Marisa de Souto Matos Fierz, Jurandyr Luciano Sanches Ross

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VI Seminário Latino-Americano de Geografia Física
II Seminário Ibero-Americano de Geografia Física
Universidade de Coimbra, Maio de 2010
Risco Ambiental na planície Costeira de costa passiva, no litoral do
Estado de São Paulo, Brasil, fundamentados na teoria do Equilíbrio
Dinâmico, uma nova abordagem
Marisa de Souto Matos Fierz
Departamento de Geografia – Universidade de São Paulo
[email protected]
Jurandyr Luciano Sanches Ross
Departamento de Geografia USP - Universidade de São Paulo.
[email protected]
Introdução
O Litoral do Estado de São Paulo é classificado como pertencente a uma costa
passiva, litoral Brasileiro. Neste litoral, de maneira geral, predominam os processos
agradacionais, no entanto, apresenta também áreas com tendência à processos
erosivos de baixa intensidade. Esses processos erosivos podem se intensificar com
mudanças na dinâmica marinha local, de maneira geral, provocada pela intervenção
antrópica.
Baseando-se nos preceitos da Teoria Geral dos Sistemas e da Teoria do Equilíbrio
Dinâmico, essa pesquisa objetiva apontar as diferenças de fragilidade ao longo da
planície costeira do rio Guaraú localizada no litoral sul do Estado de São Paulo. A
possibilidade de diferenciar as áreas mais frágeis das menos frágeis auxilia na
determinação das áreas de risco ou sujeitas a alterações.
Área de Estudo
A área de estudo, planície costeira do Rio Guaraú está localizada no litoral sul do
Estado de São Paulo.
Está Localizada entre o morro da Juréia e Itatins. Trata-se de uma pequena enseada
incrustada entre os dois maciços cristalinos que apresenta uma drenagem bem
estabelecida e a planície costeira estreita. É denominada de planície do rio Guaraú, ou
praia do Guaraú, e constitui enseada cuja embocadura possui cerca 1,5 km de
extensão. As coordenadas que englobam este trecho estudado são: 24 o 24´e 24o18´ de
latitude sul e 47o09´e 46o09´longitude oeste.
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Tema 1 - Identidade epistemológica e desafios da Geografia Física no início do
século XXI
Localização da área no Brasil
Localização da área no Estado
de São Paulo
Enseada do Guaraú
Figura 1 – Localização da Área de Estudo
No contexto geológico/geomorfológico do litoral do estado de São Paulo, a área de
estudo pode ser compartimentada em dois setores, o setor que compreende o
embasamento cristalino do complexo costeiro que inclui a Serra do Mar e os morros
costeiros, e setor dos depósitos Quaternários, no qual se incluem as planícies
costeiras, praias e plataforma continental.
Toda a área do entorno da planície costeira do Guaraú é composta por conjuntos
litológicos variados, marcados por uma evolução tectono-metamórfica distinta. Os
conjuntos litológicos que sustentam os morros e serras do embasamento cristalino
regional são separados por zonas de cisalhamento transcorrentes dextrais, definindo
uma estruturação regional de direção NE-SW, a qual condiciona as formas alongadas
das seqüências metamórficas e a disposição predominantemente concordante dos
corpos graníticos.
De acordo com Almeida et al., 1992, nas planícies ocorre uma interação de
processos e ambientes de deposição diferenciados, nos quais atuam diversos fatores
geomorfológicos, litológicos, tectônicos e sedimentares. Nesses ambientes, a evolução
do relevo é condicionada pelo avanço em direção ao planalto das cabeceiras de
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drenagem, que encontram, nesse percurso, resistências diferenciadas em função dos
tipos litológicos e das estruturas presentes. Dessa forma, onde ocorrem rochas mais
suscetíveis ao intemperismo, o alargamento e a incisão da rede de drenagem se
mostram mais pronunciados, variando de acordo com o clima dominante em cada
época. Além disso, a presença de estruturas paralelas à borda do planalto permite um
acentuado alargamento dos vales.
As planícies costeiras são classificadas como litorâneas pertencentes à unidade
morfoestrutural das bacias sedimentares cenozóicas, classificadas como
morfoescultura de acumulação marinha (Apm), conforme se pode observar no mapa
geomorfológico do estado de São Paulo.
