2011/Prof. Juliano Batista dos Santos e-mail: [email protected] IFMT – Campus Cuiabá Apostila 01 Introdução à Sociologia Capítulo 1 Conhecimentos x Raciocínios Conhecimentos Conhecimentos possíveis Os conhecimentos são classificados em três tipos, a saber: vulgar (senso comum, ingênuo ou espontâneo), científico e filosófico. Vamos à compreensão de cada um deles. Conhecimento vulgar: a expressão do senso comum como saber empírico O cotidiano do homem tem as suas regras e as suas necessidades, histórica e culturalmente determinadas. Nesse diálogo simples e imediato que o homem faz com as coisas, com os outros homens e com o mundo, vai acumulando experiências e um saber generalizante e subjetivo que constitui o senso comum. Destarte, o senso comum caracteriza-se pela espontaneidade e, dessa forma, exprime-se nos hábitos, nas opiniões e na experiência cotidiana. Neste sentido, o senso comum corresponde ao empirismo, uma vez que pressupõe que diretamente conhecemos as coisas e os acontecimentos ou que estes são tais como nos aparecem. No entanto, falamos, por exemplo, do calor da lã e do frio do mármore, sendo certo que a lã não tem calor, nem o mármore é por si frio. O calor que atribuímos à lã e o frio que atribuímos ao mármore resultam apenas das relações térmicas entre o nosso corpo e esses objetos. Digamos que a nossa experiência espontânea está contaminada por elementos psicológicos e culturais que não nos revelam as coisas, mas aquilo que nos ensinaram a ver nelas ou queremos que elas sejam. Todavia está presente no senso comum o princípio defendido pelo empirismo de que há uma realidade independente de quem a registra, ou seja, do sujeito que a conhece. E é também apoiado nesta convicção que o senso comum entende ser da natureza da ciência o dar-nos a conhecer uma realidade independente de nós. Assim, para o senso comum a ciência progride no plano empírico por acrescentamento de verdades e no plano teórico por eliminação dos erros. Podem ser atribuídas ao conhecimento vulgar as seguintes características: usado para entender a realidade cotidiana que nos rodeia. fundado em ditos e crenças – sabedoria populares. geralmente passado de pai para filho - hereditário. não é necessariamente conhecimento incorreto. é o ponto de partida para o conhecimento cientifico. é casual, fragmentado, não rigoroso, não sistemático e não radical. Conhecimento científico: a expressão do saber epistemológico em construção Tem sido feita desde os gregos uma distinção entre senso-comum e ciência. O senso comum está ligado à opinião, enquanto a ciência é entendida como um conhecimento certo. As condições da possibilidade da ciência são, por isso, determinadas pela necessidade de superar as meras opiniões. É assim que as matemáticas, de forma indiscutível, aparecem com a pretensão de oferecerem um conhecimento objetivo, isto é, científico. É desta forma que a ciência nos aparece ligada ao racionalismo na nossa cultura, já que nos países anglosaxões a ideologia científica foi muito mais empirista ou pragmática do que racionalista. Todavia o papel das matemáticas era idêntico, só que os seus princípios eram colhidos a posteriori e não a priori, como no racionalismo. No entanto, o racionalismo utilizado na ciência, ao estabelecer uma adequação entre uma coerência lógica (descritiva, explicativa) e uma realidade empírica, é um racionalismo científico. 1 A ciência aparece, assim, como o resultado de uma tensão entre a experiência e a razão na procura de verdades absolutas e indiscutíveis, de tipo matemático. Daí que, geralmente, se referencie o nascimento da ciência à física de Galileu, em virtude da utilização do método experimental, baseado na aplicação da matemática e na observação escrupulosa da experiência. O espírito da ciência, da ciência clássica como se depreende, tornou-se então no espírito da visão coerente, isenta de dúvida, onde a contradição era sinal de erro, a ignorância de incapacidade e a incerteza de desvio. Toda esta estrutura do saber científico começa a ruir quando se descobre, com as geometrias não euclidianas, o caráter convencional dos axiomas matemáticos. Por outro lado, o aparecimento da Física Quântica descoberta por Max Planck, defendendo que a energia, assim como a matéria, não é um contínuo, e que surge sempre em magotes, ou quanta, de definidas proporções, pôs em causa a clássica teoria do mecanicismo das partículas. Logo a seguir, o físico alemão Heisenberg mostrou que toda a descrição da natureza contém determinada incerteza essencial e irremovível. Assim, segundo o princípio da incerteza, por exemplo, quanto mais rigorosamente se tentar medir a posição de uma partícula fundamental, um, eletro, digamos, tanto menor certeza teremos da sua velocidade. Quanto mais rigorosamente medirmos a sua velocidade, tanto maior incerteza haverá quanto à sua posição. Eis porque o princípio do determinismo não tem sentido. O progresso das certezas científicas produz, pois, um progresso de incerteza. Toda a verdade científica se torna em certo sentido provisória, porque é susceptível de revisão ou de aperfeiçoamento. Desta forma, o desenvolvimento das ciências não é evolutivo, nem é feito unicamente de crescimento e de extensão do saber. É, antes, dialético, feito de transformações, de rupturas e de aproximações. Os conhecimentos científicos são hoje concebidos sob a forma de aproximação, quer porque as observações experimentais em que se fundam nunca são perfeitas (acabadas), quer porque os resultados científicos (suas verdades) são relativos ao sistema de axiomas (modelos de análise) anteriormente estabelecidos. A ciência clássica eliminava o observador da observação. A microfísica, a teoria da informação, a teoria dos sistemas, reintroduzem o próprio observador na observação. A função da ciência não é hoje a de captar ou mesmo refletir o real, mas traduzi-lo em teorias mutáveis e refutáveis. Podemos então dizer, como Popper e Kuhn, que as teorias científicas, como os icebergues, têm uma parte imersa enorme que não sendo científica é indispensável para o desenvolvimento da ciência. O discurso científico, em síntese, revela-nos: a) A ciência não existe no singular; existem antes ciências e nenhuma delas constitui um sistema definitivo ou isolado do saber. b) Uma teoria é científica quando aceita que possa ser