DIVULGAÇÃO TÉCNICA Vírus oncogênicos em animais. VÍRUS ONCOGÊNICOS EM ANIMAIS A.M.C.R.P.F.M. Martins; M.H.B. Catroxo Instituto Biológico, Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Sanidade Animal, Av. Cons. Rodrigues Alves, 1252, CEP 04014-002, São Paulo, SP, Brasil. E-mail: [email protected] RESUMO O crescente desenvolvimento da pecuária e a expansão de fronteiras físicas e comerciais têm levado ao aparecimento de diferentes patogenias infecciosas. Muitos vírus oncogênicos são responsáveis por enfermidades importantes na criação, mas poucos estudados no Brasil, apesar de provocarem perdas significativas em nossos rebanhos, afetando diretamente a exportação da carne e, portanto, ocasionando severas perdas econômicas. Demonstrou-se, assim, que diversos vírus de DNA e RNA são oncogênicos, em uma grande variedade de animais, desde anfíbios até primatas e, há evidências, cada vez maiores, de alguns cânceres humanos terem origem viral. PALAVRAS-CHAVE: Vírus oncogênicos, neoplasias virais, retrovírus, DNA vírus. ABSTRACT ONCOGENIC VIRUSES IN ANIMAL. The increasing development of livestock and the expansion of both physical and commercial borders have led to the appearance of various infective pathologies. Many oncogenic viruses are responsible for major diseases in farms. Little study has been carried out about those viruses in Brazil, despite the significant losses they cause in our herds with the consequent reduction in the meat exportation and the related severe economic losses. It was demonstrated, thus, that various viruses of DNA and RNA are oncogenic in a large variety of animals, from amphibians to primates, and there is also an ever increasing evidence that some human cancers have a viral origin. KEY WORDS: Oncogenic viruses, viral neoplasms, retrovirus, DNA virus. INTRODUÇÃO O avanço das técnicas de investigação biomédica e biologia molecular levou à observação da estreita relação entre certos vírus e alguns tipos de câncer em vários animais. Demonstrou-se, assim, que diversos vírus de DNA e RNA são oncogênicos, em uma grande variedade de animais, desde anfíbios até primatas e, há evidências, cada vez maiores, de alguns cânceres humanos terem origem viral. As neoplasias são doenças genéticas e, tanto as benignas como as malignas, originam-se de uma única célula que sofreu lesões genéticas randômicas. Os cânceres, além disso, podem estar envolvidos com as alterações nas restrições normais da proliferação celular, diferenciação e apoptose, sendo que existe um número finito de vias nas quais as restrições podem ocorrer. De fato, alterações em grupos pequenos de genes parecem ser os responsáveis por muitos dos comportamentos desordenados das neoplasias malignas e, 3 classes de genes reguladores normais constituem os principais alvos da lesão genética (Fig 1): Proto-oncogenes promotores do crescimento; Genes supressores dos inibidores do crescimento de câncer (antioncogene) e Genes que regulam a morte celular programada. Fig 1 - Localização subcelular e funções das principais classes de genes associados ao câncer; proto-oncogens em vermelho; genes supressores em azul e genes do reparo de DNA em verde. Genes que regulam a apoptose em púrpura (C ONTRAN et al., 1999). Biológico, São Paulo, v.71, n.1, p.21-27, jan./jun., 2009 21 22 A.M.C.R.P.F.M. Martins; M.H.B. Catroxo Também é pertinente uma 4 a classe de genes para a carcinogênese: genes que regulam o reparo do DNA danificado. O fenômeno da progressão tumoral leva normalmente muitos anos, reflexo da evolução por mutações e seleção natural entre as células somáticas (generalizando-se, podemos dizer que os tumores benignos, em sua maioria, crescem lentamente no decorrer de um período de anos e a maioria dos malignos cresce rapidamente, muitas vezes em ritmo errático) (Figs. 2 e 4). Essa taxa de progressão pode ser acelerada por agentes mutagênicos (iniciadores tumorais) e agentes não mutagênicos (promotores tumorais), que afetam a expressão do gene, estimulam a proliferação celular e alteram o equilíbrio entre células mutantes e não mutantes. Fig. 2 - Crescimento tumoral (C ONTRAN et al., 1999). Exemplo de RNA e DNA Vírus podem induzir neoplasias malignas nos animais: Bovino Retroviridae Vírus da leucose bovina Leucose Papovaviridae