, a identidade e a imagem se co-produzem por meio de um fluxo permanente de percepções compartilhadas entre a organização e seus interlocutores. Hatch e Schultz (2002, p.1004) afirmam que este modelo teórico “(...) é feito para indicar que a identidade organizacional resulta de uma série de processos cíclicos que continuamente ocorrem dentro e entre entendimentos culturais próprios e imagens formadas por segmentos externos”. Este modelo explica como a identidade é continuamente criada, sustentada e reformulada. Isto ocorre, primeiramente, quando as reações e opiniões de grupos de relacionamento externos à organização afetam a identidade organizacional. As percepções externas motivam os empregados e a liderança administrativa a repensar a identidade e, se as percepções forem muito conflitantes; tanto os empregados quanto a liderança administrativa podem ser motivados a refletir sobre suas percepções da identidade e/ou da imagem organizacional (HATCH; SCHULTZ, 2002). A reflexão sobre a identidade também se amplia para o campo da cultura organizacional, uma vez que os empregados e a liderança não desenvolvem a identidade somente a partir de percepções externas, mas a constroem no conflito entre as diferenças externas e internas, sendo que as diferenças internas se baseiam nos valores, crenças e comportamentos da cultura organizacional. Assim, reflexões sobre a identidade também constituem reflexões sobre a cultura nas organizações (HATCH; SCHULTZ, 2002). 38 Uma vez que as percepções podem estimular reflexões sobre a identidade e a cultura, e até mesmo influenciar para que haja mudanças sobre o sentido de quem é a organização, seus valores, crenças e comportamento; e estas mudanças acontecem, elas precisam ser comunicadas. Para tanto, novos aspectos da identidade são expressos e, com eles, novos valores culturais. Consequentemente, isto gera novas percepções, reiniciando o processo de formação de imagem, bem como de recriação e sustentação da identidade e da cultura (HATCH; SCHULTZ, 2002). Os modelos de interdependência entre imagem e identidade de Gioia, Schultz e Corley (2000) e de Hatch e Schultz (2002) foram abordados por apresentarem semelhança com o processo de construção simbólica da marca, anteriormente abordado sob a ótica de Hatch, Schultz e Ciccolella (2004), bem como de Hatch e Schultz (2008). A natureza do processo de interdependência da identidade, da imagem e da cultura organizacional é, tanto quanto a do processo de construção simbólica da marca, caracterizada pela natureza transitória dos processos de produção de sentido nas organizações. Nesse sentido, é possível afirmar que tanto o processo de interdependência quanto o processo de construção de marcas podem ser compreendidos como processos relacionais, uma vez que as percepções se constituem a partir das interações entre a organização e seus interlocutores e podem ser relevantes e influentes nas percepções. Sob a perspectiva simbólica de construção da identidade, da imagem e da marca organizacional, compreende-se que essa construção e sustentação de uma rede de significados simbólicos é de grande relevância para as organizações; uma vez que, segundo Hatch e Schultz (2008), é a rede simbólica que sustenta o valor de marca, importante fator de competitividade para as empresas. Para se compreender a inter-relação entre valor de marca e identidade organizacional, é possível comparar o processo de construção de valor de marca com o processo de construção da identidade organizacional, proposto anteriormente por Gioia, Schultz e Corley (2000). Sob a perspectiva desses autores, os valores da cultura organizacional, projetados pela identidade organizacional, conferem, ainda que aparentemente, uma estabilidade à trajetória da empresa, visto que são repetidamente usados para se referirem à organização. No entanto, a interpretação destes valores não é, necessariamente, estável e fixa. A construção do sentido de identidade se dá, portanto, na complexidade e na ambigüidade das interações que ocorrem entre a organização e seus interlocutores, bem como o contexto em que se inserem. Este mesmo processo ocorre na construção de valor de marca, pois as interpretações acerca destes 39 valores também são heterogêneas e conflitantes, além de se constituírem nas interações entre a organização e seus interlocutores. O processo de construção de valor de marca pode analisado sob a perspectiva do processo de construção simbólica de marcas, apresentada anteriormente pelos autores Hatch, Schultz e Ciccolella (2004) e Hatch e Schultz (2008). Sob a visão do processo, é possível compreender que o investimento na construção e sustentação de uma rede de significados simbólicos é que endossa a construção do valor de marca. Outra perspectiva de análise para o processo de construção de valor de marca consiste no entendimento do processo sob o ponto de vista dos recursos organizacionais. Esta perspectiva baseia-se no fato de que as organizações são heterogêneas em seus recursos e capacidades e que, se estes recursos e capacidades tiverem critérios específicos (distintividade), eles podem promover um desempenho superior para a organização. Para tanto, tais recursos, que endossam o processo de construção de valor de marca, precisam ser resistentes, duráveis, raros, protegidos, não copiáveis e valiosos (BALMER, 2004). Quando os recursos organizacionais são resistentes, eles não enfraquecem significativamente ou se tornam obsoletos diante de novos paradigmas, tecnologias e modelos de negócios. Para tanto, Balmer (2004, p.9) afirma serem necessários “(...) investimentos constantes que endossem os fatores que criam valor e, mais ainda, auxiliem na diferenciação de marca”. Para que os recursos da empresa sejam duráveis, o valor dos mesmos não pode se depreciar rapidamente. Nesse sentido, o investimento em marcas organizacionais torna-se mais relevante do que investir somente em marca de produtos. Isto se deve ao fato de que os recursos de valor de marcas organizacionais possuem maior durabilidade do que outros tipos de recursos de valor. A exemplo disso, afirma-se que marcas de produto, mesmo tendo um aumento de valor quando, por exemplo, incorporam valores como alta tecnologia; perdem rapidamente esta vantagem competitiva e, portanto, possuem um ciclo curto de vida no mercado. Isto porque as mudanças tecnológicas no contexto atual são frequentes e, portanto, o que hoje é considerado valor em um produto que oferece alta tecnologia, pode não ser amanhã (BALMER, 2004). A exclusividade dos recursos também é necessária para que a concorrência não consiga competir com os mesmos recursos no mercado. Desta forma, torna-se importante investir em marcas organizacionais, ao afirmar que uma marca consiste em um recurso raro para uma organização não somente porque se associa às características funcionais da empresa, 40 mas também porque se associa ao seu conjunto de artefatos simbólicos. Ao longo do tempo, estes fatores desenvolvem a distintividade da empresa (BALMER, 2004). Marcas também consistem em recursos históricos que dependem consideravelmente de crenças, percepções e experiências. A exclusividade dos recursos pode gerar proteção para a empresa. Além disso, Balmer (2004) explica que, quando os recursos de uma organização são protegidos, a mesma pode ter mais facilidade para capturar a maior parte dos lucros que fluem no mercado. Marcas que possuem forte valor de marca não são facilmente copiáveis. Primeiramente porque marcas são protegidas por lei e, portanto, logo, nomes, música, dentre outros aspectos, não podem ser reproduzidos para mais de uma marca. A segunda é que a essência da marca é intangível e, consequentemente, difícil de ser copiada. Nesse sentido, a durabilidade dos valores de marca pode ser de longo prazo, uma vez que as marcas são protegidas por sua natureza complexa, a exemplo de sua trajetória histórica e de seus relacionamentos. Outra barreira para que as marcas não sejam facilmente copiadas consiste nas comunidades de marca – grupos e indivíduos que demonstram afinidades com as marcas e as protegem, como consumidores, empregados, outras organizações, dentre outros. Balmer (2004) define estes grupos como os “advogados da marca”. A resistência, a durabilidade, a raridade, a proteção, a dificuldade de réplica dos recursos de uma organização é que geram, por fim, o valor destes recursos; tanto do ponto de vista financeiro quanto dos valores intangíveis que são sustentados simbolicamente pelas percepções que os interlocutores produzem sobre uma marca (BALMER, 2004). Balmer (2004) enfatiza a importância do valor destes recursos ao explicar que um processo tecnológico, enquanto recurso, pode gerar menos custos de produção e maiores margens de lucro. No entanto, os benefícios são medianos; a menos que estes recursos sejam de longo prazo. Em contra partida, a marca, ao distinguir a organização da concorrência e criar valor na mente dos interlocutores, pode gerar benefícios inestimáveis e de longo prazo. Como vantagem, marcas que possuem valor apresentam facilidade para estender sua linha de produtos e serviços, ou diversificar os mesmos em mercados semelhantes e distintos. Isto também significa redução de custos para lançar novos produtos e serviços no mercado: com a utilização de uma marca conhecida e favorável, não se gasta o mesmo para lançar produtos e serviços de uma marca desconhecida. Marcas que possuem valor também podem atrair mais investidores e parceiros. Balmer (2004) conclui que marcas de grande valor consistem em uma importante fonte estratégica para a organização. 41 2.4 A Comunicação de marcas As organizações, segundo Pinto (2008), constituem um contexto o qual o fenômeno da comunicação acontece e sentidos diversos são produzidos, o que garante a existência de uma Comunicação Organizacional. Isto não quer dizer que há um modo de preparo para se constituí-la, como esclarece o autor: “o movimento contrário (...) tem demonstrado sua esterilidade na enorme sucessão de manuais que apenas reforçam a dimensão operacional e tarefista desse fazer comunicativo em específico” (PINTO, 2008, p.81). Desta forma, o autor defende que é necessária uma prática comunicacional; não só no contexto das organizações, mas em todas as suas esferas, que não se prontifique a cristalizar os processos de produção de sentidos. Piedras e Jacks (2006) afirmam que a comunicação não deve ser entendida meramente como instrumento mercadológico, mas como um processo imbuído de práticas culturais. Pode-se reduzir o seu papel à produção e divulgação de informações, mas também se pode compreender que suas mensagens emergem em contextos contraditórios - tanto econômico quanto culturalmente. A comunicação de marca das organizações, portanto, deve superar suas funções meramente transmissionistas e lineares, para desenvolver ações pautadas em um contexto social polissêmico, cuja produção de sentido relaciona-se com uma variedade de intertextos culturais que se encontram além das práticas comunicacionais intencionadas pela organização. Pinto (2008) enfatiza que esta mudança ainda consiste um desafio para as empresas, e conclui que é preciso (...) a partir de uma percepção do comunicar como algo geral que se manifesta em contextos específicos, ser capazes de produzir um pensamento sobre a comunicação no contexto das organizações que não seja serviçal, como tem sido até hoje, mas que possa contribuir para defasar a razão instrumental utilitária e introduzir, em vez dela, o homo comunicans. (PINTO, 2008, p.88). Oliveira (2008) compreende este mesmo desafio ao afirmar que a Comunicação Organizacional tem abandonado, pouco a pouco, uma abordagem informacional e tática, para adotar uma concepção relacional dos processos. Para a autora, as práticas de construção e análise dos sentidos embutidos na Comunicação Organizacional mudaram as percepções em torno do receptor; entendido, de acordo com as perspectivas relacionais, como interlocutor no processo comunicacional. O interlocutor é considerado sujeito e, ao utilizar a linguagem em 42 favor de suas demandas, legitima o processo de construção de sentidos e de vinculação social com as organizações. Nesse sentido, Souza, citado por Piedras e Jacks (2006) destaca: (...) passa-se a reconhecer que as diferentes mediações sociais são o entorno cultural, a matriz de sentidos que alimenta o processo da recepção, e percebe-se o receptor como sujeito e ator num processo mais amplo e complexo do que aquele que o circunscrevia apenas ao emissor e às tecnologias de suporte (SOUZA apud PIEDRAS; JACKS, 2006, p.6-7). O entendimento sobre a recepção, nesse sentido, migrou do simples movimento de emissão e resposta para práticas mais complexas, permeadas pela subjetividade e por múltiplas interpretações. Piedras e Jacks (2006) enfatizam que a leitura e/ou apropriação das mensagens não possuem objetivos claros e podem perpassar diversos interesses, bem como são determinadas pelas articulações das ofertas da produção (emissão), pelas demandas da recepção e pelas condições do contexto cultural. Nesse sentido, o processo comunicacional deve ser “contextualizado historicamente na economia, na política e na cultura de determinada sociedade como forma de avaliar seu lugar no mundo contemporâneo” (PIEDRAS; JACKS, 2006, p.5). Para Corbellini (2007), a comunicação acontece por um processo circular, no qual a produção de um conjunto de códigos compartilhados torna-se comum entre os sujeitos envolvidos no processo, num determinado contexto, por meio da interpretação da rede simbólica envolvida em toda a atividade comunicacional. Neste processo, os receptores precisam ser compreendidos como interlocutores, uma vez que “(...) mediante a interação, o destinatário se converte, por sua vez, em emissor e alimenta novamente a comunicação’’ (CORBELLINI, 2007, p.270). Se não há, portanto, apenas o trabalho de se transmitir e receber mensagens, mas de construir significados mutuamente; para as empresas isto significa que a comunicação planejada, que objetiva a divulgação e a promoção de vínculos com a marca que a representa, não é somente um exercício de projeção por parte da empresa, mas também uma construção na mente dos seus diversos interlocutores (CORBELLINI, 2007). Se a comunicação consiste na construção de um sistema simbólico, cujos papéis dos interlocutores encontram-se cada vez mais interligados; torna-se imprescindível pensar a comunicação de forma integrada, angariando os esforços da comunicação organizacional para solidificar um processo que considere todos os processos de comunicação da empresa. (CORBELLINI, 2007). 43 Para Verón (2004), o modelo comunicacional que analisa a produção de sentido, considera o pólo da emissão como produção, e o da recepção como reconhecimento dos discursos; e a circularidade de sentidos produzidos é caracteristicamente não-linear, uma vez que os discursos produzidos neste processo não produzem apenas um único efeito, mas uma diversidade de efeitos possíveis. Tudo isto qualifica o processo comunicacional enquanto um sistema complexo de discursividades sociais, cuja “(...) midiatização acelerada das sociedades industriais leva-nos, muito provavelmente, a funcionamentos significantes cada vez mais complexos” (VERÓN, 2004, p. 85). Tratando-se das Condições de Produção e Gramáticas de Reconhecimento, Verón (2004) afirma que consistem nos dois pólos do sistema de produção de sentido, no qual a defasagem de sentidos é chamada de circulação. Pode-se priorizar, num processo de análise de discurso, um ou outro pólo, ou ambos, quando o interesse concentra-se na compreensão do processo de circulação. Verón (2004) afirma que as condições de defasagem são muito diversificadas, a depender do tipo de suporte material-tecnológico presente no discurso, bem como o contexto temporal ao qual este mesmo discurso se insere. Além disso, o autor destaca que a noção de circulação é que confere dinâmica ao processo comunicacional, pois “designa o modo como o trabalho social de investimento de sentido nas matérias significantes se transforma no tempo” (VERÓN, 2004, p.54). Outra perspectiva de análise para a compreensão da produção de sentido nos processos comunicacionais pode ser abordada pelos conceitos do teórico Mikhail Bakhtin, apresentados pelas autoras Brait e Melo (2007): enunciado, enunciado concreto e enunciação. Para apresentar estes conceitos, as autoras comentam que Bakhtin faz, primeiramente, uso da concepção de linguagem; uma vez que a mesma se constitui histórica, cultural e socialmente e, portanto, engloba indivíduos, discursos e processos comunicacionais. Nesse sentido, entender o que é enunciado, enunciado concreto e enunciação só se torna viável por meio da compreensão da linguagem (BRAIT; MELO, 2007). No entanto, é importante perceber que um enunciado não se constrói somente a partir de fatores estritamente linguísticos, mas inclui outros três fatores: a unidade do visível, o ambiente no qual o enunciado se constitui; o compartilhamento de sentido sobre o mesmo enunciado, entre os interlocutores e, por fim, as percepções comuns, por parte dos interlocutores, sobre o enunciado e seu contexto. Estes aspectos “(...) configuram 44 necessariamente, o processo interativo, ou seja, o verbal e o não verbal que integram a situação (...)” (BRAIT; MELO, 2007, p.67). Para que o enunciado se torne concreto, é necessário que o discurso enunciado seja percebido por seu interlocutor; e as percepções precisam ser histórica, social e culturalmente contextualizadas. Isto significa que o enunciado e o enunciado concreto, que caracterizam o processo de enunciação, só existem sob a condição de um processo interativo baseado em determinado contexto (BRAIT; MELO, 2007). Nesse sentido, o processo interativo da enunciação é marcado tanto pelo autor do enunciado quanto a quem o enunciado se destina. Por meio de alguns questionamentos, Brait e Melo (2007) esclarecem o caráter interativo da enunciação, uma vez que as questões inferem sobre a relação do produtor do enunciado e do seu destinatário: como o emissor imagina e percebe seu receptor? Em que medida o receptor pode influenciar o enunciado? Importante ressaltar que no processo de enunciação não há somente o uso da linguagem verbal; a linguagem audiovisual (imagens, cores e sons) também o caracteriza e, desta forma, ambas constituem o discurso (enunciado) e as percepções sobre o mesmo (BRAIT; MELO, 2007). A perspectiva da produção de sentido para o processo comunicacional pode auxiliar na compreensão da comunicação de marcas. A comunicação de marcas, sob essa abordagem, precisa ser analisada a partir de um contexto histórico, social e cultural; em que se faz necessário entender as relações existentes entre os diversos atores sociais, bem como as mediações entre estes atores e os meios de comunicação. Nesse sentido, entende-se que a comunicação de marcas acontece no contexto da comunicação organizacional e é, portanto, permeada pelo contexto histórico, social e cultural da organização; além de caracterizada pelas interações que ocorrem entre a empresa e seus interlocutores. 