LINFOMA HEPATOESPLÊNICO DE CÉLULAS T GAMMA-DELTA: RELATO DE CASO Denise Ramos de Almeidaa, Diniz Brum Lamaisona, Ricardo Fiad Bioloa, Robinson José Kaczmarcka, Vaniza Bordignon Pachecoa. a Hospital São Vicente de Paulo, Passo Fundo, Brasil. INTRODUÇÃO O linfoma hepatoesplênico de células T gamma-delta corresponde a menos de 1% dos linfomas não-Hodgkin, tem seu pico de incidência em adolescentes e adultos jovens e uma razão homem/mulher de 9:1. É uma doença rara, visto que a maioria dos linfomas de células T expressa receptores alfa-beta e apenas 2-4% expressam receptores gamma-delta. OBJETIVOS Devido à escassez de casos relatados, sendo eles apenas 100 na literatura atual, visa-se elucidar as características laboratoriais, sinais e sintomas apresentados, tratamento utilizado e os resultados obtidos. DELINEAMENTO E MÉTODOS Foram utilizados bibliografias de guidelines como PubMed, UptoDate e literatura especializada. RELATO DE CASO G.S., feminina, 21 anos, negra. Paciente chega com queixas de fraqueza, cansaço e sonolência há 3 semanas, além de de dor abdominal de intensidade moderada, náuseas, vômitos, febre vespertina diária, emagrecimento, tosse com raias de sangue, epistaxe e hematúria. Previamente hígida. Ao exame físico eutrófica, IMC: 21,7, regular estado geral, mucosas hipocoradas, FC: 120 bpm. O exame abdominal evidenciava hepatoesplenomegalia com baço a 3cm abaixo do rebordo costal. RELATO DE CASO Investigação laboratorial: Plaquetas 85.900/mm3. Volume plaquetário Médio 12,5 fL, Desidrogenase Láctica 846 U/L. Anemia normocitica e normocrômca e leucograma normal. A biópsia medular, demonstrou comprometimento por leucemia linfóide aguda. (Figura 1). Imunofenotipagem de sangue periférico com resultado compatível com linfoma hepatoesplênico de células T. Citogenética sem alterações. Exame de imagem - ecografia de abdômen total - com hepatoesplenomegalia. Foi instituído tratamento de indução para leucemia aguda baseado em protocolo de tratamento infantil (BFM). Devido à internação prolongada e intercorrências infecciosas, optou-se por seguir protocolo para doença paliativa (St. Jude). Após a quinta semana, a paciente reinternou por febre, hiperleucocitose, anemia grave e trombocitopenia. Na oitava semana, internou por sangramento nasal intenso e evoluiu ao óbito sete meses após o diagnóstico. DISCUSSÃO São doenças raras e agressivas, originadas de linfócitos gamma delta. Essas células tem papel na resposta imune inata, se desenvolvem a partir do precursor tímico na medula óssea CD4/CD8- e são encontradas com maior frequência na polpa vermelha do baço, tecidos linfóides, mucosas, trato gastrintestinal e pele. A imunossupressão crônica, como transplante de órgãos sólidos e exposição à terapia antigênica, são provavelmente os principais fatores de risco para a ativação da linfomagênese. HEMOGRAMA Hemáceas: 2,72 milhões/mm3 Hemoglobina: 7,6g/dL Hematócrito: 24% C.H.C.M.: 32% V.C.M.: 88 fL RDW: 24,4% ERITOBLASTOS: Basófilos: 17%, Policromáticos: 6%, Ortocromáticos: 51% Figura 1. HE 400 x. Infiltração difusa por linfoblastos. Imagem cedida pelo Serviço de Patologia HSVP. Os pacientes apresentam sintomas como febre, dor abdominal, fraqueza e hepatoesplenomegalia. Nos exames, trombocitopenia intensa, uma fase leucêmica e envolvimento da medula óssea. DISCUSSÃO Como característica genética, o isocromossomo 7q é achado na maioria dos casos. Entretanto, o cariótipo do caso relatado não apresentou anormalidades, o que pode ter ocorrido pela obtenção do material