Papilomavirus bovinoIV Carcinoma intestinal, v.urinária Gato Retroviridae Vírus da leucose felina Leucose Vírus do sarcoma felino Sarcoma Galinha Retroviridae Vírus da leucose aviária Leucose, nefroblastoma Vírus do sarcoma de Rous Sarcoma Vírus da eritroblastose aviária Eritoblastose Herpesviridae Vírus da mieloblastose Mieloblastose Vírus da retículo endoteliose aviária Reticuloendoteliose Vírus da d. Marek Linfoma VÍRUS ONCOGÊNICOS DE DNA Diversos DNA vírus foram associados à causa de neoplasias malignas em animais e no homem. Alguns deles como os adenovírus causam tumores apenas em animais de laboratório e outros, como o vírus do papiloma bovino, provocam neoplasias benignas e malignas no seu hospedeiro natural. Os vírus de DNA transformantes formam associações estáveis com o genoma da célula hospedeira. Esse vírus integrado é incapaz de completar seu ciclo de replicação porque seus genes essenciais para completar seu ciclo de replicação são interrompidos durante a integração do DNA viral. Os genes virais que são transcritos precocemente (genes iniciais) no ciclo de vida do vírus são importantes para a transformação, sendo expressos na célula transformada. Assim, por exemplo, análises moleculares de carcinomas e verrugas benignas por HPV (vírus do papiloma humano), revelam diferenças que podem ser pertinentes para a atividade de transformação desses vírus. Nas verrugas e lesões pré-neoplásicas, o genoma do HPV é mantido em forma epissômica (não integrada) ao passo que nos carcinomas o DNA viral, em geral, está integrado ao genoma da célula hospedeira. Isso sugere que a integração do DNA viral é importante para a transformação maligna. Essa integração é randômica, mas o padrão de integração é clonal (local idêntico em todas as células de determinado câncer). O sítio em que o DNA viral é interrompido durante a integração é bastante constante: quase sempre dentro da estrutura de leitura E1 / E2 do genoma viral (a região E 2 do DNA viral normalmente reprime a transcrição dos genes virais E6 e E7 e sua interrupção leva a superexpressão de proteína E6 eE 7). Proteína E 6 ligase ao p53 facilitando sua degradação e a proteína E7 liga-se à forma fosforilada da proteína Rb supressora de tumor, deslocando os fatores de transcrição E2 normalmente ligados pela proteína Rb. A cotransfecção com gene trasmutado resulta em transformação maligna completa. Dessa forma provavelmente a infecção por HPV atue como evento iniciador, sendo a ocorrência de mutação somática essencial para a transformação maligna, como, por exemplo, a presença de infecções microbianas coexistentes, deficiência protéico, alterações hormonais. Biológico, São Paulo, v.71, n.1, p.21-27, jan./jun., 2009 Vírus oncogênicos em animais. No homem, o HBV pode causar hepatocarcinoma e seu DNA está integrado no DNA da célula hospedeira com inserções também clonais. Entretanto, o genoma do HBV não codifica qualquer oncoproteína e também não tem um padrão consistente de integração na vizinhança de qualquer proto-oncogene. Assim, acredita-se que o efeito do HBV seja indireto e possivelmente multifatorial: a lesão crônica dos hepatócitos e a hiperplasia regenerativa pelo HBV podem levar ao aparecimento de mutações espontâneas ou podem ser provocadas por agentes ambientais, como aflatoxina na dieta. Além disso, o HBV codifica um elemento regulador, a proteína Hbx, que desorganiza o controle normal de crescimento de hepatócitos infectados por provocar a transcrição de vários genes promotores de crescimento como o fator de crescimento insulina II. A proteína Hbx liga-se a p53 e assim parece interferir na sua atividade de supressor de tumor. HERPES (O mais importante oncogênico dos vírus DNA). Associa-se com Carcinomas uterinos e de cérvix (Herpes II), com o Carcinoma nasofaringeano e com o Linfoma de Burkitt (Vírus de Epstein-Barr/da Mononucleose infecciosa), com a “Doença de MAREK” (“Herpes Virus of Turkey” /vacinação profilática que não protege contra a infecção, mas sim contra a formação da neoplasia), com o “Adenocarcinoma renal de rãs de LUCKÉ” (único exemplo de vírus oncogênico dependente de temperatura/ no inverno o tumor não cresce, mas produz vírus; enquanto que no verão o tumor cresce mas não produz vírus). PAPOVA (Papilomas/cães, bovinos, homem? Poliomas/infecções