Com relação aos aspectos do clima local, o litoral do estado de São Paulo está
inserido na linha de divisão dos climas tropical e subtropical e, portanto, apresenta
características climáticas provenientes dos dois tipos de clima. A partir da faixa de
latitude correspondente à posição dos estados de São Paulo e Paraná, sofre a
influência da massa polar atlântica e dos sistemas atmosféricos extratropicais, que
passam a ser preponderantes. Do ponto de vista da dinâmica atmosférica, apresenta
características que o aproximam das latitudes médias.
Os solos no litoral estão diretamente associados aos materiais das formações
arenosas nas planícies costeiras advindas, sobretudo, das variações do nível do mar, as
transgressões Cananéia e Santos que são as principais formadoras das planícies
costeiras do litoral do estado de São Paulo. Os solos dessa região estão geralmente
associados aos solos litorâneos classificados como espodossolos por toda a planície,
com exceção das áreas de praia, mangue e rampas de colúvios, localizadas no sopé da
Serra do Mar.
Com relação aos aspectos oceanográficos da área, destacam-se que estes padrões
de incidência resultam na ocorrência de correntes de deriva direcionadas no sentido
de S/SW, para ondas incidentes de NE/E e para NE/E para os trens de ondas
incidentes.
Fundamentação
A presente pesquisa apresenta fundamentos teórico-metodológicos baseados em
três abordagens principais. Todas elas possuem como ponto de apoio a integralidade
com enfoque sistêmico. A primeira trata-se da teoria geral dos sistemas, elaborada por
Ludwig Von Bertalanffy, a qual dá suporte a diversas abordagens sistêmicas na
geografia. A segunda é a teoria do equilíbrio dinâmico, elaborada por Hack (1960) com
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século XXI
base em críticas ao ciclo geomórfico de Davis, que está relacionada às variações de
equilíbrio constantes nos sistemas abertos e objetiva um estudo voltado para explicar
as diversidades das formas e materiais que constituem o relevo.
A última trata de uma proposta mais específica, voltada à análise integrada e
aplicada, com finalidade de atribuir níveis de fragilidade ambiental para cada
diversidade de formas, materiais e processos que ocorrem nos sistemas litorâneos,
sobretudo na planície costeira. A princípio, será baseada na proposta de Ross (1994), a
qual está mais voltada para estudos de fragilidade em ambientes localizados no
interior do continente e dela derivam os princípios abordados que auxiliam nas
correlações dos aspectos analisados.
Na geomorfologia, o conceito de sistema foi introduzido por Chorley, em 1962, e
vários aspectos dessa abordagem foram considerados por Christofoletti (1979),
Strahler (1980), Hugget (1985), Scheidegger (1991), entre outros, e foi responsável por
salientar o aspecto conectivo do conjunto, formando uma unidade, de acordo com a
perspectiva de que um sistema é um conjunto estruturado de objetos e/ou atributos.
Esses objetos e atributos consistem de componentes ou variáveis (isto é, fenômenos
passíveis de assumir magnitudes variáveis) que exibem relações discerníveis entre si e
operam como um todo complexo de acordo com determinado padrão.
Mais recentemente, ao fazer breve revisão sobre a teoria de sistemas, Haigh (1985,
apud CHRISTOFOLETTI, 1998), assinalou que “um sistema é uma totalidade que é
criada pela integração de um conjunto estruturado de partes componentes, cujas
inter-relações estruturais e funcionais criam uma inteireza que não se encontram
implicadas por aquelas partes componentes quando desagregadas”.
De maneira muito sucinta, a Teoria do Equilíbrio Dinâmico elaborada por Hack
(1960) enfatiza a importância da composição litológica que sustentam as formas de
relevo. Para o autor, o relevo pode ser considerado como um sistema aberto que
recebe interferência dos outros sistemas e que dependendo da resistência dos
materiais, as formas vão se apresentar diferenciadas. Relevos mais rebaixados são
compostos por materiais menos resistentes. Relevos sustentados por materiais mais
resistentes apresentam-se mais elevados.