45 3 MARCAS DE MODA Este capítulo apresenta uma breve revisão sobre a história da moda, entre a metade do século XIX até os dias atuais, a fim de compreender porque o simbólico tornou-se relevante para marcas de moda e como a sustentabilidade tornou-se uma tendência para o setor. O capítulo ainda expõe algumas abordagens sobre moda e identidade individual, objeto e processo de moda, estilo e tendência. Por fim, aborda questões sobre algumas especificidades midiáticas de marcas de moda como, por exemplo, a relevância dos desfiles e dos anúncios publicitários para estratégias de comunicação de moda. Nesse sentido, espera-se estabelecer um arcabouço teórico capaz de subsidiar as análises sobre as estratégias de comunicação de marca da grife Osklen. 3.1 A construção do simbólico nas marcas de moda A construção do simbólico é necessária às marcas de moda porque somente por meio desta que se vai além das funções racionais da indumentária para se criar o desejo de consumo; muito embora o valor do produto não deva ser ignorado, pois possui grande impacto sígnico na relação marca-consumidor (CORBELLINI, 2007). Nesta relação, o imaginário simbólico é construído e consolidado quando há identificação por parte do consumidor com a rede simbólica proposta pela marca, o que coloca a marca como principal objeto de comunicação na relação marca-consumidor. Para que este relacionamento possa se consolidar e ganhar durabilidade, é preciso que haja uma leitura transversal entre a identidade da marca e a de seus consumidores (CORBELLINI, 2007). A necessidade de se construir uma rede simbólica na relação marca de moda e consumidor pode ser explicada por meio do desenvolvimento histórico do modo de produção industrial no setor da moda, bem como de difusão de tendências e práticas de consumo, sob as abordagens de Black (2008) e Roux (2005). Entre a metade do século XIX e a metade do século XX, a Alta Costura, consistia em um modo de produção artesanal que difundia modelos a serem copiados pelas lojas de departamentos emergentes, vendidos para clientes privados e alguns fabricantes. Na segunda 46 metade do século XX, o modo de produção ganhou velocidade e a indústria norte-americana destacou-se por desenvolver um vestuário mais prático, ready-to-wear3. As casas de alta costura francesa também aderiram ao estilo prêt-a-porter4 para não perderem influência mercadológica (BLACK, 2008). O estilo casual norte-americano padronizou os hábitos indumentários da juventude entre as décadas de 70 e 80. Entretanto, também sofreu oposições com os movimentos hippie, punk e gótico; contrários à massificação do modo de se vestir. Isto significou a fragmentação de mais estilos, pois cada movimento possuía peculiaridades nos adornos e nas vestimentas. Tudo isso enfraqueceu o status dos estilistas advindos da alta costura e a moda pronta-para-usar (BLACK, 2008). No entanto, mesmo com a existência de movimentos contrários ao consumo massificado de moda; a diversificação de estilos durante a década de 80 proporcionou a ampliação de novos mercados, subsidiados por diversas marcas de moda. Numa época paradoxal, entre protestos e o auge da sociedade de consumo; as marcas de moda ganharam mais relevância que seus próprios estilistas e tornaram-se os novos símbolos de luxo e status da época (ROUX, 2005). O luxo, neste período, foi “plenamente reconhecido como setor econômico e industrial (...) com a constituição e o desenvolvimento de grandes grupos em torno de uma carteira diversificada de marcas de luxo” (ROUX, 2005, p.89). Nesse sentido, o setor da moda; antes um modo de produção artesanal, consolidou sua lógica financeira e industrial, que “integra a procura, a concorrência, as necessidades do mercado e dos consumidores” (ROUX, 2005, p.93). O consumo de marcas de moda durante a década de 80, especialmente o de marcas de luxo; portanto, conferia legitimidade e raridade aos clientes por meio da ostentação das marcas, exacerbadamente estampadas nos produtos; estes que deveriam consistir simplesmente em um meio de acesso às marcas e à exposição social. Esforços para a criação de uma rede simbólica que sustentasse o valor destas marcas não eram necessários nesta década, visto que a demanda pelo consumo do luxo era superior à oferta (ROUX, 2005). O consumo de marcas de moda difundiu-se e, de acordo com Black (2008), durante a década de 90, o poder de consumo sobre as mesmas sofreu aumento, especialmente no consumo de marcas de luxo; o que resultou numa maior difusão dos valores atrelados ao luxo. Roux (2005) compreende estas transformações ao afirmar que houve uma maior 3 4 Pronto-para-usar. Idem. 47 diversificação de público consumidor: tanto os ricos quanto os pertencentes à classe média consumiam marcas de luxo. No entanto, houve uma mudança significativa no comportamento de consumo destas marcas: os consumidores já não topavam pagar “qualquer preço” por elas. Esta mudança no comportamento de consumo de marcas de moda, especialmente das marcas de luxo, exigiu maiores esforços de comunicação e rigor na gestão dessas marcas; uma vez que deveriam difundir-se, sem serem banalizadas; sem perderem seu estilo e identidade. Nesse sentido, tornou-se imprescindível a redução da distância entre “luxo” e massa”; o que implicou na construção de uma rede simbólica em torno das marcas de moda, a fim de manter a seletividade de consumidores, ainda que mais efêmeros; e sustentar preços competitivos no mercado (ROUX, 2005). Neste contexto, embora houvesse uma saturação de ofertas de marcas de moda de luxo; os preços dos produtos e serviços deste mercado, ainda que mais acessíveis, não se tornaram populares. A justificativa para diferenciação de custo em relação às marcas populares pautou-se, portanto, nestes novos consumidores; mais sensíveis aos preços, mais exigentes e informados em relação às marcas, e mais interessados em consumirem os atributos intangíveis das marcas. Consolida-se, por fim, a relevância do valor simbólico das marcas de moda (ROUX, 2005). Atualmente, o consumo de marcas de moda, bem como de marcas de moda de luxo, tornou-se mais circunstancial e a gestão destas marcas ganhou maior relevância; uma vez que a relação entre elas e os consumidores baseia-se mais em um vínculo emocional, intenso e efêmero (ROUX, 2005). A lógica de consumo de moda e do universo do luxo, portanto, sofreu modificações. A lógica ostentatória de consumo não foi extinta, mas a valorização de códigos aparentes, de acordo com Roux (2005, p.95), cedeu mais espaço para a “busca de sentido, de autenticidade e de emoções”. A autora explica melhor esta mudança ao afirmar que de fato, as expectativas diante das marcas (...) de luxo (...) realmente se deslocaram: expressão de si, partilha de emoções fortes, busca de autenticidade e de sentido, adesão a uma ética – isto é, à sua visão de mundo – e a uma estética, exaltação do universo do sensível e maneira única, para cada marca, de transmitir e de compartilhar uma emoção (ROUX, 2005, p.121). Esta necessidade de expressão de si se faz paradoxalmente, no que a autora entende por jogos sucessivos de identidade e de estilos, pautados pela lógica do efêmero. A identidade torna-se questão fundamental para a compreensão do comportamento do consumo 48 contemporâneo de marcas de moda e de marcas de moda de luxo, bem como da gestão destas marcas. Uma vez que os sujeitos transitam entre o aprofundamento do sentido de si mesmos e a sedução dos jogos efêmeros de identidades no consumo de moda; por meio da diversificação de uso dos estilos indumentários ou pela preferência à determinada marca por uma temporalidade específica, dentre outros fatores; a compreensão da identidade, tanto para a lógica do consumo quanto para a gestão das marcas de moda, precisa ser paradoxal, pois “trabalhar sobre a identidade de uma marca (...) é buscar, portanto, as invariantes sob as variações, a permanência sob as rupturas, as mudanças, a inovação, para apreender-lhes o sentido” (ROUX, 2005, p.142). Neste contexto, a construção e solidificação da legitimidade de uma marca de moda se dão nas interações com os diversos grupos de relacionamento da marca, por meio das projeções da identidade e da formação de imagens – percepções – sobre a marca. O processo de construção da legitimidade também perpassa a união do talento criativo do fundador da marca e suas criações, que precisam ser originais, exclusivas e constantemente renovadas. A estética da marca de moda é fundamental, pois é ela que organiza, de maneira distinta e singular, o mundo do sensível da marca e, co-relacionada com a visão de seu criador, constrói a ética – o conjunto de valores – da marca (ROUX, 2005). A legitimidade de uma marca de moda deve ser construída, ainda, sob os intangíveis de sedução, estética e prazer; além de criar uma ética – um compartilhamento de valores comuns – entre a marca e seus interlocutores. Roux (2005) enfatiza que tanto a legitimidade, construída por meio das imagens, quanto a identidade, precisam justificar o valor de marca. O campo da moda e do consumo de marcas de moda de luxo, ainda de acordo com Roux (2005), vive atualmente algumas consequências paradoxais resultantes do triunfo da moda ao longo do desenvolvimento da sociedade e, em particular, da sociedade de consumo: equilibrar as atividades de produção com aspectos econômicos e de negócios da indústria, concomitantemente ao desenvolvimento da criatividade e da inovação nos produtos, serviços e atributos de distintividade oferecidos pela marca. Neste cenário, os paradoxos existentes entre a lógica produtiva, econômica e empresarial das indústrias de moda; a lógica da criação, subsidiada pela arte e pela busca de conceitos estéticos, dentre outros aspectos; além das lógicas de consumo; trouxeram para o campo da moda questionamentos diversos. Assim, o impacto das atividades industriais sob as condições climáticas e ambientais do planeta, que geram escassez de fontes de energia e 49 poluição, dentre outros fatores; a aplicação da ética nos modos de produção, nos modelos de negócios, nas relações construídas entre a organização e seus públicos de interesse, bem como nas práticas de consumo, dentre várias outras problemáticas; apresentam crescente relevância no campo da moda (BLACK, 2008). Contextualizadas por diversas mudanças culturais e de comportamento social, além de sofrerem relevante cobertura midiática e, portanto, captarem a atenção dos consumidores; tais questões culminaram no “esverdeamento da moda” 5, expressão utilizada por Black (2008), que defende ser este o foco contemporâneo do setor e o novo consumo de marcas de moda de luxo. O autor entende o “movimento verde” na moda como a eco-moda. Nesse contexto, a eco-moda, segundo as definições de Black (2008), se baseia na combinação de princípios éticos e ecológicos aplicados à inovação de matéria-prima, design estético e produtos mais duráveis. O design desempenha papel crucial neste processo, uma vez que as decisões em torno dos produtos a serem lançados perpassam o que é considerado visualmente atrativo do ponto de vista da moda e, portanto, afetam todo o setor industrial envolvido. Sob esta breve perspectiva histórica do desenvolvimento de marcas de moda e da relevância de se construir uma rede simbólica em torno destas marcas, percebe-se que a moda consiste num “(...) espaço de comunicação e meio de mediação entre indivíduos, grupos sociais e culturais, entre civilizações inteiras. A moda é um mass media porque ela é instrumento do discurso simbólico da comunicação (...)” (CIDREIRA, 2005, p.114). A materialização da rede simbólica ao longo da história da moda, portanto, significa uma linha comunicacional no tempo que informa o estilo de vida, valores, conflitos éticos, políticos, dentre outras implicações de uma determinada época e sociedade (CIDREIRA, 2005). Se a comunicação integra o sujeito socialmente por meio das interações que ele estabelece com os elementos que utiliza “(...) para dar sentido ao mundo e às coisas e pessoas nele inseridas” (CIDREIRA, 2005, p.112); a moda consiste em um destes elementos que, sob a perspectiva de um fenômeno cultural, apresenta uma abordagem sócioantropológica da comunicação. Uma vez que a moda consiste num meio para definir o sujeito social e historicamente, ela configura, sob a abordagem de McLUHAN (1964) apontada por Cidreira (2005), o vestuário como mídia, pois o mesmo consiste numa extensão da pele, um 5 The greening of the fashion. 50 prolongamento do corpo, um instrumento de suporte humano, uma tecnologia. Cidreira (2005, p.113), citando Girard (1995), explica esta relação ao afirmar que “se a imagem humana é primeiramente morfológica, a segunda, histórica e culturalmente integrante do corpo, é a roupa”. Nesse sentido, a relação dialógica entre corpo, indumentária e contexto cultural agrega ao simples ato de cobrir o corpo humano um valor simbólico. Neste contexto, Cidreira (2005) afirma que é fundamental pensar sob que perspectiva abordar o consumidor de moda. Este indivíduo participa da homogeneização e massificação que a própria moda, enquanto mass media, oferece. No entanto, ainda que utilizando objetos e preferências estéticas massificadoras, ele pode realizar escolhas acerca do que deseja vestir; selecionando o que melhor combina com seu estilo de vida e personalidade. Desta forma, há que se desvincular a noção de que o consumidor de moda é alienado e manipulado pela comunicação de moda; sem, no entanto, compreendê-lo como um indivíduo autoral. Isto porque o consumidor de moda, enquanto indivíduo “(...) é um condutor da comunicação, na medida em que a comunicação é entendida como um fluxo (...)”, no qual “(...) a indumentária pode ser vista como um condutor; peças de vestuário fazem circular certas configurações de sentido (...) a depender das circunstâncias históricas (contextos sociais, temporais, espaciais, etc)” (CIDREIRA, 2005, p.117). A moda, portanto, se constitui por meio dos sentidos que são produzidos sobre as tendências, as indumentárias, os acessórios, dentre outros aspectos. Assim, a moda também dialoga com a perspectiva da Comunicação e produção de sentido abordada nesta pesquisa, uma vez que moda, Comunicação e produção de sentido abrangem a complexidade do simbólico e do relacional, apresentando-se muito distantes de uma paradigmática informacional em suas discussões. De acordo com Garcia e Miranda (2007), a moda, por meio de suas estratégias comunicacionais, permite a interação social; constrói esquemas simbólicos; produz, carrega e transmite discursos e sentidos em uma relação de troca mútua entre sujeitos; estabelece um diálogo que se dá na intermediação da codificação e decodificação de uma linguagem visual e estética que, por sua vez, possibilita e torna legítima a interação entre indivíduos; e, sobretudo, permite ao indivíduo criar-se e recriar-se por meio da vestimenta, construindo a própria identidade e, dessa forma, marcando uma posição perante o outro e a si próprio. Sendo assim, segundo Angel, citado por Garcia e Miranda (2007, p.11), “há quem acredite que a moda é fútil e frívola. Eu lhes digo que moda é comunicação”. 51 3.2 Moda: algumas abordagens A moda pode ser definida como um sistema que muda ao longo do tempo e se reflete não somente no vestuário, mas em mobílias, em movimentos da arquitetura e das artes, no lançamento de automóveis, em determinado estilo musical, dentre outros aspectos descritos por Palomino (2003). Tratando-se especificamente sobre a moda do vestuário, pode-se dizer que o seu uso está além das funções simplesmente utilitárias da roupa e reflete também o contexto no qual os indivíduos se inserem. Sobre este aspecto, Palomino (2003) enfatiza que as mudanças na moda indumentária são permeadas pelas alterações no contexto político, social e sociológico. Garcia e Miranda (2007) destacam que os indivíduos se vestem com o objetivo de gerenciar sua aparência, desejando uma apresentação favorável perante o outro e a si mesmo. A imagem perante o outro e a si mesmo é mantida ou alterada não somente através das peças de roupa; mas também por meio do corpo que, como a moda, pode seguir tendências estéticas; do uso de adornos e das atitudes que determinados estilos visuais implicam. As relações estabelecidas com o outro e consigo mesmo neste processo são, como enfatizam Garcia e Miranda (2007), a causa da produção de diferentes sentidos sobre o próprio sujeito, sua imagem diante do outro e das tendências da moda vigente. Sob essa perspectiva, é possível afirmar que a moda, tanto quanto a cultura, a sociedade e as pessoas, estão em constante processo de (re) significação simbólica. Para King e Ring (1980), a moda compreende duas dimensões que lhe são essenciais: o objeto e o processo de moda. O processo diz respeito à trajetória de um objeto de moda desde a introdução de uma inovação, sua adoção pelos líderes de moda, a difusão do objeto de moda por uma rede sociocultural até o seu declínio na aceitação deste grupo. O objeto, por sua vez, refere-se a um produto específico deste processo, seja uma peça de roupa ou uma inovação tecnológica. Os objetos da moda estão inseridos dentro de um estilo específico. Estilo, de acordo com os autores, pode ser definido como um determinado modo ou aparência do objeto de moda. No contexto do vestuário de moda, especificamente, o estilo abrange dimensões de design, como silhueta, linhas, tecidos, e uso de determinadas cores durante uma certa tendência. 