de sangue periférico, e não medular, com a técnica dry tap. O LHCTGD tem sobrevida de dois anos. Durante o tratamento quimioterápico os pacientes podem responder, porém, as recaídas são comuns. Alguns casos relataram maior sobrevida após transplante alogênico de células hematopoiéticas. A esplenectomia pode ser considerada em alguns pacientes. No caso em discussão, a paciente apresentou óbito sete meses após o diagnóstico. CONCLUSÃO O LHCTGD é uma neoplasia agressiva, a remissão completa com quimioterapia convencional é incomum. Fato evidenciado no caso em questão, onde foram utilizados múltiplos agentes quimioterápicos sem obter remissão, com piora progressiva do quadro e óbito. São necessários ainda mais estudos, principalmente, em busca de um tratamento que possa elevar a sobrevida do doente. REFERÊNCIAS 1- ALONSOZANA, E. L. et al. Isochromosome 7q: the primary cytogenetic abnormality in hepatosplenic gammadelta T cell lymphoma. Leukemia, v. 11, n. 8, p. 1367-72, Aug 1997. ISSN 08876924 (Print) 0887-6924 (Linking). Disponível em: < http://www.ncbi.nlm.nih.gov/entrez/query.fcgi?cmd=Retrieve&db=PubMed&dopt=Citation&list_uids=9264394 >. Acesso em 19/02/15. 2- ALSOHAIBANI, F. I.; ABDULLA, M. A.; FAGIH, M. M. Hepatosplenic T-cell lymphoma. Indian J Hematol Blood Transfus, v. 27, n. 1, p. 39-42, Mar 2011. ISSN 0974-0449 (Electronic) 0971-4502 (Linking). Disponível em: < http://www.ncbi.nlm.nih.gov/entrez/query.fcgi?cmd=Retrieve&db=PubMed&dopt=Citation&list_uids=22379294 >. Acesso 22/01/15. 3- BELHADJ, K. et al. Hepatosplenic gammadelta T-cell lymphoma is a rare clinicopathologic entity with poor outcome: report on a series of 21 patients. Blood, v. 102, n. 13, p. 4261-9, Dec 15 2003. ISSN 0006-4971 (Print) 0006-4971 (Linking). Disponível em: < http://www.ncbi.nlm.nih.gov/entrez/query.fcgi?cmd=Retrieve&db=PubMed&dopt=Citation&list_uids=12907441 >. Acesso em 21/01/15. 4- FERRERI, A. J.; GOVI, S.; PILERI, S. A. Hepatosplenic gamma-delta T-cell lymphoma. Crit Rev Oncol Hematol, v. 83, n. 2, p. 283-92, Aug 2012. ISSN 1879-0461 (Electronic)1040-8428 (Linking). Disponível em: < http://www.ncbi.nlm.nih.gov/entrez/query.fcgi?cmd=Retrieve&db=PubMed&dopt=Citation&list_uids=22047938 >. Acesso 12/01/15. 5- FOPPOLI, M.; FERRERI, A. J. Gamma-delta t-cell lymphomas. Eur J Haematol, Aug 23 2014. ISSN 1600-0609 (Electronic) 0902-4441 (Linking). Disponível em: < http://www.ncbi.nlm.nih.gov/entrez/query.fcgi?cmd=Retrieve&db=PubMed&dopt=Citation&list_uids=25154298 >. Acesso em 14/01/15. 6- MIYAZAKI, K. et al. Gene expression profiling of peripheral T-cell lymphoma including gammadelta T-cell lymphoma. Blood, v. 113, n. 5, p. 1071-4, Jan 29 2009. ISSN 1528-0020 (Electronic) 0006-4971 (Linking). Disponível em: < http://www.ncbi.nlm.nih.gov/entrez/query.fcgi?cmd=Retrieve&db=PubMed&dopt=Citation&list_uids=18955564 >. Acesso em 19/02/15. 7- WEI, S. Z. et al. Hepatosplenic gammadelta T-cell lymphoma. World J Gastroenterol, v. 11, n. 24, p. 3729-34, Jun 28 2005. ISSN 1007-9327 (Print)1007-9327 (Linking). Disponível em: < http://www.ncbi.nlm.nih.gov/entrez/query.fcgi?cmd=Retrieve&db=PubMed&dopt=Citation&list_uids=15968729 >. Acesso em 22/01/15. 8- YAMAGUCHI, M. Hepatosplenic gammadelta T-cell lymphoma: difficulty in diagnosis. Intern Med, v. 43, n. 2, p. 83-4, Feb 2004. ISSN 0918-2918 (Print)0918-2918 (Linking). Disponível em: < http://www.ncbi.nlm.nih.gov/entrez/query.fcgi?cmd=Retrieve&db=PubMed&dopt=Citation&list_uids=15005247 >. Acesso em 14/01/15. CONTATO: [email protected]