eventualmente demonstrada a sua falsidade. c) A objetividade dos produtos científicos vai-se construindo de forma descontínua na história das ciências e as propriedades que o cientista atribui às coisas dizem apenas respeito a relações com outras coisas. d) A universalidade de um fato científico nunca é a revelação positiva de uma verdade isolada, mas, a afirmação da coerência de um sistema. e) A verdade de um fato científico é apenas resultante, conforme se verifica pela sua gênese, do respeito pelas regras utilizadas na construção do objeto e pela adequação do espírito à realidade. f) O fato científico é construído. Esta construção vai das técnicas operatórias mais abstratas do matemático às manipulações do experimentador. O princípio da relação de incerteza de Heisenberg pôs em causa o determinismo no conhecimento científico, substituindo-o pelo princípio das probabilidades. g) A ciência desenvolve-se por revoluções paradigmáticas. Os paradigmas são os princípios que comandam e controlam todo o discurso teórico. Podem ser atribuídas ao conhecimento científico as seguintes características: usado para compreender a realidade natural. visa o domínio e controle prático da natureza. é expresso em leis e teorias gerais chamadas de teorias científicas. as ciências que a compõem possuem objetos de estudos específicos. suas ciências estudam partes (recortes) do real existente – sensível e inteligível. procura adequar o intelecto a coisa – o pensar ao real. não é de conjunto, embora seja rigoroso, sistemático e radical. a busca pela compreensão de algo recebe o nome de método científico - a matemática, por exemplo, possui um método científico diferente do da biologia, ou seja, o primeiro é dedutivo e o último indutivo. Conhecimento filosófico: a busca pelo quê, por quê, se e como? Para os primeiros pensadores gregos, a Filosofia origina-se na perplexidade que o homem sente diante da realidade, desejoso de saber o último porquê, as primeiras causas de tudo o que, existe. “Com efeito, foi pela 2 admiração que os homens começaram a filosofar, tanto no princípio como agora, perplexos inicialmente diante das dificuldades mais óbvias, avançaram pouco a pouco e enunciaram problemas a respeito dos maiores fenômenos, como os da Lua, do Sol e das estrelas, assim como sobre a gênese do Universo”. (ARISTÓTELES. Metafísica, I, 982b 10) Com o decorrer dos séculos, muitos dos problemas a que Aristóteles se referia deixaram de ser da alçada exclusiva da Filosofia; entretanto, alguns ainda são tratados pelos ramos especulativos e teóricos das ciências naturais; todavia, muitos problemas que os gregos consideravam especificamente filosóficos, e que deixam os pensadores perplexos desde a Antiguidade, ainda pertencem ao campo dos problemas filosóficos. O vasto campo de questões que interessam especificamente à Filosofia diversifica-se em alguns problemas bem caracterizados. Há dois critérios que orientam a formulação desses problemas. Primeiramente, eles devem ser suscetíveis de uma formulação simples; depois, eles devem mostrar-se intelectualmente abertos, no sentido de oferecer novas situações e perspectivas para a reflexão filosófica e extra-filosófica. O primeiro critério exclui problemas que sejam compreensíveis apenas dentro de um contexto às vezes muito complexo, embora em si possam ser muito interessantes. O segundo exclui questões que pertençam ao campo de outras disciplinas e cujo esclarecimento e solução se encontrem nessas disciplinas. Filosofar não significa ficar perplexo por aquilo que não devia provocar perplexidade, nem cultivar a perplexidade por si só, ou pior ainda, fingir perplexidade. A perplexidade é apenas o início, e não o fim de um pensamento que se quer sério. Todo problema filosófico pertence a um complexo de problemas inter-relacionados que, juntos, formam o todo ou pelo menos uma parte substancial de um ramo específico da reflexão filosófica, que representa a atitude da Filosofia diante deste aspecto ou dimensão da realidade: Lógica, Filosofia da Matemática, Teoria do Conhecimento, Filosofia da Ciência, Ética, Estética, Metafísica, Dialética, Existência etc. Cada uma dessas reflexões apresenta suas próprias dificuldades e sua problemática distinta. Assim, o saber filosófico se caracteriza fundamentalmente pelo questionamento feito em torno de cada um desses problemas visando apenas algumas das dificuldades que poderiam ser consideradas e que em nada pretende esgotá-las. O discurso filosófico, em síntese, revela-nos: A filosofia não tem um objeto próprio (não é delimitada), o seu método é a reflexão e as suas características são a abertura, o antidogmatismo, a insatisfação e a permanente atitude crítica. a) A filosofia é uma atitude humana perante a realidade que envolve o homem. b) A filosofia exige coragem, abertura, autonomia, liberdade. c) A filosofia pode e deve tomar uma posição crítica sobre a natureza da ciência, os seus métodos e os seus princípios. d) A filosofia pode e deve visar a unidade do conhecimento e a colaboração interdisciplinar. e) A filosofia deve interrogar-se sobre as conseqüências das concepções paradigmáticas da ciência. Na verdade, uma pequena modificação de paradigma, como por exemplo, a passagem do paradigma de Ptolomeu, no qual o Sol gira à volta da terra, para o paradigma de Galileu, enunciando que a terra gira à volta do Sol, provocou conseqüências na própria visão do mundo e do lugar da humanidade no seio do universo. Podem ser atribuídas ao conhecimento filosófico as seguintes características: tem como função dar um significado inteligível ao real – dar sentidos as experiências. busca compreender a realidade natural no todo a partir do inteligível. é rigoroso, sistemático, radical e de conjunto. não é dogmático e nem cético. não tem por finalidade apresentar respostas. caracteriza-se por um constante indagar, questionar, perguntar, cujas respostas se tornam objetos de novas indagações. investiga o significado último das coisas – o ser enquanto ser (sua essência). procura conhecer o sentido da existência humana, bem como as relações entre o homem, Deus e o mundo. nasce quando o ser humano é motivado pelo pathos (espanto) e thauma (admiração). Exercícios Questão 01 Podem ser atribuídas ao conhecimento vulgar as seguintes características, exceto. a) Usado para entender a realidade cotidiana que nos rodeia. b) Fundado em ditos e crenças – sabedoria populares. c) Geralmente passado de pai para filho - hereditário. 