A metodologia de Ross (1992) sobre a Fragilidade Ambiental fornece base para
avaliação de diferentes níveis de sensitividade do relevo. Em primeiro plano, realiza-se
a compartimentação do relevo. Obedecendo aos critérios de definição das
morfoestruturas e morfoesculturas, conceitos esses baseados nos autores russos
Mecerjakov e Guerasimov, os quais seguem os preceitos conceituais de Walter Penck
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no que tange aos processos endógenos e exógenos. A morfoestruturas estão
diretamente relacionadas aos processos endógenos uma vez que correspondem as
litologia que sustentam as macroformas. As morfoesculturas são resultantes dos
processos denudacionais que resultam dos processos exógenos.
As áreas a serem estudadas podem ser compartimentadas em morfoestruturas e
morfoesculturas as quais correspondem, na metodologia, a uma compartimentação do
relevo em 6 táxons, nos quais o primeiro corresponde as morfoestruturas e a partir do
segundo táxon se obtém as morfoesculturas, as quais apresentam primeiramente, os
padrões de formas de relevo e posteriormente com o aumento da escala de detalhe
vão corresponder às formas individualizadas, conforme se observa na figura 2 a seguir
Figura 2 – Taxonomia do Relevo (Fonte: Ross, 1992)
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Tema 1 - Identidade epistemológica e desafios da Geografia Física no início do
século XXI
O primeiro táxon corresponde às unidades morfoestruturais que são representadas
pelas macroestruturas, como por exemplo, as grandes estruturas de uma bacia
hidrográfica.
O segundo táxon corresponde às unidades morfoesculturais que são os
compartimentos e subcompartimentos do relevo pertencentes a uma determinada
morfoestrutura e posicionados em diferentes níveis topográficos.
A partir do terceiro táxon, delimitam-se os padrões de formas semelhantes,
unidades morfológicas as quais estão representadas pelos planaltos, chapadas,
depressões, tipos de formas predominantes e semelhantes, entre outros. No quarto
táxon, estão os tipos de formas de relevos, colinas, tabulares.
O quinto táxon representa detalhes com relação às formas de vertentes (retilínea,
convexa, côncava) e tipos de topos (plano, convexo, tabular, aguçado).
No sexto táxon, com maior detalhe, podem-se representar as formas e os
processos atuais, incluindo formas de ordem antrópica, tais como cortes de estradas,
aterros, erosão, curvas de nível, o que caracteriza a antropogênese.
A fim de se obter a compartimentação geomorfológica da área em subsistemas
geomorfológicos realizaram-se análises de imagens de satélite, bem como trabalhos
de campo, nos quais utilizou-se equipamentos para medida de compactação do solo
nos diferentes sistemas e subsistemas geomorfológicos para definir as diferenças de
resistência de materiais. Essas análises possibilitaram a definição das variações de
fragilidade que podem ser atribuídas, dependendo da localização dos sistemas e
subsistemas, e da resistência dos materiais que os sustentam, definindo-se assim, o
grau de fragilidade, bem como sua correspondência à áreas de risco.
Resultados
Como resultados apresentam-se a compartimentação geomorfológica, onde
destacam-se os sistemas e subsistemas geomorfológicos e os graus de fragilidades
apresentados pelos mesmos.
Uma taxonomia para a região costeira pode ser voltada para as características
geomorfológicas representadas pelas reentrâncias moldadas e sustentadas no
embasamento cristalino e preenchidas pelos sedimentos advindos do continente ou
da plataforma continental. Dessa forma, propõe-se uma compartimentação em
táxons para os estudos que envolvem as áreas litorâneas. Esta classificação subsidia o
mapeamento das três áreas de estudo:
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Primeiro táxon – geotextura – retomando a idéia de geotextura, desenvolvida por
Mecerjakov, reconsideram-se as placas tectônicas como uma forma geomorfológica
de importância por representar a continuidade do continente, como importante
reserva de sedimentos, que são retabalhados na linha de costa, e ainda por constituir
elemento importante da deriva das correntes costeiras. A placa tectônica, classificada
como geômero por Sotchawa (1978), no caso do Brasil, denominada placa continental
atlântica, representa também o compartimento plataforma continental.
Segundo Táxon – morfoestruturas – enseadas, embaiamentos, terrenos
continentais, plataforma continental – correspondem aos terrenos costeiros voltados
para o oceano e sofrem influências diretas e indiretas dos processos costeiros.
Terceiro Táxon – morfoesculturas – planície costeira, propriamente dita, pode ser o
terceiro táxon. Ela pode ser delimitada a partir da interface entre a serra e a planície e
estender-se até a linha de pós-praia; a praia, propriamente dita, não englobada, já
que será considerada em um táxon mais detalhado.
