Dom da Palavra de Sabedoria

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O Dom da Palavra de Sabedoria
(DDPS – ddps)
Iniciamos o nosso estudo sobre os carismas, refletindo sobre o dom carismático da Palavra
de Sabedoria. A palavra de sabedoria é um dom carismático do Espírito Santo, dom gratuito
de Deus, que dá a graça ao homem, inspira o homem a saber como deve ser o seu
comportamento em cada situação, em cada vez que tem que resolver um fato ou um
problema.
Inspira o homem como agir e falar inteligentemente sobre situações concretas de sua vida
ou da sua comunidade, levando-o a decidir acertadamente e de acordo com a vontade de
Deus no dia-a-dia, no matrimônio, no trabalho, na educação dos filhos, nos relacionamentos
com os irmãos e na sua vida cristã. É uma orientação de Deus sobre como se viver
cristãmente.
A Constituição Pastoral Gaudium Et Spes, 15 diz “Realmente está em perigo a sorte futura
do mundo se não surgirem homens sábios”
Sim, o mundo necessita de homens sábios que, iluminados pela sabedoria de Deus, saibam
agir e falar inteligentemente, obedecendo assim à Lei de Deus escrita no seu coração, a
única lei capaz de elevar sua dignidade de homem e assim enriquecer o mundo.
Nosso objetivo e levá-lo a refletir sobre os diversos textos bíblicos aqui colocados com as
reflexões dos papas, santos, santas e Magistério da Igreja sobre este dom.
Tudo foi colocado em ordem numérica da Bíblia Ave Maria (bíblia texto) para que você
possa ter uma leitura e reflexão ordenada e proveitosa.
A sigla DDPS ou ddps significa – dom da palavra de sabedoria. As demais siglas estão nas
contracapas da Bíblia e se referem aos livros do NT e AT.
Seus comentários são muito bem aceitos, pois nos ajudará a melhorar os outros dons
citados por São Paulo na sua primeira carta aos Coríntios (cap.12 vv.4-10).,que
pretendemos colocar proximamente no site para novas reflexões
Boa leitura a todos.
Dom da Palavra de Sabedoria.
Relação de alguns textos bíblicos onde se encontra o dom da palavra de Sabedoria com as páginas
da Bíblia Ave-Maria.
.Gn. 1,29-30 - p.50
.Gn. 2,18 - p.50
. 1Rs.3,16-28 - p.370 -< Sentença de Salomão>
. 1Rs. 3,25 - p.370 -<Sentença de Salomão>
. Sb.7,7-11 -p.842 - Doutrina de Salomão sobre a Sabedoria
. Sb.7,27-28 p.843- Doutrina de Salomão sobre a Sabedoria
. Sb.9,9-11 - p.845-Súplica de Salomão ao Pai pedindo a Sabedoria Divina, reconhecendo
sua incapacidade humana, diante do cumprimento da missão que Deus tenha dado a si.
.Ec. 1,1-10 - p.862/3 – Origem impenetrável da Sabedoria.
.Dn.13,1-64- p .1208.10 – História de Suzana
.Mt.6,1-21 - p.1289/90 -< Fazer boas obras em segredo>
.Mt. 22,15 - p.1311 -<Imposto do Imperador>
.Mt.22,21-22 - p.1311-<Imposto do Imperador>
.Lc. 5,17-26 - p.1352/3 -< Cura de um paralítico>
.Lc. 5,36-47 - p.1353 - <Comparação do pedaço de roupa nova/ odres velhos
.Lc. 7,36-47 - p.1356/7 - <A pecadora perdoada>
.Lc. 12,11-12 - p.1365- Instruções aos discípulos -“ Sabedoria dada pelo Espírito Santo”
.Lc. 12,15 – p.1365 -<“Guardai-vos escrupulosamente de toda a avareza”
.Lc. 12 13-21 - p.1365 -<Parábola do homem rico>
.Lc. 12,22-34 - p.1365 -< Vãs preocupações>
.Lc. 18,18-30 - p.1373 -< O jovem rico>
.Jo. 2,1-11- p.1385/6 -< Bodas de Cana>
.Jo. 2,5 – pg.1385 -<“Maria proclama uma palavra de sabedoria”
.Jo. 6,22-71 - p.1291/3 -< Discurso de Jesus sobre o Pão da Vida>
.Jo. 6,51; 66; 68. –p.1392.3.
.Jo. 8,1-11 – p.1395 -< A mulher adúltera>
.Jo. 8,7 – p.1395-(v.marcante)-‘ Quem de vós estiver sem pecado seja o primeiro a atirarlhe uma pedra’.
.At.5,38-39 - p.1419- < Libertação dos Apóstolos a conselho de Gamaliel >
.At.6,8-15 - p.1420 -< Prisão do diácono Estevão>
.At.6,15 - p.1420- < Ação de Deus visível até para os adversários
.At.9,20-25 – p.1424 -< “As primeiras pregações de Saulo em Damasco”
.At.16,25-31–p. 1434 -< Prisão de Paulo e Silas>
.At.13,31-p.143 -<Os dois prisioneiros pronunciaram a Palavra de Sabedoria:<Crê no
Senhor Jesus, e serás salvo tu e tua família>>.
.At.16,33-34 - p.1434 -< Então naquela mesma noite, ele cuidou deles, lavou-lhes...
.At.26,8; 27-28; 31 – p.1445.6 -< Discurso de Paulo ao rei Agripa>
.1Co. 1,18 – p.1466 -< Sabedoria do mundo e loucura da cruz>
.1Co.1,20-21;25-p.1466 -< Sabedoria do mundo e loucura da cruz >
.1Co. 2,4-5 - p.1467 -<Simplicidade da pregação do Apóstolo>
.1Co. 2,7-9 - p.1467 -<Sabedoria Evangélica revelada pelo Espírito>
.1Co. 2,10-11 - p.1467-<Sabedoria Evangélica revelada pelo Espírito>.1Co. 3,18-20 p.1468 -< Conclusão do discurso>.
.1Co.12,8-p.1476-<Diversidade de Carismas>
.Ef. 1,4-5 -p.1498 -< Hino de louvor à Providência de Deus>
.Ef.1,7-8 - p.1498 -<Hino de louvor à Providência de Deus >
.1.Tm .6,16 - p.1521 -< Combate pela Fé>.
DOM DA PALAVRA DE SABEDORIA NO ANTIGO TESTAMENTO.
 -Gn. 1,29-30:  “Eis que vos dou toda a erva que dá semente sobre a terra, e todas as árvores frutíferas
que contêm em si mesmas sua semente, para que vos sirvam de alimento. E a todos os
animais da terra, a todas as aves dos céus, a tudo o que se arrasta sobre a terra, e em que
haja sopro de vida, eu dou toda a erva verde por alimento”.
 Gn. 2,18:  E mais adiante diz Deus: “Não é bom que o homem esteja só, vou dar-lhe uma ajuda
que lhe seja adequada”.
Deus cumula de bens materiais, espirituais, humanos o homem, com a intenção de que ele
use a glória de Deus. No entanto, o homem encontra-se incapaz de viver suas relações com
os outros e desenvolver seus dotes segundo a vontade de Deus, o que o levaria a glorificar o
seu Criador.
É neste estado que o homem se encontra, é neste ponto que o Espírito Santo de Deus entra
em cena pelo Batismo para iluminar o homem, capacitando-o a dirigir a vida e tudo que se
relaciona com ela segundo a vontade de Deus, a fim de que Ele seja glorificado.
Palavra de Sabedoria diante de situações desconcertantes.
1 Rs.3,16-28; 1Rs. 3,25: < A Sentença de Salomão>. p.370
16.Vieram duas prostitutas apresentar-se ao rei.
17.Uma delas disse: Ouve, meu senhor: Esta mulher e eu habitamos na mesma casa, e eu dei à luz junto dela
no mesmo aposento.
18.Três dias depois, deu também ela à luz. Ora, nós vivemos juntas, e não havia nenhum estranho conosco
nessa casa, pois somente nós duas estávamos ali.
19.Durante a noite morreu o filho dessa mulher, porque o abafou enquanto dormia.
20.Levantou-se ela então, no meio da noite, e enquanto a tua serva dormia, tomou o meu filho que estava
junto de mim e o deitou em seu seio, deixando no meu o seu filho morto.
21.Quando me levantei pela manhã para amamentar o meu filho, encontrei-o morto; mas, examinando-o
atentamente à luz, verifiquei que não era o filho que eu dera à luz.
22.É mentira!, replicou a outra mulher, o que está vivo é meu filho; o teu é que morreu. A primeira contestou:
Não é assim; o teu filho é o que morreu, o que está vivo é o meu. E assim disputavam diante do rei.
23.O rei disse então: Tu dizes: é o meu filho que está vivo, e o teu é o que morreu; e tu replicas: não é assim;
é o teu filho que morreu, e o meu é o que está vivo.
24.Vejamos, continuou o rei; trazei-me uma espada. Trouxeram ao rei uma espada.
25.Cortai pelo meio o menino vivo, disse ele, e dai metade a uma e metade à outra.
26.Mas a mulher, mãe do filho vivo, sentiu suas entranhas enternecerem-se e disse ao rei: Rogo-te, meu
senhor, que dês a ela o menino vivo; não o mateis; a outra, porém, dizia: Ele não será nem teu, nem meu; seja
dividido!
27.Então o rei pronunciou o seu julgamento: Dai, disse ele, o menino vivo a essa mulher; não o mateis, pois é
ela a sua mãe.
28.Todo o Israel, ouvindo o julgamento pronunciado pelo rei, encheu-se de respeito por ele, pois via-se que o
inspirava a sabedoria divina para fazer justiça
Vamos começar meditando a passagem onde o Rei Salomão está diante de uma situação
embaraçosa, onde 2 prostitutas que moravam na mesma casa, e que tinham dado à luz
juntas ao mesmo aposento brigavam pela posse das crianças nascidas, porque uma delas
havia amanhecido morta e a mãe desta astuciosamente afirmava que a criança que estava
viva era seu filho. Salomão, então, ficou diante de um impasse:
Quem seria a verdadeira mãe?
Como agir para não cometer uma injustiça e ser estabelecida a verdade?
- A Palavra de Sabedoria: “Cortai pelo meio o menino vivo, disse ele, e daí metade a uma e
metade a outra”, fez com que a verdadeira mãe renunciasse ao seu filho, pois não queria vêlo morto e desta forma foi estabelecida a justiça.
- A Palavra de Sabedoria conduz o procedimento do homem em cada situação.
- É um dom de orientação. Através dela descobrimos o plano de Deus para nossa própria
vida, para a vida de uma outra pessoa ou comunidade.
 Sb.7,7-28: <Doutrina de Salomão sobre a Sabedoria> p.842.3
7.Assim implorei e a inteligência me foi dada, supliquei e o espírito da sabedoria veio a mim.
8.Eu a preferi aos cetros e tronos, e avaliei a riqueza como um nada ao lado da Sabedoria.
9.Não comparei a ela a pedra preciosa, porque todo o ouro ao lado dela é apenas um pouco de areia, e porque
a prata diante dela será tida como lama.
10.Eu a amei mais do que a saúde e a beleza, e gozei dela mais do que da claridade do sol, porque a claridade
que dela emana jamais se extingue.
11.Com ela me vieram todos os bens, e nas suas mãos inumeráveis riquezas.
12.De todos esses bens eu me alegrei, porque é a Sabedoria que os guia, mas ignorava que ela fosse sua mãe.
13.Eu estudei lealmente e reparto sem inveja e não escondo a riqueza que ela encerra,
14.porque ela é para os homens um tesouro inesgotável; e os que a adquirem preparam-se para se tornar
amigos de Deus, recomendados (a ele) pela educação que ela lhes dá.
15.Que Deus me permita falar como eu quisera, e ter pensamentos dignos dos dons que recebi, porque é ele
mesmo quem guia a sabedoria e emenda os sábios,
16.porque nós estamos nas suas mãos, nós e nossos discursos, toda a nossa inteligência e nossa habilidade;
17.foi ele quem me deu a verdadeira ciência de todas as coisas, quem me fez conhecer a constituição do
mundo e as virtudes dos elementos,
18.o começo, o fim e o meio dos tempos, a sucessão dos solstícios e as mutações das estações,
19.os ciclos do ano e as posições dos astros,
20.a natureza dos animais e os instintos dos brutos, os poderes dos espíritos e os pensamentos dos homens, a
variedade das plantas e as propriedades das raízes.
21.Tudo que está escondido e tudo que está aparente eu conheço: porque foi a sabedoria, criadora de todas as
coisas, que mo ensinou.
22.Há nela, com efeito, um espírito inteligente, santo, único, múltiplo, sutil, móvel, penetrante, puro, claro,
inofensivo, inclinado ao bem, agudo,
23.livre, benéfico, benévolo, estável, seguro, livre de inquietação, que pode tudo, que cuida de tudo, que
penetra em todos os espíritos, os inteligentes, os puros, os mais sutis.
24.Mais ágil que todo o movimento é a Sabedoria, ela atravessa e penetra tudo, graças à sua pureza.
25.Ela é um sopro do poder de Deus, uma irradiação límpida da glória do Todo-poderoso; assim mancha
nenhuma pode insinuar-se nela.
26.É ela uma efusão da luz eterna, um espelho sem mancha da atividade de Deus, e uma imagem de sua
bondade.
27Embora única, tudo pode; imutável em si mesma, renova todas as coisas. Ela se derrama de geração em
geração nas almas santas e forma os amigos e os intérpretes de Deus,
28.porque Deus somente ama quem vive com a sabedoria!
A Sabedoria, “ embora única, tudo pode, imutável em si mesma, renova todas as
coisas...Forma os amigos e interpretes de Deus (...)na verdade, Deus somente ama quem
vive com a Sabedoria”.
 Sb.9,9-11:- p.845
9.Mas, ao lado de vós está a Sabedoria que conhece vossas obras; ela estava presente quando fizestes o
mundo, ela sabe o que vos é agradável, e o que se conforma às vossas ordens.
10.Fazei-a, pois, descer de vosso santo céu, e enviai-a do trono de vossa glória, para que, junto de mim, tome
parte em meus trabalhos, e para que eu saiba o que vos agrada.
11.Com efeito, ela sabe e conhece todas as coisas; prudentemente guiará meus passos, e me protegerá no
brilho de sua glória.
“ Ela sabe o que é agradável a Deus, e o que se conforma às suas ordens e guia os passos do
homem com prudência e o protege no brilho da glória de Deus”.
- O homem criado à imagem de Deus, capaz de conhecer e amar o seu Criador, que o
constitui senhor de todas as coisas terrenas para que as dominasse e as usasse, glorificando
a Deus, pelo pecado vê desfigurada em si esta imagem divina e em conseqüência disto se
vê dividido em si mesmo, incapacitado de viver a vida humana, individual e coletiva
segundo os desígnios de seu Criador.
- A Sabedoria que Deus infunde no seu coração se encontra manchada, não tem mais aquela
clareza que o leva a dirigir toda a sua vida para a vontade de Deus, perdendo toda a sua
harmonia consigo mesmo, com os outros homens e coisas criadas.
- Deus, no seu amor infinito pelo homem, liberta-o pelo Sangue de seu Filho derramado na
cruz, por quem envia sobre o homem o Espírito Santo, que vem então em “socorro da sua
fraqueza”, da sua sabedoria manchada pelo pecado, que dificulta o seu entendimento de que
atitudes e direcionamentos tomar diante de situações difíceis, embaraçosas.
- Fica o homem muitas vezes em um impasse diante de decisões importantes muitas vezes
cruciais.
- Além do que, muitas vezes é levado diante de pessoas difíceis, incompreensíveis,
exigentes, sem caridade, cruéis, que lhes colocam palavras ou posicionamento que
ultrapassam em muito a sua capacidade de solução.
 Eclo.1,1-9:- <Origem impenetrável da Sabedoria> p.862.3
1.Toda a sabedoria vem do Senhor Deus, ela sempre esteve com ele. Ela existe antes de todos os séculos.
2.Quem pode contar os grãos de areia do mar, as gotas de chuva, os dias do tempo? Quem pode medir a altura
do céu, a extensão da terra, a profundidade do abismo?
3.Quem pode penetrar a sabedoria divina, anterior a tudo?
4.A sabedoria foi criada antes de todas as coisas, a inteligência prudente existe antes dos séculos!
5.O verbo de Deus nos céus é fonte de sabedoria, seus caminhos são os mandamentos eternos.
6.A quem foi revelada a raiz da sabedoria? Quem pode discernir os seus artifícios?
7.A quem foi mostrada e revelada a ciência da sabedoria? Quem pode compreender a multiplicidade de seus
caminhos?
8.Somente o Altíssimo, criador onipotente, rei poderoso e infinitamente temível, Deus dominador, sentado no
seu trono;
9.foi ele quem a criou no Espírito Santo, quem a viu, numerada e medida;
10.ele a espargiu em todas as suas obras, sobre toda a carne, à medida que a repartiu, e deu-a àqueles que a
amavam
- Somente Deus é verdadeiramente sábio. A sabedoria não é algo distinto de Deus, como acontece
no homem, a Sabedoria é o próprio Deus.
- É ela que ordena todas as coisas, todos os atos, os planos para a glória de Deus. É ela que julga
todas as coisas não segundo as aparências exteriores, mas segundo o valor e o significado que têm
perante Deus.
 Is. 64,4: - É como está escrito: “Coisas que os olhos na viram, nem os ouvidos ouviram, nem o coração
humano imaginou, tais são os bens que Deus tem preparado para aqueles que o amam”.
DOM DA PALAVRA DE SABEDORIA NO NOVO TESTAMENTO.
Mt.(5,25-32) – DDPS – p.1289
25.Entra em acordo sem demora com o teu adversário, enquanto estás em caminho com ele, para que não
suceda que te entregue ao juiz, e o juiz te entregue ao seu ministro e sejas posto em prisão.
26.Em verdade te digo: dali não sairás antes de teres pago o último centavo.
27.Ouvistes que foi dito aos antigos: Não cometerás adultério.
28.Eu, porém, vos digo: todo aquele que lançar um olhar de cobiça para uma mulher, já adulterou com ela em
seu coração.
29.Se teu olho direito é para ti causa de queda, arranca-o e lança-o longe de ti, porque te é preferível perder-se
um só dos teus membros, a que o teu corpo todo seja lançado na geena.
30.E se tua mão direita é para ti causa de queda, corta-a e lança-a longe de ti, porque te é preferível perder-se
um só dos teus membros, a que o teu corpo inteiro seja atirado na geena.
31.Foi também dito: Todo aquele que rejeitar sua mulher, dê-lhe carta de divórcio.
32.Eu, porém, vos digo: todo aquele que rejeita sua mulher, a faz tornar-se adúltera, a não ser que se trate de
matrimônio falso; e todo aquele que desposa uma mulher rejeitada comete um adultério.
Mt. Mt.(5,27-32) – p.1289 – A nova lei comparada à antiga – DDPS
Comentário feito por:
Santo Irineu de Lyon (cerca 130-cerca 208), bispo, teólogo e mártir
Contra as heresias, IV, 13, 2-4
Não mais servos, mas amigos (Jo. 15,15)
A Lei foi promulgada primeiro para escravos, a fim de educar a alma para as coisas
exteriores e corporais, levando-a em certa medida como por uma corrente à docilidade aos
mandamentos, a fim de que o homem aprendesse a obedecer a Deus. Mas o Verbo de Deus
libertou a alma; ele ensinou-a a purificar-se livremente, de livre vontade, também o corpo.
Portanto, era preciso que fossem retiradas as cadeias da servidão, graças às quais o homem
se pudera formar, e de futuro ele seguisse a Deus sem cadeias. Mas ao mesmo tempo em
que os preceitos da liberdade eram vastos, era preciso reforçar a submissão ao Rei, a fim de
que ninguém voltasse para trás e não se mostrasse indigno do seu Libertador...
Foi por isso que o Senhor nos deu por palavra de ordem, em vez de não cometer adultério,
de nem sequer cobiçar; em vez de não matar, de nem sequer nos encolerizarmos; em vez de
pagar simplesmente a dízima, de distribuir todos os bens pelos pobres; de amar não apenas
os que nos são próximos, mas também os nossos inimigos; de não ser apenas «generosos e
prontos a partilhar» (1Tim. 6,18), mas ainda de darmos gentilmente os nossos bens aos que
no-los tomam...
Por conseguinte, Nosso Senhor, a Palavra de Deus, comprometeu primeiro os homens
numa servidão em relação a Deus e em seguida libertou os que lhe tinham sido submissos.
Como ele próprio disse aos seus discípulos: «Já não vos chamo servos, porque o servo não
sabe o que faz o seu senhor; chamei-vos amigos, porque tudo quanto ouvi de Meu Pai vo-lo
dei a conhecer» (Jo 15,15) ... Ao fazer dos seus discípulos os amigos de Deus, mostra
claramente que ele é o Verbo, a Palavra de Deus. Porque foi por ter seguido o seu apelo
espontaneamente e sem cadeias, na generosidade da sua fé, que Abraão se tornou «amigo
de Deus» (Is 41,8).
Mt.(5,33-37) – pg.1289 – A nova lei comparada à antiga – DDPS
33.Ouvistes ainda o que foi dito aos antigos: Não jurarás falso, mas cumprirás para com o Senhor os teus
juramentos.
34.Eu, porém, vos digo: não jureis de modo algum, nem pelo céu, porque é o trono de Deus;
35.nem pela terra, porque é o escabelo de seus pés; nem por Jerusalém, porque é a cidade do grande Rei.
36.Nem jurarás pela tua cabeça, porque não podes fazer um cabelo tornar-se branco ou negro.
37.Dizei somente: Sim, se é sim; não, se é não. Tudo o que passa, além disto, vem do Maligno.
Comentário feito por:
Santo [Padre] Pio de Pietrelcina (1887-1968), capuchinho
FSI 32, FM 167, Ep 3, 564
"Que o vosso sim seja sim" (Tg. 5,12)
12.
Antes de mais nada, meus irmãos, abstende-vos de jurar. Não jureis nem pelo céu nem
pela terra, nem empregueis qualquer outra fórmula de juramento. Que vosso sim, seja
sim; que vosso não, seja não. Assim não caireis ao golpe do julgamento.
Não sabes o que a obediência é capaz de produzir: por um 'sim', só por um 'sim' - "Faça-se
em mim segundo a tua palavra!" - Maria torna-se a mãe do Altíssimo. Ao fazê-lo, ela
declarava-se serva, mas mantinha intacta a sua virgindade que era tão querida a Deus e aos
seus próprios olhos. Por este 'sim' da Maria, o mundo obtém a salvação, a humanidade é
resgatada. Então, tentemo-nos também fazer a vontade de Deus e sempre dizer 'sim' ao
Senhor...
Que Maria faça florir na tua alma virtudes sempre novas e que ela vele por ti. Ela é o mar
que é preciso atravessar para chegar às margens esplendorosas da aurora eterna; fica pois
sempre junto dela...
Apóia na cruz de Cristo, a exemplo de Maria. Lá encontrarás grande conforto. Maria ficou,
de pé, junto de seu filho crucificado. Nunca Jesus a amou tanto como naquele momento de
indizível sofrimento
Mt.(5,43-48)- pg.1289 – DDPS – A nova lei comparada à antiga
43.Tendes ouvido o que foi dito: Amarás o teu próximo e poderás odiar teu inimigo.
44.Eu, porém, vos digo: amai vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, orai pelos que vos
[maltratam e] perseguem.
45.Deste modo sereis os filhos de vosso Pai do céu, pois ele faz nascer o sol tanto sobre os maus como sobre
os bons, e faz chover sobre os justos e sobre os injustos.
46.Se amais somente os que vos amam, que recompensa tereis? Não fazem assim os próprios publicanos?
47.Se saudais apenas vossos irmãos, que fazeis de extraordinário? Não fazem isto também os pagãos?
48.Portanto, sede perfeitos, assim como vosso Pai celeste é perfeito
Comentário feito por:
São Fulgêncio (467-532), bispo
Sermão 5
“Porém, Eu digo-vos: amai os vossos inimigos” – (v.44)
Não devais a ninguém coisa alguma a não ser o amor mútuo” (Rm.13, 8). Que dívida
espantosa, irmãos, este amor que o apóstolo Paulo nos ensina a pagar, sem nunca cessarmos
de ser devedores. Dívida feliz, esta, dívida sagrada, portadora de juros no céu, cumulada de
riquezas eternas! […] Recordemos também as palavras do Senhor: “Amai os vossos
inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, abençoai os que vos amaldiçoam, rezai pelos que
vos caluniam” (Lc. 6, 27). E qual será a recompensa deste labor? […] “Sereis filhos do
Altíssimo” (v. 35).
E o apóstolo Paulo revela-nos o que será dado a estes filhos de Deus: seremos “filhos e
também herdeiros, herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo” (Rm.8, 17). Escutai, pois,
cristãos, escutai filhos de Deus, escutai, herdeiros de Deus, co-herdeiros de Cristo! Se
quereis possuir a herança do vosso Pai, pagai a vossa dívida de amor, não só aos vossos
amigos, mas também aos vossos inimigos. A ninguém recuseis este amor, que é o tesouro
comum de todos os homens de boa vontade. Possuí-o, pois, todos juntos e, a fim de
aumentá-lo, dai-o tanto aos maus como aos bons. Porque este bem, que apenas pode ser
possuído em conjunto, não é da terra mas do céu; e a parte de um jamais reduz a parte de
outro. […]
O amor é um dom de Deus: “O amor de Deus foi derramado em nossos corações, pelo
Espírito Santo que nos foi concedido” (Rm.5, 5). […] O amor é a raiz de todos os bens, da
mesma maneira que, diz São Paulo, a avareza é a raiz de todos os males (1 Tm. 6, 10). […]
O amor está sempre satisfeito porque, quando mais multiplica os seus dons, mais
abundantemente Deus no-los dispensa. Eis por que motivo, enquanto o avarento empobrece
com tudo aquilo que açambarca, o homem que paga as suas dívidas de amor enriquece com
tudo aquilo que dá.
(Mt.6,1-6.16-18)- pg.1289/0- DDPS- Fazer as boas obras em segredo.
1.Guardai-vos de fazer vossas boas obras diante dos homens, para serdes vistos por eles. Do contrário, não
tereis recompensa junto de vosso Pai que está no céu.
2.Quando, pois, dás esmola, não toques a trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas
ruas, para serem louvados pelos homens. Em verdade eu vos digo: já receberam sua recompensa.
3.Quando deres esmola, que tua mão esquerda não saiba o que fez a direita.
4.Assim, a tua esmola se fará em segredo; e teu Pai, que vê o escondido, recompensar-te-á.
5.Quando orardes, não façais como os hipócritas, que gostam de orar de pé nas sinagogas e nas esquinas das
ruas, para serem vistos pelos homens. Em verdade eu vos digo: já receberam sua recompensa.
6.Quando orares, entra no teu quarto, fecha a porta e ora ao teu Pai em segredo; e teu Pai, que vê num lugar
oculto, recompensar-te-á.
16.Quando jejuardes, não tomeis um ar triste como os hipócritas, que mostram um semblante abatido para
manifestar aos homens que jejuam. Em verdade eu vos digo: já receberam sua recompensa.
17.Quando jejuares, perfuma a tua cabeça e lava o teu rosto.
18.Assim, não parecerá aos homens que jejuas, mas somente a teu Pai que está presente ao oculto; e teu Pai,
que vê num lugar oculto, recompensar-te-á.
Comentário feito por:
São Leão Magno (?-c. 461), papa, doutor da Igreja
X Homilia para a Quaresma
“Rasgai os vossos corações, e não as vossas vestes” (Jl 2, 13) – (v.13)
Diz o Senhor: “Não vim chamar os justos, mas os pecadores” (Mt. 9, 13). A nenhum cristão
é, pois, permitido odiar seja quem for, porque ninguém é salvo senão graças ao perdão dos
pecados. […] Que o povo de Deus seja, pois, santo e bom: santo, para se afastar daquilo
que é proibido, bom para realizar aquilo que é mandado. Grande coisa é certamente ter fé
reta e doutrina sagrada; louvável é reprimir a gula, ter uma doçura e uma castidade
irrepreensíveis, mas todas estas virtudes nada são sem a caridade. […]
Meus queridos, todos os tempos convêm para se realizar o bem da caridade, mas a
Quaresma convida-nos especialmente a fazê-lo. Aqueles que desejam acolher a Páscoa do
Senhor com santidade de espírito e de corpo devem esforçar-se, antes de mais, por adquirir
esse dom que contém a essência das virtudes e que “cobre a multidão dos pecados” (1 Ped.
4, 8). Assim, pois, agora que nos preparamos para celebrar o mistério que ultrapassa todos
os outros, aquele pelo qual o Sangue de Cristo apagou as nossas culpas, preparemos antes
de mais os sacrifícios da misericórdia. Concedamos àqueles que pecaram contra nós o que a
bondade de Deus nos concedeu a nós. Esqueçamos as injustiças, deixemos as culpas sem
castigo, e que nenhum daqueles que nos ofenderam receie ser pago da mesma moeda. […]
Todos sabemos que somos também pecadores e, a fim de recebermos o perdão pelos nossos
pecados, deve alegrar-nos o fato de termos a quem perdoar. Assim, quando dissermos,
seguindo o ensinamento do Senhor: “Perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós
perdoamos a quem nos tem ofendido” (Mt.6, 11), podemos estar seguros de obter a
misericórdia de Deus.
Mt.(6,1-6.16-18) – pg.1289/90 – DDPS – Fazer boas obras em segredo.
Comentário feito por:
Papa Bento XVI
Audiência geral de 21/02/07 (trad. DC 2376, p. 266 © Libreria Editrice Vaticana)
A Quaresma, caminho para uma verdadeira liberdade
Desde as origens a Quaresma é vivida como o tempo da preparação imediata para o
Batismo, a ser administrado solenemente durante a Vigília pascal. Toda a Quaresma é um
caminho para este grande encontro com Cristo, esta imersão em Cristo e este renovamento
da vida. Nós já somos batizados, mas o Batismo com freqüência não é muito eficaz na
nossa vida quotidiana. Por isso, também para nós a Quaresma é um renovado
"catecumenato" no qual vamos de novo ao encontro do nosso Batismo para redescobri-lo e
reviver em profundidade, para nos tornarmos de novo realmente cristãos. Portanto, a
Quaresma é uma ocasião para "nos tornarmos de novo" cristãos, mediante um constante
processo de mudança interior e de progresso no conhecimento e no amor de Cristo.
A conversão nunca é de uma vez para sempre, mas é um processo, um caminho interior de
toda a nossa vida. Este itinerário de conversão evangélica certamente não pode limitar-se a
um período particular do ano: é um caminho de cada dia, que deve abraçar toda a
existência, todos os dias da nossa vida...
O que é converter-se, na realidade? Converter-se significa procurar Deus, estar com Deus,
seguir docilmente os ensinamentos do seu Filho, de Jesus Cristo; converter-se não é um
esforço para se auto-realizar a si mesmo, porque o ser humano não é o arquiteto do próprio
destino eterno. Não fomos nós que nos fizemos. Por isso a auto-realização é uma
contradição e é também demasiado pouco para nós. Temos um destino mais nobre.
Poderíamos dizer que a conversão consiste precisamente em não se considerar "criadores"
de si mesmos e assim descobrir a verdade, porque não somos autores de nós próprios. A
conversão consiste em aceitar livremente e com amor de depender em tudo de Deus, o
nosso verdadeiro Criador, de depender do amor. Esta não é uma dependência, mas
liberdade.
Mt.6,1-21: - < Fazer boas obras em segredo>.
1.Guardai-vos de fazer vossas boas obras diante dos homens, para serdes vistos por eles. Do contrário, não
tereis recompensa junto de vosso Pai que está no céu.
2.Quando, pois, dás esmola, não toques a trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas
ruas, para serem louvados pelos homens. Em verdade eu vos digo: já receberam sua recompensa.
3.Quando deres esmola, que tua mão esquerda não saiba o que fez a direita.
4.Assim, a tua esmola se fará em segredo; e teu Pai, que vê o escondido, recompensar-te-á.
5.Quando orardes, não façais como os hipócritas, que gostam de orar de pé nas sinagogas e nas esquinas das
ruas, para serem vistos pelos homens. Em verdade eu vos digo: já receberam sua recompensa.
6.Quando orares, entra no teu quarto, fecha a porta e ora ao teu Pai em segredo; e teu Pai, que vê num lugar
oculto, recompensar-te-á.
7.Nas vossas orações, não multipliqueis as palavras, como fazem os pagãos que julgam que serão ouvidos à
força de palavras.
8.Não os imiteis, porque vosso Pai sabe o que vos é necessário, antes que vós lho peçais.
9.Eis como deveis rezar: PAI NOSSO, que estais no céu, santificado seja o vosso nome;
10.venha a nós o vosso Reino; seja feita a vossa vontade, assim na terra como no céu.
11.O pão nosso de cada dia nos dai hoje;
12.perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos aos que nos ofenderam;
13.e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal.
14.Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, vosso Pai celeste também vos perdoará.
15.Mas se não perdoardes aos homens, tampouco vosso Pai vos perdoará.
16.Quando jejuardes, não tomeis um ar triste como os hipócritas, que mostram um semblante abatido para
manifestar aos homens que jejuam. Em verdade eu vos digo: já receberam sua recompensa.
17.Quando jejuares, perfuma a tua cabeça e lava o teu rosto.
18.Assim, não parecerá aos homens que jejuas, mas somente a teu Pai que está presente ao oculto; e teu Pai,
que vê num lugar oculto, recompensar-te-á.
19.Não ajunteis para vós tesouros na terra, onde a ferrugem e as traças corroem, onde os ladrões furtam e
roubam.
20.Ajuntai para vós tesouros no céu, onde não os consomem nem as traças nem a ferrugem, e os ladrões não
furtam nem roubam.
21.Porque onde está o teu tesouro, lá também está teu coração.
- Toda palavra que sai da boca de Jesus naturalmente é cheia de sabedoria. Porém há casos
em que ela se manifesta como Dom Espiritual da Palavra de Sabedoria, que transforma
inteiramente uma situação ou uma mentalidade, que de maneira humana e com esforços
humanos certamente não seriam transformadas.
- Um exemplo de que a Palavra de Sabedoria, pela ação do Espírito Santo, nos inspira o que
devemos ensinar, não segundo a nossa sabedoria, mas segundo a sabedoria de Deus, são
estes versículos, que dentre tantos outros encontramos Jesus ensinando às multidões
inspirados pelas palavras do Pai, a respeito do comportamento do homem ao jejuar, a não
ajuntar tesouros na terra e sim no céu, a não mostrar a todas as pessoas as suas obras, nem
tocar trombetas quando der esmolas, como fazer orações.
Mt.(6,7-15) – pg.1290 – DDPS
6.Quando orares, entra no teu quarto, fecha a porta e ora ao teu Pai em segredo; e teu Pai, que vê num lugar
oculto, recompensar-te-á.
7.Nas vossas orações, não multipliqueis as palavras, como fazem os pagãos que julgam que serão ouvidos à
força de palavras.
8.Não os imiteis, porque vosso Pai sabe o que vos é necessário, antes que vós lho peçais.
9.Eis como deveis rezar: PAI NOSSO, que estais no céu, santificado seja o vosso nome;
10.venha a nós o vosso Reino; seja feita a vossa vontade, assim na terra como no céu.
11.O pão nosso de cada dia nos dai hoje;
12.perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos aos que nos ofenderam;
13.e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal.
14.Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, vosso Pai celeste também vos perdoará.
15.Mas se não perdoardes ao homem, tampouco vosso Pai vos perdoará.
Comentário feito por:
Cardeal Joseph Ratzinger [Papa Bento XVI],
Der Gott Jesu Christi
“Vós, porém, rezai assim: ‘Pai Nosso…” – (v.9)
Sem Jesus, não sabemos verdadeiramente o que é um “Pai”. Foi na sua oração que isso se
tornou claro e esta oração pertence-lhe intrinsecamente. Um Jesus que não estivesse
perpetuamente mergulhado no Pai, ou que não estivesse em permanente comunicação com
Ele, seria um ser totalmente diferente do Jesus da Bíblia e do verdadeiro Jesus da História.
A sua vida parte do núcleo da oração; foi a partir dela que Ele compreendeu Deus, o mundo
e os homens. […]
Surge então uma nova questão: será esta comunicação […] também essencial ao Pai que
Ele invoca, de tal modo que também Ele fosse diferente se não fosse invocado sob este
nome? Ou trata-se de algo que apenas O aflora sem nele penetrar? A resposta é a seguinte:
pertence ao Pai dizer “Filho” como pertence a Jesus dizer “Pai”. Sem esta invocação, Ele
próprio também não seria Ele. Jesus não tem apenas um contacto exterior a Ele; é parte
integrante do ser divino de Deus, enquanto Filho. Antes mesmo de o mundo ser criado,
Deus já é o Amor do Pai e do Filho. E, se pode tornar-se nosso Pai e a medida de toda a
paternidade, é porque Ele próprio é Pai desde toda a eternidade. Na oração de Jesus, é pois
a própria interioridade de Deus que se torna visível; vemos como é Deus; a fé no Deus
trinitário não é senão a explicação daquilo que se passa na oração de Jesus. Nesta oração, a
Trindade aparece em toda a sua clareza. […]
Ser cristão significa, pois: participar na oração de Jesus, entrar no seu modelo de vida, ou
seja, no seu modelo de oração. Ser cristão significa: dizer “Pai” com Ele e tornar-se assim
criança, filho de Deus, na unidade do Espírito que nos faz ser nós próprios, agregando-nos à
unidade de Deus. Ser cristão significa: olhar o mundo a partir deste núcleo, tornando-se
assim livre, cheio de esperança, decidido e confiante.
Mt.(6,7-15) – pg.1290 – DDPS – Fazer boas obras em segredo.
Comentário feito por:
Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona (África do Norte) e doutor da Igreja
Sermão 83
«Se perdoardes aos homens as suas faltas, vosso Pai celeste também vos perdoará» - (v.14)
Todo o homem é devedor para com Deus e todo o homem tem no seu irmão um devedor.
De fato, quem não tem dívidas para com Deus, à exceção de quem não se encontra em
pecado? E quem não teria o seu irmão por devedor, à exceção do que nunca foi ofendido
por ninguém? Todos os homens são portanto devedores e credores em simultâneo. […] Um
mendigo pede-te esmola e tu, tu és o mendigo de Deus, porque todos somos, quando Lhe
rezamos, os mendigos de Deus. Ficamos, ou melhor, prostramo-nos à porta do nosso Pai de
família (cf. Luc 11,5s); suplicamos-Lhe lamentando-nos, desejosos de receber d’Ele uma
graça, e essa graça, é o próprio Deus. Que te pede o mendigo? Pão. E tu, que pedes tu a
Deus que não seja Cristo, Ele que disse: «Eu sou o pão vivo que desceu do céu» (Jo. 6,51).
Quereis ser perdoados? Perdoai. «Perdoai, e ser-vos-á perdoado». Quereis receber? «Dai, e
ser-vos-á dado» (Lc. 6,37). […]
Estejamos prontos para perdoar todas as faltas que cometerem contra nós, se quiser que
Deus nos perdoe. Sim, verdadeiramente, se considerarmos os nossos pecados e passarmos
em revista as faltas que cometemos, não sei se poderíamos adormecer sem sentir todo o
peso da nossa dívida. Eis porque em cada dia apresentamos a Deus os nossos pedidos, que
em cada dia as orações que fazemos Lhe chegam aos ouvidos, que em cada dia nos
prostamos, dizendo: «Perdoa as nossas dívidas como nós perdoamos a quem nos deve».
Que dívidas queres que te sejam perdoadas? Todas, ou uma parte? Vais responder: todas.
Faz portanto o mesmo para quem te está devedor.
Mt.(6,7-15) – p.1290 – DDPS
Comentário feito por:
Santa Teresa de Ávila (1515-1582), carmelita, doutora da Igreja
O Caminho da Perfeição
«Seja feita a tua vontade» - (v.10)
«Seja feita a tua vontade assim na terra como no céu». Ó meu terno Mestre, que alegria
para mim que tu não tenhas feito depender o cumprimento da tua vontade de um querer tão
miserável como o meu!... Como seria infeliz, se tivesses querido que dependesse de mim
que a tua vontade se realizasse ou não. No presente, dou-te livremente a minha, embora seja
no momento em que este dom não é puramente desinteressado, porque uma longa
experiência me fez conhecer as vantagens deste abandono. Que imenso lucro, minhas
amigas, mas por outro lado, que imensa perda, se não realizamos o que oferecemos ao
Senhor por este pedido do Pai Nosso...
Quero portanto dizer-vos, ou lembrar-vos, qual é esta vontade. Não temam que vos sejam
dadas riquezas, ou prazeres, ou honras, nem todos os bens cá de baixo. Não nos tem assim
tão pouco amor! Leva em grande conta o presente que lhe oferecemos, e propõe-se
recompensar-vos bem, dado que desde esta vida vos dá o seu Reino... Vede, minhas filhas,
o que Deus deu ao seu Filho que amava acima de tudo; por isso podereis reconhecer qual é
a sua vontade. Sim, esses são os dons que ele nos dá neste mundo. Ele dá em proporção ao
amor que tem por cada um de nós..., tendo também em conta a coragem que vê em cada um
e o amor que se tem por ele. Quem ama muito, ele o reconhece capaz de muito sofrer por
ele, e aquele que ama pouco, de pouco sofrer. Por mim, estou persuadida que a medida da
nossa força para levar uma grande cruz ou uma pequena, é a medida do nosso amor...
Todos os meus conselhos neste livro têm um só objetivo: darmo-nos totalmente ao Criador,
submeter a nossa vontade à sua, desapegarmo-nos das criaturas; deveis ter compreendido a
grande importância, não digo mais nada. Indicarei apenas por que motivo o nosso bom
Mestre formula este pedido do Pai Nosso. É que ele sabe o grande benefício que é para nós
fazer esta vontade ao seu Pai eterno. Por ele nos dispomos a atingir rapidamente o objetivo
da nossa viagem e a refrescarmo-nos nas águas vivas da fonte de que falei. Mas, se não
dermos inteiramente a nossa vontade ao Senhor para que ele próprio cuide de tudo o que a
nós se refere, jamais ele nos permitirá que bebamos dela.
.MT.(6,19-23) – pg.1290 – DDPS
19.Não ajunteis para vós tesouros na terra, onde a ferrugem e as traças corroem, onde os ladrões furtam e
roubam.
20.Ajuntai para vós tesouros no céu, onde não os consomem nem as traças nem a ferrugem, e os ladrões
não furtam nem roubam.
21.Porque onde está o teu tesouro, lá também está teu coração.
22.O olho é a luz do corpo. Se teu olho é são, todo o teu corpo será iluminado.
23.Se teu olho estiver em mau estado, todo o teu corpo estará nas trevas. Se a luz que está em ti são trevas,
quão espessas deverão ser as trevas!
Comentário feito por:
Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona (Norte de África) e doutor da Igreja
Sermão 123
“Arrecadai tesouros no céu” – (v.20)
Tu, o que és? Rico ou pobre? Muitos me dizem: eu sou pobre, e dizem a verdade. Vejo
pobres que possuem alguma coisa; vejo alguns que são completamente indigentes. Mas
aqui está um em cuja casa abunda o ouro e a prata – oh! se ele soubesse como é pobre!
Reconhecê-lo-ia se olhasse o pobre que está perto dele. Aliás, seja qual for a tua opulência,
tu que és rico, não passas de um mendigo à porta de Deus.
Eis a hora da oração… Fazes os pedidos; o pedido não é ele uma confissão da tua pobreza?
Com efeito, tu dizes: “O pão-nosso de cada dia nos dai hoje”. Portanto, tu que pedes o teu
pão quotidiano, és tu rico ou pobre? E contudo, Cristo não tem medo de dizer: “Dá-me o
que eu te dei. De fato, que é que tu trouxeste ao vir a este mundo? Tudo o que encontraste
na criação, fui eu que o criei. Tu não trouxeste nada, não levarás nada. Porque não me dás o
que é meu? Tu estás na abundância e o pobre na necessidade, mas remonta ao início da
vossa existência: ambos nasceram completamente nus. Mesmo tu, tu nasceste nu. Em
seguida tu encontraste aqui em baixo grandes bens; mas trouxeste por acaso alguma coisa
contigo? Peço pois o que dei; dá e eu restituir-te-ei”.
“Tu tens-me por benfeitor; torna-me o teu devedor, a uma taxa elevada… Dás-me pouco,
restituir-te-ei muito. Tu dás-me os bens deste mundo, eu dar-te-ei os tesouros do céu. Tu
dás-me riquezas temporais, eu instar-te-ei sobre as posses eternas. Dar-te-ei a ti, quando eu
tiver tomado posse de ti”.
Mt.(6,19-23) – p.1290 – DDPS
Comentário feito por:
S. Vicente de Paulo (1581-1660), fundador de comunidades religiosas
Conferência sobre a indiferença, 16 de Maio 1659
«Onde está o teu tesouro, aí está o teu coração»
Onde está o coração amante? Nas coisas que ele ama – por conseguinte, onde está o nosso
amor, está cativo o nosso coração. Não pode sair, não pode elevar-se mais alto, não pode ir
para a esquerda nem para a direita; está parado. Onde está o tesouro do avarento, aí está o
seu coração; e onde está o nosso coração, aí está o nosso tesouro.
E um nada, uma imaginação, uma palavra seca que nos disseram, uma falta de acolhimento
caloroso, uma pequena recusa, apenas o pensamento de que não nos têm em grande conta –
tudo isso nos fere e nos indispõe de um modo que não podemos vencer! O amor próprio
nos liga a essas feridas imaginárias, que não saberíamos tirar, estão sempre presentes, e por
quê? É porque se está cativo dessa paixão. Que é que nos prende? Estamos nós na
«liberdade dos filhos de Deus»? (Rm. 8,21) Ou estamos ligados aos bens, aos caprichos, ás
honras?
Ó Salvador, abriste-nos a porta da liberdade, ensinaste-nos a encontrá-la. Faz-nos conhecer
a importância deste privilégio, faz-nos recorrer a vós para aí chegarmos. Ilumina-nos, meu
Salvador, para ver a que é que estamos apegados, e põe-nos, se for do teu agrado, na
liberdade dos filhos de Deus.
Mt.(7,21-27) – p.1291 - DDPS
21.Nem todo aquele que me diz: Senhor, Senhor, entrará no Reino dos céus, mas sim aquele que faz a
vontade de meu Pai que está nos céus.
22.Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não pregamos nós em vosso nome, e não foi em vosso nome
que expulsamos os demônios e fizemos muitos milagres?
23.E, no entanto, eu lhes direi: Nunca vos conheci. Retirai-vos de mim, operários maus!
24.Aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as põe em prática é semelhante a um homem prudente, que
edificou sua casa sobre a rocha.
25.Caiu a chuva, vieram as enchentes, sopraram os ventos e investiram contra aquela casa; ela, porém, não
caiu, porque estava edificada na rocha.
26.Mas aquele que ouve as minhas palavras e não as põe em prática é semelhante a um homem insensato, que
construiu sua casa na areia.
27.Caiu a chuva, vieram as enchentes, sopraram os ventos e investiram contra aquela casa; ela caiu e grande
foi a sua ruína.
Comentário feito por:
S. João da Cruz (1524-1591), carmelita, doutor da Igreja
Conselhos e Máximas (n° 307-319 in trad. Oeuvres spirituelles, Seuil 1947, p. 1226)
Escutar para pôr em prática
O Pai celeste disse uma única palavra: é o Seu Filho. Disse-a eternamente e num eterno
silêncio. É no silêncio da alma que Ele se faz ouvir.
Falai pouco e não vos metais em assuntos sobre os quais não fostes interrogados.
Não vos queixeis de ninguém; não façais perguntas ou, se for absolutamente necessário,
que seja com poucas palavras.
Procurai não contradizer ninguém e não vos permitais uma palavra que não seja pura.
Quando falardes, que seja de modo a não ofender ninguém e não digais senão coisas que
possais dizer sem receio diante de toda a gente.
Tende sempre paz interior assim como uma atenção amorosa para com Deus e, quando for
necessário falar, que seja com a mesma calma e a mesma paz.
Guardai para vós o que Deus vos diz e lembrai-vos desta palavra da Escritura: "O meu
segredo é meu" (Is 24,16)...
Para avançar na virtude, é importante calar-se e agir, porque falando as pessoas distraem-se,
ao passo que, guardando o silêncio e trabalhando, as pessoas recolhem-se.
A partir do momento em que aprendemos com alguém o que é preciso para o avanço
espiritual, não é preciso pedir-lhe que diga mais nem que continue a falar, mas pôr mãos às
obras, com seriedade e em silêncio, com zelo e humildade, com caridade e desprezo de si
mesmo.
Antes de todas as coisas, é necessário e conveniente servir a Deus no silêncio das
tendências desordenadas, bem como da língua, a fim de só ouvir palavras de amor.
Mt.(9,1-8) –p.1293 – DDPS (manifestado no DDCIF=dom da cura interior e física)
1.Jesus tomou de novo a barca, passou o lago e veio para a sua cidade.
2.Eis que lhe apresentaram um paralítico estendido numa padiola. Jesus, vendo a fé daquela gente,
disse ao paralítico: "Meu filho, coragem! Teus pecados te são perdoados."
3.Ouvindo isto, alguns escribas murmuraram entre si: "Este homem blasfema."
4.Jesus, penetrando-lhes os pensamentos, perguntou-lhes: "Por que pensais mal em vossos corações?
5.Que é mais fácil dizer: Teus pecados te são perdoados, ou: Levanta-te e anda?
6."Ora, para que saibais que o Filho do Homem tem na terra o poder de perdoar os pecados: Levanta-te disse ele ao paralítico -, toma a tua maca e volta para tua casa."
7.Levantou-se aquele homem e foi para sua casa.
8.Vendo isto, a multidão encheu-se de medo e glorificou a Deus por ter dado tal poder aos homens.
9.Partindo dali, Jesus viu um homem chamado Mateus, que estava sentado no posto do pagamento das taxas.
Disse-lhe: Segue-me. O homem levantou-se e o seguiu.
Comentário feito por:
S. João Crisóstomo (cerca de 345 - 407), bispo de Antioquia, depois de Constantinopla,
doutor da Igreja
Homilias sobre o evangelho de Mateus
" Confiança, meu filho, os teus pecados estão perdoados" – (v.2)
Os judeus professavam que só Deus pode perdoar os pecados. Mas Jesus, mesmo antes de
perdoar os pecados, revelou os segredos dos corações, mostrando assim que possuía
também esse outro poder reservado a Deus. Porque está escrito: "Só tu, Senhor, conheces
os segredos dos homens" (2 Cr 6,30)... Jesus revela pois a sua divindade e a sua igualdade
ao Pai, mostrando aos escribas o fundo dos seus corações, divulgando pensamentos que
eles não ousam declarar abertamente por medo da multidão. E fá-lo com muita doçura...
O paralítico teria podido manifestar a Cristo a sua decepção, dizendo-lhe: "Seja! Tu vieste
para tratar outra doença e curar outro mal, o pecado. Mas que prova tenho de que os meus
pecados estão perdoados?" Ora ele não diz nada disso, mas confia naquele que tem o poder
de curá-lo...
Aos escribas, Cristo diz: "O que é mais fácil? Dizer: 'Os teus pecados estão perdoados' ou
dizer 'Toma o teu catre e vai para tua casa'?" Por outras palavras: Que é que vos parece
mais fácil? Mostrar o poder sobre um corpo inerte ou perdoar a uma alma as suas faltas? É
evidentemente curar um corpo, porque o perdão dos pecados ultrapassa essa cura, tanto
quanto a alma é superior ao corpo. Mas, uma vez que uma destas obras é visível e a outra
não, vou cumprir também a obra que é visível e menor, para provar a outra que é maior e
invisível. Nesse momento, Jesus testemunha pelas suas obras que é "aquele que tira o
pecado do mundo" (Jo 1,29).
(Mt.9,9-13) – p.1293 - DDPS
9.Partindo dali, Jesus viu um homem chamado Mateus, que estava sentado no posto do pagamento das taxas.
Disse-lhe: Segue-me. O homem levantou-se e o seguiu.
10.Como Jesus estivesse à mesa na casa desse homem, numerosos publicanos e pecadores vieram e sentaramse com ele e seus discípulos.
11.Vendo isto, os fariseus disseram aos discípulos: "Por que come vosso mestre com os publicanos e com os
pecadores?"
12.Jesus, ouvindo isto, respondeu-lhes: "Não são os que estão bem que precisam de médico, mas sim os
doentes.
13.Ide e aprendei o que significam estas palavras: Eu quero a misericórdia e não o sacrifício (Os 6,6). Eu não
vim chamar os justos, mas os pecadores."
Comentário feito por:
Santo Efrém (c. 2006-373), diácono na Síria, doutor da Igreja
Comentário ao Evangelho ou Diatessaron, 5, 17
«Porque é que o vosso Mestre come com os cobradores de impostos e os pecadores?»
Nosso Senhor escolheu Mateus, o cobrador de impostos, para encorajar os colegas deste a
virem com ele também. Ele viu pecadores, chamou-os e fez que se sentassem junto de si.
Um espetáculo admirável: os anjos ficam de pé, trêmulos, enquanto os publicanos,
sentados, se divertem. Os anjos enchem-se de temor perante a grandeza do Senhor,
enquanto os pecadores comem e bebem com Ele. Os escribas sufocam de ódio e de
despeito, e os publicanos exultam perante a sua misericórdia. O céu viu este espetáculo,
ficando em grande admiração; o inferno também o viu e ficou louco. Satanás viu e
enfureceu-se; a morte viu e enfraqueceu; os escribas viram e ficaram muito perturbados
com isso.
Havia alegria nos céus e júbilo entre os anjos porque os rebeldes tinham sido convencidos,
os recalcitrantes tinham ganho sensatez e os pecadores tinham sido corrigidos, e porque os
publicanos tinham sido justificados. Tal como Nosso Senhor não renunciou à ignomínia da
cruz apesar das exortações dos seus amigos (Mt. 16,22), Ele não renunciou à companhia
dos publicanos apesar da zombaria dos seus inimigos. Desprezou a zombaria e desdenhou o
elogio, fazendo assim o que é o melhor para os homens.
Mt.9,9-13 – p.1293 - DDPS
Comentário feito por:
São Beda, o Venerável (c. 673-735), monge, Doutor da Igreja
Homilias sobre os Evangelhos, I, 21 ; CCL 122, 149-151 (a partir da trad. Orval rev.)
«À mesa com Jesus»
«Encontrando-Se Jesus à mesa em sua casa, numerosos cobradores de impostos e outros
pecadores vieram e sentaram-se com Ele e Seus discípulos.» Procuremos compreender com
maior profundidade o acontecimento até aqui relatado. Mateus não quis apenas oferecer ao
Senhor uma refeição material na sua morada terrestre mas, com a sua fé e amor, preparouLhe na verdade um banquete na casa do seu coração, como dá testemunho aquele que diz:
«Eu estou à porta e bato: se alguém ouvir a Minha voz e abrir a porta, Eu entrarei na sua
casa e cearei com ele e ele Comigo» (Ap. 3,20).
Sim, o Senhor está à nossa porta e bate quando torna o nosso coração atento à Sua vontade,
seja através da palavra dos que a ensinam, seja por inspiração interior. Abrimos a porta ao
chamado da Sua voz quando livremente aceitamos os Seus ensinamentos interiores ou
exteriores e quando, tendo compreendido o que devemos fazer, o cumprimos. E Ele entra
para cear, Ele conosco e nós com Ele, porque Ele mora no coração dos Seus amigos, pela
graça do Seu amor, para alimentá-los.Ele próprio, eternamente, com a luz da Sua presença.
Assim, os desejos dos Seus amigos tornam-se cada vez mais elevados, e o próprio Se
Senhor alimenta do zelo destes para com o céu, como do mais delicioso alimento
MT.(9,14-17) – DDPS – p.1293.4.
14.Então os discípulos de João, dirigindo-se a ele, perguntaram: "Por que jejuamos nós e os fariseus, e os teus
discípulos não?"
15.Jesus respondeu: Podem os amigos do esposo afligir-se enquanto o esposo está com eles? Dias virão em
que lhes será tirado o esposo. Então eles jejuarão.
16.Ninguém põe um remendo de pano novo numa veste velha, porque arrancaria uma parte da veste e o
rasgão ficaria pior.
17.Não se coloca tampouco vinho novo em odres velhos; do contrário, os odres se rompem, o vinho se
derrama e os odres se perdem. Coloca-se, porém, o vinho novo em odres novos, e assim tanto um como outro
se conservam.
Comentário feito por:
São Paciano de Barcelona ( ? – c.390), bispo
Homilia sobre o batismo
«O Esposo está com eles»
O pecado de Adão foi comunicado a todo o gênero humano, a todos os seus filhos [...]
Portanto, é necessário que a justiça de Cristo seja comunicada a todo o gênero humano; tal
como Adão, pelo pecado, fez perder a vida à sua descendência, também Cristo, pela justiça,
dará a vida aos seus filhos [cf. Rm. 5,19ss) [...].
No fim dos tempos, Cristo recebeu de Maria uma alma e a nossa carne. A esta carne, veio
Ele salvá-la; Ele não a entregou na morada dos mortos (Sl. 15,10), mas uniu-a ao seu
espírito e fê-la sua. São as núpcias do Senhor, a sua união a uma só carne, a fim de que,
segundo «o grande mistério», sejam «dois uma só carne»: Cristo e a Igreja (Ef . 5,31). O
povo cristão nasceu destas núpcias, sobre as quais desceu o Espírito do Senhor. Essas
sementes vindas do céu dispersaram-se na substância das nossas almas e aí se misturaram.
Desenvolvemo-nos então nas entranhas da nossa Mãe e, crescendo no seu seio, recebemos
a vida em Cristo. É por isso que o apóstolo Paulo diz: «o primeiro homem, Adão, foi feito
um ser vivente e o último Adão, um espírito que vivifica.»
É assim que Cristo gera filhos na Igreja através dos seus padres, como o diz o mesmo
apóstolo: «porque fui eu que vos gerei em Cristo Jesus, pelo Evangelho» (1 Cor 4,15). E é
assim pelo Espírito de Deus: Cristo faz nascer o homem novo formado no seio da sua mãe e
posto no mundo na pia batismal, pelas mãos do padre, com a fé por testemunho. [...] É pois
preciso acreditar que podemos nascer [...] e que é Cristo quem nos dá a vida. O apóstolo
João o diz: «A quantos O receberam, aos que nele crêem, deu-lhes o poder de se tornarem
filhos de Deus». Ele deu o poder de serem filhos de Deus» (Jo 1,12).
Mt (11,28-30) – p.1363 - DDPS
28.Vinde a mim, vós todos que estais aflitos sob o fardo, e eu vos aliviarei.
29.Tomai meu jugo sobre vós e recebei minha doutrina, porque eu sou manso e humilde de coração e achareis
o repouso para as vossas almas.
30.Porque meu jugo é suave e meu peso é leve.
Comentário feito por:
Bem aventurada Teresa de Calcutá (1910-1997), fundadora das Irmãs Missionárias da
Caridade
Jesus, the Word to Be Spoken, ch. 7
«O meu jugo é fácil de transportar»
Deus tem em si uma grande humildade. Ele pode vir ter com pessoas como nós e tornar-se
dependente de nós para atos como viver, crescer, produzir frutos. Ele teria podido fazer
tudo isso sem nós. Contudo, ele desceu até nós, guiou cada uma de nós que estamos aqui,
para nos chamar em conjunto e formar esta comunidade. Se tivésseis recusado, ele não o
teria podido fazer. Com efeito, nós podíamos ter recusado; cada uma teria podido dizer não.
Deus teria pacientemente esperado que alguém dissesse sim.
O que me faz compreender isso, é quando Jesus diz: «Aprendei de mim, que sou manso e
humilde de coração». Ele quis verdadeiramente que nós retivéssemos que o nosso
chamamento a cada um é verdadeiramente um dom do próprio Deus.
