por José Moura

Propaganda
por José Moura-George
Exposição de Pintura
de José Moura-George
Consulado Geral de Portugal em São Paulo
Exposição de Pintura
de José Moura-George
Sala Camões
Consulado Geral de Portugal em São Paulo
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Institucional
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Apoio
Master
11 de Abril de 2013
Apoios
Brasil e Portugal quadro a quadroI
Cruzada a linha do Equador, a constelação da Ursa Menor ia desaparecendo aos poucos. E, com ela, a estrela Polar – guia dos navegantes no
hemisfério norte. À frente, apenas a imensidão do Mar OceanoII, a incerteza, o desconhecido.
No céu, brilhando, um cruzeiro apontava para o sul, como que a abençoar
as terras que viriam. Em vinte e um de abril, os primeiros sinais dela. No dia
seguinte, a descoberta. Assim, no ano da Graça de 1500, nasceram os
laços que uniriam Portugal e o Brasil para sempre.
A mata, os bichos, as frutas. As coisas nunca vistasIII, que se abriam ao
conhecimento e eram inscritas no Livro do MundoIV. A leitura simbólica da
natureza, impregnada de mistérios e significações encobertas, a sugerir as
novas plagas como uma versão terrestre do Paraíso – visão logo superada
pelas dificuldades encontradas no dia a dia.
De certo modo, é no âmbito doméstico que a interação entre os dois
mundos começa, não só pela mistura da gente da terra com a gente vinda
do reino, como também pelo emprego de mezinhas caseiras, trazidas de
lá, juntamente com plantas e ervas que aqui cresciam e eram usadas
pelos indígenas no tratamento das doenças mais comuns nestas latitudes.
São estes os pontos de partida desta exposição que, em linguagem muito
pessoal, sintetizam mais de 500 anos da relação entre nossos dois países
e que projetam e auguram, certamente, para este século XXI, um futuro
muito promissor, em termos de ciência, tecnologia e parcerias econômicas.
Z.Salles
Março 2013
I
- No título, a expressão “quadro a quadro” tem um duplo sentido. De um, sendo essa uma exposição de telas,
é uma mostra de quadros. De outro, “quadro a quadro” , é uma técnica de filmagem. O título faz uso dessa
duplicidade.
Ii
- Mar Oceano era a denominação do Atlântico, na época dos descobrimentos.
Iii
- Expressão relativa ao quadro “DESCOBERTAS”
- “Livro do Mundo” é uma forma antiga de se referir à natureza. Assim, Galileu, por exemplo, escreve: “o livro
do mundo está escrito em caracteres matemáticos”
VI
Apresentação
Enquanto comemoramos o Ano de Portugal no Brasil e o Ano do Brasil em Portugal, a pintura de José Moura-George convoca-nos a visitar de novo o significado da descoberta do Brasil e a animar um olhar sobre a redescoberta permanente que esse encontro desencadeou até hoje.
Através de 11 painéis, Moura-George, também ele um viajante de vários países
e territórios artísticos, reinterpreta através de múltiplas variações de cor e forma,
o nascimento de um país extraordinário e de como ele foi sendo sucessivamente reinventado no imaginário português.
Mais do que celebração da descoberta, a presente exposição de acrílicas - pensada especificamente para a singularidade da Sala Camões no Consulado
Geral de Portugal em S.Paulo - procura ser um apelo à grandeza e versatilidade
das relações entre as duas Nações no plano cultural, humano, técnico e empresarial, através da identificação simbólica das suas diversas manifestações.
Tantas vezes habituados a evocar a História e a Língua como elementos de uma
união natural entre os dois países, esta exposição expôe-nos ao impacto das
mudanças sentidas pelas respectivas economias e sociedades nos últimos
anos. A presença cultural e económica portuguesa no Brasil e vice-versa é hoje
tão significativa e inovadora que merece uma reflexão sobre de que forma tais
transformações poderão dar azo a um novo ciclo de conhecimento recíproco,
cooperação e parceria estratégicos à altura do seu património comum.
No momento em que celebramos a irredutível relação de irmandade Portugal-Brasil, a contemplação de Moura-George, ela mesma generosa e graciosa,
é também um olhar sobre o seu futuro e sobre o seu potencial de desenvolvimento.
Não poderia por isso ser mais oportuna.