3 d) É necessariamente conhecimento incorreto. Questão 02 Sobre o conhecimento vulgar assinale a alternativa incorreta. a) É o ponto de partida para o conhecimento cientifico. b) É casual e fragmentado. c) Não é rigoroso e nem sistemático. d) É radical e organizado. Questão 03 Podem ser atribuídas ao conhecimento científico as seguintes características, exceto. a) Usado para compreender a realidade natural de modo racional. b) É expresso em teorias gerais chamadas de leis científicas. c) A busca pela compreensão de algo recebe o nome de método científico - a matemática, por exemplo, possui um método científico diferente do da biologia, ou seja, o primeiro é dedutivo e o último indutivo. d) As ciências não estudam partes do real existente, ao contrário, estuda a realidade no todo. Questão 04 Podem ser atribuídas ao conhecimento científico as seguintes características, exceto. a) Visa o domínio e controle prático da natureza através da tecnologia. b) As ciências que a compõem possuem objetos de estudos específicos. c) Procura adequar o intelecto a coisa, isto é, o pensar ao real existente. d) É rigoroso, ‘assistemático’ e radical. Questão 05 Leia os itens abaixo: I. Caracteriza-se por um constante questionar e perguntar, cujas respostas se tornam objetos de novas indagações. II. Investiga o significado último das coisas, isto é, o ser enquanto ser: o que é [sua essência]. III. Procura conhecer o sentido da existência humana, bem como as relações entre o homem, Deus, alma e mundo. IV. Tem como função dar um significado inteligível ao real – dar sentidos à experiências. Podem ser atribuídas ao conhecimento filosófico somente os itens... a) I, II, III e IV. b) I, II e III. c) II, III e IV. d) I, II e IV. Questão 06 Pode ser considerado discurso do conhecimento filosófico, exceto. a) O conhecimento filosófico é ensinado nas escolas, embora seja de fácil aquisição. b) A filosofia deve interrogar-se sobre as consequências das concepções paradigmáticas da ciência. c) A filosofia não tem um objeto próprio, ou seja, não é delimitada. d) O método filosófico é a reflexão e as suas características são a abertura, o antidogmatismo, a insatisfação e a permanente atitude crítica. 01 06 D A 02 07 GABARITO D 03 D 04 08 09 4 A 05 10 A Raciocínios Razão discursiva, métodos de abordagem A razão discursiva opera sob três formas: dedução, indução e abdução (ou analogia, ou intuição). Vamos à compreensão de cada uma delas tendo como ponto de apoio os pensamentos de Espinoza, Bacon, Comte, Husserl e Bergson. Raciocínio dedutivo, indutivo e abdutivo A dedução O método está intimamente relacionado com o objeto. Em qualquer ciência especial, e assim também na Filosofia, o método está em direta dependência do objeto do conhecimento, de sua natureza e estrutura. Se considerada a Filosofia um puro saber especulativo, como Matemática, o seu método seria o dedutivo, ou lógicoabstrato. O exemplo clássico desse método é o de Espinoza, que construiu todo o seu sistema filosófico, a saber o modelo geométrico. Para ele, o método deve seguir necessariamente o raciocínio abstrato e se reduz a compreender qual a idéia verdadeira, para, afinal, dirigir a nossa inteligência a compreensão total da realidade, segundo a lei que ao espírito mesmo impõe a razão. O método não é outra coisa - afirma Espinoza – senão um conhecimento reflexo ou a idéia de uma idéia. A idéia verdadeira não é aquela que está conforme o objeto, mas à própria idéia que corresponde a esse objeto. A idéia é algo intrínseco ao objeto. A verdade de uma idéia se distingue da sua falsidade por algo que lhe é intrínseco, que se encontra em sua própria natureza, o que resulta de uma idéia verdadeira de pensar; em suma, a idéia verdadeira é aquela que se forma, segundo uma lei inerente à própria razão. A Filosofia é pura criação do espírito, isto é do pensamento. Logo o raciocino dedutivo é a forma mais segura da pesquisa científica, pois assegura aos filósofos e cientista a veracidade de suas conclusões; é também chamado de inferência, porque do universal (X) conclui-se os particulares (y) e singulares (z). Universal (X) Particular (a,b) Singular (a1,a 2...) A indução Posição contraria à de Espinoza é a de Bacon, que pretende alcançar os resultados especulativos segundo o método indutivo das ciências naturais. Também indutivista é o positivismo fundado por Comte, que considera a Filosofia como a síntese dos resultados alcançados pelas ciências particulares, induzindo os princípios gerais, na base da observação e análise dos dados e fenômenos produzidos em cada setor da realidade. O raciocínio indutivo baseia-se nas percepções sensíveis, isto é, experiências singulares do sujeito com seu objeto. Este método consiste em considerar a repetição dos diversos fatos singulares até chegar a concepções universais ou mais gerais. Assim após examinar a ocorrência sistemática de fatos particulares, cientistas e filósofos fazem generalizações para a criação de novas teorias, por conseguinte, este método também é chamado de inferência, porque como foi dito, através de episódios particulares (a, b, c...) e repetidos (a 1, a2, a3... b1, b2, b3... c1, c2, c3...) é possível chegar ao universal (X). A abdução ou intuição Outro método que merece ser referido, pela sua importância no estudo da Filosofia e mesmo pela sua atualidade, pois guarda muitos pontos de contato com o método fenomenológico de Husserl, predominante hoje no pensamento filosófico contemporâneo, é a intuição que, para Bergson, era o único método capaz de obter o conhecimento filosófico. 