52 O estilo está diretamente relacionado à personalidade de cada indivíduo e às escolhas pessoais que este indivíduo realiza, dentro de uma determinada tendência de moda. O conceito de estilo também pode ser associado à noção de “gosto corrente”, que diz respeito a um determinado contexto e à influência que o mesmo exerce na formação das preferências individuais. A aceitação ou recusa de um estilo de moda, portanto, pode ser influenciada pelos gostos de uma época. Uma vez que o gosto corrente é influenciado pelo contexto social, político, econômico e cultural de determinada época; ele pode exercer relevante impacto no desenvolvimento das tendências de moda e na criação dos profissionais que atuam na área (KING; RING, 1980). Tratando-se especificamente sobre as tendências de moda, Caldas (2004) conceitua tendência como uma inclinação para um determinado sentido ou direção. No contexto da moda, a tendência é, sob a visão do autor, aquilo que estimula o surgimento do fenômeno da moda. Neste cenário, Leão (2005) afirma que os escritórios responsáveis por elaborar e reunir informações e análises precisas para a criação de tendências assumem um papel fundamental. O processo de trabalho destes escritórios, denominados bureaus de moda, envolve as percepções dos profissionais especializados no setor, tanto do contexto de determinada época, quando do próprio momento em que determinados estilos e tendências são utilizados. Quando estas percepções estão cristalizadas, procura-se materializar as informações do contexto vigente por meio de formatos estéticos, cores e materiais utilizados na fabricação dos tecidos e acessórios. Parte-se então para a análise mercadológica destes elementos e de seu desempenho em estações anteriores. Depois destas análises, elaboram-se os cadernos de tendências. A função dos bureaus de moda, portanto, consiste no desenvolvimento constante deste processo, a fim de estimular a criação, a difusão e a renovação de tendências (LEÃO, 2005). Para o processo de criação, difusão e renovação de tendências no campo da moda, o uso estratégico da comunicação é essencial, visto que, de acordo com Garcia e Miranda (2007), vestimentas e acessórios não constituem produtos de primeira necessidade e, sendo assim, exigem esforços significativos em comunicação de marca para a criação de desejos de consumo, por meio de associações simbólicas e, quase sempre, relacionadas aos aspectos intangíveis (emocionais) das marcas. Corbellini (2007) complementa, ao afirmar que a comunicação de marca de moda é necessária, pois 53 (...) na compra de uma peça de roupa ou de qualquer complemento, mais que os atributos funcionais da própria roupa, predominam as motivações implícitas e os elementos simbólicos, que apresentam conceitos e são sintetizados muito mais facilmente através de uma mensagem baseada na imagem. A moda não pode deixar de comunicar através de imagens, ou seja, de signos: quanto mais refinada é – ou, em certo sentido, “inútil” – mais necessitada está deste tipo de suporte porque, em última instância, o mundo relacionado com a moda está composto de símbolos intangíveis que devem encontrar sua representação estética (CORBELLINI, 2007, p. 273). Além disso, o funcionamento da indústria e do comércio no campo da moda apresenta significativa rotatividade de tendências, renovação de matéria-prima, estratégias de vendas e, consequentemente, resignificações simbólicas. As marcas que trabalham com moda precisam, portanto, construir uma forte identidade e imagem, a fim de se tornarem competitivas e criarem um diferencial de mercado (GARCIA; MIRANDA, 2007). 3.3 As especificidades midiáticas do campo da moda Para que o consumo de uma marca de moda possa ser favorável, Soloaga (2007) afirma que é necessário o desenvolvimento constante de ações comunicacionais por diferentes meios midiáticos, muitas vezes específicos do setor da moda. Esta multiplicidade de meios de comunicação desempenha, de acordo com Garcia e Miranda (2007), um importante papel na comunicação de marca de moda, visto que estes meios influenciam os processos de legitimação e difusão dos estilos e tendências. A transformação de uma tendência em moda, por exemplo, só é possível por meio do uso de diversos canais de comunicação; na medida em que desfiles, revistas, jornais, programas de televisão e canais especializados no assunto, blogs e redes sociais online, dentre outros; assumem a função de divulgar as tendências que, posteriormente, serão adotadas pelos consumidores de moda. Para a divulgação de tendências, Albino (2007) destaca a influência que jornalistas e editores do universo fashion exercem sobre a escolha do que virá a ser tendência, bem como da consolidação de tendências em moda. Percebe-se nos editoriais de diversas revistas focadas no assunto, uma divulgação comum dos acessórios e roupas que farão parte da moda de determinada estação, o que demonstra um direcionamento dos meios de comunicação para certas tendências que serão privilegiadas e legitimadas em detrimento de outras. 54 Além dos editoriais, Albino (2007) explica que o uso de celebridades e modelos famosos como referências para a propagação de estilos também contribui para legitimar uma moda. Para Corbellini (2007), celebridades e modelos também representam uma comunicação de grande impacto. Soloaga (2007) afirma que o uso de celebridades se deve à estratégia de atrair maior atenção midiática para a marca. Um terceiro fator de consolidação de tendências em moda consiste nos consumidores que, de acordo com Albino (2007), são influenciados pelas publicações e diversos referenciais, como celebridades e publicidade, e consistem em importantes indicadores de uma moda legitimada por meio do consumo generalizado dos vestuários e acessórios da estação. Neste processo de difusão de tendências e consolidação do que virá a ser moda, Pross, citado por Garcia e Miranda (2007), classifica as mídias difusoras em mídias primárias, secundárias e terciárias. As autoras explicam que mídias primárias não dependem dos aparatos da comunicação de massa. Indivíduos seguidores de tendências, por exemplo, exteriorizam por meio de seus corpos que vestem a moda da época, características de suas personalidades, de suas identidades desejadas e o que consiste em valor no grupo social ao qual pertencem. Nesse sentido, todos os objetos e artifícios visuais colocados sobre o corpo tornam-se extensões do mesmo no tempo e no espaço. A moda em si consiste na mídia secundária, pois tudo o que envolve seu universo, como roupas, adereços e fotografias de moda; faz parte do processo de difusão de tendências. As mídias terciárias, por sua vez, abrangem os meios de comunicação de massa, que permitem a representação do corpo e a sua continuidade de exibição, fato que assegura a onipresença do mesmo em mais de um ambiente através da multiplicação das imagens. Os meios de comunicação de massa também contribuem para a aceleração do processo de difusão, uma vez que facilitam o acesso às principais informações sobre o assunto (GARCIA; MIRANDA, 2007). Já Soloaga (2007) classifica os tipos de mídia difusores de tendências de moda em dois grupos: convencionais e não convencionais. O grupo de meios convencionais abrange jornais, revistas, rádio, cinema, televisão, publicidade exterior (ou publicidade de rua, como outdoors e anúncios em meios públicos de transporte) e Internet. O grupo de meios não convencionais agrupa tele marketing, patrocínios, mailing personalizado, brindes publicitários, catálogos de moda, programas de fidelização, ações de merchandising6, estratégias interativas em pontos de venda, exposições, dentre outros. 6 Posicionamento de produto em novelas, seriados e filmes (SOLOAGA, 2007). 55 O uso de meios convencionais, de acordo com Soloaga (2007), é necessário devido à grande cobertura de audiência, uma vez que meios massivos geram grande visibilidade à marca, pelo número de pessoas que obtêm acesso a eles. Dentre os meios citados, a autora aponta o uso de revistas femininas e revistas especializadas no assunto, além de veículos de publicação semanal (jornais ou revistas), como os meios mais utilizados pelas empresas de moda. Isto se deve à capacidade de segmentação deste público que, com o estímulo de baixo custo para compra das revistas e dos jornais, é majoritariamente feminino; muito interessado em seguir tendências e dedicado no tempo de leitura deste tipo de mídia (geralmente superior a qualquer outro tipo). Nestas publicações, Soloaga (2007) destaca o uso constante de publicidade de moda que, muitas vezes, sustenta as veiculações. A autora afirma que estes anúncios compõem as revistas e jornais especializados no setor, pois são planejados e desenvolvidos para apresentarem informação de moda útil e de acordo com as tendências da estação. Corbellini (2007) também afirma que as publicações especializadas em moda, revistas femininas e outros tipos de publicações impressas semanais ou diárias sobre o tema, consistem nos meios de comunicação mais importantes do setor, uma vez que atraem a maior parte dos investimentos publicitários e apresentam credibilidade de informação. Para Corbellini (2007), as publicações diárias, geralmente feitas por jornais, são relevantes por darem grande cobertura aos assuntos mais atuais no campo da moda, além de serem carregadas de prestígio pelo valor informativo que oferecem. Ainda assim, são veículos cuja impressão gráfica é delimitada, o que pode, muitas vezes, comprometer as imagens de divulgação; e estas constituem elementos essenciais na estratégia de comunicação de marcas de moda. Tanto Corbellini (2007) quando Soloaga (2007) entendem que as revistas de moda oferecem uma relevante segmentação de público. Corbellini (2007), no entanto, critica o uso excessivo de publicidade nestes veículos, muitas vezes tidos pela autora como verdadeiros catálogos publicitários. Ela ainda destaca a qualidade da impressão gráfica e do tipo de papel utilizado nestas mídias, que favorecem a qualidade das imagens utilizadas. O uso de mídia audiovisual, em cinema, anúncios televisivos, programas de moda ou vídeos online; constitui outro importante meio comunicativo do grupo convencional citado por Soloaga (2007), cujas veiculações são planejadas, do ponto de vista da comunicação da empresa, para serem exteriorizadas para diferentes grupos de interesse. Mas, ainda que possam oferecer entretenimento e informação, o custo de produção, pós-produção, difusão e 56 inserção destes materiais na programação televisiva ou online; podem apresentar custos muito elevados e, em alguns casos, inacessíveis para algumas marcas que trabalham com moda. Como alternativa para adquirir visibilidade em meios audiovisuais, sem muito custo, ou a custo nulo, Soloaga (2007) explicita o uso de merchandising e de desfiles como estratégias que geram mídia espontânea, tanto pelo livre acesso da imprensa convidada, quanto pelo uso de celebridades no evento. Em contrapartida, Corbellini (2007) critica os programas televisivos de moda que não apresentam informação relevante para o setor, mas consistem em verdadeiras colunas sociais e são excessivamente compostos por uso de merchandising. Outro meio convencional muito utilizado em estratégia comunicacional de marca de moda consiste no outdoor. Tanto Corbellini (2007) quanto Soloaga (2007) afirmam que este tipo de mídia representa grande impacto visual nos espaços urbanos e que, por estarem inseridos numa circunstância local, auxiliam na divulgação de ponto de venda, quando estrategicamente posicionados próximos aos locais de venda. O ponto de venda, por se tratar de um lugar físico, apresenta enorme potencial para criar experiências de consumo, estabelecer relacionamentos com consumidores e tornar indispensável a integração entre identidade de produto, identidade de marca, imagem de marca, posicionamento de produto e de marca e estratégias comunicacionais (CORBELLINI, 2007). Soloaga (2007) ainda acrescenta que é de grande relevância o uso de visual merchandising para manter o ponto de venda em constante animação. Para tanto, desenvolver ações criativas para atrair a atenção dos clientes é fundamental, pois como se trata de um momento de encontro entre o cliente e a marca, tudo que o cerca deve ser cuidadosamente estratégico, a fim de reforçar o posicionamento da marca. Desta forma, a decoração da loja, a mobília utilizada, os tipos de provadores, a disposição dos produtos nas araras e prateleiras, o odor, dentre outros aspectos, são cruciais para comunicar informações sobre a marca e os atributos que a mesma deseja consolidar. Outra estratégia importante no ponto de venda consiste na vitrine, que pode servir tanto para atrair os prospectivos clientes quanto convidá-los a entrarem na loja. As vitrines podem reconstruir uma cena de um filme, teatro ou novela; contar uma história; expor os produtos de maneira artística e usar modelos reais; além de apresentarem uma ornamentação interessante (SOLOAGA, 2007). Ainda assim, Corbellini (2007) afirma que é preciso ir além do papel da publicidade de moda, não somente porque este não é o único meio de se trabalhar com comunicação de 57 marca de moda, mas porque a moda consiste em um sistema de comunicação próprio, cujo papel da publicidade não se sobrepõe. Para além do uso de publicidade e do papel que as agências de propaganda podem exercer sob determinadas marcas, na comunicação de marca de moda outros atores ocupam destaque: diretores criativos (estilistas) e assessores de imagem. Estilistas e assessores de imagem favorecem um trabalho de coerência entre o estilo da marca e as imagens produzidas. Desta maneira, exercem controle não somente sob o estilo dos produtos, mas também nas imagens que serão produzidas sob a comunicação da marca, sejam essas imagens publicitárias, dos desfiles ou na estética do showroom da grife. Os assessores de imagem geralmente auxiliam os estilistas; no entanto, “(...) o estilista representa o meio de promoção mais importante: o aplauso na passarela ao final do desfile exalta sua personalidade, transformando-o em estilo de vida, na representação tangível da essência dos valores (...) da marca” (CORBELLINI, 2007, p.274). A Internet, tida por Soloaga (2007) como um meio convencional, apresenta muitas vantagens comerciais para as marcas. A autora destaca que a atividade social das empresas de moda consiste, cada vez mais, em objeto de interesse por parte dos consumidores, o que concede à rede um importante meio informativo sobre o histórico da marca, bem como um espaço potencial de relacionamento. Mesmo assim, o formato da mídia Internet, muitas vezes, tem sido mal utilizado. Para Corbellini (2007), a dificuldade de explorar o formato e apresentar o conteúdo informativo necessário ainda é grande, além de exigir uma atualização constante de informação, geralmente pouco efetuada. Em sua maioria, sites de moda ainda reproduzem as imagens dos catálogos e apenas publicam notas de imprensa, desmerecendo o potencial interativo que a rede oferece. O uso da Internet em estratégias de comunicação de marcas de moda pode ser muito útil, pois por meio da rede é possível “(...) estabelecer afinidades, aprofundando o discurso iniciado com a publicidade e oferecer ao consumidor uma possibilidade de interação direta com a marca” (CORBELLINI, 2007, p.293). A Internet ainda contribui para maior circulação de informações de moda, acelerando tanto a divulgação, quanto a consolidação e o encerramento de uma tendência. É por meio da Internet, por exemplo, que as confecções (de pequeno a grande porte) podem conferir as tendências mais recentes logo após o seu lançamento e, a partir disso, criarem suas próprias coleções ou peças. As empresas de pequeno porte são ainda mais beneficiadas com a popularização deste meio de acesso, pois não precisam se deslocar para os principais centros 58 de moda para tomarem conhecimento das tendências ou esperar que as grandes empresas o façam para depois copiá-las (CALDAS, 2004). Outra maneira de se trabalhar a comunicação de uma marca de moda consiste em realizar eventos. Coletivas de imprensa, aliadas a um coquetel e disponibilidade de celebridades e pessoas importantes ligadas à marca para darem entrevistas; inauguração de uma nova loja; apresentação de um novo produto ou coleção; datas comemorativas empresariais, como aniversários; workshops de estilo para clientes especiais; lançamento de uma nova imagem de marca; uma ação de patrocínio; uma premiação; a apresentação de uma celebridade como a embaixadora da marca, dentre outros, consistem em alguns dos tipos de eventos que uma organização de moda pode realizar (SOLOAGA, 2007). A realização de eventos é importante para manter o prestígio da marca, tornar determinado ponto de venda mais conhecido, impulsionar vendas, tornar públicas as ações sociais da empresa, estreitar laços e oferecer informação relevante para a imprensa e gerar mídia espontânea, se firmar em um novo mercado, dentre outros. Alguns eventos podem não conquistar uma difusão midiática global, como costuma ocorrer com os desfiles e fashion weeks. Muitas vezes, nem consiste ser este o objetivo (SOLOAGA, 2007). Os eventos podem ser classificados em eventos de perfil baixo e eventos emblemáticos. O primeiro não conta com a presença de celebridades, nem gera grande cobertura midiática, muito embora possa constituir uma oportunidade para fornecer informações para a imprensa local. Já os eventos emblemáticos provocam mais alvoroço na sua divulgação, sendo de maior impacto para a memorização da marca. Esses eventos já contam com a presença de celebridades e a cobertura midiática costuma ser nacional ou global (SOLOAGA, 2007). Os desfiles merecem destaque dentre os eventos por representarem, de acordo com Corbellini (2007, p. 286), “(...) o elemento catalizador por excelência, (...) no qual a empresa chega a seu público de interesse (compradores, imprensa, líderes de opinião) e gera uma elevada atenção midiática”. No entanto, Corbellini (2007) afirma que esta repercussão midiática não costuma ocorrer com marcas pequenas ou emergentes, pois estas geralmente não participam das famosas semanas de moda, nem sequer possuem verba para investir neste tipo de evento. Para Soloaga (2007), os desfiles apresentam uma oportunidade relevante para o estilista declarar suas propostas sem utilizar de palavras, mas apenas de imagens de grande impacto. A autora destaca que, se bem criadas e expostas, estas imagens se tornam portadoras 59 das mensagens que a marca deseja projetar a respeito do seu estilo e do tipo de confecção utilizada. Soloaga (2007) ainda destaca que os desfiles deixaram de ser somente a apresentação de modelos vestidos com as roupas e acessórios da marca, para tornarem-se verdadeiros espetáculos, carregados de surpresa. Além disso, é por meio da participação da imprensa e de líderes de opinião que as tendências expostas nos desfiles; por meio das roupas, da maquiagem, dos penteados e dos acessórios, são eleitas e depois divulgadas, a fim de se consolidarem como moda. O showroom de uma grife de moda, embora consista em ponto de venda para atacadistas e representantes da marca em lojas autorizadas, diferencia-se por consistir em um espaço direcionado exclusivamente a este público, como à imprensa. A ambientação do showroom é muito importante para reforçar os valores que a marca deseja projetar, além de consistir em um espaço de eventos para a imprensa e atacadistas. Soloaga (2007) explica que é possível, por exemplo, oferecer um dia exclusivamente dedicado à visita de jornalistas e líderes de opinião; para que conheçam a coleção antecipadamente e tenham laços estreitados com os responsáveis pela marca, como estilistas e líderes administrativos. Marcas de moda também podem utilizar os patrocínios como estratégias de comunicação. De acordo com Soloaga (2007), esta estratégia pode contribuir para o posicionamento da grife, conferindo prestígio, ganhos positivos de imagem e de reputação, além de ampliar a presença da marca em diferentes territórios. A autora afirma que o maior objetivo deste tipo de ação comunicacional consiste em institucionalizar a relação da marca com os grupos de relacionamento envolvidos. Soloaga (2007) aponta os patrocínios culturais como os menos utilizados por marcas de moda, o que não deixa de consistir em uma estratégia de diferenciação para algumas grifes. Ao contrário, patrocínios artísticos constituem os mais frequentes neste setor, uma vez que o universo da arte, tanto quanto o da moda, costumam trabalhar com aspectos simbólicos em suas representações. A sensibilidade estética consiste, portanto, no código comum que une moda e arte. O uso de patrocínio artístico por marcas de moda é tão assíduo que algumas grifes criaram espaços exclusivos para sediar exposições de arte e outros tipos de eventos. A parceria entre moda e arte é vantajosa por que (...) a arte pode oferecer à moda uma legitimação estética e cultural: os estilistas se apresentam como animadores sociais, organizando exposições e restaurando obras importantes (...), também para outorgar um mundo que frequentemente se percebe como vácuo e injustamente caro (CORBELLINI, 2007, p.290-291). 