inaparentes em camundongos adultos e neoplasias em recém nascidos; Vacuoloma/ Símio Vacuolizante 40 - obtido de culturas de células renais de macacos Rhesus ocasionando sarcomas em hamster recém nascido). Podem ocasionar: a)Infecção produtiva com lise celular; b)Transformação ou iniciação (inserção do DNA viral no genoma celular ocasionando perda do controle do crescimento celular). ADENOVIRUS - Tumores produzidos somente em condições de laboratório. Fig. 3 - Desenho esquemático do retrovírus (www. opusgay.org/HIV-DST.html). Fig. 4 - Jaguatirica (Leopardus pardalis) com carcinoma escamoso invasivo. Inicialmente, constatou-se midríase, com protusão de terceira pálpebra no olho direito, pupila não responsiva e reflexo palpebral quase ausente. Observou-se, também, início de úlcera córnea por menor lubrificação, ausência de reflexo da orelha direita e uma tumefação de coloração rósea, 3 x 1,5 cm, na entrada do canal auricular direito, com perfurações e ulcerações da mesma tonalidade na face interna do pavilhão auricular direito. VÍRUS ONCOGÊNICOS DE RNA Os vírus da subfamília Oncoviridae são os principais agentes de leucemia (leucose) e linfomas em muitas espécies animais como bovinos, felinos, símios, murinos e aves (Fig. 5). Esses retrovírus agrupam-se em diferentes gêneros, mas o gênero mais numeroso é o com vírus de morfologia tipo C e, também, o com maior envolvimento na tumorigênese (LOWER, 1999). Fig. 5 - Leucose bovina na forma enzoótica: hipertrofia muito acentuada do linfonodo pré-escapular e de um linfonodo subcutâneo sobre a escápula. Biológico, São Paulo, v.71, n.1, p.21-27, jan./jun., 2009 23 24 A.M.C.R.P.F.M. Martins; M.H.B. Catroxo Quadro 1 - Retrovirus exógenos. Gênero Subgrupo 1. Alphavirus Espécie ALV (vírus da leucose aviária) 2.Betavirus vírus tipo B vírus tipo D MMTV(v.do tumor mamário em camundongo) MPMV (v. Mason Pfizer de macaco) SRV (retrovírus símio) JSRV (retrovírus Jaagsiekte em carneiro) ENTV(v.enzóotico tumor nasal em carneiros 3.Gammavirus vírus tipo C(mamíferos) MuLV (v. leucemia murina) GaLV (v. leucemia macaco Gibão) FeLV(v. leucemia felina) REV (v. da reticuloendoteliose) 4.Deltaretrovirus vírus linfotrópicos( célula T) em primatas HTLV (v. linfoc cel T homem) STLV (v. linfoc cel T símio) BLV (v. leucose bovina) 5. Lentivirus vírus da imunodeficiência Lentivirus ungulados 6. Spumavirus HIV (v. imunodeficiência humana) SIV (v. imunodeficiência símio) FIV (v. imunodeficiência felina) BIV (v. imunodeficiência bovina) MVV (v. Maedi Viana) CAEV (v. da encefalite artrite caprinos) EIAV (v. anemia infecciosa eqüina) SFV (v. foamy(espumante) símio) FFV (v. foamy(espumante) felina) BFV (v. foamy(espumante) bovina) EFV (v. foamy(espumante) eqüina) Retrovírus defeituosos e não defeituosos Retrovírus endógeno não defeituoso típico contém 2 cópias idênticas de uma molécula de RNA e cada uma delas contem 3 genes: GAG ( codifica as 4 proteínas nucleares ), pol (codifica a única polimerase vírica ativa: transcriptase reversa) e env (codifica 2 glicoproteínas do envoltório) (Fig. 3) (ASCH, 1999). Retrovírus exógeno transformante rápido contém um 4o gene, onc. Como esse oncogene se incorpora no RNA viral ocupando parte de um ou mais genes virais normais, o genoma resultante será defeituoso e, portanto, para que ocorra sua replicação há necessidade de retrovírus cooperadores não defeituosos. Exceção é o vírus do sarcoma de Rous, muito usado em experimentos clássicos. Seu genoma é atípico porque contém um oncogene viral (v-onc) e cópias completas de todos os outros genes retrovirais (gag, pol e env). RETROVÍRUS ENDÓGENOS E EXÓGENOS Retrovírus endógeno : uma cópia DNA completa do genoma (provírus), em determinadas situações, em muitas espécies de retrovírus, pode ser transmitida ao DNA da linhagem germinal materna à prole por herança mendeliana. Perpetua-se, assim, esse DNA em todas as células de um indivíduo, em algumas espécies de vertebrados (P ALMARINI , 2000). Ex retrovírus PERV-A e PERV-B em suínos ( F ISCHER et al ., 2001; IRGANG et al ., 2005). Esses genomas provirais são controlados pelos genes reguladores das células e normalmente são silenciosos devido a mutações, deleções ou transposições. Segundo BLAISE et al. (2003), sequências endógenas de retrovírus