uma reflexão sobre o conteúdo gramatical da apostila - PLE

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UMA REFLEXÃO SOBRE O CONTEÚDO
APOSTILA DO GRUPO EXPOENTE
GRAMATICAL
DA
Shirley Cristiane CINTRA (PG-UEM)
Marilurdes ZANINI (UEM)
ISBN: 978-85-99680-05-6
REFERÊNCIA:
CINTRA, Shirley Cristiane; ZANINI, Marilurdes.
Uma reflexão sobre o conteúdo gramatical da
apostila do Grupo Expoente. In: CELLI –
COLÓQUIO DE ESTUDOS LINGUÍSTICOS E
LITERÁRIOS. 3, 2007, Maringá. Anais... Maringá,
2009, p. 2089-2102.
1 – INTRODUÇÃO
Há muito se discute sobre o ensino Gramatical apresentado pelos livros
didáticos, alguns pesquisadores afirmam que seu uso indevido torna os professores
dependentes, as aulas mecânicas e os alunos presos a uma espécie de círculo vicioso;
cujo se entende que determinado conteúdo acabou quando a apostila também acabou.
Além disso, em muitas vezes, o livro acaba assumindo uma dimensão de importância
maior que a própria aula, isto é, ela acaba sendo preparada de acordo com o livro e não
o contrário, segundo BRITO (1997: 255):
(...) O livro didático deixou de ser apenas um instrumento auxiliar, de
natureza enciclopédica, à prática pedagógica, para tornar-se modelo de
ensino, que pressupõe uma concepção específica de construção do
conhecimento e uma determinada forma de relação com a informação.
Ou seja, há uma espécie de inversão de papeis, e o material deixa de ser um
apoio, para se tornar o objeto central de ensino.Dentro deste contexto, e, já que somos
professores desta área, torna-se imprescindível verificar se o conteúdo gramatical
apresentado pelos livros e apostilas oferece condições e métodos capazes de levar o
aluno a compreender melhor seu ensino e sua relação com a língua, aperfeiçoando
assim, sua habilidade em leitura, produção textual e análise lingüística.
Portanto, já que usamos o livro didático como base para o ensino gramatical em
sala de aula, nossa proposta é analisar o conteúdo gramatical de quatro apostilas de
Língua Portuguesa do Grupo Expoente, dirigidas à 5ª série do ensino fundamental do
ano de 2006. Assim, a análise compreenderá a proposta pedagógica, os conteúdos
2089
apresentados e, principalmente, como seus exercícios gramaticais são cobrados,
verificando assim o efetivo tratamento dado ao ensino de gramática. Para tanto,
lançamos mão de um arcabouço teórico e levamos em consideração nossa experiência
em sala de aula com esse material.
2- CONTEXTUALIZAÇÃO E DESCRIÇÃO DO MATERIAL ANALISADO
A apostila analisada neste trabalho é adotada em uma instituição de ensino
particular localizada na cidade de Umuarama – Paraná, que abrange desde a Educação
Infantil até o Ensino Fundamental. Todas as séries têm como base para o trabalho em
sala de aula o material do Grupo Expoente, que é adquirido pelos alunos na própria
instituição a um custo bimestral de R$ 80,00 (oitenta reais). O material apresenta-se
dividido em quatro apostilas, sendo uma para cada bimestre e todas são compostas pelas
disciplinas da grade curricular determinada pela Secretaria da Educação, tendo os
conteúdos subdivididos em unidades de trabalho. Com relação ao Ensino de Língua
Portuguesa, neste livro e na escola em questão, ele é o único material exigido aos
alunos, ou seja, não há a solicitação de gramáticas e afins. Salientando que todas as
atividades propostas pela apostila devem ser cumpridas, caso contrário, pode haver
atritos com a direção, a coordenação e, principalmente, os pais dos alunos.
3. CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS E ANÁLISE
