Artigo GIOS - 24-06 (1)

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O processo de cirurgia segura e a inovação em saúde: uma
revisão bibliográfica
Ana Carolina Lici Monteiro
Ana Carolina Marques Binacett
Leticia Frees Gatto
Resumo
O protocolo de cirurgia segura aliado aos avanços nos procedimentos
cirúrgicos trouxe inovação para os serviços de saúde. A importância do tema
se dá, pois segundo dados da OMS (Organização Mundial da Saúde) 7 milhões
de pessoas sofrem complicações e eventos adversos em cirurgias tornando-se
um problema de saúde pública. Com a preocupação da segurança do paciente,
em 2007, foi lançada uma campanha mundial com o tema “Cirurgia segura
salvam vidas” e foram desenvolvidas ações para prevenir eventos. O processo
deve ser simples e de fácil aplicação e abrir possibilidades de coleta de
indicadores para gerenciamento dos resultados. O gerenciamento de
processos contribui neste sentido, uma vez que através dele se controla os
resultados de cada etapa, prevenido não conformidades durante e ao final de
cada processo.
Palavras chave: cirurgia segura, processos, inovação
Introdução
Estima-se que anualmente são realizadas aproximadamente de 187 a
281 milhões de cirurgias segundo dados de 56 países. O avanço das técnicas
cirúrgicas e a própria evolução da medicina tem gerado oportunidade de
tratamento para muitas patologias, porém paralelamente aumentaram o
número de eventos e ocorrências decorrentes de procedimentos cirúrgicos1.
A fim de tratar este e outros eventos relacionados a segurança do
paciente, foi lançado em 2004 a Aliança Mundial para a Segurança do Paciente
com cinco passos que envolvem a higienização das mãos, procedimentos
clínicos e cirúrgicos, segurança do paciente e de hemoderivados,
administração segura de injetáveis e imunobiológicos e segurança da água,
saneamento básico e manejo de resíduos1.
Deste modo surge o protocolo de cirurgia segura, que envolve a
prevenção de infecções de sítio cirúrgico, anestesia segura, equipes cirúrgicas
seguras e indicadores de assistência segura1.
A segurança da cirurgia é um problema de saúde pública, tamanha é
sua repercussão mundial. Segundo dados da OMS, praticamente 7 milhões de
pacientes sofrem complicações decorrentes a procedimentos cirúrgicos
anualmente, sendo que 1 milhão vai a óbito. Os estudos mostram ainda que
metade dos eventos adversos poderiam ter sido evitados1.
O avanço dos procedimentos cirúrgicos trouxe grandes inovações para a
área da saúde e talvez o maior desafio seja aliar o avanço tecnológico com a
segurança do paciente e, dentro de um procedimento cirúrgico não há uma
única solução que transforme a cultura de segurança. Por exemplo, o processo
de cirurgia segura apresenta várias etapas assistenciais que envolvem toda a
equipe de profissionais de saúde e que estão em torno do paciente. Vai além
do médico cirurgião e da equipe de enfermagem.
A inovação com o protocolo de cirurgia segura traz através de checklists,
as listas de verificação, medidas simples, mas que causam grande impacto no
resultado final dos procedimentos cirúrgicos. O objetivo é melhorar a segurança
da assistência cirúrgica mundial através da padronização de processos com
padrões de segurança que envolva o pré, o trans e o pós operatório, cada fase
do processo cirúrgico com seus riscos identificados e ações para preveni-los1.
Primeira Parte
Inicialmente foi feita discussão em grupo para entendimento do processo
de cirurgia segura e as etapas que o envolvem. Posteriormente foi escolhido
um hospital referência para a construção do processo de cirurgia segura.
Foi realizado levantamento das etapas do processo de cirurgia segura
segundo manual da Anvisa e os riscos que estão envolvidos baseados em um
Hospital de Cardiologia.
Foram contempladas as três fases do processo cirúrgico
-Pré operatório: termo de consentimento, consulta pré anestésica e
preparo para cirurgia (pele, tricotomia, consulta pré operatória de enfermagem)
-Trans operatório:
posicionamento cirúrgico;
iremos
-Pós operatório: cuidados
sangramento e extubação precoce.
abordar
time
individualizados
out,
lateralidade
e
na
prevenção
de
Para cada fase foram desenhados os fluxos utilizando o programa Bizagi
e linguagem BPMN – Business Process Management Notation.
Após a construção dos fluxos foram elencados os indicadores de
mensuração dos resultados esperados que são: indicador de número de visitas
pré anestésicas, número de termos de consentimento aplicados, número de
infecções de sítio cirúrgico, número de cirurgias realizadas ao mês, número de
reoperações;
Segunda parte
Para aprimorar o processo de cirurgia segura foi realizado o
mapeamento do processo. O mapeamento resultou no fluxograma abaixo.
Ao se discutir as dificuldades enfrentadas no processo foi concluído que
o processo já foi planejado e seu modelo é o ideal para este. No entanto
algumas atividades, principalmente no que diz respeito ao cumprimento dos
check-lists, não foram implementadas de forma completa. Ou seja, as falhas
não estão no processo planejado, mas sim na implementação deste.