60 Corbellini (2007) ainda destaca que o patrocínio artístico também pode ser feito por meio da parceria entre moda e música. Nesta união, as marcas que apresentam um estilo mais urbano e esportivo costumam investir mais em patrocínios musicais; geralmente em bandas e concertos de rock. Para criar laços com outros seguimentos de mercado, as empresas de moda também podem promover prêmios e concursos; estratégias que auxiliam nas vendas, aumentam o prestígio do próprio setor e garantem visibilidade midiática. Dentre os prêmios e concursos, vale destacar os direcionados para jovens estilistas, que incentivam a carreira de novatos no mundo da moda (SOLOAGA, 2007). Outro meio tradicional de comunicação de marcas de moda consiste no catálogo. Usado inicialmente para ilustrar sistematicamente uma coleção, o catálogo de moda era direcionado aos confeccionistas e distribuidores da marca. Hoje os catálogos não se encontram tanto nos pontos de venda, mas passaram a ser distribuídos para os endereços dos clientes de prestígio, a fim de estabelecer uma estratégia de marketing direto e de fidelização. Para tanto, os catálogos não só expõem fotos das peças da coleção, mas podem ser utilizados como convites personalizados para alguma atividade; como o lançamento da coleção nos pontos de venda da marca (CORBELLINI, 2007). Catálogos também podem servir para projetar as imagens que a empresa deseja sustentar sobre si mesma. Por este motivo, é freqüente o uso de fotos artísticas que apelem para o “estilo de vida” da marca, para os valores que a marca deseja sustentar. Além disso, podem ser criativos e apresentarem informações; a exemplo de como vestir e cuidar das roupas (SOLOAGA, 2007). As marcas de moda também podem investir em revistas corporativas. Com layout e conteúdo mais cuidadoso que dos catálogos, estas revistas também podem consistir em importantes instrumentos de fidelização de clientes (CORBELLINI, 2007). Para empresas de moda de pequeno e médio porte, a utilização de estratégias de comarketing é fundamental para a realização de eventos, concursos e promoções; uma vez que permite compartilhar os investimentos, tornando-se financeiramente mais interessante para as marcas envolvidas (CORBELLINI, 2007). Outra estratégia de comunicação de marcas de moda consiste na própria embalagem que o cliente recebe, ao adquirir os produtos da grife. As sacolas agora se transformaram em bolsas, numa espécie de publicidade ambulante da marca, acompanhada por seu melhor suporte: o consumidor (SOLOAGA, 2007). 61 Dentre as estratégias midiáticas específicas do setor da moda, Soloaga (2007) destaca algumas no quadro a seguir: Ferramenta Evento especial Desfiles Showroom Merchandising visual Celebridades Patrocínio Prêmio/Concurso Catálogo Embalagem Função Comunicativa Chamar a atenção dos meios; ampliar o conhecimento da marca para um público seleto Imagem de marca em certos públicos: imprensa e compradores, sociedade em geral – projeção internacional da marca Conhecimento de produto. Dirigido à imprensa especializada e estilistas Exposição da identidade da marca para os clientes Posicionamento ou parceria. Visibilidade midiática da marca Imagem de marca a curto e longo prazo. Consolidação da marca com o público fidelizado Abertura da marca para outros territórios de valor Contato pessoal com o cliente Exposição da marca, por parte do cliente, no âmbito social e familiar Quadro 3: Quadro Demonstrativo – Especificidades Midiáticas da Moda Fonte: Traduzido e adaptado de Soloaga (2007, p.158). Todas as estratégias de comunicação específicas do setor da moda apresentam relevante frequência, visto que sofrem modificações quatro vezes ao ano, devido às estações climáticas. O prazo de criação, divulgação, consolidação e declínio para estas estratégias, portanto, é curto; o que evidencia a obsolescência e efemeridade da moda. O futuro da moda, portanto, está cada vez mais próximo do presente, quando não contempla a indistinção dos dois tempos. Desta forma, a moda se aplica muito bem ao contexto da contemporaneidade, visto que o desejo pelo novo é algo crescente e intenso (CALDAS, 2004). Neste contexto, a multiplicidade de experiências disponíveis não seduz os indivíduos para se aterem apenas a uma das inúmeras possibilidades; e o mesmo ocorre na lógica da moda, cujas tendências e estratégias apresentam um ciclo de vida pré-determinado, a fim garantir espaço para a próxima novidade. Para que esta circularidade de tendências ocorra, o papel da comunicação no setor da moda torna-se indispensável (CALDAS, 2004). 62 4 METODOLOGIA Esta pesquisa objetiva a compreensão das projeções dos atributos da marca Osklen e as percepções sobre os mesmos por parte dos integrantes da comunidade virtual da grife. A pesquisa também procura averiguar se a sustentabilidade consiste em um atributo de distintividade para a organização e se este atributo é percebido pelos participantes da comunidade virtual enquanto característica da marca. Para tanto, foi realizado um Estudo de Caso Único sobre a marca Osklen, escolhida como objeto empírico por fazer parte do mercado de moda brasileiro, apresentando relevância nacional no setor. O uso de amostra intencional também se deve ao fato da empresa abordar o tema sustentabilidade em campanhas publicitárias, temas de coleções e projetos institucionais; além de utilizar matéria-prima sustentável para a confecção de suas roupas e acessórios. A proposta de Estudo de Caso Único se deve à capacidade do método para abranger diversas evidências, como documentos, entrevistas e observações, a fim de obter conhecimento aprofundado de uma única realidade (YIN, 2005). Para se alcançar os objetivos apresentados; primeiramente, foi feita uma revisão bibliográfica sobre o objeto teórico, que objetivou o desenvolvimento teórico do estudo e a relevante aproximação e tensionamento com o empírico. Para tanto, foram utilizados livros, artigos, periódicos, teses, dissertações e sites da Internet para o aprofundamento de conhecimentos sobre marcas organizacionais, valor de marca, identidade e imagem organizacional, comunicação de marcas, comunicação de marcas de moda, dentre outros. A pesquisa bibliográfica é importante porque enfatiza o compromisso ético para a não apropriação de idéias de outrem. A análise das projeções dos atributos de marca da Osklen, bem como a análise das percepções construídas pelos participantes da comunidade virtual da grife, foram baseadas metodologicamente no modelo “Visão – Cultura – Imagem” proposto Hatch e Schultz (2003a, 2003b) e reforçado por Schultz (2005). 63 Figura 3: Modelo Visão-Cultura-Imagem Fonte: Traduzido e adaptado de Schultz (2005, p.52). No modelo, visão estratégica consiste nas idéias centrais que servem de base para a liderança planejar os objetivos e metas a serem alcançados futuramente pela organização. Cultura refere-se aos valores e crenças organizacionais, manifestados sob a perspectiva e o comportamento dos empregados. As imagens, por fim, constituem todas aquelas elaboradas pelos diversos interlocutores externos à empresa (HATCH; SCHULTZ, 2003a, 2003b; SCHULTZ, 2005). A visão estratégica empresarial, a cultura organizacional e as imagens dos interlocutores sobre a organização consistem em elementos-chave para a gestão da marca e, apresentando certa coerência entre si, eles podem contribuir com uma gestão positiva da marca. No entanto, ainda que haja coerência em determinados sentidos, também podem existir diferentes percepções que criam divergências entre a visão e a imagem, a visão e a cultura, e a imagem e a cultura. As diferentes percepções (lacunas) são inerentes ao processo de interação nas organizações e fundamentais para a sua dinâmica (HATCH; SCHULTZ, 2003a, 2003b; SCHULTZ, 2005). Por compreender a produção de sentido para os processos de comunicação da Osklen, definiu-se por essa perspectiva de análise, por considerar o modelo adequado para esta pesquisa. 64 Para a análise da projeção dos atributos da marca Osklen, considerou-se primeiramente a análise da visão estratégica da grife. Esta análise foi necessária para o entendimento de que atributos a liderança considera relevantes para a distintividade da empresa. Para tanto, foi feita uma análise qualitativa de uma entrevista realizada pela revista Meio e Mensagem, em 31 de agosto de 2009, com o fundador e diretor criativo da marca, Oskar Metsavaht. Também foi feita uma entrevista com o gerente de Relações Corporativas da empresa. Apesar do esforço para entrevistar toda a gerência, tal acesso não foi viabilizado pela organização. O questionário foi enviado por e-mail, em cinco de novembro de 2010 e respondido em 11 de novembro de 2010. A elaboração das questões da entrevista teve como base a trajetória da empresa. As questões buscaram entender o posicionamento da marca; qual o perfil de quem a consome, que atributos conferem distintividade à Osklen, além das estratégias de comunicação que a empresa realiza para manter seu posicionamento. Optou-se pela elaboração de perguntas abertas para permitir maior aprofundamento das questões. Nesse sentido, a entrevista realizada foi do tipo narrativa não-estruturada, uma vez que deixou para o entrevistado a decisão para se construir a resposta. O uso deste tipo de entrevista pode ser entendido “pelo fato de que muitos problemas e fenômenos das relações que permeiam as organizações escapam ao pesquisador quando expressos em números e estatísticas” (MATTOS, 2006, p.347). Para a análise da cultura organizacional proposta no modelo de Schultz (2005) considerou-se a análise do desfile da coleção Oceans Verão 2011, realizado em junho de 2010; bem como da campanha publicitária desta coleção, veiculada no site institucional da Osklen no mês de setembro de 2010. Importante ressaltar que o período comercial da coleção em análise refere-se às estações primavera e verão, e vigora entre setembro de 2010 e março de 2011. A referência temporal Verão 2011 foi utilizada apenas por se tratar do nome original da coleção. Nesse sentido, foi considerado como aspecto cultural aquilo que a organização realiza, em estratégias de comunicação, para consolidar seus valores e crenças. Acredita-se que o desfile sintetiza o modo da Osklen entender o conceito de moda e, sendo um dos dispositivos midiáticos de projeção da marca, consiste em um elemento da cultura organizacional. O desfile foi assistido presencialmente durante a edição Verão 2011 da São Paulo Fashion Week, na capital São Paulo, em 10 de junho de 2010. A fim de compreender o contexto o qual a coleção foi lançada, a ambientação do evento foi 65 considerada. Também foi utilizado o jornal oficial do evento distribuído no dia do desfile, além da edição especial da revista “ISTO É Gente”, assinada pelo fundador e diretor criativo do evento, Paulo Borges, publicada em 14 de junho de 2010 e que apresenta a matéria “Um dia com Oskar Metsavaht” referente à coleção lançada no evento. Também foram consideradas duas matérias jornalísticas, publicadas no site oficial da São Paulo Fashion Week: uma consiste numa resenha crítica do desfile, proposta pela jornalista de moda Erika Palomino; e a outra apresenta a proposta do desfile, escrita pela jornalista de moda Ana Pinho, ambas publicadas em 10 de junho de 2010. Além disso, analisou-se o programa do desfile distribuído para os convidados. As fotos da campanha publicitária da coleção Oceans Verão 2011 foram coletadas no site institucional da marca durante o mês de setembro de 2010. O contexto para a análise das peças consistiu no lançamento da coleção na São Paulo Fashion Week e no conceito proposto para esta mesma coleção. Acredita-se que a campanha publicitária também consiste em um elemento da cultura organizacional, por ser um dispositivo midiático de projeção da marca. Para a análise do terceiro aspecto do modelo, foram consideradas as percepções dos participantes da comunidade virtual da marca. Para tanto, foi necessário primeiramente escolher qual comunidade de qual rede social seria o objeto de estudo. Optou-se pela rede social Orkut, site de relacionamentos do Google criado em janeiro de 2004 e que, segundo Dávila (2005), apresenta a maioria dos inscritos com nacionalidade brasileira – cerca de 71,92% dos usurários. Em 29 de julho de 2009, o portal de notícias da Globo, G1, publicou uma nota informando que o número de brasileiros inscritos no Orkut era de 35 milhões e que a popularidade desta rede social era maior que a de outras, como o Facebook, lançado em fevereiro de 2004 e o Twitter, lançado em 2006. Na rede social Orkut, utilizou-se a palavra Osklen para buscar, na categoria Moda e Beleza, as comunidades disponíveis. Foram encontradas, em cinco de novembro de 2010, 98 comunidades relacionadas à marca; sendo que a maior, intitulada Osklen, continha 49.395 participantes. A comunidade apresenta questões sobre a marca em seu fórum de discussões e discorre sobre a marca na descrição do perfil da comunidade. Por estes fatores e pelo número de usuários, essa comunidade foi a escolhida. Foi feita uma análise qualitativa sobre a descrição do perfil da comunidade, além das perguntas do fórum. Também foi feita uma pesquisa para que os participantes pudessem votar nos atributos que consideravam os mais adequados para caracterizar a marca. A pesquisa foi 66 publicada em cinco de novembro de 2010 e permaneceu disponível para votação até o dia 22 de novembro de 2010. Os resultados foram analisados qualitativa e quantitativamente. O objetivo destas análises consistiu em averiguar se houve lacunas entre a visão estratégica da empresa e o que ela projetou sobre a marca; e as percepções dos participantes da comunidade virtual sobre os atributos da marca. A visão estratégica; a cultura organizacional, sendo a cultura aqui entendida como os valores e crenças explicitados nos dispositivos midiáticos; e as percepções dos participantes da comunidade da marca, foram analisadas sob o método de Análise de Discurso, proposto por Heracleous (2006). Este autor foi escolhido por utilizar como foco os discursos organizacionais. O método de Análise de Discurso, já muito utilizado nos campos de pesquisa da sociologia, antropologia, história, ciência política, dentre outros; ganhou ênfase nas pesquisas envolvendo estudos organizacionais desde o final da década de 70, quando a realidade comunicacional nas organizações tornou-se mais simbólica e metafórica (HERACLEOUS, 2006). Escolheu-se a abordagem interpretativa para a análise de discurso, uma vez que esta abordagem conceitualiza o discurso como uma ação comunicacional construída a partir da realidade de uma organização (e de seu) ou de um contexto social; cujo discurso tem impacto nas interpretações e ações dos atores sociais e cuja linguagem consiste num meio simbólico para a construção social da realidade. Pesquisas centradas nessa abordagem comprometem-se em entender o contexto dos atores envolvidos e qual a percepção que eles possuem acerca da linguagem; não como mera representação social, mas como parte do processo de construção da realidade. Para tanto, é necessário coletar discursos mais amplos, contendo diferentes posicionamentos; a fim de co-relacionar esses discursos com as diversas interpretações e ações de seus interlocutores (HERACLEOUS, 2006). A abordagem interpretativa, no entanto, não pode ser considerada como um método de análise subjetivista, pois não trabalha com interpretações ilimitadas de textos e dados, sem nenhum propósito de verificação e validação. Para se diferenciar de uma abordagem subjetivista, portanto, a perspectiva interpretativa considera múltiplos textos como constituintes de um discurso; propõe a identificação de padrões nestes textos, como temas centrais e metáforas; e analisa em que medida estes padrões podem influenciar as interpretações, as ações e as práticas sociais dos interlocutores envolvidos (HERACLEOUS, 2006). 