(Mt.13,1-9) – p.1299 - DDPS
1.Naquele dia, saiu Jesus e sentou-se à beira do lago.
2.Acercou-se dele, porém, uma tal multidão, que precisou entrar numa barca. Nela se assentou, enquanto a
multidão ficava à margem.
3.E seus discursos foram uma série de parábolas.
4.Disse ele: Um semeador saiu a semear. E, semeando, parte da semente caiu ao longo do caminho; os
pássaros vieram e a comeram.
5.Outra parte caiu em solo pedregoso, onde não havia muita terra, e nasceu logo, porque a terra era pouco
profunda.
6.Logo, porém, que o sol nasceu, queimou-se, por falta de raízes.
7.Outras sementes caíram entre os espinhos: os espinhos cresceram e as sufocaram.
8.Outras, enfim, caíram em terra boa: deram frutos, cem por um, sessenta por um, trinta por um.
9.Aquele que tem ouvidos, ouça.
Comentário feito por:
Catecismo da Igreja Católica
§ 101-105,108
"Aquele que recebeu a semente em terra boa é o homem que escuta a Palavra e a
compreende" (Mt. 13,23)
Na sua bondade condescendente, para Se revelar aos homens. Deus fala-lhes em palavras
humanas: «As palavras de Deus, com efeito, expressas por línguas humanas, tornaram-se
semelhantes à linguagem humana, tal como outrora o Verbo do eterno Pai se assemelhou
aos homens assumindo a carne da debilidade humana» (Vaticano II, Dei Verbum 13).
Através de todas as palavras da Sagrada Escritura, Deus não diz mais que uma só Palavra, o
seu Verbo único, em quem totalmente Se diz (He 1,1-3): «Lembrai-vos de que o discurso
de Deus que se desenvolve em todas as Escrituras é um só e um só é o Verbo que Se faz
ouvir na boca de todos os escritores sagrados, o qual, sendo no princípio Deus junto de
Deus, não tem necessidade de sílabas, pois não está sujeito ao tempo» (Santo Agostinho).
Por esta razão, a Igreja sempre venerou as divinas Escrituras tal como venera o Corpo do
Senhor. Nunca cessa de distribuir aos fiéis o Pão da vida, tornado à mesa quer da Palavra
de Deus, quer do Corpo de Cristo (DV,21).
Na Sagrada Escritura, a Igreja encontra continuamente o seu alimento e a sua força, porque
nela não recebe apenas uma palavra humana, mas o que ela é na realidade: a Palavra de
Deus (1Tes 2,13). «Nos livros sagrados, com efeito, o Pai que está nos Céus vem
amorosamente ao encontro dos seus filhos, a conversar com eles» (DV, 21).
Deus é o autor da Sagrada Escritura. « A verdade divinamente revelada, que os livros da
Sagrada Escritura contêm e apresentam, foi registrada neles sob a inspiração do Espírito
Santo» (DV, 11).
«Com efeito, a santa Mãe Igreja, segundo a fé apostólica, considera como sagrados e
canônicos os livros completos do Antigo e do Novo Testamento com todas as suas partes,
porque, escritos por inspiração do Espírito Santo, têm Deus por autor, e como tais foram
confiados à própria Igreja».
No entanto, a fé cristã não é uma «religião do Livro». O Cristianismo é a religião da
«Palavra» de Deus, «não duma palavra escrita e muda, mas do Verbo encarnado e vivo» (S.
Bernardo). Para que não sejamos letra morta, é preciso que Cristo, Palavra eterna do Deus
vivo, pelo Espírito Santo, nos abra o espírito à inteligência das Escrituras (Lc. 24,45).
(Mt.13,1-23) – p.1299.0 - DDPS
1.Naquele dia, saiu Jesus e sentou-se à beira do lago.
2.Acercou-se dele, porém, uma tal multidão, que precisou entrar numa barca. Nela se assentou, enquanto a
multidão ficava à margem.
3.E seus discursos foram uma série de parábolas.
4.Disse ele: Um semeador saiu a semear. E, semeando, parte da semente caiu ao longo do caminho; os
pássaros vieram e a comeram.
5.Outra parte caiu em solo pedregoso, onde não havia muita terra, e nasceu logo, porque a terra era pouco
profunda.
6.Logo, porém, que o sol nasceu, queimou-se, por falta de raízes.
7.Outras sementes caíram entre os espinhos: os espinhos cresceram e as sufocaram.
8.Outras, enfim, caíram em terra boa: deram frutos, cem por um, sessenta por um, trinta por um.
9.Aquele que tem ouvidos, ouça.
10.Os discípulos aproximaram-se dele, então, para dizer-lhe: Por que lhes falas em parábolas?
11.Respondeu Jesus: Porque a vós é dado compreender os mistérios do Reino dos céus, mas a eles não.
12.Ao que tem, se lhe dará e terá em abundância, mas ao que não tem será tirado até mesmo o que tem.
13.Eis por que lhes falo em parábolas: para que, vendo, não vejam e, ouvindo, não ouçam nem compreendam.
14.Assim se cumpre para eles o que foi dito pelo profeta Isaías: Ouvireis com vossos ouvidos e não
entendereis, olhareis com vossos olhos e não vereis,
15.porque o coração deste povo se endureceu: taparam os seus ouvidos e fecharam os seus olhos, para que
seus olhos não vejam e seus ouvidos não ouçam, nem seu coração compreenda; para que não se convertam e
eu os sare (Is 6,9s).
16.Mas, quanto a vós, bem-aventurados os vossos olhos, porque vêem! Ditosos os vossos ouvidos, porque
ouvem!
17.Eu vos declaro, em verdade: muitos profetas e justos desejaram ver o que vedes e não o viram, ouvir o que
ouvis e não ouviram.
18.Ouvi, pois, o sentido da parábola do semeador:
19.quando um homem ouve a palavra do Reino e não a entende, o Maligno vem e arranca o que foi semeado
no seu coração. Este é aquele que recebeu a semente à beira do caminho.
20.O solo pedregoso em que ela caiu é aquele que acolhe com alegria a palavra ouvida,
21.mas não tem raízes, é inconstante: sobrevindo uma tribulação ou uma perseguição por causa da palavra,
logo encontra uma ocasião de queda.
22.O terreno que recebeu a semente entre os espinhos representa aquele que ouviu bem a palavra, mas
nele os cuidados do mundo e a sedução das riquezas a sufocam e a tornam infrutuosa.
23.A terra boa semeada é aquele que ouve a palavra e a compreende, e produz fruto: cem por um, sessenta por
um, trinta por um.
Comentário feito por:
Santa Teresa de Ávila (1515-1582), carmelita, Doutora da Igreja
Exclamações, nº 8
«Os cuidados deste mundo e a sedução da riqueza sufocam a palavra» - (v.22)
Senhor, meu Deus, as Tuas palavras são palavras de vida, onde todos os mortais encontram
aquilo que desejam, desde que aceitem procurá-lo. Mas será de espantar, meu Deus, que
esqueçamos as Tuas palavras, tomados como somos pela loucura e a languidez que são
conseqüência das nossas más ações? Oh meu Deus [...], autor de toda a criação, o que seria
esta criação se Tu quisesses, Senhor, criar ainda mais? Tu és onipotente, as Tuas obras são
incompreensíveis. Faz, Senhor, com que as Tuas palavras nunca se afastem do meu
pensamento.
Tu disseste: «Vinde a Mim todos os que estais cansados e oprimidos e Eu vos aliviarei»
(Mt. 11, 28). Que mais queremos nós, Senhor? Que mais pedimos? Que mais procuramos?
Por que será que as gentes do mundo se perdem, a não ser porque andam em busca da
felicidade? Oh meu Deus [...], que cegueira tão profunda! Procuramos a felicidade onde é
impossível encontrá-la.
Oh Criador, tem piedade das Tuas criaturas! Repara que, sozinhos, não compreendemos,
não sabemos aquilo que desejamos, escapa-nos aquilo que pedimos. Dá-nos luz, Senhor!
Vê que temos mais necessidade dela do que o cego de nascença. Ele desejava ver a luz e
não era capaz, e agora, Senhor, as pessoas recusam-se a ver. Haverá mal mais incurável do
que esse? Será aqui, meu Deus, que ressoará o Teu poder, aqui que brilhará a Tua
misericórdia. [...] Peço-Te que me concedas amar aqueles que não Te amam, abrir a porta
àqueles que não batem, dar a saúde àqueles que gostam de estar doentes. [...] Tu disseste,
Mestre meu, que tinhas vindo para os pecadores (Mt. 9, 13); ei-los, Senhor! E tu, meu
Deus, esquece a nossa cegueira, considera apenas o sangue que o Teu Filho derramou por
nós. Que a Tua misericórdia resplandeça no seio de semelhante infelicidade; lembra-Te,
Senhor, de que somos obra Tua e salva-nos pela Tua bondade, pela Tua misericórdia.
(Mt.13,31-35)-pg.1300- O grão de mostarda e o fermento- DDPS
31.Em seguida, propôs-lhes outra parábola: O Reino dos céus é comparado a um grão de mostarda que um
homem toma e semeia em seu campo.
32.É esta a menor de todas as sementes, mas, quando cresce, torna-se um arbusto maior que todas as
hortaliças, de sorte que os pássaros vêm aninhar-se em seus ramos.
33.Disse-lhes, por fim, esta outra parábola. O Reino dos céus é comparado ao fermento que uma mulher toma
e mistura em três medidas de farinha e que faz fermentar toda a massa.
34.Tudo isto disse Jesus à multidão em forma de parábola. De outro modo não lhe falava,
35.para que se cumprisse a profecia: Abrirei a boca para ensinar em parábolas; revelarei coisas ocultas desde
a criação (Sl 77,2).
Comentário feito por:
S. Pedro Crisólogo (c. 406-450), bispo de Ravena, doutor da Igreja
Sermão 99
O fermento que faz levedar toda a humanidade
Cristo comparava há pouco o Seu reino a um grão de mostarda; agora, identifica-o
com fermento. Ele contava que um homem semeara uma sementinha e nascera uma grande
árvore; agora a mulher incorpora uma pitada de fermento para fazer crescer a sua massa. Na
verdade, como diz o apóstolo Paulo: «Diante do Senhor, a mulher é inseparável do homem,
e o homem da mulher» (1Co,11,11)... Nestas parábolas, Adão, o primeiro homem, e Eva, a
primeira mulher, são conduzidos da árvore do conhecimento do bem e do mal ao sabor
ardente dessa árvore da mostarda do evangelho...
Eva recebera do demônio o fermento da má fé; e essa mulher recebe de Deus o fermento da
fé... Eva, pelo fermento da morte, corrompera, na pessoa de Adão toda a massa do gênero
humano; uma outra mulher renovará na pessoa de Cristo, pelo fermento da ressurreição,
toda a massa humana. Depois de Eva, que amassou o pão dos gemidos e do suor (Gn, 3,19),
esta cozerá o pão da vida e da salvação. Depois daquela que foi, em Adão, a mãe de todos
os mortos, esta será em Cristo a «verdadeira mãe de todos os vivos» (Gn, 3,20). Pois se
Cristo quis nascer, foi para que nessa humanidade em que Eva semeou a morte, Maria
restaurasse a vida. Maria oferece-nos a perfeita imagem desse fermento, ela propõe-nos a
parábola, quando em seu seio recebe do céu o fermento do Verbo e o derrama em seu seio
virginal sobre a carne humana, que digo eu? Sobre uma carne que, no seu seio virginal, é
toda celeste e que ela faz, assim, levedar.
Mt.(20,1-16) – p.1308- DDPS
1.Com efeito, o Reino dos céus é semelhante a um pai de família que saiu ao romper da manhã, a fim de
contratar operários para sua vinha.
2.Ajustou com eles um denário por dia e enviou-os para sua vinha.
3.Cerca da terceira hora, saiu ainda e viu alguns que estavam na praça sem fazer nada.
4.Disse-lhes ele: - Ide também vós para minha vinha e vos darei o justo salário.
5.Eles foram. À sexta hora saiu de novo e igualmente pela nona hora, e fez o mesmo.
6.Finalmente, pela undécima hora, encontrou ainda outros na praça e perguntou-lhes: - Por que estais todo o
dia sem fazer nada?
7.Eles responderam: - É porque ninguém nos contratou. Disse-lhes ele, então: - Ide vós também para minha
vinha.
8.Ao cair da tarde, o senhor da vinha disse a seu feitor: - Chama os operários e paga-lhes, começando pelos
últimos até os primeiros.
9.Vieram aqueles da undécima hora e receberam cada qual um denário.
10.Chegando por sua vez os primeiros, julgavam que haviam de receber mais. Mas só receberam cada qual
um denário.
11.Ao receberem, murmuravam contra o pai de família, dizendo:
12.- Os últimos só trabalharam uma hora... e deste-lhes tanto como a nós, que suportamos o peso do dia e do
calor.
13.O senhor, porém, observou a um deles: - Meu amigo, não te faço injustiça. Não contrataste comigo um
denário?
14.Toma o que é teu e vai-te. Eu quero dar a este último tanto quanto a ti.
15.Ou não me é permitido fazer dos meus bens o que me apraz? Porventura vês com maus olhos que eu seja
bom?
16.Assim, pois, os últimos serão os primeiros e os primeiros serão os últimos. [ Muitos serão os chamados,
mas poucos os escolhidos.]
Comentário feito por:
S. Efrém (cerca 306-373), diácono na Síria, doutor da Igreja
Diatessaron, 15, 15-17
«Não me será permitido dispor dos meus bens como me aprouver?»
Aqueles homens estavam dispostos a trabalhar mas «ninguém os contratou»; eles eram
trabalhadores, mas ociosos por falta de trabalho e de patrão. Em seguida, uma voz
contratou-os, uma palavra pô-los a caminho e, no seu zelo, não combinaram
antecipadamente qual o preço do seu trabalho, como os primeiros. O patrão avaliou os seus
trabalhos com sabedoria e pagou-lhes tanto como aos outros. Nosso Senhor disse esta
parábola para que ninguém dissesse: «Uma vez que não fui chamado na juventude, não
posso ser recebido». Mostrou que, seja qual for o momento da sua conversão, todo o
homem é acolhido... «Ele saiu pela manhã, pela terceira hora, pela hora sexta, pela hora
nona e pela hora undécima»: pode-se compreender isso desde o início da sua pregação, ao
longo da sua vida até a cruz, porque foi «à hora undécima» que o ladrão entrou no Paraíso.
Para que não se incrimine o ladrão, nosso Senhor afirma a sua boa vontade; se tivesse sido
contratado, teria trabalhado: «Ninguém nos contratou».
O que damos a Deus é bem digno dele e o que ele nos dá bem superior a nós. Contratamnos para um trabalho proporcional às nossas forças, mas propõem-nos um salário superior
ao que o nosso trabalho merece... Ele age do mesmo modo para com os primeiros e para
com os últimos; «recebeu cada um uma moeda» com a imagem do Rei. Tudo isso significa
o pão da vida (Jo. 6,35) que é o mesmo para todos os homens; único é o remédio de vida
para aqueles que o tomam.
No trabalho da vinha, não se pode acusar o patrão pela sua bondade, e não se encontra nada
a dizer acerca da sua retidão. Na sua retidão, ele deu como havia combinado, e mostrou-se
misericordioso como quis. É para ensinar isto que nosso Senhor disse esta parábola, e
resumiu tudo isto nestas palavras: «Não me é permitido fazer o que quero na minha
casa?»
Mt.22,15; Mt.22,21-22: - <Imposto do Imperador>.
-Outra narrativa do Evangelho que nos esclarece sobre a Palavra de Sabedoria é a que
narra o plano combinado para surpreender Jesus nas suas próprias palavras como em
(Mt.22,15).
15.Reuniram-se então os fariseus para deliberar entre si sobre a maneira de surpreender Jesus nas suas
próprias palavras.
21.De César, responderam-lhe. Disse-lhes então Jesus: Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de
Deus.
22.Esta resposta encheu-os de admiração e, deixando-o, retiraram-se.
-Com efeito procuravam uma maneira de encontrá-lo em alguma contradição a fim de
condená-lo {legalmente}. Os espiões estavam disfarçados e, como percebemos, usavam
uma linguagem melosa e fingida para com Jesus.
- Jesus então se encontrava numa situação embaraçosa, pois se dissesse que pagassem o
importo a César seria tido como um traidor dos judeus, que estavam sobre o domínio dos
romanos. Se dissesse que não pagassem, seria tido como insuflador do povo contra os
romanos.
-Em ambos os casos teriam argumentos para prendê-lo.Porém, Ele sabia que era outro o
plano do Pai, para sua prisão e outra razão para sua condenação e morte, muitíssimo mais
alta que um mero imposto.
- Veio em socorro a ação do Espírito Santo pela Palavra de Sabedoria: “Dai, pois a César o
que é de César e a Deus o que é de Deus, que “encheu seus inimigos de admiração” e estes,
calando-se deixaram-no e retiraram-se”.
-O poder do Espírito Santo através destas palavras fez que mesmo armando ciladas contra
Jesus,não pudessem prendê-lo.
-Queriam surpreendê-lo no que dizia, mas não havia nada de condenável em suas palavras
diante do povo; queriam entregá-lo à autoridade e ao poder do governador,mas pela
autoridade e pelo poder de Deus, tiveram que se calar.
-Além de Jesus ter lhes dado um grande ensinamento: de que não devemos confundir ou
misturar as coisas divinas com as coisas do mundo, cada qual tem seu lugar, o Mestre vem
nos orientar como viver as coisas do mundo segundo a vontade do céu.
Isto serve para que aprendamos, no dia-a-dia ouvir o SENHOR e pedir-lhe que nos oriente
com palavras
bem claras de sabedoria, afim de que possamos viver realmente de acordo com a sua
vontade.
Mc.(8,34-9,1) – pg.1332 – DDPS –
34.Em seguida, convocando a multidão juntamente com os seus discípulos, disse-lhes: Se alguém me quer
seguir, renuncie-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me.
35.Porque o que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas o que perder a sua vida por amor de mim e do
Evangelho, salvá-la-á.
36.Pois que aproveitará ao homem ganhar o mundo inteiro, se vier a perder a sua vida?
37.Ou que dará o homem em troca da sua vida?
38.Porque, se nesta geração adúltera e pecadora alguém se envergonhar de mim e das minhas palavras,
também o Filho do homem se envergonhará dele, quando vier na glória de seu Pai com os seus santos anjos.
9,1.E dizia-lhes: Em verdade vos digo: dos que aqui se acham, alguns há que não experimentarão a morte,
enquanto não virem chegar o Reino de Deus com poder.
Comentário feito por:
Renúncia Santa Teresa d'Ávila (1515-1582), carmelita, doutora da Igreja
Poema : « Em La cruz está La vida »
«Tome a sua cruz, e siga-Me» - (v.34)
Na cruz está a vida
E a consolação.
Só ela é o caminho
Que conduz ao céu.
Na cruz está «O Senhor
Do céu e da terra» (At. 17,24).
Nela fruímos uma paz imensa,
Mesmo em plena guerra ;
Ela aniquila todos os males
deste mundo.
E só ela é o caminho
Que conduz ao céu.
Acerca da cruz, a Esposa diz
Ao seu Bem-Amado
Que é «a palmeira preciosa»
A que subiu (Ct.7,9).
E cujo fruto foi provado
Pelo Deus dos céus.
E só ela é o caminho
Que conduz ao céu.
A cruz é «a árvore verdejante
E desejada» (Ct. 2,3).
Da Esposa que, à sua sombra
Se senta
Para desfrutar o seu Bem-Amado,
O Rei do céu.
Só ela é o caminho
Que conduz ao céu.
É uma «oliveira preciosa» (Sir.24,14),
A Santa Cruz
Que com seu óleo nos unge
E nos dá luz.
Ó alma minha, toma a cruz
Para tua grande consolação,
Porque só ela é o caminho
Que conduz ao céu.
Para as almas que por completo
Se submeteram a Deus
E se afastaram verdadeiramente
Do mundo,
A cruz é «árvore de vida» (Gn.2,9)
E de consolação,
E um caminho de delícias
Que conduz ao céu.
E porque na cruz foi posto
O Salvador,
Na cruz está «a glória
E a honra» (Ap.4,11),
E na dor
Vida e felicidade,
E o mais seguro caminho
Que conduz ao céu
Mc.(10,1-12) – pg.1334 – DDPS – O casamento é indissolúvel
1.Saindo dali, ele foi para a região da Judéia, além do Jordão. As multidões voltaram a segui-lo pelo caminho
e de novo ele pôs-se
a ensiná-las, como era seu costume.
2.Chegaram os fariseus e perguntaram-lhe, para o pôr à prova, se era permitido ao homem repudiar sua
mulher.
3.Ele respondeu-lhes: "Que vos ordenou Moisés?"
4.Eles responderam: "Moisés permitiu escrever carta de divórcio e despedir a mulher."
5.Continuou Jesus: "Foi devido à dureza do vosso coração que ele vos deu essa lei;
6.mas, no princípio da criação, Deus os fez homem e mulher.
7.Por isso, deixará o homem pai e mãe e se unirá à sua mulher;
8.e os dois não serão senão uma só carne. Assim, já não são dois, mas uma só carne.
9.Não separe, pois, o homem o que Deus uniu."
10.Em casa, os discípulos fizeram-lhe perguntas sobre o mesmo assunto.
11.E ele disse-lhes: "Quem repudia sua mulher e se casa com outra, comete adultério contra a primeira.
12.E se a mulher repudia o marido e se casa com outro, comete adultério."
Comentário feito por:
Jacques de Saroug (cerca 449-521), monge e bispo sírio
Homília sobre o sexto dia
“ Os dois serão uma só carne” – (v.8)
“Façamos o homem à nossa imagem e semelhança”, disse Deus (Gn. 1,26). Uma simples
ordem fez surgir os outros seres da criação: “Que se faça luz!” ou “Haja um firmamento!”.
Desta vez, Deus não disse: “Que haja o homem”, mas disse: “Façamos o homem”. Com
efeito, ele achava conveniente dar forma com as suas próprias mãos a esta imagem de si
próprio, superior a todas as outras criaturas. Esta obra era-lhe particularmente próxima; ele
tinha-lhe um grande amor... Adão é a imagem de Deus porque traz a efígie do Filho único...
Dum certo modo, Adão foi criado simultaneamente singelo e duplo; Eva encontrava-se
escondida nele. Antes mesmo deles existirem, a humanidade estava destinada ao
casamento, que os levaria, homem e mulher, a um só corpo, como no início. Nenhuma
querela, nenhuma discórdia, se devia levantar entre eles. Teriam um mesmo pensamento,
uma mesma vontade... O Senhor formou Adão do pó e da água; quanto a Eva, tirou-a da
carne, dos ossos e do sangue de Adão (Gn.2,21). O profundo sono do primeiro homem
antecipa os mistérios da crucifixão. A abertura do lado era o golpe de lança suportado pelo
Filho único; o sono, a morte na cruz; o sangue e a água, a fecundidade do batismo (Jo
19,34)... Mas a água e o sangue que correram do lado do Salvador são a origem do mundo
do Espírito...
Adão não sofreu com a amputação feita na sua carne; o que lhe foi subtraído foi-lhe
restituído, transfigurado pela beleza. O sopro do vento, o murmúrio das árvores, o canto dos
pássaros chamava os noivos: “Levantai-vos, já dormistes o suficiente! A festa nupcial
espera-vos!”... Adão viu Eva a seu lado, aquela que era a sua carne e os seus ossos, a sua
filha, a sua irmã, a sua esposa. Levantaram-se, envoltos numa veste de luz, no dia que lhes
sorria. Estavam no Paraíso.
Mc.(10,1-12) – p.1334 – DDPS – O casamento é indissolúvel
Comentário feito pelo:
Concílio Vaticano II
Constituição Dogmática sobre a Igreja no mundo atual "Gaudium et Spes", § 48
"Maridos. amai as vossas esposas como Cristo amou a Igreja: entregou-se por ela" (Ef.
5,25)
O homem e a mulher, que, pela aliança conjugal «já não são dois, mas uma só carne» (Mt.
19, 6), prestam-se recíproca ajuda e serviço com a íntima união das suas pessoas e
atividades, tomam consciência da própria unidade e cada vez mais a realizam. Esta união
íntima, já que é o dom recíproco de duas pessoas, exige, do mesmo modo que o bem dos
filhos, a inteira fidelidade dos cônjuges e a indissolubilidade da sua união.
Cristo Senhor abençoou copiosamente este amor de múltiplos aspectos, nascido da fonte
divina da caridade e constituído à imagem da sua própria união com a Igreja (Ef. 5, 32). E
assim como outrora Deus veio ao encontro do seu povo com uma aliança de amor e
fidelidade, assim agora o Salvador dos homens e esposo da Igreja vem ao encontro dos
esposos cristãos com o sacramento do matrimônio. E permanece com eles, para que, assim
como Ele amou a Igreja e se entregou por ela (Ef.5, 25), de igual modo os cônjuges, dandose um ao outro, se amem com perpétua fidelidade.
O autêntico amor conjugal é assumido no amor divino, e dirigido e enriquecido pela força
redentora de Cristo e pela ação salvadora da Igreja, para que, assim, os esposos caminhem
eficazmente para Deus e sejam ajudados e fortalecidos na sua missão sublime de pai e mãe.
Por este motivo, os esposos cristãos são fortalecidos e como que consagrados em ordem aos
deveres do seu estado por meio de um sacramento especial; cumprindo, graças à força
deste, a própria missão conjugal e familiar, penetrados do espírito de Cristo que impregna
toda a sua vida de fé, esperança e caridade, avançam sempre mais na própria perfeição e
mútua santificação e cooperam assim juntos para a glorificação de Deus.
Mt.(10,26-33) – p.1295/6 – DDPS – Escolha dos Apóstolos.Recebem instruções.
26.Eles ainda mais se admiravam, dizendo a si próprios: "Quem pode então salvar-se?"
27.Olhando Jesus para eles, disse: "Aos homens isto é impossível, mas não a Deus; pois a Deus tudo é
possível.
28.Pedro começou a dizer-lhe: "Eis que deixamos tudo e te seguimos."
29.Respondeu-lhe Jesus. "Em verdade vos digo: ninguém há que tenha deixado casa ou irmãos, ou irmãs, ou
pai, ou mãe, ou
filhos, ou terras por causa de mim e por causa do Evangelho
30.que não receba, já neste século, cem vezes mais casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e terras, com
perseguições e no século vindouro a vida eterna.
31.Muitos dos primeiros serão os últimos, e dos últimos serão os primeiros."
32.Estavam a caminho de Jerusalém e Jesus ia adiante deles. Estavam perturbados e o seguiam com medo. E
tomando novamente a si os Doze, começou a predizer-lhes as coisas que lhe haviam de acontecer:
33."Eis que subimos a Jerusalém e o Filho do homem será entregue aos príncipes dos sacerdotes e aos
escribas; condená-lo-ão à morte e entregá-lo-ão aos gentios.
Comentário feito pelo:
Imitação de Cristo, tratado espiritual do séc. XV
II, cap. 1
«Não os temais, portanto, pois não há nada encoberto que não venha a ser conhecido".
Não tens aqui cidade de repouso, e onde quer que estejas és estranho e peregrino; e nunca
terás repouso, a não ser quando estiveres intimamente unido a Cristo. Que procuras à tua
volta, se este não é o lugar do teu descanso? A tua morada deve ser no céu, e tudo na terra
deve ser visto como de passagem. Todas as coisas passam, e tu com elas. Toma cuidado,
não te apegues, para que não sejas apanhado por elas e pereças.
Que o teu pensamento esteja junto do Altíssimo, e a sua súplica se dirija sem cessar a
Cristo. Se não consegues contemplar as coisas elevadas e celestes, descansa na Paixão de
Cristo, e habita alegremente nas Suas santas chagas. Se assim te refugiares com devoção
nas chagas e nos preciosos estigmas de Jesus, sentirás grande conforto na tribulação, não te
importarás muito com as traições dos homens e facilmente suportarás as palavras
malévolas. Também Cristo foi desprezado no mundo pelos homens, e abandonado, na
maior necessidade, pelos conhecidos e amigos no meio das afrontas. Cristo quis sofrer e ser
desprezado, e tu ousas queixar-te de alguma coisa? [...]
Mantém-te com Cristo e por Cristo, se queres reinar com Cristo. Se uma única vez
conseguisses entrar perfeitamente no coração de Jesus, e conhecesses um pouco o Seu amor
ardente, não te importarias com o que te é agradável ou desagradável, mas alegar-te-ias
com cada ofensa sofrida, pois que o amor de Jesus faz o homem desprezar-se a si próprio.
Aquele que ama Jesus e a verdade, que é verdadeiro, interior e livre de afeições
desordenadas, pode voltar-se facilmente para Deus, elevar-se em espírito acima de si
próprio e descansar com proveito. Aquele para quem as coisas valem segundo são, e não
segundo se diz ou pensa, esse é o verdadeiro sábio, e mais instruído por Deus do que pelos
homens.
Mt.(11,11-15) - p.1363 - DDPS
1.Em verdade vos digo: entre os filhos das mulheres, não surgiu outro maior que João Batista. No entanto, o
menor no Reino dos céus é maior do que ele.
12.Desde a época de João Batista até o presente, o Reino dos céus é arrebatado à força e são os violentos que
o conquistam.
13.Porque os profetas e a lei tiveram a palavra até João.
14.E, se quereis compreender, é ele o Elias que devia voltar.
15.Quem tem ouvidos, ouça.
Comentário feito por:
Bem-aventurado Guerric d'Igny (cerca 1080-1157), clérigo cisterciense
3º Sermão para a Natividade de S. João Baptista, 1-2
«João era uma lâmpada que ardia e brilhava» (Jo 5,35)
Quando a Justiça soberana diz a Noé: «Tu foste justo a meus olhos» (Gn 7,1), é um grande
elogio da sua justiça. É um sinal de um grande mérito, quando Deus assegura a Abraão que
é por causa dele que as suas promessas serão realizadas... Que glória para Moisés, quando
Deus arde de zelo para o defender e confundir os seus inimigos (Nm 12, 6s)... E que dizer
de David no qual o Senhor se congratula por ter encontrado «um homem segundo o seu
coração»? (1 Sam 13,13).
E contudo, apesar da grandeza destes homens, nem entre eles nem entre os outros «filhos
de mulher», «nenhum foi maior que João Baptista», segundo o testemunho do Filho da
Virgem. É verdade, as estrelas não têm todas o mesmo brilho (1 Co 15,41), e no coro dos
santos astros que iluminaram a noite deste mundo antes do nascer do verdadeiro sol, alguns
brilharam com uma luz admirável. No entanto, nenhum deles foi maior e mais
resplandecente que esta estrela da manhã, esta lâmpada ardente e luminosa preparada por
Deus para o seu Cristo (Sl 131,17). Primeira luz da manhã, estrela da aurora, percursor do
Sol, ele anuncia aos mortais a iminência do dia e grita aos que dormem «nas trevas e na
sombra da morte» (Lc 1,79): «Convertei-vos, porque está próximo o Reino dos céus» (Mt
3,2). É como se ele dissesse: «A noite está avençada, o dia aproxima-se; rejeitemos pois as
obras das trevas e revistamo-nos com as armas da luz» (Rom 13,12). «Desperta, tu que
dormes, levanta-te do meio dos mortos, e Cristo brilhará para ti (Ef 5,14).
Mt.(22,15-21) – p.1311 – DDPS
15.Reuniram-se então os fariseus para deliberar entre si sobre a maneira de surpreender Jesus nas suas
próprias palavras.
16.Enviaram seus discípulos com os herodianos, que lhe disseram: Mestre, sabemos que és verdadeiro e
ensinas o caminho de Deus em toda a verdade, sem te preocupares com ninguém, porque não olhas para a
aparência dos homens.
17.Dize-nos, pois, o que te parece: É permitido ou não pagar o imposto a César?
18.Jesus, percebendo a sua malícia, respondeu: Por que me tentais, hipócritas?
19.Mostrai-me a moeda com que se paga o imposto! Apresentaram-lhe um denário.
20.Perguntou Jesus: De quem é esta imagem e esta inscrição?
21.De César, responderam-lhe. Disse-lhes então Jesus: Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de
Deus.
Comentário feito por:
Santo António (cerca 1195-1231), franciscano, doutor da Igreja
Sermões para o domingo e a festa de todos os santos
«Levantai sobre nós, Senhor, a luz da Vossa face!»
Tal como uma pequena moeda tem a imagem de César, assim a nossa alma é à imagem da
Santíssima Trindade, segundo o que nos é dito no salmo: «a luz da tua face está impressa
em nós, Senhor» (4, 7LXX)... Senhor, a luz da tua face, quer dizer a luz da tua graça que
determina em nós a tua imagem e nos torna semelhantes a ti, está gravada em nós, quer
dizer, gravada na nossa razão, que é a maior força da nossa alma e que recebe essa luz
como a cera recebe a marca de um selo. A face de Deus é a nossa razão; porque, tal como
alguém conhece o seu rosto, assim conhecemos Deus pelo espelho da razão. Mas esta razão
foi deformada pelo pecado do homem, porque o pecado torna o homem antagónico a Deus.
A graça de Cristo reparou a nossa razão. É por isso que o apóstolo Paulo diz aos Efésios:
«renovai espiritualmente a vossa inteligência» (4,23). A luz de que nos fala este salmo é
pois a graça, que restaura a imagem de Deus gravada na nossa natureza...
Toda a Trindade marcou o homem à sua semelhança. Pela memória, é semelhante ao Pai;
pela inteligência, é semelhante ao Filho; pelo amor é semelhante ao Espírito Santo... Desde
a criação, o homem foi feito «à imagem e semelhança de Deus» (Gn 1,26). Imagem no
conhecimento da verdade; semelhança no amor à virtude. A luz da face de Deus é pois a
graça que nos justifica e que nos revela de novo a imagem criada. Esta luz constitui todo o
bem do homem, o seu verdadeiro bem; ela marca-o, como a imagem do imperador marca a
moeda.
É por isso que o Senhor acrescenta: «Dai a César o que é de César». Como se dissesse: Tal
como dais a César a sua imagem, dai a Deus a vossa alma, ornada e marcada pela luz do
seu rosto.
Mt.(22,34-40) – p.1511 - DDPS
34.Sabendo os fariseus que Jesus reduzira ao silêncio os saduceus, reuniram-se
35.e um deles, doutor da lei, fez-lhe esta pergunta para pô-lo à prova:
36.Mestre, qual é o maior mandamento da lei?
37.Respondeu Jesus: Amarás o Senhor teu Deus de todo teu coração, de toda tua alma e de todo teu espírito
(Dt.6,5).
38.Este é o maior e o primeiro mandamento.
39.E o segundo, semelhante a este, é: Amarás teu próximo como a ti mesmo (Lv 19,18).
40.Nesses dois mandamentos se resumem toda a lei e os profetas.
Comentário feito por:
(1033-1109), monge, doutor da Igreja Santo Anselmo
Carta 112, dirigida a Hugo, prisioneiro; Opera omnia, 3, p.245
«Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os profetas»
Como reinar nos céus mais não é do que aderir a Deus e a todos os santos, pelo amor, numa
única vontade, de tal forma que exercem em conjunto um único e mesmo poder ama, pois a
Deus mais do que ti próprio, e verás que começas a ter o que desejas possuir de forma
perfeita no céu. Concerta-te com Deus e com os homens – se estes não se separarem de
Deus – e começarás a reinar com Deus e com os seus santos. Porque, na justa medida em
que agora te concertares com a vontade de Deus e com a dos homens, Deus e todos os
santos concertar-se-ão com a tua vontade. Portanto, se queres ser rei nos céus, ama a Deus e
aos homens como deves, e merecerás ser o que desejas.
Mas este amor, não poderás possuí-lo na perfeição se não esvaziares o coração de todos os
outros amores [...] Eis por que aqueles que enchem o coração com o amor a Deus e ao
próximo têm apenas o querer de Deus, ou o de outro homem, na condição de que este não
seja contrário a Deus. Eis por que são fiéis à oração, e a esta maneira de viver, a
lembrarem-se sempre dos céus; porque lhes é agradável desejar a Deus e falar acerca d'Esse
que amam, ouvir falar d'Ele e pensar n'Ele. É por isso também que rejubilam com todos os
que estão em graça, que choram com os que estão em dificuldades (Rm.12,15), que têm
compaixão pelos infelizes e que dão aos pobres, porque amam os outros homens como a si
mesmos. [...] Sim, é assim que, de fato, destes dois mandamentos do amor «dependem toda
a Lei e os profetas».
Mc.(12,1-12) – p.1337 – DDPS 1.Atravessava Jesus os campos de trigo num dia de sábado. Seus
discípulos, tendo fome, começaram a arrancar as espigas para comê-las.
2.Vendo isto, os fariseus disseram-lhe: Eis que teus discípulos fazem o que é proibido no dia de sábado.
3.Jesus respondeu-lhes: Não lestes o que fez Davi num dia em que teve fome, ele e seus companheiros,
4.como entrou na casa de Deus e comeu os pães da proposição? Ora, nem a ele nem àqueles que o
acompanhavam era permitido comer esses pães reservados só aos sacerdotes.
5.Não lestes na lei que, nos dias de sábado, os sacerdotes transgridem no templo o descanso do sábado e não
se tornam culpados?
6.Ora, eu vos declaro que aqui está quem é maior que o templo.
7.Se compreendêsseis o sentido destas palavras: Quero a misericórdia e não o sacrifício... não condenaríeis os
inocentes.
8.Porque o Filho do Homem é senhor também do sábado.
9.Partindo dali, Jesus entrou na sinagoga.
10.Encontrava-se lá um homem que tinha a mão seca. Alguém perguntou a Jesus: É permitido curar no dia de
sábado? Isto para poder acusá-lo.
11.Jesus respondeu-lhe: Há alguém entre vós que, tendo uma única ovelha e se esta cair num poço no dia de
sábado, não a irá procurar e retirar?
12.Não vale o homem muito mais que uma ovelha? É permitido, pois, fazer o bem no dia de sábado.
Comentário feito por:
Santa Catarina de Sena (1347-1380), terciária dominicana, doutora da Igreja, co-padroeira
da Europa
O Diálogo, 24
«Eu sou a verdadeira videira e meu Pai é o agricultor» (Jo.15,1)
[Deus disse a santa Catarina:] Sabes o que é que eu faço assim que os meus servidores
querem seguir a doutrina do doce Verbo do amor? Eu podo-os para que produzam muito
fruto e para que os seus frutos sejam doces e não voltem a ser selvagens. O agricultor limpa
os ramos da vinha para que eles produzam um vinho melhor; não é isso que eu faço, eu, o
verdadeiro agricultor? (Jo.15,1). Aos meus servidores que permanecem em mim, eu os
limpo por meio de muitas atribulações, para que produzam frutos mais abundantes e
melhores e para que sejam comprovados pela virtude; mas aos que permanecem estéreis eu
os corto e lanço ao fogo (Jo.15,6).
Os verdadeiros trabalhadores trabalham bem as suas almas; eles arrancam todo o amorpróprio e voltam à terra do seu amor por mim. Eles adubam e aumentam assim a semente
da graça que receberam no santo batismo. Cultivando a sua vinha, cultivam também a do
próximo; não podem cultivar uma sem a outra. Lembra-te sempre que todo o mal e todo o
bem se fazem por meio do próximo. É assim que sois meus agricultores, procedentes de
mim, o eterno agricultor. Fui eu que vos uni e transferi para esta vinha graças à união que
estabeleci convosco... Todos juntos formais uma só vinha universal...; estais unidos na
vinha do corpo místico da santa Igreja, da qual extraís a vossa vida. Nesta vinha está
plantada a cepa do meu Filho único, ao qual deveis estar ligados, para permanecerdes em
vida.
Mc.(12,13-17) – p.1338 - DDPS
13.Disse, então, àquele homem: Estende a mão. Ele a estendeu e ela tornou-se sã como a outra.
14.Os fariseus saíram dali e deliberaram sobre os meios de matá-lo.
15.Jesus soube disso e afastou-se daquele lugar. Uma grande multidão o seguiu, e ele curou todos os seus
doentes.
16.Proibia-lhes formalmente falar disso,
17.para que se cumprisse o anunciado pelo profeta Isaías:
Comentário feito por:
Santo Atanásio (295-373), bispo de Alexandria, doutor da Igreja
Sobre a Encarnação do Verbo, 13
Cristo é a imagem de Deus invisível; nele temos a redenção e a remissão dos pecados (Cl.1,
14.15)
Dado que os homens se tornaram insensatos e que o engano dos demônios lançou a sua
sombra de todos os lados e escondeu o conhecimento do verdadeiro Deus, o que é que Deus
deveria fazer? Calar-se perante uma situação destas? Aceitar que os homens sejam
extraviados assim e não conheçam a Deus?... Deus não vai permitir que as suas criaturas se
extraviem para longe dele e sejam sujeitas ao nada, sobretudo se este extravio se torna para
eles causa de ruína e de perda, quando os seres que participaram na imagem de Deus
(Gn.1,26) não devem perecer? Que é pois necessário que Deus faça? Que fazer, senão
renovar neles a sua imagem, a fim de que os homens possam de novo conhecê-lo?
Mas como fazer isto, a não ser pela presença da imagem do próprio Deus (Cl.1,15), nosso
Salvador Jesus Cristo? Isso não é realizável pelos homens, porque eles não são a imagem
mas criados segundo a imagem; isto também não é realizável pelos anjos, porque mesmo
eles não são imagens. Foi por isso que o Verbo de Deus veio ele próprio, ele que é a
imagem do Pai, a fim de estar em condições de restaurar a imagem no fundo do ser dos
homens. Além disso, isso não podia produzir-se se a morte e a degradação que a segue não
fossem destruídos. Foi por isso que ele tomou um corpo mortal, a fim de poder destruir a
morte e restaurar os homens feitos segundo a imagem de Deus. A imagem do Pai, portanto,
o seu santíssimo Filho, veio até nós para renovar o homem feito à sua semelhança e para
encontrá-lo, dado que estava perdido, pela remissão dos seus pecados, como ele próprio
disse: «Eu vim procurar e salvar o que estava perdido» (Lc.19,10).
Mc.(12,18-27) – pg.1338 – DDPS – Os saduceus e a ressurreição
18.Ora, vieram ter com ele os saduceus, que afirmam não haver ressurreição, e perguntaram-lhe:
19.Mestre, Moisés prescreveu-nos: Se morrer o irmão de alguém, e deixar mulher sem filhos, seu irmão
despose a viúva e suscite posteridade a seu irmão.
20.Ora, havia sete irmãos; o primeiro casou e morreu sem deixar descendência.
21.Então o segundo desposou a viúva, e morreu sem deixar posteridade. Do mesmo modo o terceiro.
22.E assim tomaram-na os sete, e não deixaram filhos. Por último, morreu também a mulher.
23.Na ressurreição, a quem destes pertencerá a mulher? Pois os sete a tiveram por mulher.
24.Jesus respondeu-lhes: Errais, não compreendendo as Escrituras nem o poder de Deus.
25.Na ressurreição dos mortos, os homens não tomarão mulheres, nem as mulheres, maridos, mas serão como
os anjos nos céus.
26.Mas quanto à ressurreição dos mortos, não lestes no livro de Moisés como Deus lhe falou da sarça,
dizendo: Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó (Êx.3, 6)?
27.Ele não é Deus de mortos, senão de vivos. Portanto, estais muito errados
Comentário feito por:
São Justino (cerca 100-160), filósofo, mártir
Tratado da ressurreição, 2.4.7-9
“Creio na ressurreição da carne" (Credo)
Os que estão no erro dizem que não há ressurreição da carne, que é impossível, depois de
ter sido destruída e reduzida a pó, retomar a sua integridade. Para eles, a salvação da carne
será, não somente impossível, mas mesmo nociva: eles censuram a carne, denunciam os
seus defeitos, tornam-na responsável pelos pecados; dizem pois, que se esta carne deve
ressuscitar, os seus defeitos também ressuscitarão... O Salvador disse: “Os que participam
da ressurreição dos mortos não se casam...são semelhantes aos anjos”. Ora os anjos, dizem,
não são de carne, não comem nem se casam, nem são dados em casamento. Assim, dizem
eles, não haverá ressurreição da carne...
Como são cegos, os olhos da sua inteligência! Pois não viram “os cegos ver, os coxos
andar” (Mt.11,5), graças à palavra do Salvador..., para nos fazer acreditar que, quando da
ressurreição, a carne ressuscitará completamente? Se nesta terra ele curou as enfermidades
da carne e restituiu ao corpo a sua integridade, quanto mais não fará no momento da
ressurreição, a fim de que a carne ressuscite sem defeito, integralmente... Parece-me que
essas pessoas ignoram a ação divina no seu todo, na origem da criação, na construção do
homem; ignoram porque as coisas terrestres foram feitas.
O Verbo disse: “Façamos o homem à nossa imagem e semelhança” (Gn.1,26)... É evidente
que o homem, modelado à imagem de Deus, era de carne. Então, que absurdo pretendê-la
desprezível, sem nenhum mérito, a carne modelada por Deus segundo a sua própria
imagem! Que a carne seja preciosa aos olhos de Deus é evidente, porque é obra sua. E
porque nela se encontra o princípio do seu projeto para o resto da criação, é o que há de
mais precioso aos olhos do criador.
Mc.10,35-45 -DDPS – p.1335
35.Aproximaram-se de; Jesus Tiago e João, filhos de Zebedeu, e disseram-lhe: "Mestre, queremos que nos
concedas tudo o que te pedirmos." 36. "Que quereis que vos faça?"
37. "Concede-nos que nos sentemos na tua glória, um à tua direita e outro à tua esquerda."
38."Não sabeis o que pedis, retorquiu Jesus. Podeis vós beber o cálice que eu vou beber, ou ser batizados no
batismo em que eu vou ser batizado?"
39."Podemos", asseguraram eles. Jesus prosseguiu: "Vós bebereis o cálice que eu devo beber e sereis
batizados no batismo em que eu devo ser batizado.
40. Mas, quanto ao assentardes à minha direita ou à minha esquerda, isto não depende de mim: o lugar
compete àqueles a quem está destinado."
41. Ouvindo isto, os outros dez começaram a indignar-se contra Tiago e João.
42. Jesus chamou-os e deu-lhes esta lição: "Sabeis que os que são considerados chefes das nações dominam
sobre elas e os seus intendentes exercem poder sobre elas.
43. Entre vós, porém, não será assim: todo o que quiser tornar-se grande entre vós, seja o vosso servo;
44. e todo o que entre vós quiser ser o primeiro, seja escravo de todos.
45. Porque o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em redenção por
muitos."
Comentário feito por:
São Gregório de Niza (c. 335-395), monge e bispo
A Vida de Moisés, II, 231-233, 251-253 (a partir da trad. de cf. SC Iter, pp. 265ss.)
«Logo ele recuperou a vista e seguiu Jesus pelo caminho»
[No Monte Sinai, Moisés disse ao Senhor: «Mostra-me a Tua glória». Deus respondeu-lhe:
«Farei passar diante de ti toda a Minha bondade (...), mas tu não poderás ver a Minha face»
(Ex 33, 18ss.).] Experimentar este desejo parece-me porvir de uma alma animada pelo amor
à beleza essencial, uma alma a quem a esperança não pára de conduzir da beleza que já viu
para aquela que está para além. [...] Este pedido audacioso, que ultrapassa os limites do
desejo, almeja pela beleza que está para além do espelho, do reflexo, para a ver face a face.
A voz divina satisfaz o pedido, recusando-o simultaneamente [...]: a magnanimidade de
Deus concede-lhe a satisfação do desejo, mas, ao mesmo tempo, não lhe promete repouso
nem saciedade. [...] É nisto que consiste a verdadeira visão de Deus: aquele que para Ele
eleva os olhos nunca mais cessa de O desejar. É por isso que Ele diz: «não poderás ver a
Minha face». [...]
O Senhor que tinha respondido a Moisés exprime-se da mesma forma aos Seus discípulos,
clarificando o sentido desta simbologia. Ele diz «Se alguém quiser vir após Mim», (Lc.9,
23) e não: «Se alguém quiser ir à Minha frente». Ao que Lhe faz um pedido a respeito da
vida eterna, propõe o mesmo: «Vem e segue-Me» (Lc.18, 22). Ora, aquele que segue
caminha virado para as costas daquele que o guia. Portanto, o ensinamento que Moisés
recebe sobre a maneira pela qual é possível ver a Deus é este: ver a Deus é segui-Lo para
onde Ele conduzir. [...]
Com efeito, aquele que não conhece o caminho não pode viajar em segurança se não seguir
o guia. Este o precede, mostrando-lhe o caminho; por isso, quem o segue não se desviará do
caminho se se mantiver virado para as costas daquele que o conduz. Com efeito, se se
deixar ir ao lado ou de frente para o guia tomará uma via diferente da indicada. Por isso,
Deus diz àquele a quem conduz: «Não poderás ver a Minha face», o que significa: «não
olhes de frente o teu guia», porque, se assim fizesses, correrias num sentido que Lhe é
contrário. [...] Como vês, é importante aprender a seguir a Deus: para aquele que assim O
segue nenhuma contradição do mal se poderá opor ao seu caminhar.
Mc.(12,18-27) - p.1338 – DDPS – Os saduceus e a ressurreição
18.Ora, vieram ter com ele os saduceus, que afirmam não haver ressurreição, e perguntaram-lhe:
19.Mestre, Moisés prescreveu-nos: Se morrer o irmão de alguém, e deixar mulher sem filhos, seu irmão
despo-se a viúva e suscite posteridade a seu irmão.
20.Ora, havia sete irmãos; o primeiro casou e morreu sem deixar descendência.
21.Então o segundo desposou a viúva, e morreu sem deixar posteridade. Do mesmo modo o terceiro.
22.E assim tomaram-na os sete, e não deixaram filhos. Por último, morreu também a mulher.
23.Na ressurreição, a quem destes pertencerá a mulher? Pois os sete a tiveram por mulher.
24.Jesus respondeu-lhes: Errais, não compreendendo as Escrituras nem o poder de Deus.
25.Na ressurreição dos mortos, os homens não tomarão mulheres, nem as mulheres, maridos, mas serão como
os anjos nos céus.
26.Mas quanto à ressurreição dos mortos, não lestes no livro de Moisés como Deus lhe falou da sarça,
dizendo: Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó (Êx 3, 6)?
27.Ele não é Deus de mortos, senão de vivos. Portanto, estais muito errados.
Comentário feito por:
Santo Anastácio de Antioquia, monge, depois patriarca de Antioquia de 549-570 e de 593599
Homilia 5, sobre a Ressurreição; PG 89, 1358
«Ele não é o Deus dos mortos, mas dos vivos»
«Cristo conheceu a morte, depois a vida, para se tornar o Senhor, tanto dos mortos como
dos vivos» (Rm.14,9); «Deus não é o Deus dos mortos, é o Deus dos vivos». Dado que o
Senhor dos mortos está vivo, os mortos já não estão mortos, mas vivos; a vida reina neles,
para que vivam e deixem de temer a morte, do mesmo modo que «Cristo ressuscitado dos
mortos, já não morre» (Rom 6,9). Ressuscitados e libertados da corrupção, já não verão a
morte; participarão da ressurreição de Cristo, como Ele próprio teve lugar na sua morte.
Com efeito, se Ele veio à terra, até então prisão eterna, foi para «quebrar as portas de
bronze e despedaçar os ferrolhos de ferro» (Is 45,2), para retirar a nossa vida da corrupção,
conduzindo-a para Ele, e dar-nos a liberdade em vez da escravidão.
Se este plano de salvação ainda não está realizado, porque os homens continuam a morrer e
os seus corpos são desagregados pela morte, isso não deve ser motivo de incredulidade.
Recebemos já os primeiros frutos daquilo que nos é prometido, na pessoa dAquele que é o
nosso primogênito... : «Com Ele, ressuscitou-nos; com Ele, fez-nos reinar nos céus, em
Cristo Jesus» (Ef.2,6). Esperaremos pela plena realização desta promessa quando chegar o
tempo fixado pelo Pai, quando sairmos da infância e tivermos chegado «ao estado de
homem perfeito» (Ef.4, 13). É que o Pai eterno quis que a dádiva que nos fez permaneça
firme... O apóstolo Paulo declarou-o, pois ele sabia-o bem, isso acontecerá a todo o gênero
humano, por Cristo, que «transfigurará os nossos pobres corpos à imagem do seu corpo
glorioso»(Fl.3,21)... O corpo glorioso de Cristo não é diferente do corpo «semeado na
fraqueza, desprezível» ( 1Co.15, 43); é o mesmo corpo, transformado em glória. E o que
Cristo realizou conduzindo ao Pai a sua própria humanidade, primeiro exemplar da nossa
natureza, fá-lo-á para toda a humanidade segundo a sua promessa: «Quando eu tiver sido
elevado da terra, atrairei a mim todos os homens» (Jo 12, 32).
Mc.(12,28b-34) – p.1338 – DDPS
28.Achegou-se dele um dos escribas que os ouvira discutir e, vendo que lhes respondera bem, indagou dele:
Qual é o primeiro de todos os mandamentos?
29.Jesus respondeu-lhe: O primeiro de todos os mandamentos é este: Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o
único Senhor;
30.amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu espírito e de todas as
tuas forças.
31.Eis aqui o segundo: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Outro mandamento maior do que estes não
existe.
32.Disse-lhe o escriba: Perfeitamente, Mestre, disseste bem que Deus é um só e que não há outro além dele.
33.E amá-lo de todo o coração, de todo o pensamento, de toda a alma e de todas as forças, e amar o próximo
como a si mesmo, excede a todos os holocaustos e sacrifícios.
34.Vendo Jesus que ele falara sabiamente, disse-lhe: Não estás longe do Reino de Deus. E já ninguém ousava
fazer-lhe perguntas.
Comentário feito por:
Youssef Bousnaya (c. 869-979), monge sírio
Vida e doutrina de Rabban Youssef Bousnaya por Jean Bar Kaldoum
Amor dos homens, amor de Deus
Meu filho, aplica-te com toda a tua alma em adquirir o amor dos homens, no qual e pelo
qual te elevarás ao amor de Deus que é o fim de todos os fins. Vãos são todos os trabalhos
que não forem realizados na caridade. Todas as boas obras e todos os labores conduzem o
homem até à porta do palácio real; mas é o amor que nos faz lá morar e repousar no seio de
Cristo (Jo.13,25).
Meu filho, que o teu amor não seja repartido, dividido, interesseiro, mas espalhado em toda
a parte, com vista a Deus, desinteressado. Cristo dar-te-á o conhecimento para entenderes o
mistério desta palavra. Ama todos os homens como a ti mesmo; melhor ainda, ama o teu
irmão mais do que a ti próprio; não busques apenas o que te convém a ti, mas o que é útil
ao teu irmão. Despreza-te a ti próprio pelo amor do teu próximo, para que Cristo seja
misericordioso e faça de ti um co-herdeiro do seu amor. Guarda-te de desprezares isto. É
que Deus amou-nos primeiro e entregou o seu Filho à morte por nós. « Deus amou de tal
forma o mundo, que entregou por ele o seu Filho único», diz o apóstolo João, testemunha
da verdade (Jo.3,16). Aquele que caminha nesta senda de amor, graças ao seu labor,
chegará prontamente à morada que é o objetivo dos seus esforços. Não penses, pois, meu
filho, que o homem poderá adquirir o amor de Deus, que nos é dado pela sua graça, antes
de amar os seus irmãos em humanidade.
Mc.(12,35-37) – p.1339 - DDPS
35.Continuava Jesus a ensinar no templo e propôs esta questão: Como dizem os escribas que Cristo é o filho
de Davi?
36.Pois o mesmo Davi diz, inspirado pelo Espírito Santo: Disse o Senhor a meu Senhor: senta-te à minha
direita, até que eu ponha os teus inimigos sob os teus pés (Sal 109,1).
37.Ora, se o próprio Davi o chama Senhor, como então é ele seu filho? E a grande multidão ouvia-o com
satisfação.
Comentário feito por:
São Leão Magno ( ? – c. 461), papa e doutor da Igreja
1º sermão para a Natividade do Senhor (trad. breviário)
Filho de David e Senhor dos senhores
Da casa real de David foi escolhida uma virgem para em seu seio carregar uma criança
santa, filho simultaneamente divino e humano [...] O Verbo, a Palavra de Deus, que é o
próprio Deus, o Filho de Deus que no «princípio estava em Deus, por Ele é que tudo
começou a existir e sem Ele nada veio à existência» (Jo.1,1-3); esse Filho fez-se homem
para libertar o homem da morte eterna. Ele desceu até à humildade da nossa condição sem
que com isso a sua majestade tivesse sido diminuída. Mantendo-se o que era e assumindo o
que não era, uniu uma verdadeira natureza de servo à natureza segundo a qual é igual ao
Pai. Ele juntou tão estreitamente estas duas naturezas que nem a sua glória poderá aniquilar
a natureza inferior, nem a união com esta aviltar a natureza superior.
O que é próprio de cada natureza mantém-se integralmente, e reúne-se numa única pessoa:
a humildade é acolhida pela sua majestade, a fraqueza pela força, a mortalidade pela
eternidade. Para pagar a dívida da nossa condição, a natureza intangível une-se à natureza
capaz de sofrer; Deus verdadeiro e homem verdadeiro associam-se na unidade de um só
Senhor Jesus. Assim, e porque tal Lhe era preciso para nos salvar, o único «mediador entre
Deus e os homens» (1tm. 2,5) poderia morrer pela ação dos homens, e ressuscitar pela ação
de Deus [...]
Tal foi, meus bem-amados, o nascimento que conveio a Cristo, «poder e sabedoria de
Deus» (1 Cor 1,24). Por esse nascimento, deu-se à humanidade, conservando a
preeminência da sua divindade. Se não fosse Deus verdadeiro, não nos traria a salvação. Se
não fosse homem verdadeiro, não nos daria o exemplo.
Mc.(12,38-44) – p.1339 - DDPS
38.Ele lhes dizia em sua doutrina: Guardai-vos dos escribas que gostam de andar com roupas compridas, de
ser cumprimentados nas praças públicas
39.e de sentar-se nas primeiras cadeiras nas sinagogas e nos primeiros lugares nos banquetes.
40.Eles devoram os bens das viúvas e dão aparência de longas orações. Estes terão um juízo mais rigoroso.
41.Jesus sentou-se defronte do cofre de esmola e observava como o povo deitava dinheiro nele; muitos ricos
depositavam grandes quantias.
42.Chegando uma pobre viúva, lançou duas pequenas moedas, no valor de apenas um quadrante.
43.E ele chamou os seus discípulos e disse-lhes: Em verdade vos digo: esta pobre viúva deitou mais do que
todos os que lançaram no cofre,
44.porque todos deitaram do que tinham em abundância; esta, porém, pôs, da sua indigência, tudo o que tinha
para o seu sustento.
Comentário feito por:
Santa Teresa do Menino Jesus (1873-1897), carmelita, doutora da Igreja
Manuscrito autobiográfico B, 1 (trad. De OC, Cerf DDB 1996, p.219)
«Ela, da sua penúria, deitou tudo quanto possuía»
«Quero fazer-te ler no livro da vida, onde está contida a ciência do Amor». Oh, sim, a
ciência do amor! Esta palavra soa-me docemente ao ouvido da alma, e eu não desejo outra
coisa; por essa sabedoria, e mesmo tendo dado todas as minhas riquezas, parece-me, como
a esposa [do Cântico] dos Cânticos, nada ter dado (Ct 8,7), afinal. Compreendo tão bem
que só o amor nos pode tornar agradáveis ao Bom Deus, que este amor é o único bem que
ambiciono.
Jesus compraz-se em mostrar-me o único caminho que conduz a esta fornalha divina; esse
caminho é o abandono da criança que adormece sem receio nos braços do seu Pai. «Quem
for simples venha a mim», disse o Espírito Santo pela boca de Salomão (Pr.9,4) e o mesmo
Espírito de amor disse ainda que «o pequeno encontrará misericórdia» (Sb.6,6). Em seu
nome, o profeta Isaías revelou-nos que no último dia O Senhor «é como um pastor que
apascenta o rebanho, reúne-o com o cajado na mão, leva os cordeiros ao colo e faz repousar
as ovelhas que têm crias » (Is 40,11) [...].