Neste sentido, a maior ação com relação ao processo de cirurgia segura
é traçar um plano de implementação para que as atividades descritas no
processo possam ocorrer de maneira adequada.
De acordo com Rogers (1995) os clientes da inovação são fundamentais
para garantir a implantação desta e podem ser divididos em cinco segmentos:
Pioneiros, Utilizadores precoces, Maioria inicial, Maioria final e Retardatários.2
Os pioneiros são os primeiros a explorar o produto e fazer uma
avaliação sobre este, a partir destes se tem os utilizadores precoces, que ainda
são minoria e testam o produto sendo que sua avaliação tem um grande
impacto na reação do grupo seguinte A maioria inicial é o grupo de clientes que
difunde a inovação a tornando conhecida pelo se público, com o uso desta
maioria o restante das pessoas passa a sentir necessidade desta, assim
aderem a esta, sendo eles a maioria final. Por fim os retardatários são aqueles
que boicotam a inovação o quanto for possível, podendo eventualmente
aderirem a esta.
Desta forma o primeiro passo para implantar uma inovação é identificar
dentro do hospital, quem seriam os pioneiros, no caso a equipe envolvida
diretamente com o projeto, e os utilizadores precoces. Esses grupos já adotam
as práticas do processo e serão agentes essenciais para difundi-las aos
demais. Ainda em se tratando dos tipos de clientes, é relevante identificar os
retardatários, pois é preciso dar atenção especial a eles, já que geralmente
eles criam barreiras para a implementação de mudanças.
Rogers (1995) ainda aponta atributos da inovação que são importantes
para sua difusão. O primeiro é a Vantagem Relativa, que é o grau em que uma
inovação é percebida como melhor que a ideia que é substituída. Em seguida
Compatibilidade que é o grau em que a inovação é percebida como sendo
consistente com os valores existentes, experiências passadas e necessidades
dos adotantes potenciais. A Complexidade é grau em que a inovação é
percebida como difícil de entender e usar. Possibilidade de Experimentação é
outro atributo que representa o grau em que a inovação pode ser
experimentada. Por fim, a Visibilidade que é o grau em que os resultados de
uma inovação são visíveis para outros.2
Para implantar o processo de cirurgia segura, a primeira ação será
formar um parceria com os utilizadores precoces e apresentar para todos os
envolvidos no processo o motivo da existência das etapas e a importância de
cada uma delas, assim como o alinhamento destas com os objetivos do
hospital. Em seguida, será entregue o processo impresso para os participantes,
assim como os check-lists de tarefas a serem executadas. Serão reunidos
grupos, que simularão o processo de cirurgia para tornar ais claro o que deve
ser feito, tirar dúvidas e corrigidos erros.
Após realizada a conscientização e explicação do processo serão
nomeados acompanhantes do processo que serão responsáveis por cobrar a
equipe do cumprimento das atividades. É importante que essas pessoas sejam
parte da equipe de cirurgia e que não tenham barreiras quanto ao processo.
Conclusão
Podemos perceber que o processo de cirurgia segura contribui
substancialmente para a segurança do paciente. Cada instituição de saúde
pode e deve implantar o processo, levando em consideração seu perfil, suas
particularidades, estrutura e custos.
O processo de cirurgia segura é o segundo desafio global para a
segurança do paciente, tamanha sua importância. A campanha mundial
Cirurgias Seguras Salvam Vidas, é uma forte recomendação de boas práticas e
deverá ser participativa, multidisciplinar com o objetivo de reduzir danos
causados aos pacientes.
Porém, há ainda barreiras que dificultam a implementação deste
processo que envolve a cultura da organização, as rotinas estabelecidas, os
recursos disponíveis, o conhecimento e comunicação. É necessário modificar o
modo como os profissionais de saúde trabalham, pois a cultura da organização,
os relacionamentos e a estrutura hierárquica verticalizada contribuem para
ambientes onde as pessoas que poderiam contribuir para evitar danos, não
possuem autonomia para impedir estes.
O maior desafio é a cooperação entre os diversos profissionais que
estão envolvidos neste processo. O comportamento das pessoas precisa estar
pautado no coletivo e em valores como transparência, ética, sustentabilidade,
preocupação com as pessoas, inovação contínua, preocupação com a
segurança do paciente e conhecimento técnico.
Os efeitos e resultados obtidos podem ser mensurados através dos
indicadores que nos mostram a quantidade e a qualidade da assistência
cirúrgica. É imprescindível que sejam partilhados com todos os envolvidos,
inclusive com os usuários. Afinal, quem não gostaria de ser submetido a um
tratamento em um hospital onde o índice de infecção hospitalar é zero?
Referências
1
World Health Organization. World Alliance for Patient Safety: Safe Surgery
Saves Lives.2008.
2
Rogers EM. Diffusion of Innovations. 4th ed., New York: The Free Press, 1995.
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