O processo de cirurgia segura e a inovação em saúde: uma revisão bibliográfica Ana Carolina Lici Monteiro Ana Carolina Marques Binacett Leticia Frees Gatto Resumo O protocolo de cirurgia segura aliado aos avanços nos procedimentos cirúrgicos trouxe inovação para os serviços de saúde. A importância do tema se dá, pois segundo dados da OMS (Organização Mundial da Saúde) 7 milhões de pessoas sofrem complicações e eventos adversos em cirurgias tornando-se um problema de saúde pública. Com a preocupação da segurança do paciente, em 2007, foi lançada uma campanha mundial com o tema “Cirurgia segura salvam vidas” e foram desenvolvidas ações para prevenir eventos. O processo deve ser simples e de fácil aplicação e abrir possibilidades de coleta de indicadores para gerenciamento dos resultados. O gerenciamento de processos contribui neste sentido, uma vez que através dele se controla os resultados de cada etapa, prevenido não conformidades durante e ao final de cada processo. Palavras chave: cirurgia segura, processos, inovação Introdução Estima-se que anualmente são realizadas aproximadamente de 187 a 281 milhões de cirurgias segundo dados de 56 países. O avanço das técnicas cirúrgicas e a própria evolução da medicina tem gerado oportunidade de tratamento para muitas patologias, porém paralelamente aumentaram o número de eventos e ocorrências decorrentes de procedimentos cirúrgicos1. A fim de tratar este e outros eventos relacionados a segurança do paciente, foi lançado em 2004 a Aliança Mundial para a Segurança do Paciente com cinco passos que envolvem a higienização das mãos, procedimentos clínicos e cirúrgicos, segurança do paciente e de hemoderivados, administração segura de injetáveis e imunobiológicos e segurança da água, saneamento básico e manejo de resíduos1. Deste modo surge o protocolo de cirurgia segura, que envolve a prevenção de infecções de sítio cirúrgico, anestesia segura, equipes cirúrgicas seguras e indicadores de assistência segura1. A segurança da cirurgia é um problema de saúde pública, tamanha é sua repercussão mundial. Segundo dados da OMS, praticamente 7 milhões de pacientes sofrem complicações decorrentes a procedimentos cirúrgicos anualmente, sendo que 1 milhão vai a óbito. Os estudos mostram ainda que metade dos eventos adversos poderiam ter sido evitados1. O avanço dos procedimentos cirúrgicos trouxe grandes inovações para a área da saúde e talvez o maior desafio seja aliar o avanço tecnológico com a segurança do paciente e, dentro de um procedimento cirúrgico não há uma única solução que transforme a cultura de segurança. Por exemplo, o processo de cirurgia segura apresenta várias etapas assistenciais que envolvem toda a equipe de profissionais de saúde e que estão em torno do paciente. Vai além do médico cirurgião e da equipe de enfermagem. A inovação com o protocolo de cirurgia segura traz através de checklists, as listas de verificação, medidas simples, mas que causam grande impacto no resultado final dos procedimentos cirúrgicos. O objetivo é melhorar a segurança da assistência cirúrgica mundial através da padronização de processos com padrões de segurança que envolva o pré, o trans e o pós operatório, cada fase do processo cirúrgico com seus riscos identificados e ações para preveni-los1. Primeira Parte Inicialmente foi feita discussão em grupo para entendimento do processo de cirurgia segura e as etapas que o envolvem. Posteriormente foi escolhido um hospital referência para a construção do processo de cirurgia segura. Foi realizado levantamento das etapas do processo de cirurgia segura segundo manual da Anvisa e os riscos que estão envolvidos baseados em um Hospital de Cardiologia. Foram contempladas as três fases do processo cirúrgico -Pré operatório: termo de consentimento, consulta pré anestésica e preparo para cirurgia (pele, tricotomia, consulta pré operatória de enfermagem) -Trans operatório: posicionamento cirúrgico; iremos -Pós operatório: cuidados sangramento e extubação precoce. abordar time individualizados out, lateralidade e na prevenção de Para cada fase foram desenhados os fluxos utilizando o programa Bizagi e linguagem BPMN – Business Process Management Notation. Após a construção dos fluxos foram elencados os indicadores de mensuração dos resultados esperados que são: indicador de número de visitas pré anestésicas, número de termos de consentimento aplicados, número de infecções de sítio cirúrgico, número de cirurgias realizadas ao mês, número de reoperações; Segunda parte Para aprimorar o processo de cirurgia segura foi realizado o mapeamento do processo. O mapeamento resultou no fluxograma abaixo. Ao se discutir as dificuldades enfrentadas no processo foi concluído que o processo já foi planejado e seu modelo é o ideal para este. No entanto algumas atividades, principalmente no que diz respeito ao cumprimento dos check-lists, não foram implementadas de forma completa. Ou seja, as falhas não estão no processo planejado, mas sim na implementação