Ah, se todas as almas fracas e imperfeitas sentissem o que sente a menor de todas as almas
da vossa Teresinha, nem uma desesperaria por chegar ao cimo da montanha do amor, pois
Jesus não pede grandes ações, pede só abandono e reconhecimento. Ele disse no salmo 49:
«Não reivindico os novilhos da tua casa, nem os cabritos dos teus currais; pois são meus
todos os animais dos bosques, e os que se encontram nos altos montes [...] Honra-Me quem
oferece o sacrifício do louvor». Eis portanto tudo o que Jesus nos exige: Ele não precisa das
nossas obras, apenas do nosso amor. Porque este mesmo Deus que declara não precisar já
de nos dizer se tem fome (Sl.49) não temeu em mendigar um pouco de água à Samaritana
(Jo.4,7). Ele tinha sede [...] Tinha sede de amor. Ah, sinto-o como nunca, Jesus está
sedento, só encontra ingratos e indiferentes entre os discípulos do mundo. E entre os seus
próprios discípulos, são poucos, ai!, os corações que encontra capazes de a Si se entregarem
sem reserva, capazes de compreenderem toda a ternura do seu amor infinito.
Mc.(13,33-37) – p.1338.9 - DDPS
33.Ficai de sobreaviso, vigiai; porque não sabeis quando será o tempo.
34.Será como um homem que, partindo em viagem, deixa a sua casa e delega sua autoridade aos seus servos,
indicando o trabalho de cada um, e manda ao porteiro que vigie.
35.Vigiai, pois, visto que não sabeis quando o senhor da casa voltará, se à tarde, se à meia-noite, se ao cantar
do galo, se pela manhã,
36.para que, vindo de repente, não vos encontre dormindo.
37.O que vos digo, digo a todos: vigiai!
Comentário feito por:
S. Pascácio Radberto (? - c. 849), monge beneditino
Comentário sobre o evangelho de Mateus 11, 24 ; PL 120, 799 (trad. Delhougne, Les Pères
commentent, p. 14)
"Tendo cuidado e vigiai: porque não sabeis quando virá o tempo"
É preciso termos sempre em consideração uma dupla vinda de Cristo: uma, quando Ele vier
e nós tivermos de prestar contas de tudo o que tivermos feito; a outra, quotidiana, quando
Ele visita sem cessar a nossa consciência e vem a nós a fim de nos encontrar prontos por
ocasião da sua vinda definitiva. Com efeito, para que me serve conhecer o dia do juízo, se
estou consciente de tantos pecados? Saber que o Senhor vem, se Ele não vier primeiro ao
meu coração, se não entrar no meu espírito, se Cristo não viver e não falar em mim? Então
sim, é bom que Cristo venha se, antes de tudo, Ele vive em mim e eu nele. Para mim, é
como se a segunda vinda se tivesse já realizado, uma vez que o desaparecimento do mundo
já ocorreu em mim, porque de certa forma posso dizer: "O mundo está crucificado para
mim e eu para o mundo" (Ga.6,14).
Refleti também sobre esta palavra de Jesus: "Muitos virão em meu nome" (Mt.24,5). Só o
Anticristo se apodera deste nome, ainda que isso seja para nos enganar... Em nenhuma
passagem da Escritura encontrareis que o Senhor tenha declarado: "Eu sou Cristo". Porque
lhe bastava mostrar que o era, pelos seus ensinamentos e pelos seus milagres, uma vez que
o Pai agia com Ele. O ensino da sua palavra e o seu poder gritavam: "Eu sou Cristo", com
mais força do que milhares de vozes teriam gritado. Portanto, não sei se podereis achar que
Ele o tenha dito em palavras, mas mostrou-o "cumprindo as obras do Pai" (Jo.5,36) e
ministrando um ensino impregnado de piedade filial. Os falsos messias, que são disso
desprovidos, só podem usar os seus discursos para suportar as suas pretensões enganadoras.
Lc.(2,36-40)_ - p.1349 - DDPS
36.Havia também uma profetisa chamada Ana, filha de Fanuel, da tribo de Aser; era de idade avançada.
37.Depois de ter vivido sete anos com seu marido desde a sua virgindade, ficara viúva, e agora com oitenta e
quatro anos não se apartava do templo, servindo a Deus noite e dia em jejuns e orações.
38.Chegando ela à mesma hora, louvava a Deus e falava de Jesus a todos aqueles que em Jerusalém
esperavam a libertação.
39.Após terem observado tudo segundo a lei do Senhor, voltaram para a Galiléia, à sua cidade de Nazaré.
40.O menino ia crescendo e se fortificava: estava cheio de sabedoria, e a graça de Deus repousava nele.
Comentário feito por:
Adão de Perseigne (? -1221), Abade cisterciense
Sermão 4 para a Purificação (trad. Pain de Citeaux 26, pp. 15 rev. Tournay)
«Os pais de Jesus foram apresentá-Lo ao Templo»
Que a carne se aproxime do verbo encarnado hoje, para com Ele desaprender o que é a
carne e com Ele aprender a passar, pouco a pouco, da carne ao Espírito. Portanto que nos
aproximemos hoje porque um novo sol brilha mais do que de costume. Até então fechado
em Belém na estreiteza de uma manjedoura e conhecido por um pequeno número de
pessoas, Ele vem agora a Jerusalém, ao Templo do Senhor; é apresentado a mais do que
uma pessoa. Até então, tu, Belém, alegravas-te sozinha com a luz que tinha sido dada a
todos; orgulhosa dum privilégio e de uma notícia inaudita podias rivalizar com o próprio
Oriente pela tua luz. Melhor ainda, coisa inacreditável de se dizer, havia em ti, numa
manjedoura, mais luz do que a que o sol deste mundo pode espalhar, quando nasce. [...]
Mas hoje, o Sol eleva-se para irradiar sobre o mundo. Oferecemos ao Templo de Jerusalém
o Senhor do Templo.
Como são felizes os que se oferecem a Deus tal como Cristo, como uma pomba, no íntimo
de um coração tranqüilo! Esses estão preparados para celebrar com Maria o mistério da
purificação. [...] Não foi a Mãe de Deus que foi purificada neste dia, porque nunca
consentiu no pecado. É o homem, manchado pelo pecado, que hoje é purificado pelo filho
que Ela teve e pela sua consagração voluntária. [...] Foi a nossa purificação que, por Maria,
foi obtida. [...] Se nos abraçarmos com Fé ao fruto das suas entranhas, se nos oferecermos
com Ele no Templo, o mistério que celebramos nos purificará.
A Palavra de Sabedoria inspira palavras e ações.
-A Palavra de Sabedoria também orienta, inspira Jesus onde segue à Palavra de Ciência, a
manifestação da cura.
-Pela Palavra de Ciência, Deus revela a raiz de algo que se passa ou que se passou.
-Pela Palavra de Sabedoria, Deus nos revela como agir, como por em prática a Palavra de
Ciência, como proceder.
-Ela pode se manifestar por meio de uma palavra propriamente dita, por uma palavra
escrita, por uma visão, por uma sensação, emoção ou sonho.
.Lc.(5,33-39) – pg.1353 – DDPS.
33.Eles então lhe disseram: Os discípulos de João e os discípulos dos fariseus jejuam com freqüência e fazem
longas orações, mas os teus comem e bebem...
34.Jesus respondeu-lhes: Porventura podeis vós obrigar a jejuar os amigos do esposo, enquanto o
esposo está com eles?
35.Virão dias em que o esposo lhes será tirado; então jejuarão.
36.Propôs-lhes também esta comparação: Ninguém rasga um pedaço de roupa nova para remendar uma roupa
velha, porque assim estragaria uma roupa nova. Além disso, o remendo novo não assentaria bem na roupa
velha.
37.Também ninguém põe vinho novo em odres velhos; do contrário, o vinho novo arrebentará os odres e
entornar-se-á, e perder-se-ão os odres;
38.mas o vinho novo deve-se pôr em odres novos, e assim ambos se conservam.
39.Demais, ninguém que bebeu do vinho velho quer já do novo, porque diz: O vinho velho é melhor.
Comentário feito por:
João Cassiano (c. 360-435), fundador de mosteiro em Marselha
Sermões
"Podem os convidados da boda jejuar, enquanto o Esposo está com eles?" – (v.34)
Tínhamos deixado a Síria e aproximávamo-nos da província do Egito, desejosos de aí
aprender os princípios dos monges antigos, e espantávamo-nos com a grande cordialidade
com que éramos recebidos. Contrariamente ao que nos tinham ensinado nos mosteiros da
Palestina, não observavam ali a regra de se esperar o momento fixado para as refeições
mas, exceto à quarta e à sexta-feira, onde quer que fôssemos, quebravam o jejum. Um dos
anciãos a quem perguntamos porque é que, entre eles, se omitiam tão freqüentemente os
jejuns quotidianos, respondeu-nos: "O jejum está sempre comigo, mas quanto a vós, de
quem em breve me vou despedir, não poderei guardar-vos constantemente comigo. E o
jejum, embora útil e necessário, é, contudo, a oferenda de um presente voluntário, ao passo
que o cumprimento de uma obra de caridade é a exigência absoluta do preceito. É por isso
que, acolhendo em vós a Cristo, eu devo restabelecê-lo e, depois de me ter despedido de
vós, poderei compensar em mim, através de um jejum mais estrito, a cortesia que vos
manifestei em atenção a Cristo. Na verdade, 'os amigos do Esposo não podem jejuar
enquanto o Esposo está com eles'. Mas, logo que ele se afastar, então poderão fazê-lo".
Lc.(6,39-42) – p.1355 - DDPS
39.Propôs-lhes também esta comparação: Pode acaso um cego guiar outro cego? Não cairão ambos na cova?
40.O discípulo não é superior ao mestre; mas todo discípulo perfeito será como o seu mestre.
41.Por que vês tu o argueiro no olho de teu irmão e não reparas na trave que está no teu olho?
42.Ou como podes dizer a teu irmão: Deixa-me, irmão, tirar de teu olho o argueiro, quando tu não vês a trave
no teu olho? Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho e depois enxergarás para tirar o argueiro do olho de
teu irmão.
Comentário feito por:
S. Cirilo de Alexandria (380-444), bispo, doutor da Igreja
Comentário sobre o Evangelho de Lucas, 6
O discípulo bem formado será como o seu mestre
"O discípulo não está acima do mestre. Será perfeito se for como o mestre". Os bemaventurados discípulos estavam destinados a tornarem-se os guias e os mestres espirituais
da terra inteira. Deviam assim dar provas, mais do que quaisquer outros, de um visível
fervor, estar familiarizados com a maneira de viver segundo o Evangelho e dispostos a
praticar qualquer boa obra. Teriam de transmitir àqueles que instruíssem a doutrina exata,
salutar e estritamente conforma à verdade, depois de primeiramente a terem contemplado e
deixado a luz divina iluminar a sua inteligência. Sem isso, seriam cegos a conduzir outros
cegos. Porque os que estão mergulhados nas trevas da ignorância não podem conduzir ao
conhecimento da verdade os homens que sofrem essa mesma ignorância. Aliás, quereriam
eles que caíssem todos juntos no abismo das suas más tendências?
Foi por isso que o Senhor quis parar a inclinação para a vanglória que se encontra em tantas
pessoas e dissuadi-las de rivalizar com os seus mestres para ultrapassarem a reputação
deles. Disse-lhes: "O discípulo não está acima do mestre". Mesmo se acontecer a alguém
atingir um grau de virtude igual à dos predecessores deverá, sobretudo imitar a modéstia
deles. Paulo dá-nos uma prova disso quando diz: "Mostrai-vos meus imitadores, como eu
próprio
o
sou
de
Cristo"
(1
Co
11,1).
Se é assim, porque julgas, se o Mestre não julga ainda? Porque ele não veio para julgar o
mundo (Jo.12,47), mas para lhe trazer a graça... "Se eu não julgo, disse ele, não julgues
também tu, que és meu discípulo. Pode acontecer que sejas mais culpado do que aquele que
estás a julgar... Porque reparas na palha que está no olho do teu irmão?"
Lc.(6,43-49) – p.1355 - DDPS
43.Uma árvore boa não dá frutos maus, uma árvore má não dá bom fruto.
44.Porquanto cada árvore se conhece pelo seu fruto. Não se colhem figos dos espinheiros, nem se apanham
uvas dos abrolhos.
45.O homem bom tira coisas boas do bom tesouro do seu coração, e o homem mau tira coisas más do seu mau
tesouro, porque a boca fala daquilo de que o coração está cheio.
46.Por que me chamais: Senhor, Senhor... e não fazeis o que digo?
47.Todo aquele que vem a mim ouve as minhas palavras e as pratica, eu vos mostrarei a quem é semelhante.
48.É semelhante ao homem que, edificando uma casa, cavou bem fundo e pôs os alicerces sobre a rocha. As
águas transbordaram, precipitaram-se as torrentes contra aquela casa e não a puderam abalar, porque ela
estava bem construída.
49.Mas aquele que as ouve e não as observa é semelhante ao homem que construiu a sua casa sobre a terra
movediça, sem alicerces. A torrente investiu contra ela, e ela logo ruiu; e grande foi a ruína daquela casa.
Comentário feito por:
Santo Ireneu de Lyon (c. 130 - c 208), bispo, teólogo e mártir
Contra as Heresias III, 24, 1-2
Assentar os alicerces sobre a rocha
A pregação da Igreja apresenta, sob todos os aspectos, uma solidez inabalável; permanece
idêntica a si mesma e beneficia do testemunho dos profetas, dos apóstolos e de todos os
seus discípulos, testemunho que engloba "o começo, o meio e o fim", a totalidade do
desígnio de Deus infalivelmente ordenada para a salvação do homem e pedra angular da
nossa fé. Por isso, nós guardamos com cuidado essa fé que recebemos da Igreja... Com
efeito, foi à Igreja que foi confiado o "dom de Deus" (Jo.4,10) - assim como o sopro tinha
sido confiado à primeira obra que Deus modelou, Adão (Gn.2,7) - a fim de que todos os
membros da Igreja possam dele participar e por ele ser vivificados. Nela é que foi
depositada a comunhão com Cristo, isto é, o Espírito Santo, penhor do dom da
incorruptibilidade, confirmação da nossa fé e escada para a nossa ascensão até Deus: "Na
Igreja, escreve S. Paulo, Deus colocou apóstolos, profetas, doutores" e todos os outros, por
ação do Espírito (1 Co 12,28.11).
Onde estiver a Igreja, está também o Espírito Santo; e onde está o Espírito de Deus, está
também a Igreja e toda a graça. E o Espírito é Verdade (1 Jo.5,6). É por isso que aqueles
que se excluem do Espírito deixam de se alimentar no seio de sua Mãe para receber a vida e
de participar da fonte límpida que brota do corpo de Cristo (Jo.7,37), mas, pelo contrário,
"constroem para si cisternas quebradas" (Jr 2,13)... Tornando-se estrangeiros à verdade, é
fatal que persistam no erro e sejam sacudidos por ele, que... não tenham nunca uma
doutrina firmemente estabelecida, uma vez que preferem ser argumentadores de palavras
mais do que discípulos da verdade. Porque não se alicerçam na única Rocha mas, na areia
.Lc.(7,36-8,3) – pg.13567 – DDPS
36.Um fariseu convidou Jesus a ir comer com ele. Jesus entrou na casa dele e pôs-se à mesa.
37.Uma mulher pecadora da cidade, quando soube que estava à mesa em casa do fariseu, trouxe um vaso de
alabastro cheio de perfume;
38.e, estando a seus pés, por detrás dele, começou a chorar. Pouco depois suas lágrimas banhavam os pés do
Senhor e ela os enxugava com os cabelos, beijava-os e os ungia com o perfume.
39.Ao presenciar isto, o fariseu, que o tinha convidado, dizia consigo mesmo: Se este homem fosse profeta,
bem saberia quem e qual é a mulher que o toca, pois é pecadora.
40.Então Jesus lhe disse: Simão, tenho uma coisa a dizer-te. Fala, Mestre, disse ele.
41.Um credor tinha dois devedores: um lhe devia quinhentos denários e o outro, cinqüenta.
42.Não tendo eles com que pagar, perdoou a ambos a sua dívida. Qual deles o amará mais?
43.Simão respondeu: A meu ver, aquele a quem ele mais perdoou. Jesus replicou-lhe: Julgaste bem.
44.E voltando-se para a mulher, disse a Simão: Vês esta mulher? Entrei em tua casa e não me deste água para
lavar os pés; mas esta, com as suas lágrimas, regou-me os pés e enxugou-os com os seus cabelos.
45.Não me deste o ósculo; mas esta, desde que entrou, não cessou de beijar-me os pés.
46.Não me ungiste a cabeça com óleo; mas esta, com perfume, ungiu-me os pés.
47.Por isso te digo: seus numerosos pecados lhe foram perdoados, porque ela tem demonstrado muito amor.
Mas ao que pouco se perdoa, pouco ama.
48.E disse a ela: Perdoados te são os pecados.
49.Os que estavam com ele à mesa começaram a dizer, então: Quem é este homem que até perdoa pecados?
50.Mas Jesus, dirigindo-se à mulher, disse-lhe: Tua fé te salvou; vai em paz.
São Lucas, 8
1.Depois disso, Jesus andava pelas cidades e aldeias anunciando a boa nova do Reino de Deus.
2.Os Doze estavam com ele, como também algumas mulheres que tinham sido livradas de espíritos
malignos e curadas de enfermidades: Maria, chamada Madalena, da qual tinham saído sete demônios;
3.Joana, mulher de Cuza, procurador de Herodes; Susana e muitas outras, que o assistiram com as suas
posses.
Comentário feito por:
Santo Ambrósio (cerca 340-397), bispo de Milão e doutor da Igreja
A Penitência, II, 8
“A tua fé te salvou. Vai em paz” – (v.50)
“Não são os que têm saúde que precisam de médico, mas sim os doentes” (Mt.9,12).
Mostra portanto, ao médico a tua ferida, para poderes ser curado. Mesmo se tu não a
mostrares, ele conhece-a, mas ele exige de ti que tu o faças ouvir a tua voz. Limpa as tuas
feridas com as tuas lágrimas. Foi assim que esta mulher da qual fala o evangelho se
desembaraçou do seu pecado e da má reputação do seu desvio; foi assim que ela se
purificou da sua falta, lavando os pés de Jesus com as suas lágrimas.
Possas tu reservar também para mim, Jesus, o desvelo de lavar os teus pés, que tu sujaste
enquanto caminhavas em mim!... Mas onde encontrarei eu a água viva com a qual poderei
lavar os teus pés? Se não tenho água, tenho as minhas lágrimas. Fazei que lavando os teus
pés com elas, eu possa purificar-me a mim próprio! Como fazer de modo que digas de
mim: “Os seus numerosos pecados são-lhe perdoados, porque ela amou muito”? Confesso
que a minha dívida é considerável e que “já fui resgatado”, eu que fui arrancado do barulho
das querelas da praça pública e das responsabilidades do governo para ser chamado ao
sacerdócio. Por consequência, eu temo ser considerado um ingrato se amo menos, dado que
ele já me resgatou.
Não me posso comparar à importância dessa mulher que foi justamente preferida ao fariseu
Simão que recebia o Senhor em sua casa. Entretanto, a todos os que quiserem merecer o
perdão, ela dá uma instrução, beijando os pés de Cristo, lavando-os com as suas lágrimas,
enxugando-os com os seus cabelos, ungindo-os com perfume… se não a podemos igualar,
o Senhor Jesus sabe vir em socorro dos fracos. Onde não há ninguém que saiba preparar
uma refeição, levar o perfume, trazer consigo uma fonte de água viva (Jo.4,10), vem ele
próprio.
Lc.(8,16-18) – p.1357 - DDPS
16.Ninguém acende uma lâmpada e a cobre com um vaso ou a põe debaixo da cama; mas a põe sobre um
castiçal, para iluminar os que entram.
17.Porque não há coisa oculta que não acabe por se manifestar, nem secreta que não venha a ser descoberta.
18.Vede, pois, como é que ouvis. Porque ao que tiver, lhe será dado; e ao que não tiver, até aquilo que
julga ter lhe será tirado.
Comentário feito por:
Bem aventurada Teresa de Calcutá (1910-1997), fundadora das Irmãs Missionárias da
Caridade
No Greater Love (trad. Não há amor maior)
«Prestai atenção ao modo como escutais»
Escuta em silêncio. Porque o teu coração transborda com um milhão de coisas, tu não
podes escutar nele a voz de Deus. Mas assim que te pões à escuta da voz de Deus no teu
coração pacificado, ele enche-se de Deus. Isso requer muitos sacrifícios. Se pensarmos que
queremos rezar, temos de nos preparar para isso. Sem desfalecimento. Não são senão as
primeiras etapas em direção à oração, mas se não as concluímos com determinação, nunca
alcançaremos a última etapa, a presença de Deus.
É por isso que a aprendizagem deve ser feita desde o início: colocar-se à escuta da voz de
Deus no seu coração; e, no silêncio do coração, Deus põe-se a falar. Depois, da plenitude
do coração sobe o que a boca deve dizer. Aí opera-se a fusão. No silêncio do coração, Deus
fala e tu só tens que escutar. Depois, uma vez que o teu coração entra em plenitude, porque
ele se encontra repleto de Deus, repleto de amor, repleto de compaixão, repleto de fé,
compete à tua boca pronunciar-se.
Lembra-te, antes de falares, que é necessário escutar e só então, das profundezas de um
coração aberto, podes falar e Deus entende-te.
Comentário feito por:
S. Teodoro Estudita (759-826), monge em Constantinopla
Homilia 2 para a Natividade de Maria, 4, 7; PG 96, 683s
«Uma semente caiu em boa terra»
É a Maria, creio, que se dirige o profeta Joel, ao dizer: «Não temas, tu, a terra; canta e
rejubila, porque o Senhor faz grandes coisas» (2,21). Porque Maria é a terra: a terra onde
Moisés, homem de Deus, recebeu ordem para tirar as sandálias dos pés (Ex 3,5), uma
imagem da Lei que a graça virá substituir. Ela é também a terra onde, pelo Espírito Santo,
se fixou Aquele acerca de quem cantamos que «fundou a terra sobre bases sólidas»
(Sl.103,5). É uma terra que, sem ter sido semeada, faz brotar o fruto que dá alimento a todo
o ser vivo (Sl.135,25). Uma terra onde não cresceu o espinheiro do pecado: pelo contrário,
nela nasceu quem desde a raiz o arrancou. Terra que é, enfim, não maldita, como a
primeira, de campos onde abundavam espinhos e abrolhos (Jim.3,18), mas sobre a qual
repousa a bênção do Senhor, e que traz em seu seio um «fruto bendito», como diz a palavra
sagrada (Lc 1,42). [...]
Exulta pois, Maria, casa do Senhor, terra que Deus marcou com seus passos [...]. Exulta,
paraíso mais feliz que o jardim do Éden, onde toda a virtude germinou e onde cresceu a
árvore da Vida.
(Lc.8,16-18) – pg.1357 – Cristo a lâmpada – DDPS.
16.Ninguém acende uma lâmpada e a cobre com um vaso ou a põe debaixo da cama; mas a põe sobre um
castiçal, para iluminar os que entram.
17.Porque não há coisa oculta que não acabe por se manifestar, nem secreta que não venha a ser descoberta.
18.Vede, pois, como é que ouvis. Porque ao que tiver, lhe será dado; e ao que não tiver, até aquilo que
julga ter lhe será tirado.
Comentário feito por:
S. Máximo Confessor (cerca de 580 - 662), monge e teólogo
Pergunta 63 a Talássio
"Uma lâmpada para os meus passos é a tua palavra, uma luz no meu caminho" (Sl.118,105)
A lâmpada no lampadário é nosso Senhor Jesus Cristo, a verdadeira luz do Pai "que ilumina
todo o homem que vem a este mundo" (Jo.1,9). Dito de outra forma, é a Sabedoria e a
Palavra do Pai; tendo aceitado a nossa carne, tornou-se realmente e foi chamado a "luz" do
mundo. É celebrado e exaltado na Igreja pela nossa fé e pela nossa piedade. Torna-se assim
visível a todas as nações e brilha para "todos os da casa", isto é, para o mundo inteiro, tal
como é dito nas suas palavras: "Não se acende uma candeia para pô-la debaixo de um vaso
mas no candelabro onde brilhe para todos os da casa" (Mt.5,15).
Como se vê, Cristo designa-se a si mesmo como lâmpada. Sendo Deus por natureza,
tornou-se carne no plano da salvação, uma luz escondida na carne, tal como debaixo de um
vaso... Era nisto que David pensava quando dizia: "Uma lâmpada para os meus passos é a
tua palavra, uma luz no meu caminho" (Sl 118,105). Porque faz desaparecer as trevas da
ignorância e do mal entre os homens, o meu Salvador e Deus é chamado lâmpada na
Sagrada Escritura. Porque é o único a poder aniquilar as trevas da ignorância e a dissipar a
escuridão do pecado, tornou-se para todos caminho de salvação. Conduz junto do Pai
aqueles que, pelo conhecimento e pela virtude, avançam com ele pelo caminho dos
mandamentos, considerado caminho da justiça.
O lampadário é a Santa Igreja porque o Verbo de Deus brilha por causa da sua pregação. É
deste modo que os raios da sua verdade podem iluminar o mundo inteiro... Mas com uma
condição: não a esconder sob a letra da lei. Todo aquele que fica preso apenas à letra da
Escritura vive segundo a carne: põe a lâmpada debaixo do vaso. Pelo contrário, colocada no
lampadário, a Igreja ilumina todos os homens.
(Lc.8,16-18) - pg.1357 – DDPS
Comentário feito por:
Sermão atribuído a Sto. Agostinho (354-430), bispo de Hipona (Norte de África) e doutor
da igreja
Cf. Discurso sobre o salmo 139,15; Sermões sobre S. João, nº 57
"Prestai atenção à forma como escutais" – (v.18)
«Que cada um esteja sempre pronto para escutar, mas lento para falar» (Ti 1,19). Sim,
irmãos, digo-vos francamente..., eu que muitas vezes vos falo a vosso pedido: a minha
alegria é sem mancha quando me sento entre os ouvintes; a minha alegria é sem mancha
quando escuto e não quando falo. É então que eu saboreio a palavra com toda a segurança;
a minha satisfação não é ameaçada pela vanglória. Quando estamos sentados sobre a pedra
sólida da verdade, como se recearia o precipício do orgulho? «Escutarei, diz o salmista, e
encher-me-ás de alegria e de júbilo» (Sl.50,10). Nunca fico mais alegre do que quando
escuto; é o nosso papel de ouvinte que nos mantém numa atitude de humildade.
Pelo contrário, quando tomamos a palavra... precisamos de uma certa retenção; mesmo se
não cedo ao orgulho, tenho medo de o fazer. Mas, se escuto, ninguém pode roubar a minha
alegria (Jo.16,22) porque ninguém é testemunha dela. É verdadeiramente a alegria do
amigo do esposo de quem S. João diz que «fica de pé e escuta» (Jo.3,29). Fica de pé porque
escuta. O primeiro homem, também, quando escutava Deus, ficava de pé; quando escutou a
serpente, caiu. O amigo de esposo fica, pois, «transbordante de alegria à voz do Esposo»; o
que faz a sua alegria não é a sua voz de pregador ou de profeta, mas a voz do próprio
Esposo.
Lc.(10,1-9) – p.1361 – DDPS
1.Depois disso, designou o Senhor ainda setenta e dois outros discípulos e mandou-os, dois a dois, adiante de
si, por todas as cidades e lugares para onde ele tinha de ir.
2.Disse-lhes: Grande é a messe, mas poucos são os operários. Rogai ao Senhor da messe que mande operários
para a sua messe.
3.Ide; eis que vos envio como cordeiros entre lobos.
4.Não leveis bolsa nem mochila, nem calçado e a ninguém saudeis pelo caminho.
5.Em toda casa em que entrardes, dizei primeiro: Paz a esta casa!
6.Se ali houver algum homem pacífico, repousará sobre ele a vossa paz; mas, se não houver, ela tornará para
vós.
7.Permanecei na mesma casa, comei e bebei do que eles tiverem, pois o operário é digno do seu salário. Não
andeis de casa em casa.
8.Em qualquer cidade em que entrardes e vos receberem, comei o que se vos servir.
9.Curai os enfermos que nela houver e dizei-lhes: O Reino de Deus está próximo.
Comentário feito por:
Cardeal John Henry Newman (1801-1890), padre, fundador de comunidade religiosa,
teólogo
PPS, vol. 3, n.º 22 : «A parte escolhida por Maria»
São Lucas, evangelista, «servidor da Palavra» (Lc 1,2)
Boa é toda a palavra de Cristo: ela tem uma missão e finalidade, ela não cai por terra. É
impossível que em vez alguma tenha pronunciado palavras efêmeras, Ele, o Verbo de Deus,
que por seu próprio desejo exprimiu os conselhos profundos e a vontade santa do Deus
invisível. Toda a palavra de Cristo é boa. Mesmo se os seus propósitos tiverem sido
transmitidos por pessoas comuns, podemos estar certos de que nada do que nos foi
conservado – sejam palavras dirigidas a um discípulo ou a um opositor, sejam conselhos,
ou opiniões, sejam reprimendas, ou palavras de consolação, de persuasão ou de condenação
– nada, em todas elas, terá uma significação puramente acidental, um alcance limitado ou
parcial [...].
Pelo contrário, todas as palavras sagradas de Cristo, mesmo quando nos surgem revestidas
de uma aparência temporária e dirigidas a um fim imediato - sendo difíceis portanto,
porque há que nelas lograr perceber o que têm de momentâneo e de contingente - mesmo
assim, elas nada perdem da sua força, a cada século que passa. Pertencendo à Igreja, estão
destinadas a durar para sempre nos céus (cf. Mt.24,35); prolongam-se até è eternidade. São
a nossa regra santa, justa e boa, palavras que são «farol para os meus passos e luz para os
meus caminhos» (Sl.118,105), na mesma plenitude e de forma tão íntima, no nosso tempo,
como quando pela primeira vez foram pronunciadas.
Tudo isto terá sido verdadeiro, mesmo aceitando-se ter sido obra humana a recolha destas
migalhas da mesa de Cristo. Mas temos uma certeza muito maior, porque as recebemos não
dos homens, mas de Deus (1Ts.2,13). O Espírito Santo, que veio glorificar Cristo e dar aos
evangelistas a inspiração da escrita, não nos traçou um Evangelho estéril. Louvado seja por
ter escolhido e salvo para nós palavras que deveriam ser particularmente úteis aos tempos
vindouros, as palavras que podiam servir de lei à Igreja, para a fé, para a moral e para a
disciplina. Não uma lei escrita em tábuas de pedra (Ex 24,12), mas uma lei de fé e de amor,
de espírito, e não de letras (Rm.7,6), uma lei para corações generosos que aceitam «viver da
palavra», por mais modesta e humilde que seja, uma lei «que sai da boca de Deus» (Dt.8,3;
Mt 4,4).
Lc.(11,29-32) – pg.1363 – DDPS – Blasfêmia dos fariseus. Jesus recusa um prodígio.
29.Afluía o povo e ele continuou: Esta geração é uma geração perversa; pede um sinal, mas não se lhe dará
outro sinal senão o sinal do profeta Jonas.
30.Pois, como Jonas foi um sinal para os ninivitas, assim o Filho do Homem o será para esta geração.
31.A rainha do meio-dia levantar-se-á no dia do juízo para condenar os homens desta geração, porque ela veio
dos confins da terra ouvir a sabedoria de Salomão! Ora, aqui está quem é mais que Salomão.
32.Os ninivitas levantar-se-ão no dia do juízo para condenar os homens desta geração, porque fizeram
penitência com a pregação de Jonas. Ora, aqui está quem é mais do que Jonas
Comentário feito por:
São Romano, o Melodista (? – c. 560), compositor de hinos
Hino 51
«Os Ninivitas converteram-se em resposta à pregação de Jonas; ora aqui está quem é maior
que Jonas» -(v.32)
Abre, Senhor, abre-me a porta da tua misericórdia antes da minha hora de partir (Mt.25,11).
Porque eu tenho de partir, de ir até Ti e de me justificar de tudo o que eu digo em palavras,
do que faço em ações e dos pensamentos que guardo no meu coração. «Mesmo o rumor das
murmurações não escapará ao teu ouvido» (Sb.1,10). David diz-Te no seu salmo: «Os teus
olhos viram-me em embrião, no teu livro está tudo escrito« (Sl.138, 13.16). Ao leres nele as
marcas das minhas más ações, grava-as na tua cruz, pois é nela que eu me glorifico
(Ga.6,14), gritando-Te: «Abre-nos a porta» […]
O espírito endureceu-se-nos a tal ponto que, quando ouvimos falar das calamidades que
aconteceram a alguém, em nada nos corrigimos (Lc.13,1s). «Não há quem seja sensato,
quem procure a Deus; estamos extraviados, estamos pervertidos» (Sl.13,2-3). Os Ninivitas,
naquele tempo, arrependeram-se a um único apelo do profeta. Mas, nós, não
compreendemos apelo nem ameaça. Com suas lágrimas, Ezequias pôs em fuga os Assírios
suscitando contra eles a justiça do alto (2 Rs.19). Ora eis que os Assírios […] nos puseram
cativos, e não choramos nem gritamos: «Abre-nos a porta».
Divino Senhor, de todos juiz, não esperes que mudemos de atitude; tu não precisas das
nossas boas ações, pois cada um de nós se dedica a más ações pelo pensamento e pela
vontade. Porque é assim, Salvador governa os nossos dias segundo a tua vontade, sem
esperares a nossa conversão, pois talvez ela não se dê. E, ainda que ela venha a acontecer,
será por pouco tempo, não persistirá até ao fim. Como a semente que cai entre as pedras,
como a erva nos telhados, ela secará sem chegar a crescer (Mc 4,5 ; Sl.128,6). Estende pois
a tua misericórdia sobre nós e todos os que pedem: «Abre-nos a porta».
Lc.(11,29-32) – p.1363 - DDPS
29.Afluía o povo e ele continuou: Esta geração é uma geração perversa; pede um sinal, mas não se lhe dará
outro sinal senão o sinal do profeta Jonas.
30.Pois, como Jonas foi um sinal para os ninivitas, assim o Filho do Homem o será para esta geração.
31.A rainha do meio-dia levantar-se-á no dia do juízo para condenar os homens desta geração, porque ela veio
dos confins da terra ouvir a sabedoria de Salomão! Ora, aqui está quem é mais que Salomão.
32.Os ninivitas levantar-se-ão no dia do juízo para condenar os homens desta geração, porque fizeram
penitência com a pregação de Jonas. Ora, aqui está quem é mais do que Jonas.
Comentário feito por:
São Justino (c.100 -160), filósofo, mártir
Diálogo com Trífon (34-36)
«Ora aqui está alguém que é maior do que Salomão»
Deixai-me citar um salmo, dito pelo Espírito Santo a David; dizeis que tem a ver com
Salomão, vosso rei, mas tem a ver com Cristo [...]: «Ó Deus, concede ao rei a tua retidão»
(Sl.71,1). Como Salomão se tornou rei, dizeis que é dele que este salmo fala; mas as
palavras do salmo designam nitidamente um rei eterno, que é Cristo. Porque Cristo foi-nos
anunciado como rei, sacerdote, Deus, Senhor, anjo, homem, chefe supremo, pedra, criança
por nascimento, como um ser de dor num primeiro momento, depois como um ser que se
eleva aos céus, e que regressa na glória da sua realeza eterna [...]
«Ó Deus, concede ao rei a tua retidão e a tua justiça ao filho do rei, para que julgue o teu
povo com justiça e os teus pobres com equidade [...] Todos os reis se prostrarão diante dele;
todas as nações o servirão» [...]. Salomão foi um rei grande e ilustre; no seu reinado foi
edificada a casa a que chamamos Templo de Jerusalém, mas é claro que nada do que é dito
no salmo lhe aconteceu. Nenhum rei o adorou nem o seu reino não se estendeu até aos
confins da Terra, os seus inimigos não se curvaram a seus pés para lhes sacudir a poeira [...]
O «Senhor do universo» (Sl 23,10) não é Salomão; é Cristo. Assim que ressuscitou de entre
os mortos e subiu aos céus, ordenou aos príncipes que Deus nomeou no céu «para abrirem
as portas» do céu, a fim de que «Aquele que é o Rei da glória entre» e suba para «se sentar
à direita do Pai, até que ele faça dos inimigos escabelo para seus pés», como é dito noutros
salmos (23,109). Mas quando os príncipes do céu O viram sem figura nem beleza, sem
honra, nem glória (Is 53,2), não O reconheceram e perguntaram: «Quem é esse Rei
glorioso?» (Sl 23,8). O Espírito Santo responde-lhes então: «O Senhor do universo, eis o
Rei glorioso». Com efeito, não é de Salomão, que tanta glória teve enquanto rei [...], que se
pôde dizer: «Quem é ele, esse Rei glorioso?»
Lc.(12,1-7) – p.1364 - DDPS
1.Enquanto isso, os homens se tinham reunido aos milhares em torno de Jesus, de modo que se atropelavam
uns aos outros. Jesus começou a dizer a seus discípulos: Guardai-vos do fermento dos fariseus, que é a
hipocrisia.
2.Porque não há nada oculto que não venha a descobrir-se, e nada há escondido que não venha a ser
conhecido.
3.Pois o que dissestes às escuras será dito à luz; e o que falastes ao ouvido, nos quartos, será publicado de
cima dos telhados.
4.Digo-vos a vós, meus amigos: não tenhais medo daqueles que matam o corpo e depois disto nada mais
podem fazer.
5.Mostrar-vos-ei a quem deveis temer: temei àquele que, depois de matar, tem poder de lançar no inferno;
sim, eu vo-lo digo: temei a este.
6.Não se vendem cinco pardais por dois asses? E, entretanto, nem um só deles passa despercebido diante de
Deus.
7.Até os cabelos da vossa cabeça estão todos contados. Não temais, pois. Mais valor tende vós do que
numerosos pardais.
Comentário feito por:
Papa Bento XVI
Encíclica «Spe Salvi», 27 (trad © copyright Libreria Editrice Vatican)
"Digo-o a vós, meus amigos: Não temais os que matam o corpo"
Neste sentido, é verdade que quem não conhece Deus, mesmo podendo ter muitas
esperanças, no fundo está sem esperança, sem a grande esperança que sustenta toda a vida
(cf. Ef. 2,12). A verdadeira e grande esperança do homem, que resiste apesar de todas as
desilusões, só pode ser Deus – o Deus que nos amou, e ama ainda agora «até ao fim», «até
a plena consumação» (cf. Jo.13,1 e 19,30). Quem é atingido pelo amor começa a intuir em
que consistiria propriamente a «vida». Começa a intuir o significado da palavra de
esperança que encontramos no rito do Batismo: da fé espero a «vida eterna» – a vida
verdadeira que, inteiramente e sem ameaças, em toda a sua plenitude é simplesmente vida.
Jesus, que disse de Si mesmo ter vindo ao mundo para que tenhamos a vida e a tenhamos
em plenitude, em abundância (cf. Jo.10,10), também nos explicou o que significa «vida»:
«A vida eterna consiste nisto: Que Te conheçam a Ti, por único Deus verdadeiro, e a Jesus
Cristo, a Quem enviaste» (Jo.17,3). A vida, no verdadeiro sentido, não a possui cada um em
si próprio sozinho, nem mesmo por si só: aquela é uma relação. E a vida na sua totalidade é
relação com Aquele que é a fonte da vida. Se estivermos em relação com Aquele que não
morre, que é a própria Vida e o próprio Amor, então estamos na vida. Então «vivemos».
(Lc.12,8-12) – pg. 1365 – DDPS – Instruções aos discípulos.
8.Digo-vos: todo o que me reconhecer diante dos homens, também o Filho do Homem o reconhecerá diante
dos anjos de Deus;
9.mas quem me negar diante dos homens será negado diante dos anjos de Deus.
10.Todo aquele que tiver falado contra o Filho do Homem obterá perdão, mas aquele que tiver blasfemado
contra o Espírito Santo não alcançará perdão.
11.Quando, porém, vos levarem às sinagogas, perante os magistrados e as autoridades, não vos
preocupeis com o que haveis de falar em vossa defesa,
12.porque o Espírito Santo vos inspirará naquela hora o que deveis dizer.
Comentário feito por:
Actas dos mártires Carpo, Pailo e Agatónica
Ichtus, vol. 2
"Quem se pronunciar por mim diante dos homens, o Filho do homem pronunciar-se-á
também por ele" – (v.8)
############ Martírio de Carpo ############
No tempo do imperador Décio, Óptimus era procônsul em Pérgamo; o bem-aventurado
Carpo, bispo de Gados, e o diácono Papilo de Tiatira, ambos confessores de Cristo,
compareceram diante dele. O procônsul disse a Carpo:
- Qual é o teu nome?
- O meu primeiro nome, o mais belo, é Cristão. O meu nome no mundo é Carpo.
- Conheces os éditos de César que vos obrigam a sacrificar aos deuses, senhores do mundo,
não é verdade? Ordeno-te que te aproximes e que ofereças um sacrifício.
- Eu sou cristão. Adoro Cristo, filho de Deus, que veio à terra nestes últimos tempos para
nos salvar e nos livrar das armadilhas do demônio. Não vou por isso sacrificar a esses
ídolos.
- Sacrifica aos deuses, como ordena o imperador.
- Morram os deuses que não criaram o céu nem a terra.
- Sacrifica como quer o imperador.
- Os vivos não sacrificam aos mortos.
- Então tu crês que os deuses estão mortos?
- Certamente. E vê como: eles assemelham-se a homens mas estão imóveis. Deixa de cobrilos de honras; como eles não se mexem, os cães e os corvos virão cobri-los de esterco.
- Basta sacrificar. Tem piedade de ti mesmo!
- É mesmo por isso que eu escolho a melhor parte.
A estas palavras, o procônsul mandou que o pendurassem... e lhe rasgassem o corpo com
unhas de ferro...
#############Martírio de Papilo ############
Então o procônsul voltou-se para Papilo, para o interrogar:
- És tu da classe dos notáveis?
- Não.
- Então quem és?
- Sou um cidadão.
- Tens filhos?
- Muitos, graças a Deus.
Uma voz na multidão gritou:
- É aos cristãos que ele chama filhos!
- Porque me estás a mentir, dizendo que tens filhos?
- Repara que eu não minto mas antes falo verdade: em todas as cidades da província, eu
tenho filhos que me foram dados por Deus.
- Oferece um sacrifício ou então explica-te.
- Desde a minha juventude que sirvo a Deus e nunca sacrifiquei aos ídolos; ofereço-me a
mim mesmo em sacrifício ao Deus vivo e verdadeiro que tem poder sobre toda a criatura. E
agora acabei, não tenho mais nada a acrescentar.
Amarraram-no também ao cavalete onde foi rasgado com unhas de ferro. Três equipas de
carrascos se sucederam sem que escapasse uma só queixa a Papilo. Tal como um valoroso
atleta, encarava em profundo silêncio a fúria dos seus inimigos...
O procônsul condenou os dois a serem queimados vivos... No anfiteatro, os espectadores
mais próximos viram que Carpo sorria. Surpreendidos, interrogaram-no:
- Porque sorris?
O bem-aventurado Carpo respondeu:
- Vi a glória do Senhor e rejubilo. Eis-me agora liberto; não conhecerei mais as vossas
misérias.
############ Martírio de Agatônica ############
Uma mulher que assistia ao martírio, Agatónica, viu a glória do Senhor que Carpo dizia ter
contemplado. Compreendeu que era um sinal do céu e imediatamente exclamou:
- Esse festim está praparado para mim também... Eu sou cristã. Nunca sacrifiquei aos
demônios, mas somente a Deus. De boa vontade, se for digna disso, seguirei as pisadas dos
meus mestres, os santos. É esse o meu maior desejo...
O procônsul disse-lhe:
- Sacrifica e não me forces a condenar-te ao mesmo suplício.
- Faz o que te parecer melhor. Quanto a mim, vim para sofrer em nome de Cristo. Estou
pronta.Chegada ao lugar do suplício, Agatônica tirou as suas vestes e, alegre, subiu ao
patíbulo. Os espectadores ficaram tocados pela sua beleza; lamentavam-na:
- Que julgamento iníquo e que decretos injustos!
Quando ela sentiu as chamas tocarem o seu corpo, gritou três vezes:
- Senhor, Senhor, Senhor, vem em meu auxílio. É a ti que eu recorro.
Foram as suas últimas palavras.
Lc.12,11-12: - <Instruções aos discípulos>
- Jesus promete aos discípulos que quando eles fossem levados às sinagogas, perante os
magistrados, e as autoridades eles não se preocupassem com o que haviam de falar na
defesa deles, porque o Espírito Santo lhes inspiraria naquela hora o que deveriam dizer.
Lc.12,15: - Parábola do homem rico.-pg.1365-DDPS.
“Guardai-vos escrupulosamente de toda a avareza.” – (v.15)
-Era um ensinamento fundamental, de certa forma novo para o povo judeu que vivia sob a
antiga Lei.
-Dito assim teoricamente como Jesus disse, talvez não fosse tão fácil para o povo entender.
-Jesus inspirado pelo Espírito Santo, pelo dom da Sabedoria com o intuito de fazê-los
entender conta uma parábola.
-A palavra de Sabedoria inspira a Jesus que a forma mais fácil deles entenderem a
mensagem do Reino dos Céus era através da imagem da grande riqueza do proprietário do
campo, homem cheio de avareza, que corre o perigo do acúmulo de riquezas e faz que o
homem se sinta todo poderoso, achando até que pode dispensar a ajuda e a autoridade de
Deus.
(Lc.12,13-21)-pg.1365 –DDPS – Parábola do homem rico.
13.Disse-lhe então alguém do meio do povo: Mestre, dize a meu irmão que reparta comigo a herança.
14.Jesus respondeu-lhe: Meu amigo, quem me constituiu juiz ou árbitro entre vós?
15.E disse então ao povo: Guardai-vos escrupulosamente de toda a avareza, porque a vida de um homem,
ainda que ele esteja na abundância, não depende de suas riquezas.
16.E propôs-lhe esta parábola: Havia um homem rico cujos campos produziam muito.
17.E ele refletia consigo: Que farei? Porque não tenho onde recolher a minha colheita.
18.Disse então ele: Farei o seguinte: derrubarei os meus celeiros e construirei maiores; neles recolherei
toda a minha colheita e os meus bens.
19.E direi à minha alma: ó minha alma, tens muitos bens em depósito para muitíssimos anos; descansa, come,
bebe e regala-te.
20.Deus, porém, lhe disse: Insensato! Nesta noite ainda exigirão de ti a tua alma. E as coisas, que
ajuntaste, de quem serão?
21.Assim acontece ao homem que entesoura para si mesmo e não é rico para Deus.
-Na passagem da parábola do homem rico os dois irmãos desejavam que Jesus ajudasse a
decidir a questão da sua parte na herança. Jesus recusa-se a interferir, pois não veio ao
mundo para resolver este tipo de questão, mas aproveita para ensinar que devemos nos
guardar escrupulosamente de toda a avareza, porque a vida de um homem , ainda que ele
esteja na abundância, não depende de suas riquezas.
Comentário feito por:
Santo Isaac, o Sírio (séc. VII), monge em Ninive, perto de Mossul, no actual Iraque
Discursos ascéticos, 1ª série, nº 38
“Esta mesma noite virão pedir-te a vida” – (v.20)
Senhor, torna-me digno de desprezar a minha vida pela vida que se encontra em Ti. A vida
neste mundo é semelhante àqueles que formam palavras com letras, acrescentando-as,
retirando-as e alterando-as a seu bel prazer. Mas a vida do mundo futuro é semelhante ao
que está escrito sem o menor erro nos livros selados com o selo real, a que nada falta e a
que nada há a acrescentar. Assim, pois, enquanto nos encontramos no seio da mudança,
estejamos atentos a nós próprios. Enquanto temos poder sobre o manuscrito da nossa vida,
sobre aquilo que escrevemos com as nossas próprias mãos, esforcemo-nos por lhe
acrescentar o bem que fazemos e por apagar os erros da nossa primeira conduta. Enquanto
estamos neste mundo, Deus não põe o selo, nem sobre o bem, nem sobre o mal. Apenas o
faz no momento do nosso êxodo, quando termina a nossa obra, no momento em que
partimos.
Como diz Santo Efrém, temos de considerar que a nossa alma é semelhante a um navio
preparado para o mar, que não sabe quando se levantará o vento; ou é semelhante a uma
armada que não sabe quando soará a trombeta a anunciar o combate. Se isto diz do navio e
da armada, que esperam algo que poderá não se realizar, quanto mais deveremos prepararnos para a chegada brusca desse dia em que será lançada a ponte e aberta a porta para o
mundo novo? Que Cristo, o Mediador da nossa vida, nos conceda estar preparados.
(Lc.12,13-21) – pg.1365 – DDPS 1 – Parábola do homem rico.
Comentário feito por:
S. Basílio (c. 330-379), monge e bispo de Cesareia em Capadócia, doutor da Igreja
Homilia 31
“Construir outros celeiros”- (v.18)
"Insensato, nesta mesma noite pedir-te-ão contas da tua vida e o que acumulaste para quem
será?" A conduta do rico do Evangelho é tanto mais patética quanto o castigo eterno é
rigoroso. Com efeito, que projetos congemina em seu espírito este homem que vai ser
arrebatado do mundo dentro de tão pouco tempo? "Vou demolir os meus celeiros e
construirei uns maiores". Quanto a mim, dir-lhe-ia de bom grado: Fazes bem porque eles
merecem mesmo ser destruídos, os celeiros da tua injustiça. Com as tuas próprias mãos,
destrói de uma ponta à outra tudo o que edificaste injustamente. Deixa que se desbaratem as
tuas reservas de trigo que nunca saciaram ninguém. Faz desaparecer todo o edifício em que
protegeste a tua avareza, tira-lhe o telhado, derruba as paredes, expõe ao sol o trigo que
apodrece, tira da prisão as riquezas que aí estavam cativas...
"Vou demolir os meus celeiros e construir uns maiores". Quando acabares de encher esses,
que decisão tomarás? Vais demoli-los para construir outros ainda maiores? Haverá maior
loucura do que atormentar-se sem fim, construir com afinco e afincar-se em destruir? Se
quiseres, terás por celeiro as moradas dos indigentes. "Acumula tesouros no céu". O que aí
for guardado "os vermes não o comem, a ferrugem não o estraga, os ladrões não o roubam"
(Mt.6,20).
Lc.(12,13-21)- p.1365 - DDPS
Comentário feito por:
S. Basílio (cerca 330-379), monge e bispo em Capadócia, doutor da Igreja
Catequese 31
Amontoar para si próprio ou ser rico com os olhos postos em Deus?
«Que hei-de fazer? Vou aumentar os meus celeiros!» Porque eram as terras deste homem
tão produtivas, se ele fazia tão mau uso da sua riqueza? É para mais intensamente se ver a
manifestação da imensa bondade de um Deus que estende a sua graça a todos, «pois Ele
faz que o sol se levante sobre os bons e os maus e faz cair a chuva sobre os justos e os
pecadores» (Mt 5,45) ... Eram estes os benefícios de Deus para com este rico: uma terra
fecunda, um clima temperado, abundantes colheitas, bois para o trabalho, e tudo que
assegurasse a prosperidade. E ele, que dava em troca? Mau humor, taciturnidade e egoísmo.
Era assim que agradecia ao seu benfeitor.
Esquecia que pertencemos todos à mesma natureza humana; não pensou que devia
distribuir o que lhe sobrava aos pobres; não fez nenhum caso destes mandamentos divinos:
«não negues um benefício a quem precisa dele, se estiver nas tuas mãos concedê-lo»
(Pr.3,27), «não se afastem de ti a bondade e a fidelidade» (3,3), «partilha o teu pão com
quem tem fome» (Is 58,7). Todos os profetas, todos os sábios lhe gritavam estes preceitos,
mas ele fazia ouvidos de mercador. Os seus celeiros rachavam, muito pequenos para o trigo
que lá se acumulava, mas o seu coração não estava satisfeito... Ele não queria desfazer-se
de nada, mesmo não chegando a armazená-lo todo. Este problema incomodava-o: «Que
hei-de fazer?» perguntava constantemente. Quem não teria piedade de um homem assim
obcecado? A abundância tornava-o infeliz...; ele lamentava-se tal e qual como os
indigentes: «Que hei-de fazer? Como alimentar-me, vestir-me?»...
Observa, homem, quem foi que te cumulou de dons. Reflete um pouco sobre ti próprio:
Quem és tu? O que é que te foi confiado? De quem recebeste esse encargo? Porque fostes
tu o escolhido? Tu és servo do Deus bom; tu estás encarregado dos teus companheiros de
serviço... «Que hei-de fazer?» A resposta é simples: «Saciarei os famintos, convidarei os
pobres... Vós todos a quem falta o pão, vinde possuir os dons concedidos por Deus, que
jorram como de uma fonte».
Lc.12,22-34:- <Vãs preocupações>
22.Jesus voltou-se então para seus discípulos: Portanto vos digo: não andeis preocupados com a vossa vida,
pelo que haveis de comer; nem com o vosso corpo, pelo que haveis de vestir.
23.A vida vale mais do que o sustento e o corpo mais do que as vestes.
24.Considerai os corvos: eles não semeiam, nem ceifam, nem têm despensa, nem celeiro; entretanto, Deus os
sustenta. Quanto mais valeis vós do que eles?
25.Mas qual de vós, por mais que se preocupe, pode acrescentar um só côvado à duração de sua vida?
26.Se vós, pois, não podeis fazer nem as mínimas coisas, por que estais preocupados com as outras?
27.Considerai os lírios, como crescem; não fiam, nem tecem. Contudo, digo-vos: nem Salomão em toda a sua
glória jamais se vestiu como um deles.
28.Se Deus, portanto, veste assim a erva que hoje está no campo e amanhã se lança ao fogo, quanto mais a
vós, homens de fé pequenina!
29.Não vos inquieteis com o que haveis de comer ou beber; e não andeis com vãs preocupações.
30.Porque os homens do mundo é que se preocupam com todas estas coisas. Mas vosso Pai bem sabe que
precisais de tudo isso.
31.Buscai antes o Reino de Deus e a sua justiça e todas estas coisas vos serão dadas por acréscimo.
32.Não temais, pequeno rebanho, porque foi do agrado de vosso Pai dar-vos o Reino.
33.Vendei o que possuís e dai esmolas; fazei para vós bolsas que não se gastam, um tesouro inesgotável nos
céus, aonde não chega o ladrão e a traça não o destrói.
34.Pois onde estiver o vosso tesouro, ali estará também o vosso coração.
- No meio destes homens “reunidos aos milhares” alguém faz uma pergunta tão particular e
íntima a Jesus, e Ele com a Palavra de Sabedoria ,prepara aqueles milhares de corações
para compreender uma das mensagens mais fundamentais do Evangelho: que vem narrada
neste texto.
- A palavra de Sabedoria preparou o povo para compreender que Deus é Pai e Ele cuida de
nós, não precisamos nos preocupar com o que vamos comer ou vestir, mas sim em buscar o
Reino de Deus e a sua Justiça.
- A mentalidade de guardar dinheiro e bens para garantir o amanhã é uma mentalidade
mundana e anti-evangélica .
- Quem crê no Evangelho deve estar livre de apegos e preocupações com acumular bens e o
dia de amanhã. , pois o Reino que o Pai lhe dá está muitíssimo acima disto, e quem coloca
sua confiança e esperança no dinheiro tem seu coração entregue a ele.
- Quem coloca sua esperança e confiança em Deus tem seu coração entregue a Ele.
- O Senhor usa a Palavra de Sabedoria a fim de que os homens compreendam melhor a
verdade do Evangelho.
- A Palavra de Sabedoria abre o entendimento dos ouvintes para o ensinamento que Jesus
lhes quer dar e preparar seus corações, fazendo que tenham um “entendimento espiritual”,
antes mesmo que um entendimento intelectual. Ela é sempre amorosa e visa conversão e o
conhecimento de Deus.
(Lc.12,32-48) – pg.1365/66 – DDPS – “Vãs preocupações”
32.Não temais, pequeno rebanho, porque foi do agrado de vosso Pai dar-vos o Reino.
33.Vendei o que possuís e dai esmolas; fazei para vós bolsas que não se gastam, um tesouro inesgotável nos
céus, aonde não chega o ladrão e a traça não o destrói.
34.Pois onde estiver o vosso tesouro, ali estará também o vosso coração.
35.Estejam cingidos os vossos rins e acesas as vossas lâmpadas.
36.Sede semelhantes a homens que esperam o seu senhor, ao voltar de uma festa, para que, quando vier e
bater à porta, logo lha abram.
37.Bem-aventurados os servos a quem o senhor achar vigiando, quando vier! Em verdade vos digo: cingir-seá, fá-los-á sentar à mesa e servi-los-á.
38.Se vier na segunda ou se vier na terceira vigília e os achar vigilantes, felizes daqueles servos!
39.Sabei, porém, isto: se o senhor soubesse a que hora viria o ladrão, vigiaria sem dúvida e não deixaria forçar
a sua casa.
40.Estai, pois, preparados, porque, à hora em que não pensais, virá o Filho do Homem.
41.Disse-lhe Pedro: Senhor, propões esta parábola só a nós ou também a todos?
42.O Senhor replicou: Qual é o administrador sábio e fiel que o senhor estabelecerá sobre os seus operários
para lhes dar a seu tempo a sua medida de trigo?
43.Feliz daquele servo que o senhor achar procedendo assim, quando vier!
44.Em verdade vos digo: confiar-lhe-á todos os seus bens.
45.Mas, se o tal administrador imaginar consigo: Meu senhor tardará a vir, e começar a espancar os servos e
as servas, a comer, a beber e a embriagar-se,
46.o senhor daquele servo virá no dia em que não o esperar e na hora em que ele não pensar, e o despedirá e o
mandará ao destino dos infiéis.
47.O servo que, apesar de conhecer a vontade de seu senhor, nada preparou e lhe desobedeceu será açoitado
com numerosos golpes.
48.Mas aquele que, ignorando a vontade de seu senhor, fizer coisas repreensíveis será açoitado com poucos
golpes. Porque, a quem muito se deu, muito se exigirá. Quanto mais se confiar a alguém, dele mais se há de
exigir.
Comentário feito por:
S. Cipriano (c. 200-258), bispo de Cartago e mártir
Da unidade, 26-27
"Estai preparados" – (v.40)
O Senhor pensava no nossso tempo ao dizer: "O Filho do homem, quando voltar,
encontrará fé sobre a terra?" (Lc.18,8) Vemos que esta profecia se está a realizar. O temor
de Deus, a lei da justiça, a caridade, as boas obras, já ninguém acredita nisso... Tudo o que
a nossa consciência havia de temer, se em tal acreditasse, não o teme, porque não acredita.
Porque, se acreditasse, estaria vigilante; e, se estivesse vigilante, salvar-se-ia.
Despertemos pois, irmãos, enquanto somos capazes. Sacudamos o sono da nossa inércia.
Vigiemos observando e praticando os preceitos do Senhor. Sejamos tal qual Ele nos
prescreveu que fôssemos quando disse: "Estejam apertados os vossos cintos e acesas as
vossas lâmpadas. Sede semelhantes aos homens que esperam o seu senhor ao voltar da
boda, para lhe abrirem a porta quando ele chegar e bater. Felizes aqueles servos a quem o
senhor, quando vier, encontrar vigilantes!"
Sim, permaneçamos em traje de serviço com receio de que, quando vier o dia da partida,
ele não nos encontre embaraçados e imobilizados. Que a nossa luz brilhe e irradie de boas
obras, que ela nos encaminhe da noite deste mundo para a luz e para a caridade eternas.