representam 8% do genoma humano. Sugere-se que esses provírus possam ser ativados por diversos fatores como radiações, exposição a substâncias químicas mutagênicas ou carcinogênicas, hormônios etc. Retrovírus exógeno: retrovírus com comportamento infeccioso típico, disseminando-se horizontalmente por contacto(PALMARINI, 1999). Muitos retrovírus exógenos são recombinantes produzidos em laboratório ou por co-infecção casual de um animal, não se encontrando como provírus endógeno na natureza (Quadro 1). Biológico, São Paulo, v.71, n.1, p.21-27, jan./jun., 2009 Vírus oncogênicos em animais. Tumorigenicidade Muitos dos retrovírus endógenos não produzem enfermidade, não transformam células em cultura, não contendo oncogene em seu genoma, mas podem ser ativados, eventualmente, sob determinadas circunstâncias estressantes, como citado anteriormente. Ao contrário, a maioria dos retrovírus exógenos é tumorigênica, induzindo leucemias, linfomas, sarcomas, carcinomas com predileção por determinada célula. São vírus transformantes rápidos ou lentos. Os retrovírus transformantes rápidos, como vírus do sarcoma de Rous, contêm em seu genoma um oncogene viral (v-onc). Os transformantes lentos não contêm oncogenes virais, mas podem induzir leucemias Célula T, B ou mielóides, como por ex, a leucose aviária, viremia por toda a vida da ave, sem manifestar a doença normalmente (HOWARD, 1996). Transposição: Transposição de c-onc pode levar a um aumento de sua expressão se sob controle de fortes elementos potenciadores e promotores. Ex. Translocação do 8:14 no linfoma de Burkitt. Assim a justaposição do c-myc com genes da Ig e c-myc passa a ficar sob controle de potentes promotores da Ig. Amplificação gênica: Aumento do número de cópias de um c-onc leva a um aumento da proteína expressa por esse gene. Mutação: Mutação do c-onc, por ex, c-ras, aumenta a função da proteína codificada. Essas mutações podem ocorrer in situ sob influência de carcinógenos químicos e físicos e pela recombinação com o DNA dos retrovírus. Oncogenes (CONTRAN et al., 1999) A proteína codificada por esses genes é necessária e suficiente para a inicialização e manutenção da transformação. Não são necessárias para a replicação viral. Na verdade, forma-se a partir de um gene c-onc (proto-oncogene) que se incorporou acidentalmente por recombinação com o genoma viral. Existem +/- 20 c-onc com papel fundamental na divisão e diferenciação normais da célula. Provavelmente um v-onc dos retrovírus derivou dos c-onc durante a recombinação do DNA provírus e DNA celular. A) Anormalidades da membrana plasmática 1. Aumento do transporte de metabólitos. 2.Formação de numerosas bolhas na membrana plasmática. 3.Aumento da mobilidade das proteínas da membrana plasmática. Transdução de um oncogene por retrovírus O gene c-onc adquirido por recombinação passa a fazer parte do genoma viral como v-onc. Posteriormente, com a integração do provírus no genoma celular, observa-se alta taxa de mutação pontual, deleção e várias redistribuições (portanto o v-onc difere de seu progenitor c-onc codificando proteínas diferentes). Quando posteriormente se insere no genoma de outra célula, o v-onc é controlado por poderosos promotores e potenciadores do LTR (repetições terminais longas). Ativação de um oncogene celular O c-onc é responsável por algumas transformações, por ex, por sua hiperexpressividade ou expressão inadequada. Essa expressão anômala ocorre por diferentes vias: Mutagênese insercional: integraçãodeumprovírus com seus potentes elementos promotores e potenciadores próximo a um c-onc. Isso leva a um aumento da expressão do c-onc. Ex. vírus da leucemia aviária, carentes de v-onc mas com LTR ativando o c-onc. Algumas mudanças comuns observadas em cultura celular quando transfectas por vírus oncogênicos (http://pathmicro.med.sc.edu/lecture/RETRO. HTM) B) Anormalidades na aderência 1. Diminuição da aderência de superfície e assim as células tornam-se arredondadas. 2. Falha dos filamentos de actina em organizar -se em fibras tensionáveis. 3. Diminuição do envoltório externo de fibronectina. 4. Alta produção de ativadores de plasminogênio que leva a um aumento da proteólise extracelular. C) Anormalidades na proliferação e divisão celular 1. Taxa alta de proliferação celular levando a alta densidade celular. 