O nosso corpus de análise é composto por quatro apostilas, cujo cada uma
corresponde a um bimestre. A primeira página de cada apostila é composta pelo
sumário, e não há uma apresentação do material, muito menos uma proposta
pedagógica, logo, não há como saber, através do próprio livro, em que teoria o mesmo
foi fundamentado. Assim, a mesma foi conseguida através de uma pesquisa no site da
própria editora – www.expoente.com.br – no qual trouxe uma apresentação da proposta
e da apostila: “O material didático Expoente atende às especificações da LDBEN
9394/96, às diretrizes curriculares nacionais, aos PCNs e aos RCNEI, além de pautar-se
em uma proposta construtivista-interacionista”. Quanto aos conteúdos, a mesma
proposta traz a seguinte colocação:
O material de 5ª a 8ª série já está formulado dentro dos indicadores e
referenciais dos Parâmetros Curriculares Nacionais, seguindo as
últimas tendências pedagógicas, as necessidades de mercado e os
critérios
de
qualidade
e
aprimoramento
técnico.
(2007:www.expoente.com.br)
Em seguida a apresentação traz uma seqüência das disciplinas oferecidas pelas
apostilas e se encerra sem maiores comentários. Isto é, não cita em nenhum momento as
particularidades de cada disciplina, logo, cabe a nós analisarmos e verificarmos se estas
atendem às propostas curriculares das entidades citadas acima.
2090
3.1 Descrição e análise dos conteúdos
3.1.1 Apostila do 1º Bimestre
Iniciaremos a análise com a apostila 1, ou seja, a apostila do 1º Bimestre, que
possui 79 páginas e quatro unidades sobre a parte gramatical e mais quatro unidades
separadas trazendo “Oficina de Texto”. A primeira unidade desta apostila, ou seja, a
unidade 1, traz como atividade inicial um texto e seus respectivos exercícios de
interpretação, como o objeto de nossa pesquisa é apenas a parte gramatical, não nos
atentaremos a questão textual, que ocupa as seis primeiras páginas e, em seguida, na
página 7, inicia-se o espaço de exercícios gramaticais denominado “Analisando a
Linguagem”, no qual apresenta exercícios gramaticais. Esta seção ocupa três páginas –
7, 8 e 9 –, e traz as mais variadas atividades, o que não seria um problema se estas já
fossem de domínio dos alunos, o que não ocorre até o presente momento, pois estamos
falando de alunos de uma 5ª série, em pleno 1º Bimestre, ou seja, acabaram de sair do
Ensino Primário e, já na sétima página da apostila, encontram uma variedade de
conteúdos gramaticais a serem analisados. Conteúdos que esta apostila ainda não
trabalhou até o momento, como “Substantivo” e “Artigo” , conforme EXPOENTE
(2006:7):
Leia com atenção a seguinte frase:
01 A vida na Terra é um rio que começou a correr há três bilhões e
meio de anos.
Agora, faça o que se pede.
a.
Sublinhe os substantivos.
b.
Circule os artigos.
c.
Faça uma flecha que indique a que substantivos os artigos se
referem.
01. Explique a diferença de significado entre a expressão um rio
(exercício 01) e o rio na seguinte frase: O rio corta a cidade de norte a
sul.
02. Reescreva as frases, transformando as palavras em destaque em
substantivos. Faça as adaptações necessárias.
a.
Que belo planeta!
b.
Vimos o meteorito aproximar-se.
c.
Que cientista inteligente!
A apostila explana estes conteúdos apenas na página 11, em um espaço chamado
“Síntese Gramatical”, EXPOENTE (2006:11):
Substantivo
Substantivo é a palavra que dá nome aos seres em geral, isto é,
pessoas, animais, vegetais, objetos, ações, sentimentos e estados.
É classificado em:

comum (planeta) e próprio (Marte)

concreto (chimpanzés) e abstrato (inteligência)

simples (homem) e composto (extraterrestre)
2091

primitivo (América) e derivado (americana)

Coletivo (multidão
O substantivo apresenta três flexões:

gênero – masculino ou feminino (o menino a menina);

número – singular e plural (os meninos as meninas);

grau – aumentativo e diminutivo (problemão e probleminha).
Artigo
Artigo é a palavra que antecede o substantivo e concorda com seu
gênero e número, insividualizando-o ou generalizando-o.
Os artigos são classificados em:

Definidos - individualizam o substantivo (o, a, os, as);

Indefinidos - generalizam o substantivo (um, uma, uns, umas).
O outro conteúdo cobrado na mesma página de exercícios são “Adjetivos”,
como podemos perceber nos exercícios 04, 05 e 06, EXPOENTE (2006:7):
04 Classifique, segundo a morfologia (classe de palavras), as
seguintes palavras: belo, aproximar-se e inteligente.
05 O que você pode observar comparando os exercícios 03 e 04, no
que se refere à classificação morfológica das palavras? Discuta com o
seu professor e, depois, registre a sua resposta.
06 Por que o autor utiliza poucos adjetivos no texto “E o homem
povoou a Terra...?”(...)
Também verbos, como nos exercícios 10, 11, 12, EXPOENTE (2006:7):
10. Sublinhe os verbos da oração a seguir.
A poeira levantada e os vulcões que entraram em atividade como
conseqüência do impacto, poluíram tanto a atmosfera que a Terra
ficou no escuro e os dinossauros foram extintos, para azar deles.
11. O tempo verbal predominante no texto é o pretérito perfeito. Por
quê?
12. Reescreva as frases a seguir, passando os verbos para os tempos
indicados entre parênteses.
a. Araguarinha e Ponte Branca ficam dentro da cratera. (pretérito
perfeito do indicativo).
b. Pouca gente sabe disso.(pretérito imperfeito do indicativo)
c. As informações sobre a queda do meteoro ficam restritas à
comunidade científica (futuro do pretérito do indicativo)
(...)
E ainda Acentuação Gráfica e Ortografia como nos exercícios 15, 16 e 17 da
mesma seqüência de exercícios, EXPOENTE (2006:9):
15. Compare as seguintes palavras: milésimo – órbita – México
O que elas têm em comum quanto à acentuação?
Formule junto com seus colegas a regra de acentuação dessas
palavras.
16. Por que a palavra em destaque foi acentuada na frase a seguir?
“Os chimpanzés têm uma inteligência bem parecida com a nossa.”
17. Escreva uma frase em que o verbo ter não seja acentuado. (...)
2092
Ou seja, em três páginas de exercícios, foram abordados os conteúdos:
Substantivo, Artigo, Adjetivo, Verbo e Acentuação. Cinco assuntos que, até aquele
momento, não haviam sido tratados pela própria apostila.
E apenas na página 19, a apostila traz novamente o espaço “Síntese Gramatical”
com conteúdo “Adjetivo”. O que mais uma vez apresenta problemas, pois a explicação
é simplesmente pífia, EXPOENTE (2006:19):
Adjetivo
Adjetivo é a palavra que atribui uma característica, uma qualidade ou
um estado aos seres.
Gato pirado
História Embrulhada
Dona Chica nervosa
Os Adjetivos assim como os Substantivos, podem ser classificados
quanto à sua formação em:

primitivo (bom) derivado (bondoso)

simples (azul) composto (azul-escuro)
Ressalta-se aqui que embora o conteúdo acima seja ilustrado apenas na página
19, ele já é cobrado nas páginas anteriores até com maior profundidade, EXPOENTE
(2006: 6-7):
06.Identifique as locuções adjetivas das frases a seguir. Depois,
escreva-as nas linhas e, quando possível, indique o adjetivo
correspondente.
07
Os artistas de circo vivem muitas coisas diferentes.
08
É o palhaço que convida as crianças para fazerem um show de
ilusionismo.
09
Não existe dinheiro no mundo que pague a alegria do público.
10
Já fiz o show do globo da morte por quinze anos.
d.
Escreva uma frase que contenha uma locução adjetiva.
(...)
Porém, “Locução Adjetiva e Adjetivo Pátrio” são tratados apenas nas páginas
31, 32 e 33 que, aliás, compartilham o mesmo espaço com os conteúdos “Numeral,
Sinais de Pontuação e Emprego de iniciais em maiúscula”, ou seja, vários conteúdos
diferentes para um mesmo espaço, com explicações no mínimo descontextualizadas.
Como é o caso do conteúdo Adjetivo Pátrio, EXPOENTE (2006:31):
Adjetivo Pátrio
Adjetivo Pátrio é aquele que indica a nacionalidade ou o lugar de
origem do ser a que se refere.
indiano – Índia, brasileiro – Brasil, goianense – Goiânia, (...)
Sem contar os exercícios sobre conteúdos que sequer serão tratados nesta
apostila, como “Pronomes” no exercício 02, EXPOENTE (2006:27)
2093
02. Você já sabe que os pronomes pessoais são empregados para
evitar a repetição de palavras em um texto. Que palavras os pronomes
em destaque substituem nas frases?
a. “...me apresento para uma média diária de 2 500 pessoas...”
b. “Ele é uma das atrações do espetáculo Quidam...”
c. “Elas chegaram a ser rejeitadas pelos circos tradicionais no Brasil”.
Cada unidade da apostila apresenta Interpretação Textual e Conteúdos
Gramaticais, assim, o último conteúdo a ser tratado pela mesma é “Acentuação” e
novamente “Pontuação”, mas desta vez tratando apenas sobre “Reticências”,
“Travessão” e das palavras monossílabas, EXPOENTE (2006:45):
Reticências (...)
São usadas para:

sugerir que o leitor complete a idéia que alguém começou a
expressar;
Na terra os homens sonham, os homens vivem sonhando...