5 A inteligência, faculdade de compreensão anexa à faculdade de agir, na expressão de Bergson, serve para as atividades práticas, inserindo-nos no mundo das realidades materiais, proporcionando-nos as relações entre as coisas exteriores, permitindo-nos pensar a matéria. A inteligência se sente em seu domínio, quando se encontra entre os objetos inertes, principalmente entre os sólidos, onde nossa ação encontra o seu ponto de apoio e nossa indústria seus instrumentos de trabalho, onde os nossos conceitos se formam à imagem dos sólidos, triunfando na geometria, pela afinidade do pensamento lógico com a matéria inerte. Assim, ao pensamento, sob a forma puramente lógica, escapa a compreensão da verdadeira natureza da vida, da significação profunda do movimento evolutivo a que estão sujeitas todas as coisas. O conhecimento da realidade íntima do mundo, a apreensão do sentido da evolução criadora, só poderá ser alcançado por esse dom misterioso do espírito, essa espécie de simpatia intelectual, capaz de identificar o sujeito com o em si que se encontra no íntimo e no absoluto do objeto, em uma palavra, a intuição é o que também Bergson denomina de “instinto desinteressado”. A intuição - escreve Bergson - é uma espécie de “simpatia intelectual”, em virtude da qual se penetra no interior de um objeto para confundir-se com o que há, nesse objeto, de único e, por conseguinte, de inexprimível. Na humilhação da razão e no papel que destinou à intuição, quanto ao conhecimento íntimo da realidade universal, pôs Bergson o programa da Filosofia. Exercícios Questão 01 O homem possui duas formas de conhecer. Essas formas são a) Os sentidos e a análise. b) A razão e a síntese. c) A razão e os sentidos. d) O enumerado e a negação da negação. Questão 02 Concernente aos tipos de raciocínio assinale a alternativa incorreta. a) O raciocínio abdutivo refere-se à capacidade de sentir (método indutivo) e pensar (método dedutivo) do homem. b) O raciocínio indutivo possui a capacidade de elaborar teoria universais, e não mais gerais – isto é, válida para a maioria dos particulares. c) O raciocínio dedutivo é a capacidade de fazer uso da razão sem depender das impressões dos sentidos. d) O raciocínio dedutivo é a forma mais segura do conhecimento científico, pois ele garante as verdades de suas conclusões. Questão 03 Sobre o raciocínio dedutivo assinale a alternativa incorreta. a) Elabora teorias particulares, isto é, válida para a maioria ou minoria. b) Deriva da simples capacidade humana de pensar. c) Elabora teorias universais, isto é, válida para todos os particulares e singulares. d) É um processo mental que ocorre a partir da razão. Questão 04 A indução (...) Assim após examinar a ocorrência sistemática de fatos..., cientistas (...) fazem generalizações para a criação de novas teorias, por conseguinte, este método também é chamado de inferência, porque (...) através de episódios particulares (a) e repetidos (a1,a2,a3,a4,a5 ...) é possível chegar ao mais geral (A). Sobre o conceito de raciocínio indutivo assinale a alternativa incorreta. a) Refere-se à capacidade de reflexão ou ato de voltar sobre si mesmo, método sintético. b) Opera pelas sensações ou sentidos - experiência. c) Produz conhecimento válido para a maioria dos particulares e singulares. d) É usado por ciências como Geografia, História, Gramática etc. 6 Questão 05 Sobre a classificação lógica das proposições ou conceitos em relação a sua quantidade, assinale a alternativa incorreta. a) Proposições universais são conceitos que valem para ‘todos’ ou ‘nenhum’. b) Cientistas na elaboração de conceitos buscam aquilo que é singular ou particular da minoria. c) Proposições singulares são conceitos que valem para “um” apenas. d) Proposições particulares são conceitos que valem para ‘alguns’ da maioria ou da minoria. Questão 06 Sobre os termos razão e sentidos considere os itens abaixo. I. Razão pode ser entendida como dedução, intelecção, pensamento, ato de pensar ou ato reflexivo. II. Sentidos podem ser entendidos como indução, sensação, ato de sentir ou experiência. III. A razão produz conhecimento puro, inato ou ‘a priori’, que é universal, necessário, verdadeiro e em si. IV. Os sentidos produzem conhecimento sensível, empírico e ‘a posteriori’, que é particular, possível, de opinião e para si. Assinale a única alternativa correta. a) Apenas os itens I, II e III são corretos. b) Apenas os itens II, III e IV são corretos. c) Apenas os itens II e III são incorretos. d) Todos os itens são corretos. 01 06 C D 02 07 GABARITO B 03 A 04 08 09 A 05 10 B Homem: eixo de ligação entre ciência e filosofia Homem: o criador do conhecimento. Estudo das proporções do corpo humano feito por Leonardo da Vinci no século XIV. Figura retirada do livro Convite à filosofia, p. 43. O processo de Galileu significou a ruptura da ciência com a tutela da religião. A partir de Galileu a ciência, excluindo Deus e a verdade do seu campo, vai obrigar a que o homem se defina, por um lado, como objeto da ciência opondo-se à natureza e, por outro lado, como sujeito da ciência substituindo Deus. Há pois, simultaneamente, uma afirmação do homem e uma humanização da natureza: o natural dissolve-se no humano. Mas à medida que o progresso científico se verifica, verifica-se também a dissolução do humano no natural: • A biologia atual não distingue fenômenos humanos de fenômenos da natureza; 7 • Os problemas ecológicos são hoje os sintomas mais claros de que a distinção homem/natureza é uma distinção artificial; • Ao conceptualizar a realidade e ao fazer o discurso científico que interpreta os fatos, o cientista naturaliza o homem e humaniza a realidade; • Há uma íntima ligação entre a revolução científica e técnica, as transformações sociais e os interesses dominantes; • A ciência está inserida num contexto ideológico e histórico. Por isso, o aparecimento das ciências do homem não é uma descoberta. O que está em jogo na expressão ciências do homem não é o homem, mas a ciência, porque esta foi sempre do homem. O homem é, portanto, o eixo em volta do qual se articula o discurso científico com o discurso filosófico. O discurso filosófico, visando a unidade do conhecimento e a colaboração interdisciplinar, estabelece a ligação com o discurso científico. Além disso, revelando uma posição crítica sobre a natureza da ciência, os seus métodos e os seus princípios, oferecem novas perspectivas à ciência e revela o homem como sujeito da ciência (sujeito epistemológico). A articulação discurso científico/discurso filosófico passa pela ruptura com a questão ideológica da neutralidade científica: a ciência está marcada, como já foi referido, pelas estruturas ideológicas de um determinado tempo. Capítulo 3 A DESNATURALIZAÇÃO DAS DEFINIÇÕES DE REALIDADE IMPLICADAS PELO SENSO-COMUM Ciência versus senso-comum O senso comum se refere ao conhecimento adquirido por tradição, herdado dos antepassados e ao qual acrescentamos