Legenda da foto: Vacinar os animais domésticos é a única forma de se conseguir a imunidade contra a raiva. Raiva humana coloca autoridades de saúde em alerta Novo surto da doença, transmitido por morcegos que se alimentam de sangue, já matou 15 pessoas no Pará A raiva humana ainda é motivo de grande preocupação no Brasil. Entre maio e junho, 15 pessoas morreram na cidade paraense de Augusto Corrêa, vítimas de um surto da doença. Investigação epidemiológica realizada pelo Ministério Saúde e pelos órgãos de saúde locais revelaram que morcegos hematófagos (que se alimentam de sangue) são os responsáveis pelos casos. A raiva é uma zoonose, tipo de doença transmitida por animais. Atinge os mamíferos e também o homem e, em quase 100% dos casos, leva os humanos à morte. A transmissão da doença acontece quando o vírus da raiva, presente na saliva do animal infectado, penetra no organismo, através da pele ou mucosas. Isso pode acontecer por meio de mordidas, arranhões, lambidas ou pelo contato com a mucosa dos animais contaminados. A transmissão da raiva ocorre nos meios urbano e rural. Os principais agressores são cães, gatos e morcegos. Em espaços rurais, o morcego é o maior transmissor da doença para bovinos, eqüinos, suínos, macacos e para os próprios homens. Para o diretor do Departamento de Vigilância Epidemiológica do Ministério da Saúde, Expedito Luna, casos de transmissão da raiva por animais silvestres podem ter ligação com o desequilíbrio ecológico. “Esses desequilíbrios causados pela ação humana levam os morcegos a procurarem comida fora da cadeia alimentar normal deles. Por isso, deixam de atacar animais silvestres e mordem os moradores da região”, diz Luna. Graças às diferentes realidades epidemiológicas encontradas no país, o ministério estabeleceu novas estratégias para controle da raiva, além da vacinação de animais domésticos. Mesmo com o controle da transmissão da raiva aos seres humanos, por meio da vacinação de animais domésticos, Expedito Luna entende que é necessária uma eficiente vigilância epidemiológica dos casos transmitidos por animais silvestres, para evitar novos surtos, como o do Pará. O Ministério da Saúde, em conjunto com o Ministério da Agricultura e Produção Agrícola, a Secretaria Estadual de Saúde do Pará, a Secretaria Estadual de Agricultura e a Secretaria Municipal de Saúde da cidade de Augusto Corrêa realiza a vigilância de mortes de animais suspeitos e a busca de novos casos em humanos. A população recebe, permanentemente, por meio da mídia e da distribuição de folderes, esclarecimentos sobre o que fazer em caso de agressão por morcegos. Diariamente, uma nota técnica é atualizada para divulgação no município. “Promovemos também a orientação educativa dos profissionais de saúde, com treinamento em relação à prevenção e ao tratamento pós-exposição, palestras educativas dirigidas a professores, auxiliares de enfermagem e agentes comunitários de saúde”, enumera Expedito Luna. Entre as ações específicas para controle da transmissão da doença por morcegos na Amazônia estão a captura de morcegos, para identificação de espécies, reconhecimento de mamíferos doentes e controle populacional de morcegos hematófagos com a utilização de pasta vampiricida (warfarina). As autoridades não cogitam o extermínio da comunidade de morcegos, pois isso poderia gerar ainda mais desequilíbrio ecológico. Campanha – A vacinação de animais domésticos é a única forma de se conseguir a imunidade contra a raiva. O Ministério da Saúde, em parceria com as secretarias municipais e estaduais de saúde, realiza campanhas anuais de imunização de animais em todo o país para controle da doença. Em 2003, as autoridades vacinaram cerca de 24,27 milhões cães e gatos. O ministério tem como meta eliminar a raiva transmitida por animais domésticos até 2010. Deve-se aplicar a vacina anti-rábica em animais sadios a partir do terceiro mês de vida, ou em filhotes de mães vacinadas a partir dos seis meses. A dose tem que ser repetida anualmente. No ano passado, o Ministério da Saúde gastou com a vacinação anti-rábica canina (VARC) R$ 24,5 milhões, com a vacina antirábica humana (VARH) R$ 37,8 milhões e mais R$ 3,3 milhões, destinados à compra de soro anti-rábico (SAR), utilizado no tratamento pós-exposição à doença. As ações de prevenção se refletem na diminuição do número de casos de raiva humana no país. Os estado do Rio Grande do Sul e Santa Catarina e outros da região Sudeste não têm mais notificações de infecções por raiva. Em 2004, o Ministério da Saúde registrou apenas sete casos de raiva por transmissão de animal