indicar interrupção na frase, em conseqüência de dúvida,
indecisão ou surpresa do falante.
Porque...não sei porque...porque é meu destino
Travessão
É usado:
* nos diálogos, para indicar que será apresentada a fala de outro
personagem;
_ Há tempo de colher e de plantar, disse a mãe.
_ Mas...os frutos não se cansam de esperar?
_ Por ser sábia a Natureza, minha filha, ela não se cansa, e o tempo é
seu aliado.

para pôr em evidência palavras, expressões e frases.
Vimos um homem – um mendigo, decerto – sentado na calçada.
Acentuação
Acentuam-se graficamente os monossílabos tônicos terminados em:

a (s) – cá, más, pás, vá;

e (s) – vê, ré, fé;

o (s) – dó, cós, vós.
Desse modo, a parte gramatical da apostila se encerra. Diga-se parte gramatical,
pois se inicia, em seguida, na página 49, a parte denominada “Oficina de Texto”, cujo
compreende mais quatro unidades sobre produção textual. Isto é, “Produção Textual” e
“Gramática” são tratados como conteúdos distintos.
Portanto, ao fim desta primeira descrição e análise, pode-se constatar que,
primeiro, a apostila não traz orientações pedagógicas para seu uso, bem como não traz
em seu corpus nenhuma espécie de apresentação de sua proposta, logo, não há nenhuma
orientação para que se justifique essa espécie de “vai-e-vem” de conteúdos, ou mesmo
esta “divisão de águas” entre a produção textual e gramática.
3.1.2 Apostila do 2º Bimestre
2094
A apostila do 2º Bimestre, a exemplo da anterior, também se inicia com textos, e
suas dez primeiras páginas também são compostas por exercícios de interpretação.
Então a página 11 inicia a parte gramatical com exercícios que, também tratam sobre
conteúdos ainda não vistos nesta apostila e nem no primeiro bimestre. Como o exercício
8, que trata sobre verbos, EXPOENTE (2006:11):
(...) 08. Escreva as palavras com as quais os verbos destacados estão
concordando.
a. As borboletas brasileiras enfrentavam um problema nas cidades.
b. Quando o homem derruba árvores, está destruindo os abrigos e os
alimentos desses insetos. (...)
c. Os grupos de borboletas que vivem melhor são os que se
alimentam de flores e vivem naturalmente em áreas abertas, como os
campos.
d. A maior parte das plantas presentes nas ruas, usadas para
arborização, é “estrangeira”.(...)
E como os exercícios 13 e 15 que tratam sobre “Pronomes Indefinidos”:
13. No trecho a seguir, identifique as conjugações a que pertencem os
verbos em destaque.
a. Deve-se lembrar que, quando saem dos ovos, as borboletas são
lagartas, que não têm asas, totalmente diferentes dos adultos.(...)
15. Os pronomes indefinidos se referem à terceira pessoa do
discurso, designando-a de modo vago, imrpeciso, indeterminado.
Exemplos: algo, alguém, nada, ninguém, tudo, cada, certo, algum,
nenhum, outro, todo, muito, etc.
Retire do sétimo parágrafo dois pronomes indefinidos.
Neste momento faremos uma observação sobre os exercícios: Afinal, estariam
eles, até o presente momento, levando o aluno a uma reflexão sobre a língua? Ou estes
exercícios estariam servindo apenas para uma cansativa repetição da regra, como o
exercício 04, da página 29, EXPOENTE (2006:29):
04. Escolha um verbo regular da 1ª conjugação e conjugue-o nos
tempos presente, pretérito imperfeito e futuro do subjuntivo. Se
necessário, consulte a “Síntese Gramatical” desta unidade.
(...)
Ou o exercício 9 da página 30:
09.Retire do texto duas frases que exemplifiquem essa regra
gramatical.
O exercício 13 da página 3, EXPOENTE (2006:31):
13. Retire do texto uma frase que apresente um:
a. pronome pessoal do caro reto;
b. pronome demonstrativo;
c. pronome possessivo;
d. pronome pessoal do caso oblíquo.
2095
Mais adiante, na página 39, volta-se a tratar sobre verbos, o que ocupa duas
páginas e em seguida, já na página 41, a apostila já aborda outro conteúdo: “Pronome”.
Seria possível prever a confusão na cabeça de um aluno de 5ª série?
E embora as unidades 3 e 4 voltem com o assunto “Verbos”, não há maior
profundidade sobre eles, visto que são abordados apenas seus aspectos conjugais.