os resultados da experiência vivida na coletividade a que pertencemos. É um conhecimento ingênuo, fragmentário, assistemático, incoerente e conservador. A ciência exige um método. Enquanto o senso comum é empírico e transmitido de geração para geração por meio da educação informal, o conhecimento científico é transmitido por intermédio de treinamento apropriado, sendo um conhecimento obtido de modo racional, conduzido por meio de procedimentos científicos. Se de um lado, o senso comum se baseia em imitação e experiência pessoal, a ciência visa explicar “porque” e “como”os fenômenos ocorrem, na tentativa de evidenciar os fatos que estão correlacionados, numa visão mais globalizante do que a relacionada com um simples fato. Porém, um mesmo objeto ou fenômeno pode ser observado tanto pelo cientista como pelo homem comum, o que difere é a forma de observar, o método e os instrumentos do “conhecer”. A ciência deve buscar o ideal de racionalidade e objetividade. A racionalidade está ligada à sistematização coerente de enunciados fundamentados e passíveis de verificação, e deve ser obtido muito mais por intermédio de teorias (que constituem o núcleo da ciência) do que pelo conhecimento comum (acumulação de partes ou “peças”de informação frouxamente vinculadas). A objetividade se refere à construção de imagens da realidade, verdadeiras e impessoais, o que torna necessário ultrapassar os estreitos limites da vida cotidiana e da experiência particular para formular hipóteses sobre a existência de objetos e fenômenos além da própria percepção dos sentidos, submetendo-os à verificação planejada e interpretada com o auxílio das teorias. No senso comum, a objetividade e a racionalidade são limitadas por serem estreitamente vinculadas à percepção e à ação. Problema social versus problema sociológico Segundo Berger (s/d), existem relações que caracteriza a sociologia e a diferencia do senso comum. O sociólogo não examina os fenômenos que outras pessoas não têm conhecimento. Na verdade, o que acontece é que ele olha esses mesmos fenômenos sociais de um modo diferente do senso comum, pois o conhecimento sociológico precisa ser submetido a um trabalho de reflexão e investigação, baseado em princípios teóricos e metodológicos através de uma linguagem técnica e acadêmica. Os problemas sociais são problemas que emergem de uma realidade material e social (real-social), e vão se tornando o tema das aulas de Sociologia. Surge portanto a necessidade de provocar uma outra percepção para que o assunto em questão seja transformado em problema sociológico. Por exemplo, existem problemas sociais associados à juventude (droga, delinquência, desemprego, etc), o que desperta uma necessidade de extingui-los na sociedade. 8 Enquanto problema sociológico, deve-se perguntar sobre a origem desses problemas, se sempre existiram, se são o que parecem ser. O consumismo que poderia não parecer um problema social pode significar um problema sociológico. Numa citação de Marx, este aspecto se destaca: “A fome é a fome, mas a fome que se satisfaz com carne cozinhada, comida com faca e garfo, não é a mesma fome que come a carne crua, servindo-se das mãos, das unhas, dos dentes. Por conseguinte, a produção determina não só o objeto do consumo, mas também o modo de consumo, e não só de forma objetiva, mas também subjetiva. Logo, a produção cria o consumidor” (MARX, 1973, p.220). Assim, o olhar de quem se baseia no senso comum se concentra mais no problema social, enquanto o olhar daquele que procura a abordagem científica se concentra mais no problema sociológico. Os aspectos acima delineados podem ser expressos de uma outra forma, através da seguinte distinção: há uma grande e significativa diferença entre o que as pessoas, grupos ou governos definem como problema social e o que os sociólogos chamam de problema sociológico. No primeiro caso, o da definição do problema social, considera-se a realidade cotidiana do cidadão, do jogo do poder e da luta política e cultural para afirmar interesses, ideologias ou identidades na definição de quais são os problemas sociais dignos de atenção pela sociedade ou pelo governo de uma nação ou nações. No segundo caso, o do problema sociológico, procura-se uma elaboração teórica e sistemática envolvendo a utilização de conceitos e a seleção de vários elementos de natureza social que estão presentes, compõem ou produzem os fenômenos sociais. Portanto, torna-se necessário compreender esta distinção. Ela é a chave para o distanciamento crítico do invólucro das percepções rotineiras sobre a vida em sociedade e para a “desnaturalização” do mundo social, provocando o processo de estranhamento, ou seja, a observação de que os fenômenos sociais não são de imediatos conhecidos. Esses acontecimentos podem parecer ordinários e triviais, sem necessidade de explicação, porém, eles merecem ser compreendidos ou explicados pela Sociologia. Apenas o estranhamento suscita que os fenômenos sociais sejam colocados em questão, problematizados. Importância do método MÉTODOS CIENTÍFICOS CONCEITO DE MÉTODO O método é o conjunto das atividades sistemáticas e racionais que, com maior segurança e economia, permite alcançar o objetivo - conhecimentos válidos e verdadeiros -, traçando o caminho a ser seguido, detectando erros e auxiliando as decisões do cientista. Etapas: • • • • • • • • • Descobrimento do problema; Colocação precisa do problema; Procura de conhecimentos ou instrumentos relevantes ao problema; Tentativa de solução do problema com auxílio dos meios identificados. Invenção de novas ideias ou produção de novos dados empíricos; Obtenção de uma solução; Investigação das consequências da solução obtida; Prova (comprovação) da solução. Correção das hipóteses, teorias, procedimentos ou dados empregados na obtenção da solução incorreta. SENSO-COMUM E CONHECIMENTO SOCIOLÓGICO A Sociologia é uma Ciência da Sociedade (entendida como um complexo de relações humanas). A Sociologia é uma “ciência da crise”, pois nasce sob o impacto da Dupla Revolução Burguesa Industrial e Francesa. Ela nasce para explicar as profundas mudanças sofridas pela Europa no processo de consolidação do Capitalismo. No entanto, antes de constituir-se uma ciência da sociedade, diversas teorias, derivadas da religião e da filosofia procuraram explicar a vida social. Concepção de sociedade para os clássicos a) A CONCEPÇÃO DA SOCIEDADE SEGUNDO OS CLÁSSICOS DA SOCIOLOGIA A sociedade como fenômeno moral – Durkheim. 