Quarto táxon – morros e colinas (conjunto), terraços marinhos, terraços fluviais,
planícies fluviais, planície intertidal, planície fluvio-marinha, praia, perfil de praia e
plataforma continental adjacente, rampas de colúvio. Por estarem localizados nas
planícies costeiras e também em nível altimétrico mais alto, os morros isolados e
colinas são contribuidores de sedimentos à planície costeira e no entorno daqueles se
formam pequenas rampas de colúvio. Esse componente do relevo costeiro pode
receber denominações de avaliação tal qual existe para os morros e colinas do
continente, medidas de declividades e as formas das vertentes, as quais são
analisadas nos táxons de escalas de maior detalhe.
Esses compartimentos do relevo costeiro podem ser avaliados pela composição do
seu material e constituem compartimentos que compõem a planície costeira e por
isso podem ser avaliados em escala local de detalhe, ou seja, em trabalho de campo,
para quantificar os seus processos e as suas composições, formas, estruturas. Esses
compartimentos constituem os mais baixos da área costeira e também os mais
frágeis, tanto em termos de composição do material, quanto em termos de processos
que os envolvem..
Quinto táxon – este será o estudo individualizado de cada compartimento
delimitado em escala de menor detalhe. No quinto taxon, podem ser analisadas
também as vertentes (dos morros e colinas isolados), cordões litorâneos e depressões
intercordões, dunas, escarpas de praia, berma.
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século XXI
Dessa forma, a compartimentação do relevo costeiro contempla estudos de
variadas escalas de detalhe e abrange as morfoestruturas e morfoesculturas que
formam os grandes sistemas e os subsistemas da área costeira. Para uma correlação
dessa taxonomia do relevo com a teoria do equilíbrio dinâmico, propôs-se aqui
apresentar uma elaboração simples da aplicação dessa teoria na área de estudo,
considerando as trocas de matéria e energia na interface do estrato geográfico, em um
sistema aberto inerente ao equilíbrio dinâmico, que trata de resistência medida pela
resistência dos sistemas e subsistemas.
Conclusões
Conclui-se que com a pesquisa realizada sobre os níveis de fragilidade, existem
diferenças de compactação entre os subsistemas geomorfológicos costeiros que
constituem a planície costeira. Isso somente comprova a fragilidade intrínseca da
planície costeira e, que há diferenças de resistência dos materiais litológicos que
sustentam as formas ao longo das planícies arenosas como a do Guaraú. Essas
diferenças obedecem de certa forma, a posição em que o subsistema se encontra na
planície costeira.
Assim, deduz-se que os compartimentos ou subsistemas menos elevados
constituem os mais frágeis, bem como, representam ambientes mais influenciados
pelas alterações naturais diretas e indiretas de clima, pluviosidade e de marés, ou seja,
os subsistemas que se encontram localizados nas áreas de maiores embates seja da
pluviosidade, seja das correntes marinhas são afetados mais rapidamente.
Dentre os compartimentos ou subsistemas geomorfológicos costeiros os mais
frágeis e que podem ser consideradas áreas de maior risco são: a praia e as planícies
intertidais, onde se estabelecem os manguezais. Esses dois compartimentos ou
subsistemas servem de filtro às entradas e saídas de matéria e energia no interior do
sistema geomorfológico, a planície costeira. As entradas e saídas de matéria e energia
nos sistemas geomorfológicos podem afetar o equilíbrio dinâmico e desestabilizá-los
momentaneamente, caso ocorram de forma abrupta.
No mapa da fragilidade Ambiental é possível observar a localização dos sistemas e
subsistemas geomorfológicos e os níveis de fragilidade ao longo das planícies costeira
no litoral sul do Estado de São Paulo. A Enseada do Guaraú está localizada no trecho
sudoeste do mapa, apresenta dois níveis de fragilidade, a muitíssimo alta que
corresponde a área da Serra do Mar em cor rosa e a área da Planície fluvial do rio
Guaraú correspondente a cor vermelha classificada como muitíssimo alta também. A
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área da planície costeira, mas estável do ponto de vista de resistência dos materiais,
corresponde à classificação muito alta nos níveis de fragilidade e área de risco.
Figura 3 – Mapa das Fragilidades Ambientais no litoral Sul do Estado de São Paulo
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