Porém, nas páginas 67, 68, 69, 70 e 71, há exercícios com outras abordagens, como
“Verbos Auxiliares”, EXPOENTE (2006:67):
09. Escreva frases com os verbos auxiliares: ser, estar, ter e haver,
formando locuções verbais com outros verbos que você escolher.
A apostila ainda ressalta: “outros verbos que você pode escolher”. Mas que
verbos? Será que os alunos possuem um conhecimento implícito sobre verbos
auxiliares?
E mais uma vez a apostila encerra a parte gramatical e inicia a “Oficina de
Texto”.
3.1.3 Apostila do 3º Bimestre
Como as já citadas, esta também se inicia com textos e apenas na página 25, traz
o conteúdo “Advérbios”, na 26 “Pronomes Indefinidos” e “Pronomes Interrogativos”.
Do mesmo modo que as demais, já na página 12, 13, 14, 15, 16 e 17, há
exercícios gramaticais sobre estes conteúdos, bem como sobre conteúdos que sequer
serão tratados neste bimestre, como “Interjeição” no exercício 02, da página 12,
EXPOENTE (2006:12):
02. O que a palavra oba está expressando em : “Oba! Oba! Sábado é
dia de cinema”? Qual é a sua classificação morfológica?
03. Retire do texto um exemplo de frase:
Declarativa: ___________________________________________
Interrogativa:___________________________________________
Exclamativa:___________________________________________
O mesmo acontece com o conteúdo Advérbios, na página 15, EXPOENTE
(2006:15):
12. Explique o que o advérbio está modificando.
a.
“A polícia ou os bombeiros quase sempre chegam atrasados.”
b.
“(...) o que não faltou foi o movimento (...)”
c.
“(...) apareceu nas telas um personagem bem popular (...)”
13. Identifique e classifique os advérbios das frases abaixo.
a. É sempre uma ocasião de gritar, sentir medo e rir, rir muito.
a.
No primeiro filme o que não faltou foi movimento.
b.
Pouco tempo depois, surgiram os grandes estúdios.
(...)
2096
A unidade 2 traz textos até sua penúltima página, então, na última, ela aborda:
Acentuação Gráfica. Note-se que ela já trouxe este assunto no primeiro bimestre, passou
o segundo bimestre inteiro sem sequer citá-lo e agora o retoma.
E, novamente, na página 41, mais um, dos vários exercícios, que não
proporcionam nada além de uma atividade cansativa de repetição da regra, EXPOENTE
(2006:41):
11. Consulte a síntese gramatical desta unidade e retire do texto “A
Poesia na Narrativa Garantindo o Conhecimento” um exemplo para
cada tipo de regra. No caso de você não encontrar alguma palavra que
exemplifique uma regra procure-a no dicionário.
Proparoxítona: ___________________________________________
Paroxítona: ______________________________________________
Oxítona: ________________________________________________
Ditongos abertos: _________________________________________
Hiatos: _________________________________________________
Monossílabos tônicos: _____________________________________
É interessante observar esta colocação da apostila: “No caso de você não
encontrar alguma palavra que exemplifique uma regra procure-a no dicionário”. Ou
seja, a apostila já prevê isso? Ou não tem certeza e por isso faz esta sugestão? Como se
o aluno, apenas com a síntese gramatical, fosse capaz de dominar estas regras. Neste
momento, iremos ressaltar que a página seguinte traz um poema, sem a menor
contextualização, e faz uma observação: “orientações para o professor no final do
volume” EXPOENTE (2006:48).
O que até seria muito conveniente. Mas no final do volume não há esta
orientação, há apenas as referências bibliográficas. Agora ficou confuso até para o
professor.
3.1.4 Apostila do 4º Bimestre
A quarta e última apostila do ano, a apostila do quarto bimestre, do mesmo
modo que as demais, trabalha com textos, com atividades sobre esses textos e em
seguida trata sobre a parte gramatical.
Exercícios cobrados sem que os conteúdos sejam mencionados por esta também
se repetem, como na página 10, a apostila traz a seguinte questão, EXPOENTE
(2006:10):
06. Retire do texto:
a.
Duas frases declarativas: ______________________________
b.
Uma frase interrogativa: ______________________________