9 A sociedade como compartilhamento de conteúdos e sentidos – Weber. A sociedade como práxis humana - Marx. A Sociologia procura investigar as relações INDIVÍDUO-SOCIEDADE como uma reação ao individualismo da sociedade capitalista. No século XIX surgiram duas teorias a respeito destas relações. a) Individualista - a Sociedade é entendida como a soma dos interesses e relações entre os indivíduos, sendo resultado da subjetividade individual b) Coletivista - a Sociedade é uma realidade concreta que subordina, condiciona os indivíduos às instituições sociais, estabelecendo regras de conduta. Hoje em dia temos a Teoria da Interdependência: a Sociedade pressiona o indivíduo para a aceitação dos condicionamentos, ao mesmo tempo que o indivíduo tenta constituir sua identidade, apesar da pressão Porém, a Sociologia não é uma ciência de apenas uma orientação teórico-metodológica dominante. Ela traz diferentes estudos e diferentes caminhos para a explicação da realidade social. Assim, pode-se claramente observar que a Sociologia tem ao menos três linhas mestras explicativas, fundadas pelos seus autores clássicos, das quais podem se citar, não necessariamente em ordem de importância: (1) a Positivista-Funcionalista, tendo como fundador Auguste Comte e seu principal expoente clássico em Émile Durkheim, de fundamentação analítica; (2) a sociologia compreensiva iniciada por Max Weber, de matriz teórico-metodológica hermenêutico-compreensiva; e (3) a linha de explicação sociológica dialética, iniciada por Karl Marx que mesmo não sendo um sociólogo e sequer se pretendendo a tal, deu início a uma profícua linha de explicação sociológica. EXERCÍCIOS 1 - Assinale a alternativa incorreta. Quanto à relação entre teoria (juízo de valor) e fatos (juízo de realidade), pode-se afirmar: a) A teoria clarifica os conceitos contidos nos fatos. b) A teoria oferece um sistema de conceitos que permite a classificação dos fatos. c) Os fatos podem ser previstos a partir da teoria. d) O fato reformula a teoria, assim como pode rejeitá-la. e) Caso exista adequação entre teoria e realidade, essa é tomada como proposição verdadeira. 2 – (UFU-Modificada) Sobre o surgimento da sociologia como ciência podemos afirmar que, exceto, a) a sociologia, diversamente de outras ciências, lida com a realidade social e as interpretações que são feitas sobre essa realidade. b) a sociologia se defronta apenas com o que vagamente chamamos de realidade e baseia-se no fato. c) conhecimento científico da vida social não se baseia no fato, mas na concepção do fato e na relação entre a concepção e o fato. d) a sociologia nasce e se desenvolve como um dos florescimentos intelectuais mais complexos das situações de existência nas modernas sociedades industriais e de classe. e) a sociologia, antes de ser assim denominada, fora chamada de “Física Social”. 3 - Quanto ao senso comum, podemos considerar como suas características: a) estabelecer leis e fórmulas a serem aplicadas em várias situações. b) ser radical, rigoroso e ter visão de conjunto. c) ser ametódico e assistemático, baseado muitas vezes em conhecimentos transmitidos de geração para geração. d) pertencer a pessoas graduadas e cientistas diversos. e) nada que propõe desperta o interesse da ciência. 4 – Discorra sobre a diferença entre problema social e problema sociológico. 1 2 3 A B C 10 Capítulo 4 SOCIOLOGIA COMO AUTO-CONSCIÊNCIA DA SOCIEDADE - Sociedades tradicionais X Modernidade; - Transição feudo-capitalista; - Transformações econômicas, políticas e culturais; - Revolução Industrial, Iluminismo e Revolução Francesa. HISTÓRICO O RENASCIMENTO - séculos XIV e XVI No processo de ascensão da burguesia desponta o racionalismo como uma visão realista do mundo. Surgem as chamadas “ciências naturais”, desligadas da filosofia. No entanto, apesar de todos estes avanços, o pensamento social da época acaba por produzir novas teorias finalistas e normativas. Por exemplo, podemos citar A Utopia de Thomas Morus e Nova Atlantis de Francis Bacon, as quais não passaram de modelos imaginários e que não aconteceram realmente. Nesse momento histórico, Maquiavel também vai apresentar uma proposta quanto ao poder e à organização da sociedade, porém de forma realista e prática. Em relação aos períodos anteriores, essas teorias representam um grande avanço, visto que imaginam sociedades organizadas racionalmente. Percebemos então, uma mudança de mentalidade do homem comum que não aceitará mais explicações religiosas para seus sofrimentos, procurando soluções através da razão, ocorrendo posteriormente a dessacralização da religião e a sacralização da ciência. A ILUSTRAÇÃO - século XVIII Esse período representa uma nova etapa do pensamento burguês, pois os comerciantes que acumulam capital querem chegar ao poder e consolidar seu modelo econômico. Sendo assim querem impor novos valores na sociedade como o consumo, a produção, a competição, almejando basicamente um aspecto apenas: o lucro. Eles querem uma nova sociedade, onde procurarão melhorar as condições de vida e aumentar a expectativa de vida, pois então estariam aumentando o número de consumidores e a mão-de-obra disponível. Nesse momento, os indivíduos estão identificados com ideias como o individualismo, o liberalismo e o nacionalismo. O racionalismo resgatado pelos renascentistas afirmava a crença na capacidade humana de compreender e dominar a natureza, em benefício da humanidade. Ao longo dos séculos dezessete, dezoito e dezenove, com a progressiva afirmação da burguesia e de seus valores por toda a sociedade, esse racionalismo torna-se a chave apara a contestação da ordem social cristalizada no Antigo Regime. O Iluminismo ou Ilustração afirmava o caráter antinatural da sociedade organizada em estamentos, juridicamente desigual e onde a economia estava rigidamente controlada pelo Estado Absolutista. Os pensadores da Ilustração firmavam uma ideologia pragmática e liberal, que atendia aos anseios da burguesia por mais poder junto ao Estado e visava diminuir os privilégios feudais e da realeza. Autores: Adam Smith - revela a importância do trabalho ao pensar a sociedade não como um conjunto abstrato de indivíduos