Esperemos com cuidado e prudência a chegada súbita do Senhor a fim de que, quando Ele
bater à porta, a nossa fé esteja desperta para receber do Senhor a recompensa pela sua
vigilância. Se observarmos estes mandamentos, se guardarmos estas advertências e estes
preceitos, as manhas enganadoras do Acusador não poderão destruir-nos durante o sono.
Mas, reconhecidos como servos vigilantes, reinaremos com Cristo triunfante
Lc.(12,35-48) – p.1367 - DDPS
Comentário feito por:
Santo Isaac o Sírio (séc. VII), monge em Nínive, perto de Mossul no actual Iraque
Discursos ascéticos
"Mantenham as lâmpadas acesas"
A oração que se oferece durante a noite tem um grande poder, mais do que a que se oferece
durante o dia. É por isso que todos os santos tiveram o hábito de rezar de noite, combatendo
a moleza do corpo e a doçura do sono e ultrapassando a sua própria natureza corporal.
Também o profeta dizia: "Estou cansado de tanto gemer; todas as noites banho o meu leito
com as minhas lágrimas" (Sl.6,7), enquanto suspirava no fundo de si mesmo numa oração
apaixonada. E, noutro passo: "Levanto-me a meio da noite para te louvar por causa das tuas
sentenças, tu que és o Justo" (Sl.118,62). Para cada um dos pedidos que os santos queriam
dirigir a Deus com todas as suas forças, eles armavam-se com a oração noturna e
imediatamente recebiam o que pediam.
O próprio Satanás nada receia tanto como a oração que se oferece durante as vigílias.
Mesmo se são acompanhadas de distrações, não ficam sem fruto, a menos que se peça o
que não convém. É por isso que ele trava sérios combates contra os que velam, a fim de
afastá-los quanto possível dessa prática, sobretudo se se mostram perseverantes. Mas os que
se fortaleceram um pouco que seja contra as suas manhas perniciosas e saborearam os dons
que Deus concede durante as vigílias e experimentaram pessoalmente a grandeza da ajuda
que Deus lhes dá, desprezam-no completamente, a ele e a todos os seus estratagemas.
Lc.(12,39-48) – p.1366 - DDPS
Comentário feito por:
"Servos de Cristo e administradores dos mistérios de Deus" (1Co.4,1)
Para definir o papel dos servos que colocou à cabeça do seu povo, o Senhor diz esta palavra
que o Evangelho nos transmite: "Qual é o administrador prudente e fiel que o senhor
estabelecerá sobre o seu pessoal para lhe dar a seu tempo a ração de trigo? Feliz o servo a
quem o senhor, quando voltar, encontrar procedendo assim"... Se nos perguntarmos que
medida de trigo é esta, S. Paulo no-lo indica; é "a medida de fé que Deus vos repartiu"
(Rm.12,3). Aquilo a que Cristo chama medida de trigo, Paulo chama medida de fé para nos
ensinar que não há outra medida de trigo espiritual senão o mistério da fé cristã. Essa
medida de trigo, damo-vo-la nós em nome do Senhor toda a vez que, iluminados pelo dom
espiritual da graça, vos falamos segundo a regra da verdadeira fé. Essa medida, recebei-a
vós dos administradores do Senhor todo o dia em que ouvis da boca dos servos de Deus a
palavra da verdade.
Que ela seja o nosso alimento, essa medida de trigo que Deus nos faz partilhar. Colhamos
nela o sustento para a forma como nos conduzimos, a fim de obtermos a recompensa da
vida eterna. Acreditemos naquele que se dá a si mesmo a cada um de nós para que não
desfaleçamos no caminho (Mt.15,32) e que se reserva como nossa recompensa para que
encontremos a alegria na pátria eterna. Acreditemos e esperemos nele; amemo-lo acima de
tudo e em tudo. Porque Cristo é o nosso alimento e será a nossa recompensa. Cristo é o
sustento e o reconforto dos viajantes que caminham; é a satisfação e a exaltação dos bemaventurados que chegam ao seu repouso
Lc.13,1-9 – p.1366.7 – DDDE DDPS
1. Neste mesmo tempo contavam alguns o que tinha acontecido a certos galileus, cujo sangue Pilatos
misturara com os seus sacrifícios.
2. Jesus toma a palavra e lhes pergunta: Pensais vós que estes galileus foram maiores pecadores do que todos
os outros galileus, por terem sido tratados desse modo?
3. Não, digo-vos. Mas se não vos arrependerdes, perecereis todos do mesmo modo.
4. Ou cuidais que aqueles dezoito homens, sobre os quais caiu a torre de Siloé e os matou, foram mais
culpados do que todos os demais habitantes de Jerusalém?
5. Não, digo-vos. Mas se não vos arrependerdes, perecereis todos do mesmo modo.
6. Disse-lhes também esta comparação: Um homem havia plantado uma figueira na sua vinha, e, indo buscar
fruto, não o achou.
7. Disse ao viticultor: - Eis que três anos há que venho procurando fruto nesta figueira e não o acho. Corta-a;
para que ainda ocupa inutilmente o terreno?
8. Mas o viticultor respondeu: - Senhor, deixa-a ainda este ano; eu lhe cavarei em redor e lhe deitarei adubo.
9.Talvez depois disto dê frutos. Caso contrário, cortá-la-ás.
Comentário feito por:
São Cipriano (c. 200-258), Bispo de Cartago e mártir
Dos benefícios da paciência, 3-5; PL 4, 624-625 (a partir da trad. de Orval)
Imitar a paciência de Deus
Como é grande a paciência de Deus! [...] Ele faz com que o dia nasça e com que o sol se
levante tanto para os bons como para os maus (Mt.5, 45); Ele rega a terra com as chuvas e
ninguém fica excluído da Sua benevolência, uma vez que a água é dada indistintamente aos
justos e aos injustos. Vemo-Lo agir com igual paciência para com os culpados e para com
os inocentes, os fiéis e os ímpios, aqueles que Lhe dão graças e os ingratos. Para todos eles
os tempos obedecem à voz de Deus, os elementos colocam-se ao Seu serviço, os ventos
sopram, manam as fontes, as colheitas aumentam de abundância, a uva amadurece, as
árvores carregam-se de frutos, as florestas reverdecem e os prados cobrem-se de flores. [...]
E embora Ele tenha o poder de Se vingar, prefere esperar muito tempo com paciência e
aguarda e adia com bondade para que, se for possível, a malícia se esbata com o tempo e o
homem [...] se volte enfim para Deus, segundo o que Ele mesmo nos diz: «Não tenho
prazer na morte do ímpio, mas sim na sua conversão, a fim de que tenha a vida» (Ez.33,
11). E ainda: «Voltai-vos para Mim, regressai para o Senhor vosso Deus, porque Ele é
misericordioso, bom, paciente e compassivo» (Jl. 2, 13). [...]
Ora, Jesus diz-nos: «Sede perfeitos como é perfeito o vosso Pai celeste» (Mt 5, 48). Por
estas palavras Ele nos indica que, sendo filhos de Deus e regenerados por um nascimento
celeste, atingimos o cume da perfeição quando a paciência de Deus Pai permanece em nós e
a semelhança divina, perdida pelo pecado de Adão, se manifesta a brilha nos nossos atos.
Que grande glória a nossa, a de nos assemelharmos a Deus, que grande felicidade, termos
essa virtude digna dos louvores divinos!
Lc.18,18-30: - < O jovem rico>
18.Um homem de posição perguntou então a Jesus: Bom Mestre, que devo fazer para possuir a vida eterna?
19.Jesus respondeu-lhe: Por que me chamas bom? Ninguém é bom senão só Deus.
20.Conheces os mandamentos: não cometerás adultério; não matarás; não furtarás; não dirás falso
testemunho; honrarás pai e mãe.
21.Disse ele: Tudo isso tenho guardado desde a minha mocidade.
22.A estas palavras, Jesus lhe falou: Ainda te falta uma coisa: vende tudo o que tens, dá-o aos pobres e terás
um tesouro no céu; depois, vem e segue-me.
23.Ouvindo isto, ele se entristeceu, pois era muito rico.
24.Vendo-o entristecer-se, disse Jesus: Como é difícil aos ricos entrar no Reino de Deus!
25.É mais fácil passar o camelo pelo fundo duma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus.
26.Perguntaram os ouvintes: Quem então poderá salvar-se?
27.Respondeu Jesus: O que é impossível aos homens é possível a Deus.
28.Pedro então disse: Vê, nós abandonamos tudo e te seguimos.
29.Jesus respondeu: Em verdade vos declaro: ninguém há que tenha abandonado, por amor do Reino de Deus,
sua casa, sua mulher, seus irmãos, seus pais ou seus filhos,
30.que não receba muito mais neste mundo e no mundo vindouro a vida eterna.
- O Espírito Santo que habita no homem, aberto e atento às suas moções no decorrer do seu
dia, estará agindo e lhe dando Palavras de Sabedoria que o façam agir segundo a vontade de
Deus.
- A Palavra de Sabedoria é o dom também que nos leva a ensinar ou explicar verdades
religiosas.
- Portanto, a Palavra de Sabedoria é uma palavra, atitude ou ação que faz com que os
acontecimentos passem a decorrer segundo a vontade de Deus, ou ainda, que as pessoas
percebam verdade que antes não conheciam.
-Como acontece com os outros dons, existem muitas passagens nas Escrituras que revelam,
nos ensinam a esclarecerem sobre o DDPS.
Lc.(20,27-40) – pg.1376 – DDPS – Sobre a ressurreição.
27.Alguns saduceus - que negam a ressurreição - aproximaram-se de Jesus e perguntaram-lhe:
28.Mestre, Moisés prescreveu-nos: Se alguém morrer e deixar mulher, mas não deixar filhos, case-se com ela
o irmão dele, e dê descendência a seu irmão.
29.Ora, havia sete irmãos, o primeiro dos quais tomou uma mulher, mas morreu sem filhos.
30Casou-se com ela o segundo, mas também ele morreu sem filhos.
31.Casou-se depois com ela o terceiro. E assim sucessivamente todos os sete, que morreram sem deixar
filhos.
32.Por fim, morreu também a mulher.
33.Na ressurreição, de qual deles será a mulher? Porque os sete a tiveram por mulher.
34.Jesus respondeu: Os filhos deste mundo casam-se e dão-se em casamento,
35.mas os que serão julgados dignos do século futuro e da ressurreição dos mortos não terão mulher nem
marido.
36.Eles jamais poderão morrer, porque são iguais aos anjos e são filhos de Deus, porque são ressuscitados.
37.Por outra parte, que os mortos hão de ressuscitar é o que Moisés revelou na passagem da sarça ardente (Ex
3,6), chamando ao Senhor: Deus de Abraão, Deus de Isaac, Deus de Jacó .
38.Ora, Deus não é Deus dos mortos, mas dos vivos; porque todos vivem para ele.
39.Alguns dos escribas disseram, então: Mestre, falaste bem.
40.E já não se atreviam a fazer-lhe pergunta alguma.
Comentário feito por:
Teodoro de Mopsueste (?-428), bispo e teólogo
Comentários sobre S. João, livro 2
Nascer para a nova criação
«Batizados em Jesus Cristo, foi na sua morte que todos fomos batizados.
Fomos sepultados com Ele no batismo da morte a fim de que, tal como Cristo ressuscitou
dos mortos para glória do Pai, assim também nós vivamos numa vida nova. Se, por uma
morte semelhante à dele, nos tornamos um só com Ele, sê-lo-emos também por uma
ressurreição semelhante à sua» (Rim.6,3-5). S. Paulo mostra-nos assim claramente que o
nosso novo nascimento pelo batismo é o símbolo da nossa ressurreição após a morte. Esta
realizar-se-á para nós pelo poder do Espírito, segundo esta palavra: «O que é semeado na
terra morre, o que ressuscita é imortal; o que é semeado já não tem valor, o que ressuscita
está cheio de glória; o que é semeado é fraco, o que ressuscita é poderoso; o que é semeado
é um corpo humano, o que ressuscita é um corpo espiritual» (1Co.15,42s). O que significa:
da mesma forma que, aqui na terra, o nosso corpo goza de uma vida visível enquanto a
alma está presente, de igual forma ele receberá a vida eterna e incorruptível pelo poder do
Espírito.
É assim no que se refere ao nascimento que nos é dado pelo batismo e que é o símbolo da
nossa ressurreição: recebemos nele a graça pelo mesmo Espírito, mas com limites e à
maneira de um penhor. Recebê-la-emos em plenitude quando ressuscitarmos realmente e
quando a incorruptibilidade nos for efetivamente comunicada. É por isso que, quando o
apóstolo Paulo fala da vida futura, ele quer confirmar os seus auditores com estas palavras:
«Não só a criação, mas também nós que temos as primícias do Espírito, também nós
gememos esperando a redenção do nosso corpo» (Rm.8,23). Porque, se recebemos desde já
as primícias da graça, esperamos acolhê-la em plenitude quando nos for dada a felicidade
da ressurreição
Jô.2,1-11: - < Bodas de Caná > - pg.1385/6 – DDPS DDM
1.Três dias depois, celebravam-se bodas em Caná da Galiléia, e achava-se ali a mãe de Jesus.
2.Também foram convidados Jesus e os seus discípulos.
3.Como viesse a faltar vinho, a mãe de Jesus disse-lhe: Eles já não têm vinho.
4.Respondeu-lhe Jesus: Mulher, isso compete a nós? Minha hora ainda não chegou.
5.Disse, então, sua mãe aos serventes: Fazei o que ele vos disser.
6.Ora, achavam-se ali seis talhas de pedra para as purificações dos judeus, que continham cada qual duas ou
três medidas.
7.Jesus ordena-lhes: Enchei as talhas de água. Eles encheram-nas até em cima.
8.Tirai agora , disse-lhes Jesus, e levai ao chefe dos serventes. E levaram.
9.Logo que o chefe dos serventes provou da água tornada vinho, não sabendo de onde era (se bem que o
soubessem os serventes, pois tinham tirado a água), chamou o noivo
10.e disse-lhe: É costume servir primeiro o vinho bom e, depois, quando os convidados já estão quase
embriagados, servir o pior. Mas tu guardaste o vinho melhor até agora.
11.Este foi o primeiro milagre de Jesus; realizou-o em Caná da Galiléia. Manifestou a sua glória, e os seus
discípulos creram nele.
- A Palavra de Sabedoria é sinal da salvação de Jesus Cristo.
- Maria percebeu que ia faltar vinho e ela então suplica a Jesus para que Ele resolvesse este
problema.
- Diante da resposta de Jesus, Maria proclama uma Palavra de Sabedoria, orientando o que
os empregados deveriam fazer: Jô. (2,5). “ Fazei tudo o que Ele vos disser”.
Jo.3,1-8 – DDPS – p.1386
1.Havia um homem entre os fariseus, chamado Nicodemos, príncipe dos judeus.
2.Este foi ter com Jesus, de noite, e disse-lhe: Rabi, sabemos que és um Mestre vindo de Deus. Ninguém pode
fazer esses milagres que fazes, se Deus não estiver com ele.
3.Jesus replicou-lhe: Em verdade, em verdade te digo: quem não nascer de novo não poderá ver o Reino de
Deus.
4.Nicodemos perguntou-lhe: Como pode um homem renascer, sendo velho? Porventura pode tornar a entrar
no seio de sua mãe e nascer pela segunda vez?
5.Respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo: quem não renascer da água e do Espírito não poderá
entrar no Reino de Deus.
6.O que nasceu da carne é carne, e o que nasceu do Espírito é espírito.
7.Não te maravilhes de que eu te tenha dito: Necessário vos é nascer de novo.
8.O vento sopra onde quer; ouves-lhe o ruído, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai. Assim
acontece com aquele que nasceu do Espírito.
Comentário feito por:
Missal Romano
Oração para a bênção da água batismal durante a Vigília Pascal
Renascer da água e do espírito – (v.5)
Senhor Nosso Deus: pelo Vosso poder invisível, realizais maravilhas nos Vossos
sacramentos. Ao longo dos tempos, preparastes a água para manifestar a graça do Batismo.
Logo no princípio do mundo, o Vosso Espírito pairava sobre as águas, prefigurando o seu
poder de santificar. Nas águas do dilúvio, destes-nos uma imagem do Batismo, sacramento
da vida nova, porque as águas significam ao mesmo tempo o fim do pecado e o princípio da
santidade. Aos filhos de Abraão fizestes atravessar a pé enxuto o Mar Vermelho, para que
esse povo, liberto da escravidão, fosse a imagem do povo santo dos batizados. O Vosso
Filho, Jesus Cristo, ao ser batizado por João Baptista nas águas do Jordão, recebeu a unção
do Espírito Santo; suspenso na cruz, do Seu lado aberto fez brotar sangue e água e, depois
de ressuscitado, ordenou aos Seus discípulos: «Ide e ensinai todos os povos e batizai-os em
nome
do
Pai,
do
Filho
e
do
Espírito
Santo»
(Mt.28,
19).
Olhai agora, Senhor, para a Vossa Igreja e dignai-Vos abrir para Ela a fonte do batismo.
Receba esta água, pelo Espírito Santo, a graça do Vosso Unigênito, para que o homem,
criado à Vossa imagem, no sacramento do batismo seja purificado das velhas impurezas e
ressuscite homem novo pela água e pelo Espírito Santo.
Comentário feito por:
Homilia atribuída a Santo Hipólito de Roma (?-c. 235), presbítero e mártir
Homilia para a Festa da Epifania, sobre a «Sagrada Teofania»; PG 10, 854-862 (a partir
da trad. Orval)
Renascer pela água e o Espírito Santo
Prestai-me atenção, peço-vos. Desejo remontar à fonte da vida e trazer à luz a fonte dos
remédios. O Pai da imortalidade enviou ao mundo o Seu Filho imortal, o Seu Verbo. Este
veio ao homem para lavá-lo na água e no Espírito, engendrou-o de novo para a
incorruptibilidade da alma e do corpo, infundindo em nós o Espírito de vida e cobrindo-nos
por completo com uma armadura imperecível. Assim, pois, se o homem foi mortal, também
será divinizado; e, se foi divinizado pela água e o Espírito Santo, após o renascimento na
água, será também herdeiro do céu depois da ressurreição dos mortos.
Acorrei, todas as nações, à imortalidade do batismo. [...] Esta é a água que participa do
Espírito, que rega o paraíso, que dessedenta a terra, que faz crescer as plantas, que gera os
seres vivos, em suma, que gera o homem para a vida fazendo-o renascer. Foi nela que
Cristo foi batizado, foi sobre ela que desceu o Espírito Santo sob a forma de pomba. [...]
Aquele que entra com fé no banho da regeneração rejeita a veste da escravatura e reveste-se
da adoção. Este sai do batismo brilhante como o sol, radiante de justiça. Mais ainda, sai
dele filho de Deus e co-herdeiro de Cristo, a Quem são devidos a glória e o poder, bem
como ao Espírito Santo, bom e vivificante, agora e por todos os séculos. Amém.
Jo.3,7-15 DDPS p.1387
7.Não te maravilhes de que eu te tenha dito: Necessário vos é nascer de novo.
8.O vento sopra onde quer; ouves-lhe o ruído, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai. Assim
acontece com aquele que nasceu do Espírito.
9.Replicou Nicodemos: Como se pode fazer isso?
10.Disse Jesus: És doutor em Israel e ignoras estas coisas!...
11.Em verdade, em verdade te digo: dizemos o que sabemos e damos testemunho do que vimos, mas não
recebeis o nosso testemunho.
12.Se vos tenho falado das coisas terrenas e não me credes, como crereis se vos falar das celestiais?
13.Ninguém subiu ao céu senão aquele que desceu do céu, o Filho do Homem que está no céu.
14.Como Moisés levantou a serpente no deserto, assim deve ser levantado o Filho do Homem,
15.para que todo homem que nele crer tenha a vida eterna.
Comentário feito por:
Santa Teresa Benedita da Cruz [Edith Stein] (1891-1942), carmelita, mártir, co-padroeira
da Europa
Poesia Pentecostes 1942 (a partir da trad. Malgré la nuit, Ad solem 2002, p. 121)
«Não sabes de onde vem nem para onde vai»
Quem és, suave luz que me sacias
E que iluminas as trevas do meu coração?
Guias-me como a mão de uma mãe,
e se me soltasses
não mais poderia dar um só passo.
És o espaço
que envolve o meu ser e me protege.
Longe de Ti, naufragaria no abismo do nada
de onde me tiraste para me criar para a luz.
Tu, mais próximo de mim
do que eu própria,
mais intimo do que as profundezas da minha alma,
e contudo incompreensível e inefável,
para além de qualquer nome,
Espírito Santo, Amor Eterno!
Não és Tu o doce maná
que do coração do Filho
transborda para o meu,
o alimento dos anjos e dos bem-aventurados?
Aquele que Se elevou da morte à vida
também me despertou do sono da morte para uma vida nova.
E, dia após dia,
continua a dar-me uma nova vida,
de que um dia a plenitude me inundará por completo,
vida procedente da Tua vida, sim, Tu mesmo,
Espírito Santo, Vida Eterna!
Jo.(3,13-17) – p.1387 – DDPS
13.Ninguém subiu ao céu senão aquele que desceu do céu, o Filho do Homem que está no céu.
14.Como Moisés levantou a serpente no deserto, assim deve ser levantado o Filho do Homem,
15.para que todo homem que nele crer tenha a vida eterna.
16.Com efeito, de tal modo Deus amou o mundo, que lhe deu seu Filho único, para que todo o que nele crer
não pereça, mas tenha a vida eterna.
17.Pois Deus não enviou o Filho ao mundo para condená-lo, mas para que o mundo seja salvo por ele.
Comentário feito por:
Santo Efrém (c.306-373), diácono na Síria, doutor da Igreja (?)
Homilia atribuída a Santo Efrém
«Quando for erguido da terra, atrairei todos a Mim» (Jo.12,32)
De ora em diante, pela cruz, as sombras estão dissipadas e a verdade eleva-se, como diz o
apóstolo João: «Porque as primeiras coisas passaram [...] Eu renovo todas as coisas»
(Ap.21,4-5). A morte é espoliada, o inferno liberta os cativos, o homem está livre, o Senhor
reina, a criação está em alegria. A cruz triunfa e todas as nações, tribos, línguas e povos
(Ap.7,9), vêm para adorá-lo. Com o beato Paulo, que exclama : «Quanto a mim, porém, de
nada quero me gloriar, a não ser na cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo» (Ga.6,14),
encontramos nela a nossa alegria. A cruz traz a luz a todo o universo, ela afasta as trevas e
reúne as nações do Ocidente, do Oriente, do Norte e do mar numa só Igreja, numa única fé,
num só batismo na caridade. Fixada no Calvário, ela dirige-se ao centro do mundo.
Armados com a cruz, os apóstolos vão pregar e reunir na sua adoração o universo inteiro,
espezinhando todas as forças hostis. Por ela, os mártires confessaram a sua fé com audácia
e não temeram os ardis dos tiranos. Carregando-a, os monges fizeram da solidão a própria
morada, numa imensa alegria.
Na hora em que Jesus regressar, aparecerá primeiro no céu esta cruz, cetro precioso, vivo,
verdadeiro e santo do Grande Rei: «Então, aparecerá no céu o sinal do Filho do Homem»
(Mt.24,30). Vê-la-emos, escoltada pelos anjos, a iluminar a Terra, de uma a outra ponta do
Universo, mais clara que o sol, a anunciar o Dia do Senhor.
Comentário feito por:
Papa Bento XVI
Homilia para a Vigília pascal, 07/04/2007 © copyright Libreria Editrice Vaticana.
«Ele entregou-Se a si mesmo à morte e, pela ressurreição, destruiu a morte e renovou
a vida» (Oração eucarística IV)
No Credo proclamamos, a propósito do caminho de Cristo: «Desceu à mansão dos mortos».
[...] A liturgia aplica à descida de Jesus à noite da morte as palavras do salmo 24 (23): «Ó
portas, levantai os vossos umbrais! Alteai-vos, pórticos eternos!» A porta da morte está
fechada: ninguém pode passar através dela. Não há chave para essa porta de ferro. No
entanto, Cristo tem a chave. A Sua cruz abre de par em par todas as portas invioláveis da
morte, que deixaram de ser inexpugnáveis. A Sua cruz, a radicalidade do Seu amor, é a
chave que abre essa porta. O amor Daquele que, sendo Deus, Se fez homem para poder
morrer tem força para abrir a porta. É um amor mais forte do que a morte.
Os ícones pascais da Igreja do Oriente mostram como Cristo entra no mundo dos mortos.
As Suas vestes são luminosas, porque Deus é luz. «A noite seria, para Ti, brilhante como o
dia» (Sl. 139 (138), 12). Jesus entra no mundo dos mortos com os estigmas; as Suas chagas,
os Seus sofrimentos tornaram-se poderosos: são amor capaz de vencer a morte. Jesus
encontra Adão e todos os homens que esperam nas sombras da morte. Vendo-os, quase
podemos ouvir a oração de Jonas: «Clamei a Ti do meio da morada dos mortos e Tu ouviste
a minha voz» (Jn.2, 3).
Pela encarnação, o Filho de Deus fez-Se um com os seres humanos, com Adão. Mas só
quando realizou o supremo ato de amor, descendo da noite da morte, levou a bom termo o
caminho da encarnação. Pela Sua morte, tomou pela mão Adão e toda a humanidade
expectante e guiou-os para a luz.
Comentário feito por:
Santo João Crisóstomo (c. 345-407), padre em Antioquia, depois Bispo de Constantinopla,
Doutor da Igreja
Homília sobre «Pai, se é possível» (a partir da trad. Delhougne, Les Pères commentent, p.
72)
«Tanto amou Deus o mundo»
Foi a cruz que reconciliou os homens com Deus, que fez da terra um céu, que uniu os
homens aos anjos. Ela derrubou a cidadela da morte, destruiu o poder do demônio, libertou
a terra do mal, estabeleceu os fundamentos da Igreja. A cruz é a vontade do Pai, a glória do
Filho, o júbilo do Espírito Santo. [...]
A cruz é mais brilhante que o sol porque, quando o sol se turva, a cruz resplandece; e o sol
turva-se, não no sentido de ser aniquilado, mas de ser vencido pelo esplendor da cruz. A
cruz rasgou a acta da nossa condenação, quebrou as cadeias da morte. A cruz é a
manifestação do amor de Deus: «Tanto amou Deus o mundo, que lhe entregou o Seu Filho
Unigênito, a fim de que todo o que Nele crê não se perca».
A cruz abriu o paraíso, deixou que nele entrasse o malfeitor (Lc 23,43) e conduziu ao Reino
dos Céus a criatura humana, destinada à morte.
Jo.3,16-21 – DDPS- p1387
16.Com efeito, de tal modo Deus amou o mundo, que lhe deu seu Filho único, para que todo o que nele crer
não pereça, mas tenha a vida eterna.
17.Pois Deus não enviou o Filho ao mundo para condená-lo, mas para que o mundo seja salvo por ele.
18.Quem nele crê não é condenado, mas quem não crê já está condenado; por que não crê no nome do Filho
único de Deus.
19.Ora, este é o julgamento: a luz veio ao mundo, mas os homens amaram mais as trevas do que a luz, pois as
suas obras eram más.
20.Porquanto todo aquele que faz o mal odeia a luz e não vem para a luz, para que as suas obras não sejam
reprovadas.
21.Mas aquele que pratica a verdade, vem para a luz. Torna-se assim claro que as suas obras são feitas em
Deus.
Comentário feito por:
Santo Hipólito de Roma (?-c. 235), presbítero e mártir
A Tradição Apostólica, 25 (trad. SC 11, p. 101)
«Quem pratica a verdade aproxima-se da Luz»
Quando o bispo estiver presente, ao cair da noite, o diácono trará a lamparina e, de pé
diante de todos os fiéis presentes, dará graças. Começará por fazer a saudação, dizendo: «O
Senhor esteja convosco.» O povo responde: «Ele está no meio de nós.» «Demos graças ao
Senhor, nosso Deus.» E o povo: «É nosso dever, é nossa salvação; grandeza e louvor Lhe
sejam dadas, e glória.» [...]
E rezará desta maneira: «Graças vos damos, Senhor, por Teu Filho Jesus Cristo, nosso
Senhor, por Quem nos iluminas, revelando-nos a luz que não se extingue. Pois que
percorremos todo este dia e chegamos ao começo da noite, saciando-nos com a luz do dia,
que criaste para nossa satisfação, e visto que agora, por Tua graça, não nos falta a luz da
noite, nós Te louvamos e Te glorificamos por Teu Filho Jesus Cristo, nosso Senhor, por
Quem Te sejam dadas glória, poder e honra, na unidade do Espírito Santo, agora e para
sempre, pelos séculos dos séculos. Amém.» E todos respondem: «Amém»
Levantar-se-ão, pois, após a refeição, para rezar. E as crianças recitarão os salmos,
acompanhadas pelas virgens
Comentário feito por:
Santo Gregório Nazianzo (330-390), bispo e Doutor da Igreja
Hino 32; PG 37, 511-512
Vir à luz
Nós Te bem dizemos, Pai da Luz,
Cristo, Verbo de Deus, Esplendor do Pai,
Luz da Luz, e fonte de Luz,
Espírito de fogo, sopro do Filho e do Pai
Trindade Santa, Luz indivisa,
Tu dissipaste as trevas para criar
Um mundo luminoso, de ordem e beleza,
Feito à Tua semelhança.
De razão e de sabedoria iluminaste o homem,
Iluminaste-o com o selo da Tua Imagem,
De modo que, na Tua luz, veja a luz (Sl.36,10),
E todo ele se torne luz.
Fizeste brilhar no céu inúmeras estrelas,
Ordenaste ao dia e à noite
que se entendessem e partilhassem o tempo
Alternadamente, pacificamente.
A noite põe termo ao trabalho do corpo cansado,
O dia chama às obras que Te agradam,
Ensina-nos a fugir das trevas, a apressar-nos
Para esse dia que não terá ocaso.
Jo.3,22-30 ddps - p1387
22.Em seguida, foi Jesus com os seus discípulos para os campos da Judéia, e ali se deteve com eles, e
batizava.
23.Também João batizava em Enon, perto de Salim, porque havia ali muita água, e muitos vinham e eram
batizados.
24.Pois João ainda não tinha sido lançado no cárcere.
25.Ora, surgiu uma discussão entre os discípulos de João e um judeu, a respeito da purificação.
26.Foram e disseram-lhe: Mestre, aquele que estava contigo além do Jordão, de quem tu deste testemunho, eilo que está batizando e todos vão ter com ele...
27.João replicou: Ninguém pode atribuir-se a si mesmo senão o que lhe foi dado do céu.
28.Vós mesmos me sois testemunhas de que disse: Eu não sou o Cristo, mas fui enviado diante dele.
29.Aquele que tem a esposa é o esposo. O amigo do esposo, porém, que está presente e o ouve, regozijase sobremodo com a voz do esposo. Nisso consiste a minha alegria, que agora se completa.
30.Importa que ele cresça e que eu diminua.
Comentário feito por:
Diádoco de Foticeia (c. 400-?), bispo
A Perfeição Espiritual, 12-14; PG 65, 1171 (a partir da trad. de Solesmes, Lecionário, t. 2,
p. 151 rev.)
«Mas o amigo do esposo, que está ao seu lado [...], sente muita alegria»
A glória convém a Deus devido à Sua grandeza e a humildade convém ao homem porque
faz dele família de Deus. Se assim agirmos, ficaremos alegres a exemplo de São João
Baptista, e começaremos a repetir sem descanso: «Ele é que deve crescer e eu diminuir».
Conheço uma pessoa que ama tanto a Deus – embora se aflija por não O amar tanto como
gostaria –, que a sua alma experimenta sem cessar este desejo ardente: que Deus seja
glorificado nele e que ele próprio se apague. Um homem assim não sabe quem é, ainda que
receba elogios, porque, no seu grande desejo de se humilhar, não pensa na sua própria
dignidade. Cumpre o culto divino [...] mas, na sua extrema disposição de amor para com
Deus, enterra a lembrança da sua própria dignidade no abismo do seu amor a Deus [...],
apaga o orgulho que daí retiraria para nunca parecer, ao seu próprio julgamento, senão
como um servo inútil (Lc 17,10). [...] É o que devemos fazer também: evitar todas as
honrarias e todas as glórias por causa da riqueza transbordante de amor do Senhor que tanto
nos amou.
Aquele que ama a Deus do fundo do coração é por Ele reconhecido. Com efeito, na medida
em que acolhemos o amor de Deus no fundo da nossa alma, nessa mesma medida, temos o
amor de Deus. É por isso que, de agora em diante, um tal homem vive numa paixão ardente
pela iluminação do conhecimento, até que venha a saborear uma grande plenitude interior.
Nesse momento, já não se reconhece a si mesmo, fica inteiramente transformado pelo amor
de Deus. Um homem assim está nesta vida sem cá estar. Embora continue a habitar o
corpo, sai dele continuamente, pelo movimento do amor da alma, que o transporta para
Deus. Daí em diante, nunca mais pára: com o coração a arder no fogo do amor, permanece
agarrado a Deus de forma irresistível porque, pelo amor de Deus, foi arrancado
definitivamente à amizade para consigo mesmo.
Comentário feito por:
Santo Agostinho (354-430), Bispo de Hipona (Norte de África) e Doutor da Igreja
Sermão 194, 11º sermão para a Natividade do Senhor (trad. col. Icthus, t. 8, p. 98 rev.)
«Esta é a minha alegria! E tornou-se completa!»
Escutai, filhos da luz, vós que fostes adotadas em vista do Reino de Deus; escutai,
caríssimos irmãos; escutai e regozijai-vos no Senhor, vós os justos, pois «aos retos de
coração pertence o louvor» (Sl. 33, 1). Escutai o que já sabeis, meditai no que ouvistes,
amai aquilo em que acreditais, proclamai aquilo que amais! [...]
Cristo nasceu, Deus por Seu Pai, homem por Sua mãe; Ele nasceu da imortalidade de Seu
Pai e da virgindade de Sua mãe. De Seu Pai, sem a participação de uma mãe; de Sua mãe,
sem a de um pai. De Seu Pai, sem o tempo; de Sua mãe, sem a semente. De Seu Pai, Ele é
princípio de vida; de Sua mãe, o fim da morte. De Seu Pai, nasceu para reger a ordem dos
dias; de Sua mãe, para consagrar este dia.
À Sua frente enviou João Baptista, que fez nascer quando os dias começam a diminuir,
tendo Ele próprio nascido quando os dias começam a aumentar, prefigurando deste modo as
palavras desse mesmo João: «Ele é que deve crescer e eu diminuir». De fato, a vida humana
deve enfraquecer em si mesma e aumentar em Jesus Cristo, «para que os que vivem não
vivam mais para si mesmos, mas para Aquele que neles morreu e ressuscitou» (2Co. 5, 15).
E para que todos nós possamos repetir estas palavras do Apóstolo Paulo: «Já não sou eu
que vivo, é Cristo que vive em mim» (Gal 2, 20).
Jo.5,31-47 –DDPS -p.1390.1
31.Se eu der testemunho de mim mesmo, não é digno de fé o meu testemunho.
32.Há outro que dá testemunho de mim, e sei que é digno de fé o testemunho que dá de mim.
33.Vós enviastes mensageiros a João, e ele deu testemunho da verdade.
34.Não invoco, porém, o testemunho de homem algum. Digo-vos essas coisas, a fim de que sejais salvos.
35.João era uma lâmpada que arde e ilumina; vós, porém, só por uma hora quisestes alegrar-vos com a sua
luz.
36.Mas tenho maior testemunho do que o de João, porque as obras que meu Pai me deu para executar - essas
mesmas obras que faço - testemunham a meu respeito que o Pai me enviou.
37.E o Pai que me enviou, ele mesmo deu testemunho de mim. Vós nunca ouvistes a sua voz nem vistes a sua
face...
38.e não tendes a sua palavra permanente em vós, pois não credes naquele que ele enviou.
39.Vós perscrutais as Escrituras, julgando encontrar nelas a vida eterna. Pois bem! São elas mesmas que dão
testemunho de mim. 40.
E
vós não quereis vir a mim para que tenhais a vida...
41.Não espero a minha glória dos homens,
42.mas sei que não tendes em vós o amor de Deus.
43.Vim em nome de meu Pai, mas não me recebeis. Se vier outro em seu próprio nome, haveis de recebê-lo...
44.Como podeis crer, vós que recebeis a glória uns dos outros, e não buscais a glória que é só de Deus?
45.Não julgueis que vos hei de acusar diante do Pai; há quem vos acusa: Moisés, no qual colocais a vossa
esperança.
46.Pois se crêsseis em Moisés, certamente creríeis em mim, porque ele escreveu a meu respeito.
47.Mas, se não acreditais nos seus escritos, como acreditareis nas minhas palavras?
Comentário feito por:
Concílio Vaticano II
Constituição dogmática sobre a Revelação Divina (Dei Verbum), §§ 14-16
«Investigai as Escrituras [...]: são elas que dão testemunho a Meu favor.»
Deus amantíssimo, desejando e preparando com solicitude a salvação de todo o gênero
humano, escolheu por especial providência um Povo a quem confiar as Suas promessas.
[...] A «economia» da salvação, de antemão anunciada, narrada e explicada pelos autores
sagrados, encontra-se nos livros do Antigo Testamento, como verdadeira Palavra de Deus.
Por isso, estes livros divinamente inspirados conservam o seu valor perene: «Tudo quanto
está escrito para nossa instrução está escrito para que, por meio da paciência e da
consolação que nos vêm da Escritura, tenhamos esperança» (Rom 15,4).
A «economia» do Antigo Testamento destinava-se sobretudo a preparar, a anunciar
profeticamente e a simbolizar com várias figuras o advento de Cristo, redentor universal, e
o do reino messiânico. Mas os livros do Antigo Testamento, segundo a condição do gênero
humano antes do tempo da salvação estabelecida por Cristo, manifestam a todos o
conhecimento de Deus e do homem, e o modo como Deus, justo e misericordioso, trata os
homens. Tais livros, apesar de conterem também coisas imperfeitas e transitórias, revelam
contudo a verdadeira pedagogia divina. Por isso, os fiéis devem receber com devoção estes
livros, que exprimem o vivo sentido de Deus, nos quais se encontram sublimes doutrinas a
respeito de Deus, uma sabedoria salutar a respeito da vida humana, bem como admiráveis
tesouros de preces, nos quais, finalmente, está latente o mistério da nossa salvação.
Foi por isso que Deus, inspirador e autor dos livros dos dois testamentos, dispôs tão
sabiamente as coisas, que o Novo Testamento está latente no Antigo, e o Antigo
Testamento está patente no Novo. Pois, apesar de Cristo ter alicerçado a Nova Aliança no
Seu sangue, os livros do Antigo Testamento, ao serem integralmente assumidos na
pregação evangélica, adquirem e manifestam a sua plena significação no Novo Testamento,
que por sua vez iluminam e explicam.
Jo,(6,22-29) – pg.1391/2 – Discurso de Jesus sobre o Pão da Vida – DDPS
22.No dia seguinte, a multidão que tinha ficado do outro lado do mar percebeu que Jesus não tinha subido
com seus discípulos na única barca que lá estava, mas que eles tinham partido sozinhos.
23.Nesse meio tempo, outras barcas chegaram de Tiberíades, perto do lugar onde tinham comido o pão,
depois de o Senhor ter dado graças.
24.E, reparando a multidão que nem Jesus nem os seus discípulos estavam ali, entrou nas barcas e foi até
Cafarnaum à sua procura.
25.Encontrando-o na outra margem do lago, perguntaram-lhe: Mestre, quando chegaste aqui?
26.Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: buscais-me, não porque vistes os milagres, mas
porque comestes dos pães e ficastes fartos.
27.Trabalhai, não pela comida que perece, mas pela que dura até a vida eterna, que o Filho do Homem vos
dará. Pois nele Deus Pai imprimiu o seu sinal.
28.Perguntaram-lhe: Que faremos para praticar as obras de Deus?
29.Respondeu-lhes Jesus: A obra de Deus é esta: que creiais naquele que ele enviou.
Comentário feito por:
Inácio de Antioquia (? - cerca 110), bispo e mártir
Carta aos naturais de Filadélfia
«O reino de Deus é que acreditais naquele que ele enviou» - (v.29)
Vós, filhos da luz verdadeira, fugi das querelas e das más doutrinas. Como ovelhas, segui o
vosso pastor. Porque muitas vezes os lobos aparentemente dignos de fé extraviam os que
correm na corrida de Deus, mas se permanecerdes unidos, eles não encontrarão lugar entre
vós.
Tende pois cuidado em participar numa única eucaristia; não há, com efeito, senão uma só
carne de Nosso Senhor, um só cálice para nos unir no seu sangue, um só altar, como não há
senão um só bispo rodeado de padres e de diáconos. Assim, tudo o que fizerdes, vós o
fareis segundo Deus... Meu refúgio é o Evangelho, que é para mim o próprio Jesus na
carne, e os apóstolos, que encarnam o presbitério da Igreja. Amemos também os profetas,
porque também eles anunciaram o Evangelho; eles esperaram em Cristo e esperam-no;
acreditando nele, foram salvos e, permanecendo unidos a Jesus Cristo, santos dignos de
amor e admiração, mereceram receber o testemunho de Jesus Cristo e ter lugar no
Evangelho, nossa esperança comum...
Deus não habita onde reina a divisão e a cólera. Mas o Senhor perdoa a todos os que se
arrependem, se o arrependimento os levar à união com Cristo que nos libertará de toda a
opressão. Suplico-vos, não ajam no espírito de querela, mas segundo os ensinamentos de
Cristo. Ouvi que diziam: «O que não encontro nos arquivos, não o acredito no
Evangelho»... Para mim, os meus arquivos, é o Cristo; os meus arquivos invioláveis são a
cruz, a sua morte e a sua ressurreição, e a fé que vem dele. Eis donde espero, com a ajuda
das vossas orações, toda a minha justificação
Jô.6,22-71: - < Discurso de Jesus sobre Pão da Vida>. – pg1391/92 - DDPS
22.No dia seguinte, a multidão que tinha ficado do outro lado do mar percebeu que Jesus não tinha subido
com seus discípulos na única barca que lá estava, mas que eles tinham partido sozinhos.
23.Nesse meio tempo, outras barcas chegaram de Tiberíades, perto do lugar onde tinham comido o pão,
depois de o Senhor ter dado graças.
24.E, reparando a multidão que nem Jesus nem os seus discípulos estavam ali, entrou nas barcas e foi até
Cafarnaum à sua procura.
25.Encontrando-o na outra margem do lago, perguntaram-lhe: Mestre, quando chegaste aqui?
26.Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: buscais-me, não porque vistes os milagres, mas
porque comestes dos pães e ficastes fartos.
27.Trabalhai, não pela comida que perece, mas pela que dura até a vida eterna, que o Filho do Homem vos
dará. Pois nele Deus Pai imprimiu o seu sinal.
28.Perguntaram-lhe: Que faremos para praticar as obras de Deus?
29.Respondeu-lhes Jesus: A obra de Deus é esta: que creiais naquele que ele enviou.
30.Perguntaram eles: Que milagre fazes tu, para que o vejamos e creiamos em ti? Qual é a tua obra?
31.Nossos pais comeram o maná no deserto, segundo o que está escrito: Deu-lhes de comer o pão vindo do
céu (Sl 77,24).
32.Jesus respondeu-lhes: Em verdade, em verdade vos digo: Moisés não vos deu o pão do céu, mas o meu Pai
é quem vos dá o verdadeiro pão do céu;
33.porque o pão de Deus é o pão que desce do céu e dá vida ao mundo.
34.Disseram-lhe: Senhor, dá-nos sempre deste pão!
35.Jesus replicou: Eu sou o pão da vida: aquele que vem a mim não terá fome, e aquele que crê em mim
jamais terá sede.
36.Mas já vos disse: Vós me vedes e não credes...
37.Todo aquele que o Pai me dá virá a mim, e o que vem a mim não o lançarei fora.
38.Pois desci do céu não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou.
39.Ora, esta é a vontade daquele que me enviou: que eu não deixe perecer nenhum daqueles que me deu, mas
que os ressuscite no último dia.
40.Esta é a vontade de meu Pai: que todo aquele que vê o Filho e nele crê, tenha a vida eterna; e eu o
ressuscitarei no último dia.
41.Murmuravam então dele os judeus, porque dissera: Eu sou o pão que desceu do céu.
42.E perguntavam: Porventura não é ele Jesus, o filho de José, cujo pai e mãe conhecemos? Como, pois, diz
ele: Desci do céu?
43.Respondeu-lhes Jesus: Não murmureis entre vós.
44.Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o atrair; e eu hei de ressuscitá-lo no último dia.
45.Está escrito nos profetas: Todos serão ensinados por Deus (Is 54,13). Assim, todo aquele que ouviu o Pai e
foi por ele instruído vem a mim.
46.Não que alguém tenha visto o Pai, pois só aquele que vem de Deus, esse é que viu o Pai.
47.Em verdade, em verdade vos digo: quem crê em mim tem a vida eterna.
48.Eu sou o pão da vida.
49.Vossos pais, no deserto, comeram o maná e morreram.
50.Este é o pão que desceu do céu, para que não morra todo aquele que dele comer.
51.Eu sou o pão vivo que desceu do céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. E o pão, que eu hei
de dar, é a minha carne para a salvação do mundo.
52.A essas palavras, os judeus começaram a discutir, dizendo: Como pode este homem dar-nos de comer a
sua carne?
53.Então Jesus lhes disse: Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem, e
não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós mesmos.
54.Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia.
55.Pois a minha carne é verdadeiramente uma comida e o meu sangue, verdadeiramente uma bebida.
56.Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele.
57.Assim como o Pai que me enviou vive, e eu vivo pelo Pai, assim também aquele que comer a minha carne
viverá por mim.
58.Este é o pão que desceu do céu. Não como o maná que vossos pais comeram e morreram. Quem come
deste pão viverá eternamente.
59.Tal foi o ensinamento de Jesus na sinagoga de Cafarnaum.
60.Muitos dos seus discípulos, ouvindo-o, disseram: Isto é muito duro! Quem o pode admitir?
61.Sabendo Jesus que os discípulos murmuravam por isso, perguntou-lhes: Isso vos escandaliza?
62.Que será, quando virdes subir o Filho do Homem para onde ele estava antes?...
63.O espírito é que vivifica, a carne de nada serve. As palavras que vos tenho dito são espírito e vida.
64.Mas há alguns entre vós que não crêem... Pois desde o princípio Jesus sabia quais eram os que não criam e
quem o havia de trair.
65.Ele prosseguiu: Por isso vos disse: Ninguém pode vir a mim, se por meu Pai não lho for concedido.
66.Desde então, muitos dos seus discípulos se retiraram e já não andavam com ele.
67.Então Jesus perguntou aos Doze: Quereis vós também retirar-vos?
68.Respondeu-lhe Simão Pedro: Senhor, a quem iríamos nós? Tu tens as palavras da vida eterna.
69E nós cremos e sabemos que tu és o Santo de Deus!
70.Jesus acrescentou: Não vos escolhi eu todos os doze? Contudo, um de vós é um demônio!...
71.Ele se referia a Judas, filho de Simão Iscariotes, porque era quem o havia de entregar não obstante ser um
dos Doze.
- O uso da Palavra de Sabedoria, no discurso do Pão da Vida (Jo.6,22-71), onde Simão
Pedro responde à pergunta de Jesus, se eles, os discípulos, também se retirariam como os
outros tinham se retirado e “não andavam mais com Ele (Jô.6,66), porque Jesus tinha lhes
dito que era “ o Pão Vivo que desceu do céu”. ( Jô.6,51).
- Pedro respondeu com a seguinte Palavra de Sabedoria: “Senhor, a quem iremos nós? Tu
tens palavras de vida eterna”.(Jô.6,68).
- Enfim, a natureza intelectual da pessoa humana se aperfeiçoa e deve ser enviada pela
sabedoria. Esta atrai de maneira suave a mente do homem à procura e ao amor a verdade e
do bem. Impregnado de sabedoria o homem passa das coisas visíveis para às coisas
invisíveis.
- A nossa época mais do que nos séculos passados precisa desta sabedoria para que se
tornem mais humanas todas as novidades descobertas pelo homem.
- Pelo dom do Espírito Santo, o homem, na fé, chega a contemplar e a saborear o mistério
do plano divino.
Jo.6,22-29 DDPS – p.1392
22.No dia seguinte, a multidão que tinha ficado do outro lado do mar percebeu que Jesus não tinha subido
com seus discípulos na única barca que lá estava, mas que eles tinham partido sozinhos.
23.Nesse meio tempo, outras barcas chegaram de Tiberíades, perto do lugar onde tinham comido o pão,
depois de o Senhor ter dado graças.
24E, reparando a multidão que nem Jesus nem os seus discípulos estavam ali, entrou nas barcas e foi até
Cafarnaum à sua procura.
25.Encontrando-o na outra margem do lago, perguntaram-lhe: Mestre, quando chegaste aqui?
26.Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: buscais-me, não porque vistes os milagres, mas
porque comestes dos pães e ficastes fartos.
27.Trabalhai, não pela comida que perece, mas pela que dura até a vida eterna, que o Filho do Homem vos
dará.Pois nele Deus Pai imprimiu o seu sinal.
28.Perguntaram-lhe: Que faremos para praticar as obras de Deus?
29.Respondeu-lhes Jesus: A obra de Deus é esta: que creiais naquele que ele enviou.
Comentário feito por:
Pedro o Venerável (1092-1156), Abade de Cluny
Sermão sobre o elogio do Santo Sepulcro (trad. Sr Isabelle de la Source, Lire la Bible,
Mediaspaul 2000, t. 6, p. 58)
«À procura de Jesus»
Escutai, povos de todo o mundo; escutai, nações espalhadas por toda a superfície da terra;
ouvi, tribos e raças diversas (cf. Ap.7, 9), todos vós que vos julgáveis abandonados e que
vos consideráveis até agora miseráveis, ouvi e alegrai-vos: o vosso Criador não vos
esqueceu. Ele não quis que a Sua cólera retivesse por mais tempo as Suas misericórdias; na
Sua bondade, quer agora salvar, não só o pequeno número dos judeus, mas a imensa
multidão. Escutai o santo profeta Isaías [...]: «Naquele dia, a raiz de Jessé será erguida
como um sinal para os povos» (11,10). [...]
Como o próprio Jesus atestou, Ele é Aquele que «Deus Pai marcou com o Seu selo», para
que seja um sinal. Mas um sinal de quê? Para que, exaltado no cimo do estandarte da cruz,
qual serpente de bronze elevada no meio do campo (Nm.21), Ele volte para Si os olhares,
não só do povo judeu, mas de todo o universo, e atraia para Si, pela Sua morte na cruz, o
coração de todos os homens. Assim, ensiná-los-á a pôr nEle toda a esperança. Ao curar-lhes
todas as fraquezas, ao perdoar-lhes todos os pecados, ao abrir a todos o Reino dos Céus
encerrado há tanto tempo, mostrar-lhes-á que é verdadeiramente «Aquele que será enviado
[...], Aquele que todas as nações aguardavam» (Gn 49, 10). Este sinal, Ele próprio o
elaborou para os povos, a fim de «juntar os exilados de Israel e reunir os dispersos de Judá
dos quatro cantos da terra» (Is 11, 12).
(Jô.6,30-35) – pg.1392 – DDPS – Discurso sobre o Pão da Vida
30.Perguntaram eles: Que milagre fazes tu, para que o vejamos e creiamos em ti? Qual é a tua obra?
31.Nossos pais comeram o maná no deserto, segundo o que está escrito: Deu-lhes de comer o pão vindo do
céu (Sl 77,24).
32.Jesus respondeu-lhes: Em verdade, em verdade vos digo: Moisés não vos deu o pão do céu, mas o meu Pai
é quem vos dá o verdadeiro pão do céu;
33.porque o pão de Deus é o pão que desce do céu e dá vida ao mundo.
34.Disseram-lhe: Senhor, dá-nos sempre deste pão!
35.Jesus replicou: Eu sou o pão da vida: aquele que vem a mim não terá fome, e aquele que crê em mim
jamais terá sede.
Que milagres realizas?
A questão apresentada a Jesus põe em xeque a idoneidade e a credibilidade de sua missão.
Era como se estivessem pedindo suas credenciais. Se não pudesse provar que estava agindo
com autoridade, seria um simples impostor.
Servindo-se de uma brecha oferecida por seus interlocutores, o Mestre lhes sugere uma
reflexão. Segundo eles, no passado, Moisés havia revelado a veracidade de sua missão ao
alimentar a multidão com o maná descido do céu. Também, Jesus deveria fazer algo para
provar quem ele era.
A ponderação de Jesus levanta dúvidas sobre uma crença inquestionável: o milagre não
fora realizado por Moisés, mas pelo Pai. Este, sim, foi quem alimentou o povo na sua
penosa marcha pelo deserto. O Pai estava tomando novamente a mesma providência de
alimentar seu povo. Só que, agora, o maná era seu próprio Filho. Por isso, este podia
apresentar-se como "o pão da vida", capaz de saciar a fome e a sede de quantos se
deixassem atrair por ele.
Por conseguinte, antes de mais nada, era mister perceber o sinal que o Pai estava realizando
na pessoa de seu Filho. Qualquer outro milagre seria inútil, se este sinal fundamental não
fosse percebido.
A perspicácia teológica dos interlocutores de Jesus estava sendo posta à prova.
(Jô.6,30-35)-pg.1392 – Discurso sobre o Pão da Vida - DDPS
Comentário feito por:
São Justino (100 -160), filósofo, mártir
Primeira Apologia, 67.66
«O verdadeiro pão descido do céu»: no século II, uma das primeiras descrições da
eucaristia para além do Novo Testamento. (v.51)
No dia a que chamamos dia do sol [domingo], nas cidades e nas aldeias todos os habitantes
se reúnem num dado lugar. Lêem-se as memórias dos apóstolos e os escritos dos profetas
segundo o tempo de que se dispõe. Quando a leitura termina, aquele que preside toma a
palavra para chamar a atenção sobre os ensinamentos recebidos e para exortar ao seu
seguimento. Depois levantamo-nos, e em conjunto apresentamos as intenções de oração.
Seguidamente traz-se o pão, o vinho e a água. O presidente dirige ardentemente ao céu
súplicas e ações de graças, e o povo responde com a aclamação «Amem!», uma palavra
hebraica que quer dizer: «Assim seja».
Chamamos este alimento Eucaristia, e ninguém o pode tomar se não acredita na verdade da
nossa doutrina e se não recebeu o banho do batismo para a remissão dos pecados e
regeneração. Porque nós não tomamos este alimento como se toma um pão ou uma bebida
vulgar. Do mesmo modo que, pela Palavra de Deus, Jesus Cristo nosso Salvador encarnou,
tomando carne e sangue para nossa salvação, também o alimento consagrado pelas próprias
palavras rezadas e, destinado a alimentar a nossa carne e o nosso sangue para nos
transformar, este alimento é a carne e o sangue de Jesus encarnado: esta é a nossa doutrina.
Aos Apóstolos, nas memórias que nos deixaram, a que chamamos os Evangelhos,
transmitiram-nos a recomendação que Jesus lhes fez: Tomou o pão, abençoou e disso :
«Fazei isto em minha memória; isto é o meu corpo». De igual modo tomou o cálice,
abençoou-o e disse: «Isto é o meu sangue». E só lhos deu a eles (Mt 26,26s; 1Co 11,23s)...
É no dia do sol que nos reunimos todos, porque este é o primeiro dia, aquele em que Deus
para fazer o mundo separou a matéria das trevas, e ainda o dia em que Jesus Cristo nosso
Salvador ressuscitou dos mortos.
Jo.(6,30-35) - pg.1392 – Discurso de Jesus sobre o Pão da Vida - DDPS
Comentário feito por:
Catecismo da Igreja Católica
§ 1337-1341
"Não foi Moisés quem vos deu o pão que vinha do céu; é o meu Pai que vos dá o
verdadeiro pão que vem do céu" – (v.32)
Tendo amado os seus, o Senhor amou-os até ao fim. Sabendo que era chegada a hora de
partir deste mundo para regressar ao Pai, no decorrer duma refeição, lavou-lhes os pés e
deu-lhes o mandamento do amor. Para lhes deixar uma garantia deste amor, para jamais se
afastar dos seus e para os tornar participantes da sua Páscoa, instituiu a Eucaristia como
memorial da sua morte e da sua ressurreição, e ordenou aos seus Apóstolos que a
celebrassem até ao seu regresso, «constituindo-os, então, sacerdotes do Novo Testamento»
(Concílio de Trento)...
Celebrando a última ceia com os seus Apóstolos, no decorrer do banquete pascal, Jesus deu
o seu sentido definitivo à Páscoa judaica. Com efeito, a passagem de Jesus para o seu Pai,
pela sua morte e ressurreição – a Páscoa nova – é antecipada na ceia e celebrada na
Eucaristia, que dá cumprimento a Páscoa judaica e antecipa a Páscoa final da Igreja na
glória do Reino.
Ao ordenar que repetissem os seus gestos e palavras, «até que Ele venha» (1 Cor 11, 26),
Jesus não pede somente que se lembrem d'Ele e do que Ele fez. Tem em vista a celebração
litúrgica, pelos apóstolos e seus sucessores, do memorial de Cristo, da sua vida, morte,
ressurreição e da sua intercessão junto do Pai.
Comentário feito por:
São Justino (c. 100-160), filósofo, mártir
Primeira Apologia, 67.66; Pg 6, 427-431
«O verdadeiro pão vindo do céu»: no século II, uma das primeiras descrições da
eucaristia fora do Novo Testamento
No dia que se chama o dia do sol [o domingo], todos os habitantes das cidades ou dos
campos se reúnem num só local. Lemos as memórias dos apóstolos e os escritos dos
profetas quando o tempo o permite. Quando a leitura termina, quem preside toma a palavra
para chamar a atenção sobre esses belos ensinamentos e exortar a segui-los. Seguidamente,
levantamo-nos todos juntos e recomendamos as intenções de oração. Depois trazem pão,
vinho e água. O presidente faz subir de todo o seu coração ao céu orações e ações de
graças, e o povo responde com a aclamação «Ámem!», uma palavra hebraica que significa:
«Assim seja».
Nós chamamos este alimento eucaristia, e ninguém pode tomar parte dele se não crê na
verdade da nossa doutrina e se não recebeu o banho do batismo para a remissão dos
pecados e a regeneração. Porque nós não tomamos este alimento como um pão vulgar ou
uma bebida comum. Tal como, pela Palavra de Deus, Jesus Cristo, nosso Salvador, encarou
em carne e osso para a nossa salvação, assim o alimento consagrado nas próprias palavras
da Sua oração é destinado a alimentar a nossa carne e o nosso sangue para nos transformar;
este alimento é o corpo e o sangue de Jesus encartado: esta é a nossa doutrina. Os
apóstolos, nas memórias que nos deixaram e a que chamamos evangelhos, transmitiram-nos
assim a recomendação que Jesus lhes fez: Ele tomou o pão, deu graças e disse: «Fazei isto
em memória de Mim; isto é o Meu corpo». Tomou igualmente um cálice, deu graças e
disse: «Isto é o Meu sangue». E deu-lhos só a eles (Mt 26, 26ss.; 1Cor 11, 23ss.). [...] É no
dia do sol que nós nos reunimos todos, porque esse é o primeiro dia, em que Deus separou
a matéria das trevas para fazer o mundo, e é o dia em que Jesus Cristo nosso Salvador
ressuscitou dos mortos.