67 Se os discursos podem influenciar práticas sociais, é possível afirmar que podem, portanto, contribuir de maneira significativa para a construção social da realidade. Nesse sentido, é importante ressaltar que os fenômeno sociais são constantemente (re)definidos pelos próprios atores e suas interpretações e que, durante as interações que ocorrem no processo de construção social da realidade, um universo simbólico é construído. Este universo simbólico, produzido a partir da construção social da realidade, não se fundamenta somente no sentido semântico das interpretações dos textos de determinado discurso; mas também nas crenças e valores dos atores envolvidos. Sob esta perspectiva, o discurso é, portanto, construído a partir do interacionismo simbólico de seus interlocutores (HERACLEOUS, 2006). Tratando-se de uma perspectiva de análise interpretativa do discurso, é importante compreender que esta abordagem exige do pesquisador o entendimento dos contextos os quais estes discursos estão fundamentados, a fim de construir uma análise profunda e qualitativa do discurso organizacional e de seu contexto social. A análise sob uma perspectiva interpretativa também considera relevante o entendimento da produção de sentido que ocorre nas interações sociais, o estudo do discurso atual e sua relação com percepções subjetivas, além da influência do discurso atual sob alguns processos organizacionais (HERACLEOUS, 2006). Acredita-se que a abordagem interpretativa para análise de discurso consiste na perspectiva mais adequada para se analisar o discurso organizacional da Osklen, uma vez que esta abordagem considera a interação social e a produção de sentido como fundamentais para a construção de discursos. Se o método de análise de discurso baseado nesta perspectiva exige a coleta de discursos mais amplos, contendo diferentes posicionamentos; e precisa de uma análise que corelacione esses discursos com as diversas interpretações e ações de seus interlocutores, isto será possível com a análise do discurso a partir da liderança (visão estratégica); do discurso como prática, nas ações de comunicação da empresa (cultura organizacional); bem como do discurso percebido, por parte da análise da comunidade virtual da grife e das percepções de seus participantes. Entende-se que a construção do discurso da Osklen se baseia nos múltiplos textos advindos da visão estratégica, da cultura organizacional e das percepções das comunidades virtuais. Objetiva-se, portanto, a identificação de padrões nestes textos, como os atributos da marca que são projetados com maior frequência; e a analise de como estes padrões (atributos) 68 podem influenciar (ou não) as interpretações, as ações e as práticas sociais dos interlocutores da comunidade virtual. 69 5 COMPREENDENDO A VISÃO, A CULTURA E AS PERCEPÇÕES SOBRE A MARCA OSKLEN 5.1 Oskar e Osklen: a história da grife e sua relação com sustentabilidade Compreender a trajetória da grife Osklen, seus valores e crenças; consiste, primeiramente, no estudo da vida de seu fundador e Diretor de Criação, Oskar Metsavaht. Nascido no Rio Grande do Sul, na cidade de Caxias do Sul; é filho de pai médico e mãe professora de História da Arte. Oskar mudou-se para o Rio de Janeiro para estudar medicina e formou-se pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), especializado em traumatologia do esporte. As motivações para se especializar nesta área podem advir da afinidade do médico com esportes. Oskar é praticante do surfe, do snowboard, do mergulho e do pilates; e se declara um defensor do estilo de vida saudável (MORAES, 2010). Em uma de suas práticas esportivas, numa expedição para o Monte Aconcágua, na Cordilheira dos Andes, em 1986; Oskar fabricou algumas roupas próprias para este tipo de atividade. A qualidade do material fez sucesso entre seus amigos alpinistas, que começaram a encomendar alguns casacos. A partir deste fato, começou-se a relação de Oskar com a moda (SERNAGIOTTO, 2006). Em 1989, Oskar decidiu abrir sua primeira loja em Búzios, balneário do Rio de Janeiro; pois acreditou que potenciais consumidores para seus casacos de neve concentravamse nesta região. Neste mesmo ano, ele lançou sua primeira coleção de verão e, em 1992, realizou seu primeiro desfile no hotel Copacabana Palace, na capital Rio de Janeiro (SERNAGIOTTO, 2006). Em 1996, Oskar começou a produzir roupas de surfe. Em uma viagem ao Taiti, ele conta que levou bermudas para serem testadas durante a prática do esporte e posteriormente as lançou no mercado com um material de qualidade superior e estamparia exclusiva (MIRANDA, 2009). A afinidade de Oskar com esportes também não negou a sua paixão pela natureza. O elo com o meio ambiente advém do seu próprio sobrenome, Metsavaht, que significa “guardião da floresta”, na língua de seus antepassados estonianos. Este elo perpetuou-se na 70 relação de Oskar com a moda, pois ele foi um dos pioneiros no Brasil na utilização de matérias-primas sustentáveis (MORAES, 2010). Apesar do sobrenome do fundador apresentar uma relação simbólica significativa com as ações de sustentabilidade da marca, o nome da grife não possui nenhum significado com este propósito. O nome Osklen foi criado a partir do próprio nome do fundador, Oskar; e do nome de sua ex-sócia Milene. O nome também pode consistir numa referência ao irmão Leonardo que, segundo Oskar, sempre o apoiou e o acompanhou em viagens esportivas (MARTONI, 2010). A relação da grife com a sustentabilidade pode ser percebida através de uma declaração em seu site institucional, que afirma que a Osklen procura desenvolver uma percepção integrada da natureza, da cultura e da sociedade em tudo o que realiza. Desta forma, trabalha com diversos projetos sustentados por institutos, movimentos ecológicos e parceiros da marca. O Instituto-e, fundado pelo empreendedor Oskar, consiste em um exemplo. Sem fins lucrativos, sediado no Rio de Janeiro, se empenha na promoção do desenvolvimento humano sustentável, orientado pela Carta da Terra, Agenda 21, Objetivos do Milênio, Convenção da Biodiversidade e Protocolo de Kyoto. A inspiração para a criação deste instituto surgiu no movimento e-brigade, concebido por profissionais de moda, ciência, comunicação e esportes; e responsável por diversos projetos educacionais multimídia, todos relacionados com questões socioambientais. Os projetos do movimento e-brigade se inspiram em quatro princípios: a necessidade de uma melhor convivência com o planeta (Earth); o entendimento de que esta convivência só será harmônica com a preservação do meio ambiente integrado: natureza, sociedade e cultura (Environment); a urgência de utilização de novas fontes de energias sustentáveis (Energy) e, por último, a batalha contra o analfabetismo (Education). A Osklen, juntamente com o movimento e-brigade, desenvolveu três projetos: Brazilian Soul Guaraná; Amazon Guardians e Carbon free r(e)volution. O Brazilian Soul Guaraná, em parceria com o refrigerante Guaraná Antarctica Diet, contou com uma expedição à cidade de Maués, próxima à Manaus, no Amapá, em dezembro de 2004. Após a exploração sobre o processo de plantio do guaraná, bem como a comemoração pelo período de colheita junto aos índios do local; foram apresentados, em 2006, uma coleção e um catálogo de moda, um documentário e uma série de pinturas da artista plástica, Diretora de Arte da Osklen e irmã de Oskar, Ana Amélia Metsavaht. 71 Figura 4: Catálogo de Moda Brazilian Soul Guaraná (1) Fonte: Site institucional da Osklen Figura 5: Catálogo de Moda Brazilian Soul Guaraná (2) Fonte: Site institucional da Osklen 72 O projeto Amazon Guardians foi realizado em 2007 e em 2008; e consistiu na criação de coleções pautadas no conceito de homens e mulheres protetores da Amazônia, contra a degradação ambiental e o aquecimento global. Concomitantemente ao projeto, a grife utilizou materiais sustentáveis em todos os produtos de suas coleções. Figura 6: Campanha Publicitária Amazon Guardians (1) Fonte: Site institucional da Osklen Figura 7: Campanha Publicitária Amazon Guardians Fonte: Site institucional da Osklen Outro projeto foi promovido em parceria com a Caloi, fabricante de bicicletas, e visou a conscientização para a emissão de gás carbônico na atmosfera. Desta forma, o projeto apresentou um meio alternativo de transporte integrado a um projeto multimídia. Foi feita uma instalação cultural composta por sete vídeos, a venda de algumas camisetas com 73 estampas sobre o tema e o desenvolvimento de um design exclusivo para uma bicicleta Caloi, assinado pela equipe de criação da Osklen. Figura 8: Bicicleta Carbon Free R(e)volution Fonte: Site institucional da Osklen O projeto e-fabrics, desenvolvido através do Instituto-e, constitui outro exemplo do trabalho focado na sustentabilidade da empresa. Destinado à identificação de materiais sustentáveis, foi desenvolvido entre 2000 e 2006 pela grife e lançado em 2007, durante o São Paulo Fashion Week (SPFW). Segundo Crancianinov (2007a), nesta edição do SPFW, comemorativa por representar uma década de desfiles; a temática do evento pautou-se no desenvolvimento sustentável. A única marca que colaborou com esta temática, como destaca Crancianinov (2007b), consistiu na Osklen, ao apresentar materiais ecologicamente corretos em todas as peças da coleção. A execução do projeto e-fabrics se deve a uma empresa especializada em consultoria em estratégia de comunicação ambiental, a Environmental Directions. Os materiais não constituem exclusividade da Osklen e encontram-se disponíveis para grifes e estilistas interessados em adquiri-los. Toda a matéria prima identificada pelo e-fabrics perpassa a seguinte avaliação: o material deve apresentar origem sustentável, reciclada ou renovável; o impacto no meioambiente precisa ser mensurado por meio do processo produtivo do material; as condições de preservação e resgate das tradições culturais e da diversidade do local de produção devem ser avaliadas; é necessário fomentar relações éticas com os colaboradores e a comunidade e, por 74 fim, é indispensável o fornecimento de um produto com design atrativo e viável comercial e economicamente. O projeto também conta com alguns parceiros, como a própria realizadora do São Paulo Fashion Week e instituições não governamentais, como o Fundo Mundial da Natureza (WWF); a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) e a Associação Brasileira Terra dos Homens (ABTH), dentre outros. O Instituto-e também desenvolve outros projetos como o selo-e, que certifica produtos sustentáveis; o e-board, com fabricação de pranchas de surfe 100% recicláveis; a revegetação de plantas nativas da costa brasileira, destinado à recuperação ambiental em dez das principais praias do Brasil; o costurando vidas, cujo trabalho encontra-se na geração de renda em comunidades carentes, por meio de confecção de acessórios de moda e brindes corporativos sustentáveis; dentre vários outros exemplos. Oskar Metsavaht também apresenta palestras sobre moda e sustentabilidade em eventos nacionais e internacionais, como o Milano Fashion Summit, na Itália; e o Ethical Fashion Paris, na França. Em novembro de 2009, Oskar esteve em Belo Horizonte para apresentar uma palestra sobre moda e sustentabilidade no Centro Universitário UNA e, em entrevista à jornalista de moda Ana Helena Miranda, afirmou que a moda pode servir como um instrumento de discurso político capaz de apoiar questões como a sustentabilidade. Além de realizar diversos projetos sustentáveis e utilizar matéria-prima ecologicamente correta na fabricação de seus produtos, a Osklen tem notável presença no mercado nacional e internacional. De acordo com o seu site institucional, há um registro, em 2010, de dez lojas conceituais (flagships) distribuídas no Brasil no Rio de Janeiro e em São Paulo; nos Estados Unidos em Nova York e Miami; na Itália, em Roma e Milão; no Japão, em Tóquio. Também existem sete showrooms da grife, sendo em São Paulo o do Brasil; um na Grécia, em Atenas; um nos Estados Unidos, em Nova York; dois na Itália, em Milão; um na Austrália, na cidade de Victoria e um em Tóquio, no Japão. As lojas franquias no Brasil ultrapassam 50 unidades; nos Estados Unidos são duas; na Itália são três e no Japão são duas. O site não informa, entretanto, o número de lojas autorizadas para a venda de roupas da grife (lojas multimarcas). A Osklen ainda trabalha com a venda online de seus produtos. A notoriedade da grife no cenário internacional também pode ser confirmada por meio de alguns fatos: a Osklen foi considerada pela WGSN7 como uma das dez marcas mais 7 Indústria de pesquisa online, analista de tendências e novos serviços para indústrias de moda e de estilo. 75 inspiradoras e influentes do mundo, além de ter sido vista pela WWF-UK8 como uma empreendedora do futuro. A grife também foi a única privilegiada, dentre as marcas brasileiras do setor, com a publicação de um artigo de página inteira na revista Vogue9 América. A trajetória da grife, portanto, é marcada pelo estilo de vida do próprio Oskar Metsavaht, por projetos sustentáveis diversos e por uma grande presença de mercado, nacional e internacional. A partir deste contexto, será apresentada uma análise da visão estratégica da Osklen, com o objetivo de identificar que atributos da marca contribuem com a formação da identidade da marca. 5.2 A visão da marca e os principais atributos da sua identidade Para a compreensão da visão estratégica da grife Osklen, é importante relembrar o conceito de visão estratégica, que consiste nas idéias centrais que servem de base para a liderança planejar os objetivos e metas a serem alcançados futuramente pela organização. A construção da visão estratégica perpassa aspectos da identidade e da cultura organizacional, uma vez que as idéias da liderança são baseadas nas características da empresa, seus valores e crenças (HATCH; SCHULTZ, 2003a, 2003b; SCHULTZ, 2005). O conjunto das características (atributos) que são percebidas como típicos da trajetória da organização contribuem para a formação da identidade e para conferir distintividade à marca. Importante ressaltar que a identidade recebe influência do material simbólico da cultura organizacional, ou seja, dos valores e crenças contidos na trajetória e na prática empresarial; e é construída a partir deste contexto cultural, nas interações entre a liderança e os grupos de relacionamento da empresa; bem como também é influenciada pelo ambiente social, político, econômico, histórico e geográfico em que a empresa atua (ALMEIDA, 2006). A fim de definir os principais atributos da marca Osklen que são contribuem para a formação de sua identidade, foi analisada a entrevista feita pela revista Meio e Mensagem, em 31 de agosto de 2009, com Oskar Metsavaht. 8 Organização ambiental independente, fundada em 1961 no Reino Unido. A revista Vogue é considerada, de acordo com o site da Wikipédia, a revista de moda mais importante do mundo. 9 76 Na entrevista, o fundador da grife define o posicionamento da marca como “novo luxo”, uma vez que a mesma busca sofisticação em design, estética e matéria-prima de seus produtos; aliada a uma proposta de valorização da sustentabilidade enquanto luxo. Oskar define esse posicionamento ao afirmar que “a Osklen está sendo reconhecida por eu ter trazido os valores sócio-ambientais em que acredito de forma alta em termos de sofisticação” (DE IPANEMA..., 2009, p.1). Nesse sentido, pode-se afirmar que o posicionamento da grife está de acordo com o foco contemporâneo da moda e do novo consumo de marcas de moda de luxo, definido por Black (2008) como o “esverdeamento da moda”. Na perspectiva da eco-moda, o autor explica que a combinação de princípios éticos e ecológicos aplicados à inovação de matéria-prima, design estético e produtos mais duráveis é que sustentam o “novo luxo”. No processo de construção do posicionamento da grife, Oskar afirma que as estratégias de comunicação da marca são fundamentais para definirem a Osklen como uma marca de estilo de vida; que defende o esporte, a sustentabilidade e o design de maneira conceitual em campanhas, desfiles e coleções. Oskar afirma que a definição dos conceitos para as campanhas, coleções e desfiles surge a partir de uma experiência pessoal; uma viagem ou algum momento vivido por ele. A partir deste acervo simbólico, Oskar analisa os tecidos, as cores, as texturas e silhuetas que possam melhor projetar os conceitos que ele busca expressar. Ele também destaca que participa de todo o processo criativo de suas campanhas publicitárias, bem como de todas as outras estratégias de comunicação, a fim de acompanhar a aplicação dos conceitos de determinada coleção, além do “clima” da marca, em todas as ações de marketing da Osklen. Segundo Oskar, quem cuida das ações de comunicação da marca é ele e sua equipe de marketing e comunicação; tendo uma agência interna, a Om.art. O dono da grife explica porque prefere não trabalhar com agências externas, ao afirmar que “(...) na moda, o que é uma coleção? É uma campanha - se você tem um conceito e o comunica, tem uma campanha. Então quem melhor para expressar do que você mesmo? Coleção é muito autoral. E é uma forma de comunicação que agência não conhece” (DE IPANEMA..., 2009, p.2). Nesse sentido, Oskar defende que a criação de um departamento interno responsável pela comunicação da marca consegue dar alma aos produtos, serviços e ao estilo de vida da Osklen; pois, por meio deste departamento interno, é possível acompanhar o processo de criação das estratégias por inteiro. 