dotados de liberdade e vontade, como queriam Locke e Rousseau, mas ao aprender e interpretar a realidade inglesa de seu tempo. John Locke - entende que a sociedade é o resultado da livre associação entre indivíduos dotados de razão e vontade, defendendo a representatividade no poder legitimado pelo povo. Montesquieu - defendia a divisão do exercício dos poderes, Executivo, Legislativo e Judiciário, para viabilizar o equilíbrio e a distribuição das tarefas governamentais e a fiscalização mútua entre eles. Jean-Jacques Rousseau - afirma que a base da sociedade está no interesse comum pela vida social, no consentimento unânime dos homens em renunciar às suas vontades particulares em favor de toda a comunidade mediante um contrato social. Voltaire - defendia a liberdade de expressão do pensamento e lutou contra a autoridade da Igreja. Com esse surto de ideias, duas modificações básicas no modelo político da sociedade se consolidarão: 11 LEGITIMIDADE DO PODER: a ideia de representatividade do poder fará que a obediência a ele seja voluntária e espontânea, ou seja, o poder será legítimo e não imposto, derivado de um justificativa racional. SOCIEDADE CONTRATUAL: toda a sociedade será organizada mediante um contrato estabelecido livremente entre os indivíduos. O CIENTIFICISMO – século XIX Após a Revolução Industrial e com as consequentes invenções e inovações técnicas do século XIX, surge o cientificismo, ou seja, a crença no vigor da Ciência para explicar o mundo e dominar as forças da natureza. A partir daí, a sociedade, passa a ser vista como um elemento da natureza, o que também poderia ser explicada, conhecida e controlada pela razão humana. A dessacralização da religião e a sacralização da ciência. Ao longo do século dezenove, ocorreu um processo de descristianização ou laicização da sociedade, através do qual a religião deixa de explicar a sociedade e passa a ser explicada por ela mesma. Ao mesmo tempo, a ciência sofre um processo de sacralização, ou seja, ela passa a ser encarada como capaz de descobrir e apontar para os homens o caminho em direção à verdade. “Os homens são criadores de deuses”. Nesse processo, surge a crença de que a sociedade pode ser compreendida através de leis naturais, existentes, independentemente da influência humana. Estava surgindo o Positivismo. EXERCÍCIOS 1 – (UFU) “Podemos entender a sociologia como uma das manifestações do pensamento moderno. A evolução do pensamento científico (...) passa a cobrir com a sociologia uma nova área do conhecimento (...), ou seja, o mundo social. A sua formação constitui um acontecimento complexo para o qual concorrem uma série de circunstâncias históricas e intelectuais.” MARTINS, Carlos B. O que é Sociologia. 7 ed. São Paulo: Brasiliense, 1984, p. 10. Com relação ao contexto histórico do surgimento da sociologia, analise a citação acima e marque a alternativa INCORRETA. A) B) C) D) Relevância do século XVIII para a história do pensamento ocidental, inclusive para a sociologia. Coincidência com o final da desagregação da sociedade feudal e da consolidação da civilização capitalista. Distanciamento em relação aos acontecimentos produzidos pela Revolução Industrial. Avanço de uma visão que valorizava a observação e a experimentação para a explicação da natureza. 2 – Sobre o surgimento da Sociologia no contexto moderno de consolidação das Revoluções Burguesas no século XIX, considere as assertivas: I. A Sociologia buscava elaborar conceitos e métodos para investigar os fatos sociais dotados da mesma objetividade observada nas ciências naturais. II. A Sociologia pretendia, por meio do método científico, dar respostas racionais aos inúmeros problemas gerados pelas revoluções da sociedade burguesa. III. A Sociologia inventou uma nova forma de investigar e explicar os fatos sociais, que reiterou os princípios da física teológica para os fenômenos culturais e políticos. IV. A Sociologia pretendia substituir o pensamento teológico na explicação do mundo, mostrando os fatos sociais como produto exclusivo da natureza e da vontade da burguesia. Assinale a alternativa que contém as assertivas corretas. a) b) c) d) I e II III e IV II e III I e IV 3 - (UFU) Quanto ao contexto do surgimento da Sociologia, marque a alternativa correta. 12 a) A Sociologia nasceu como ciência a partir da consolidação da sociedade burguesa urbana-industrial no século XV. b) A Sociologia foi uma manifestação do pensamento moderno que surgiu a partir dos acontecimentos desencadeados, exclusivamente, pelas revoluções industrial e inglesa, marcando o declínio da sociedade feudal e da consolidação do capitalismo. c) A Sociologia foi uma manifestação do pensamento moderno que surgiu em função de um conjunto de fatores de ordem econômica-social, cultural e política, no contexto histórico marcado pelo declínio da sociedade feudal e da consolidação do capitalismo. d) A Sociologia surgiu no século XIX, sendo a expressão do pensamento marxista que visava à transformação da sociedade burguesa em sociedade comunista. 4 - (UFU-02) Entre os fatores intelectuais que influenciaram o surgimento da Sociologia como “ciência da sociedade”, destaca-se o racionalismo. Disserte sobre este assunto, mostrando como se deu essa influência. Gabarito 1 2 3 C A C Capítulo 5 O POSITIVISMO Contradições da sociedade moderna e a resposta sociológica: o positivismo de Auguste Comte. Cientificismo, Organicismo e Evolucionismo – Ordem e Progresso. A Dupla Revolução Burguesa, Industrial e Francesa, ao mesmo tempo que consolidou o poder burguês na Europa Ocidental, trouxe também a impressão de que as sociedades européias estavam desorganizadas e anárquicas. Sob o peso da máquina e temendo a massa, as classes dominantes, lideradas pela burguesia, passam a reconhecer em um novo surto de ideias, denominado positivismo, a doutrina capaz de estabilizar a organização da sociedade. Autores: Saint-Simon – Defensor do industrialismo, acreditava ser possível elaborar uma ciência da sociedade que orientasse as elites na busca da ordem, da paz e do progresso, para conter os ímpetos revolucionários das classes trabalhadoras. Auguste Comte - sistematizou os princípios fundamentais do positivismo. Inicialmente denominou a nova ciência de Física Social, antes de criar o termo sociologia. Partiu de uma lei geral do desenvolvimento