deste. Neste sentido, a maior ação com relação ao processo de cirurgia segura é traçar um plano de implementação para que as atividades descritas no processo possam ocorrer de maneira adequada. De acordo com Rogers (1995) os clientes da inovação são fundamentais para garantir a implantação desta e podem ser divididos em cinco segmentos: Pioneiros, Utilizadores precoces, Maioria inicial, Maioria final e Retardatários.2 Os pioneiros são os primeiros a explorar o produto e fazer uma avaliação sobre este, a partir destes se tem os utilizadores precoces, que ainda são minoria e testam o produto sendo que sua avaliação tem um grande impacto na reação do grupo seguinte A maioria inicial é o grupo de clientes que difunde a inovação a tornando conhecida pelo se público, com o uso desta maioria o restante das pessoas passa a sentir necessidade desta, assim aderem a esta, sendo eles a maioria final. Por fim os retardatários são aqueles que boicotam a inovação o quanto for possível, podendo eventualmente aderirem a esta. Desta forma o primeiro passo para implantar uma inovação é identificar dentro do hospital, quem seriam os pioneiros, no caso a equipe envolvida diretamente com o projeto, e os utilizadores precoces. Esses grupos já adotam as práticas do processo e serão agentes essenciais para difundi-las aos demais. Ainda em se tratando dos tipos de clientes, é relevante identificar os retardatários, pois é preciso dar atenção especial a eles, já que geralmente eles criam barreiras para a implementação de mudanças. Rogers (1995) ainda aponta atributos da inovação que são importantes para sua difusão. O primeiro é a Vantagem Relativa, que é o grau em que uma inovação é percebida como melhor que a ideia que é substituída. Em seguida Compatibilidade que é o grau em que a inovação é percebida como sendo consistente com os valores existentes, experiências passadas e necessidades dos adotantes potenciais. A Complexidade é grau em que a inovação é percebida como difícil de entender e usar. Possibilidade de Experimentação é outro atributo que representa o grau em que a inovação pode ser experimentada. Por fim, a Visibilidade que é o grau em que os resultados de uma inovação são visíveis para outros.2 Para implantar o processo de cirurgia segura, a primeira ação será formar um parceria com os utilizadores precoces e apresentar para todos os envolvidos no processo o motivo da existência das etapas e a importância de cada uma delas, assim como o alinhamento destas com os objetivos do hospital. Em seguida, será entregue o processo impresso para os participantes, assim como os check-lists de tarefas a serem executadas. Serão reunidos grupos, que simularão o processo de cirurgia para tornar ais claro o que deve ser feito, tirar dúvidas e corrigidos erros. Após realizada a conscientização e explicação do processo serão nomeados acompanhantes do processo que serão responsáveis por cobrar a equipe do cumprimento das atividades. É importante que essas pessoas sejam parte da equipe de cirurgia e que não tenham barreiras quanto ao processo. Conclusão Podemos perceber que o processo de cirurgia segura contribui substancialmente para a segurança do paciente. Cada instituição de saúde pode e deve implantar o processo, levando em consideração seu perfil, suas particularidades, estrutura e custos. O processo de cirurgia segura é o segundo desafio global para a segurança do paciente, tamanha sua importância. A campanha mundial Cirurgias Seguras Salvam Vidas, é uma forte recomendação de boas práticas e deverá ser participativa, multidisciplinar com o objetivo de reduzir danos causados aos pacientes. Porém, há ainda barreiras que dificultam a implementação deste processo que envolve a cultura da organização, as rotinas estabelecidas, os recursos disponíveis, o conhecimento e comunicação. É necessário modificar o modo como os profissionais de saúde trabalham, pois a cultura da organização, os relacionamentos e a estrutura hierárquica verticalizada contribuem para ambientes onde as pessoas que poderiam contribuir para evitar danos, não possuem autonomia para impedir estes. O maior desafio é a cooperação entre os diversos profissionais que estão envolvidos neste processo. O comportamento das pessoas precisa estar pautado no coletivo e em valores como transparência, ética, sustentabilidade, preocupação com as pessoas, inovação contínua, preocupação com a segurança do paciente e conhecimento técnico. Os efeitos e resultados obtidos podem ser mensurados através dos indicadores que nos mostram a quantidade e a qualidade da assistência cirúrgica. É imprescindível que sejam partilhados com todos os envolvidos, inclusive com os usuários. Afinal, quem não gostaria de ser submetido a um tratamento em um hospital onde o índice de infecção hospitalar é zero? Referências 1 World Health Organization. World Alliance for Patient Safety: Safe Surgery Saves Lives.2008. 2 Rogers EM. Diffusion of Innovations. 4th ed., New York: The Free Press, 1995.