Comentário feito por:
São Cirilo de Alexandria
380-444), bispo e Doutor da Igreja
Sobre Isaías, IV, 1
«É meu Pai que vos dá o verdadeiro pão que vem do céu»
«Cantai ao Senhor um cântico novo!» (Sl 95, 1). Novo é o cântico, para se ajustar a
realidades novas; Paulo escreveu: «Se alguém está em Cristo é uma criatura nova; o mundo
antigo passou, foi feito um mundo novo» (2Cor 5, 17). Os que eram israelitas pelo sangue
foram libertados da tirania dos egípcios graças ao mediador desse tempo, o muito sábio
Moisés; foram libertados do trabalho penoso dos tijolos, dos suores inúteis das tarefas
terrenas [...], da crueldade dos supervisores, da dureza inumana do faraó. Atravessaram o
mar; no deserto comeram o maná; beberam água que jorrou do rochedo; passaram o Jordão
a pé enxuto; foram introduzidos na Terra da promessa.
Ora, por nós, tudo isso foi renovado, e o mundo novo é incomparavelmente melhor que o
antigo. Nós fomos libertados de uma escravatura, não terrena, mas espiritual; fomos
libertados, não só das tarefas desta terra, mas da mancha dos prazeres carnais. Escapamos,
não aos contramestres egípcios ou ao tirano ímpio e impiedoso, homem como nós, mas aos
demônios malignos e impuros que incitam a pecar, e ao chefe da sua raça, Satanás.
Atravessamos as ondas da vida presente, como um mar, com o seu tumulto e as suas loucas
agitações. Comemos o maná espiritual, o pão descido do céu, que dá a vida ao mundo.
Bebemos a água que jorra da rocha, fazendo das águas vivas de Cristo as nossas delícias.
Atravessamos o Jordão graças ao santo batismo que fomos julgados dignos de receber.
Entramos na Terra prometida aos santos e preparada para eles, esta terra que o Senhor
recorda ao dizer: «Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra» (Mt.5, 4).
Jo.(6,35-40) – pg.1392 – DDPS –Discurso de Jesus sobre o Pão da Vida.
35.Jesus replicou: Eu sou o pão da vida: aquele que vem a mim não terá fome, e aquele que crê em mim
jamais terá sede.
36.Mas já vos disse: Vós me vedes e não credes...
37.Todo aquele que o Pai me dá virá a mim, e o que vem a mim não o lançarei fora.
38.Pois desci do céu não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou.
39.Ora, esta é a vontade daquele que me enviou: que eu não deixe perecer nenhum daqueles que me deu, mas
que os ressuscite no último dia.
40.Esta é a vontade de meu Pai: que todo aquele que vê o Filho e nele crê,tenha vida eterna;e eu o
ressuscitarei no último dia
Comentário feito por:
S. Francisco de Assis (1182-1226), fundador dos Irmãos menores
Carta a toda a ordem
«Eu não desci do céu para fazer a minha vontade, mas para fazer a vontade daquele que me
enviou»- (v.38)
Deus todo-poderoso, eterno, justo e bom, por nós mesmos somos apenas pobreza.
Mas tu, por causa de ti próprio, concedes-nos que façamos o que sabemos que tu queres, e
querermos sempre o que te agrada.
Assim tornar-nos-emos capazes, interiormente purificados, iluminados e abrasados pelo
fogo do Espírito Santo, de seguir os passos do teu Filho, nosso Senhor Jesus Cristo, e,
apenas pela tua graça, chegar a ti, Altíssimo, que, em Trindade perfeita e muito simples
Unidade, vives e reinas e recebes toda a glória, Deus todo-poderoso pelos séculos dos
séculos
Comentário feito por:
Balduíno de Ford ( ? – c. 1190), abade cisterciense
O Sacramento do altar, II, 3 (a partir da trad. SC 93, pp. 255s.)
«Eu sou o pão da vida»
Cristo diz «Quem vem a Mim não mais terá fome e quem crê em Mim jamais terá sede»
[...]. E o salmista diz: «O pão, que lhe robustece as forças», e «o vinho, que alegra o
coração do homem» (103, 15). Para os que crêem n'Ele, Cristo é alimento e bebida, pão e
vinho. Pão que fortifica e robustece [...], bebida e vinho que alegra [...]. Tudo o que em nós
é forte e sólido, jubiloso e alegre para cumprirmos os mandamentos de Deus, suportarmos o
sofrimento, executarmos a obediência e defendermos a justiça, tudo isso é força deste pão e
alegria deste vinho. Felizes os que agem com força e com alegria! E, dado que ninguém o
pode fazer sozinho, felizes aqueles que avidamente desejam praticar o que é justo e
honesto, e pôr em todas as coisas a força e a alegria dadas por Aquele que disse: «Felizes os
que têm fome e sede de justiça» (Mt 5, 6). Se Cristo é o pão e a bebida que asseguram
agora a força e a alegria dos justos, não o será Ele muito mais no céu, quando aos justos Se
der por completo?
Notemo-lo, nas palavras de Cristo [...], este alimento que fica para a vida eterna é chamado
«pão do céu», verdadeiro pão, pão de Deus, pão da vida. [...] Pão de Deus para o distinguir
do pão que é feito e preparado pelo padeiro [...]; pão da vida, para o distinguir desse pão
perecível que não é a vida nem a dá, apenas a conserva, com dificuldade e por algum tempo
apenas. Este, pelo contrário, é a vida, dá a vida, conserva uma vida que nada deve à morte.
(Jô.6,41-51)-pg.1392-DDPS- Discurso sobre o Pão da Vida
41.Murmuravam então dele os judeus, porque dissera: Eu sou o pão que desceu do céu.
42.E perguntavam: Porventura não é ele Jesus, o filho de José, cujo pai e mãe conhecemos? Como, pois, diz
ele: Desci do céu?
43.Respondeu-lhes Jesus: Não murmureis entre vós.
44.Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o atrair; e eu hei de ressuscitá-lo no último dia.
45.Está escrito nos profetas: Todos serão ensinados por Deus (Is 54,13). Assim, todo aquele que ouviu o Pai e
foi por ele instruído vem a mim.
46.Não que alguém tenha visto o Pai, pois só aquele que vem de Deus, esse é que viu o Pai.
47.Em verdade, em verdade vos digo: quem crê em mim tem a vida eterna.
48.Eu sou o pão da vida.
49.Vossos pais, no deserto, comeram o maná e morreram.
50.Este é o pão que desceu do céu, para que não morra todo aquele que dele comer.
51.Eu sou o pão vivo que desceu do céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. E o pão, que eu hei
de dar, é a minha carne para a salvação do mundo.
Comentário feito por:
Santo Ambrósio (c. 340-397), bispo de Milão e doutor da Igreja
Sobre os mistérios, 48-49, 58
“Eu sou o Pão da Vida” – (v.35)
É admirável que Deus tenha feito chover o maná sobre os nossos pais e que eles tenham
sido diariamente saciados com o pão do céu. É por isso que está escrito: “O homem comeu
o pão dos anjos” (Sl 77, 25). Contudo, aqueles que comeram este pão do deserto estão
todos mortos. Pelo contrário, o alimento que agora recebes, este Pão vivo que desceu dos
céus, é sustento para a vida eterna, e quem come deste Pão não morrerá jamais. É o Corpo
de Cristo. […]
Esse maná era do céu, este é do cimo dos céus; aquele era um dom do céu, este é o Senhor
dos céus; aquele estava sujeito à corrupção quando era guardado nem que fosse até ao dia
seguinte, a este é estranha toda a corrupção: quem dele prova com respeito não pode ser
tocado pela corrupção. A água brotou dos rochedos para os hebreus, para ti brota o sangue
de Cristo. A água saciou-os por momentos, o sangue lava-te para sempre. Os hebreus
beberam e têm sede. Tu, depois de teres bebido, nunca mais poderás ter sede (cf. Jo 4, 14).
Aquilo era a pré-figuração, isto é a verdade plena. […]
Era a “sombra do que devia vir” (Cl.2, 17). Escuta o que foi manifestado a nossos pais: “De
fato, todos bebiam de um rochedo espiritual que os seguia, que era Cristo” (1Co.10, 4). […]
Tu conheceste o cumprimento, tu viste a luz plena, a verdade pré-figurada, o corpo do
Criador, mais do que o maná do céu. […] Sobre aquilo que comemos e aquilo que
bebemos, diz o Espírito Santo: “Saboreai e vede como é bom o Senhor; feliz o homem que
Nele se abriga” (Sl 33, 9).
(Jô. 6,44-51)-p.1392-DDPS –Discurso sobre o Pão da Vida.
Comentário feito por:
São João Crisóstomo (c. 345-407), bispo de Antioquia, depois de Constantinopla, doutor da
Igreja
Homilias sobre a 1ª Carta aos Coríntios, nº 24
“O pão que Eu hei-de dar é a Minha carne, pela vida do mundo” – (v.51)
“Nós, embora sendo muitos, formamos um só corpo, porque todos participamos do mesmo
pão” (1 Cor 10, 17). O que é o pão que comemos? O Corpo de Cristo. Em que se
transformam os comungantes? No Corpo de Cristo, não numa multidão, mas num único
Corpo. Assim como o pão, constituído por muitos grãos de trigo, é um único pão no qual
desaparecem os grãos, assim como os grãos subsistem nele, sendo contudo impossível
detectar o que os distingue em massa tão bem ligada, assim também nós, juntos e com
Cristo, formamos um todo. Com efeito, não é de um corpo que se alimenta determinado
membro, alimentando-se outro membro de outro corpo. É o mesmo Corpo que a todos
alimenta. E é por isso que o apóstolo Paulo salienta que “todos participamos do mesmo
pão”.
Pois bem, se participamos todos do mesmo pão, se nos tornamos todo esse mesmo Cristo,
por que não demonstramos a mesma caridade? […] Era o que acontecia no tempo dos
nossos pais: “A multidão dos que haviam abraçado a fé tinha um só coração e uma só
alma” (At.4, 32). Mas tal não acontece no presente; pelo contrário. E, contudo, homem,
Cristo veio procurar-te, a ti que estavas tão longe dele, para se unir a ti. E tu não queres
unir-te a teu irmão? […]
Com efeito, Ele não se limitou a dar o seu corpo; mas, porque a primeira carne, tirada da
terra, estava morta pelo pecado, introduziu nela, por assim dizer, outro fermento, a sua
própria carne, da mesma natureza que a nossa mas isenta de todo o pecado, cheia de vida. O
Senhor distribuiu-a por todos a fim de que, alimentados por esta carne nova, possamos, em
comunhão uns com os outros, entrar na vida imortal.
Jô. (6,44-51) – pg.1392 – DDDE DDPS
Comentário feito por:
São João Crisóstomo (c. 345-407), bispo de Antioquia, depois de Constantinopla, doutor da
Igreja
Homilias sobre a 1ª Carta aos Coríntios, nº 24
“O pão que Eu hei de dar é a Minha carne, pela vida do mundo” – (v.51)
“Nós, embora sendo muitos, formamos um só corpo, porque todos participamos do mesmo
pão” (1 Cor 10, 17). O que é o pão que comemos? O Corpo de Cristo. Em que se
transformam os comungantes? No Corpo de Cristo, não numa multidão, mas num único
Corpo. Assim como o pão, constituído por muitos grãos de trigo, é um único pão no qual
desaparecem os grãos, assim como os grãos subsistem nele, sendo contudo impossível
detectar o que os distingue em massa tão bem ligada, assim também nós, juntos e com
Cristo, formamos um todo. Com efeito, não é de um corpo que se alimenta determinado
membro, alimentando-se outro membro de outro corpo. É o mesmo Corpo que a todos
alimenta. E é por isso que o apóstolo Paulo salienta que “todos participamos do mesmo
pão”.
Pois bem, se participamos todos do mesmo pão, se nos tornamos todos esse mesmo Cristo,
por que não demonstramos a mesma caridade? […] Era o que acontecia no tempo dos
nossos pais: “A multidão dos que haviam abraçado a fé tinha um só coração e uma só
alma” (At. 4, 32). Mas tal não acontece no presente; pelo contrário. E, contudo, homem,
Cristo veio procurar-te, a ti que estavas tão longe dele, para se unir a ti. E tu não queres
unir-te a teu irmão? […]
Com efeito, Ele não se limitou a dar o seu corpo; mas, porque a primeira carne, tirada da
terra, estava morta pelo pecado, introduziu nela, por assim dizer, outro fermento, a sua
própria carne, da mesma natureza que a nossa mas isenta de todo o pecado, cheia de vida. O
Senhor distribuiu-a por todos a fim de que, alimentados por esta carne nova, possamos, em
comunhão uns com os outros, entrar na vida imortal.
Comentário feito por:
São Francisco de Sales (1567-1622), Bispo de Genebra e Doutor da Igreja
Tratado do Amor de Deus 3, 15
«Os vossos pais comeram o maná e morreram; mas quem come o pão do céu não
morrerá»
O maná foi saboreado por todos aqueles que o comeram, mas diferentemente, segundo a
diversidade do apetite daqueles que o tomaram, e nunca foi saboreado na sua totalidade,
porque havia maior diversidade de sabores do que de gostos entre os israelitas (Sb.16,20-
21). No céu, veremos e saborearemos toda a Divindade, mas nem os bem aventurados todos
juntos O verão ou O saborearão totalmente. [...]
Assim, os peixes desfrutam a incrível imensidade do oceano, mas nenhum peixe, nem
mesmo toda a multidão dos peixes, viu todas as praias ou molhou as suas escamas em todas
as águas do mar; e os pássaros perdem-se a seu belo prazer na vastidão do ar, mas nunca
nenhum pássaro, nem mesmo todo o conjunto dos pássaros, voou por todas as regiões do ar
e nunca nenhum chegou à suprema região deste. Os nossos espíritos, à sua maneira e
segundo toda a extensão dos seus desejos, nadarão no oceano e voarão no ar da Divindade,
e rejubilarão eternamente por ver que este ar é tão infinito, este oceano tão vasto, que não
pode ser medido pelas suas asas; e, rejubilando sem reserva nem exceção em todo este
abismo infinito da Divindade, não poderão contudo, igualar o seu gozo a esta infinitude, a
qual permanece sempre infinitamente infinita acima a sua capacidade.
Comentário feito por:
São Pedro Damião (1007-1072), eremita e depois bispo, Doutor da Igreja
Sermão 45; PL 144,743 e 747 (a partir da trad. Orval)
«Este é o pão que desce do Céu; se alguém comer dele, não morrerá»
A Virgem Maria deu Jesus Cristo à luz, aqueceu-O nos seus braços, envolveu-O em panos
e rodeou-O dos seus cuidados maternais. E é o corpo desse mesmo Jesus que hoje
recebemos, é o Seu sangue redentor que bebemos no sacramento do altar. É isso que a fé
católica tem por verdadeiro, é isso que a Igreja ensina com fidelidade.
A língua humana não é capaz glorificar suficientemente aquela de quem tomou carne «o
mediador entre Deus e os homens» (1Tm. 2, 5). O louvor humano não está à altura daquela
de cujas entranhas puríssimas saiu o fruto que é o alimento das nossas almas, Aquele que
diz de Si mesmo: «Eu sou o pão vivo, o que desceu do Céu: se alguém comer deste pão,
viverá eternamente». Com efeito, nós fomos expulsos do paraíso de delícias por causa de
um alimento, e é também por via de um alimento que reencontramos as alegrias do paraíso.
Pelo alimento que Eva tomou, fomos condenados a um jejum eterno; pelo alimento que
Maria nos deu, abriram-se para nós as portas do banquete celeste.
Jo.(6,44-52) – pg.1392 – Discurso sobre o Pão da Vida – DDPS DDDE
Comentário feito por:
Vaticano
II
Constituição sobre a Sagrada Liturgia (Sacrosanctum Concilium), 47-48
"O pão que eu vos hei-de dar é a minha carne, entregue para que o mundo viva" – (v.51)
O nosso Salvador instituiu na última Ceia, na noite em que foi entregue, o Sacrifício
eucarístico do seu Corpo e do seu Sangue para perpetuar pelo decorrer dos séculos, até Ele
voltar, o Sacrifício da cruz, confiando à Igreja, sua esposa amada, o memorial da sua morte
e ressurreição: sacramento de piedade, sinal de unidade, vínculo de caridade, banquete
pascal em que se recebe Cristo, a alma se enche de graça e nos é concedido o penhor da
glória futura.
48. É por isso que a Igreja procura, solícita e cuidadosa, que os cristãos não entrem neste
mistério de fé como estranhos ou espectadores mudos, mas participem na ação sagrada,
consciente, ativa e piedosamente, por meio duma boa compreensão dos ritos e orações;
sejam instruídos pela palavra de Deus; alimentem-se à mesa do Corpo do Senhor; dêem
graças a Deus; aprendam a oferecer-se a si mesmos, ao oferecer juntamente com o
sacerdote, que não só pelas mãos dele, a hóstia imaculada; que, dia após dia, por Cristo
mediador, progridam na unidade com Deus e entre si, para que finalmente Deus seja tudo
em todos (1Co 15,28).
Jo.(6,51-59) – pg.1392 – Discurso de Jesus sobre o Pão da Vida - DDPS
51.Eu sou o pão vivo que desceu do céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. E o pão, que eu hei
de dar, é a minha carne para a salvação do mundo.
52.A essas palavras, os judeus começaram a discutir, dizendo: Como pode este homem dar-nos de comer a
sua carne?
53.Então Jesus lhes disse: Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem, e
não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós mesmos.
54.Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia.
55.Pois a minha carne é verdadeiramente uma comida e o meu sangue, verdadeiramente uma bebida.
56.Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele.
57.Assim como o Pai que me enviou vive, e eu vivo pelo Pai, assim também aquele que comer a minha carne
viverá por mim.
58.Este é o pão que desceu do céu. Não como o maná que vossos pais comeram e morreram. Quem come
deste pão viverá eternamente.
59.Tal foi o ensinamento de Jesus na sinagoga de Cafarnaum
Comentário feito por:
João Paulo II
Encíclica Ecclesia de Eucharistia, 15
"A minha carne é verdadeiro alimento e o meu sangue bebida verdadeira" – (v.55)
A reprodução sacramental na Santa Missa do sacrifício de Cristo coroado pela sua
ressurreição implica uma presença muito especial, que – para usar palavras de Paulo VI –
«chama-se «real», não a título exclusivo como se as outras presenças não fossem «reais»,
mas por excelência, porque é substancial, e porque por ela se torna presente Cristo
completo, Deus e homem». Reafirma-se assim a doutrina sempre válida do Concílio de
Trento: «Pela consagração do pão e do vinho opera-se a conversão de toda a substância do
pão na substância do corpo de Cristo nosso Senhor, e de toda a substância do vinho na
substância do seu sangue; a esta mudança, a Igreja católica chama, de modo conveniente e
apropriado, transubstanciação». Verdadeiramente a Eucaristia é "mysterium fidei", mistério
que supera os nossos pensamentos e só pode ser aceite pela fé, como lembram
freqüentemente as catequeses patrísticas sobre este sacramento divino. «Não hás-de ver –
exorta S. Cirilo de Jerusalém – o pão e o vinho [consagrados] simplesmente como
elementos naturais, porque o Senhor disse expressamente que são o seu corpo e o seu
sangue: a fé te assegura, ainda que os sentidos possam sugerir-te outra coisa».
"Adoro te devote, latens Deitas": continuaremos a cantar com S. Tomás, o Doutor
Angélico. Diante deste mistério de amor, a razão humana experimenta toda a sua limitação.
Compreende-se como, ao longo dos séculos, esta verdade tenha estimulado a teologia a
árduos esforços de compreensão.
São esforços louváveis, tanto mais úteis e incisivos se capazes de conjugarem o exercício
crítico do pensamento com a «vida de fé» da Igreja, individuada especialmente «no carisma
da verdade» do Magistério e na «íntima inteligência que experimentam das coisas
espirituais» sobretudo os Santos. Permanece o limite apontado por Paulo VI: «Toda a
explicação teológica que queira penetrar de algum modo neste mistério, para estar de
acordo com a fé católica deve assegurar que na sua realidade objectiva, independentemente
do nosso entendimento, o pão e o vinho deixaram de existir depois da consagração, de
modo que a partir desse momento são o corpo e o sangue adoráveis do Senhor Jesus que
estão realmente presentes diante de nós sob as espécies sacramentais do pão e do vinho».
Jô. 6,52-59) - pg.1392 –DDPS –Discurso sobre o Pão da Vida
Comentário feito por:
Santo Isaac o Sírio (século VII), monge em Nínive, perto de Mossul no actual Iraque
Discursos ascéticos, 1ª série, nº 72
"A minha carne é verdadeira comida e o meu sangue verdadeira bebida" – (v.55)
A Árvore da Vida é o amor de Deus. Adão perdeu-o na sua queda e nunca mais encontrou a
alegria mas, pelo contrário, trabalhava e penava numa terra cheia de espinhos (Gn.3,18).
Aqueles que estão privados do amor de Deus comem o pão do seu suor (Gn.3,19) em todas
as suas obras, ainda que sigam um caminho reto; foi esse o pão que foi dado a comer à
primeira criatura após a queda. Até que encontremos o amor, o nosso trabalho é aí, na terra
dos espinhos...; seja qual for o grau da nossa justiça pessoal, é com o suor do nosso rosto
que vivemos.
Mas, quando encontramos o amor, alimentamo-nos do pão celestial e somos reconfortados
para além de qualquer obra e de qualquer pena. O pão celestial é Cristo, que desceu do céu
e deu a vida ao mundo. É esse o alimento dos anjos (Sl 77,25). Aquele que encontrou o
amor alimenta-se de Cristo cada dia e a toda a hora e torna-se imortal. Porque Ele disse:
"Quem come o pão que eu lhe der não verá a morte". Feliz aquele que come o pão de amor,
que é Jesus. Porque quem se alimenta do amor, alimenta-se de Cristo, do Deus que domina
o universo, Aquele de quem João testemunha, dizendo: "Deus é amor" (1 Jo 4,8).
Portanto, o que vive no amor recebe de Deus o fruto da vida. Respira neste mundo o
próprio ar da ressurreição, esse ar que faz as delícias dos justos ressuscitados. O amor é o
Reino. Foi dele que o Senhor ordenou misteriosamente aos apóstolos que se alimentassem;
"comer e beber na mesa do meu Reino" (Lc 22,30), que é isso senão o amor? Porque o
amor é capaz de alimentar o homem em vez de qualquer outro alimento e bebida. É esse "o
vinho que alegra o coração do homem" (Sl 104,16); feliz aquele que bebe de tal vinho.
(Jo. 6,52-59)-pg.1392-DDPS-Discurso sobre o Pão da Vida
Comentário feito por:
Santa Teresa-Benedita da Cruz [Edith Stein] (1891-1942), carmelita, mártir, co-padroeira
da Europa
A Oração da Igreja
“Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele”- (v.56)
O caminho que conduz à vida interior e aos coros dos espíritos bem aventurados cantando o
eterno Sanctus, é Cristo. O seu sangue é o véu do Templo através do qual nós penetramos
no Santo dos Santos da vida divina (Hb.9,11s; 10,20). Ele purifica-nos do pecado no
batismo e no sacramento da penitência, abre-nos os olhos à luz eterna, abre os nossos
ouvidos para percebermos a Palavra divina, abre os nossos lábios para entoarmos o cântico
de louvor, para rezar a oração de reconciliação, de súplica, de ação de graças, e todas essas
orações
não
são
senão
formas
diferentes
da
única
adoração...
Mas é acima de tudo o sacramento onde Cristo está presente em pessoa, que faz de nós
membros do seu corpo. Participando do sacrifício e da sagrada refeição, alimentando-nos
do corpo e do sangue de Jesus, tornamo-nos, nós próprios, o seu corpo e o seu sangue. E só
quando somos membros do seu corpo, na medida em que o somos verdadeiramente, é que o
seu Espírito pode vivificar-nos e reinar em nós... Tornamo-nos membros do corpo de
Cristo “não somente pelo amor..., mas também muito realmente sendo um com o seu corpo:
isso realiza-se pelo alimento que ele nos oferece para nos provar o desejo que tem de nós. È
por isso que ele mesmo se humilhou até vir a nós e talhou em nós o seu próprio corpo, a
fim de que sejamos um, como o corpo está unido à cabeça” (S. João Crisóstomo). Como
membros do seu corpo, animados pelo seu Espírito, oferecemo-nos a nós próprios em
sacrifício “por ele, com ele e nele”, e unimos as nossas vozes à eterna ação de graças.
Jo.(6,52-59) – pg.1392 – Discurso de Jesus sobre o Pão da Vida - DDPS
Comentário feito por:
Catecismo da Igreja Católica
§ 1362-1366
"Fareis isto em memória de mim" (1Co.11,25)
A Eucaristia é o memorial da Páscoa de Cristo, a atualização e a oferenda sacramental do
seu único sacrifício, na liturgia da Igreja que é o seu corpo. Em todas as orações
eucarísticas encontramos, depois das palavras da instituição, uma oração chamada
anamnese ou memorial. No sentido que lhe dá a Sagrada Escritura, o memorial não é
somente a lembrança dos acontecimentos do passado, mas a proclamação das maravilhas
que Deus fez pelos homens. Na celebração litúrgica destes acontecimentos, eles tomam-se
de certo modo presentes e atuais. É assim que Israel entende a sua libertação do Egito:
sempre que se celebrar a Páscoa, os acontecimentos do Êxodo tornam-se presentes à
memória dos crentes, para que conformem com eles a sua vida (Ex 13,3.8).
O memorial recebe um sentido novo no Novo Testamento. Quando a Igreja celebra a
Eucaristia, faz memória da Páscoa de Cristo, e esta torna-se presente: o sacrifício que Cristo
ofereceu na cruz uma vez por todas, continua sempre actual: «Todas as vezes que no altar
se celebra o sacrifício da cruz, no qual "Cristo, nossa Páscoa, foi imolado", realiza-se a obra
da nossa redenção» (Vatican II, LG 63).
Porque é o memorial da Páscoa de Cristo, a Eucaristia é também um sacrifício. O caráter
sacrificial da Eucaristia manifesta-se nas próprias palavras da instituição: «Isto é o meu
corpo, que vai ser entregue por vós» e «este cálice é a Nova Aliança no meu sangue, que
vai ser derramado por vós» (Lc 22, 19-20). Na Eucaristia, Cristo dá aquele mesmo corpo
que entregou por nós na cruz, aquele mesmo sangue que «derramou por muitos em
remissão dos pecados» (Mt 26, 28). A Eucaristia é, pois, um sacrifício, porque representa
(torna presente) o sacrifício da cruz, porque é dele o memorial e porque aplica o seu fruto.
Jo.6,60-69 – DDPS – p.1392
60.Muitos dos seus discípulos, ouvindo-o, disseram: Isto é muito duro! Quem o pode admitir?
61.Sabendo Jesus que os discípulos murmuravam por isso, perguntou-lhes: Isso vos escandaliza?
62.Que será, quando virdes subir o Filho do Homem para onde ele estava antes?...
63.O espírito é que vivifica, a carne de nada serve. As palavras que vos tenho dito são espírito e vida.
64.Mas há alguns entre vós que não crêem... Pois desde o princípio Jesus sabia quais eram os que não criam e
quem o havia de trair.
65.Ele prosseguiu: Por isso vos disse: Ninguém pode vir a mim, se por meu Pai não lho for concedido.
66.Desde então, muitos dos seus discípulos se retiraram e já não andavam com ele.
68.Respondeu-lhe Simão Pedro: Senhor, a quem iríamos nós? Tu tens as palavras da vida eterna.
69.E nós cremos e sabemos que tu és o Santo de Deus!
Comentário feito por:
Concílio Vaticano II
Constituição sobre a Sagrada Liturgia (Sacrosanctum Concilium), 10
O Sacramento do Corpo e do Sangue de Cristo reune-nos n'Ele e envia-nos ao mundo
A Liturgia é simultaneamente a meta para a qual se encaminha a ação da Igreja e a fonte de
onde promana toda a sua força. Na verdade, o trabalho apostólico ordena-se a conseguir
que todos os que se tornaram filhos de Deus pela fé e pelo Batismo se reúnam em
assembléia para louvar a Deus no meio da Igreja, participem no Sacrifício e comam a Ceia
do Senhor.
A Liturgia, por sua vez, impele os fiéis, saciados pelos «mistérios pascais», a viverem
«unidos no amor» (cf. At. 4,32); pede «que sejam fiéis na vida a quanto receberam pela fé»;
e pela renovação da aliança do Senhor com os homens na Eucaristia, e aquece os fiéis na
caridade urgente de Cristo. Da Liturgia, pois, em especial da Eucaristia, corre sobre nós,
como de sua fonte, a graça, e por meio dela conseguem os homens com total eficácia a
santificação em Cristo e a glorificação de Deus, a que se ordenam, como a seu fim, todas as
outras obras da Igreja.
Comentário feito por:
Santo [Padre] Pio de Pietrelcina (1887-1968), capuchinho
Carta 3, 980; GF, 196ss. (a partir da trad. Une Pensée, Médiaspaul, pp. 26-27)
«Tu tens palavras de vida eterna»
Sê paciente e persevera na prática da meditação. A princípio, contenta-te com avançar em
pequenos passos. Mais tarde, terás pernas que só te pedirão que corras, ou melhor, asas para
voar.
Contenta-te com obedecer. Nunca é fácil mas, foi a Deus que escolhemos como nosso
quinhão. Aceita não seres ainda mais do que uma abelhinha no cortiço; depressa ela se
tornará uma dessas grandes obreiras, hábeis na fabricação do mel. Permanece sempre
humilde diante de Deus e diante dos homens, no amor. Então o Senhor falar-te-á em
verdade e enriquecer-te-á com os Seus dons.
Acontece às abelhas atravessarem grandes distâncias nos prados antes de chegarem às
flores que escolheram; em seguida, fatigadas mas satisfeitas e carregadas de pólen,
regressam à colméia para aí realizarem transformação silenciosa, mas fecunda, do néctar
das flores em néctar da vida. Faz tu também assim: depois de teres escutado a Palavra,
medita-a atentamente, examina os seus diferentes elementos, procura a sua significação
profunda. Então, ela tornar-se-á clara e luminosa; ela terá o poder de transformar as tuas
inclinações naturais em pura elevação do espírito; e o teu coração estará sempre mais
intimamente unido ao coração de Cristo
(Jo.8,1-11)-pg.1393- DDPS- A mulher adúltera
1.Dirigiu-se Jesus para o monte das Oliveiras.
2.Ao romper da manhã, voltou ao templo e todo o povo veio a ele. Assentou-se e começou a ensinar.
3.Os escribas e os fariseus trouxeram-lhe uma mulher que fora apanhada em adultério.
4.Puseram-na no meio da multidão e disseram a Jesus: Mestre, agora mesmo esta mulher foi apanhada em
adultério.
5.Moisés mandou-nos na lei que apedrejássemos tais mulheres. Que dizes tu a isso?
6.Perguntavam-lhe isso, a fim de pô-lo à prova e poderem acusá-lo. Jesus, porém, se inclinou para a frente e
escrevia com o dedo na terra.
7.Como eles insistissem, ergueu-se e disse-lhes: Quem de vós estiver sem pecado, seja o primeiro a lhe atirar
uma pedra.
8.Inclinando-se novamente, escrevia na terra.
9.A essas palavras, sentindo-se acusados pela sua própria consciência, eles se foram retirando um por um, até
o último, a começar pelos mais idosos, de sorte que Jesus ficou sozinho, com a mulher diante dele.
10.Então ele se ergueu e vendo ali apenas a mulher, perguntou-lhe: Mulher, onde estão os que te acusavam?
Ninguém te condenou?
11.Respondeu ela: Ninguém, Senhor. Disse-lhe então Jesus: Nem eu te condeno. Vai e não tornes a pecar.
12.Falou-lhes outra vez Jesus: Eu sou a luz do mundo; aquele que me segue não andará em trevas, mas terá a
luz da vida.
Comentário feito por:
S. Simeão, o Jovem Teólogo (c. 949-1022), monge ortodoxo
Hino 45
"Também eu não te condeno... Eu sou a luz do mundo" (Jo oito. 11-12)
Ó meu Deus, que amas perdoar, meu Criador,
faz crescer sobre mim o fulgor da tua luz inacessível
para que encha de alegria meu coração.
Ah! não te irrites! Ah! não me abandones!
mas faz resplandecer a minha alma com a tua luz,
porque a tua Luz, ó meu Deus, és tu...
Afastei-me do caminho reto, do caminho de Deus,
e caí lamentavelmente da glória que me tinha sido dada.
Fui despojado da veste luminosa, da veste de Deus,
e, caído nas trevas, nas trevas permaneço,
e não sei mesmo que estou privado da Luz...
Porque, se tu brilhaste no alto, se apareceste na obscuridade,
se vieste ao mundo, ó Misericordioso, se quiseste viver com os homens,
segundo a nossa condição, por amor ao homem,
se... disseste que eras a luz do mundo (Jo 8,12)
e, ainda assim, nós não te vimos,
não seremos nós totalmente cegos
e mais desgraçados do que os próprios cegos, ó meu Cristo?...
Mas tu, que és todos os bens,
tu os dás sem cessar aos teus servos,
aos que vêem a tua luz...
Quem te possui, realmente possui tudo em ti.
Que eu não seja privado de ti, Mestre!
Que eu não seja privado de ti, Criador!
Que eu não seja privado de ti, Misericordioso,
eu que sou um humilde estrangeiro...
Peço-te: dá-me um lugar junto de ti,
mesmo se multipliquei meus pecados mais do que todos os homens.
Aceita a minha oração como a do publicano (Lc 18,13),
como a da prostituta (Lc 7,38), Mestre,
ainda que eu não chore como ela...
Não és tu a nascente da piedade, a fonte da misericórdia e o rio da bondade?
Tem piedade de mim!
Sim, tu que tiveste as mãos, que tiveste os pés pregados na cruz,
que tiveste o lado trespassado pela lança, ó todo-Compassivo,
tem piedade de mim e arranca-me ao fogo eterno...
Que nesse dia eu me erga sem condenação diante de ti,
para ser acolhido na sala das tuas núpcias,
em que partilharei a tua felicidade, meu bom Mestre,
na alegria inexprimível, por todos os séculos. Amem!
(Jô. 8,1-11): - pg.1395 - < A Mulher adúltera> -DDPS
A Palavra de Sabedoria inspira palavras e ações.
- A Palavra de Sabedoria vem em auxílio diante de uma situação complicada, que
humanamente não teria solução, é o que narra o julgamento da mulher adúltera.
- A punição para o crime de adultério era apedrejamento pela comunidade. Como todos
apedrejavam juntos, ninguém era considerado culpado pelo linchamento comunitário
previsto pela lei.
-A história de Suzana no livro de Daniel, (cap.13,1-64 - pgs.1208.10) é um exemplo
clássico no Antigo Testamento de como o dom da palavra de sabedoria praticado por
Daniel, livrando Suzana de ser apedrejada pela comunidade,sendo acusada de falso
adultério.Daniel, cujo nome significa “Deus julga” ou “Julgamento de Deus”, inspirado
pela Palavra de Sabedoria procede o julgamento correto dos verdadeiros culpados, evitando
uma tragédia,adquirindo o respeito e alta consideração de seus concidadãos.
-O perdão da mulher adúltera era um claro sinal do perdão de Deus para seu povo.
- Diante deste quadro,aonde a lei protegia os apedrejadores e condenavam a mulher à
morte, Jesus foi inspirado pelo Espírito Santo, através de uma Palavra de Sabedoria:
(Jô.8,7)” Quem de vós estiver sem pecado, seja o primeiro a lhe tirar uma pedra”.Disse isto
e escrevia na terra.
- Diz a Palavra de Deus que a estas palavras e diante da atitude tranqüila de Jesus, que
escrevia na terra, sentindo-se acusados pela sua própria consciência, os acusadores foram se
retirando um por um,até o último. (Jô. 8,9)-DPC.
- Em geral nós temos um engano ou defeito, o de pensar que os dons espirituais são algo
extraordinário, para serem usados em situações extraordinárias, talvez durante uma oração
mística em êxtase. Não é nada assim.
- O Espírito Santo Paráclito, é aquele que “segura o outro lado” isto é, aquele que Jesus
deixou do nosso lado, para nos ajudar, orientar, santificar, educar. Ora, se nós pensamos
que apenas em ocasiões extraordinárias devemos contar com a ajuda deste “advogado”,
então estamos negando nossa própria humanidade e a promessa de Jesus acerca do Espírito
Santo.
- Achar que os dons são para pessoas especiais em situações extraordinárias é negar o que
vemos na vida do dia-a-dia do próprio Jesus, da Igreja desde os primeiros tempos e o que
Jesus disse sobre o Espírito Santo, enviado a convencer o mundo a respeito do pecado, da
justiça e do juízo, três realidades profundamente dependentes da natureza e da vida
humana.
Jo. (8,1-11) – pg.1395 – A mulher adultera – DDPS e DDPC
Comentário feito por:
João Paulo II
Mulieris dignitatem, cap. 5 (trad. © Libreria Editrice Vaticana)
"Aquele de entre vós que estiver sem pecado, atire a primeira pedra" – (v.7)
Cristo é aquele que «sabe o que há no homem» (cf. Jo.2, 25), no homem e na mulher.
Conhece a dignidade do homem, o seu valor aos olhos de Deus. Ele mesmo, Cristo, é a
confirmação definitiva deste valor. Tudo o que diz e faz tem o seu cumprimento definitivo
no mistério pascal da redenção. O comportamento de Jesus a respeito das mulheres, que
encontra ao longo do caminho do seu serviço messiânico, é o reflexo do desígnio eterno de
Deus, o qual, criando cada uma delas, a escolhe e ama em Cristo (cf. Ef 1, 1-5)... Jesus de
Nazaré confirma esta dignidade, recorda-a, renova-a e faz dela um conteúdo do Evangelho
e da redenção, para a qual é enviado ao mundo...
Jesus entra na situação concreta e histórica da mulher, situação sobre a qual pesa a herança
do pecado. Esta herança exprime-se, entre outras coisas, no costume que discrimina a
mulher em favor do homem, e está enraizada também dentro dela. Deste ponto de vista, o
episódio da mulher «surpreendida em adultério» (cf. Jo 8.3-11) parece ser particularmente
eloqüente. No fim Jesus lhe diz: «não tornes a pecar»; mas, primeiro ele desperta a
consciência do pecado nos homens ... Jesus parece dizer aos acusadores: esta mulher, com
todo o seu pecado, não é talvez também, e antes de tudo, uma confirmação das vossas
transgressões, da vossa injustiça «masculina», dos vossos abusos?
Esta é uma verdade válida para todo o gênero humano... Uma mulher é deixada só, é
exposta diante da opinião pública com «o seu pecado», enquanto por detrás deste «seu»
pecado se esconde um homem como pecador, culpado pelo «pecado do outro», antes, coresponsável do mesmo. E, no entanto, o seu pecado escapa à atenção, passa sob silêncio...
Quantas vezes a mulher paga pelo próprio pecado mas paga ela só e paga sozinha! Quantas
vezes ela fica abandonada na sua maternidade, quando o homem, pai da criança, não quer
aceitar a sua responsabilidade? E ao lado das numerosas «mães solteiras» das nossas
sociedades, é preciso tomar em consideração também todas aquelas que, muitas vezes,
sofrendo diversas pressões, inclusive da parte do homem culpado, «se livram» da criança
antes do seu nascimento. «Livram-se»: mas a que preço?
Comentário feito por:
João Paulo II
Encíclica « Dives in Misericordia » § 7 (trad. © copyright Libreria Editrice Vaticana)
«Também Eu não te condeno»
É precisamente a Redenção a última e definitiva revelação da santidade de Deus, que é a
plenitude absoluta da perfeição: plenitude da justiça e do amor, pois a justiça funda-se no
amor, dele provém e para ele tende. Na paixão e morte de Cristo — no fato de o Pai não ter
poupado o Seu próprio Filho, mas «o ter tratado como pecado por nós» (2Co.5, 21) —
manifesta-se a justiça absoluta, porque Cristo sofre a paixão e a cruz por causa dos pecados
da humanidade. Dá-se na verdade a «superabundância» da justiça, porque os pecados do
homem são «compensados» pelo sacrifício do Homem-Deus.
Esta justiça, que é verdadeiramente justiça «à medida» de Deus, nasce toda do amor, do
amor do Pai e do Filho, e frutifica inteiramente no amor. Precisamente por isso, a justiça
divina revelada na cruz de Cristo é «à medida» de Deus, porque nasce do amor e se realiza
no amor, produzindo frutos de salvação. A dimensão divina da Redenção não se verifica
somente em ter feito justiça do pecado, mas também no fato de ter restituído ao amor a
força criativa, graças à qual o homem tem novamente acesso à plenitude de vida e de
santidade que provém de Deus. Deste modo, a Redenção traz em si a revelação da
misericórdia na sua plenitude.
O mistério pascal é o ponto culminante da revelação e atuação da misericórdia, capaz de
justificar o homem, e de restabelecer a justiça como realização do desígnio salvífico que
Deus, desde o princípio, tinha querido realizar no homem e, por meio do homem, no
mundo.
Jo.8,12-20 ddps p.1395
12.Falou-lhes outra vez Jesus: Eu sou a luz do mundo; aquele que me segue não andará em trevas, mas
terá a luz da vida.
13.A isso, os fariseus lhe disseram: Tu dás testemunho de ti mesmo; teu testemunho não é digno de fé.
14.Respondeu-lhes Jesus: Embora eu dê testemunho de mim mesmo, o meu testemunho é digno de fé, porque
sei de onde vim e para onde vou; mas vós não sabeis de onde venho nem para onde vou. 15.Vós julgais
segundo a aparência; eu não julgo ninguém.
16.E, se julgo, o meu julgamento é conforme a verdade, porque não estou sozinho, mas comigo está o Pai que
me enviou.
17.Ora, na vossa lei está escrito: O testemunho de duas pessoas é digno de fé (Dt. 19,15).
18.Eu dou testemunho de mim mesmo; e meu Pai, que me enviou, o dá também.
19.Perguntaram-lhe: Onde está teu Pai? Respondeu Jesus: Não conheceis nem a mim nem a meu Pai; se me
conhecêsseis, certamente conheceríeis também a meu Pai.
20.Estas palavras proferiu Jesus ensinando no templo, junto aos cofres de esmola. Mas ninguém o prendeu,
porque ainda não era chegada a sua hora
Comentário feito por:
Santo Agostinho (354-430), Bispo de Hipona (Norte de África) e Doutor da Igreja
Sermões sobre o Evangelho de João, n°34 (a partir da trad. de Véricel, O Evangelho
Comentado, p. 223)
A luz do mundo
As palavras do Senhor: «Eu sou a luz do mundo» são claramente, na minha opinião, para
aqueles que têm olhos que lhes permitem tomar parte dessa luz; mas aqueles que só têm os
olhos do corpo admiram-se de ouvir Nosso Senhor Jesus Cristo dizer: «Eu sou a luz do
mundo». Talvez haja mesmo alguns que dizem para si próprios: Não será Cristo este sol
que, ao nascer e ao pôr-se, determina o dia? [...] Não, Cristo não é esse sol. O Senhor não é
o sol que foi criado, mas Aquele por Quem o sol foi criado. «Por Ele é que tudo começou a
existir; e sem Ele nada veio à existência» (Jo 1, 3). Ele é, pois, a luz que criou esta luz que
vemos. Amemos esta Luz, compreendamo-la, desejemo-la, para chegarmos um dia junto
dela, conduzidos por ela, e para vivermos nela de forma a nunca mais morrermos. [...]
Vedes, portanto, meus irmãos, vedes, se tendes olhos que vêem as coisas da alma, que luz é
esta da qual o Senhor declara: «Quem Me segue não anda nas trevas». Segui este sol e
veremos se não caminhareis nas trevas; pois eis que ele se eleva e avança na vossa direção
e, seguindo o seu caminho se dirige-se para ocidente. Mas tu deves caminhar para o sol
nascente, que é Cristo.
Jo.8,21-30 ddps p.1396
21.Jesus disse-lhes: Eu me vou, e procurar-me-eis e morrereis no vosso pecado. Para onde eu vou, vós não
podeis ir.
22.Perguntavam os judeus: Será que ele se vai matar, pois diz: Para onde eu vou, vós não podeis ir? 23.Ele
lhes disse: Vós sois cá de baixo, eu sou lá de cima. Vós sois deste mundo, eu não sou deste mundo.
24.Por isso vos disse: morrereis no vosso pecado; porque, se não crerdes o que eu sou, morrereis no vosso
pecado.
25.Quem és tu?, perguntaram-lhe eles então. Jesus respondeu: Exatamente o que eu vos declaro.
26.Tenho muitas coisas a dizer e a julgar a vosso respeito, mas o que me enviou é verdadeiro e o que dele
ouvi eu o digo ao mundo.
27.Eles, porém, não compreenderam que ele lhes falava do Pai.
28.Jesus então lhes disse: Quando tiverdes levantado o Filho do Homem, então conhecereis quem sou e
que nada faço de mim mesmo, mas falo do modo como o Pai me ensinou.
29.Aquele que me enviou está comigo; ele não me deixou sozinho, porque faço sempre o que é do seu agrado.
30.Tendo proferido essas palavras, muitos creram nele.
Comentário feito por:
São Bernardo (1091-1153), monge cisterciense e Doutor da Igreja
Sermão 1 para o primeiro Domingo de Novembro (a partir da trad. de Ir. Isabelle de la
Source, Lire la Bible, t. 6, p. 33)
«Quando tiverdes erguido ao alto o Filho do Homem, então ficareis a saber que Eu
sou o que sou»
O profeta Isaías descreve-nos uma visão sublime: «Vi o Senhor sentado num trono alto e
elevado» (Is 6, 1). Magnífico espetáculo, meus irmãos! Felizes os olhos que o viram! Quem
não desejaria, com toda a alma, contemplar o espetáculo de tão grande glória? [...] Mas eis
que ouço o mesmo profeta contar uma outra visão desse mesmo Senhor, e bem diferente:
«Vimo-lo sem aspecto atraente: [...] nós o reputávamos como um leproso» (Is 53, 2ss.
Vulg). [...]
Tu, portanto, se desejas ver Jesus na sua glória, faz primeiro por vê-l'O na Sua humilhação.
Começa por fixar os olhos na serpente que se ergueu no deserto (cf. Jo 3, 14), se desejas ver
o Rei sentado em Seu trono. Que essa primeira visão te encha de humildade, para que a
segunda te reerga da tua humilhação. Que aquela te reprima e te cure o orgulho, antes de
esta te encher de desejo e dele te saciar. Vês como o Senhor Se esvaziou a Si mesmo (Fl.2,
7)? Que esta visão não te deixe indiferente, se não poderás, sem tribulação, contemplá-l'O
depois na glória da Sua exaltação.
«Seremos semelhantes a Ele», seguramente, quando O virmos «tal como Ele é» (1 Jo 3, 2);
sê-Lhe pois semelhante desde este momento, ao veres em que Se tornou por causa de ti. Se
não recusares ser-Lhe semelhante na Sua humilhação, Ele conceder-te-á certamente o
reconhecimento da Sua glória. Jamais suportará que aquele que participou da Sua Paixão
seja excluído da comunhão na Sua glória. E tão claro é que não Se recusará a admitir
consigo no Reino aquele que partilhou a Sua paixão, que o ladrão, porque O confessou na
cruz, com Ele se encontrou no mesmo dia no paraíso (Lc 23, 42). [...] Sim, «pressupondo
que com Ele sofremos, [...] com Ele [...] [seremos] glorificados» (Rm.8, 17).
Jo.8,31-42 ddps p.1396
31.E Jesus dizia aos judeus que nele creram: Se permanecerdes na minha palavra, sereis meus
verdadeiros discípulos;
32.conhecereis a verdade e a verdade vos livrará.
33.Replicaram-lhe: Somos descendentes de Abraão e jamais fomos escravos de alguém. Como dizes tu:
Sereis livres?
34.Respondeu Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: todo homem que se entrega ao pecado é seu escravo.
35.Ora, o escravo não fica na casa para sempre, mas o filho sim, fica para sempre.
36.Se, portanto, o Filho vos libertar, sereis verdadeiramente livres.
37.Bem sei que sois a raça de Abraão; mas quereis matar-me, porque a minha palavra não penetra em vós.
38.Eu falo o que vi junto de meu Pai; e vós fazeis o que aprendestes de vosso pai.
39.Nosso pai, replicaram eles, é Abraão. Disse-lhes Jesus: Se fôsseis filhos de Abraão, faríeis as obras de
Abraão.
40.Mas, agora, procurais tirar-me a vida, a mim que vos falei a verdade que ouvi de Deus! Isso Abraão não o
fez.
41.Vós fazeis as obras de vosso pai. Retrucaram-lhe eles: Nós não somos filhos da fornicação; temos um só
pai: Deus.
42.Jesus replicou: Se Deus fosse vosso pai, vós me amaríeis, porque eu saí de Deus. É dele que eu provenho,
porque não vim de mim mesmo, mas foi ele quem me enviou.
Comentário feito por:
Orígenes (c. 185-253), presbítero e teólogo
Homilias sobre o Êxodo, n° 8 (a partir da trad. Sr Isabelle de la Source, Lire la Bible, t. 2,
p. 174)
«Se permanecerdes fiéis à Minha palavra, sereis realmente Meus discípulos; então
conhecereis a verdade, e a verdade tornar-vos-á livres»
«Eu sou o Senhor teu Deus que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão» (Ex 20, 2).
Estas palavras não se dirigem apenas aos que já saíram do Egito; dirigem-se, sobretudo a ti
que as ouves agora, se quiseres sair do Egito. [...] Reflete, pois: as coisas deste mundo e as
ações da carne não serão essa casa de servidão e, ao contrário, a fuga às coisas deste mundo
e a vida segundo Deus não serão a casa da liberdade, conforme o que o Senhor diz no
Evangelho: «Se permanecerdes na Minha palavra, conhecereis a verdade e a verdade vos
tornará livres»?
Sim, o Egito é a casa de servidão; Jerusalém e a Judeia são a casa da liberdade. Escuta o
que o Apóstolo Paulo declara a este respeito [...]: «A Jerusalém que é do alto é livre; é a
mãe de todos nós» (Gal 4, 26). E, da mesma forma que o Egito, esta província terrestre, é
chamada «casa de servidão» para os filhos de Israel relativamente a Jerusalém e à Judeia,
que são para eles a casa da liberdade, assim também, relativamente à Jerusalém celeste que
é, pode-se dizer, a mãe da liberdade, o mundo inteiro, com tudo o que ele contém, é uma
casa de servidão. Houve outrora, para castigo do pecado, uma passagem do paraíso da
liberdade à servidão deste mundo [...]; por isso a primeira palavra dos mandamentos de
Deus diz respeito à liberdade: «Eu sou o Senhor teu Deus que te tirei da terra do Egito, da
casa da servidão».
Jo.10,1-10 ddps p.1338
1.Em verdade, em verdade vos digo: quem não entra pela porta no aprisco das ovelhas, mas sobe por outra
parte, é ladrão e salteador.
2.Mas quem entra pela porta é o pastor das ovelhas.
3.A este o porteiro abre, e as ovelhas ouvem a sua voz. Ele chama as ovelhas pelo nome e as conduz à
pastagem.
4.Depois de conduzir todas as suas ovelhas para fora, vai adiante delas; e as ovelhas seguem-no, pois lhe
conhecem a voz.
5.Mas não seguem o estranho; antes fogem dele, porque não conhecem a voz dos estranhos.
6.Jesus disse-lhes essa parábola, mas não entendiam do que ele queria falar.
7.Jesus tornou a dizer-lhes: Em verdade, em verdade vos digo: eu sou a porta das ovelhas.
8.Todos quantos vieram antes de mim foram ladrões e salteadores, mas as ovelhas não os ouviram.
9.Eu sou a porta. Se alguém entrar por mim será salvo; tanto entrará como sairá e encontrará
pastagem.
10.O ladrão não vem senão para furtar, matar e destruir. Eu vim para que as ovelhas tenham vida e para que a
tenham em abundância.
Comentário feito por:
São Tomás de Aquino (1225-1274), teólogo dominicano, Doutor da Igreja
Comentário ao Evangelho de João 10, 3 (trad. cf. bréviaire)
«Se alguém entrar por Mim estará salvo.»
«Eu sou o bom pastor». É evidente que o título de pastor convém a Cristo. Porque, assim
como um pastor leva o seu rebanho a pastar, assim também Cristo restaura os fiéis através
do alimento espiritual, que é o Seu corpo e o Seu sangue. [...] Por outro lado, Cristo
afirmou que o pastor entra pela porta e que Ele próprio é essa porta; temos de compreender,
pois, que é Ele que entra, e que entra por Si mesmo. E é bem verdade: é por Si mesmo que
Ele entra; manifesta-Se a Si mesmo e mostra que conhece o Pai por Si mesmo, enquanto
nós entramos por Ele e é Ele que nos dá a felicidade perfeita.
Mais ninguém é a porta, porque mais ninguém é «a luz verdadeira que a todo o homem
ilumina» (Jo 1, 9). [...] É por isso que nenhum homem afirma ser a porta; Cristo reservou
para Si este nome, como pertencendo-Lhe com propriedade. O título de pastor, porém,
comunicou-o a outros, deu-o a alguns dos Seus membros. Com efeito, também Pedro o foi
(Jo 21, 15) e os outros apóstolos, e todos os bispos. «Dar-vos-ei pastores segundo o Meu
coração», diz a Escritura (Jr.3, 15). [...] Nenhum pastor é bom se não estiver unido a Cristo
pela
caridade,
tornando-se
assim
membro
do
verdadeiro
pastor.
Porque o serviço do Bom Pastor é a caridade. É por isso que Jesus afirma que dá a vida
pelas Suas ovelhas (Jo 10, 11). [...] Cristo deu-nos o exemplo: «Ele deu a Sua vida por nós,
e nós devemos dar a vida pelos nossos irmãos» (1Jo.3, 16).
Jo.10,22-30 ddps – p.1399
22.Celebrava-se em Jerusalém a festa da Dedicação. Era inverno.
23.Jesus passeava no templo, no pórtico de Salomão.
24.Os judeus rodearam-no e perguntaram-lhe: Até quando nos deixarás na incerteza? Se tu és o Cristo, dizenos claramente.
25.Jesus respondeu-lhes : Eu vo-lo digo, mas não credes. As obras que faço em nome de meu Pai, estas dão
testemunho de mim.
26.Entretanto, não credes, porque não sois das minhas ovelhas.
27.As minhas ovelhas ouvem a minha voz, eu as conheço e elas me seguem.
28.Eu llhes dou a vida eterna; elas jamais hão de perecer, e ninguém as roubará de minha mão.
29.Meu Pai, que mas deu, é maior do que todos; e ninguém as pode arrebatar da mão de meu Pai.
30.Eu e o Pai somos um.
Comentário feito por:
Leão XIII, Papa de 1878 a 1903
Encíclica «Divinum Illud Munus» de 9 de Maio de 1897
«Eu e o Pai somos Um»
O mistério da Santíssima Trindade é chamado pelos doutores da Igreja a substância do
Novo Testamento, quer dizer o maior de todos os mistérios, a origem e o fundamento dos
outros. Foi para o conhecerem e o contemplarem que os anjos foram criados no céu e os
homens na terra. [...] Foi para manifestar este mistério mais claramente que o próprio Deus
desceu da Sua morada com os anjos para junto dos homens. [...]
O apóstolo Paulo anuncia a Trindade das pessoas e a unidade da sua natureza quando
escreve: «Da parte d'Ele, por meio d'Ele e para Ele são todas as coisas. Glória a Ele pelos
séculos» (Rm.11, 36). [...] Santo Agostinho escreveu, comentando esta passagem: «Estas
palavras não são devidas ao acaso. «“Da parte d’Ele» designa o Pai, «por meio d’Ele»
designa o Filho e «para Ele» designa o Espírito Santo.» Com justeza a Igreja tem o hábito
de atribuir ao Pai as obras da Divindade onde resplandece o poder, ao Filho aquelas onde
resplandece a sabedoria e ao Espírito Santo aquelas onde resplandece o amor. Não que
todas as perfeições e obras exteriores não sejam comuns às pessoas divinas: «as obras da
Trindade são indivisíveis, como a essência da Trindade é indivisível [...]» (Sto Agostinho).
Mas, por uma certa comparação, uma certa afinidade entre estas obras e as propriedades das
pessoas, as obras são atribuídas ou «apropriadas» como se diz, a uma das pessoas mais do
que às outras. [...] De algum modo, o Pai, que é «o princípio de toda a divindade» (Sto
Agostinho), é também a causa eficiente de todas as coisas, da encarnação do Verbo, e da
santificação das almas: «tudo Lhe pertence». Mas o Filho, o Verbo, a Palavra de Deus e a
imagem de Deus, é também a causa-modelo, o arquétipo; d'Ele tudo o que foi criado recebe
a sua forma e a sua beleza, a ordem e a harmonia. Ele é para nós «o caminho, a verdade e a
vida» (Jo 14, 6), o reconciliador do homem com Deus: «tudo é por meio d'Ele». O Espírito
Santo é a causa última de todas as coisas [...], a bondade divina e o amor mútuo do Pai e do
Filho; pelo Seu poder mais doce, completa o amor mútuo do Pai e do Filho; pelo Seu poder
mais doce, completa a obra escondida da salvação eterna do homem e leva-a à perfeição:
«tudo é para Ele».
Jo.10,31-42 ddps p.1400.1
31.Os judeus pegaram pela segunda vez em pedras para o apedrejar.
32.Disse-lhes Jesus: Tenho-vos mostrado muitas obras boas da parte de meu Pai. Por qual dessas obras me
apedrejais?
33.Os judeus responderam-lhe: Não é por causa de alguma boa obra que te queremos apedrejar, mas
por uma blasfêmia, porque, sendo homem, te fazes Deus.
34.Replicou-lhes Jesus: Não está escrito na vossa lei: Eu disse: Vós sois deuses (Sl 81,6)?
35.Se a lei chama deuses àqueles a quem a palavra de Deus foi dirigida (ora, a Escritura não pode ser
desprezada),
36.como acusais de blasfemo aquele a quem o Pai santificou e enviou ao mundo, porque eu disse: Sou o Filho
de Deus?
37.Se eu não faço as obras de meu Pai, não me creiais.
38.Mas se as faço, e se não quiserdes crer em mim, crede nas minhas obras, para que saibais e reconheçais
que o Pai está em mim e eu no Pai.
39.Procuraram então prendê-lo, mas ele se esquivou das suas mãos.
40.Ele se retirou novamente para além do Jordão, para o lugar onde João começara a batizar, e lá permaneceu.
41.Muitos foram a ele e diziam: João não fez milagre algum,
42.mas tudo o que João falou deste homem era verdade. E muitos acreditaram nele.
Comentário feito por:
São Bernardo (1091-1153), Monge cisterciense e Doutor da Igreja
Sermões diversos, n° 22, 5-6 (a partir da trad. de Brésard, 2000 ans, p. 104 rev)
«Mostrei-vos muitas obras boas da parte do Pai; por qual dessas obras Me quereis
apedrejar?»
Deves toda a tua vida a Cristo Jesus, visto que Ele deu a Sua vida pela tua e suportou
amargos tormentos para que tu não tivesses que suportar os tormentos eternos. [...] Quão
doces te hão-de parecer todas as coisas, depois de teres compreendido no teu coração todas
as amarguras do teu Senhor! [...] Tanto quanto os céus estão acima da terra (Is 55, 9), assim
a Sua vida é mais alta do que a nossa vida e, no entanto, foi dada pela nossa. Tal como o
nada não pode ser comparado a nenhuma outra coisa, assim a nossa vida não é proporcional
à Sua [...].
Quando eu Lhe tiver consagrado tudo o que sou, tudo o que posso, isso será como uma
estrela comparada com o sol, uma gota de água com o rio, uma pedra com uma torre, um
grão de areia com uma montanha. Tenho apenas duas pequenas coisas, realmente mínimas:
o meu corpo e a minha alma, ou antes, uma única coisinha: a minha vontade. E não a daria
eu Àquele que proveu de tantos benefícios um ser tão pequeno como eu, Àquele que,
dando-Se completamente, me resgatou inteiramente? Além disso, se guardo para mim a
minha vontade, com que cara, com que olhos, com que espírito, com que consciência me
poderei refugiar junto do coração, da misericórdia do nosso Deus? Ousaria eu atravessar
essa muralha tão forte que guarda Israel, e fazer correr, pelo preço do meu resgate, não
apenas umas gotas, mas os jorros de sangue que saem das cinco chagas do Seu corpo?