das sociedades humanas, afirmando a existência de três estados na história da humanidade: teológico, metafísico e positivo. Neste último, a sociedade alcançaria o estado de equilíbrio e a ausência de conflitos, através de um conjunto de crenças comuns, capaz de manter a ordem e o progresso. Como Saint-Simon, ele defendia um progresso gradual na ordem social instalada, progresso que seria comandado pelos industriais e pelos cientistas do pensamento positivista. Características Cientificismo - crença na capacidade da ciência em conhecer e traduzir a realidade sob a forma de leis científicas naturais, procurando encontrar leis imutáveis na sociedade assim como se encontra na natureza. Método: Neutro e Objetivo - derivado das ciências naturais, já sistematizadas, defendia a neutralidade e a objetividade do conhecimento sociológico. Organicismo - a sociedade era concebida como um mecanismo ou ainda como um organismo, constituído por partes integradas e coesas que funcionariam harmonicamente. Darwinismo Social - a crença que as sociedades mudariam e evoluiriam em um mesmo sentido. Tais transformações representariam a passagem de um estágio inferior para outro superior. O organismo social se mostraria mais evoluído, mais adaptado e mais complexo. Esse tio de mudança garantiria a sobrevivência dos organismos mais fortes e mais evoluídos. Serviu de ideologia que justificou a expansão imperialista mundial no século XIX. 13 Ordem e Progresso - a ordem era entendida por Comte como movimento estático, responsável pela preservação dos elementos permanentes de toda organização social, ou seja, as instituições que mantinham a coesão e garantiam o funcionamento da sociedade: família, religião, propriedade, direito, etc. O progresso era entendido como movimento dinâmico, que representaria passagem para formas mais complexas de existência, como a industrialização. A relação entre estes dois movimentos vitais seria a de privilegiar o estático sobre o dinâmico, a conservação sobre a mudança. Assim, para Comte, o progresso destinava-se a aperfeiçoar a ordem, e não destruí-la. EXERCÍCIOS 1 – Sobre o positivismo do francês Augusto Comte, pode-se afirmar que: I. Comte percebia nas ideias dos iluministas o “veneno da desintegração social”, pois essas ideias geravam a “anarquia” e “desordem” de sua época histórica. II. Ele procurou estabelecer os princípios que deveriam nortear os conhecimentos humanos. Seu ponto de partida era a religião e a filosofia, e o avanço que elas vinham obtendo em vários campos de investigação. III. Comte considerava como um dos pontos altos de sua sociologia a reconciliação entre a “ordem” e o “progresso”, pregando a necessidade mútua destes dois elementos para a nova sociedade. Assinale a alternativa correta. A) I, II e III estão corretas. B) I e II estão corretas. C) I e III estão corretas. D) II e III estão corretas. 2 – (UFU) Auguste Comte foi quem deu origem ao termo Sociologia, pensada como uma física social, capaz de pôr fim à anarquia científica que vigorava, em sua opinião, ainda no século XIX. A respeito das concepções fundamentais do autor para o surgimento dessa nova ciência, todas as alternativas abaixo são corretas, EXCETO: A) O objetivo era conhecer as leis sociais para se antecipar, racionalmente, aos fenômenos e, com isso, agir com eficácia, na direção de se permitir uma organização racional da sociedade. B) As preocupações de natureza científica, presentes na obra de Comte, não apresentavam relação prática com a desorganização social, moral e de ideias do seu tempo. C) Era necessário aperfeiçoar os métodos de investigação das leis que regem os fenômenos sociais, no sentido de se descobrir a ordem inscrita na história humana. D) Entre ordem e progresso há uma necessidade simultânea, uma vez que a estabilidade (princípio estático) e a atividade (princípio dinâmico) sociais são inseparáveis. 3 – (UFU) Na história do surgimento da Sociologia, a primeira corrente teórica consolidada foi o positivismo. Assinale a alternativa INCORRETA sobre essa corrente de pensamento. A) O positivismo tinha uma perspectiva bastante otimista quanto ao desenvolvimento das sociedades humanas e colocava como fundamento da dinâmica social, das mudanças para estágios superiores, a busca da ordem e do progresso. B) No positivismo, reconhecia-se que os princípios reguladores do mundo físico e da sociedade humana eram diferentes em essência, mas a crença na origem natural de ambos os aproximava e, por isso, deviam ser estudados sob o mesmo método. C) O positivismo concebia a sociedade como um organismo constituído de partes integradas e harmônicas, segundo um modelo físico e organicista, que levou o próprio Augusto Comte a chamar a Sociologia de “Física Social”, inicialmente. D) No positivismo, os conflitos e a luta de classes observados na sociedade humana eram inerentes à vida social, tal como na desordem da cadeia alimentar de outros animais, pois todos os seres vivos estavam submetidos às mesmas leis da natureza. 4 – (UFU) Tendo em vista o contexto do surgimento da Sociologia, disserte sobre o significado desta formulação de Auguste Comte (1798-1857), quanto ao papel que a Sociologia deveria ter: ... ciência, daí previdência, previdência daí ação. Apud QUINTANEIRO, Tânia & outros, Um toque de clássicos – Marx, Durkheim, Weber. 2 ed., Belo Horizonte: UFMG, 2002, p. 19. 14 1 2 3 C B D Boas Férias!!! Referências bibliográficas: ARANHA, Maria. L. & MARTINS, Maria. H. P. Filosofando. São Paulo: Moderna, 2003. BOMENY, Helena. & FREIRE-MEDEIROS, Bianca. Tempos modernos, tempos de sociologia. São Paulo: Editora do Brasil, 2010. CHAUÍ, M. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 2003. COSTA, Crristina. Sociologia; Introdução à ciência da sociedade. São Paulo: Moderna, 2004. LAKATOS, Eva Maria. Sociologia geral. São Paulo: Atlas, 1990. MARCONI, M. de A.; LAKATOS, E. M. Técnicas de pesquisa. São Paulo : Atlas, 1999 OLIVEIRA, Pérsio Santos de. Introdução à sociologia. São Paulo: Ática, 2002. TOMAZI, Nelson Dacio. “Sociologia para o ensino médio”. São Paulo: Saraiva, 2010. Sites: http://images.google.com/ http://www.wikipedia.org/ http://www.infoescola.com/ www.google.com.br www.ufu.br http://www.uel.br http://www.mundociencia.com.br Revista: Ciência & Vida: Filosofia [imagens, desenhos e caricaturas]. 15