Será que o aluno saberia retirar estas frases do texto? Voltamos a ressaltar que
são alunos de uma turma de 5ª série. Será que sem nenhuma explicação antecipada os
mesmos seriam capazes de responder esta questão? Claro, que podemos dizer que os
professores estão em sala para isso. Mas também podemos dizer que nenhum professor
tem condições de trabalhar mais de um conteúdo com eficiência em apenas uma aula. E
do modo como esta apostila traz os exercícios, o professor tem duas escolhas; ou ele
2097
antecipa todos os conteúdos que serão tratados nos exercícios, gastando uma, duas,
enfim, quantas aulas fossem preciso para tratar sobre a variedade gramatical de apenas
uma página de exercícios da apostila. Ou o professor pararia a cada nova questão e
explicaria um conteúdo por vez, aí a turma o faz, em seguida, em outro exercício, o
professor explica outro conteúdo e os alunos resolvem, e assim consecutivamente.
Assim, quem sabe seria preciso mais de um mês só para explicar a primeira unidade da
apostila do primeiro bimestre.
Continuando esta análise, a apostila traz na página 13, outro exercício que se
encaixa em todas as falhas já citadas, EXPOENTE (2007:13):
13. Empregue verbos auxiliares para transformar a voz ativa em
passiva.
a. As lojas vendem iguanas importadas.
b. Esses animais podem transmitir doenças desconhecidas.
c. O vizinho denuncia o dono da iguana.
d. A lei proíbe a compra e a criação de iguanas.
A unidade três inicia com textos, como já se pode prever, e somente na página
63 aborda “Conjunção e Interjeição”, porém a mesma unidade também traz
anteriormente, na página 58, exercícios sobre este conteúdo:
4. Destaque as conjunções nas frases a seguir. Se necessário consulte
a Síntese Gramatical no final da unidade.
a. “Quando a sociedade começou a ficar mais complexa, o pessoal
começou a dividir as tarefas...”
b. “Mas o número de coisas a serem feitas e de pessoas que
precisavam de coisas foi aumentando...”
c. “O ouro e a prata tinham pouco peso, não estragavam e era possível
dividi-los, logo tinham vantagem sobre outros metais.”
d. “O dinheiro foi criado porque facilitava a vida das pessoas”
E logo na página a seguir, 64, ela traz “Concordância Nominal” e “Concordância
Verbal”.
A quarta e última unidade desta apostila, e automaticamente, a última unidade a
ser estudada no ano letivo de 2006, é composta por doze páginas, e nenhuma delas
trabalha com a parte gramatical. Isto é, a unidade 4 inicia-se com um texto com o título
“Teatro feito de Sombras”, traz atividades de interpretação sobre este, em seguida, nas
páginas seguintes, ensina como criar esse teatro. Na seqüência, na página 72, traz mais
um texto sobre o mesmo assunto e na página 73 exercícios também de interpretação
textual. As páginas 74, 75, 76, 77, 78 e 79 também trazem outros textos, mas desta vez
sem exercícios, apenas textos, sem maiores comentários, ou explanações. E a apostila se
finda. É possível entender isso?
Ou seja, por que, de repente, a última unidade da apostila resolveu não abordar
conteúdos gramaticais? Teriam estes esgotados ao longo do ano? Como poderemos
saber? Afinal, não há a menor orientação ou explicação para isso. Talvez caiba ao
professor adivinhar.
3.2 Aspectos Conflitantes
2098
Um dos fatores que consideramos mais contraditórios se refere à apresentação
teórica dos conteúdos, esta, muitas vezes não apresenta progressão, por começar a
abordar um assunto e encerrá-lo em um dado momento, intercalando-o com outro tema
gramatical. E então, mais à frente, ou até mesmo em outra apostila, o assunto primeiro é
retomado, sem, ao menos, estabelecer um vínculo com o conteúdo já visto. Fato que
pôde ser comprovado em vários momentos, como no caso da Acentuação Gráfica, que
foi apresentada na apostila do 1º Bimestre e voltou apenas na apostila do 3º, sem fazer
nenhum elo com o que havia sido dito anteriormente.
Outro aspecto colidente se dá ao embasamento desta apostila, ou seja, o site a
apresenta fundamentada nos PCNS, logo, acredita-se que a mesma obedeça a todos os