Paulo Lourenço
Consul Geral de Portugal
Março 2013
A caminho
Então, como convidava Shakespeare na abertura de uma das suas peças (talvez
Henry V?), imaginai-vos!
Imaginai-vos à beira de um grande rio que é quase o mar. Imaginai-vos cercado de
gentes, de cheiros, de vozerio em ansiedade, de soluços desesperados, de mães,
de filhos, de mulheres, amantes.
Imaginai-vos agora a subir numa das naus ali ancoradas. Pequenas naus. Casquinhas de nozes perante a exuberância das águas. Imaginai-vos deixar-se levar,
partir, num rumo sem rumo, a caminho. A caminho do quê, senhor Deus? A terra,
a cidade, as raízes a ficarem cada vez mais longe e então, o nada. Os azuis.
Azul das águas, azul do mar, azul do céu, um mundo azul que é a nossa cor, a cor
do nosso planeta na visão, séculos depois, do astronauta Gagarin da sua casquinha solta no cosmos infinito.
Imaginai-vos ficar horas e horas, dias e mais dias, a completarem-se um, dois , três
meses até que um pedaço de esperança surja na linha do horizonte. O verde chega-se mansamente, e agiganta-se até formar um verde só, um verde nunca visto de
tão imenso. Um convite à penetração, ao conhecimento novo, ao novo!
Imaginai-vos a ser obrigado a provar o nunca antes provado. Sabores novos,
quentes, preguiçosos, lânguidos, sensuais. O inicio de uma grande celebração do
achamento de um filho escondido
Desse encontro resultou uma grande nação que acolhe almas do mundo inteiro,
uma Babel a falar o milagre de uma língua única que por si só já é o mundo.
E das duas nações, a mãe e a filha juntas, desenvolveram-se estudos, construíram-se entendimentos , e prepararam-se caminhos novos que vos trouxeram
até este presente: investigações, tecnologias, opções novas de energia, telecomunicações.
Foi o que vos trouxe até este momento. Um momento de reflexão que nos leva a
imaginar o tudo que foi temido, vencido, conquistado. A criação de um país de
almas grandes, que junto com a sua origem forma uma só alma, gigantesca e forte,
a confirmar o pensamento do poeta:
“ Valeu a pena? Tudo vale a pena se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor
Deus ao mar o perigo e o abismo deu
Mas nele é que espelhou o céu”.
Caloca Fernandes
Escritor e Jornalista
Trancoso,Costa do Descobrimento,
quasi Abril 2013
Mar Oceano
Sou aquele que gastou a sua história na beira de um
oceano.
Acrilica, técnica mista sobre tela.
2012/13; 200 x 120 cm
O uso privado da história
Um dos argumentos mais notáveis do português José Moura-George acerca de
sua nova série de pinturas é de que, juntas, elas conformam uma estória da
história. Trata-se de um comentário que reflete, de forma oblíqua, a própria
condição de viajante do artista. A distinção entre esses dois vocábulos – história
e estória – está longe de ser consensual, e sua negociação passa por Portugal,
Brasil, Inglaterra e Estados Unidos.
Estória é uma das grafias arcaicas encontradas em manuscritos portugueses do
século XIII, mas que em princípio não indicava nenhuma diferença de sentido
em relação à história, apenas resultava das variações ortográficas de uma língua
em formação. No começo do século XX, folcloristas brasileiros reiteraram a
distinção – pegando carona na língua inglesa, que alterna story e history para
diferentes contextos – criando uma acepção da estória que foi consagrada algumas décadas depois por um dos principais autores do país, João Guimarães
Rosa. Assim, há quem aprenda desde criança que estória – invenção fabulosa
– e história – campo de conhecimento dedicado às relações entre passado,
presente e futuro – são coisas distintas. Na adolescência, entretanto, desaprende-se essa diferença, assim que a chamada "norma culta" estabelece que é
recomendável preferir sempre o vocábulo iniciado com H.