77 Na entrevista, Oskar afirma que sua marca trabalha com uma moda que está atrelada a um estilo de vida. No entanto, ele não define de forma direta que elementos simbólicos fazem parte do estilo de vida da Osklen. Ainda assim, descrevendo uma parceria que realizou com a Grendene, fabricante das sandálias Ipanema, ele comenta aspectos do bairro Ipanema e da cidade do Rio de Janeiro que inspiraram a criação do calçado. Nesse comentário, interpretouse que parte do estilo de vida da marca é inspirado em elementos que lembram a rotina da capital carioca. Estes elementos foram identificados em algumas palavras utilizadas por Oskar, destacadas a seguir: Nunca tinha sido desenhada uma sandália pensada em Ipanema (...) e eu adorei. (...) Todo mundo sabe o quanto gosto de Ipanema, tenho um olhar bem singular sobre ela. A primeira coisa que pensei em relação à Ipanema foi nas curvas - da areia, das montanhas, das ondas, das mulheres (DE IPANEMA..., 2009, p.3). O uso das palavras “areia” e “ondas” podem ser associados com as praias cariocas; a palavra “mulheres” lembra a canção de Tom Jobim, Garota de Ipanema; e as curvas das “montanhas” lembram pontos turísticos marcantes da cidade, como o Morro da Urca e o Corcovado. Em alguns temas de coleções e no próprio desenvolvimento de uma moda voltada para o beach wear e o surfe é possível perceber a influência simbólica de aspectos do Rio de Janeiro. A coleção Primavera Verão 2008 da grife, intitulada “United Kingdom of Ipanema” 10, por exemplo, apresentou diversos elementos da capital carioca em sua campanha publicitária. 10 Reino Unido de Ipanema 78 Figura 9: Campanha publicitária United Kingdom of Ipanema - Moda Beach Wear e Surfe Fonte: Site institucional da Osklen Figura 10: Campanha publicitária United Kingdom of Ipanema – Morro da Urca Fonte: Site institucional da Osklen 79 Figura 11: Campanha publicitária United Kingdom of Ipanema – Alusão à Garota de Ipanema Fonte: Site institucional da Osklen Outra campanha que também demonstra a influência de símbolos do Rio de Janeiro na marca e configura parte do seu estilo de vida foi lançada em 2010 para a rede de varejo Riachuelo, intitulada Coleção Rio de Janeiro. No catálogo da coleção, é possível perceber a repetição de elementos da capital carioca nas fotografias. Figura 12: Catálogo Riachuelo Coleção Rio de Janeiro – Beach Wear Fonte: Site institucional da Riachuelo 80 Figura 13: Catálogo Riachuelo Coleção Rio de Janeiro – Garota de Ipanema e Morro da Urca Fonte: Site institucional da Riachuelo Figura 14: Catálogo Riachuelo Coleção Rio de Janeiro – Lapa, Calçadão e Morro da Urca Fonte: Site institucional da Riachuelo Acredita-se que, além de influenciar o estilo de vida da marca, suas campanhas, coleções e moda, a cidade do Rio de Janeiro também funciona como uma poderosa estratégia 81 de comunicação para a internacionalização da marca, uma vez que consiste em um ponto turístico mundialmente conhecido. Outro aspecto que comprova a relação da rotina da cidade do Rio de Janeiro com o estilo de vida da marca é a afirmação de Oskar sobre desfilar no São Paulo Fashion Week, ao invés de desfilar no Fashion Rio. Ele explica que, em São Paulo, o evento possui maior repercussão nacional e internacional, o que melhor favorece o posicionamento e a divulgação da marca. No entanto, Oskar afirma que a presença da grife no evento de São Paulo é como uma exportação do estilo de vida carioca, e complementa: “Nunca foi falta de prestigiar o Rio, acho que sou um dos que mais o prestigia, porque gosto do estilo de vida, me inspira” (DE IPANEMA..., 2009, p.4). Ainda comentando a parceria realizada com a Grendene para a fabricação da sandália Ipanema, Oskar menciona algumas ações sustentáveis realizadas durante o lançamento do produto. A primeira é que o produto foi feito para ser reciclado, com materiais biodegradáveis. A segunda é que parte do lucro com as vendas foi revertido em ações sociais, culturais e ambientais para o bairro de Ipanema. Oskar também comenta o desenvolvimento de outras ações sustentáveis envolvendo a revitalização da costa brasileira; um projeto que, segundo ele, contará com o apoio da Osklen. Entende-se, por estes aspectos e pela afirmação do dono da grife sobre o novo luxo estar atrelado à sustentabilidade; que ela também consiste em mais um fator que faz parte do estilo de vida da marca, de suas ações de comunicação e venda. Ao comentar sobre sua estratégia de envolvimento de grupos de relacionamento distintos com a marca, Oskar apresenta mais alguns aspectos do estilo de vida de sua marca. Para ele, pessoas que gostam de esportes, viagens, artes plásticas e se envolvem com música, fazem parte do universo simbólico de estilo de vida que ele defende com a Osklen. Quem consome o estilo de vida da grife, segundo ele, acompanha muito mais a trajetória da marca do que a moda em si. O gerente de Relações Corporativas da marca, no entanto; na entrevista realizada por e-mail, em 11 de novembro de 2010, não descreve detalhadamente o perfil do público da marca; e afirma ser apenas um público de comportamento jovem. Para o consumidor de estilo de vida da grife, Oskar afirma que as estratégias de comunicação são mais sofisticadas, pois geralmente envolvem pessoas que trabalham com moda – jornalistas e editores de revistas, por exemplo. Além disso, existem os fashionistas; estes funcionam como trendsetters11 e auxiliam na divulgação dos lançamentos, tornando-os 11 Lançadores de tendências 82 tendências. Posteriormente, para o consumidor regular, que não entende tanto de moda, mas gosta da grife; Oskar afirma que são feitas campanhas publicitárias clássicas em revistas. Neste caso, priorizam-se mais o uso de imagens com qualidade estética. Este processo, descrito por Oskar, pode ser comparado ao processo descrito por King e Ring (1980), sobre a trajetória de um objeto de moda, que vai desde a introdução de uma inovação, sua adoção pelos líderes de moda, a difusão do objeto de moda por uma rede sociocultural, até não ser mais considerado tendência e apresentar declínio no consumo. A difusão do estilo da marca, até sua transformação em tendência, também pode ser interpretada à luz de Leão (2005), que enfatiza o papel dos bureaus de moda e dos especialistas no assunto para a consolidação de uma tendência de moda. Segundo a autora, quando as percepções dos profissionais especializados no setor (tanto do contexto de determinada época, quando do próprio momento em que determinados estilos e tendências são utilizados) são cristalizadas, cadernos de tendências são elaborados e divulgados, auxiliando difusão de tendências. Oskar também afirma que a divulgação do estilo de vida da marca pode ser percebida nas lojas, tanto no Brasil quanto no exterior. Para ele, a experiência do cliente com o ambiente da loja, com os vendedores e com os produtos está diretamente ligada ao estilo de vida da marca. Isto é importante, segundo Oskar, porque o estilo antecede o consumo, pois “tem que vender um estilo antes, para as pessoas compreenderem, serem seduzidas, ficarem com vontade de ter e começar a consumir” (DE IPANEMA..., 2009, p.4). Corbellini (2007) também defende a relevância da loja como dispositivo midiático e afirma que, por se tratar de um lugar físico, apresenta enorme potencial para criar experiências de consumo, estabelecer relacionamentos com consumidores e tornar indispensável a integração entre identidade de produto, identidade de marca, imagem de marca, posicionamento de produto e de marca e estratégias comunicacionais. Segundo Oskar, o estilo da grife é o maior responsável pelo sucesso nas vendas internacionais. Ele acredita que o estilo de vida brasileiro tem vendido mais do que a moda nacional, uma vez que é comum perceberem, no exterior, o manufaturado do Brasil como de má qualidade. Ainda assim, para Oskar, este cenário está mudando, e há possibilidades de muito sucesso para quem “(...) fizer um trabalho com linguagem universal, qualidade internacional do produto ou serviço e uma essência de Brasil (...)” (DE IPANEMA..., 2009, p.4). 83 Em entrevista com o gerente de Relações Corporativas da marca, ele afirma que o estilo de vida da Osklen é ligado a um estilo de moda casual chic. Analisando a rotina da capital carioca, cujo clima praiano e de calor intenso a maior parte do ano é frequente, é possível afirmar que a confecção de roupas mais casuais é coerente com a influência de aspectos simbólicos e geográficos da cidade. O aspecto chic do estilo da grife pode ser encontrado tanto no modo de confecção dos produtos, devido ao uso de matérias primas sustentáveis, cujos tecidos são produzidos de maneira artesanal; quanto na concepção da marca como uma grife de luxo. Para o gerente de Relações Corporativas da Osklen, os principais valores da marca que compõem sua identidade e o seu estilo de vida são a criatividade, o equilíbrio, a sofisticação, o despojamento, a qualidade, o apuro estético, a contemporaneidade e a sustentabilidade. Segundo ele, estes valores são projetados, na prática, por meio de ações de comunicação distintas; como apoio a projetos, uso de redes sociais, elaboração de sites conceituais, anúncios em revistas especializadas e até mesmo nos próprios produtos das coleções, que podem servir como plataformas comunicacionais do estilo da grife. Para definir os valores da marca projetados nas estratégias de comunicação, consideramos a análise da entrevista feita com Oskar Metsavaht e com o gerente de Relações Corporativas da empresa, e escolhemos os sete principais atributos da identidade da marca; expostos no quadro a seguir: Principais atributos da marca Osklen Despojada Urbana Casual Chic Inovadora Sustentável Moderna Sofisticada Quadro 4: Quadro Demonstrativo – Principais atributos da marca Osklen Fonte: Elaborado pela autora É importante ressaltar que estes atributos não estão expostos por ordem de importância. Os atributos “casual chic” e “despojada” podem ser co-relacionados, porque a marca trabalha com um estilo de roupas informais, que refletem o clima e o litoral da cidade de origem da Osklen. Além disso, este estilo foi declarado pelo gerente de Relações Corporativas da grife. 84 A praticidade das roupas para um dia a dia agitado em uma cidade grande, o design casual e o fato da grife ter sua origem em uma capital é que conferem à marca, a característica de “urbana”. O aspecto “sustentabilidade” foi frequentemente comentado na entrevista de Oskar e declarado na entrevista com o gerente de Relações Corporativas. Além disso, foi possível perceber na trajetória da grife alguns projetos e campanhas publicitárias ligados ao tema. Acreditamos que este atributo também confere inovação à marca, por meio do uso de matériaprima alternativa. A sofisticação pode ser relacionada com a confecção das roupas por processos sustentáveis, com uso de matéria-prima alternativa; e por se tratar de uma marca posicionada no mercado de luxo de moda. Por fim, como declarou o gerente de Relações Corporativas da grife na entrevista feita por e-mail, em 11 de novembro de 2010, a contemporaneidade consiste em um valor, interpretado no atributo “moderna”. É um valor que também se liga ao atributo “sustentabilidade”, uma vez que a sustentabilidade consiste em uma tendência atual para as marcas de moda que trabalham com o novo luxo no mercado: a eco-moda. Acredita-se que o uso da comunicação estratégica pode ser fundamental para o processo de criação e difusão destes atributos. No entanto, entre o que a liderança afirma projetar e o que é possível identificar em algumas estratégias de comunicação da grife, pode haver algumas lacunas nas percepções dos usuários da marca, que serão avaliadas a seguir. 5.3 Como a marca constrói sentidos: a projeção de seus atributos nas estratégias de comunicação A cultura organizacional refere-se, de acordo com Hatch e Schultz (2003a, 2003b) e Schultz (2005), aos valores e crenças organizacionais, manifestados sob a perspectiva e o comportamento dos empregados. Entende-se que a cultura pode ser compreendida como os valores e crenças projetados nos dispositivos midiáticos da organização e esse será o foco de análise a seguir. Para tanto, considerou-se a análise do desfile da coleção Oceans Verão 2011. Acredita-se que o desfile sintetiza o modo da Osklen entender o conceito de moda e, sendo 85 um dos dispositivos midiáticos de projeção da marca, consiste em um elemento da cultura organizacional. O desfile foi assistido presencialmente durante a edição Verão 2011 da São Paulo Fashion Week, na capital São Paulo, em 10 de junho de 2010. A fim de compreender o contexto o qual a coleção foi lançada, a ambientação do evento foi considerada. Também foi utilizado o jornal oficial do evento distribuído no dia do desfile, além da edição especial da revista “ISTO É Gente”, assinada pelo fundador e diretor criativo do evento, Paulo Borges, publicada em 14 de junho de 2010 e que apresenta a matéria “Um dia com Oskar Metsavaht” referente à coleção lançada no evento. Também foram consideradas duas matérias jornalísticas, publicadas no site oficial da São Paulo Fashion Week: uma consiste numa resenha crítica do desfile, proposta pela jornalista de moda Erika Palomino; e a outra apresenta a proposta do desfile, escrita pela jornalista de moda Ana Pinho, ambas publicadas em 10 de junho de 2010. Além disso, analisou-se o programa do desfile distribuído para os convidados. Acredita-se que a campanha publicitária também consiste em um elemento da cultura organizacional, por ser um dispositivo midiático de projeção da marca. Portanto, também foi feita uma análise da campanha publicitária da coleção Oceans Verão 2011, veiculada no site institucional da Osklen no mês de setembro de 2010. As fotos da campanha publicitária foram coletadas no site institucional da marca durante o mês de setembro de 2010. O contexto para a análise das peças consistiu no lançamento da coleção na São Paulo Fashion Week e no conceito proposto para a mesma. 5.3.1 Desfile Osklen – Oceans Verão 2011 Para a análise dos atributos projetados pela marca, foi avaliado, primeiramente, que atributos foram projetados no desfile da grife Osklen; apresentado no São Paulo Fashion Week, em 10 de junho de 2010, na coleção Oceans Verão 2011. Importante ressaltar que o desfile consiste, de acordo com Corbellini (2007) em um evento que pode gerar grande cobertura midiática e servir de contato direto entre a marca e grupos de relacionamento importantes, como os líderes de opinião e a imprensa. Além disso, Soloaga (2007) ressalta que os desfiles consistem em uma oportunidade de projeção das propostas da marca, sem a necessidade de utilização de palavras, mas apenas de imagens de 86 grande impacto que se tornam portadoras das mensagens que a marca deseja projetar a respeito do seu estilo e do tipo de confecção que costuma trabalhar. A participação da grife no maior evento de moda da América Latina já explicita a estratégia da marca, comentada por Oskar Metsavaht, de obter maior divulgação e cobertura midiática. Entende-se, portanto, que o desfile faz parte da estratégia de divulgação e consolidação do estilo de vida da grife para públicos como jornalistas de moda e líderes de opinião. A fim de compreender o contexto o qual a coleção foi lançada, analisa-se a seguir a ambientação do evento; o jornal oficial do evento distribuído no dia do desfile; a matéria da edição especial da revista “ISTO É Gente”, publicada em 14 de junho de 2010: “Um dia com Oskar Metsavaht”; além de duas matérias jornalísticas, publicadas no site oficial da São Paulo Fashion Week: a resenha crítica do desfile, proposta pela jornalista de moda Erika Palomino; e a apresentação da proposta do desfile, escrita pela jornalista de moda Ana Pinho, ambas publicadas em 10 de junho de 2010. Posteriormente, analisa-se o desfile em si, bem como o programa do desfile distribuído para os convidados. Analisando a ambientação do lugar em que aconteceu o SPFW, percebemos a relação indireta do atributo “sustentabilidade” da grife com o incentivo de reciclagem de lixo em diversos locais do evento; com lixeiras identificadas para a coleta seletiva de papel, plástico, metal e lixo orgânico. Figura 15: Coleta Seletiva no São Paulo Fashion Week Fonte: Fotografia feita pela autora durante o evento SPFW 87 Outro aspecto do evento que pode ser associado com a projeção do atributo “sustentabilidade” da grife consiste no projeto de compensação da emissão de gás carbônico emitido durante toda a montagem e realização do evento, intitulado Carbon Free. Segundo o site Moda Eventos, a parceria da ONG Iniciativa Verde com o SPFW começou em 2007, quando Paulo Borges identificou no movimento Carbon Free um vetor de mudança em direção à sustentabilidade, transformando-o no primeiro evento de moda compensado do mundo. (SÃO PAULO..., 2010). A Osklen também já realizou parceria com o projeto Carbon Free, ao desenvolver, juntamente com a fabricante de bicicletas Caloi, um projeto que visou a conscientização para a emissão de gás carbônico na atmosfera. A entrada do evento era identificada com a marca do projeto: Figura 16: Parceria São Paulo Fashion Week e projeto Carbon Free Fonte: Fotografia feita pela autora durante o evento SPFW A edição do SPFW Journal do dia do desfile também apresentava a proposta da parceria do evento com o projeto Carbon Free. Na capa, existe o símbolo e o nome do projeto, juntamente com a frase: “Cultive, preserve, recicle, neutralize-se. Esta edição é neutra em carbono” (SPFW Journal, 2010). Outro elemento da edição do SPFW Journal que pode ser indiretamente associado com o atributo “sustentabilidade” da grife Osklen é que a publicação é toda feita em papel 88 reciclado. Esta edição, no entanto, não apresentou nenhuma matéria sobre a Osklen para ser analisada. No ambiente do evento foi realizada a exposição “Estilo Skate”, patrocinada pela Oi, empresa de telecomunicações. O objetivo da exposição, segundo publicidade veiculada no SPFW Journal, consistia em apresentar a influência do skate na moda, nas artes e na sociedade. Nesta exposição, a Osklen exibiu algumas fotos da coleção Inverno 2004 e 2005 Urban Vehicle, juntamente com uma nota explicativa sobre a relação do esporte skate com a marca. Figura 17: Exposição Oi Estilo Skate – Participação da grife Osklen Fonte: Fotografia feita pela autora durante o evento SPFW 89 Figura 18: Exposição Oi Estilo Skate – Osklen e Skate Fonte: Fotografia feita pela autora durante o evento SPFW Na nota explicativa sobre a relação do esporte skate com a marca, é possível associar algumas palavras e expressões do texto com alguns dos principais atributos da marca: inovadora, urbana, despojada, casual chic e sustentável. A expressão “nova atitude”, “visão futurista” e uso constante do verbo “adaptar” podem se associar ao atributo “inovadora” da marca; refletindo uma postura de busca por mudanças em uma perspectiva além do tempo presente. As expressões “cena urbana”, “arquitetura urbana”, “veículo urbano”, “cidades” também pode ter uma relação direta com o atributo “urbana”. A projeção deste atributo também pode ser percebida quando afirma-se, em nota, que o skate consiste na prancha de surfe dos espaços urbanos. Importante ressaltar que skate e surfe são dois esportes citados que reforçam o estilo de vida que a marca projeta. Outras expressões como “produtos que facilitam a nossa mobilidade”, “ergonomia”, “conforto”, “liberdade de movimentos” e “prático” podem ser associadas com os atributos “despojada” e “casual chic”. São expressões que podem representar o estilo de roupas mais descontraídas; adaptadas para o clima tropical da cidade do Rio de Janeiro e, claro, do Brasil; que facilitam a locomoção e os movimentos corporais, trazendo ergonomia e conforto durante o uso. 90 Por fim, a expressão “não poluente” remete ao atributo “sustentabilidade” da marca. A nota defende o uso do skate como forma alternativa de veículo para a vida urbana, sugerindoo como substituto dos automóveis. Na reportagem “Um dia com Oskar Metsavaht”, de Zaramella (2010), também é possível perceber a projeção de vários atributos da marca. Primeiramente, a repórter apresenta os esportes que o dono da Osklen costuma praticar; uma ligação direta com o estilo de vida defendido pela marca, explicitado por meio de expressões como “escalada nas montanhas do Himalaia”, “mergulho no mar do Caribe”, “Power pilates”, “ioga” e “surfe”. Nesse sentido, Zaramella (2010, p.35) afirma que o estilo de vida de Oskar, “(...) conectado simultaneamente ao urbano e à natureza, às artes e aos esportes, e uma constante necessidade de experimentação, que o levaram a desenvolver uma marca única (...)”