2. Baixa necessidade de fatores de crescimento. 3. Perda de ancoragem (células proliferam sem necessidade de superfície rígida). 4. Imortais (células proliferam indefinidamente). 5. Injetadas em animais susceptíveis provoca o aparecimento de tumores. Características ultraestruturais: As alterações subcelulares mais frequentes nas neoplasias são: 1. Aumento do sistema de microfilamentos e microtúbulos, o que permitirá maior mobilidade, maior maleabilidade e maior adaptabilidade à membrana celular dos oncócitos, facilitando as alterações de membrana (aumentando a captação de nutrientes) (e modificando os antígenos de superfície - “neo-Ag” e Ag fetais) e diminuindo os desmossomos (diminuindo as estruturas juncionais, diminuem também a coesão entre os oncócitos). 2. Diminuição do Retículo endoplasmático (com diminuição da capacidade Biológico, São Paulo, v.71, n.1, p.21-27, jan./jun., 2009 25 26 A.M.C.R.P.F.M. Martins; M.H.B. Catroxo de síntese protéica/ explicando, assim a redução da capacidade funcional da célula). 3.Aumento dos ribossomos livres. 4.Diminuição das mitocôndrias, dos lisossomos e do complexo de Golgi. 5.Diminuição dos componentes glicoproteícos de alto peso molecular. 6. Aumento da eletronegati-vidade da superfície celular. Alterações bioquímicas gerais Aparentemente pouco significativas e pouco características, as alterações bioquímicas podem ocorrer na constituição celular ou podem acarretar o aparecimento de enzimas anormais. Na constituição celular: 1. Diminuição da amplitude enzimática (ocorrendo simplificação no metabolismo pós-diferenciação, com diminuição das enzimas normais e aparecimento de enzimas anormais). 2. Aumento do teor hídrico celular (epiteliomas, sarcomas). 3. Diminuição do pH (devido ao aumento da glicólise e da síntese de ácido láctico, secundários à diminuição das mitocôndrias). 4. Aumento da concentração de potássio celular. 5. Diminuição da concentração de Ca +2 e Fe (aumentando a eletronegatividade celular e diminuindo a adesão entre as células). 6. Diminuição da glicose celular, por aumento da rapidez de sua metabolização (glicoquinases e aldolases insensíveis à ingestão de carbohidratos e à liberação de insulina). 7. Diminuição do teor de aminoácidos intracelulares, ainda que a captação esteja extremamente incrementada (ação espoliativa da neoplasia) (ocorre síntese de novos antígenos, de proteínas virais, e de enzimas anormais). 8. Aumento do colesterol (muitas vezes tão somente pela maior extensão das necroses). Aparecimento de enzimas anormais: Explica as alterações no metabolismo energético, as alterações no metabolismo protílico (com síntese de neo-Ag/ alterações antigênicas, e/ou com síntese de hormônios polipeptídeos e somatomedinas/ síndromes paraneoplásicas). De acordo com a morfologia vírica à M.E., os RNA vírus são classificados em: ! Partículas tipo A - associadas às neoplasias de camundongos, ! Partículas tipo B - associados às neoplasias mamárias (MuMTV) ! Partículas tipo C - associadas aos linfossarcomas e leucemias em galinhas, camundongos, gatos, bovinos e macacos. (Leucose aviaria, Vírus do Sarcoma de Rous, Leucose Murina, Leucose Felina, HTLV-1/ Human T-Cell Leukemia Virus). Diferentemente do que ocorre com os DNA vírus, a célula parasitada por um RNA oncogênico é simultaneamente transformada em oncócito ao tempo em que age como fonte de produção de novos vírions. Existem muitas controvérsias na subclassificação dos RNA vírus, porém são citadas como famílias de importância oncogênica os leucovírus, os oncornavírus e os retrovírus (assim chamados por causa da transcriptase reversa ou Polimerase de DNA dependente em RNA, que faz uma cópia DNA/ “Pró vírus” do RNA vírico e o insere no genoma da célula hospedeira). Importante salientar que todos os oncornavírus são retrovírus, mas nem todos retrovírus são oncornavírus. REFERÊNCIAS ASCH, B.B. Tumor viruses and endogenous retrotransposons in mammary tumorigenesis. Trends in Microbiology, v.7, n.9, p.350-356, 1999. BLAISE, S.; DE PARSEVAL, N.; BENIT, L.; HEIDMANN, T. Genomewide screening for fusogenic human endogenous retrovirus envelopes identifies syncytin 2, a gene conserved on primate evolution. 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