Nesse cabo de guerra entre diversas leituras de uma mesma palavra é bom lembrar que toda história tem um pouco de estória e vice versa – sendo impossível
dividi-las em campos tão claros. No caso do trabalho de José Moura-George,
há alguns entendimentos da estória em disputa: seus painéis referem-se à
história e, mais especificamente, à grande narrativa da historiografia oficial, tal
qual ensina-se nas escolas: a descoberta do Brasil, a superação dos limites da
natureza e a conquista do território através das técnicas e saberes da tradição
europeia reinventados nos trópicos. As imagens apresentam essa história
enquanto fábula e, portanto, enquanto estória. Há algo de mitológico na construção da nação brasileira, algo que antecede o início das navegações que aqui
chegaram. Antes de Cabral, o mito do Eldorado e outros édens primitivos já
amedrontavam e alimentavam a vigília dos homens, com a promessa do completo desconhecido da civilização.
O painel “Terra à vista” compila os elementos fundamentais dessa fábula de
descoberta, enquadrando o fragmento de uma paisagem cujas partes não se
distinguem em detalhe. Ganham destaque a escala e a turbulência dos seus
elementos, ambos obtidos pela pincelada larga e ampla, que não depende
apenas do giro de seu pulso, mas de seu braço inteiro que se move a cada arco
ou semi-círculo que desenha. A massa densa de azul escuro: oceano; as manchas rarefeitas de azul claro: céu luminoso; os arcos esverdeados unidos como
um só volume: alguma paisagem. Nesse jogo entre gestos pictóricos e elementos de uma cena tropical, “terra à vista” soa como “era uma vez”.
Essa abordagem reverbera em outros dos painéis da série, sempre mantendo
em foco a fabulação de uma história muitas vezes repetida. Adiante, revela-se
nesta estória algo de desafiador, na medida em que ela deixa de referir-se estritamente ao passado idealizado e alcança as musas do tempo presente, as ciências desenvolvidas na colaboração – e disputa – entre colônia e metrópole: a
medicina, as telecomunicações e a pesquisa científica. Existe uma tensão entre
essas duas temporalidades, que concatenam a diferença entre a história feita
estória e a estória feita história. Para lidar com essa tensão, Moura-George
aproveita-se da familiaridade que tem com a pintura concreta e aproxima, por
exemplo, fogo e tecnologia, ao emprestar-lhes uma face de combinação de
cores quase puras, aplicadas com as mesmas largas pinceladas e em choque
por suas divisas abruptas. Branco, amarelo e vermelho de um lado; azul, amarelo e vermelho de outro. O fogo como a primeira das tecnologias e a tecnologia
como um substituto do fogo. Ambos recursos de sobrevivência e, é bom lembrar, de poder.
Dentre os últimos painéis da série encontra-se uma imagem peculiar, na qual
adentra a imagem fotográfica e cujos campos de cor são compostos de forma
calculada, como peças em uma orquestração. Representando a “medicina”,
esse painel combina grande rigor geométrico – comprometido com as formas
simples e alinhadas –, com a negação do plano abstrato da pintura – através da
profundidade e figuração da fotografia. Provoca assim uma flutuação visual,
difícil de capturar com o olhar e em alguma medida análoga ao prlúdio de algo
em conformação. A estória da história pode também gerar imagens oscilantes
entre fato e idealização, posto que cria reflexos de algo que ainda não é, mas
está em processo de aparecimento.
Caberá, por fim, ao leitor (nesse caso, o espectador) avaliar o panorama gerado
pelas múltiplas abordagens das histórias e da estória propostas por José Moura-George diante das relações e interfaces entre Brasil e Portugal. Poderá
assumir uma postura mais crente, seguindo o heroísmo sugerido pelos títulos
dos painéis; ou tomar um ponto de vista crítico, desconfiando das fissuras da
narrativa que se revelam a cada transparência mais aguda das pinceladas; ou,
ainda, imergir na contemplação, prestando mais atenção ao modo como o
artista resolveu a diversidade de seus temas do que ao discurso que o conjunto
carrega.
Em qualquer caso, estaremos sempre diante de uma aposta na síntese artística.
Condensação de ideias, materiais e movimentos que vão do encontro ao
branco da tela que promete o deslimite das transparências.
Paulo Miyada
Curador
São Paulo, Março 2013
Terra á vista
Fascinado por aquilo que hà de vir.
Acrilica, técnica mista sobre tela.
2012/13; 200 x 120 cm
Floresta
Fogo
Carregando com paciência o ínicio do mundo.
Fazer o nada aparecer.
Acrilica, técnica mista sobre tela.
2012/13; 200 x 120 cm
Acrilica, técnica mista sobre tela.