doméstico. “Foi a primeira vez que o Brasil conseguiu ter menos de dez casos de raiva humana por animal doméstico em um ano”, comemora o diretor do Departamento de Vigilância Epidemiológica do Ministério da Saúde, Expedito Luna. Nas duas últimas décadas, houve uma redução significativa no número de casos humanos registrados por ano, que caíram de 173, em 1980, para 17 em 2003. Esses casos se concentram, principalmente, nas regiões Norte e Nordeste. Alojamentos – Junto às ações de vacinação, as prefeituras devem promover a captura de animais de rua e controlar os transmissores da modalidade silvestre. Caso seja detectada a presença de morcegos na região deve-se procurar iluminar áreas externas nas residências, colocar telas nos vãos de dilatação de prédios, janelas e buracos e fechar ou vedar porões, pisos falsos e cômodos pouco utilizados que permitam o alojamento de colônias deste mamífero. Outros alojamentos freqüentes de morcegos são forros, garagens, casas de máquinas de elevadores, caixas de persianas, edifícios abandonados, estábulos, copas e troncos ocos de árvores e cavernas. A ocorrência de morcegos deve sempre ser notificada ao departamento de zoonoses do município. Agressividade e hidrofobia são alguns dos sintomas Quando os sintomas da raiva se manifestam, é quase impossível tratar e curar humanos ou animais. Todo o tratamento tem que ser feito durante o período de incubação da doença, quando o paciente ainda não apresenta sintomas e nem manifesta queixas. O período de incubação varia, em média, de dez dias a dois meses. As pessoas que tiveram contato com animais raivosos ou foram mordidas por morcegos devem, imediatamente, procurar atendimento, para serem medicadas via soro e receber cinco doses de vacina no período de um mês. A raiva lesa o sistema nervoso central e leva à morte o infectado após sua curta evolução. No homem, o primeiro sintoma é uma febre pouco intensa (38º) acompanhada de dor de cabeça e depressão nervosa. Em seguida, a temperatura torna-se mais elevada, indo de 40º a 42º. “Mal-estar, formigamento, perda de sensibilidade no local agredido e náuseas são outros indícios da contaminação”, exemplifica Expedito Luna. Durante três dias, em média, a vítima fica inquieta e agitada. No período de extrema excitação, ela pode apresentar ataques de terror e depressão, tendência à gritaria e agressividade, com acessos de fúria, acompanhados de alucinações visuais e auditivas, além de baba e delírio. No próximo estágio da evolução da doença, o infectado torna-se hidrófobo e não consegue beber água, sofre espasmos (contração involuntária e não ritmada do músculo) dolorosos na laringe e faringe e passa a respirar e engolir com dificuldade. Os espasmos estendem-se a outros músculos depois. Nota-se a paralisia flácida da face, tronco, extremidades dos membros, língua, músculos da deglutição e oculares. A raiva segue com tremores generalizados, taquicardia e parada de respiração. O cachorro apresenta alterações sutis de comportamento e anorexia (perda do apetite). Começa a se esconder, parece desatento e, às vezes, não atende ao próprio dono. Ocorre, então, um ligeiro aumento de temperatura corpórea, dilatação das pupilas e os reflexos oculares ficam lentos. No caso dos felinos, a raiva se apresenta, na maioria das vezes, de forma furiosa e com demais sintomas similares aos do cão. O que fazer com o animal com suspeita de raiva? Ao identificar que cães e gatos estão com suspeita de raiva, os donos devem isolar os animais e chamar ajuda especializada, que pode ser a de técnicos do centro de controle de zoonoses local ou a de um veterinário da secretária municipal de saúde para que as providências adequadas sejam adotadas. O diretor do Departamento de Vigilância Epidemiológica do Ministério da Saúde, Expedito Luna, orienta o dono a levar o animal ou solicitar sua remoção ao centro de zoonoses ou médico veterinário mais próximo. Cães e gatos sadios, de donos conhecidos, devem ser confinados por dez dias após a mordida, para observação de sintomas da raiva. Caso o resultado dê positivo para presença do vírus, deverá ser iniciada a imunização imediata, pois não há período de espera seguro. O cão ou gato já vacinado, se mordido comprovadamente por um animal raivoso ou silvestre, em uma área onde há casos de raiva, deve ser revacinado e observado por 90 dias. No caso de animais não vacinados, recomenda-se a eutanásia (morte sem sofrimento). Se o dono não permitir, o animal ficará confinado por dez dias. Somente após este período, se estiver sadio, o animal poderá voltar ao convívio do dono.