critérios, inclusive os referentes à Gramática. E, nesse caso, os PNCS de língua
Portuguesa (BRASIL1998:36) consideram que:
As práticas de linguagem são uma totalidade; não podem, na escola,
ser apresentadas de maneira fragmentada, sob pena de não se tornarem
reconhecíveis e de terem sua aprendizagem inviabilizada.
Ou seja, há um descompasso na informação apresentada pela proposta, pois o
que deveria ocorrer, no caso, uma progressão de conteúdos, não ocorre.
Ainda sobre a proposta pedagógica em Língua Portuguesa, é importante
ressaltar que ela, na verdade, não existe, afinal, o que o site traz, realmente, é uma
proposta ampla sobre todas as disciplinas, ou seja, fala-se da apostila, e não das
disciplinas especificamente.
Mais um fator incoerente se dá aos conteúdos gramaticais e seus exercícios
que, como pudemos perceber durante a análise, parecem apenas preencher espaço, como
se o ensino de gramática fosse apenas parte de um programa escolar, não pretendendo
chegar a lugar algum quanto ao desenvolvimento das habilidades lingüísticas do aluno,
mas unicamente evidenciando a preocupação em visualizar a língua sob o prisma do
código. Situação que contrária ao que rege os PCNS, BRASIL (1998:28):
Assim, não se justifica tratar o ensino gramatical
desarticulado das práticas de linguagem. É o caso, por exemplo, da
gramática que, ensinada de forma descontextualizada, tornou-se
emblemática de um conteúdo estritamente escolar, do tipo que só
serve para ir bem na prova e passar de ano – uma prática pedagógica
que vai da metalíngua para a língua por meio de exemplificação,
exercícios de reconhecimento e memorização de terminologia.
Este fato também já foi comentado, muitos antes dos PCNS aliás, por Benites e
Pazini, “O entendimento de língua como código é responsável pela ocorrência(...) de
conteúdos que só se justificam pela preocupação metalingüística(...)”(BENITES;
PAZINI 1987:27).
Logo, podemos dizer que o modelo de exercício adotado pela apostila é
irregular e ineficiente, e, ao contrário da proposta dos PCNS, eles são cobrados de
forma sistemática e mecânica o que não permite que os alunos reflitam. Ou seja, o aluno
aqui não é capaz de verificar que as regras não servem apenas para serem separadas e
classificadas, mas para construírem uma estrutura de linguagem principalmente escrita.
E, já que aqui os conteúdos gramaticais e a produção textual, são vistos de forma
2099
isolada e embora os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL 199:139) adotem a
concepção de linguagem verbal em seu caráter sócio-interacionista, basicamente
centrada no texto, a relação entre texto e gramática não tem sido bem assimilada por
este material.
Assim, essa dicotomia apresentada pela apostila, que divide a produção textual
da Gramática, de forma que o que gramatical não é textual e o que é textual não é
gramatical, não permite que o indivíduo articule uma seqüência lingüística, para
transformá-la em um texto. Porém, deve-se entender que tudo que é gramatical é textual
e tudo que é textual é gramatical. (TRAVAGLIA 2003:45).
E embora se deva trabalhar com um procedimento interativo, não é o que
ocorre com esse material, pois as atividades gramaticais são apresentadas sem uma
reflexão textual merecida, e dessa forma o aluno não desenvolve as estratégias de
escolha entre uma frase e outra. Sobre esse aspecto, Geraldi (2000:27) considera que:
(...) as ações praticadas com a linguagem são, a cada, passo, ‘ditadas’
pelos objetivos pretendidos, o que pode levar um locutor a representar
de modo distinto uma mesma realidade em função dos interlocutores a
que dirige suas falas ou em função da ação que sobre ele pretende
realizar.
Esse procedimento interativo incide justamente no trabalho com gramática,
porque é ela que promove as habilidades estruturais para a construção de um discurso.
Portanto, embora esta análise se restrinja apenas à parte Gramatical, Produção Textual e
Gramática não são setores distintos, logo, se a gramática não foi ensinada e