2012/13; 200 x 120 cm
Descobertas
Tem mais presença em mim, o que me falta.
Acrilica, técnica mista sobre tela.
2012/13; 200 x 120 cm
Medicina
(Homenagem a Jacques Villon de Luis Dourdil - aprés Rembrandt)
Ali podemos ver a vida, ainda sem movimento.
Acrilica, colagem, técnica mista sobre tela.
2012/13; 200 x 120 cm
Biologia
Como não voltar, para onde a invenção está virgem.
Acrilica, técnica mista sobre tela.
2012/13; 200 x 120 cm
Pesquisa
Ensaio de cientista? Ou vendo prenúncio.
Acrilica, técnica mista sobre tela.
2012/13; 200 x 120 cm
Detalhes do quadro seguinte
Tecnologia
Eterno que nem uma fuga de Bach.
Acrilica, técnica mista sobre tela, com instalação de LED.
2013; 200 x 120 cm
Energias renováveis
Percorrendo um dia inteiro...
até chegar o amanhã.
Acrilica, técnica mista sobre tela.
2013; 200 x 120 cm
Telecomunicações
Uma história que só caberia no impossível.
Acrilica, técnica mista sobre tela.
2013; 200 x 120 cm
Ficha Técnica e Agradecimentos
Textos
Caloca Fernandes (Era uma vez)
Paulo Miyada (Nota Crítica)
Z.Salles (quadro a quadro)
Design e Pré impressão
André Clemente
Sandro Costa
Fotos (imagens)
Ugo Corti
Fotos (anexos)
Pascal Pfrien
Ruth Reis
Consultoria e pesquisa de Arte
Ana Bodin
Investigação e pesquisa
Clara Pinto Correia
Novos mercados e pesquisa literária
Teresa Seixas Moura-George
Assessoria de Imprensa
Cunha Vaz & Associados
Consultores em Comunicação
Secretariado
Idalécia Rebecca
Impressão
Stilgraf - São Paulo
Titúlos
Homenagem a Manoel de Barros
José Moura-George
Nasceu em Lisboa 1944.
Nos anos 55 a 65 estuda em três escolas de arte e design em Inglaterra.
Lecciona no West Sussex College of Art and Design, integra o movimento
Pop Art fundado por Peter Blake,David Hockney e Kitaj.
Convive e desenvolve projetos com vários artistas plásticos de renome – Ben
Nicholson,John Hoyland, Paul Huxley, Richard Lin,Paula Rego, Victor Willing, entre
outros.
Nos anos 65 a 85,vive e trabalha em Londres, Nova York e São Paulo.viaja para
EUA,onde participa no Movimento da Pintura Abstrata Expressionista da Costa
Este,assim como,vários outros países da América,contatando e trabalhando com
importantes artistas e designers, como Harry Bertoia,Philip Johnson,Buckmister
Fuller,Josef Muller Brockman,Lothar Charoux,Tomie Ohtake,Burle Max.
Participa desde 1964 em exposições individuais e coletivas tanto na Europa como
nas Américas ,mantendo constante atividade e participações em diversos eventos
e exposições.
A sua bibliografia é extensa,repartindo-se pela imprensa e televisão.
Desde os anos 90,trabalha em Portugal,Brasil e EUA.
Além do seu currículo como artista plástico presente em colecções particulares e
institucionais,tanto Europeias como Americanas,é também como designer que se
encontram vários trabalhos, de sua autoria, publicados e em Museus.
É co-autor do livros “A Book of Answers”,editado em Londres e autor do livro
“Design Industrial – Reflexões” editado em Lisboa.
Atualmente tem repartido o seu tempo entre os ateliers de Lisboa e São Paulo,
onde expõe, com alguma frequência.
Exposições individuais:
Exposição de Pintura- Consulado Geral de Portugal 2013 São Paulo,Capital
Exposição de pintura Galeria Mónica Filgueiras 2012 São Paulo,Capital
Exposição de pintura Museu de Arte Moderna 2006 Salvador Bahia
Exposição de pintura Galeria Paulo Figeiredo 1984 São Paulo, Capital
Exposição de pintura Espaço Cultural Abrajeans 1984 São Paulo, Capital
Exposição de pintura MuBE, Museu Brasileiro de Escultura 4 Junho 2013 São Paulo, Capital.
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