. Destacamos as palavras nesta citação para enfatizar a presença dos atributos da marca no texto da jornalista de moda. A palavra “natureza” pode ser associada com o atributo “sustentabilidade”, devido às ações de preservação do meio ambiente que a marca costuma promover; e a expressão “necessidade de experimentação” pode ser associada ao atributo “inovadora”. Na reportagem, relata-se o encontro de Oskar Metsavaht com o editor de moda da revista americana Vanity Fair, Michael Roberts. Segundo Zaramella (2010, p.36), a percepção do editor sobre a Osklen é de que a marca tornou-se uma referência do estilo de vida brasileiro, no exterior. Na declaração de Michael Roberts, os produtos da marca “(...) são como as obras do Niemeyer. No começo, existe uma certa estranheza pela pureza das formas, mas o toque de Brasil está ali. É uma roupa contemporânea, independente de modismo ou folclore”. Entendemos, nas palavras e expressões em destaque, que o atributo “moderna” pode ser associado à palavra “contemporânea” e ao arquiteto Niemeyer, reconhecido como um dos arquitetos mais influentes na Arquitetura Moderna Internacional. A expressão “pureza das formas” pode ser relacionada ao atributo “casual chic”, que caracteriza um estilo de roupa com formas mais simples e práticas. Zaramella (2010, p.38) afirma que “(...) o estilista também atua em projetos ecoconscientes (...)”, o que demonstra ligação direta com o atributo “sustentabilidade”; além de demonstrar a relação do estilo de vida da marca com a rotina da cidade do Rio de Janeiro, ao comentar que Oskar “(...) foi convidado a desenvolver, em parceria com sua agência multimídia, a Om.art, o conceito e estilo carioca para o filme Rio, Eu te Amo” (ZARAMELLA, 2010, p.37). 91 No dia do desfile da coleção Oceans Verão 2011, foi publicada uma matéria no site FFW Notícias sobre a inspiração de Oskar Metsavaht para a criação do conceito e do estilo das roupas. Segundo a reportagem, a coleção surgiu a partir de uma experiência de mergulho que Oskar teve, há 10 anos, na ilha caribenha de Mustique. O impulso para tornar esta experiência um conceito de moda, no entanto, só aconteceu quando, em 2010, o dono da grife realizou um mergulho no Rio de Janeiro sem utilizar tanques de oxigênio, mas apenas técnicas de respiração. As cores da coleção consistem em tons de azul, uma alusão às cores da água. Tons de prata e branco também se fazem presente, pois, segundo o site FFW Notícias, representam os tons de reflexo de luz na água. O tecido mais utilizado para a confecção das roupas consistiu no algodão, pela facilidade que a matéria-prima possui para receber pigmentos. As roupas, portanto, foram artesanalmente tingidas para a coleção e “(...) o pigmento índigo (natural, como manda o Instituto-e) foi processado de maneira completamente manual pela equipe, e até o próprio Metsavaht colocou a mão na massa – e ficou com vestígios de azul até o dia da visita, quando algumas peças haviam secado pouco antes” (OSKAR..., 2010). A técnica de pigmentação do tecido, portanto, seguiu o padrão sustentável que a marca costuma trabalhar em suas matérias-primas. Além disso, o “processo completamente manual” de pigmentação das peças reforça o atributo “sofisticação” da marca. Figura 19: Oskar Metsavaht e o processo de pigmentação das roupas da coleção Oceans Verão 2011 Fonte: Site FFW Notícias 92 Outro aspecto que se liga ao atributo “sustentabilidade” consiste no comentário de Oskar, no portal de notícias FFW, sobre a realização de uma parceria com a UNESCO para a realização de projetos que favoreçam o patrimônio cultural subaquático. Também no portal de notícias FFW, encontramos uma resenha crítica sobre o desfile, feita pela jornalista de moda Érica Palomino (2010), em que foi possível identificar críticas ao desfile, apontando a falta de coerência e consistência com os atributos desejados e projetados pela marca. Segundo Palomino (2010), a coleção Mergulho no Azul da Osklen se mostra, ao menos na passarela, um mergulho no imenso tédio. (...) a Osklen cai agora na encruzilhada da simplicidade em excesso – quando se evidencia a falta de um conceito de “coleção”. (...) no desfile nos ressentimos de mais idéias, e de vê-las desdobradas de modo mais consistente. (...) ao desfile cabe a criação de uma imagem de moda – e não apenas de uma seqüência algo aleatória de looks. (...) E a evolução da moda brasileira (e do próprio lifestyle made-in-Brazil) exige mais do que o trabalho de beneficiamento dos materiais e de t-shirts e calças "descoladas". O processo é importante – mas não é tudo (PALOMINO, 2010). Interpretamos que os comentários “(...) a evolução da moda (...) exige mais do que o trabalho de beneficiamento dos materiais (...)” e “o processo é importante – mas não é tudo”, demonstram, segundo a opinião da jornalista de moda, que houve uma supervalorização do processo artesanal das peças. O comentário “simplicidade em excesso” pode ser interpretado como uma crítica ao estilo “casual chic” das roupas apresentadas no desfile da marca. E, por fim, o comentário “(...) a evolução da moda (...) exige mais do que o trabalho de beneficiamento dos materiais e de t-shirts e calças descoladas” pode ser interpretado como uma crítica ao atributo “despojada”. Interpretamos que, para a jornalista, possa ser preciso oferecer mais do que roupas e acessórios despojados e ir além do design casual; que pode simplificar a confecção da coleção e empobrecer a expressão do conceito da coleção nas indumentárias. Tendo em vista a análise do contexto no qual o desfile da coleção Oceans Verão 2011 foi apresentado, analisa-se o desfile em si. Ao assistir ao desfile, foi observado que o cenário para o mesmo era bastante casual e despojado, consistindo apenas de uma passarela branca e uma projeção de um oceano, com diferentes tons de azul, em movimento. 93 Figura 20: Cenografia do desfile Osklen Oceans Verão 2011 Fonte: Site institucional da Osklen Também foram observados alguns elementos simbólicos que condiziam com o tema Oceans, como a projeção do tridente de Poseidon logo no início do desfile. Segundo a mitologia grega, Poseidon era o deus supremo dos mares. Figura 21: Projeção do tridente de Poseidon no desfile Osklen Oceans Verão 2011 Fonte: Site institucional da Osklen 94 Figura 22: Poseidon Fonte: Site da Wikipédia Alguns acessórios, tecidos e bordados utilizados no desfile também puderam ser associados com o universo simbólico do tema Oceans. O uso de paetês em algumas roupas e uma mochila em couro, por exemplo, lembravam escamas de peixe. Figura 23: Osklen Oceans Verão 2011 - Escamas de peixe Fonte: Site FFW Notícias Algumas roupas eram feitas de um tecido que parecia estar molhado, numa associação direta com a água dos oceanos. 95 Figura 24: Osklen Oceans Verão 2011 – Tecido molhado Fonte: Site FFW Notícias Um acessório muito utilizado durante o desfile consistiu nos óculos utilizados por mergulhadores. Figura 25: Osklen Oceans Verão 2011 – Óculos de mergulho Fonte: Site FFW Notícias Algumas peças de roupa apresentavam uma trama de tecido que se assemelhava a uma rede de pescaria. 96 Figura 26: Osklen Oceans Verão 2011 – Rede de pesca Fonte: Site FFW Notícias O tema da coleção também reforçava a divulgação do estilo de confecção da grife, voltado para o beach wear e o surfe; além de consistir em uma alusão ao estilo de vida da marca e lembrar a rotina praiana da capital carioca. As roupas apresentavam aparência despojada e cortes simples, com peças casuais para o verão, como bermudas, calças de algodão, regatas e vestidos. Para os convidados do desfile, foi distribuído um informativo contendo informações sobre o conceito da coleção; cores utilizadas; tecidos, dentre os quais se destacou a utilização do algodão orgânico e-fabrics; as técnicas de tingimento, enfatizando o uso de “pigmentos naturais” e “processo artesanal” e que tipos de acabamentos as peças receberam. Além disso, o informativo trazia informações sobre o Instituto-e e o projeto e-fabrics; sobre a neutralização de carbono que a Osklen realiza em suas operações de loja e escritório e, por fim, sobre a origem sustentável do algodão orgânico. Observou-se, por meio da análise da ambientação do São Paulo Fashion Week e da participação da Osklen na exposição “Estilo Skate”, ambos em 10 de junho de 2010; no SPFW Journal, também publicado em 10 de junho de 2010; na reportagem “Um dia com Oskar Metsavaht” publicada na edição especial de 14 de junho de 2010 da revista Isto É GENTE; na matéria divulgada no portal FFW em 10 de junho de 2010 “Oskar Metsavaht: o verão da Osklen 2011 é um mergulho no azul” e na resenha crítica de Érica Palomino, divulgada no mesmo portal e na mesma data; em diversos elementos simbólicos do desfile e no informativo distribuído aos convidados que todos os sete principais atributos identificados 97 na análise da visão estratégica da Osklen (despojada, urbana, casual chic, inovadora, sustentável, moderna e sofisticada) foram projetados nas estratégias de comunicação da marca; havendo percepções positivas e negativas sobre os atributos. No entanto, é importante ressaltar que nem todos os atributos foram projetados em todos os materiais analisados, o que sinaliza que a produção de sentido sobre os atributos da marca é diversificada, embora haja padrões nos textos que demonstram uma coerência na projeção dos atributos. Nesse sentido, foi possível identificar a estrutura do modelo comunicacional que engloba a produção de sentido, apresentado por Verón (2004), na análise da visão estratégica e na análise da projeção dos atributos nas estratégias de comunicação da marca. Entendemos, a partir da estrutura proposta no modelo, que a liderança consiste no pólo da produção, e o pólo de reconhecimento dos discursos constitui todo o material analisado sobre o desfile da marca. Constatamos que houve circularidade não-linear de sentidos produzidos, uma vez que cada discurso produzido neste processo não apresentou todos os atributos da marca, mas apenas alguns atributos. Entendemos, por fim, de acordo com o material analisado, que há uma tentativa de alinhar a projeção dos atributos por parte da liderança com as percepções dos consumidores do estilo de vida da grife, como os fashionistas, os jornalistas e editores de revistas de moda. No entanto, nem sempre isto acontece; haja vista o depoimento crítico da jornalista de moda Érica Palomino sobre o desfile da coleção Oceans Verão 2011. Procuraremos identificar, em seguida, dentre os principais atributos da marca, quais poderão ser encontrados na análise da campanha publicitária da coleção Oceans Verão 2011. 5.3.2 Campanha publicitária Osklen – Oceans Verão 2011 Durante a realização do desfile da Osklen, o processo de difusão de tendências está sendo desenvolvido para, posteriormente, consolidar-se em moda. Neste processo, os meios de comunicação de massa também contribuem para a difusão das tendências, uma vez que facilitam o acesso às principais informações sobre o assunto (GARCIA; MIRANDA, 2007). Nesse sentido, uso constante de publicidade pode ser crucial para a transformação de uma tendência em moda. Anúncios que compõem as revistas e jornais especializados no setor 98 precisam ser planejados e desenvolvidos para apresentarem informação de moda útil e de acordo com as tendências da estação (SOLOAGA, 2007). Para o dono da marca Osklen, a campanha publicitária de determinada coleção é direcionada para o consumidor regular, que não entende tanto de moda, mas gosta da grife. Para este grupo de relacionamento, Oskar Metsavaht afirma que são feitas campanhas publicitárias clássicas em revistas, nas quais é priorizado o uso de imagens com qualidade estética (DE IPANEMA..., 2009). Por estas razões, além de acreditar que a campanha publicitária transmite elementos da cultura organizacional, foi feita uma análise da campanha publicitária do desfile apresentado no São Paulo Fashion Week. As fotos12 da campanha publicitária da coleção Oceans Verão 2011 foram coletadas no site institucional da marca e as mesmas imagens foram utilizadas em revistas de moda e outdoor. Nota-se, primeiramente, que a campanha não foi feita com celebridades nem modelos famosos. Apesar de Corbellini (2007) afirmar que celebridades e modelos famosos representam uma comunicação de grande impacto, sendo, de acordo com Soloaga (2007), um tipo de estratégia que pode atrair maior atenção midiática para a marca; pode-se inferir que a marca Osklen não busca este tipo de estratégia por priorizar a divulgação da marca por si mesma. Além disso, observa-se que, em todas as imagens, destacam-se muito mais as roupas do que os modelos. Primeiramente porque, com um fundo branco, as cores das roupas são ressaltadas. Os modelos também não usam acessórios, como brincos, colares ou pulseiras, e a maquiagem é incolor. As expressões faciais dos modelos são praticamente as mesmas em todas as fotos: sem sorrisos, algumas com o olhar para frente, outras para baixo e algumas para o lado, mas todas pouco chamativas. Tudo isso consiste em um apelo para o olhar focarse exclusivamente nas roupas. Nesse sentido, é possível afirmar que a campanha publicitária da coleção Oceans Verão 2011 objetiva, por meio das roupas, destacar o estilo despojado e casual chic da grife. Todas as imagens são assinadas pela marca e não apresentam nenhum texto que comente o processo artesanal de tingimento das roupas com pigmentos naturais e a origem sustentável dos tecidos utilizados, o que exclui da campanha a projeção dos atributos “sofisticada”, “sustentável” e “inovadora”. Entretanto, por algumas indumentárias 12 Todas as fotos coletadas encontram-se no ANEXO A – Campanha Publicitária Osklen Oceans Verão 2011 99 apresentarem dobras em tecido, poderíamos observar um trabalho de costura minucioso, o que poderia conferir às peças algum aspecto de sofisticação e a projeção deste atributo. Poucos elementos remetem ao tema Oceans. Em uma das imagens, o modelo aparece com uma camiseta com o nome da coleção; os tons de azul confirmam a proposta de Oskar em se trabalhar com essas cores, representativas da experiência de mergulho que inspirou a criação da coleção; a modelo carrega, pendurado no pescoço, um óculos de mergulho; há uma foto em que a modelo aparece com um objeto que lembra a barbatana triangular de um tubarão; o maiô que a modelo usa lembra uma roupa de mergulho. A campanha consiste em uma representação da moda beach wear e surfe, muito trabalhadas pela marca, uma vez que o tema da coleção remete à estes estilos. A campanha também pode ser considerada como uma representante do estilo de vida da grife, por estar associada ao esporte mergulho e ao surfe, pelo tema lembrar praias e, assim, o Rio de Janeiro, cidade significativamente simbólica para a grife. Não foi possível associar nenhum elemento da campanha aos atributos “urbana” e moderna”. Também não identificamos os atributos “sustentável” e “inovadora”. É possível, no entanto, perceber os atributos “sofisticada”, “despojada” e “casual chic”. Para o consumidor regular, portanto, não foram projetados todos os atributos da marca nesta campanha. É preciso considerar, ainda, que os atributos percebidos na campanha da coleção Oceans Verão 2011 podem não ser claros para quem nunca obteve conhecimento da marca e observa a campanha pela primeira vez. Também é possível afirmar que, mesmo para os que conhecem a marca, a percepção dos atributos projetados nesta campanha poderia ser diferente da percepção aqui defendida. Embora não tenha sido percebida a projeção de todos os atributos na campanha publicitária em análise, consideramos que os atributos “sofisticada”, “despojada” e “casual chic” projetados na campanha Oceans Verão 2011 estão alinhados com os atributos defendidos pela visão estratégica da grife. Por meio dos atributos identificados nesta campanha é possível afirmar que o foco para a campanha consista, principalmente, na venda dos produtos da grife e do estilo das roupas. A venda do estilo de vida da marca também é percebida na campanha, porém de maneira mais implícita, pois, apesar da associação da coleção com os esportes “mergulho” e “surfe”, que fazem parte do universo simbólico do estilo de vida da grife; as imagens dos anúncios publicitários focam-se muito mais nas roupas em si do que em artefatos simbólicos que representem, de maneira mais clara, o estilo de vida da Osklen. 