Jo.12,44-50 ddps p.1399
44.Entretanto, Jesus exclamou em voz alta: Aquele que crê em mim, crê não em mim, mas naquele que me
enviou;
45.e aquele que me vê, vê aquele que me enviou.
46.Eu vim como luz ao mundo; assim, todo aquele que crer em mim não ficará nas trevas.
47.Se alguém ouve as minhas palavras e não as guarda, eu não o condenarei, porque não vim para condenar o
mundo, mas para salvá-lo.
48.Quem me despreza e não recebe as minhas palavras, tem quem o julgue; a palavra que anunciei julgá-lo-á
no último dia.
49.Em verdade, não falei por mim mesmo, mas o Pai, que me enviou, ele mesmo me prescreveu o que devo
dizer e o que devo ensinar.
50.E sei que o seu mandamento é vida eterna. Portanto, o que digo, digo-o segundo me falou o Pai
Comentário feito por:
Papa Bento XVI
Encíclica «Spe Salvi», § 26 (trad. © copyright Libreria Editrice Vaticana)
«Não vim para condenar o mundo, mas sim para o salvar»
Não é a ciência que redime o homem. O homem é redimido pelo amor. Isto vale já no
âmbito do mundo humano. Quando alguém experimenta um grande amor na sua vida, tratase de um momento de «redenção» que lhe dá um sentido novo à vida. Mas, muito
rapidamente, dar-se-á conta também de que o amor que lhe foi dado não resolve, por si só,
o problema da sua vida. É um amor que permanece frágil; pode ser destruído pela morte. O
ser humano necessita do amor incondicional. Precisa daquela certeza que o faz dizer: «Nem
a morte nem a vida, nem os anjos nem os principados, nem o presente nem o futuro, nem as
potestades, nem a altura nem o abismo, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do
amor de Deus que está em Cristo Jesus, Senhor nosso» (Rm.8, 38-39). Se este amor
absoluto existe, com absoluta certeza, então – e somente então – o homem está «redimido»,
independentemente do que lhe possa acontecer em dada circunstância.
É o que isto significa, quando dizemos: Jesus Cristo «redimiu-nos». Através d'Ele tornamonos seguros de Deus – de um Deus que não constitui uma remota «causa primeira» do
mundo - porque o seu Filho unigênito fez-Se homem e d'Ele pode cada um dizer: «Vivo na
fé do Filho de Deus que me amou e a Si mesmo Se entregou por mim» (Gl.2, 20).
Jo.13,31-35 ddps p.1404
31.Logo que Judas saiu, Jesus disse: Agora é glorificado o Filho do Homem, e Deus é glorificado nele.
32.Se Deus foi glorificado nele, também Deus o glorificará em si mesmo, e o glorificará em breve.
33.Filhinhos meus, por um pouco apenas ainda estou convosco. Vós me haveis de procurar, mas como disse
aos judeus, também vos digo agora a vós: para onde eu vou, vós não podeis ir.
34.Dou-vos um novo mandamento: Amai-vos uns aos outros. Como eu vos tenho amado, assim também vós
deveis amar-vos uns aos outros.
35.Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros.
Comentário feito por:
Bem-aventurada Teresa de Calcutá (1910-1997), fundadora das Irmãs Missionárias da
Caridade
Um caminho simples
«Que vos ameis uns aos outros assim como Eu vos amei.»
Digo sempre que o amor começa em casa. Primeiro está a família, depois a cidade. É fácil
fingir amar as pessoas que estão longe; mas é muito menos fácil amar aqueles que vivem
conosco ou que estão muito perto de nós. Desconfio dos grandes projetos impessoais,
porque o importante são as pessoas. Para se amar alguém, é preciso estar perto dessa
pessoa. Toda a gente precisa de amor. Todos nós precisamos saber que temos importância
para os outros e que temos um valor inestimável aos olhos de Deus.
Cristo disse: «Que vos ameis uns aos outros assim como Eu vos amei». E disse também:
«Aquilo que fizerdes ao mais pequeno dos Meus irmãos, a Mim o fazeis» (Mt 25, 40). É a
Ele que amamos em cada pobre, e todos os seres humanos são pobres de alguma coisa.
Disse Ele: «Tive fome e destes-Me de comer, estava nu e vestistes-Me» (Mt.25, 35).
Recordo sempre às minhas irmãs e aos nossos irmãos que o nosso dia consiste em passar
vinte e quatro horas com Jesus
Jo.15,1-8 ddps p.1405
1.Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o agricultor. Todo ramo que não der fruto em mim, ele o cortará;
2.e podará todo o que der fruto, para que produza mais fruto.
3.Vós já estais puros pela palavra que vos tenho anunciado.
4.Permanecei em mim e eu permanecerei em vós. O ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não
permanecer na videira. Assim também vós: não podeis tampouco dar fruto, se não permanecerdes em mim.
5.Eu sou a videira; vós, os ramos. Quem permanecer em mim e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim
nada podeis fazer.
6.Se alguém não permanecer em mim será lançado fora, como o ramo. Ele secará e hão de ajuntá-lo e lançá-lo
ao fogo, e queimar-se-á.
7.Se permanecerdes em mim, e as minhas palavras permanecerem em vós, pedireis tudo o que quiserdes e vos
será feito.
8.Nisto é glorificado meu Pai, para que deis muito fruto e vos torneis meus discípulos .
Comentário feito por:
São Cipriano (c. 200-258), Bispo de Cartago e mártir
A Oração do Senhor, 2-3 (trad. DDB 1982, p. 41 rev.; cf. breviário)
Invocar o nome de Jesus ao pedir
Entre recomendações salutares e preceitos divinos através dos quais proveu à salvação do
Seu povo, o Senhor deu-nos ainda o modelo de oração; Ele próprio nos ensinou o que
devemos pedir nas nossas preces. Ele, que nos dá a vida, também nos ensina a rezar, com
aquela mesma bondade que O levou a conceder-nos tantos outros benefícios. Assim,
quando falamos ao Pai através da oração que o Senhor nos ensinou, somos mais facilmente
escutados. Ele previra que viria a hora em que: «os verdadeiros adoradores hão-de adorar o
Pai em espírito e verdade» (Jo 4, 23) e cumpriu o que anunciara. Santificados pelo Espírito
e pela verdade que vêm Dele, podemos igualmente, graças ao que nos ensinou, adorar em
espírito e verdade.
Uma vez que foi graças a Cristo que recebemos o Espírito que oração poderia ser mais
espiritual do que aquela que Ele nos deu? Que oração pode ser mais verdadeira do que
aquela que saiu da boca do Filho, que é a própria Verdade?
Por isso, irmãos bem-amados, rezemo-la como o Mestre no-la ensinou. Clamar a Deus com
palavras Dele é súplica que Lhe é amável e filial; é fazer-Lhe chegar aos ouvidos a oração
de Cristo. Que o Pai reconheça a voz do Filho quando Lhe dirigimos o nosso pedido. Que
Aquele que vive no nosso coração seja também a nossa voz. Ele é nosso advogado junto do
Pai: intercede pelos nossos pecados quando nós, pecadores, lhe pedimos perdão pelas
nossas faltas. Pronunciemos, então, as palavras do nosso advogado, porque é Ele quem nos
diz: «Se pedirdes alguma coisa ao Pai em Meu nome, Ele vo-la dará» (Jo 16, 23).
Jo.15,9-11 ddps p.1405
9.Como o Pai me ama, assim também eu vos amo. Perseverai no meu amor.
10.Se guardardes os meus mandamentos, sereis constantes no meu amor, como também eu guardei os
mandamentos de meu Pai e persisto no seu amor.
11.Disse-vos essas coisas para que a minha alegria esteja em vós, e a vossa alegria seja completa
Comentário feito por:
Tomás de Celano (c. 1190-c. 1260), biógrafo de São Francisco e de Santa Clara
Vita Secunda de São Francisco, §§ 125 e 127 (a partir da trad. de Debonnets et Vorreux,
Documents, p.430)
«Manifestei-vos estas coisas, para que esteja em vós a Minha alegria»
São Francisco afirmava: «Contra todas as maquinações e ardis do inimigo, a minha melhor
defesa continua a ser o espírito da alegria. O diabo nunca fica tão contente como quando
consegue arrebatar a alegria à alma de um servo de Deus. Ele tem sempre uma reserva de
poeira que sopra na consciência através de qualquer orifício, para tornar opaco o que é
límpido; mas em vão tenta introduzir o seu veneno mortal num coração repleto de alegria.
Os demônios não podem nada contra um servo de Cristo que encontram repleto de santa
alegria; enquanto uma alma desgostosa, melancólica e deprimida se deixa facilmente
submergir pela tristeza ou absorver por prazeres enganosos.»
Eis por que ele mesmo se esforçava por manter sempre o coração alegre, por conservar esse
óleo da alegria com o qual a sua alma tinha sido ungida (Sl 44, 8). Tinha grande cuidado
em evitar a tristeza, a pior das doenças, e, quando sentia que ela se começava a infiltrar na
sua alma, recorria imediatamente à oração. «À primeira perturbação, dizia ele, o servo de
Deus deve levantar-se, pôr-se em oração e permanecer diante do Pai até que Ele lhe faça
recuperar a alegria própria daquele que foi salvo» (Sl 50,14). [...]
Com os meus próprios olhos o vi eu por vezes apanhar do chão um pedaço de madeira,
colocá-lo sobre o braço esquerdo e raspá-lo com um pau como se tocasse com o arco na
viola; assim, fazia de conta que acompanhava [com música] os louvores que cantava ao
Senhor em francês.
Comentário feito por:
Bem-aventurado Charles de Foucauld (1858-1916), eremita e missionário no Sahara
Meditações sobre os salmos, Sl 1
Dar fruto a seu tempo
«Feliz do homem que [...] medita na Lei dia e noite. É como uma árvore plantada à beira
das correntes, que dá o seu fruto na estação própria» (Sl 1, 1-3). Meu Deus, vós dizeis-me
que eu serei feliz, feliz com a verdadeira felicidade, feliz no último dia [...], que, por mais
miserável que seja, sou uma palmeira plantada à beira das águas vivas, das águas vivas da
vontade divina, do amor divino, da graça [...], e que darei o meu fruto a seu tempo. DignaiVos consolar-me; sinto-me sem fruto, sinto-me sem boas obras, digo a mim próprio:
converti-me há onze anos, e que tenho feito? O que foram as obras dos santos e quais são as
minhas? Vejo-me de mãos vazias de bem.
Dignai-Vos consolar-me: «Tu darás fruto no teu tempo», dizeis-me. [...] Qual é esse tempo?
O tempo de todos nós é o dia do juízo final; e Vós prometeis-me que, se persistir na boa
vontade e no combate, por mais pobre que me veja, terei frutos nessa hora derradeira.
Jo.19,25-27 ddps p1410
25.Junto à cruz de Jesus estavam de pé sua mãe, a irmã de sua mãe, Maria, mulher de Cléofas, e Maria
Madalena.
26.Quando Jesus viu sua mãe e perto dela o discípulo que amava, disse à sua mãe: Mulher, eis aí teu filho.
27.Depois disse ao discípulo: Eis aí tua mãe. E dessa hora em diante o discípulo a levou para a sua casa.
Comentário feito por:
Beato Guerric d'Igny (c. 1080 - 1157), abade cisterciense
1.º Sermão para a Assunção; PL 185A,187 (a partir da. trad. Orval)
«Eis a tua mãe!»
Maria concebeu um filho: e, assim como este é o Filho unigênito do Pai no céu, é também o
filho unigênito da Sua mãe na Terra [...]. No entanto, esta única virgem mãe, que teve a
glória de dar ao mundo o Filho unigênito de Deus, beija o seu próprio Filho em todos os
membros do Seu Corpo e não enrubesce quando lhe chamam a Mãe de todos aqueles em
quem ela reconhece Cristo, já formado ou em vias de o estar. Eva, que outrora tinha legado
aos filhos a condenação à morte, antes mesmo de estes terem visto a luz do dia, foi
chamada a «mãe de todos os viventes» (Gn.3, 20) [...]. Mas, como não respondeu ao
desígnio do seu nome, foi Maria quem realizou o mistério não cumprido. Tal como a Igreja,
de que é símbolo, Ela é a mãe de todos os que renasceram para a vida. Ela é, na verdade, a
Mãe da Vida que faz viver todos os homens; e ao concebê-lA, a essa Vida, regenerou, de
alguma
forma,
todos
os
que
iam
viver
d'Ela
[...].
Esta bem-aventurada Mãe de Cristo, reconhecida como Mãe dos cristãos em virtude deste
mistério, é também sua Mãe pelo cuidado que tem para com todos eles e pelo afeto que lhes
testemunha. Não os trata com dureza, a todos trata como se seus filhos fossem. As suas
entranhas, uma única vez fecundadas, não se esgotaram, dando constantemente à luz o fruto
da bondade. «Bendito é o fruto do teu ventre» (Lc 1, 42), ó doce Mãe, que te inundou de
uma bondade inesgotável: nascido de ti uma única vez, Ele permanece em ti, sempre.
Comentário feito por:
Rupert de Deutz (c. 1075-1130), monge beneditino
Comentário sobre o Evangelho de João, 13; PL 169, 789 (a partir da trad. Tournay rev.)
«Eis a tua mãe!»
«Mulher, eis o teu filho!» «Eis a tua mãe!» Com que direito passa o discípulo que Jesus
amava a ser filho da Mãe do Senhor? Com que direito é Ela sua Mãe? É que Aquela que
trouxera ao mundo, então de forma indolor, a causa da salvação de todos, ao dar à luz na
carne o Deus feito homem, é com enorme dor que agora dá à luz, de pé junto à cruz.
Na hora da Sua paixão, o Senhor tinha comparado os Seus apóstolos a uma mulher que dá à
luz, ao dizer: «A mulher, quando está para dar à luz, sente tristeza, porque é chegada a sua
hora; mas, depois de ter dado à luz o menino, já se não lembra da aflição, pela alegria de ter
vindo ao mundo um homem» (Jo 16, 21). Quanto mais compararia tal Filho tal Mãe - essa
Mãe que esteve de pé junto à cruz - a uma mulher que dá à luz! Comparar? Mas Ela é
verdadeiramente mulher e verdadeiramente mãe e, nesta hora, tem verdadeiras dores de
parto. Ela não tinha sofrido as dores do parto como as outras mulheres quando lhe nascera o
Filho; é agora que as sofre, que é crucificada, que sente a tristeza de quem dá à luz porque
chegou a sua hora (cf. Jo 13, 1; 17, 1). [...]
Quando tiver passado esta hora, quando esta espada de dor tiver trespassado por completo a
sua alma que dá à luz (Lc 2, 35), também Ela já se não lembrará da aflição, pela alegria de
ter vindo ao mundo um homem, o homem novo, que renova todo o gênero humano e reina
sem fim sobre o mundo inteiro, verdadeiramente nascido, ultrapassado todo o sofrimento,
imortal, primogênito de entre os mortos. Tendo assim trazido ao mundo a salvação de todos
nós na paixão de seu único Filho, a Virgem é claramente a Mãe de todos
At.2,14.22-32 DDPS – p.1415
14.Pedro então, pondo-se de pé em companhia dos Onze, com voz forte lhes disse: Homens da Judéia e vós
todos que habitais em Jerusalém: seja-vos isto conhecido e prestai atenção às minhas palavras.
22.Israelitas, ouvi estas palavras: Jesus de Nazaré, homem de quem Deus tem dado testemunho diante de vós
com milagres, prodígios e sinais que Deus por ele realizou no meio de vós como vós mesmos o sabeis,
23.depois de ter sido entregue, segundo determinado desígnio e presciência de Deus, vós o matastes,
crucificando-o por mãos de ímpios.
24.Mas Deus o ressuscitou, rompendo os grilhões da morte, porque não era possível que ela o retivesse em
seu poder.
25.Pois dele diz Davi: Eu via sempre o Senhor perto de mim, pois ele está à minha direita, para que eu não
seja abalado.
26.Alegrou-se por isso o meu coração e a minha língua exultou. Sim, também a minha carne repousará na
esperança,
27.pois não deixarás a minha alma na região dos mortos, nem permitirás que o teu santo conheça a corrupção.
28.Fizeste-me conhecer os caminhos da vida, e me encherás de alegria com a visão de tua face (Sl 15,8-11).
29.Irmãos, seja permitido dizer-vos com franqueza: do patriarca Davi dizemos que morreu e foi sepultado, e o
seu sepulcro está entre nós até o dia de hoje.
30.Mas ele era profeta e sabia que Deus lhe havia jurado que um dos seus descendentes seria colocado no seu
trono.
31.É, portanto, a ressurreição de Cristo que ele previu e anunciou por estas palavras: Ele não foi abandonado
na região dos mortos, e sua carne não conheceu a corrupção.
32.A este Jesus, Deus o ressuscitou: do que todos nós somos testemunhas.
Comentário feito por:
Liturgia romana
«Jesus saiu ao seu encontro»
À Vítima pascal
ofereçam os cristãos sacrifícios de louvor.
O Cordeiro resgatou as ovelhas;
Cristo, o Inocente,
reconciliou com o Pai os pecadores.
A morte e a vida
travaram um admirável combate;
depois de morto,
vive e reina o Autor da vida.
Diz-nos, Maria, que viste no caminho?
Vi o sepulcro de Cristo vivo
e a glória do Ressuscitado.
Vi as testemunhas dos Anjos,
vi o sudário e a mortalha.
Ressuscitou Cristo, minha esperança;
precederá os Seus discípulos na Galileia.
Nós sabemos e acreditamos:
Cristo ressuscitou dos mortos.
Ó Rei vitorioso,
tende piedade de nós.
Comentário feito por:
Papa Bento XVI
Homilia (trad. © L'Osservatore Romano rev.)
«Vai ter com os meus irmãos e diz-lhes que subo para o meu Pai, que é vosso Pai, para
o meu Deus, que é vosso Deus» (Jo 20, 17)
Na atmosfera da alegria pascal, a liturgia conduz-nos ao sepulcro aonde, como nos conta
São Mateus, Maria de Magdala e a outra Maria, conduzidas pelo amor que tinham por
Jesus, tinham ido visitar o seu túmulo. O evangelista narra que Ele veio ao encontro delas e
que lhes disse: «Não temais, ide anunciar aos meus irmãos que devem ir até a Galiléia; lá
me verão.» Foi realmente uma alegria indescritível que elas demonstraram ao rever o
Senhor e, cheias de entusiasmo, foram a correr participar o acontecimento aos discípulos.
A ressurreição repete-nos a nós também, como a estas mulheres que permaneceram junto
de Jesus durante a Sua paixão, que não tenhamos medo de nos tornarmos mensageiros para
anunciar a ressurreição. Aquele que encontra Jesus ressuscitado e que se entrega a Ele
docilmente não tem nada a temer. Tal é a mensagem que os cristãos são chamados a
difundir até aos confins da terra. A fé cristã, como sabemos, nasce, não da aceitação de uma
doutrina, mas do encontro com uma pessoa, com Cristo morto e ressuscitado. Na nossa
existência quotidiana, temos diversas ocasiões de comunicar a nossa fé aos outros de uma
maneira simples e convicta, de tal forma que a fé possa nascer neles devido à nossa atitude.
At.2,27-32.40-41 DDPS p1415
27.pois não deixarás a minha alma na região dos mortos, nem permitirás que o teu santo conheça a corrupção.
28.Fizeste-me conhecer os caminhos da vida, e me encherás de alegria com a visão de tua face (Sl 15,8-11).
29.Irmãos, seja permitido dizer-vos com franqueza: do patriarca Davi dizemos que morreu e foi sepultado, e o
seu sepulcro está entre nós até o dia de hoje.
30.Mas ele era profeta e sabia que Deus lhe havia jurado que um dos seus descendentes seria colocado no seu
trono.
31.É, portanto, a ressurreição de Cristo que ele previu e anunciou por estas palavras: Ele não foi abandonado
na região dos mortos, e sua carne não conheceu a corrupção.
32.A este Jesus, Deus o ressuscitou: do que todos nós somos testemunhas.
Comentário feito por:
João Paulo II, Papa entre 1978 e 2005
Homilia em Paris 30/05/80 (© Libreria Editrice Vaticana)
«Tu amas-Me?»
«Tu amas? [...] Tu amas-Me? [...]» Pedro havia de caminhar para sempre, até ao fim da sua
vida, acompanhado por esta tripla pergunta: «Tu amas-Me?» E mediu todas as suas
atividades de acordo com a resposta que então deu. Quando foi convocado perante o
Sinédrio. Quando foi metido na prisão em Jerusalém, prisão donde não devia sair, e da qual
contudo saiu. E [...] em Antioquia, e depois ainda mais longe, de Antioquia para Roma. E
quando, em Roma, perseverou até ao fim dos seus dias, conheceu a força das palavras
segundo as quais um Outro o conduziu para onde ele não queria. E sabia também que,
graças à força dessas palavras, a Igreja «era assídua ao ensino dos apóstolos e à união
fraterna, à fração do pão e à oração» e que «o Senhor adicionava diariamente à comunidade
os que seriam salvos» (At.2, 42.48). [...]
Pedro não pode nunca desligar-se desta pergunta: «Tu amas-Me?» Leva-a consigo para
onde quer que vá. Leva-a através dos séculos, através das gerações. Para o meio de novos
povos e de novas nações. Para o meio de línguas e de raças sempre novas. Leva-a sozinho,
e contudo já não está só. Outros a levam com ele. [...] Houve e há muitos homens e
mulheres que souberam e que sabem ainda hoje que as suas vidas têm valor e sentido
exclusivamente na medida em que são é uma resposta a esta mesma pergunta: «Tu amas?
Tu amas-Me?» Eles deram e dão a sua resposta de maneira total e perfeita – uma resposta
heróica –, ou então de maneira comum, banal. Mas, em qualquer dos casos, sabem que a
sua vida, que a vida humana em geral, tem valor e sentido graças a esta pergunta: «Tu
amas?» É somente graças a esta pergunta que vale a pena viver.
At.3,11-26 – DDPS – p.1416
11.Como ele se conservava perto de Pedro e João, uma multidão de curiosos afluiu a eles no pórtico chamado
Salomão.
12.À vista disso, falou Pedro ao povo: Homens de Israel, por que vos admirais assim? Ou por que fitais os
olhos em nós, como se por nossa própria virtude ou piedade tivéssemos feito este homem andar?
13.O Deus de Abraão, de Isaac, de Jacó, o Deus de nossos pais glorificou seu servo Jesus, que vós entregastes
e negastes perante Pilatos, quando este resolvera soltá-lo.
14.Mas vós renegastes o Santo e o Justo e pedistes que se vos desse um homicida.
15.Matastes o Príncipe da vida, mas Deus o ressuscitou dentre os mortos: disso nós somos testemunhas.
16.Em virtude da fé em seu nome foi que esse mesmo nome consolidou este homem, que vedes e conheceis.
Foi a fé em Jesus que lhe deu essa cura perfeita, à vista de todos vós.
17.Agora, irmãos, sei que o fizestes por ignorância, como também os vossos chefes.
18.Deus, porém, assim cumpriu o que já antes anunciara pela boca de todos os profetas: que o seu Cristo
devia padecer.
19.Arrependei-vos, portanto, e convertei-vos para serem apagados os vossos pecados.
20.Virão, assim, da parte do Senhor os tempos de refrigério, e ele enviará aquele que vos é destinado: Cristo
Jesus.
21.É necessário, porém, que o céu o receba até os tempos da restauração universal, da qual falou Deus outrora
pela boca dos seus santos profetas.
22.Já dissera Moisés: O Senhor, nosso Deus, vos suscitará dentre vossos irmãos um profeta semelhante a
mim: a este ouvireis em tudo o que ele vos disser.
23.Todo aquele que não ouvir esse profeta será exterminado do meio do povo (Dt 18,15.19).
24.Todos os profetas, que têm falado sucessivamente desde Samuel, anunciaram estes dias.
25.Vós sois filhos dos profetas e da aliança que Deus estabeleceu com os nossos pais, quando disse a Abraão:
Na tua descendência serão abençoadas todas as famílias da terra (Gn 22,18).
26.Foi em primeiro lugar para vós que Deus suscitou o seu servo, para vos abençoar, a fim de que cada um se
aparte da sua iniqüidade.
Comentário feito por:
Santo António de Lisboa (c. 1195-1231), franciscano, Doutor da Igreja
Sermões para o domingo e as festas dos santos (a partir da trad. Eds. Franciscaines 1944,
p. 139)
«Tocai-Me e olhai»
«Vede as Minhas mãos e os Meus pés: sou Eu mesmo». A meu ver, são quatro as razões
pelas quais o Senhor mostra o lado, as mãos e os pés aos apóstolos. Em primeiro lugar, para
mostrar que tinha ressuscitado verdadeiramente e afastar qualquer espécie de dúvida do
nosso espírito. Em segundo lugar, para que «a pomba», ou seja, a Igreja ou a alma fiel,
fizesse o ninho nas Suas chagas como «nos recessos dos rochedos» (Ct.2, 14) e aí
encontrasse abrigo contra o gavião que a espreita. Em terceiro lugar, para imprimir no
nosso coração, quais insígnias, as marcas da Sua Paixão. Em quarto lugar, para nos advertir
e nos pedir que tivéssemos piedade Dele e não O trespassássemos de novo com os cravos
dos nossos pecados.
Ele mostra-nos as mãos e os pés: «Eis as mãos que vos formaram», diz-nos (cf Sl 118, 73):
vede os cravos que as trespassaram. Eis o Meu coração, onde nascestes, vós, os fiéis, vós, a
Minha Igreja, como Eva nasceu do lado de Adão: vede a lança que o abriu, a fim de que
vos fosse aberta a porta do Paraíso, que o Querubim de fogo mantinha encerrada. O sangue
que correu do Meu lado afastou este anjo, embotou-lhe a espada: a água extinguiu o fogo
(cf. Jo.19, 34). [...] Escutai com atenção, ouvi estas palavras, e tereis paz em vós.
At.4,1-12 DDPS p.1417
1.Enquanto eles falavam ao povo, vieram os sacerdotes, o chefe do templo e os saduceus,
2.contrariados porque ensinavam ao povo e anunciavam, na pessoa de Jesus, a ressurreição dos mortos.
3.Prenderam-nos e os meteram no cárcere até o outro dia, pois já era tarde.
4.Muitos, porém, dos que tinham ouvido a pregação creram; e o número dos fiéis elevou-se a mais ou menos
cinco mil.
5.No dia seguinte reuniram-se em Jerusalém os chefes do povo, os anciãos, os escribas,
6.com Anás, sumo sacerdote, Caifás, João, Alexandre e todos os que eram da linhagem pontifical.
7.Colocando-os no meio, perguntaram: Com que poder ou em que nome fizestes isso?
8.Então Pedro, cheio do Espírito Santo, respondeu-lhes: Chefes do povo e anciãos, ouvi-me:
9.se hoje somos interrogados a respeito do benefício feito a um enfermo, e em que nome foi ele curado,
10.ficai sabendo todos vós e todo o povo de Israel: foi em nome de Jesus Cristo Nazareno, que vós
crucificastes, mas que Deus ressuscitou dos mortos. Por ele é que esse homem se acha são, em pé, diante de
vós.
11.Esse Jesus, pedra que foi desprezada por vós, edificadores, tornou-se a pedra angular.
12.Em nenhum outro há salvação, porque debaixo do céu nenhum outro nome foi dado aos homens, pelo qual
devamos ser salvos.
13.Vendo eles a coragem de Pedro e de João, e considerando que eram homens sem estudo e sem instrução,
admiravam-se. Reconheciam-nos como companheiros de Jesus.
Comentário feito por:
São Gregório de Narek (c. 944-c. 1010), monge e poeta arménio
O Livro de orações, n° 66 (trad. SC 78, p. 411 rev)
«Ao romper do dia, Jesus apresentou-Se na margem»
Deus misericordioso, muito compassivo, amigo dos homens (Sab 1, 6) [...], quando Tu
falas, nada é impossível, mesmo o que parece impossível ao nosso espírito: és Tu que dás
um fruto saboroso em troca dos duros espinhos da nossa vida [...].
Senhor Cristo, sopro da nossa vida (Lm.4, 20) e esplendor da nossa beleza [...], luz e dador
da luz, Tu não encontras prazer no mal, não queres a perdição de ninguém, não desejas
nunca a morte (Ez.18,32). Não és abalado pela perturbação, nem estás sujeito à cólera; não
és intermitente no Teu amor, nem modificas a Tua compaixão; jamais alteras a Tua
bondade. Não voltas as costas, não desvias a face, mas és totalmente luz e vontade de
salvação. Quando queres perdoar, perdoas; quando queres curar, és poderoso; quando
queres vivificar, és capaz; quando concedes a Tua graça, és generoso; quando queres
devolver a saúde, és prodigioso [...]. Quando queres renovar és criador; quando queres
ressuscitar, és Deus [...]. Quando, antes mesmo de nós o pedirmos, queres estender a Tua
mão, não faltas com nada [...]. Se me queres fortalecer, a mim que sou inseguro, és
rochedo; se queres dar-me de beber, a mim que estou sequioso, és fonte; se queres revelar o
que está escondido, és luz [...].
Tu, que para minha salvação, combateste com coragem [...], tomaste sobre o Teu corpo
inocente todo o sofrimento das punições que merecíamos, a fim de, ao tornares-Te
exemplo, manifestares em ato a compaixão que tens por nós.
At.4,23-31 ddps p.1418
23.Postos em liberdade, voltaram aos seus irmãos e referiram tudo quanto lhes tinham dito os sumos
sacerdotes e os anciãos.
24.Ao ouvirem isso, levantaram unânimes a voz a Deus e disseram: Senhor, vós que fizestes o céu, a terra, o
mar e tudo o que neles há.
25.Vós que, pelo Espírito Santo, pela boca de nosso pai Davi, vosso servo, dissestes: Por que se agitam as
nações, e imaginam os povos coisas vãs?
26.Levantam-se os reis da terra, e os príncipes se reúnem em conselho contra o Senhor e contra o seu Cristo
(Sl 2,1s.).
27.Pois na verdade se uniram nesta cidade contra o vosso santo servo Jesus, que ungistes, Herodes e Pôncio
Pilatos com as nações e com o povo de Israel,
28.para executarem o que a vossa mão e o vosso conselho predeterminaram que se fizesse.
29.Agora, pois, Senhor, olhai para as suas ameaças e concedei aos vossos servos que com todo o desassombro
anunciem a vossa palavra.
30.Estendei a vossa mão para que se realizem curas, milagres e prodígios pelo nome de Jesus, vosso santo
servo!
31.Mal acabavam de rezar, tremeu o lugar onde estavam reunidos. E todos ficaram cheios do Espírito Santo e
anunciaram com intrepidez a palavra de Deus.
Comentário feito por:
Homilia atribuída a Santo Hipólito de Roma (?-c. 235), presbítero e mártir
Homilia para a Festa da Epifania, sobre a «Sagrada Teofania»; PG 10, 854-862 (a partir
da trad. Orval)
Renascer pela água e o Espírito Santo
Prestai-me atenção, peço-vos. Desejo remontar à fonte da vida e trazer à luz a fonte dos
remédios. O Pai da imortalidade enviou ao mundo o Seu Filho imortal, o Seu Verbo. Este
veio ao homem para o lavar na água e no Espírito, engendrou-o de novo para a
incorruptibilidade da alma e do corpo, infundindo em nós o Espírito de vida e cobrindo-nos
por completo com uma armadura imperecível. Assim, pois, se o homem foi mortal, também
será divinizado; e, se foi divinizado pela água e o Espírito Santo, após o renascimento na
água, será também herdeiro do céu depois da ressurreição dos mortos.
Acorrei, todas as nações, à imortalidade do batismo. [...] Esta é a água que participa do
Espírito, que rega o paraíso, que dessedenta a terra, que faz crescer as plantas, que gera os
seres vivos, em suma, que gera o homem para a vida fazendo-o renascer. Foi nela que
Cristo foi batizado, foi sobre ela que desceu o Espírito Santo sob a forma de pomba. [...]
Aquele que entra com fé no banho da regeneração rejeita a veste da escravatura e reveste-se
da adoção. Este sai do batismo brilhante como o sol, radiante de justiça. Mais ainda, sai
dele filho de Deus e co-herdeiro de Cristo, a Quem são devidos a glória e o poder, bem
como ao Espírito Santo, bom e vivificante, agora e por todos os séculos. Assim.
At.4,32-37 ddps p.1418
32.A multidão dos fiéis era um só coração e uma só alma. Ninguém dizia que eram suas as coisas que possuía,
mas tudo entre eles era comum.
33.Com grande coragem os apóstolos davam testemunho da ressurreição do Senhor Jesus. Em todos eles era
grande a graça.
34.Nem havia entre eles nenhum necessitado, porque todos os que possuíam terras e casas vendiam-nas,
35.e traziam o preço do que tinham vendido e depositavam-no aos pés dos apóstolos. Repartia-se então a cada
um deles conforme a sua necessidade.
36.Assim José (a quem os apóstolos deram o sobrenome de Barnabé que quer dizer Filho da Consolação),
levita natural de Chipre, possuía um campo.
37.Vendeu-o e trouxe o valor dele e depositou aos pés dos apóstolos
Comentário feito por:
Santa Teresa Benedita da Cruz [Edith Stein] (1891-1942), carmelita, mártir, co-padroeira
da Europa
Poesia Pentecostes 1942 (a partir da trad. Malgré la nuit, Ad solem 2002, p. 121)
«Não sabes de onde vem nem para onde vai»
Quem és, suave luz que me sacias
E que iluminas as trevas do meu coração?
Guias-me como a mão de uma mãe,
e se me soltasses
não mais poderia dar um só passo.
És o espaço
que envolve o meu ser e me protege.
Longe de Ti, naufragaria no abismo do nada
de onde me tiraste para me criar para a luz.
Tu, mais próximo de mim
do que eu própria,
mais intimo do que as profundezas da minha alma,
e contudo incompreensível e inefável,
para além de qualquer nome,
Espírito Santo, Amor Eterno!
Não és Tu o doce maná
que do coração do Filho
transborda para o meu,
o alimento dos anjos e dos bem-aventurados?
Aquele que Se elevou da morte à vida
também me despertou do sono da morte para uma vida nova.
E, dia após dia,
continua a dar-me uma nova vida,
de que um dia a plenitude me inundará por completo,
vida procedente da Tua vida, sim, Tu mesmo,
Espírito Santo, Vida Eterna!
At.5,34-42 – DDPS- p1419
34.Levantou-se, porém, um membro do Grande Conselho. Era Gamaliel, um fariseu, doutor da lei, respeitado
por todo o povo.
35.Mandou que se retirassem aqueles homens por um momento, e então lhes disse: Homens de Israel,
considerai bem o que ides fazer com estes homens.
36.Faz algum tempo apareceu um certo Teudas, que se considerava um grande homem. A ele se associaram
cerca de quatrocentos homens: foi morto e todos os seus partidários foram dispersados e reduzidos a nada.
mas também ele pereceu e todos quantos o seguiam foram
37.Depois deste, levantou-se Judas, o galileu, nos dias do recenseamento, e arrastou o povo consigo,
dispersados.
38.Agora, pois, eu vos aconselho: não vos metais com estes homens. Deixai-os! Se o seu projeto ou a sua obra
provém de homens, por si mesma se destruirá;
39.mas se provier de Deus, não podereis desfazê-la. Vós vos arriscaríeis a entrar em luta contra o próprio
Deus. Aceitaram o seu conselho.
40.Chamaram os apóstolos e mandaram açoitá-los. Ordenaram-lhes então que não pregassem mais em nome
de Jesus, e os soltaram.
41.Eles saíram da sala do Grande Conselho, cheios de alegria, por terem sido achados dignos de sofrer
afrontas pelo nome de Jesus.
42.E todos os dias não cessavam de ensinar e de pregar o Evangelho de Jesus Cristo no templo e pelas casas
Comentário feito por:
João Paulo II, Papa entre 1978 e 2005
Carta apostólica «Mane nobiscum domine», §§ 15-16 (© copyright Libreria Editrice
Vaticana)
«Jesus tomou os pães e, tendo dado graças, distribuiu-os»
Não há dúvida de que a dimensão mais saliente da Eucaristia é a de banquete. A Eucaristia
nasceu, na noite de Quinta-feira Santa, no contexto da ceia pascal. Traz, por conseguinte,
inscrito na sua estrutura, o sentido da comensalidade: «Tomai, comei [...]. Tomou, em
seguida, um cálice e [...] entregou-lho dizendo: Bebei dele todos» (Mt 26, 26.27). Este
aspecto exprime bem a relação de comunhão que Deus quer estabelecer conosco e que nós
mesmos devemos fazer crescer uns com os outros.
Todavia, não se pode esquecer que o banquete eucarístico tem também um sentido primária
e profundamente sacrificial. Nele, Cristo torna presente para nós o sacrifício realizado de
uma vez por todas no Gólgota. Embora aí presente como ressuscitado, Ele traz os sinais da
Sua paixão, da qual cada Santa Missa é «memorial», como a liturgia nos recorda com a
aclamação depois da consagração: «Anunciamos, Senhor, a Vossa morte, proclamamos a
Vossa ressurreição». Ao mesmo tempo que atualiza o passado, a Eucaristia projeta-nos para
o futuro da última vinda de Cristo, no final da história. Este aspecto escatológico dá ao
sacramento eucarístico um dinamismo cativante, que imprime ao caminho cristão o passo
da esperança.
Todas estas dimensões da Eucaristia se encontram num aspecto que, mais do que qualquer
outro, põe à prova a nossa fé: é o mistério da presença «real». Com toda a tradição da
Igreja, acreditamos que, sob as espécies eucarísticas, está realmente presente Jesus. Uma
presença — como eficazmente explicou o Papa Paulo VI — que se diz «real», não por
exclusão, como se as outras formas de presença não fossem reais, mas por antonomásia,
enquanto por ela Se torna substancialmente presente Cristo completo, na realidade do Seu
corpo e do Seu sangue. Por isso, a fé pede-nos para estarmos diante da Eucaristia com a
consciência de que estamos na presença do próprio Cristo. É precisamente a Sua presença
que dá às outras dimensões — de banquete, memorial da Páscoa, antecipação escatológica
— um significado que ultrapassa, e muito, o de puro simbolismo. A Eucaristia é mistério de
presença, mediante o qual se realiza, de modo excelso, a promessa que Jesus fez de ficar
conosco até ao fim do mundo (Mt 28, 20).
At.7,51-8,1 DDPS – p.1422
51.Homens de dura cerviz, e de corações e ouvidos incircuncisos! Vós sempre resistis ao Espírito Santo.
Como procederam os vossos pais, assim procedeis vós também!
52.A qual dos profetas não perseguiram os vossos pais? Mataram os que prediziam a vinda do Justo, do qual
vós agora tendes sido traidores e homicidas.
53.Vós que recebestes a lei pelo ministério dos anjos e não a guardastes...
54.Ao ouvir tais palavras, esbravejaram de raiva e rangiam os dentes contra ele.
55.Mas, cheio do Espírito Santo, Estêvão fitou o céu e viu a glória de Deus e Jesus de pé à direita de Deus:
56.Eis que vejo, disse ele, os céus abertos e o Filho do Homem, de pé, à direita de Deus.
57.Levantaram então um grande clamor, taparam os ouvidos e todos juntos se atiraram furiosos contra ele.
58.Lançaram-no fora da cidade e começaram a apedrejá-lo. As testemunhas depuseram os seus mantos aos
pés de um moço chamado Saulo.
59.E apedrejavam Estêvão, que orava e dizia: Senhor Jesus, recebe o meu espírito.
60.Posto de joelhos, exclamou em alta voz: Senhor, não lhes leves em conta este pecado... A estas palavras,
expirou.
8,1.E Saulo havia aprovado a morte de Estêvão. Naquele dia, rompeu uma grande perseguição contra a
comunidade de Jerusalém. Todos se dispersaram pelas regiões da Judéia e de Samaria, com exceção dos
apóstolos
Comentário feito por:
São Cirilo de Alexandria (380-444), bispo e Doutor da Igreja
Sobre Isaías, IV, 1
«É meu Pai que vos dá o verdadeiro pão que vem do céu»
«Cantai ao Senhor um cântico novo!» (Sl 95, 1). Novo é o cântico, para se ajustar a
realidades novas; Paulo escreveu: «Se alguém está em Cristo é uma criatura nova; o mundo
antigo passou, foi feito um mundo novo» (2Co.5, 17). Os que eram israelitas pelo sangue
foram libertados da tirania dos egípcios graças ao mediador desse tempo, o muito sábio
Moisés; foram libertados do trabalho penoso dos tijolos, dos suores inúteis das tarefas
terrenas [...], da crueldade dos supervisores, da dureza inumana do faraó. Atravessaram o
mar; no deserto comeram o maná; beberam água que jorrou do rochedo; passaram o Jordão
a pé enxuto; foram introduzidos na Terra da promessa.
Ora, por nós, tudo isso foi renovado, e o mundo novo é incomparavelmente melhor que o
antigo. Nós fomos libertados de uma escravatura, não terrena, mas espiritual; fomos
libertados, não só das tarefas desta terra, mas da mancha dos prazeres carnais. Escapamos,
não aos contramestres egípcios ou ao tirano ímpio e impiedoso, homem como nós, mas aos
demônios malignos e impuros que incitam a pecar, e ao chefe da sua raça, Satanás.
Atravessámos as ondas da vida presente, como um mar, com o seu tumulto e as suas loucas
agitações. Comemos o maná espiritual, o pão descido do céu, que dá a vida ao mundo.
Bebemos a água que jorra da rocha, fazendo das águas vivas de Cristo as nossas delícias.
Atravessamos o Jordão graças ao santo batismo que fomos julgados dignos de receber.
Entramos na Terra prometida aos santos e preparada para eles, esta terra que o Senhor
recorda ao dizer: «Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra» (Mt.5, 4).
At.13,22-26 – DDPS – p.1429
22.Depois, Deus o rejeitou e mandou-lhes Davi como rei, de quem deu este testemunho: Achei Davi, filho de
Jessé, homem segundo o meu coração, que fará todas as minhas vontades.
23.De sua descendência, conforme a promessa, Deus fez sair para Israel o Salvador Jesus.
24.João tinha pregado, desde antes da sua vinda, o batismo do arrependimento a todo o povo de Israel.
25.Terminando a sua carreira, dizia: Eu não sou aquele que vós pensais, mas após mim virá aquele de quem
não sou digno de desatar o calçado.
26.Irmãos, filhos de Abraão, e os que entre vós temem a Deus: a nós é que foi dirigida a mensagem de
salvação.
Comentário feito por:
Santo Inácio de Antioquia (? - c. 110), bispo e mártir
Carta aos Efésios, 13-15
Seremos reconhecidos pelos frutos
O nascimento de João o Baptista está repleto de milagres. Um arcanjo anunciou a vinda de
Nosso Senhor e Salvador, Jesus; igualmente, um arcanjo anuncia o nascimento de João (Lc
1, 13) e diz: «será cheio do Espírito Santo já desde o ventre da sua mãe» (Lc 1, 16). O povo
judaico não via que Nosso Senhor realizava «milagres e prodígios» e curava muitas
doenças, mas João exulta de alegria estando ainda no seio materno; não se consegue detê-lo
e, à chegada da mãe de Jesus, a criança tenta sair do seio de Isabel: «Pois, logo que chegou
aos meus ouvidos a tua saudação, o menino saltou de alegria no meu seio» (Lc 1,44). Ainda
no seio de sua mãe, João recebeu o Espírito Santo [...].
A Escritura diz depois: «E reconduzirá muitos dos filhos de Israel ao Senhor, seu Deus»
(Lc 1, 16). João reconduziu «um grande número»; o Senhor não reconduziu apenas um
grande número, mas todos. Com efeito, a Sua obra é reconduzir todos os homens a Deus
Pai [...].
A meu ver, o mistério de João realiza-se no mundo até aos nossos dias. Todo aquele que
está destinado a crer em Cristo Jesus necessita primeiro que o espírito e a força de João
entrem na sua alma para «proporcionar ao Senhor um povo com boas disposições» (Lc 1,
17) e para que, nas asperezas do seu coração, toda a ravina seja preenchida, todo o monte e
colina sejam abatidos. Não foi apenas naquele tempo que os caminhos foram aplainados e
as veredas endireitadas (Lc 3, 5); ainda hoje o espírito e a força de João precedem o
advento do Senhor, nosso Salvador. Ó sublimidade do mistério do Senhor e do Seu
desígnio sobre o mundo
At.15,1-6 ddps p.1432.3.
1.Alguns homens, descendo da Judéia, puseram-se a ensinar aos irmãos o seguinte: Se não vos circuncidais,
segundo o rito de Moisés, não podeis ser salvos.
2.Originou-se então grande discussão de Paulo e Barnabé com eles, e resolveu-se que estes dois, com alguns
outros irmãos, fossem tratar desta questão com os apóstolos e os anciãos em Jerusalém.
3.Acompanhados (algum tempo) dos membros da comunidade, tomaram o caminho que atravessa a Fenícia e
Samaria. Contaram a todos os irmãos a conversão dos gentios, o que causou a todos grande alegria.
4.Chegando a Jerusalém, foram recebidos pela comunidade, pelos apóstolos e anciãos, a quem contaram tudo
o que Deus tinha feito com eles.
5.Mas levantaram-se alguns que antes de ter abraçado a fé eram da seita dos fariseus, dizendo que era
necessário circuncidar os pagãos e impor-lhes a observância da Lei de Moisés.
6.Reuniram-se os apóstolos e os anciãos para tratar desta questão
Comentário feito por:
Bem-aventurado Charles de Foucauld (1858-1916), eremita e missionário no Sahara
Meditações sobre os salmos, Sl 1
Dar fruto a seu tempo
«Feliz do homem que [...] medita na Lei dia e noite. É como uma árvore plantada à beira
das correntes, que dá o seu fruto na estação própria» (Sl 1, 1-3). Meu Deus, vós dizeis-me
que eu serei feliz, feliz com a verdadeira felicidade, feliz no último dia [...], que, por mais
miserável que seja, sou uma palmeira plantada à beira das águas vivas, das águas vivas da
vontade divina, do amor divino, da graça [...], e que darei o meu fruto a seu tempo. DignaiVos consolar-me; sinto-me sem fruto, sinto-me sem boas obras, digo a mim próprio:
converti-me há onze anos, e que tenho feito? O que foram as obras dos santos e quais são as
minhas? Vejo-me de mãos vazias de bem.
Dignai-Vos consolar-me: «Tu darás fruto no teu tempo», dizeis-me. [...] Qual é esse tempo?
O tempo de todos nós é o dia do juízo final; e Vós prometeis-me que, se persistir na boa
vontade e no combate, por mais pobre que me veja, terei frutos nessa hora derradeira.
At.15,7-21 ddps p.1432
7.Ao fim de uma grande discussão, Pedro levantou-se e lhes disse: Irmãos, vós sabeis que já há muito tempo
Deus me escolheu dentre vós, para que da minha boca os pagãos ouvissem a palavra do Evangelho e cressem.
8.Ora, Deus, que conhece os corações, testemunhou a seu respeito, dando-lhes o Espírito Santo, da mesma
forma que a nós.
9.Nem fez distinção alguma entre nós e eles, purificando pela fé os seus corações.
10.Por que, pois, provocais agora a Deus, impondo aos discípulos um jugo que nem nossos pais nem nós
pudemos suportar?
11.Nós cremos que pela graça do Senhor Jesus seremos salvos, exatamente como eles.
12.Toda a assembléia o ouviu silenciosamente. Em seguida, ouviram Barnabé e Paulo contar quantos milagres
e prodígios Deus fizera por meio deles entre os gentios.
13.Depois de terminarem, Tiago tomou a palavra: Irmãos, ouvi-me, disse ele.
14.Simão narrou como Deus começou a olhar para as nações pagãs para tirar delas um povo que trouxesse o
seu nome.
15.Ora, com isto concordam as palavras dos profetas, como está escrito:
16.Depois disto voltarei, e reedificarei o tabernáculo de Davi que caiu. E reedificarei as suas ruínas, e o
levantarei
17.para que o resto dos homens busque o Senhor, e todas as nações, sobre as quais tem sido invocado o meu
nome.
18.Assim fala o Senhor que faz estas coisas, coisas que ele conheceu desde a eternidade (Am. 9,11s.).
19.Por isso, julgo que não se devem inquietar os que dentre os gentios se convertem a Deus.
20.Mas que se lhes escreva somente que se abstenham das carnes oferecidas aos ídolos, da impureza, das
carnes sufocadas e do sangue.
21.Porque Moisés, desde muitas gerações, tem em cada cidade seus pregadores, pois que ele é lido nas
sinagogas todos os sábados.
Comentário feito por:
Tomás de Celano (c. 1190-c. 1260), biógrafo de São Francisco e de Santa Clara
Vita Secunda de São Francisco, §§ 125 e 127 (a partir da trad. de Debonnets et Vorreux,
Documents, p.430)
«Manifestei-vos estas coisas, para que esteja em vós a Minha alegria»
São Francisco afirmava: «Contra todas as maquinações e ardis do inimigo, a minha melhor
defesa continua a ser o espírito da alegria. O diabo nunca fica tão contente como quando
consegue arrebatar a alegria à alma de um servo de Deus. Ele tem sempre uma reserva de
poeira que sopra na consciência através de qualquer orifício, para tornar opaco o que é
límpido; mas em vão tenta introduzir o seu veneno mortal num coração repleto de alegria.
Os demônios não podem nada contra um servo de Cristo que encontram repleto de santa
alegria; enquanto uma alma desgostosa, melancólica e deprimida se deixa facilmente
submergir pela tristeza ou absorver por prazeres enganosos.»
Eis por que ele mesmo se esforçava por manter sempre o coração alegre, por conservar esse
óleo da alegria com o qual a sua alma tinha sido ungida (Sl 44, 8). Tinha grande cuidado
em evitar a tristeza, a pior das doenças, e, quando sentia que ela se começava a infiltrar na
sua alma, recorria imediatamente à oração. «À primeira perturbação, dizia ele, o servo de
Deus deve levantar-se, pôr-se em oração e permanecer diante do Pai até que Ele lhe faça
recuperar a alegria própria daquele que foi salvo» (Sl 50,14). [...]
Com os meus próprios olhos o vi eu por vezes apanhar do chão um pedaço de madeira,
colocá-lo sobre o braço esquerdo e raspá-lo com um pau como se tocasse com o arco na
viola; assim, fazia de conta que acompanhava [com música] os louvores que cantava ao
Senhor em francês.
Rm. 10,8-13 – p.1459 - DDPS
8. Que diz ela, afinal? A palavra está perto de ti, na tua boca e no teu coração (Dt 30,14). Essa é a palavra da
fé, que pregamos.
9. Portanto, se com tua boca confessares que Jesus é o Senhor, e se em teu coração creres que Deus o
ressuscitou dentre os mortos, serás salvo.
10. É crendo de coração que se obtém a justiça, e é professando com palavras que se chega à salvação.
11. A Escritura diz: Todo o que nele crer não será confundido (Is 28,16).
12. Pois não há distinção entre judeu e grego, porque todos têm um mesmo Senhor, rico para com todos os
que o invocam,
13. porque todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo (Jl 3,5).
Comentário feito por:
Santo Ambrósio (c. 340-397), Bispo de Milão e Doutor da Igreja
Comentário sobre o Evangelho de Lucas, IV, 7-12 ; PL 15,1614 (a partir da trad. Brésard,
2000 ans A, p. 88)
«Jesus foi levado pelo Espírito ao deserto [...], onde era tentado pelo diabo»
Recordemos que o primeiro Adão foi expulso do paraíso para o deserto, para que a nossa
atenção se concentre na maneira como o segundo Adão (1Co. 15, 45) regressa do deserto
ao paraíso. Vede, com efeito, como a primeira condenação é desenredada, depois de ter
sido enredada, como são restabelecidos os benefícios divinos sobre os vestígios dos
benefícios antigos. Adão vem de uma terra virgem, Cristo vem da Virgem; aquele foi feito
à imagem de Deus, Este é a imagem de Deus (Cl.1, 15); aquele foi colocado acima de todos
os animais irracionais, Este acima de todos os seres vivos. Por uma mulher veio a
insensatez, por uma virgem a sabedoria; a morte veio de uma árvore, a vida pela cruz. Um,
despido das vestes espirituais, concebeu para si uma veste de folhas de árvore; o Outro,
despido da veste deste mundo, deixou de desejar uma veste material (Jo 19, 23).
Adão foi expulso do deserto, Cristo vem do deserto; porque Ele sabia onde se encontrava o
condenado que queria reconduzir ao paraíso, já liberto do seu pecado. [...] Aquele que tinha
perdido a rota que seguia no paraíso não era capaz de reencontrar a rota perdida no deserto,
sem ter quem o guiasse. As tentações são numerosas, o esforço com vista à virtude é difícil,
é fácil dar passos em falso e cair no erro. [...] Sigamos pois a Cristo, conforme está escrito:
«É ao Senhor vosso Deus que deveis temer e seguir» (Dt 13, 5). [...] Sigamos, pois, os Seus
passos, e poderemos passar do deserto ao paraíso.
1Co.11,23-26 DDPS - p.1475
23.Eu recebi do Senhor o que vos transmiti: que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão
24.e, depois de ter dado graças, partiu-o e disse: Isto é o meu corpo, que é entregue por vós; fazei isto em
memória de mim.
25.Do mesmo modo, depois de haver ceado, tomou também o cálice, dizendo: Este cálice é a Nova Aliança
no meu sangue; todas as vezes que o beberdes, fazei-o em memória de mim.
26.Assim, todas as vezes que comeis desse pão e bebeis desse cálice lembrais a morte do Senhor, até que
venha.
Comentário feito por:
São João-Maria Vianney (1786-1859); presbítero, Cura d'Ars
Sermão para a Quinta-Feira Santa
«Amou-os até ao fim»
Que amor, que caridade, a de Jesus Cristo, em ter escolhido a véspera do dia em que ia ser
morto para instituir um sacramento por meio do qual permanecerá entre nós, como Pai,
como Consolador, e como toda a nossa felicidade! Mais felizes ainda do que aqueles que O
conheceram na Sua vida mortal pois, estando Ele num só lugar, tinham de se deslocar de
longe para terem a felicidade de O ver, nós encontramo-Lo em toda a parte, e essa
felicidade foi-nos prometida até ao fim do mundo. Ó imenso amor de Deus pelas Suas
criaturas!
Não, nada pode detê-Lo, quando quer mostrar-nos a grandeza do Seu amor. Neste momento
de felicidade para nós, toda a Jerusalém está a ferro e fogo, a população está enfurecida,
todos conspiram para a Sua perda, todos querem verter o Seu adorável sangue - e é
precisamente nesse momento que Ele prepara para eles, como para nós, a prova mais
inefável do Seu amor.
At.4,8-12 – DDPS – p.1417
8. Então Pedro, cheio do Espírito Santo, respondeu-lhes: Chefes do povo e anciãos, ouvi-me:
9. se hoje somos interrogados a respeito do benefício feito a um enfermo, e em que nome foi ele curado,
10. ficai sabendo todos vós e todo o povo de Israel: foi em nome de Jesus Cristo Nazareno, que vós
crucificastes, mas que Deus ressuscitou dos mortos. Por ele é que esse homem se acha são, em pé, diante de
vós.
11. Esse Jesus, pedra que foi desprezada por vós, edificadores, tornou-se a pedra angular.
12. Em nenhum outro há salvação, porque debaixo do céu nenhum outro nome foi dado aos homens, pelo qual
devamos ser salvos.
Comentário feito por:
Santo António de Lisboa (c. 1195-1231), franciscano, Doutor da Igreja
Sermões para os domingos e as festas dos santos (trad. Bayart, Eds. franciscanas 1944, p.
140)
«O bom pastor dá a sua vida pelas ovelhas»
«Eu sou o bom pastor». Cristo pode dizer com propriedade «Eu sou». Para Ele nada
pertence ao passado nem ao futuro: tudo Nele é presente. É o que Ele diz de Si mesmo no
Apocalipse: «Eu sou o Alfa e o Ómega, Aquele que é, que era e que há de vir, o TodoPoderoso» (Ap.1, 8). E no Êxodo: «Eu sou Aquele que sou. Assim dirás aos filhos de
Israel: «'Eu sou' enviou-me a vós»» (Ex 3, 14).
«Eu sou o bom pastor». A palavra «pastor» vem do termo «pastar». Cristo serve-nos o
repasto da Sua carne e do Seu sangue, em cada dia, no sacramento do altar. Jessé, pai de
David, disse a Samuel: «Resta ainda o [filho] mais novo, que anda a apascentar as ovelhas»
(1Sm.16, 11). Também o nosso David, pequeno e humilde como um bom pastor, apascenta
as suas ovelhas. [...]
Lemos ainda em Isaías: «É como um pastor que apascenta o rebanho [...], leva os cordeiros
ao colo e faz repousar as ovelhas que têm crias» (Is 40, 11). [...] Com efeito, ao conduzir o
seu rebanho à pastagem, ou ao regressar de lá, o bom pastor reúne todos os cordeirinhos
que ainda não conseguem andar; toma-os nos braços e leva-os junto ao peito; leva também
as ovelhas que vão dar à luz e as que acabaram de ter os filhos. Assim faz Jesus Cristo: dia
após dia alimenta-nos com os ensinamentos do Evangelho e os sacramentos da Igreja.
Reúne-nos nos Seus braços, estendidos sobre a cruz, «para congregar na unidade os filhos
de Deus que estavam dispersos» (Jo 11, 52). Aconchega-nos no seio da Sua misericórdia,
como uma mãe aconchega o seu filho.
At.5,34-42 – DDPS- p1419
34.Levantou-se, porém, um membro do Grande Conselho. Era Gamaliel, um fariseu, doutor da lei, respeitado
por todo o povo.
35.Mandou que se retirassem aqueles homens por um momento, e então lhes disse: Homens de Israel,
considerai bem o que ides fazer com estes homens.
36.Faz algum tempo apareceu um certo Teudas, que se considerava um grande homem. A ele se associaram
cerca de quatrocentos homens: foi morto e todos os seus partidários foram dispersados e reduzidos a nada.
mas também ele pereceu e todos quantos o seguiam foram
37.Depois deste, levantou-se Judas, o galileu, nos dias do recenseamento, e arrastou o povo consigo,
dispersados.
38.Agora, pois, eu vos aconselho: não vos metais com estes homens. Deixai-os! Se o seu projeto ou a sua obra
provém de homens, por si mesma se destruirá;
39.mas se provier de Deus, não podereis desfazê-la. Vós vos arriscaríeis a entrar em luta contra o próprio
Deus. Aceitaram o seu conselho.
40.Chamaram os apóstolos e mandaram açoitá-los. Ordenaram-lhes então que não pregassem mais em nome
de Jesus, e os soltaram.
41.Eles saíram da sala do Grande Conselho, cheios de alegria, por terem sido achados dignos de sofrer
afrontas pelo nome de Jesus.
42.E todos os dias não cessavam de ensinar e de pregar o Evangelho de Jesus Cristo no templo e pelas casas.
Comentário feito por:
Santo Efrém (c. 306-373), diácono na Síria, Doutor da Igreja
Diatesseron, 12, 4-5, 11 (trad. SC 121, pp. 214ss.)
Encheram doze cestos com os pedaços que sobraram
Num abrir e fechar de olhos, o Senhor multiplicou um pouco de pão. Aquilo que os homens
fazem em dez meses de trabalho, os seus dez dedos fizeram num instante. [...] Todavia, não
foi pelo Seu poder que Ele mediu o alcance do milagre, mas pela fome dos que ali
estavam. Se o milagre tivesse sido avaliado pela medida do Seu poder, teria sido impossível
avaliá-lo; medido pela fome daqueles milhares de homens, o milagre excedeu os doze
cestos. A capacidade dos artesãos não excede a dos clientes, é-lhes impossível corresponder
a tudo o que lhes é pedido. As realizações de Deus, pelo contrário, superam todo o desejo.