desenvolvida de forma eficiente, automaticamente, a interpretação e a produção também
não será.
4 – CONSIDERAÇÕES FINAIS
Muitas vezes a teoria gramatical apresentada por muitos livros didáticos não
corresponde ao ideal de aprendizado que esta deveria oferecer. E nossa experiência em
sala de aula com esse material nos permite dizer que os alunos, muitas vezes, não se
envolvem com as atividades gramaticais propostas e, conseqüentemente não aprendem
o conteúdo gramatical de forma satisfatória.
Em decorrência do exposto, acreditamos que análises centradas apenas no
sistema lingüístico não são suficientes para explicar a língua em seu caráter discursivo,
em suas manifestações lingüísticas, pois só no uso, nas manifestações lingüísticas
cotidianas, que o manejo com a língua/linguagem faz sentido, visto não ser possível
analisar qualquer frase sem considerar o contexto de realização. Sendo assim, não se
pode falar em uso sem se falar em Pragmática, já que “A pragmática estuda a relação
entre a estrutura da linguagem e seu uso” (FIORIN 2003:166).
Por conseguinte, diante de todo material proposto ou determinado para o
trabalho do professor, é preciso adotar uma postura crítica, não o aceitando como uma
verdade absoluta, mas refletir e avaliar qualquer objeto que servirá para o ensinoaprendizagem. Precisamos ter consciência e bom senso para trabalhar com materiais que
nem sempre refletem a melhor maneira de ensino. Apesar de que, em muitos casos, não
é possível alterar o rumo já traçado pela instituição, mas pode-se, ao menos, melhorar a
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situação.Afinal, sabemos da importância dos conteúdos e como os alunos dependem
destes para terem sucesso não só nesta disciplina, mas também nas demais, pois é
através do domínio da língua que se é capaz de interpretar e produzir de forma escrita
ou oral, conhecimentos que farão parte de sua vida escolar e social. Para Mioto
(1995:7):
(...) para que o mundo se torne cada vez mais acessível a sua
compreensão. Aprender a gramática da língua materna é importante
por, pelo menos, um motivo: este aprendizado torna o mundo do
aprendiz menos misterioso à medida que a língua faz parte deste
mundo. Este tipo de conhecimento aparelha, com instrumentos
sofisticados, o aprendiz para novos aprendizados.
Portanto, a gramática tem seu lugar redimensionado na medida em que “passa a
ser um estratégia para a compreensão / interpretação / produção de textos” (BRASIL
1999:139). Logo, a gramática deve ser, assim, apresentada ao aluno como um
mecanismo indispensável de atuação sobre o mundo, uma vez que este é também
construído por textos.
REFERÊNCIAS
BENITES, S. A. L.; PAZINI, M.C.B. O ensino de gramática no 1º grau: relatório de
pesquisa. Maringá: DLE/UEM, 1987
BRASIL. Secretaria de Educação fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais:
terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental: Língua Portuguesa. Brasília:
MEC/SEF, 1998.
BRITO, Luiz Percival Leme. A sombra do caos – ensino de língua x tradição
gramatical. Campinas: Associação de Leitura do Brasil, 1997.
EXPOENTE, Centro de Excelência em Educação. Ensino Fundamental, Língua
Portuguesa, volume 01, 02, 03 e 04, 5ª série. Curitiba: Expoente, 2006.
EXPOENTE, Material Didático. Curitiba, 2006. Disponível em:
< http://www.expoente.com.br/frouvidoria_2.html/> . Acesso em: 18 dez. 2006
FIORIN, J. L. Pragmática. In: FIORIN, J.L. (Org.) Introdução à lingüística II:
Princípio de análise. São Paulo, Contexto, 2003.
GERALDI, João.Wanderley.(Org.) O texto em sala de aula. 4ª ed. São Paulo: Ática,
2000.
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MIOTO, C. Lingüística e ensino de gramática. In: Seminário de Lingüística e Ensino
de Língua Portuguesa: 1, 1994, Porto Alegre. Anais...Porto Alegre:EDIPUCRS, 1995.
PERINI. Mário A. Sofrendo a Gramática. São Paulo: Ática, 2005.
TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Gramática: ensino plural. São Paulo: Cortez, 2003.
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