100 5.4 Como a marca constrói sentidos: as percepções dos usuários da comunidade virtual A atividade social das empresas de moda na Internet consiste, cada vez mais, em objeto de interesse por parte dos consumidores, o que concede à rede um importante meio informativo sobre o histórico da marca, bem como um espaço potencial de relacionamento (SOLOAGA, 2007). O uso da Internet em estratégias de comunicação de marcas de moda pode ser muito útil, pois por meio da rede é possível “(...) estabelecer afinidades, aprofundando o discurso iniciado com a publicidade e oferecer ao consumidor uma possibilidade de interação direta com a marca” (CORBELLINI, 2007, p. 293). A Internet ainda contribui para maior circulação de informações de moda, acelerando tanto a divulgação, quanto a consolidação e o encerramento de uma tendência (CALDAS, 2004). Estes aspectos motivaram a definição da análise da comunidade virtual da Osklen na rede social Orkut, visando a compreensão das percepções dos participantes sobre os atributos da marca. A comunidade, inserida na categoria Moda e Beleza, continha, em cinco de novembro de 2010, o maior número de participantes (49.395); apresentava questões sobre a marca em seu fórum de discussões e discorria sobre a marca na descrição do perfil da comunidade. Por estes fatores, a comunidade “Osklen” foi a escolhida. Foi feita uma análise qualitativa sobre a descrição do perfil da comunidade, além das perguntas do fórum. Também foi feita uma pesquisa para que os participantes pudessem votar nos atributos que consideravam os mais adequados para caracterizar a marca. A pesquisa foi publicada em cinco de novembro de 2010 e permaneceu disponível para votação até o dia 22 de novembro de 2010. Os resultados foram analisados qualitativa e quantitativamente. Analisando, primeiramente, a descrição do perfil da comunidade, é possível perceber que, embora ela se defina como a “comunidade oficial da Osklen”, os moderadores da comunidade consistem em participantes comuns da rede social, e não fazem parte da liderança da empresa. O texto do perfil da comunidade explica a origem do nome Osklen, comenta que a grife foi fundada a partir da venda dos casacos de neve e afirma que consiste em uma marca de repercussão nacional e internacional. Em seguida, aponta alguns nomes de coleções da marca sem, no entanto, fazer qualquer alusão aos propósitos de cada coleção. 101 A descrição da comunidade apresenta algumas frases que podem ser relacionadas com os atributos “sustentável” e “inovadora”: “Mind Environment Future13”, “Better life in the new millenium14” e “Life is an endless environment15”. Percebemos a relação da sustentabilidade com estas expressões porque as mesmas utilizam as palavras “meio ambiente” e, implicitamente, discorrem sobre a necessidade de uma vida melhor no futuro, por meio de ações de preservação da natureza que podem impactar no futuro e no novo milênio. Para tanto, é possível afirmar que o atributo “inovadora” está presente nestas expressões, uma vez que é preciso inovar a mentalidade e as ações que poderão trazer impactos menos agressivos ao meio ambiente. A disposição destas frases na descrição do perfil da comunidade, entretanto, não necessariamente significam que há uma percepção significativa dos atributos “sustentável” e “inovadora” da marca por parte dos usuários. A expressão “cool trips16” diz respeito a um aspecto do estilo de vida que a marca defende, além do texto do perfil reforçar que existe um estilo de vida atrelado à marca ao apresentar a palavra “lifestyle” na descrição; muito embora não discorra sobre que aspectos definem o estilo de vida relacionado a grife. Apesar da expressão “estilo de vida” estar na descrição do perfil da comunidade, isto também não quer dizer que os usuários defendem ou praticam o estilo de vida defendido pela marca. Analisando as perguntas do fórum da comunidade, espaço destinado às discussões, com possibilidade de elaboração de perguntas e de respostas por qualquer participante da comunidade; foram encontradas apenas oito perguntas, dentre as quais apenas duas estão relacionadas ao consumidor da grife (“Qual o perfil de quem usa Osklen” e “A pessoa acima parece usar Osklen?”) e três dizem respeito de marcas concorrentes (“Qual marca atualmente competiria com a Osklen?”, “A Osklen vs Cavaleira = Rio vs São Paulo?” e “Oakley, você já ouviu falar?”). Pelas perguntas do fórum, portanto, não foi possível identificar nenhuma relação com os principais atributos da marca. Sobre as duas perguntas relacionadas ao consumidor, a primeira, “Qual o perfil de quem usa Osklen”, postada em 18 de maio de 2010 e com 509 respostas, em 18 de janeiro de 2010; apresenta somente um comentário de uma participante interessada em discutir o assunto e ela é a responsável pela criação da pergunta no fórum da comunidade: “Olá gente! Qual o perfil de quem usa Osklen? Usa por nome ou por ser um estilo de vida?”. As outras 508 13 Mente, meio ambiente, futuro. Uma vida melhor no novo milênio. 15 A vida é um eterno meio ambiente. 16 Viagens legais. 14 102 respostas não apresentam nenhum comentário sobre os motivos de se consumir a marca, mas apenas conversas informais entre os participantes. A pergunta “A pessoa acima parece usar Osklen”, publicada no fórum em 24 de novembro de 2009, apresenta, em 18 de janeiro de 2010, 1.856 respostas. No entanto, nenhuma das respostas discute a pergunta ou justifica porque determinado participante parece usar a marca ou não. Entretanto, foram encontradas duas respostas que indicam que há uma valorização da marca enquanto consumo de luxo, uma vez que se critica o usuário que parece não usar Osklen e sim marcas populares: “Olhei seu álbum de fotos e não vi você com uma peça sequer da Osklen, você usa sabe o que? C&A e Riachuelo”; “Esse ai ta com cara de Riachuelo”. Sobre a pesquisa proposta, que perguntava aos participantes da comunidade quais características (atributos) poderiam ser associadas à marca Osklen, obteve-se o resultado de 58 votos. O atributo “moderna” foi o mais votado, num total de 12 votos; em seguida, o atributo “casual chic”, com 11 votos; com a mesma quantidade de votos, os atributos “despojada” e “sofisticada” empataram em terceiro lugar; com sete votos, o atributo “urbana” ficou em quarto lugar e, por fim, com um empate de seis votos, ficaram por último os atributos “inovadora” e “sustentável”. Figura 27: Pesquisa junto à comunidade Osklen Fonte: Comunidade Osklen do Orkut O segundo e terceiros atributos mais votados, “casual chic”, “despojada” e “sofisticada” consistiram nos mesmos atributos identificados na análise da campanha 103 publicitária da grife. Nesse sentido, é possível afirmar que os atributos mais percebidos pelos participantes da pesquisa podem estar associados ao constante contato dos consumidores regulares com as campanhas publicitárias da marca. Acredita-se que, para a Osklen, a percepção destes atributos em detrimento dos outros; tratando-se de uma estratégia de venda dos produtos da grife; contribui para a venda do estilo das roupas e para o sucesso do consumo da marca. Apesar deste resultado e de não haver discussões sobre os atributos da marca no fórum da comunidade, nenhum atributo foi desconsiderado na votação da pesquisa, o que demonstra que todos os atributos da marca são percebidos, ainda que uns mais que outros. Ainda assim, percebe-se que um possível espaço de interação social e de produção de sentido sobre a marca é pouco utilizado pelos participantes. Isto foi percebido, por exemplo, no número de votos da pesquisa realizada (58), em relação ao número de participantes da comunidade virtual (49.245 na data de encerramento da pesquisa); além das poucas perguntas feitas no fórum da comunidade e de conversas informais nas respostas das perguntas, ao invés de discussões sobre a marca. 104 6 CONCLUSÃO E CONSIDERAÇÕES FINAIS A partir dos dados empíricos analisados e do referencial teórico no qual esta pesquisa foi baseada, é possível destacar que a comunicação, sob uma perspectiva da produção de sentido, apresenta-se nos diversos discursos identificados sobre os atributos da marca; legitimando a circularidade de sentidos que caracterizam os processos de comunicação estratégica pautados sob esta visão. Conforme já visto, a perspectiva da produção de sentido concebe a análise da comunicação de marcas a partir de um contexto histórico, social e cultural; em que se faz necessário entender as relações existentes entre os diversos atores sociais, bem como as mediações entre estes atores e os meios de comunicação. Nestas interações, a circularidade de sentidos produzidos é caracteristicamente não-linear, uma vez que os discursos produzidos neste processo não resultam em apenas um único efeito, mas em uma diversidade de efeitos possíveis; qualificando o processo comunicacional enquanto um sistema complexo de discursividades sociais (VERÓN, 2004). Durante a análise dos processos de comunicação que projetavam os atributos da marca, bem como dos processos os quais estes atributos eram percebidos; foi possível constatar que a circularidade de sentidos sobre os atributos conferiram à identidade organizacional da Osklen um caráter instável, eminente do processo de inter-relações existentes entre os interlocutores, o ambiente e a cultura organizacional. Este caráter instável deve-se ao fato de que, apesar da continuidade dos atributos identificados; o sentido destes atributos sofreu alterações de acordo com as percepções dos interlocutores, analisados em vários contextos espaço-temporais. Apesar das diversas interpretações acerca dos atributos que contribuem para a construção da identidade da Osklen, criarem paradoxos sobre a marca, é esta “instabilidade adaptativa” que possibilita o sucesso da marca em um contexto complexo e multi-relacional (GIOIA; SCHULTZ; CORLEY, 2000; HATCH; SCHULTZ, 1997, 2002, 2005). Na análise da visão estratégica da organização e da cultura organizacional, percebe-se que a Osklen buscou alinhar os atributos que contribuem para a sustentação da sua identidade com as estratégias de comunicação avaliadas. Nesse sentido, a Osklen procura valorizar a relação com seus interlocutores, neste caso a imprensa especializada em moda e os consumidores da marca, num processo de trocas simbólicas que visa a legitimação do discurso da marca, dentro de seu contexto organizacional. A elaboração do discurso da marca 105 foi possível por meio da identificação dos atributos relativos à própria organização; estes que foram reconhecidos, legitimados e até criticados pelas percepções dos interlocutores analisados. Observa-se também que o processo de construção do discurso da marca Osklen pode ser pautado na perspectiva simbólica de construção de marcas, apresentada sob a ótica das autoras Hatch, Schultz e Ciccolella (2004) e Hatch e Schultz (2008). Estas autoras entendem que uma marca é construída a partir dos grupos de relacionamento que interagem com a organização e constróem significados a partir das projeções dos atributos da marca. A construção destes significados é possível por meio de uma fusão de redes simbólicas, tanto da identidade, quanto da cultura e da imagem organizacional; que constituem a rede simbólica da marca, expressa em diversos artefatos que funcionam como símbolos icônicos na construção de percepções sobre a organização. Apesar da organização Osklen preocupar-se em alinhar os atributos que contribuem para a construção da sua identidade com as estratégias de comunicação avaliadas, valorizando, desta forma, a relação com seus interlocutores; a valorização dos atributos da marca por parte dos usuários da comunidade virtual não ocorre da forma desejada pela liderança da grife. Conforme apontam os dados, vê-se que os participantes da comunidade virtual não estão envolvidos com questões que envolvem a marca; principalmente as questões relacionadas com a sustentabilidade, que consiste no atributo mais importante da marca. Isto demonstra que o espaço virtual analisado não consiste em um meio de comunicação que colabora significativamente com percepções sobre a marca, pois a construção social de significações de marca por parte de integrantes da comunidade, de acordo com Kornberger (2010), envolve alguns aspectos como a interpretação, a avaliação e até mesmo a rejeição de opiniões sobre a marca; e não é isto que ocorre na comunidade virtual analisada. Desta forma, percebe-se que, mesmo havendo um alinhamento de perspectivas entre a visão estratégica da organização e a cultura organizacional, há lacunas entre a visão, a cultura e as percepções dos participantes da comunidade virtual da marca. Ainda que a organização Osklen tenha cumprido suas propostas estratégicas, projetando seus atributos nas ações de comunicação avaliadas; o foco para o público especializado em moda e para o público consumidor não é o mesmo, o que resultou, por parte dos usuários da comunidade, na valorização de atributos ligados aos produtos da marca e do consumo de luxo, em detrimento de outros aspectos que são importantes para a marca, como a sustentabilidade. Entende-se, 106 portanto, sob esses aspectos, que o reconhecimento do discurso da marca é maior para o público especializado em moda do que para os participantes da comunidade virtual analisada. Diante das análises, compreende-se que existe uma perspectiva estratégica da comunicação, já que a Osklen planeja suas ações de comunicação visando uma imagem de marca favorável. Isto é importante para a organização, pois, pensar a comunicação de forma integrada, angariando os esforços para solidificar um processo que atravessa toda a empresa, é necessário para unificar sua visão comunicacional e consolidá-la em estratégias de comunicação (CORBELLINI, 2007). No entanto, a prática comunicacional no contexto das organizações exige a análise de um contexto histórico, social e cultural da organização e de seus interlocutores; e as interações que ocorrem entre ambos, caracteriza a comunicação nas organizações como um processo relacional, no qual um alinhamento constante de expectativas não é viável, na medida em que cristalizar os processos de produção de sentidos não faz parte desta perspectiva. O processo comunicacional sob a perspectiva da produção de sentido se faz valer nas estratégicas de comunicação da marca Osklen, uma vez que há trocas simbólicas inseridas em um determinado contexto, reconhecimento do discurso organizacional e, por isso, interações entre sujeitos sociais que interpretam esse discurso de maneiras distintas. No entanto, uma interação mais dinâmica e próxima não ocorre na relação entre a Osklen e os interlocutores em análise. Ainda que a comunicação de marcas sob uma perspectiva da produção de sentido seja favorável para as interações entre a organização e seus interlocutores, percebe-se que a concepção relacional do processo encontra-se distante das estratégias de comunicação adotadas pela Osklen. Não foi identificada, nas estratégias da Osklen, nenhuma proposta que objetivava o estabelecimento de relações com seus interlocutores, a fim de engajá-los em discussões ou atividades que pudesse colaborar com (re)construções de sentido sobre a marca. No processo de identificação e projeção dos atributos da marca Osklen, foi possível perceber que a organização construiu um discurso carregado de sentidos cristalizados e significados intencionais; estes que foram reforçados por meio das estratégias de comunicação analisadas. O discurso da marca, de fato, é percebido pela imprensa e pelos participantes da comunidade virtual da grife; ainda que nem todos os atributos tenham sido identificados por todos os sujeitos que se relacionaram com as estratégias de comunicação analisadas ou com a marca. Nesse sentido, vemos que estas relações não são cristalizadas e inflexíveis, pois outros sentidos foram construídos sobre os atributos, inclusive de maneira crítica; e até mesmo a 107 indiferença presente nas discussões analisadas na comunidade virtual, que não se prontificaram a avaliar a marca; constrói o sentido de que não importa quão comprometida uma organização seja com questões sócio-ambientais, isto quase sempre não é fator determinante para uma escolha de consumo. Nos dados empíricos analisados, foi possível perceber as constantes possibilidades de sentidos a serem construídas a partir de uma rede simbólica oferecida pela marca. As diferentes leituras e perspectivas sobre os atributos da marca representam a riqueza do processo comunicacional sob a ótica da produção de sentido e aponta as lacunas do processo não como falhas, mas como fundamentais para a constante (re)construção de significados e dinâmica da comunicação organizacional. Cabe às organizações aceitar o fato de que aquilo que se difere do que foi intencionado ou o não alinhamento de discursos não significa prejuízo para a marca, mas uma oportunidade para novos sentidos se estabelecerem e auxiliarem na necessidade de adaptação das organizações, frente às constantes alterações de mercado e do contexto sócio-cultural no qual elas se inserem. Desta forma, percebemos que a perspectiva da comunicação sob a produção de sentido pode contribuir para análises sobre processos comunicativos nas organizações; uma vez que esta perspectiva reconhece a inviabilidade do controle da comunicação, e a defende como um processo de constante significação e resignificação simbólicas; por meio dos intertextos estabelecidos entre as mensagens e os suportes culturais, bem como pelas diferentes interpretações dos interlocutores sobre estas mensagens. Esta pesquisa, portanto, demonstra sua relevância ao procurar enfatizar a construção do discurso da marca por meio de seus artefatos simbólicos, capazes de estabelecer, através de processos comunicativos, relações entre organizações e sujeitos sociais. Para além do nome, da fonética, das cores e do design; as marcas representam, sob uma abordagem menos funcional e mais simbólica, a complexidade contemporânea das interações entre as mesmas e seus interlocutores. Que os estudos apresentados possam contribuir para o campo e permitir novas possibilidades de estudos sobre marca organizacional e marcas de moda, sob uma perspectiva da construção de sentido da comunicação. 108 REFERÊNCIAS ALBINO, José Coelho de Andrade. Uma Questão de Estilo: compreendendo a articulação entre ação e estruturas na constituição de estratégia em empresas do campo da moda. 2007. Dissertação (Mestrado em Administração) – Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte. ALMEIDA, Ana Luísa de Castro. 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