Saciados no deserto como outrora os israelitas pela oração de Moisés, eles exclamaram:
«Este é realmente o Profeta que devia vir ao mundo!» Faziam alusão às palavras de Moisés:
«O Senhor vos suscitará um profeta», não um qualquer, mas «um profeta como eu» (Dt 18,
15), que vos saciará de pão no deserto. Como eu, caminhou sobre o mar, apareceu na
nuvem luminosa (Mt.17, 5), libertou o Seu povo. Ele entregou Maria a João, como Moisés
entregou o seu rebanho a Josué. [...] Mas o pão de Moisés não era perfeito; foi dado
unicamente aos israelitas. Querendo significar que o Seu dom é superior ao de Moisés e o
apelo às nações mais perfeito, nosso Senhor disse: «se alguém comer deste pão, viverá
eternamente», porque «o pão de Deus desceu do Céu» e foi dado ao mundo inteiro (Jo 6,
51).
At.5,38-39: - <Libertação dos Apóstolos a conselho de Gamaliel> - pg.1419 - DDPS
38.Agora, pois, eu vos aconselho: não vos metais com estes homens. Deixai-os! Se o seu projeto ou
a sua obra provém de homens, por si mesma se destruirá;
39.mas se provier de Deus, não podereis desfazê-la. Vós vos arriscaríeis a entrar em luta contra o próprio
Deus. Aceitaram o seu conselho.
A Igreja Primitiva também viveu plenamente o carisma da Palavra de Sabedoria
- Gamaliel era um mestre dos judeus, isto é, um homem considerado sábio seguido por
muitos judeus de boa vontade. Através de uma Palavra de Sabedoria salva os apóstolos da
prisão.
“ Agora, pois, eu vos aconselho, não vos metais com estes homens. Deixai-os! Se o projeto
ou sua obra provém dos homens por si mesma, destruir-se-á, mas se provier de Deus, não
podereis desfazê-la. Vós arriscaríeis entrar em luta com o próprio Deus.
A Palavra de Sabedora que está escrita nesta passagem é utilizada até hoje em muitos
discernimentos da Igreja, é conhecida como “ conselho ou princípio de Gamaliel”.
At.6,8-15: - < Prisão do diácono Estevão>. – pg.1420 - DDPS
8.Estêvão, cheio de graça e fortaleza, fazia grandes milagres e prodígios entre o povo.
9.Mas alguns da sinagoga, chamada dos Libertos, dos cirenenses, dos alexandrinos e dos que eram da Cilícia
e da Ásia, levantaram-se para disputar com ele.
10.Não podiam, porém, resistir à sabedoria e ao Espírito que o inspirava.
11.Então subornaram alguns indivíduos para que dissessem que o tinham ouvido proferir palavras de
blasfêmia contra Moisés e contra Deus.
12.Amotinaram assim o povo, os anciãos e os escribas e, investindo contra ele, agarraram-no e o levaram ao
Grande Conselho.
13.Apresentaram falsas testemunhas que diziam: Esse homem não cessa de proferir palavras contra o lugar
santo e contra a lei.
14.Nós o ouvimos dizer que Jesus de Nazaré há de destruir este lugar e há de mudar as tradições que Moisés
nos legou.
15.Fixando nele os olhos, todos os membros do Grande Conselho viram o seu rosto semelhante ao de um
anjo.
- O Espírito Santo dava também a Estevão palavras de Sabedoria que calaram seus
adversários, que em seus corações tramavam contra ele.
Porém Deus é fiel à sua promessa de nos socorrer com seu Espírito Santo sempre que
reconhecêssemos nossa fraqueza e pedidos de socorro a Ele.
At.7,51-8,1 DDPS – p.1422
51.Homens de dura cerviz, e de corações e ouvidos incircuncisos! Vós sempre resistis ao Espírito Santo.
Como procederam os vossos pais, assim procedeis vós também!
52.A qual dos profetas não perseguiram os vossos pais? Mataram os que prediziam a vinda do Justo, do qual
vós agora tendes sido traidores e homicidas.
53.Vós que recebestes a lei pelo ministério dos anjos e não a guardastes...
54.Ao ouvir tais palavras, esbravejaram de raiva e rangiam os dentes contra ele.
55.Mas, cheio do Espírito Santo, Estêvão fitou o céu e viu a glória de Deus e Jesus de pé à direita de Deus:
56.Eis que vejo, disse ele, os céus abertos e o Filho do Homem, de pé, à direita de Deus.
57.Levantaram então um grande clamor, taparam os ouvidos e todos juntos se atiraram furiosos contra ele.
58.Lançaram-no fora da cidade e começaram a apedrejá-lo. As testemunhas depuseram os seus mantos aos
pés de um moço chamado Saulo.
59.E apedrejavam Estêvão, que orava e dizia: Senhor Jesus, recebe o meu espírito.
60.Posto de joelhos, exclamou em alta voz: Senhor, não lhes leves em conta este pecado... A estas palavras,
expirou.
8,1.E Saulo havia aprovado a morte de Estêvão. Naquele dia, rompeu uma grande perseguição contra a
comunidade de Jerusalém. Todos se dispersaram pelas regiões da Judéia e de Samaria, com exceção dos
apóstolos
Comentário feito por:
São Justino (c. 100-160), filósofo, mártir
Primeira Apologia, 67.66; Pg 6, 427-431
«O verdadeiro pão vindo do céu»: no século II, uma das primeiras descrições da
eucaristia fora do Novo Testamento
No dia que se chama o dia do sol [o domingo], todos os habitantes das cidades ou dos
campos se reúnem num só local. Lemos as memórias dos apóstolos e os escritos dos
profetas quando o tempo o permite. Quando a leitura termina, quem preside toma a palavra
para chamar a atenção sobre esses belos ensinamentos e exortar a segui-los. Seguidamente,
levantamo-nos todos juntos e recomendamos as intenções de oração. Depois trazem pão,
vinho e água. O presidente faz subir de todo o seu coração ao céu orações e ações de
graças, e o povo responde com a aclamação «Amém!», uma palavra hebraica que significa:
«Assim seja».
Nós chamamos este alimento eucaristia, e ninguém pode tomar parte dele se não crê na
verdade da nossa doutrina e se não recebeu o banho do batismo para a remissão dos
pecados e a regeneração. Porque nós não tomamos este alimento como um pão vulgar ou
uma bebida comum. Tal como, pela Palavra de Deus, Jesus Cristo, nosso Salvador,
encarnou em carne e osso para a nossa salvação, assim o alimento consagrado nas próprias
palavras da Sua oração é destinado a alimentar a nossa carne e o nosso sangue para nos
transformar; este alimento é o corpo e o sangue de Jesus encarnado: esta é a nossa doutrina.
Os apóstolos, nas memórias que nos deixaram e a que chamamos evangelhos, transmitiramnos assim a recomendação que Jesus lhes fez: Ele tomou o pão, deu graças e disse: «Fazei
isto em memória de Mim; isto é o Meu corpo». Tomou igualmente um cálice, deu graças e
disse: «Isto é o Meu sangue». E deu-lhos só a eles (Mt.26, 26ss.; 1Cor 11, 23ss.). [...] É no
dia do sol que nós nos reunimos todos, porque esse é o primeiro dia, em que Deus separou
a matéria das trevas para fazer o mundo, e é o dia em que Jesus Cristo nosso Salvador
ressuscitou dos mortos.
At.9,26-31 ddps - p.1424
26.Chegando a Jerusalém, tentava ajuntar-se aos discípulos, mas todos o temiam, não querendo crer que se
tivesse tornado discípulo.
27.Então Barnabé, levando-o consigo, apresentou-o aos apóstolos e contou-lhes como Saulo vira o Senhor no
caminho, e que lhe havia falado, e como em Damasco pregara, com desassombro, o nome de Jesus.
28.Daí por diante permaneceu com eles, saindo e entrando em Jerusalém, e pregando, destemidamente, o
nome do Senhor.
29.Falava também e discutia com os helenistas. Mas estes procuravam matá-lo.
30.Os irmãos, informados disso, acompanharam-no até Cesaréia e dali o fizeram partir para Tarso.
31.A Igreja gozava então de paz por toda a Judéia, Galiléia e Samaria. Estabelecia-se ela caminhando no
temor do Senhor, e a assistência do Espírito Santo a fazia crescer em número.
Comentário feito por:
São Cipriano (c. 200-258), Bispo de Cartago e mártir
A Oração do Senhor, 2-3 (trad. DDB 1982, p. 41 rev.; cf. breviário)
Invocar o nome de Jesus ao pedir
Entre recomendações salutares e preceitos divinos através dos quais proveu à salvação do
Seu povo, o Senhor deu-nos ainda o modelo de oração; Ele próprio nos ensinou o que
devemos pedir nas nossas preces. Ele, que nos dá a vida, também nos ensina a rezar, com
aquela mesma bondade que O levou a conceder-nos tantos outros benefícios. Assim,
quando falamos ao Pai através da oração que o Senhor nos ensinou, somos mais facilmente
escutados. Ele previra que viria a hora em que: «os verdadeiros adoradores hão de adorar o
Pai em espírito e verdade» (Jo 4, 23) e cumpriu o que anunciara. Santificados pelo Espírito
e pela verdade que vêm Dele, podemos igualmente, graças ao que nos ensinou, adorar em
espírito e verdade.
Uma vez que foi graças a Cristo que recebemos o Espírito que oração poderia ser mais
espiritual do que aquela que Ele nos deu? Que oração pode ser mais verdadeira do que
aquela que saiu da boca do Filho, que é a própria Verdade?
Por isso, irmãos bem-amados, rezemo-la como o Mestre no-la ensinou. Clamar a Deus com
palavras Dele é súplica que Lhe é amável e filial; é fazer-Lhe chegar aos ouvidos a oração
de Cristo. Que o Pai reconheça a voz do Filho quando Lhe dirigimos o nosso pedido. Que
Aquele que vive no nosso coração seja também a nossa voz. Ele é nosso advogado junto do
Pai: intercede pelos nossos pecados quando nós, pecadores, lhe pedimos perdão pelas
nossas faltas. Pronunciemos, então, as palavras do nosso advogado, porque é Ele quem nos
diz: «Se pedirdes alguma coisa ao Pai em Meu nome, Ele vo-la dará» (Jo 16, 23).
At.9,20-25: - < 1ª.s pregações de Saulo em Damasco> - pg.1424 - DDPS
20.Imediatamente começou a proclamar pelas sinagogas que Jesus é o Filho de Deus.
21.Todos os seus ouvintes pasmavam e diziam: Este não é aquele que perseguia em Jerusalém os que
invocam o nome de Jesus? Não veio cá só para levá-los presos aos sumos sacerdotes?
22.Saulo, porém, sentia crescer o seu poder e confundia os judeus de Damasco, demonstrando que Jesus é o
Cristo.
23.Decorridos alguns dias, os judeus deliberaram, em conselho, matá-lo.
24.Estas intenções chegaram ao conhecimento de Saulo. Guardavam eles as portas de dia e de noite, para
matá-lo.
25.Mas os discípulos, tomando-o de noite, fizeram-no descer pela muralha dentro de um cesto.
-Os discípulos ajudam Paulo a chegar em Jerusalém, pois os judeus já haviam deliberado,
em conselho, que iriam matá-lo. Através do DDPS , que os inspirou a colocá-lo dentro de
um cesto durante a noite e descê-lo pela muralha.
-O Espírito Santo inspirou aqui como ele deveriam agir para salvar Paulo e fazê-lo chegar a
Jerusalém. A Palavra de Sabedoria nos é dada para ocasiões muito concreta. É uma
orientação divina para nossa vida diária.
At.16,25-31 e At.16,33-34: - < Prisão de Paulo e Silas> - pg.1434 - DDPS
25.Pela meia-noite, Paulo e Silas rezavam e cantavam um hino a Deus, e os prisioneiros os escutavam.
26.Subitamente, sentiu-se um terremoto tão grande que se abalaram até os fundamentos do cárcere. Abriramse logo todas as portas e soltaram-se as algemas de todos.
27.Acordou o carcereiro e, vendo abertas as portas do cárcere, supôs que os presos haviam fugido. Tirou da
espada e queria matar-se.
28.Mas Paulo bradou em alta voz: Não te faças nenhum mal, pois estamos todos aqui.
29.Então o carcereiro pediu luz, entrou e lançou-se trêmulo aos pés de Paulo e Silas.
30.Depois os conduziu para fora e perguntou-lhes: Senhores, que devo fazer para me salvar?
31.Disseram-lhe: Crê no Senhor Jesus e serás salvo, tu e tua família.
32.Anunciaram-lhe a palavra de Deus, a ele e a todos os que estavam em sua casa.
33.Então, naquela mesma hora da noite, ele cuidou deles e lavou-lhes as chagas. Imediatamente foi batizado,
ele e toda a sua família.
34.Em seguida, ele os fez subir para sua casa, pôs-lhes a mesa e alegrou-se com toda a sua casa por haver
crido em Deus.
A Palavra de Sabedoria é sinal de salvação em Jesus Cristo.
Outro acontecimento das Escrituras que nos mostra o uso do dom da Palavra de Sabedoria,
é a narração do episódio em que Paulo e Silas estavam presos e quando pela oração e
louvor, abriram-se todas as portas e o carcereiro desesperado queria se matar: os dois
prisioneiros pronunciaram a Palavra de Sabedoria :“ Crê no Senhor Jesus, e serás salvo tu e
tua família”. (At.16,31), que acalmou-lhe o coração, preparando-o para receber Jesus, o que
minutos depois aconteceu, pois “ ao ouvirem, ele e todos que estavam em sua casa , todos
da sua família, foram batizados”. (At.16,33-34).
At.26,8; At.26,27-28; At.26,31:- < Discurso de Paulo ao rei Agripa> - pg.1445/6 - DDPS
8.Que pensais vós? É coisa incrível que Deus ressuscite os mortos
27.Crês, ó rei, nos profetas? Bem sei que crês!
28.Disse então Agripa a Paulo: Por pouco não me persuades a fazer-me cristão!
31.Retirando-se, comentavam uns com os outros: Esse homem não fez coisa que mereça a morte ou prisão .
- Palavra de Sabedoria e o testemunho de vida.
- No discurso de Paulo ao rei Agripa, o Senhor dentre todo o testemunho corajoso do
Apóstolo diante das autoridades , inspirou duas Palavras de Sabedoria que fizeram o rei
Agripa exclamar surpreso.As palavras que surpreenderam o rei foram as PS de Paulo:
- “Que pensais vós? É coisa incrível que Deus ressuscite os mortos?”. (At.26,8)
- “Crês, ó rei nos profetas? Bem sei que crês!”. [27].Disse então Agripa a Paulo: “Por
pouco não me persuades a fazer-me cristão!”.[28].
At.17,15.22 DDPS-18,1 p.1435
15.Os que conduziam Paulo levaram-no até Atenas. De lá voltaram e transmitiram para Silas e Timóteo a
ordem de que fossem ter com ele o mais cedo possível.
22.Paulo, em pé no meio do Areópago, disse: Homens de Atenas, em tudo vos vejo muitíssimo religiosos.
23.Percorrendo a cidade e considerando os monumentos do vosso culto, encontrei também um altar com esta
inscrição: A um Deus desconhecido. O que adorais sem o conhecer, eu vo-lo anuncio!
24.O Deus, que fez o mundo e tudo o que nele há, é o Senhor do céu e da terra, e não habita em templos feitos
por mãos humanas.
25.Nem é servido por mãos de homens, como se necessitasse de alguma coisa, porque é ele quem dá a todos a
vida, a respiração e todas as coisas.
26.Ele fez nascer de um só homem todo o gênero humano, para que habitasse sobre toda a face da terra. Fixou
aos povos os tempos e os limites da sua habitação.
27.Tudo isso para que procurem a Deus e se esforcem por encontrá-lo como que às apalpadelas, pois na
verdade ele não está longe de cada um de nós.
28.Porque é nele que temos a vida, o movimento e o ser, como até alguns dos vossos poetas disseram: Nós
somos também de sua raça...
29.Se, pois, somos da raça de Deus, não devemos pensar que a divindade é semelhante ao ouro, à prata ou à
pedra lavrada por arte e gênio dos homens.
30.Deus, porém, não levando em conta os tempos da ignorância, convida agora a todos os homens de todos os
lugares a se arrependerem.
31.Porquanto fixou o dia em que há de julgar o mundo com justiça, pelo ministério de um homem que para
isso destinou. Para todos deu como garantia disso o fato de tê-lo ressuscitado dentre os mortos.
32.Quando o ouviram falar de ressurreição dos mortos, uns zombavam e outros diziam: A respeito disso te
ouviremos outra vez.
33.Assim saiu Paulo do meio deles.
34.Todavia, alguns homens aderiram a ele e creram: entre eles, Dionísio, o areopagita, e uma mulher chamada
Dâmaris; e com eles ainda outros.
18,1.Depois disso, saindo de Atenas, Paulo dirigiu-se a Corinto.
Comentário feito por:
Catecismo da Igreja Católica §§ 687-688
«O Espírito da Verdade há de guiar-vos para a Verdade completa»
«Ninguém conhece o que há em Deus, senão o Espírito de Deus» (1 Cor 2, 11). Ora, o Seu
Espírito, que O revela, faz-nos conhecer Cristo, o Seu Verbo, a Sua Palavra viva; mas não
Se diz a Si próprio. Aquele que «falou pelos profetas» faz-nos ouvir a Palavra do Pai. Mas
a Ele, nós não O ouvimos. Não O conhecemos senão no movimento em que Ele nos revela
o Verbo e nos dispõe a acolhê-Lo na fé. O Espírito de verdade, que nos «revela» Cristo,
«não fala de Si próprio» (Jo 16, 13). Tal ocultação, propriamente divina, explica porque é
que «o mundo não O pode receber, porque não O vê nem O conhece», enquanto aqueles
que crêem em Cristo O conhecem, porque Ele habita com eles e está neles (Jo 14, 17).
A Igreja, comunhão viva na fé dos Apóstolos que ela transmite, é o lugar do nosso
conhecimento do Espírito Santo:
— nas Escrituras, que Ele inspirou:
— na Tradição, de que os Padres da Igreja são testemunhas sempre atuais;
— no Magistério da Igreja, a que Ele assiste;
— na liturgia sacramental, através das suas palavras e dos seus símbolos, em que o Espírito
Santo nos põe em comunhão com Cristo;
— na oração, em que Ele intercede por nós;
— nos carismas e ministérios, pelos quais a Igreja é edificada;
— nos sinais de vida apostólica e missionária;
— no testemunho dos santos, nos quais Ele manifesta a sua santidade e continua a obra da
salvação.
At.28,16-20.30-31 ddps p.1449
16.Chegados que fomos a Roma, foi concedida licença a Paulo para que ficasse em casa própria com um
soldado que o guardava.
17.Três dias depois, Paulo convocou os judeus mais notáveis. Estando reunidos, disse-lhes: Irmãos, sem
cometer nada contra o povo nem contra os costumes de nossos pais, fui preso em Jerusalém e entregue nas
mãos dos romanos.
18.Estes, depois de terem instruído o meu processo, quiseram soltar-me, visto não achar em mim crime algum
que merecesse morte.
19.Mas, opondo-se a isso os judeus, vi-me obrigado a apelar para César, sem intentar contudo acusar de
alguma coisa a minha nação.
20.Por esse motivo, mandei chamar-vos, para vos ver e falar convosco. Porquanto, pela esperança de Israel, é
que estou preso com esta corrente.
30.Paulo permaneceu por dois anos inteiros no aposento alugado, e recebia a todos os que vinham procurá-lo.
31.Pregava o Reino de Deus e ensinava as coisas a respeito do Senhor Jesus Cristo, com toda a liberdade e
sem proibição.
Comentário feito por:
Santo Agostinho (354-430), Bispo de Hipona (África do Norte) e Doutor da Igreja
Sermões sobre o evangelho de João, n° 124; CCL 36, 685 (trad. Orval)
Dois apóstolos, duas vidas, uma Igreja
A Igreja conhece duas vidas louvadas e recomendadas por Deus. Uma é na fé, a outra na
visão; uma na peregrinação do tempo, a outra na morada da eternidade; uma no trabalho, a
outra no repouso; uma no caminho, a outra na pátria; uma no esforço da ação, a outra na
recompensa da contemplação. [...] A primeira é simbolizada pelo apóstolo Pedro, a segunda
por João. [...] E não são só eles, mas toda a Igreja, Esposa de Cristo, que o realiza, ela que
há de ser libertada das provações deste mundo e permanecer na beatitude eterna.
Pedro e João simbolizaram, cada um, uma destas duas vidas. Mas ambos passaram juntos a
primeira, no tempo, pela fé; e juntos desfrutarão a segunda, na eternidade, pela visão. Foi
portanto para todos os santos unidos inseparavelmente ao corpo de Cristo, e a fim de os
conduzir no meio das tempestades desta vida, que Pedro, o primeiro dos apóstolos, recebeu
as chaves do reino dos céus, com o poder de reter ou absolver os pecados (Mt 16, 19). Foi
também por todos os santos, e a fim de lhes dar acesso à profundidade serena da sua vida
mais íntima, que Cristo deixou João repousar no Seu peito (Jo 13, 23.25). Pois o poder de
reter ou absolver os pecados não pertence somente a Pedro, mas a toda a Igreja; e João não
é o único a beber na fonte do peito do Senhor, o Verbo que desde o início é Deus junto de
Deus (Jo 7, 38;1, 1), [...] mas o próprio Senhor dedica o Seu Evangelho a todos os homens
do mundo inteiro, para que cada um o beba consoante a sua capacidade.
Rm. 6,3-11 – DDPS p.1454.5
3.Ou ignorais que todos os que fomos batizados em Jesus Cristo, fomos batizados na sua morte?
4.Fomos, pois, sepultados com ele na sua morte pelo batismo para que, como Cristo ressurgiu dos mortos pela
glória do Pai, assim nós também vivamos uma vida nova.
5.Se fomos feitos o mesmo ser com ele por uma morte semelhante à sua, sê-lo-emos igualmente por uma
comum ressurreição.
6.Sabemos que o nosso velho homem foi crucificado com ele, para que seja reduzido à impotência o corpo
(outrora) subjugado ao pecado, e já não sejamos escravos do pecado.
7.(Pois quem morreu, libertado está do pecado.)
8.Ora, se morremos com Cristo, cremos que viveremos também com ele,
9.pois sabemos que Cristo, tendo ressurgido dos mortos, já não morre, nem a morte terá mais domínio sobre
ele.
10.Morto, ele o foi uma vez por todas pelo pecado; porém, está vivo, continua vivo para Deus!
11.Portanto, vós também considerai-vos mortos ao pecado, porém vivos para Deus, em Cristo Jesus.
Comentário feito por:
Homilia do séc. V, atribuída a Eusébio Galicano
Homilia 12 A; CCL 101, 145 (a partir da trad. Solesmes, Lectionnaire, vol. 3, p. 21 rev.)
«Tu fazes resplandecer esta noite santíssima pela glória da ressurreição do Senhor»
(Coleta)
«Alegrem-se os céus, exulte a terra!» (Sl 95, 11). Este dia resplandece para nós com o
esplendor do túmulo, que para nós brilhou com raios de sol. Que os infernos aclamem, pois
abriu-se neles uma saída; que se alegrem, pois chegou para eles o dia da visita; que
exultem, pois viram, após séculos e séculos, uma luz que não conheciam, e na escuridão da
sua noite profunda puderam enfim respirar! Oh luz bela, que vimos despontar do alto do
céu [...], tu revestiste, com a tua súbita claridade, «aqueles que se encontravam nas trevas e
na sombra da morte» (Lc 1,79). Porque, à descida de Cristo, a noite eterna dos infernos
resplandeceu e os gritos de aflição cessaram; as correntes dos condenados foram quebradas
e caíram por terra; os espíritos malfeitores foram tomados pelo estupor e como que
abalados por um trovão. [...]
Quando Cristo desceu aos infernos, os porteiros sombrios, cegos pelo negro silêncio e
curvando as costas ao peso do temor, murmuraram entre si: «Quem é Este temível,
exuberante de brancura? Nunca o nosso inferno recebeu coisa semelhante; nunca o mundo
rejeitou coisa semelhante para a nossa toca. [...] Se fosse culpado, não teria semelhante
audácia. Se estivesse manchado por algum delito, não poderia dissipar as trevas com o seu
brilho. Mas, se é Deus, o que está a fazer no túmulo? Se é homem, como ousa? Se é Deus, a
que vem? Se é homem, como tem poder para libertar os cativos? [...] Esta cruz nos destroça
os prazeres e faz nascer para nós a dor! O lenho nos tinha enriquecido, o lenho nos destrói.
Este grande poder, sempre temido pelos povos, pereceu!»
- No testemunho de Paulo, inspirado com Sabedoria, tanto serviu para ensinar seus juízes
sobre a Doutrina de Jesus Cristo, como para que não encontrasse nele nada que merecesse a
morte e a prisão.[31].
1Co.1,18 ; 1Co.1,20; 1Co.1,25; 1Co.2,4-5; 1Co.2,7-9; 1Co.2,10-11; 1Co.3,18-20.
- Citações acima na carta de S.Paulo aos Coríntios nos revelam a importância do
DDPS.<Ler as citações>.
1Co.1
18.A linguagem da cruz é loucura para os que se perdem, mas, para os que foram salvos, para nós, é uma
força divina.
20.Onde está o sábio? Onde o erudito? Onde o argumentador deste mundo? Acaso não declarou Deus por
loucura a sabedoria deste mundo?
25.Pois a loucura de Deus é mais sábia do que os homens, e a fraqueza de Deus é mais forte do que os
homens.
1Co.2
4.A minha palavra e a minha pregação longe estavam da eloqüência persuasiva da sabedoria; eram, antes,
uma demonstração do Espírito e do poder divino,
5.para que vossa fé não se baseasse na sabedoria dos homens, mas no poder de Deus.
7.Pregamos a sabedoria de Deus, misteriosa e secreta, que Deus predeterminou antes de existir o tempo, para
a nossa glória.
9.É como está escrito: Coisas que os olhos não viram, nem os ouvidos ouviram, nem o coração humano
imaginou (Is 64,4), tais são os bens que Deus tem preparado para aqueles que o amam.
1CO.2,10-16 – DDPS– p.1467
10.Todavia, Deus no-las revelou pelo seu Espírito, porque o Espírito penetra tudo, mesmo as profundezas de
Deus.
11.Pois quem conhece as coisas que há no homem, senão o espírito do homem que nele reside? Assim
também as coisas de Deus ninguém as conhece, senão o Espírito de Deus.
12.Ora, nós não recebemos o espírito do mundo, mas sim o Espírito que vem de Deus, que nos dá a conhecer
as graças que Deus nos prodigalizou
13.e que pregamos numa linguagem que nos foi ensinada não pela sabedoria humana, mas pelo Espírito, que
exprime as coisas espirituais em termos espirituais.
14.Mas o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, pois para ele são loucuras. Nem as pode
compreender, porque é pelo Espírito que se devem ponderar.
15.O homem espiritual, ao contrário, julga todas as coisas e não é julgado por ninguém.
16.Por que quem conheceu o pensamento do Senhor, se abalançará a instruí-lo (Is 40,13)? Nós, porém, temos
o pensamento de Cristo.
Comentário feito por:
São [Padre] Pio de Pietrelcina (1887-1968), capuchinho
Ep 3, 626 e 570; CE 34 (a partir da trad. Une pensée, Mediaspaul 1991, p. 40)
«Sai desse homem!»
Não te assustes com as tentações; através delas, Deus quer provar e fortificar a tua alma,
dando-lhe ao mesmo tempo a força de vencê-las. Até agora, a tua vida foi a de uma criança;
doravante, o Senhor quer tratar-te como adulto. Ora as provas do adulto são bem superiores
às da criança, e é isso que explica por que razão ficas inicialmente perturbada. Mas a vida
da tua alma reencontrará rapidamente a calma, ela não tardará. Tem paciência, e tudo
melhorará.
Portanto, abandona estas vãs apreensões. Lembra-te de que não é a sugestão do maligno
que faz a falta, mas antes o consentimento dado a essas sugestões. Só uma vontade livre é
capaz do bem e do mal. Mas, quando a vontade geme sob a prova infligida pelo Tentador, e
quando não quer o que lhe é proposto, nem falta é, mas sim virtude.
Guarda-te de cair na agitação, lutando contra as tentações, porque isso apenas as fortificará.
É necessário tratá-las com desprezo, sem te preocupares com elas. Volta o teu pensamento
para Jesus crucificado, para o Seu corpo depositado nos teus braços e diz: «Eis a minha
esperança, a fonte da minha alegria! Uno-me a Ti com todo o meu ser, e não Te soltarei
antes de me pores em segurança».
1Co.3
18.Ninguém se engane a si mesmo. Se alguém dentre vós se julga sábio à maneira deste mundo, faça-se louco
para tornar-se sábio,
19.porque a sabedoria deste mundo é loucura diante de Deus; pois (diz a Escritura) ele apanhará os sábios na
sua própria astúcia (Jó 5,13).
20.E em outro lugar: O Senhor conhece os pensamentos dos sábios, e ele sabe que são vãos (Sl 93,11).
1Co.6,1-11 – pg.1469.0 - DDPS
1.Quando algum de vós tem litígio contra outro, como é que se atreve a pedir justiça perante os injustos, em
vez de recorrer aos (irmãos) santos?
2.Não sabeis que os santos julgarão o mundo? E, se o mundo há de ser julgado por vós, seríeis indignos de
julgar os processos de mínima importância?
3.Não sabeis que julgaremos os anjos? Quanto mais as pequenas questões desta vida!
4.No entanto, quando tendes contendas desse gênero, escolheis para juízes pessoas cuja opinião é tida em
nada pela Igreja.
5.Digo-o para confusão vossa. Será possível que não há entre vós um homem sábio, nem um sequer que possa
julgar entre seus irmãos?
6.Mas um irmão litiga com outro irmão, e isso diante de infiéis!
7.Na verdade, já é um mal para vós o fato de terdes processos uns contra os outros. Por que não preferis sofrer
injustiça? Por que não preferis ser espoliados?
8.Não! Vós é que fazeis injustiça, vós é que espoliais - e isso entre irmãos!
9.Acaso não sabeis que os injustos não hão de possuir o Reino de Deus? Não vos enganeis: nem os impuros,
nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os efeminados, nem os devassos,
10.nem os ladrões, nem os avarentos, nem os bêbados, nem os difamadores, nem os assaltantes hão de possuir
o Reino de Deus.
11.Ao menos alguns de vós têm sido isso. Mas fostes lavados, mas fostes santificados, mas fostes justificados,
em nome do Senhor Jesus Cristo e pelo Espírito de nosso Deus.
Comentário feito por:
Bem-aventurada Teresa de Calcutá (1910-1997), Fundadora das Irmãs Missionárias da
Caridade
Não há maior amor (a partir da trad. Il n'y a pas de plus grand amour, Lattès 1997, p. 24)
«Jesus foi para o monte fazer oração e passou a noite a orar a Deus»
Os contemplativos e os ascetas de todos os tempos e de todas as religiões sempre
procuraram a Deus no silêncio, na solidão dos desertos, das florestas, das montanhas. O
próprio Jesus viveu quarenta dias em absoluta solidão, passando longas horas num coração
a coração com o Pai, no silêncio da noite.
Nós próprios somos chamados a retirar-nos a espaços para um silêncio mais profundo, para
um isolamento com Deus; estarmos a sós com Ele, não com os nossos livros, os nossos
pensamentos, as nossas recordações, mas num despojamento perfeito; a permanecer na Sua
presença – silenciosos, vazios, imóveis, expectantes.
Não podemos encontrar a Deus no barulho, na agitação. Veja-se na natureza: as árvores, as
flores e a erva dos campos crescem em silêncio; as estrelas, a lua, o sol movem-se em
silêncio. O essencial não é o que possamos dizer mas, o que Deus nos diz e o que Ele diz a
outros através de nós. Ele escuta-nos no silêncio; no silêncio fala às nossas almas. No
silêncio é-nos dado o privilégio de escutar a Sua voz:
Silêncio dos nossos olhos.
Silêncio dos nossos ouvidos.
Silêncio das nossas bocas.
Silêncio dos nossos espíritos.
No silêncio do coração,
Deus falará.
1Co.7,32-35 – DDPS – p.1471
32. Quisera ver-vos livres de toda preocupação. O solteiro cuida das coisas que são do Senhor, de como
agradar ao Senhor.
33. O casado preocupa-se com as coisas do mundo, procurando agradar à sua esposa.
34. A mesma diferença existe com a mulher solteira ou a virgem. Aquela que não é casada cuida das coisas do
Senhor, para ser santa no corpo e no espírito; mas a casada cuida das coisas do mundo, procurando agradar ao
marido.
35. Digo isto para vosso proveito, não para vos estender um laço, mas para vos ensinar o que melhor convém,
o que vos poderá unir ao Senhor sem partilha.
36. Se alguém julga que é inconveniente para a sua filha ultrapassar a idade de casar-se e que é seu dever
casá-la, faça-o como quiser: não há falta alguma em fazê-la casar-se.
37. Mas aquele que, sem nenhum constrangimento e com perfeita liberdade de escolha, tiver tomado no seu
coração a decisão de guardar a sua filha virgem, procede bem.
38. Em suma, aquele que casa a sua filha faz bem; e aquele que não a casa, faz ainda melhor.
39. A mulher está ligada ao marido enquanto ele viver. Mas, se morrer o marido, ela fica livre e poderá casarse com quem quiser, contanto que seja no Senhor.
40. Contudo, na minha opinião, ela será mais feliz se permanecer como está. E creio que também eu tenho o
Espírito de Deus.
1Co.8,1-7.11-13 –DDPS p.1472
1.Quanto às carnes oferecidas aos ídolos, somos esclarecidos, possuímos todos a ciência... Porém, a ciência
incha, a caridade constrói.
2. Se alguém pensa que sabe alguma coisa, ainda não conhece nada como convém conhecer.
3. Mas, se alguém ama a Deus, esse é conhecido por ele.
4. Assim, pois, quanto ao comer das carnes imoladas aos ídolos, sabemos que não existem realmente ídolos
no mundo e que não há outro Deus, senão um só.
5. Pretende-se, é verdade, que existam outros deuses, quer no céu quer na terra (e há um bom número desses
deuses e senhores).
6. Mas, para nós, há um só Deus, o Pai, do qual procedem todas as coisas e para o qual existimos, e um só
Senhor, Jesus Cristo, por quem todas as coisas existem e nós também.
7. Todavia, nem todos têm esse conhecimento. Alguns, habituados ao modo antigo de considerar o ídolo,
comem a carne como sacrificada ao ídolo; e sua consciência, por ser débil, se mancha.
11. E assim por tua ciência vai se perder quem é fraco, um irmão, pelo qual Cristo morreu!
12. Assim, pecando vós contra os irmãos e ferindo sua débil consciência, pecais contra Cristo.
13. Pelo que, se a comida serve de ocasião de queda a meu irmão, jamais comerei carne, a fim de que eu não
me torne ocasião de queda para o meu irmão.
Comentário feito por:
Santo Isaac, o Sírio (séc. VII), monge perto de Mossul
Discursos ascéticos, 1.ª série, n.º 81 (a partir da trad. AELF; cf trad. Touraille, DDB 1981,
p. 395)
«Sede misericordiosos como o vosso Pai é misericordioso»
Não procures distinguir o homem digno do que não o é. Que a teus olhos todos os homens
sejam iguais para os amares e os servires da mesma forma. Poderás assim levá-los a todos
ao bem. Não partilhou o Senhor à mesa dos publicanos e das mulheres de má vida, sem
afastar de Si os indignos? Do mesmo modo, concederás tu benefícios iguais e honras iguais
ao infiel, ao assassino, tanto mais que também ele é teu irmão, pois participa da única
natureza humana. Aqui está, meu filho, um mandamento que te dou: que a misericórdia
pese sempre mais na tua balança, até ao momento em que sentires em ti a misericórdia que
Deus tem para com o Mundo.
Quando percebe o homem que atingiu a pureza do coração? Quando considerar que todos
os homens são bons, e nem um lhe apareça impuro e maculado. Então, em verdade ele é
puro de coração (Mt 5, 8) [...].
O que é esta pureza? Em poucas palavras, é a misericórdia do coração para com o universo
inteiro. E o que é a misericórdia do coração? É a chama que o inflama por toda a criação,
pelos homens, pelos pássaros, pelos animais, pelos demônios, por todo o ser criado.
Quando o homem pensa neles, quando os olha, sente os olhos encherem-se das lágrimas de
uma profunda, uma intensa piedade que lhe aperta o coração, e que o torna incapaz de
ouvir, de ver, de tolerar o erro ou a aflição, mesmo ínfimos, sofridos pelas criaturas. É por
isso que, numa oração acompanhada por lágrimas, devemos sempre pedir tanto pelos seres
desprovidos de fala como pelos inimigos da verdade, como ainda pelos que a maltratam,
para que sejam salvos e purificados. No coração do homem nasce uma compaixão imensa e
sem limites, à imagem de Deus.
1Co.10,1-6.10.12 p.1474 – DDPS
1. (Não quero que ignoreis, irmãos), que os nossos pais estiveram todos debaixo da nuvem e que todos
atravessaram o mar;
2. todos foram batizados em Moisés, na nuvem e no mar;
3. todos comeram do mesmo alimento espiritual;
4. todos beberam da mesma bebida espiritual (pois todos bebiam da pedra espiritual que os seguia; e essa
pedra era Cristo).
5. Não obstante, a maioria deles desgostou a Deus, pois seus cadáveres cobriram o deserto.
6. Estas coisas aconteceram para nos servir de exemplo, a fim de não cobiçarmos coisas más, como eles as
cobiçaram.
10. Nem murmureis, como murmuraram alguns deles, e foram mortos pelo exterminador.
11. Todas estas desgraças lhes aconteceram para nosso exemplo; foram escritas para advertência nossa, para
nós que tocamos o final dos tempos.
12. Portanto, quem pensa estar de pé veja que não caia.
Comentário feito por:
São Cipriano (c. 200-258), Bispo de Cartago e mártir
Dos benefícios da paciência, 3-5; PL 4, 624-625 (a partir da trad. de Orval)
Imitar a paciência de Deus
Como é grande a paciência de Deus! [...] Ele faz com que o dia nasça e com que o sol se
levante tanto para os bons como para os maus (Mt. 5, 45); Ele rega a terra com as chuvas e
ninguém fica excluído da Sua benevolência, uma vez que a água é dada indistintamente aos
justos e aos injustos. Vemo-Lo agir com igual paciência para com os culpados e para com
os inocentes, os fiéis e os ímpios, aqueles que Lhe dão graças e os ingratos. Para todos eles
os tempos obedecem à voz de Deus, os elementos colocam-se ao Seu serviço, os ventos
sopram, manam as fontes, as colheitas aumentam de abundância, a uva amadurece, as
árvores carregam-se de frutos, as florestas reverdecem e os prados cobrem-se de flores. [...]
E embora Ele tenha o poder de Se vingar, prefere esperar muito tempo com paciência e
aguarda e adia com bondade para que, se for possível, a malícia se esbata com o tempo e o
homem [...] se volte enfim para Deus, segundo o que Ele mesmo nos diz: «Não tenho
prazer na morte do ímpio, mas sim na sua conversão, a fim de que tenha a vida» (Ez.33,
11). E ainda: «Voltai-vos para Mim, regressai para o Senhor vosso Deus, porque Ele é
misericordioso, bom, paciente e compassivo» (Jl.2, 13). [...]
Ora, Jesus diz-nos: «Sede perfeitos como é perfeito o vosso Pai celeste» (Mt 5, 48). Por
estas palavras Ele nos indica que, sendo filhos de Deus e regenerados por um nascimento
celeste, atingimos o cume da perfeição quando a paciência de Deus Pai permanece em nós e
a semelhança divina, perdida pelo pecado de Adão, se manifesta a brilha nos nossos atos.
Que grande glória a nossa, a de nos assemelharmos a Deus, que grande felicidade, termos
essa virtude digna dos louvores divinos!
1Co.11,17-26.33 – DDPS – p1475
17. Fazendo-vos essas advertências, não vos posso louvar a respeito de vossas assembléias que causam mais
prejuízo que proveito.
18. Em primeiro lugar, ouço dizer que, quando se reúne a vossa assembléia, há desarmonias entre vós. (E em
parte eu acredito.
19. É necessário que entre vós haja partidos para que possam manifestar-se os que são realmente virtuosos.)
20. Desse modo, quando vos reunis, já não é para comer a ceia do Senhor,
21. porquanto, mal vos pondes à mesa, cada um se apressa a tomar sua própria refeição; e enquanto uns têm
fome, outros se fartam.
22. Porventura não tendes casa onde comer e beber? Ou menosprezais a Igreja de Deus, e quereis envergonhar
aqueles que nada têm? Que vos direi? Devo louvar-vos? Não! Nisto não vos louvo... 23. Eu recebi do Senhor
o que vos transmiti: que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão
24. e, depois de ter dado graças, partiu-o e disse: Isto é o meu corpo, que é entregue por vós; fazei isto em
memória de mim.
25. Do mesmo modo, depois de haver ceado, tomou também o cálice, dizendo: Este cálice é a Nova Aliança
no meu sangue; todas as vezes que o beberdes, fazei-o em memória de mim. 26. Assim, todas as vezes que
comeis desse pão e bebeis desse cálice lembrais a morte do Senhor, até que venha.
33. Portanto, irmãos meus, quando vos reunis para a ceia, esperai uns pelos outros
Comentário feito por:
Santo Agostinho (354-430), Bispo de Hipona (Norte de África) e Doutor da Igreja
Sermão 62 (a partir da trad. Brésard, 2000 ans C, p.80 rev.)
«Senhor, eu não sou digno»
Na leitura do Evangelho, ouvimos Jesus louvar a nossa fé, associada à humildade. Quando
prometeu ir à casa do centurião curar-lhe o servo, este respondeu: «Não sou digno de que
entres debaixo do meu teto, mas diz uma só palavra e o meu servo será curado». Ao
considerar-se indigno, revela-se digno – digno não só de que Cristo entre em sua casa, mas
também no seu coração. [...] Pois não teria sido para ele grande alegria se o Senhor Jesus
tivesse entrado em sua casa sem estar no seu coração. Com efeito Cristo, Mestre em
humildade pelo Seu exemplo e pelas Suas palavras, sentou-Se à mesa em casa de um
fariseu orgulhoso chamado Simão (Lc 7, 36ss.). Embora Se sentasse à sua mesa, não entrou
no seu coração: aí, «o Filho do Homem não tinha onde reclinar a cabeça» (Lc 9, 58). Pelo
contrário, aqui não entra em casa do centurião, mas entra no seu coração. [...]
Por conseguinte, é a fé unida à humildade que o Senhor elogia neste centurião. Quando este
diz: «Não sou digno de que entre debaixo do meu teto», o Senhor responde: «Em verdade
vos digo, nem em Israel encontrei tão grande fé». [...] O Senhor veio ao povo de Israel
segundo a carne, para procurar primeiramente neste povo a Sua ovelha perdida (cf Lc 15,
4). [...] Nós, como homens, não podemos medir a fé dos homens. Foi Aquele que vê o
fundo dos corações, Aquele a Quem ninguém engana, que testemunhou como era o coração
deste homem; ao ouvir as suas palavras repletas de humildade, responde-lhe com uma
palavra que cura.
1Co.11,23-26 – DDPS – p.1475
23. Eu recebi do Senhor o que vos transmiti: que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão
24. e, depois de ter dado graças, partiu-o e disse: Isto é o meu corpo, que é entregue por vós; fazei isto em
memória de mim.
25. Do mesmo modo, depois de haver ceado, tomou também o cálice, dizendo: Este cálice é a Nova Aliança
no meu sangue; todas as vezes que o beberdes, fazei-o em memória de mim.
26. Assim, todas as vezes que comeis desse pão e bebeis desse cálice lembrais a morte do Senhor, até que
venha.
Comentário feito por:
São Tomás de Aquino (1225-1274), teólogo dominicano, Doutor da Igreja
Orações
«Eis o pão que os anjos comem transformado em pão do homem; só os filhos o
consomem» (Seqüência da festa)
Deus todo-poderoso e eterno, eis que me aproximo do sacramento do Teu Filho único,
Nosso Senhor Jesus Cristo. Doente, venho ao médico de Quem a minha vida depende;
manchado, à origem da misericórdia; cego, ao fogo da luz eterna; pobre e desprovido de
tudo, ao Senhor do céu e da terra.
Imploro, pois, a Tua generosidade imensa e inesgotável a fim de que Te dignes curar as
minhas enfermidades, lavar as minhas manchas, iluminar a minha cegueira, compensar a
minha indigência, cobrir a minha nudez; e que assim possa receber o pão dos anjos (Sl 77,
25), o Reis dos reis, o Senhor dos senhores (1Tm.6, 15), com todo o respeito e humildade,
toda a contrição e devoção, toda a pureza e fé, toda a determinação de propósitos e a retidão
de intenção que a salvação da minha alma exige.
Permite, peço-Te, que não receba simplesmente o sacramento do Corpo e Sangue do
Senhor, mas toda a força e eficácia do sacramento. Deus cheio de doçura, permita-me
receber de tal maneira o Corpo do Teu Filho único, Nosso Senhor Jesus Cristo, este corpo
material que Ele recebeu da Virgem Maria, que mereça ser incorporado no Seu Corpo
místico e fazer parte dos seus membros.
Pai cheio de amor, permite que eu possa um dia contemplar de rosto descoberto e por toda a
eternidade este Filho bem amado que me preparo para receber agora sob o véu que convém
à minha condição de viajante. Ele que, sendo Deus, vive e reina Contigo na unidade do
Espírito Santo pelos séculos e séculos. Amém.
1Co.12,4-11 ddps p.1476
4.Há diversidade de dons, mas um só Espírito.
5.Os ministérios são diversos, mas um só é o Senhor.
6.Há também diversas operações, mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos.
7.A cada um é dada a manifestação do Espírito para proveito comum.
8.A um é dada pelo Espírito uma palavra de sabedoria; a outro, uma palavra de ciência, por esse mesmo
Espírito;
9.a outro, a fé, pelo mesmo Espírito; a outro, a graça de curar as doenças, no mesmo Espírito;
10.a outro, o dom de milagres; a outro, a profecia; a outro, o discernimento dos espíritos; a outro, a
variedade de línguas; a outro, por fim, a interpretação das línguas.
11.Mas um e o mesmo Espírito distribui todos estes dons, repartindo a cada um como lhe apraz.
1Co.12,12-30 – DDPS pg.1476.7
21.O olho não pode dizer à mão: Eu não preciso de ti; nem a cabeça aos pés: Não necessito de vós.
22.Antes, pelo contrário, os membros do corpo que parecem os mais fracos, são os mais necessários.
23.E os membros do corpo que temos por menos honrosos, a esses cobrimos com mais decoro. Os que em nós
são menos decentes, recatamo-los com maior empenho,
24.ao passo que os membros decentes não reclamam tal cuidado. Deus dispôs o corpo de tal modo que deu
maior honra aos membros que não a têm,
25.para que não haja dissensões no corpo e que os membros tenham o mesmo cuidado uns para com os
outros.
26.Se um membro sofre, todos os membros padecem com ele; e se um membro é tratado com carinho, todos
os outros se congratulam por ele.
27.Ora, vós sois o corpo de Cristo e cada um, de sua parte, é um dos seus membros.
28.Na Igreja, Deus constituiu primeiramente os apóstolos, em segundo lugar os profetas, em terceiro lugar os
doutores, depois os que têm o dom dos milagres, o dom de curar, de socorrer, de governar, de falar diversas
línguas.
29.São todos apóstolos? São todos profetas? São todos doutores?
30.Fazem todos milagres? Têm todos a graça de curar? Falam todos em diversas línguas? Interpretam todos?
31.Aspirai aos dons superiores. E agora, ainda vou indicar-vos o caminho mais excelente de todos.
Comentário feito por:
Hugo de São-Victor (?-1141), cónego regular, teólogo
Tratado dos Sacramentos da fé cristã, II, 1-2; PL 176, 415 (a partir da trad. de Orval)
«Com o poder do Espírito»
A Santa Igreja é o corpo de Cristo: um só Espírito a vivifica, a unifica na fé e a santifica.
Este corpo tem por membros os crentes, de cujo conjunto se forma um só corpo, graças a
um só Espírito e a uma só fé. [...] Assim, portanto, aquilo que cada um tem como próprio
não é apenas para si; porque Aquele que nos concede tão generosamente os Seus bens e os
reparte com tanta sabedoria quer que cada coisa seja de todos e todas de cada um. Se
alguém tem a felicidade de receber um dom por graça de Deus, deve então saber que ele
não lhe pertence apenas a si, mesmo que seja o único a possuí-lo.
É por analogia com o corpo humano que a Santa Igreja, quer dizer, o conjunto dos crentes,
é chamada corpo de Cristo, uma vez que recebeu o Espírito de Cristo, cuja presença num
homem é indicada pelo nome «cristão» que Cristo lhe dá. Com efeito, este nome designa os
membros de Cristo, os que participam do Espírito de Cristo, aqueles que recebem a unção
d'Aquele que é ungido; porque é de Cristo que vem o nome de Cristão, e «Cristo» quer
dizer «ungido»; ungido com este óleo da alegria que, preferido entre todos os companheiros
(Sl 44, 8), recebeu em plenitude para partilhar com todos os seus amigos, como a cabeça o
faz com os membros do corpo. «É como óleo perfumado derramado sobre a cabeça, a
escorrer pela barba [...], a escorrer até à orla das suas vestes» (Sl 132, 2) para se espalhar
por todo o lado e tudo vivificar. Portanto, quanto te tornas cristão, tornas-te membro de
Cristo, membro do corpo de Cristo, participante do Espírito de Cristo.
1Co.15,1-11 – DDPS p.1479
1.Eu vos lembro, irmãos, o Evangelho que vos preguei, e que tendes acolhido, no qual estais firmes.
2.Por ele sereis salvos, se o conservardes como vo-lo preguei. De outra forma, em vão teríeis abraçado a fé.
3.Eu vos transmiti primeiramente o que eu mesmo havia recebido: que Cristo morreu por nossos pecados,
segundo as Escrituras;
4.foi sepultado, e ressurgiu ao terceiro dia, segundo as Escrituras;
5.apareceu a Cefas, e em seguida aos Doze.
6.Depois apareceu a mais de quinhentos irmãos de uma vez, dos quais a maior parte ainda vive (e alguns já
são mortos);
7.depois apareceu a Tiago, em seguida a todos os apóstolos.
8.E, por último de todos, apareceu também a mim, como a um abortivo.
9.Porque eu sou o menor dos apóstolos, e não sou digno de ser chamado apóstolo, porque persegui a Igreja de
Deus.
10.Mas, pela graça de Deus, sou o que sou, e a graça que ele me deu não tem sido inútil. Ao contrário, tenho
trabalhado mais do que todos eles; não eu, mas a graça de Deus que está comigo.
11.Portanto, seja eu ou sejam eles, assim pregamos, e assim crestes.
Comentário feito por:
São Josemaria Escrivá de Balaguer (1902-1975), presbítero, fundador
Homilia in Amigos de Dios
«Recebestes gratuitamente, dai gratuitamente» (Mt.10, 8)
Quando Jesus saiu para o mar com os Seus discípulos, não pensava somente nessa pescaria.
Foi por isso [...] que respondeu a Pedro: «Não tenhas receio; de hoje em diante serás
pescador de homens». E também nessa nova pesca a eficácia divina não faltará: os
apóstolos serão instrumentos de grandes prodígios, apesar das suas misérias pessoais.
Também nós, se lutarmos todos os dias para alcançar a santidade na nossa vida normal,
cada um na sua própria condição no meio do mundo e no exercício da sua profissão, ouso
afirmar que o Senhor fará de nós instrumentos capazes de realizar milagres e, se for
necessário, dos mais extraordinários. Daremos luz aos cegos. Quem não poderá narrar mil
exemplos de cegos quase de nascença que recuperam a visão e recebem todo o esplendor da
luz de Cristo? Outro era surdo e outro ainda mudo, que não podiam ouvir nem articular
uma única palavra enquanto filhos de Deus [...]: e ouvem e exprimem-se como verdadeiros
homens [...]. «Em nome de Jesus», os apóstolos restituem as forças a um enfermo incapaz
de qualquer ação útil [...]: «Em nome do Senhor levanta-te e caminha!» (At.3, 6). Outro
ainda, um morto, ouviu a voz de Deus como quando do milagre da viúva de Naim: «Jovem,
ordeno-te que te levantes» (Lc.7, 14; At .9, 40).
Faremos milagres como Cristo, milagres como os primeiros apóstolos. Estes prodígios
realizaram-se talvez em ti, em mim: talvez estivéssemos cegos, ou surdos, ou enfermos, ou
sentíssemos a morte, quando a Palavra de Deus nos arrancou à nossa prostração. Se
amamos a Cristo, se O seguimos, se é apenas a Ele que procuramos e não a nós mesmos,
em Seu nome poderemos transmitir gratuitamente o que recebemos gratuitamente.
1Co.15,12-20 – DDPS – pg.1479
12.Ora, se se prega que Jesus ressuscitou dentre os mortos, como dizem alguns de vós que não há ressurreição
de mortos?
13.Se não há ressurreição dos mortos, nem Cristo ressuscitou.
14.Se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação, e também é vã a vossa fé.
15.Além disso, seríamos convencidos de ser falsas testemunhas de Deus, por termos dado testemunho contra
Deus, afirmando que ele ressuscitou a Cristo, ao qual não ressuscitou (se os mortos não ressuscitam). 16.Pois,
se os mortos não ressuscitam, também Cristo não ressuscitou.
17.E se Cristo não ressuscitou, é inútil a vossa fé, e ainda estais em vossos pecados.
18.Também estão perdidos os que morreram em Cristo.
19.Se é só para esta vida que temos colocado a nossa esperança em Cristo, somos, de todos os homens, os
mais dignos de lástima.
20.Mas não! Cristo ressuscitou dentre os mortos, como primícias dos que morreram!
Comentário feito por:
João Paulo II, Papa entre 1978 e 2005
Mulieris dignitatem, § 27
«Acompanhavam-No os Doze e algumas mulheres»
Na história da Igreja, desde os primeiros tempos, existiam — ao lado dos homens —
numerosas mulheres, para as quais a resposta da Esposa ao amor redentor do Esposo
adquiria plena força expressiva. Como primeiras, vemos aquelas mulheres que
pessoalmente tinham encontrado Cristo, tinham-No seguido e, depois da Sua partida,
juntamente com os apóstolos, «eram assíduas na oração» no cenáculo de Jerusalém até ao
dia do Pentecostes. Naquele dia, o Espírito Santo falou por meio de «filhos e filhas» do
Povo de Deus [...] (cf. At.2, 17). Aquelas mulheres, e a seguir outras mais, tiveram parte
ativa e importante na vida da Igreja primitiva, na edificação desde os fundamentos da
primeira comunidade cristã — e das comunidades que se seguiram —, mediante os próprios
carismas e o seu multiforme serviço. [...] O apóstolo fala de suas «fadigas» por Cristo, e
estas indicam os vários campos de serviço apostólico da Igreja, a começar pela «Igreja
doméstica». Nesta, de fato, a «fé sincera» passa da mãe para os filhos e os netos, como
realmente se verificou na casa de Timóteo (cf. 2 Tm.1,5).
O mesmo se repete no decorrer dos séculos, de geração em geração, como demonstra a
história da Igreja. A Igreja, com efeito, defendendo a dignidade da mulher e a sua vocação,
expressou honra e gratidão por aquelas que — fiéis ao Evangelho — em todo o tempo
participaram na missão apostólica de todo o Povo de Deus. Trata-se de santas mártires, de
virgens, de mães de família, que corajosamente deram testemunho da sua fé e, educando os
próprios filhos no espírito do Evangelho, transmitiram a mesma fé e a tradição da Igreja.
[...] Mesmo diante de graves discriminações sociais, as mulheres santas agiram de «modo
livre», fortalecidas pela sua união com Cristo. [...]
Também em nossos dias a Igreja não cessa de enriquecer-se com o testemunho das
numerosas mulheres que realizam a sua vocação à santidade. As mulheres santas são uma
personificação do ideal feminino, mas são também um modelo para todos os cristãos, um
modelo de «seqüela Christi», um exemplo de como a Esposa deve responder com amor ao
amor do Esposo
1Co.15,12.16-20 – DDPS p.1466
Comentário feito por:
Paulo VI, papa de 1963-1978
Exortação apostólica sobre a alegria cristã «Gaudete in Domino» (© copyright Libreria
Editrice Vaticana)
«Felizes vós, os pobres, porque vosso é o Reino de Deus»
A alegria de estar no amor de Deus começa já aqui em baixo. É a alegria do Reino de Deus.
Mas ela é concedida num caminho escarpado, que exige uma confiança total no Pai e no
Filho e uma preferência dada ao Reino. A mensagem de Jesus promete sobretudo, a alegria,
esta alegria exigente; não é verdade que começa pelas bem-aventuranças? «Felizes vós, os
pobres, porque vosso é o Reino dos Céus. Felizes vós, os que agora tendes fome porque
sereis saciados. Felizes vós, os que agora chorais porque haveis de rir».
Para arrancar do coração do homem o pecado da presunção e manifestar ao Pai uma total
obediência filial, o próprio Cristo aceita misteriosamente morrer pela mão dos ímpios,
morrer numa cruz. Mas [...] doravante, Jesus vive para sempre na glória do Pai e foi por
isso que os discípulos sentiram uma alegria imensa na tarde de Páscoa (Lc 24, 41).
Acontece que, aqui em baixo, a alegria do Reino realizado só pode brotar da celebração
conjunta da morte e da ressurreição do Senhor. É o paradoxo da condição cristã, que
singularmente clarifica o paradoxo da condição humana: nem a provação nem o sofrimento
são eliminados deste mundo, mas tomam um sentido novo na certeza de participar na
redenção operada pelo Senhor e de partilhar da Sua glória. É por isso que o cristão,
submetido às dificuldades da existência comum, não está no entanto reduzido a procurar o
seu caminho tateando, nem a ver na morte o fim das suas esperanças. Com efeito, e como
anunciava o profeta: «O povo que caminhava nas trevas viu uma grande luz e sobre os
habitantes do país sombrio uma luz resplandeceu. Multiplicaste o seu júbilo, fizeste brotar a
sua alegria» (Is 9,1-2).
Comentário feito por:
Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona (Norte de África) e Doutor da Igreja
Discurso sobre os Salmos, Salmo 86
São Filipe e São Tiago, apóstolos, fundamentos da cidade santa (Ap.21, 14)
«O seu fundamento está sobre os montes santos. O Senhor ama as portas de Sião» (Sl 86, 12) [...] «Sois concidadãos dos santos e membros da família de Deus, edificados sobre o
alicerce dos apóstolos e dos profetas, com Cristo por pedra angular» (Ef.2, 19-20). [...]
Cristo, pedra angular, e as montanhas, ou seja, os apóstolos e os grandes profetas que são o
fundamento de toda a cidade, constituem uma espécie de edifício vivo. E este edifício vivo
tem uma voz, que ressoa agora no vosso coração: Deus, hábil artífice, serve-se da minha
linguagem para vos incitar a tomardes o vosso lugar nesta construção, como outras tantas
pedras talhadas de lados iguais. [...]
Reparai, a forma de uma pedra perfeitamente cúbica é a imagem perfeita do cristão. Por
muitas tentações que sofra, o cristão não cai; pode ser violentamente empurrado, revirado,
mas não cai. Da mesma maneira, para onde quer que volteis uma pedra cúbica, ela
permanece de pé. [...] Sede pois semelhantes a pedras cúbicas, estai preparados para todos
os choques; e, seja qual for a força que vos empurre, que ela não vos faça perder o
equilíbrio. [...]
Elevar-vos-eis ao vosso lugar neste edifício através de uma vida cristã sincera, pela fé, a
esperança e a caridade. A cidade santa é constituída pelos seus próprios cristãos; os homens
são, simultaneamente, pedras e cidadãos, porque estas pedras são pedras vivas. «Vós
mesmos, como pedras vivas, entrai na construção dum edifício espiritual» (1Pd.2, 5). [...]
Por que é que os apóstolos e os profetas são os fundamentos da cidade? Porque a sua
autoridade sustenta a nossa fraqueza. [...] Através deles, nós entramos no Reino de Deus;
eles são os pregadores da salvação. E quando entramos na cidade através deles, entramos
nela por Cristo, porque Ele é a porta (Jo 10, 9).
1Co.15,20-27 –DDPS – p1479
20.Mas não! Cristo ressuscitou dentre os mortos, como primícias dos que morreram!
21.Com efeito, se por um homem veio a morte, por um homem vem a ressurreição dos mortos. 22.Assim
como em Adão todos morrem, assim em Cristo todos reviverão.
23.Cada qual, porém, em sua ordem: como primícias, Cristo; em seguida, os que forem de Cristo, na ocasião
de sua vinda.
24.Depois, virá o fim, quando entregar o Reino a Deus, ao Pai, depois de haver destruído todo principado,
toda potestade e toda dominação.
25.Porque é necessário que ele reine, até que ponha todos os inimigos debaixo de seus pés.
26.O último inimigo a derrotar será a morte, porque Deus sujeitou tudo debaixo dos seus pés.
27.Mas, quando ele disser que tudo lhe está sujeito, claro é que se excetua aquele que lhe sujeitou todas as
coisas.
Comentário feito por:
São Bernardo (1091-1153), monge cistercense e Doutor da Igreja
1º Sermão para a Assunção (a partir da trad. Pain de Cîteaux 32, p. 63 rev.)
«Em Cristo, todos serão vivificados, cada qual na sua ordem» (1Co.15, 22-23)
Hoje a Virgem Maria sobe, gloriosa, ao céu. É o cúmulo de alegria dos anjos e dos santos.
Com efeito, se uma simples palavra sua de saudação fez exultar o menino que ainda estava
no seio materno (Lc 1, 44), qual não terá sido o regozijo dos anjos e dos santos, quando
puderam ouvir a sua voz, ver o seu rosto, e gozar da sua presença abençoada! E para nós,
irmãos bem-amados, que festa a da sua assunção gloriosa, que motivo de alegria e que
fonte de júbilo temos hoje! A presença de Maria ilumina o mundo inteiro, a tal ponto
resplandece o céu, irradiado pelo brilho desta Virgem plenamente santa. Por conseguinte, é
justificadamente que ecoa nos céus a ação de graças e o louvor.
Ora [...], na medida em que o céu exulta da presença de Maria, não seria razoável que o
nosso mundo chorasse a sua ausência? Mas não, não nos lastimemos, porque não temos
aqui cidade permanente (Hb.13, 14), antes procuramos aquela aonde a Virgem Maria
chegou hoje. Se já estamos inscritos no número de habitantes dessa cidade, convém que
hoje nos lembremos dela [...], compartilhemos a sua alegria, participemos nesta alegria que
hoje deleita a cidade de Deus; uma alegria que depois se espalha como o orvalho sobre a
nossa terra. Sim, Ela precedeu-nos, a nossa Rainha, precedeu-nos e foi recebida com tanta
glória que nós, seus humildes servos, podemos seguir a nossa Rainha com toda confiança
gritando [com a Esposa do Cântico dos Cânticos]:
«Arrasta-me atrás de ti. Corramos ao odor dos teus perfumes!» (Ct.1, 3-4) Viajantes sobre a
terra, enviamos à frente a nossa advogada [...], a Mãe de misericórdia, para defender
eficazmente a nossa salvação.
1Co.1,22-25 – DDPS – p.1466
22.Os judeus pedem milagres, os gregos reclamam a sabedoria;
23.mas nós pregamos Cristo crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os pagãos;
24.mas, para os eleitos - quer judeus quer gregos -, força de Deus e sabedoria de Deus.
25.Pois a loucura de Deus é mais sábia do que os homens, e a fraqueza de Deus é mais forte do que os
homens.
Comentário feito por:
Santo Agostinho (354-430), Bispo de Hipona (Norte de África) e Doutor da Igreja
Sermão 163, 5 (trad. Brésard, 2000 anos p. 96 rev)
«Destruí este Templo, e em três dias Eu o levantarei» -(v.19)
Somos os trabalhadores de Deus e construímos o templo de Deus. A dedicação deste
templo já teve lugar na sua Cabeça, uma vez que o Senhor ressuscitou dos mortos, após ter
triunfado da morte; tendo destruído n'Ele o que era mortal, subiu ao céu [...]. E agora,
construímos este templo pela fé, de modo a que aconteça também a sua dedicação quando
da ressurreição final. É por isso que [...] há um salmo intitulado: «quando se reconstruía o
Templo, após o cativeiro» (95, 1 Vulg). Recordai-vos do cativeiro onde estivemos outrora,
quando o diabo tinha o mundo inteiro em seu poder, como um rebanho de infiéis. Foi por
causa deste cativeiro que o Redentor veio. Ele derramou o Seu sangue para nos resgatar;
pelo Seu sangue derramado, suprimiu o bilhete da dívida que nos mantinha cativos (Colo 2,
14). [...] Outrora vendidos ao pecado, fomos libertados pela graça.
Após este cativeiro, construímos agora o templo; para o edificar, anunciamos a Boa Nova.
É por isso que este salmo começa assim: «Cantai ao Senhor um cântico novo.» E para que
não penses que se construiu este templo num pequeno recanto, como o constroem os
hereges que se separam da Igreja, presta atenção ao que segue: «Cantai ao Senhor terra
inteira». [...]
«Cantai ao Senhor um cântico novo, cantai ao Senhor terra inteira.» Cantai e construí!
Cantai e «bendizei o Seu nome» (v. 2). Anunciai o dia nascido do dia da salvação, o dia
nascido do dia de Cristo. Quem é, com efeito, a salvação de Deus se não Seu Cristo? Para a
salvação, nós rezamos o salmo: «Mostrai, Senhor, a vossa misericórdia, e dai-nos a vossa
salvação.» Os antigos justos desejavam esta salvação, eis o que dizia o Senhor aos seus
discípulos: «Muito quiseram ver o que vedes, e não o viram» (Lc 10, 24). [...] «Cantai ao
Senhor um cântico novo, cantai ao Senhor.» Vede o ardor dos construtores! «Cantai ao
Senhor e bendizei o Seu nome.» Anunciai a Boa Nova! Qual boa nova? O dia nasceu do dia
[...]; a Luz nasceu da Luz, os Filhos nascidos do Pai, a Salvação de Deus! Eis como se
constrói o templo após o cativeiro.
Gl.4,22-24.26.37-51 - p.1496 - DDPS
22. A Escritura diz que Abraão teve dois filhos, um da escrava e outro da livre.
23. O da escrava, filho da natureza; e o da livre, filho da promessa.
24. Nestes fatos há uma alegoria, visto que aquelas mulheres representam as duas alianças: uma, a do monte
Sinai, que gera para a escravidão, é Agar.
25. (O monte Sinai está na Arábia.) Corresponde à Jerusalém atual, que é escrava com seus filhos.
26. Mas a Jerusalém lá do alto é livre e esta é a nossa mãe,
27. porque está escrito: Alegra-te, ó estéril, que não davas à luz; rejubila e canta, tu que não tinhas dores de
parto, pois são mais numerosos os filhos da abandonada do que daquela que tem marido (Is 54,1).
28. Como Isaac, irmãos, vós sois filhos da promessa.
29. Como naquele tempo o filho da natureza perseguia o filho da promessa, o mesmo se dá hoje.
30. Que diz, porém, a Escritura? Lança fora a escrava e seu filho, porque o filho da escrava não será herdeiro
com o filho da livre (Gn 21,10).
31.Pelo que, irmãos, não somos filhos da escrava, mas sim da que é livre.
Comentário feito por:
S. João Maria Vianney (1786-1859), cura de Ars: Sermão para o 3º Domingo depois do
Pentecostes
«Assim como Jonas foi um sinal para os ninivitas; assim o será também o Filho do
Homem para esta geração»
Meus irmãos, ao percorrermos as diferentes épocas do mundo, vemos por toda a parte a
terra coberta das misericórdias do Senhor, e os homens cercados pelos Seus benefícios.
Não, meus irmãos, não é o pecador que retorna a Deus para pedir-Lhe perdão; mas é o
próprio Deus que corre atrás do pecador e que o faz voltar para Ele. [...] Espera pelos
pecadores na penitência, e convida-os pelos movimentos interiores da Sua graça e pela voz
dos Seus ministros.
Vede como se comporta para com Nínive, esta grande cidade pecadora. Antes de punir os
habitantes, manda da Sua parte, o Seu profeta Jonas anunciar-lhes que, dentro de quarenta
dias, os irá punir. Jonas, em vez de ir a Nínive, refugia-se noutro lado. Quer atravessar o
mar; mas, longe de deixar os Ninivitas sem aviso antes de os punir, Deus faz um milagre,
conservando o Seu profeta, durante três dias e três noites, no seio de uma baleia, que, ao
fim de três dias, o lança para terra. Então o Senhor diz a Jonas: «Vai anunciar à grande
cidade que dentro de quarenta dias perecerá.» Não lhes impõe qualquer condição. E o
profeta, tendo partido, anunciou em Nínive que dentro de quarenta dias iria perecer.
Com esta notícia, todos se entregaram à penitência e às lágrimas, desde o camponês até ao
rei. «Quem sabe, diz-lhes o rei, se o Senhor não terá ainda piedade de nós?» O Senhor,
vendo-os recorrer à penitência, pareceu congratular-Se com o prazer de perdoá-los. Jonas,
vendo que chegava o prazo do castigo, retira-se para fora da cidade, a fim de esperar que o
fogo do céu caísse sobre ela. Vendo que não caía: «Ah! Senhor» grita-Lhe Jonas «vais-me
fazer passar por falso profeta? Prefiro morrer. Ah! Sei bem que és demasiado
misericordioso, que não desejas senão perdoar» – «O quê! Jonas», disse-lhe o Senhor,
«queres que faça perecer tanta gente que se humilhou perante mim? Oh! não, não, Jonas,
não teria coragem; ao contrário, amá-los-ei e conservar-lhes-ei a vida.»
Ef.2,19-22 –p.1499 - DDPS
19.Conseqüentemente, já não sois hóspedes nem peregrinos, mas sois concidadãos dos santos e membros da
família de Deus,
20.edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, tendo por pedra angular o próprio Cristo Jesus.
21.É nele que todo edifício, harmonicamente disposto, se levanta até formar um templo santo no Senhor.
22.É nele que também vós outros entrais conjuntamente, pelo Espírito, na estrutura do edifício que se torna a
habitação de Deus.
Comentário feito por:
Papa Bento XVI
Audiência geral de 11/10/2006 (trad. DC 2368, p. 1003 © copyright Libreria Editrice
Vaticana)
A unidade dos Doze, unidade da Igreja
Hoje tomamos em consideração dois dos doze Apóstolos: Simão o Cananeu e Judas Tadeu
(que não se deve confundir com Judas Iscariotes). Consideramo-los juntos, não só porque
nas listas dos Doze são sempre mencionados um ao lado do outro (cf. Mt.10, 4; Mc.3, 18;
Lc. 6, 15; At.1, 13), mas também porque as notícias que a eles se referem não são muitas,
excepto o facto de o cânone neotestamentário conservar uma carta atribuída a Judas Tadeu.
Simão recebe um epíteto que varia nas quatro listas: Mateus qualifica-o como «cananeu»,
Lucas define-o como «zelote». Na realidade, as duas qualificações equivalem-se, porque
significam a mesma coisa; de fato, na língua hebraica, o verbo qanà' significa «ser zeloso»,
«ser dedicado» [...]. Portanto, é possível que este Simão, se não pertencia exatamente ao
movimento nacionalista dos Zelotes, tivesse pelo menos como característica um fervoroso
zelo pela identidade judaica, por conseguinte, por Deus, pelo seu povo e pela Lei divina.
Sendo assim, Simão coloca-se nos antípodas de Mateus que, ao contrário, sendo publicano,
provinha de uma atividade considerada totalmente impura.
Sinal evidente de que Jesus chama os Seus discípulos e colaboradores das camadas sociais
e religiosas mais diversas, sem exclusão alguma. Ele interessa-Se pelas pessoas, não pelas
categorias ou pelas atividades sociais! E o mais belo é que no grupo dos Seus seguidores,
todos, mesmo que diversos, coexistiam, superando as imagináveis dificuldades; de fato, o
motivo de coesão era o próprio Jesus, no qual todos se reencontravam unidos. Isto constitui
claramente uma lição para nós, com freqüência propensos a realçar as diferenças e talvez as
contraposições, esquecendo que em Jesus Cristo nos é dada a força para superarmos os
nossos conflitos. Tenhamos também presente que o grupo dos Doze é a prefiguração da
Igreja, na qual devem ter espaço todos os carismas, povos e raças, todas as qualidades
humanas, que encontram a sua composição e a sua unidade na comunhão com Jesus.
Comentário feito por:
Santo Agostinho (354-430), Bispo de Hipona (África do Norte) e Doutor da Igreja
Sermão 88
«Felizes os que crêem sem terem visto»
A fraqueza dos discípulos era tão grande que, não satisfeitos em verem o Senhor
ressuscitado, quiseram ainda tocar-Lhe para acreditarem n'Ele. Não lhes bastava ver com os
seus próprios olhos, ainda quiseram aproximar as suas mãos dos Seus membros e tocar nas
cicatrizes das Suas feridas recentes. Foi após ter tocado e reconhecido as cicatrizes, que o
discípulo incrédulo exclamou: «Meu Senhor e meu Deus!» Essas cicatrizes revelavam
Aquele que curava todas as feridas dos outros. Não teria o Senhor podido ressuscitar sem
cicatrizes? Mas no coração dos seus discípulos, Ele via feridas que as cicatrizes que
conservara no Seu corpo deviam sarar.
E que responde o Senhor a esta confissão de fé do seu discípulo que diz: «Meu Senhor e
meu Deus»? «Porque Me viste, acreditaste. Felizes os que crêem sem terem visto.» De
quem fala Ele, meus irmãos, se não de nós? E não apenas de nós mas também daqueles que
virão depois de nós. Porque, pouco tempo depois, quando Ele escapou aos olhares mortais
para fortalecer a fé nos seus corações, todos aqueles que se tornaram crentes creram sem
terem visto, e a sua fé tinha um grande mérito: para a obterem, eles aproximaram d'Ele, não
uma mão que queria tocar, mas apenas um coração afetuoso.
Comentário feito por:
São Gregório Magno (c. 540-604), Papa e Doutor da Igreja
Homilias sobre o Evangelho, nº 24 (a partir da trad. Le Barroux rev.)
Simão Pedro subiu à barca e puxou a rede para terra
Depois de terem apanhado tantos peixes grandes, «Simão Pedro subiu à barca e puxou a
rede para terra.» Tereis compreendido por que motivo foi Pedro quem puxou a rede para
terra; com efeito, foi a ele que foi confiada a Santa Igreja, foi a ele que foi pessoalmente
dito: «Filho de João, tu amas-Me? Apascenta os meus cordeiros.». Assim, aquilo que foi
claramente enunciado em palavras foi primeiramente significado pela ação.
É o pregador da Igreja que nos separa das correntes deste mundo; é, pois, necessário que
Pedro puxe para terra a rede cheia de peixes. Foi ele quem puxou os peixes para a terra
firme da margem, porque foi ele que dá a conhecer aos fiéis, pela sua santa pregação, a
imutabilidade da pátria eterna. E fê-lo, quer pelas suas palavras, quer pelas suas epístolas; e
continua a fazê-lo todos os dias, pelos seus milagres. Sempre que nos conduz ao amor do
repouso eterno, sempre que nos distancia do tumulto das coisas deste mundo, nós somos os
peixes apanhados nas redes da fé, que ele puxa para a margem.
Ef.5,21-32 ddps p.1502
21.Sujeitai-vos uns aos outros no temor de Cristo.
22.As mulheres sejam submissas a seus maridos, como ao Senhor,
23.pois o marido é o chefe da mulher, como Cristo é o chefe da Igreja, seu corpo, da qual ele é o Salvador.
24.Ora, assim como a Igreja é submissa a Cristo, assim também o sejam em tudo as mulheres a seus maridos.
25.Maridos, amai as vossas mulheres, como Cristo amou a Igreja e se entregou por ela,
26.para santificá-la, purificando-a pela água do batismo com a palavra,
27.para apresentá-la a si mesmo toda gloriosa, sem mácula, sem ruga, sem qualquer outro defeito semelhante,
mas santa e irrepreensível.
28.Assim os maridos devem amar as suas mulheres, como a seu próprio corpo. Quem ama a sua mulher, amase a si mesmo.
29.Certamente, ninguém jamais aborreceu a sua própria carne; ao contrário, cada qual a alimenta e a trata,
como Cristo faz à sua Igreja 30.porque somos membros de seu corpo.
31.Por isso, o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher, e os dois constituirão uma só carne (Gn
2,24).
32.Este mistério é grande, quero dizer, com referência a Cristo e à Igreja
Comentário feito por:
Santo [Padre] Pio de Pietrelcina (1887-1968), capuchinho
Carta 3, 980; GF, 196ss. (a partir da trad. Une Pensée, Médiaspaul, pp. 26-27)
«Tu tens palavras de vida eterna»
Sê paciente e persevera na prática da meditação. A princípio, contenta-te com avançar em
pequenos passos. Mais tarde, terás pernas que só te pedirão que corras, ou melhor, asas para
voar.
Contenta-te com obedecer. Nunca é fácil mas foi a Deus que escolhemos como nosso
quinhão. Aceita não seres ainda mais do que uma abelhinha no cortiço; depressa ela se
tornará uma dessas grandes obreiras, hábeis na fabricação do mel. Permanece sempre
humilde diante de Deus e diante dos homens, no amor. Então o Senhor falar-te-á em
verdade e enriquecer-te-á com os Seus dons.
Acontece às abelhas atravessarem grandes distâncias nos prados antes de chegarem às
flores que escolheram; em seguida, fatigadas mas satisfeitas e carregadas de pólen,
regressam à colméia para aí realizarem transformação silenciosa, mas fecunda, do néctar
das flores em néctar da vida. Faz tu também assim: depois de teres escutado a Palavra,
medita-a atentamente, examina os seus diferentes elementos, procura a sua significação
profunda. Então, ela tornar-se-á clara e luminosa; ela terá o poder de transformar as tuas
inclinações naturais em pura elevação do espírito; e o teu coração estará sempre mais
intimamente unido ao coração de Cristo
2Ts.3,7-12 – DDPS p.1513
7. Sabeis perfeitamente o que deveis fazer para nos imitar. Não temos vivido entre vós desregradamente,
8. nem temos comido de graça o pão de ninguém. Mas, com trabalho e fadiga, labutamos noite e dia, para
não sermos pesados a nenhum de vós.
9. Não porque não tivéssemos direito para isso, mas foi para vos oferecer em nós mesmos um exemplo a
imitar.
10. Aliás, quando estávamos convosco, nós vos dizíamos formalmente: Quem não quiser trabalhar, não tem o
direito de comer.
11. Entretanto, soubemos que entre vós há alguns desordeiros, vadios, que só se preocupam em intrometer-se
em assuntos alheios. 1
12. A esses indivíduos ordenamos e exortamos a que se dediquem tranqüilamente ao trabalho para merecerem
ganhar o que comer.
Comentário feito por:
Santo Ambrósio (c. 340-397), Bispo de Milão e Doutor da Igreja
Comentário ao Evangelho segundo São Lucas X, 6-8 (SC 52, pp. 158 ss., rev.)
A vinda de Cristo
«Não ficará pedra sobre pedra. Tudo será destruído». Estas palavras diziam respeito ao
Templo edificado por Salomão [...], uma vez que tudo o que é construído pelas nossas mãos
sucumbe ao desgaste ou à deterioração e está sujeito a ser derrubado pela violência ou
destruído pelo fogo. [...] Mas dentro de nós também existe um templo que se desmorona se
a fé faltar, em particular se em nome de Cristo procurarmos em vão apoderar-nos de
certezas interiores, e talvez seja esta interpretação a mais útil para nós. Com efeito, de que
servirá saber o dia do Juízo? De que me servirá, tendo consciência de todos os meus
pecados, saber que o Senhor virá um dia, se Ele não vier à minha alma, não crescer no meu
espírito, se Cristo não vier a mim, se Cristo não falar em mim? É a mim que Cristo deve
vir, e é em mim que deve realizar-se a Sua vinda.
Ora, a segunda vinda de Cristo terá lugar no nadir do mundo, quando pudermos dizer que
«o mundo está crucificado para mim, e eu para o mundo» (Gl. 6, 14). [...] Para quem lhe
morreu o mundo, Cristo é eterno; para esse, o Templo é espiritual, a Lei espiritual, a própria
Páscoa espiritual. [...] Então, para esse, realiza-se a presença da sabedoria, a presença da
virtude e da justiça, a presença da redenção, porque Cristo na verdade morreu uma só vez
pelos pecados de todos a fim de resgatar todos os dias os pecados de todos.
Hb.5,7-9 ddps p.1530
7.Nos dias de sua vida mortal, dirigiu preces e súplicas, entre clamores e lágrimas, àquele que o podia salvar
da morte, e foi atendido pela sua piedade.
8.Embora fosse Filho de Deus, aprendeu a obediência por meio dos sofrimentos que teve.
9.E uma vez chegado ao seu termo, tornou-se autor da salvação eterna para todos os que lhe obedecem
Comentário feito por:
Beato Guerric d'Igny (c. 1080 - 1157), abade cisterciense
1.º Sermão para a Assunção; PL 185A,187 (a partir da. trad. Orval)
«Eis a tua mãe!»
Maria concebeu um filho: e, assim como este é o Filho unigênito do Pai no céu, é também o
filho unigênito da Sua mãe na Terra [...]. No entanto, esta única virgem mãe, que teve a
glória de dar ao mundo o Filho unigênito de Deus, beija a seu próprio Filho em todos os
membros do Seu Corpo e não enrubesce quando lhe chamam a Mãe de todos aqueles em
quem ela reconhece Cristo, já formado ou em vias de o estar. Eva, que outrora tinha legado
aos filhos a condenação à morte, antes mesmo de estes terem visto a luz do dia, foi
chamada a «mãe de todos os viventes» (Gn 3, 20) [...]. Mas, como não respondeu ao
desígnio do seu nome, foi Maria quem realizou o mistério não cumprido. Tal como a Igreja,
de que é símbolo, Ela é a mãe de todos os que renasceram para a vida. Ela é, na verdade, a
Mãe da Vida que faz viver todos os homens; e ao concebê-lA, a essa Vida, regenerou, de
alguma forma, todos os que iam viver d'Ela [...].
Esta bem-aventurada Mãe de Cristo, reconhecida como Mãe dos cristãos em virtude deste
mistério, é também sua Mãe pelo cuidado que tem para com todos eles e pelo afeto que lhes
testemunha. Não os trata com dureza, a todos trata como se seus filhos fossem. As suas
entranhas, uma única vez fecundadas, não se esgotaram, dando constantemente à luz o fruto
da bondade. «Bendito é o fruto do teu ventre» (Lc 1, 42), ó doce Mãe, que te inundou de
uma bondade inesgotável: nascido de ti uma única vez, Ele permanece em ti, sempre.
Ef.1,4-5: - <Hino de louvor à Providência de Deus> - pg.1498 - DDPS
(Fl.2,6-11) – DDPS – p.1540
6.Sendo ele de condição divina, não se prevaleceu de sua igualdade com Deus,
7.mas aniquilou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo e assemelhando-se aos homens.
8.E, sendo exteriormente reconhecido como homem, humilhou-se ainda mais, tornando-se obediente até a
morte, e morte de cruz.
9.Por isso Deus o exaltou soberanamente e lhe outorgou o nome que está acima de todos os nomes,
10.para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho no céu, na terra e nos infernos.
11.E toda língua confesse, para a glória de Deus Pai, que Jesus Cristo é Senhor.
Comentário feito por:
Papa Bento XVI
Homilia para a Vigília pascal, 07/04/2007 © copyright Libreria Editrice Vaticana.
«Ele entregou-Se a si mesmo à morte e, pela ressurreição, destruiu a morte e renovou
a vida» (Oração eucarística IV)
No Credo proclamamos, a propósito do caminho de Cristo: «Desceu à mansão dos mortos».
[...] A liturgia aplica à descida de Jesus à noite da morte as palavras do salmo 24 (23): «Ó
portas, levantai os vossos umbrais! Alteai-vos, pórticos eternos!» A porta da morte está
fechada: ninguém pode passar através dela. Não há chave para essa porta de ferro. No
entanto, Cristo tem a chave. A Sua cruz abre de par em par todas as portas invioláveis da
morte, que deixaram de ser inexpugnáveis. A Sua cruz, a radicalidade do Seu amor, é a
chave que abre essa porta. O amor Daquele que, sendo Deus, Se fez homem para poder
morrer tem força para abrir a porta. É um amor mais forte do que a morte.
Os ícones pascais da Igreja do Oriente mostram como Cristo entra no mundo dos mortos.
As Suas vestes são luminosas, porque Deus é luz. «A noite seria, para Ti, brilhante como o
dia» (Sl 139 (138), 12). Jesus entra no mundo dos mortos com os estigmas; as Suas chagas,
os Seus sofrimentos tornaram-se poderosos: são amor capaz de vencer a morte. Jesus
encontra Adão e todos os homens que esperam nas sombras da morte. Vendo-os, quase
podemos ouvir a oração de Jonas: «Clamei a Ti do meio da morada dos mortos e Tu ouviste
a minha voz» (Jn.2, 3).
Pela encarnação, o Filho de Deus fez-Se um com os seres humanos, com Adão. Mas só
quando realizou o supremo ato de amor, descendo da noite da morte, levou a bom termo o
caminho da encarnação. Pela Sua morte, tomou pela mão Adão e toda a humanidade
expectante e guiou-os para a luz.
Fl.3,8-14 ddps p.1506
8.Na verdade, julgo como perda todas as coisas, em comparação com esse bem supremo: o conhecimento de
Jesus Cristo, meu Senhor. Por ele tudo desprezei e tenho em conta de esterco, a fim de ganhar Cristo
9.e estar com ele. Não com minha justiça, que vem da lei, mas com a justiça que se obtém pela fé em Cristo, a
justiça que vem de Deus pela fé.
10.Anseio pelo conhecimento de Cristo e do poder da sua Ressurreição, pela participação em seus
sofrimentos, tornando-me semelhante a ele na morte,
11.com a esperança de conseguir a ressurreição dentre os mortos.
12.Não pretendo dizer que já alcancei (esta meta) e que cheguei à perfeição. Não. Mas eu me empenho em
conquistá-la, uma vez que também eu fui conquistado por Jesus Cristo.
13.Consciente de não tê-la ainda conquistado, só procuro isto: prescindindo do passado e atirando-me ao que
resta para a frente,
14.persigo o alvo, rumo ao prêmio celeste, ao qual Deus nos chama, em Jesus Cristo
Comentário feito por:
João Paulo II
Encíclica « Dives in Misericordia » § 7 (trad. © copyright Libreria Editrice Vaticana)
«Também Eu não te condeno»
É precisamente a Redenção a última e definitiva revelação da santidade de Deus, que é a
plenitude absoluta da perfeição: plenitude da justiça e do amor, pois a justiça funda-se no
amor, dele provém e para ele tende. Na paixão e morte de Cristo — no fato de o Pai não ter
poupado o Seu próprio Filho, mas «o ter tratado como pecado por nós» (2Cor 5, 21) —
manifesta-se a justiça absoluta, porque Cristo sofre a paixão e a cruz por causa dos pecados
da humanidade. Dá-se na verdade a «superabundância» da justiça, porque os pecados do
homem são «compensados» pelo sacrifício do Homem-Deus.
Esta justiça, que é verdadeiramente justiça «à medida» de Deus, nasce toda do amor, do
amor do Pai e do Filho, e frutifica inteiramente no amor. Precisamente por isso, a justiça
divina revelada na cruz de Cristo é «à medida» de Deus, porque nasce do amor e se realiza
no amor, produzindo frutos de salvação. A dimensão divina da Redenção não se verifica
somente em ter feito justiça do pecado, mas também no fato de ter restituído ao amor a
força criativa, graças à qual o homem tem novamente acesso à plenitude de vida e de
santidade que provém de Deus. Deste modo, a Redenção traz em si a revelação da
misericórdia na sua plenitude.
O mistério pascal é o ponto culminante da revelação e atuação da misericórdia, capaz de
justificar o homem, e de restabelecer a justiça como realização do desígnio salvífico que
Deus, desde o princípio, tinha querido realizar no homem e, por meio do homem, no
mundo. Ao revelar-se a si mesmo, Deus quer fazer os homens capazes de responder-lhe, de
conhecer-lhe, e de amá-lo para além do que eles seriam capazes por suas próprias forças.O
desígnio da revelação realiza-se mediante ações e palavras, intimamente ligadas entre si e
que se esclarecem mutuamente.
-Este desígnio realiza-se numa pedagogia divina particular: Deus se comunica
gradualmente ao homem, prepara-o por etapas para acolher a revelação,sobrenatural que
faz de si mesmo e que culminará na pessoa e na missão do Verbo encarnado Jesus Cristo.
2Tm.4,1-17 – p.1524 – DDPS
1. Eu te conjuro em presença de Deus e de Jesus Cristo, que há de julgar os vivos e os mortos, por sua
aparição e por seu Reino:
2. prega a palavra, insiste oportuna e importunamente, repreende, ameaça, exorta com toda paciência e
empenho de instruir.
3. Porque virá tempo em que os homens já não suportarão a sã doutrina da salvação. Levados pelas próprias
paixões e pelo prurido de escutar novidades, ajustarão mestres para si.
4. Apartarão os ouvidos da verdade e se atirarão às fábulas.
5. Tu, porém, sê prudente em tudo, paciente nos sofrimentos, cumpre a missão de pregador do Evangelho,
consagra-te ao teu ministério.
6. Quanto a mim, estou a ponto de ser imolado e o instante da minha libertação se aproxima.
7. Combati o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a fé.
8. Resta-me agora receber a coroa da justiça, que o Senhor, justo Juiz, me dará naquele dia, e não somente a
mim, mas a todos aqueles que aguardam com amor a sua aparição.
9. Procura vir ter comigo quanto antes.
10. Demas me abandonou, por amor das coisas do século presente, e se foi para Tessalônica. Crescente, para a
Galácia; Tito, para a Dalmácia. 1
1. Só Lucas está comigo. Toma contigo Marcos e traze-o, porque me é bem útil para o ministério. 12. Tíquico
enviei-o para Éfeso. 1
3. Quando vieres, traze contigo a capa que deixei em Trôade na casa de Carpo, e também os livros,
principalmente os pergaminhos.
14. Alexandre, o ferreiro, me tratou muito mal. O Senhor há de lhe pagar pela sua conduta.
15. Tu também guarda-te dele, porque fez oposição cerrada à nossa pregação.
16. Em minha primeira defesa não houve quem me assistisse; todos me desampararam! (Que isto não seja
imputado.)
17. Contudo, o Senhor me assistiu e me deu forças, para que, por meu intermédio, a boa mensagem fosse
plenamente anunciada e chegasse aos ouvidos de todos os pagãos. E fui salvo das fauces do leão.
Comentário feito por:
Orígenes (c. 185-253), presbítero e teólogo
Homilias sobre São Lucas, nº 1,1-2 (a partir da trad. de SC 87, p. 99)
«A fim de reconheceres a solidez da doutrina em que foste instruído» (Lc 1,4)
«Visto que muitos empreenderam compor uma narração dos fatos que entre nós se
consumaram, [...] resolvi eu também, depois de tudo ter investigado cuidadosamente desde
a origem, expô-los a ti por escrito e pela sua ordem, caríssimo Teófilo, a fim de
reconheceres a solidez da doutrina em que foste instruído» (Lc 1, 1-4).
Antigamente, entre os judeus, um grande número de pessoas presumia ter o dom da
profecia, mas alguns eram falsos profetas. [...] O mesmo se passou no tempo no Novo
Testamento, em que muitos «empreenderam» escrever evangelhos, mas nem todos foram
aceites. [...] A palavra «empreenderam» contém uma acusação velada contra aqueles que,
sem terem a graça do Espírito Santo, se lançaram na redação de evangelhos. Mateus,
Marcos, João e Lucas não «empreenderam» escrever mas, cheios do Espírito Santo,
escreveram efetivamente os verdadeiros Evangelhos. [...]
A Igreja tem, pois, quatro evangelhos; os hereges têm-nos em grande número. [...] «Muitos
empreenderam compor uma narração», mas apenas quatro evangelhos foram aprovados; e é
desses que devemos retirar, para trazer à luz, aquilo em que é necessário crer sobre a pessoa
do Nosso Senhor e Salvador. Sei que existe um evangelho a que chamam «segundo São
Tomé», um outro «segundo Matias» e lemos ainda outros tantos para não fazermos figura
de ignorantes diante daqueles que imaginam saber alguma coisa quando já conhecem esses
textos. Mas, em tudo isso, não aprovamos nada senão aquilo que a Igreja aprova: admitir
apenas quatro evangelhos. Eis o que podemos dizer sobre o texto do prólogo de São Lucas:
«Muitos empreenderam compor uma narração dos fatos que entre nós se consumaram».
Hb.1,5-10 DDPS –p.1534
5.Pois a quem dentre os anjos disse Deus alguma vez: Tu és meu Filho; eu hoje te gerei (Sl 2,7)? Ou então:
Eu serei seu Pai e ele será meu Filho (II Sm.7,14)?
6.E novamente, ao introduzir o seu Primogênito na terra, diz: Todos os anjos de Deus o adorem (Sl 96,7).
7.Por outro lado, a respeito dos anjos, diz: Ele faz dos seus anjos sopros de vento e dos seus ministros chamas
de fogo (Sl 103,4),
8.ao passo que do Filho diz: O teu trono, ó Deus, subsiste para a eternidade. O cetro do teu Reino é cetro de
justiça.
9.Amaste a justiça e odiaste a iniqüidade. Por isso, ó Deus, o teu Deus te ungiu com óleo de alegria, mais que
aos teus companheiros (Sl 44,7s);
10.e ainda: Tu, Senhor, no princípio dos tempos fundaste a terra, e os céus são obra de tuas mãos.
Comentário feito por:
São Beda, o Venerável (c. 673-735), monge, Doutor da Igreja
Homilias para a Vigília do Natal, 5; CCL 122, 32-36 (a partir da trad. de Delhougne, Les
Pères commentent, p.19 rev.)
«Dar-Lhe-ás o nome de Jesus, porque Ele salvará o povo dos seus pecados.»
O profeta Isaías diz: «Olhai: a jovem está grávida e vai dar à luz um filho, e há de pôr-Lhe
o nome de Emanuel» (7, 14). O nome do Salvador, «Deus conosco», dado pelo profeta,
refere-se às duas naturezas da Sua pessoa única. Com efeito, Aquele que é Deus, nascido do
Pai antes de todos os séculos, é também o Emanuel do fim dos tempos, quer dizer «Deus
conosco». Tornou-Se assim no seio de Sua Mãe, porque Se dignou aceitar a fragilidade da
nossa natureza na unidade da Sua pessoa quando «o Verbo se fez carne e habitou entre nós»
(Jo 1, 14). Quer dizer que começou de uma forma admirável a ser o que nós somos, sem
deixar de ser Quem era, assumindo a nossa natureza, de forma a não perder o que era em Si
mesmo.
[...]
«Maria e teve o seu filho primogênito [...] e deram-lhe o nome de Jesus» (Lc 2, 7.21).
Portanto, Jesus é o nome do Filho nascido da Virgem, nome que indica, segundo a
explicação do anjo, que Ele salvará o povo dos seus pecados. [...] Será Ele que,
evidentemente, salvará também da destruição da alma e do corpo os seguidores do pecado.
Quanto ao nome «Cristo», é título de uma dignidade sacerdotal e real. Porque, sob a antiga
Lei, os sacerdotes e os reis eram chamados cristos, devido à unção. Essa unção com óleo
santo prefigurava o Cristo que, vindo ao mundo como verdadeiro Rei e Sacerdote, foi
consagrado: «Deus ungiu-O com o óleo da alegria, preferindo-O aos Seus companheiros»
[cf. Sl 44 (45), 8]. Por causa dessa unção ou crisma, Cristo em pessoa e aqueles que
participam da mesma unção – quer dizer, da graça espiritual – são chamados «cristãos».
Pelo fato de ser o Salvador, Cristo pode-nos salvar dos nossos pecados; pelo fato de ser
Sacerdote, pode reconciliar-nos com Deus Pai; pelo fato de ser Rei, digna-Se dar-nos o
Reino eterno de Seu Pai.
Hb.2,5-12 – p.1528 - DDPS
5. Não foi tampouco aos anjos que Deus submeteu o mundo vindouro, de que falamos.
6. Alguém em certa passagem afirmou: Que é o homem para que dele te lembres, ou o filho do homem, para
que o visites?
7. Por pouco tempo o colocaste inferior aos anjos; de glória e de honra o coroaste,
8. e sujeitaste a seus pés todas as coisas (Sl 8,5s). Ora, se lhe sujeitou todas as coisas, nada deixou que não lhe
ficasse sujeito. Atualmente, é verdade, não vemos que tudo lhe esteja sujeito.
9. Mas aquele que fora colocado por pouco tempo abaixo dos anjos, Jesus, nós o vemos, por sua Paixão e
morte, coroado de glória e de honra. Assim, pela graça de Deus, a sua morte aproveita a todos os homens.
10. Aquele para quem e por quem todas as coisas existem, desejando conduzir à glória numerosos filhos,
deliberou elevar à perfeição, pelo sofrimento, o autor da salvação deles,
11. para que santificador e santificados formem um só todo. Por isso, (Jesus) não hesita em chamá-los seus
irmãos,
12. dizendo: Anunciarei teu nome a meus irmãos, no meio da assembléia cantarei os teus louvores (Sl 21,23).
13. E outra vez: Quanto a mim, ponho nele a minha confiança (Is 8,17); e: Eis-me aqui, eu e os filhos que
Deus me deu (Is 8,18).
14. Porquanto os filhos participam da mesma natureza, da mesma carne e do sangue, também ele
participou, a fim de destruir pela morte aquele que tinha o império da morte, isto é, o demônio, 1
15. e libertar aqueles que, pelo medo da morte, estavam toda a vida sujeitos a uma verdadeira escravidão.
16. Veio em socorro, não dos anjos, e sim da raça de Abraão;
17. e por isso convinha que ele se tornasse em tudo semelhante aos seus irmãos, para ser um pontífice
compassivo e fiel no serviço de Deus, capaz de expiar os pecados do povo.
18. De fato, por ter ele mesmo suportado tribulações, está em condição de vir em auxílio dos que são
atribulados.
Comentário feito por:
São Jerônimo (347-420-), presbítero, tradutor da Bíblia, Doutor da Igreja
Comentário sobre o Evangelho de São Marcos, 2; PLS 2, 125ss. (trad. DDB 1986, p. 48)
«Cala-te e sai desse homem»
«Jesus ameaçou o demônio dizendo: «Cala-te e sai desse homem.»». A Verdade não
necessita do testemunho do Mentiroso. [...] «Não necessito do reconhecimento daquele que
condeno. Cala-te! Que a Minha glória resplandeça no teu silêncio. Não quero que seja a tua
voz a fazer o Meu elogio, mas o teu tormento; pois a tua condenação é o Meu triunfo. [...]
Cala-te e sai desse homem!» Ele parece dizer: «Sai de Mim; que fazes sob o meu teto? Eu
desejo entrar: por isso, cala-te e sai desse homem, do homem, este ser dotado de razão.
Abandona este lugar preparado para Mim. O Senhor deseja entrar em Sua casa, sai desse
homem». [...]
Vede até que ponto a alma do homem é preciosa. Isto contraria os que pensam que nós, os
homens, e os animais somos dotados de uma alma idêntica e animados por um mesmo
espírito. Noutro momento, o demônio é expulso de um só homem e enviado para dois mil
porcos (Mt 8, 32); o espírito precioso opõe-se ao espírito vil, um é salvo, o outro perde-se.
«Sai desse homem, vai para os porcos, vai para onde quiseres, atira-te ao abismo.
Abandona o homem, ou seja, aquilo que Me pertence por direito; não permitirei que
possuas o homem, porque seria uma injúria para Mim se te estabelecesses nele em Meu
lugar. Assumi um corpo humano, habito no homem: esta carne que tu possuis faz parte da
Minha carne. Sai do homem.»
Hb.3,7-14 – p.1528.9 – DDPS
7. Por isso, como diz o Espírito Santo: Hoje, se ouvirdes a sua voz,
8. não endureçais os vossos corações, como por ocasião da revolta, como no dia da tentação no deserto,
9. quando vossos pais me puseram à prova e viram o meu poder por quarenta anos.
10. Eu me indignei contra aquela geração, porque andavam sempre extraviados em seu coração e não
compreendiam absolutamente nada dos meus desígnios.
11. Por isso, em minha ira, jurei que não haveriam de entrar no lugar de descanso que lhes prometera (Sl 94,811)!
12. Tomai precaução, meus irmãos, para que ninguém de vós venha a perder interiormente a fé, a ponto de
abandonar o Deus vivo.
13. Antes, animai-vos mutuamente cada dia durante todo o tempo compreendido na palavra hoje, para não
acontecer que alguém se torne empedernido com a sedução do pecado.
14. Porque somos incorporados a Cristo, mas sob a condição de conservarmos firme até o fim nossa fé dos
primeiros dias,
15. enquanto se nos diz: Hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais os vossos corações, como aconteceu no
tempo da revolta.
Comentário feito por:
Narrativa de três companheiros de São Francisco de Assis
§ 11 (a partir da trad. de Desbonnets et Vorreux, Documents, pp. 813 ss.)
São Francisco é curado de seus temores por um leproso
(c.
1244)
Um dia, indo o jovem Francisco a cavalo perto de Assis, veio um leproso ao seu encontro.
Tinha habitualmente grande horror aos leprosos, e por isso foi-lhe violento obrigar-se a
descer do cavalo, mas fê-lo, e deu-lhe uma moeda de prata, beijando-lhe a mão. Tendo
recebido do leproso um beijo de paz, subiu para o cavalo e seguiu o seu caminho. A partir
daquele momento, começou a ultrapassar cada vez mais aquela sua limitação, até conseguir
a
perfeita
vitória
sobre
si
próprio,
pela
graça
de
Deus.
Alguns dias mais tarde, tendo-se munido com grande quantidade de moedas, dirigiu-se ao
hospício dos leprosos e, tendo-os reunidos a todos, deu uma esmola a cada um, beijandolhes a mão. No regresso, o que dantes lhe parecia tão amargo – quer dizer, ver ou tocar os
leprosos – tinha-se verdadeiramente transformado em doçura. Ver leprosos era-lhe, como
por vezes dizia, tão penoso, que não só se recusava a vê-los como a aproximar-se da sua
habitação; se lhe acontecia vê-los ou passar perto da leprosaria [...], desviava o rosto e
apertava o nariz. Mas a graça de Deus tornou-o tão próximo dos leprosos que, como o
atesta no testamento, vivia entre eles e servia-os humildemente. A visita aos leprosos tinhao transformado
Hb.4,12-16 – DDPS p1529
12. Porque a palavra de Deus é viva, eficaz, mais penetrante do que uma espada de dois gumes e atinge até a
divisão da alma e do corpo, das juntas e medulas, e discerne os pensamentos e intenções do coração.
13. Nenhuma criatura lhe é invisível. Tudo é nu e descoberto aos olhos daquele a quem havemos de prestar
contas.
14. Temos, portanto, um grande Sumo Sacerdote que penetrou nos céus, Jesus, Filho de Deus. Conservemos
firme a nossa fé.
15. Porque não temos nele um pontífice incapaz de compadecer-se das nossas fraquezas. Ao contrário, passou
pelas mesmas provações que nós, com exceção do pecado.
16. Aproximemo-nos, pois, confiadamente do trono da graça, a fim de alcançar misericórdia e achar a graça
de um auxílio oportuno.
Comentário feito por:
São João Crisóstomo (c. 345-407), Bispo de Antioquia e, mais tarde, de Constantinopla,
Doutor da Igreja.
Homilia 63 sobre São Mateus; PG 58,603 (trad. cf. Marc commenté, DDB 1986, p. 104)
«Terás um tesouro no Céu»
Cristo tinha dito ao jovem: «Se queres entrar na vida eterna, cumpre os mandamentos»
(Mt.19, 17). E ele pergunta: «Quais?», não para O pôr à prova, longe disso, mas por supor
que o Senhor tem para ele, a par da Lei de Moisés, outros mandamentos que lhe
proporcionem a vida; era uma prova do seu desejo ardente. Depois de Jesus lhe enunciar os
mandamentos da Lei, o jovem diz-Lhe: «Tenho cumprido tudo isso»; mas prossegue: «Que
me falta ainda?» (Mt 19, 20), sinal certo desse mesmo desejo ardente. Não são as almas
pequenas as que consideram que ainda lhes falta alguma coisa, aquelas a quem parece
insuficiente o ideal proposto para alcançarem o objeto dos seus desejos.
E que diz Cristo? Propõe-lhe uma coisa grande; começa por propor-lhe a recompensa,
declarando: «Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que possuíres, dá o dinheiro aos
pobres, e terás um tesouro nos céus; depois, vem e segue-Me». Vês o preço, a coroa que
Ele oferece como prêmio desta corrida desportiva? [...] Para atraí-lo, propõe-lhe uma
recompensa de grande valor e apresenta-lhe o cenário completo. Aquilo que poderia
parecer penoso permanece na sombra. Antes de falar de combates e de esforços, mostra-lhe
a recompensa: «Se queres ser perfeito», diz-lhe: eis a glória, eis a felicidade! [...] «Terás um
tesouro nos céus; depois, vem e segue-Me»: eis a soberba recompensa daqueles que seguem
a Cristo, daqueles que escolhem ser Seus companheiros e Seus amigos! Este jovem
apreciava as riquezas da terra; Cristo aconselha-o a despojar-se delas, não para empobrecer
com este despojamento, mas para enriquecer ainda mais.
Hb.5,7-9 ddps p.1530
7.Nos dias de sua vida mortal, dirigiu preces e súplicas, entre clamores e lágrimas, àquele que o podia salvar
da morte, e foi atendido pela sua piedade.
8.Embora fosse Filho de Deus, aprendeu a obediência por meio dos sofrimentos que teve.
9.E uma vez chegado ao seu termo, tornou-se autor da salvação eterna para todos os que lhe obedecem
Comentário feito por:
Beato Guerric d'Igny (c. 1080 - 1157), abade cisterciense
1.º Sermão para a Assunção; PL 185A,187 (a partir da. trad. Orval)
«Eis a tua mãe!»
Maria concebeu um filho: e, assim como este é o Filho unigênito do Pai no céu, é também o
filho unigênito da Sua mãe na Terra [...]. No entanto, esta única virgem mãe, que teve a
glória de dar ao mundo o Filho unigênito de Deus, beija o seu próprio Filho em todos os
membros do Seu Corpo e não enrubesce quando lhe chamam a Mãe de todos aqueles em
quem ela reconhece Cristo, já formado ou em vias de o estar. Eva, que outrora tinha legado
aos filhos a condenação à morte, antes mesmo de estes terem visto a luz do dia, foi
chamada a «mãe de todos os viventes» (Gn 3, 20) [...]. Mas, como não respondeu ao
desígnio do seu nome, foi Maria quem realizou o mistério não cumprido. Tal como a Igreja,
de que é símbolo, Ela é a mãe de todos os que renasceram para a vida. Ela é, na verdade, a
Mãe da Vida que faz viver todos os homens; e ao concebê-lA, a essa Vida, regenerou, de
alguma forma, todos os que iam viver d'Ela [...].
Esta bem-aventurada Mãe de Cristo, reconhecida como Mãe dos cristãos em virtude deste
mistério, é também sua Mãe pelo cuidado que tem para com todos eles e pelo afeto que lhes
testemunha. Não os trata com dureza, a todos trata como se seus filhos fossem. As suas
entranhas, uma única vez fecundadas, não se esgotaram, dando constantemente à luz o fruto
da bondade. «Bendito é o fruto do teu ventre» (Lc 1, 42), ó doce Mãe, que te inundou de
uma bondade inesgotável: nascido de ti uma única vez, Ele permanece em ti, sempre.
Comentário feito por:
Rupert de Deutz (c. 1075-1130), monge beneditino
Comentário sobre o Evangelho de João, 13; PL 169, 789 (a partir da trad. Tournay rev.)
«Eis a tua mãe!»
«Mulher, eis o teu filho!» «Eis a tua mãe!» Com que direito passa o discípulo que Jesus
amava a ser filho da Mãe do Senhor? Com que direito é Ela sua Mãe? É que Aquela que
trouxera ao mundo, então de forma indolor, a causa da salvação de todos, ao dar à luz na
carne o Deus feito homem, é com enorme dor que agora dá à luz, de pé junto à cruz.
Na hora da Sua paixão, o Senhor tinha comparado os Seus apóstolos a uma mulher que dá à
luz, ao dizer: «A mulher, quando está para dar à luz, sente tristeza, porque é chegada a sua
hora; mas, depois de ter dado à luz o menino, já se não lembra da aflição, pela alegria de ter
vindo ao mundo um homem» (Jo 16, 21). Quanto mais compararia tal Filho tal Mãe - essa
Mãe que esteve de pé junto à cruz - a uma mulher que dá à luz! Comparar? Mas Ela é
verdadeiramente mulher e verdadeiramente mãe e, nesta hora, tem verdadeiras dores de
parto. Ela não tinha sofrido as dores do parto como as outras mulheres quando lhe nascera o
Filho; é agora que as sofre, que é crucificada, que sente a tristeza de quem dá à luz porque
chegou a sua hora (cf Jo 13, 1; 17, 1). [...]
Quando tiver passado esta hora, quando esta espada de dor tiver trespassado por completo a
sua alma que dá à luz (Lc 2, 35), também Ela já se não lembrará da aflição, pela alegria de
ter vindo ao mundo um homem, o homem novo, que renova todo o gênero humano e reina
sem fim sobre o mundo inteiro, verdadeiramente nascido, ultrapassado todo o sofrimento,
imortal, primogênito de entre os mortos. Tendo assim trazido ao mundo a salvação de todos
nós na paixão de seu único Filho, a Virgem é claramente a Mãe de todos
Hb.10,4-10 DDPS-p.1534
4.Pois é impossível que o sangue de touros e de carneiros tire pecados.
5.Eis por que, ao entrar no mundo, Cristo diz: Não quiseste sacrifício nem oblação, mas me formaste um
corpo.
6.Holocaustos e sacrifícios pelo pecado não te agradam.
7.Então eu disse: Eis que venho (porque é de mim que está escrito no rolo do livro), venho, ó Deus, para fazer
a tua vontade (Sl 39,7ss).
8.Disse primeiro: Tu não quiseste, tu não recebeste com agrado os sacrifícios nem as ofertas, nem os
holocaustos, nem as vítimas pelo pecado (quer dizer, as imolações legais).
9.Em seguida, ajuntou: Eis que venho para fazer a tua vontade. Assim, aboliu o antigo regime e estabeleceu
uma nova economia.
10.Foi em virtude desta vontade de Deus que temos sido santificados uma vez para sempre, pela oblação do
corpo de Jesus Cristo.
1Pd.2,2-5.9-12 – p.1543.4 – DDPS
2.eleitos segundo a presciência de Deus Pai, e santificados pelo Espírito, para obedecer a Jesus Cristo e
receber a sua parte da aspersão do seu sangue. A graça e a paz vos sejam dadas em abundância.
3.Bendito seja Deus, o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo! Na sua grande misericórdia ele nos fez renascer pela
ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, para uma viva esperança,
4.para uma herança incorruptível, incontaminável e imarcescível, reservada para vós nos céus;
5.para vós que sois guardados pelo poder de Deus, por causa da vossa fé, para a salvação que está pronta para
se manifestar nos últimos tempos.
9.porque vós estais certos de obter, como preço de vossa fé, a salvação de vossas almas.
10.Esta salvação tem sido o objeto das investigações e das meditações dos profetas que proferiram oráculos
sobre a graça que vos era destinada.
11.Eles investigaram a época e as circunstâncias indicadas pelo Espírito de Cristo, que neles estava e que
profetizava os sofrimentos do mesmo Cristo e as glórias que os deviam seguir.
12. Foi-lhes revelado que propunham não para si mesmos, senão para vós, estas revelações que agora vos têm
sido anunciadas por aqueles que vos pregaram o Evangelho da parte do Espírito Santo enviado do céu.
Revelações estas, que os próprios anjos desejam contemplar.
Comentário feito por:
São Gregório Magno (c. 540-604), Papa e Doutor da Igreja
Homilias sobre os Evangelhos, n°2 (a partir da trad. Tissot, Les Pères nous parlent, 1954,
p. 190)
«Filho de David, tem misericórdia de mim»
Com razão a Escritura nos apresenta este cego sentado à beira do caminho e pedindo
esmola, porque a Verdade diz acerca de Si mesma: «Eu sou o caminho» (Jo 14, 6). Assim,
todo
aquele
que
ignora
a
claridade
da
luz
eterna
é
cego.
Se já cremos no Redentor, estamos sentados à beira do caminho. Se já cremos, mas
descuramos pedir que nos seja dada a luz eterna e descuramos a oração, podemos estar
sentados à beira do caminho, mas não pedimos esmola. Mas se cremos, se conhecemos a
cegueira do nosso coração e oramos a fim de recebermos a luz da verdade, então somos
efetivamente este cego sentado à beira do caminho e que pede esmola.
Assim, aquele que reconhece as trevas da sua cegueira e sente a privação da luz eterna,
grite do fundo do seu coração, grite com toda a sua alma: «Jesus, Filho de David, tem
piedade de mim!»
1Jo.3,1-11 – DDPS – p.1550
1.Considerai com que amor nos amou o Pai, para que sejamos chamados filhos de Deus. E nós o somos de
fato. Por isso, o mundo não nos conhece, porque não o conheceu.
2.Caríssimos, desde agora somos filhos de Deus, mas não se manifestou ainda o que havemos de ser.
Sabemos que, quando isto se manifestar, seremos semelhantes a Deus, porquanto o veremos como ele é.
3.E todo aquele que nele tem esta esperança torna-se puro, como ele é puro.
4.Todo aquele que peca transgride a lei, porque o pecado é transgressão da lei.
5 Sabeis que (Jesus) apareceu para tirar os pecados, e que nele não há pecado.
6.Todo aquele que permanece nele não peca; e todo o que peca não o viu, nem o conheceu.
7.Filhinhos, ninguém vos seduza: aquele que pratica a justiça é justo, como também (Jesus) é justo.
8.Aquele que peca é do demônio, porque o demônio peca desde o princípio. Eis por que o Filho de Deus se
manifestou: para destruir as obras do demônio.
9. Todo o que é nascido de Deus não peca, porque o germe divino reside nele; e não pode pecar, porque
nasceu de Deus.
10.É nisto que se conhece quais são os filhos de Deus e quais os do demônio: todo o que não pratica a justiça
não é de Deus, como também aquele que não ama o seu irmão.
11.Pois esta é a mensagem que tendes ouvido desde o princípio: que nos amemos uns aos outros.
Comentário feito por:
Santo Inácio de Antioquia (?-c. 110), bispo e mártir
Carta aos Romanos, 5-7 (a partir da trad. Quéré, Les Pères apostoliques, Seuil 1980, p.
136)
«Agora, Senhor, segundo a Tua palavra, deixarás ir em paz o Teu servo»
Hoje, começo a ser discípulo. Que criatura alguma, visível ou invisível, me impeça de ir ter
com Jesus Cristo. [...] Nem os mais cruéis suplícios me perturbam, a única coisa que desejo
é estar com Jesus Cristo. De que me servem as doçuras deste mundo e os impérios da terra?
Mais vale morrer por Cristo Jesus que reinar até aos confins do universo. É a Ele que
procuro, a Ele que morreu por nós; é a Ele que desejo, a Ele que ressuscitou por nós.
Aproxima-se o momento do meu nascimento. [...] Deixai-me abraçar a luz puríssima. Nessa
altura, serei um homem. Permiti-me imitar a paixão do meu Deus. [...] Os meus desejos
terrenos estão crucificados, já não tenho em mim fogo para amar a matéria, mas apenas a
«água viva» (Jo 7, 38) que murmura e me segreda ao coração: «Vem para junto do Pai.»
Não quero continuar a saborear os alimentos perecíveis nem as doçuras desta vida. É do
pão de Deus que tenho fome, da carne de Jesus Cristo, Filho de David, e como bebida
quero o Seu sangue, que é o amor incorruptível.
1Jo.5,14-21 – DDPS – p.1553
14.A confiança que depositamos nele é esta: em tudo quanto lhe pedirmos, se for conforme à sua vontade, ele
nos atenderá.
15.E se sabemos que ele nos atende em tudo quanto lhe pedirmos, sabemos daí que já recebemos o que
pedimos.
16.Se alguém vê seu irmão cometer um pecado que não o conduza à morte, reze, e Deus lhe dará a vida; isto
para aqueles que não pecam para a morte. Há pecado que é para morte; não digo que se reze por este.
17.Toda iniqüidade é pecado, mas há pecado que não leva à morte.
18.Sabemos que aquele que nasceu de Deus não peca; mas o que é gerado de Deus se acautela, e o Maligno
não o toca.
19.Sabemos que somos de Deus, e que o mundo todo jaz sob o Maligno.
20.Sabemos que o Filho de Deus veio e nos deu entendimento para conhecermos o Verdadeiro. E estamos no
Verdadeiro, nós que estamos em seu Filho Jesus Cristo. Este é o verdadeiro Deus e a vida eterna.
Comentário feito por:
Santo Agostinho (354-430), Bispo de Hipona (Norte de África) e Doutor da Igreja
Sermão 194, 11º sermão para a Natividade do Senhor (trad. col. Icthus, t. 8, p. 98 rev.)
«Esta é a minha alegria! E tornou-se completa!»
Escutai, filhos da luz, vós que fostes adotados em vista do Reino de Deus; escutai,
caríssimos irmãos; escutai e regozijai-vos no Senhor, vós os justos, pois «aos retos de
coração pertence o louvor» (Sl 33, 1). Escutai o que já sabeis, meditai no que ouvistes, amai
aquilo em que acreditais, proclamai aquilo que amais! [...]
Cristo nasceu, Deus por Seu Pai, homem por Sua mãe; Ele nasceu da imortalidade de Seu
Pai e da virgindade de Sua mãe. De Seu Pai, sem a participação de uma mãe; de Sua mãe,
sem a de um pai. De Seu Pai, sem o tempo; de Sua mãe, sem a semente. De Seu Pai, Ele é
princípio de vida; de Sua mãe, o fim da morte. De Seu Pai, nasceu para reger a ordem dos
dias; de Sua mãe, para consagrar este dia.
À Sua frente enviou João Batista, que fez nascer quando os dias começam a diminuir, tendo
Ele próprio nascido quando os dias começam a aumentar, prefigurando deste modo as
palavras desse mesmo João: «Ele é que deve crescer e eu diminuir». De fato, a vida humana
deve enfraquecer em si mesma e aumentar em Jesus Cristo, «para que os que vivem não
vivam mais para si mesmos, mas para Aquele que neles morreu e ressuscitou» (2Co. 5, 15).
E para que todos nós possamos repetir estas palavras do Apóstolo Paulo: «Já não sou eu
que vivo, é Cristo que vive em mim» (Gal 2, 20).
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