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Projeto Pacotinho: um desafio para paciente e profissionais da saúde.
Giovana Dallemole Paloschi
Enfermeira coordenadora da ESF II
Bruno Max Borguezam
Médico ESF II
Sandra Guardini
Técnica em enfermagem ESF II
Marines Franco Peretti
Rita Bruscato Dal Piva
Francieli Fátima Alves dos Santos
Inês Assunta Tomazelli Gilioli
Agentes comunitárias de Saúde
1.Introdução
O ESF (Estratégia Saúde da Família) foi implantado pelo Ministério da Saúde, para
reorganizar a prática assistencial de saúde, aproximando os serviços públicos da
população, tendo como objetivo principal contribuir para a reorientação do modelo
assistencial a partir da atenção básica, em conformidade com os princípios do SUS
(Sistema Único de Saúde). Realizando atenção contínua nas especialidades básicas, com
uma equipe multiprofissional habilitada para desenvolver as atividades de promoção,
proteção e recuperação da saúde, características do nível primário de atenção. (BRASIL,
2006).
Dentre os objetivos específicos desse programa podemos citar o estabelecimento de
parcerias através do desenvolvimento de ações intersetoriais, a democratização do
conhecimento do processo saúde/doença e da produção social da saúde, o reconhecimento
da saúde como direito de cidadania e expressão de qualidade de vida, e o estimulo a
organização da comunidade para o efetivo controle social (BRASIL, 2006).
A adesão ao tratamento é um objetivo sempre almejado pelos programas de saúde
da família. A adesão interfere diretamente na resolutividade e é responsável direta por
redução de custos seja na repetição de tratamentos, controle do desperdício de
medicamentos e principalmente um controle das doenças crônicas do paciente evitando
gastos com maiores níveis de complexidade.
Toda equipe ESF experiente tem em mente que não basta prescrever uma
medicação para o sucesso terapêutico, por mais eficaz e adequada que ela seja para a
patologia do enfermo. A não conscientização por parte do paciente na questão do
seguimento da terapia é um dos problemas comumente verificados entre os idosos e
pessoas com baixo nível econômico. Esse fato pode ser observado nos pacientes que fazem
uso continuo de medicamentos, principalmente idosos e analfabetos, que param de usar os
medicamentos quando se sentem melhor e também que aumentam a dose prescrita quando
sentem piora dos sintomas que estão sendo tratados.
A ausência de sintomas em algumas fases do processo de adoecimento leva, em
certas patologias, os pacientes a não aderirem aos seus tratamentos. Além disso, o aumento
da dose dos seus fármacos pode trazer sérios riscos a sua saúde, Sendo assim, a orientação
e ajuda dos profissionais de saúde aos pacientes torna-se fundamental na adesão ao
tratamento.
Segundo Rocha et. al. 2008, o acometimento de reações adversas e as
manifestações idiossincráticas podem interferir decisivamente na adesão medicamentosa.
O medo do paciente em apresentar efeitos adversos dos medicamentos pode fazê-lo
interromper o tratamento. O tipo de enfermidade tratada também reflete na aderência
medicamentosa. Tratamentos crônicos ou de longa duração têm, em geral, menor adesão,
visto que os esquemas terapêuticos exigem um grande empenho do paciente, que, em
algumas circunstâncias, necessitam modificar seus hábitos de vida para cumprir seu
tratamento. A exposição a múltiplos medicamentos expõe os pacientes. Principalmente o
idoso e o analfabeto, a um tratamento mais complexo, exigindo maior atenção, memória e
organização diante dos horários de administração dos fármacos.
O mesmo autor coloca que, as propriedades cognitivas encontram-se afetadas no
paciente idoso, o que resulta em certa dificuldade para o seu entendimento e/ou para a
recordação correta dos seus regimes terapêuticos prescritos. Também o analfabeto encontra
dificuldades por não saber ler ou até mesmo interpretar símbolos de orientação ao uso de
medicações, ocasionando o mesmo problema.
2.Justificativa
Esse trabalho é importante, pois, a dificuldade em pacientes do ESF II Cohab – Vila
Feliz Campo Erê/SC em aderir aos tratamentos principalmente pelo analfabetismo, que é
elevado na população adulta do bairro, é o maior responsável pelas falhas terapêuticas com
conseqüentes internações hospitalares e em centros psiquiátricos muitas vezes evitáveis
com a simples adesão ao tratamento. Mas como conseguir essa adesão se o paciente não
sabe ler? E como mudam os formatos dos comprimidos a cada nova compra licitatória,
como o paciente organizaria sua medicação? Daí a necessidade em se desenvolver
soluções.
Entretanto a população local adstrita ao ESFII apresenta aspectos heterogêneos,
dificuldade de compreensão e baixo nível sócio econômico e educacional, que dificultam o
entendimento do tratamento proposto. Aliado a isso dificuldades de leitura principalmente
em idades avançadas.
Diversas tentativas de orientar o tratamento do paciente já foram feitas sejam com
estojos com compartimentos, ou bolsas com compartimentos de horários das medicações,
todas apresentando algum grau de sucesso, mas ainda não tendo abrangência necessária a
uma cobertura de adesão satisfatória. Não contribuindo para adesão 100% do tratamento,
diminuindo a hospitalização e sucesso na cura ou controle das enfermidades.
Para Costa e Carbone (2004), as unidades básicas são capazes de resolver 85% dos
problemas de saúde em sua comunidade, prestando atendimento de qualidade, evitando
internações desnecessárias e melhorando a qualidade de vida da população.
Tendo como base que a Estratégia Saúde da Família tem como principal objetivo
contribuir para a reorientação do modelo assistencial a partir da atenção básica, em
conformidade com os princípios do SUS. Realizando atenção contínua nas especialidades
básicas, com uma equipe multiprofissional habilitada para desenvolver as atividades de
promoção, proteção e recuperação da saúde, características do nível primário de atenção
(BRASIL, 2006). O projeto do pacotinho faz-se necessário para que tenhamos uma adesão
de 100% ao tratamento dos pacientes que não tem condição de aderir o tratamento por
serem analfabetos, idosos, com um baixo nível sócio econômico e dificuldade de
entendimento.
Para nós profissionais da Estratégia Saúde da Família, este projeto é importante por
trazer subsídios de como solucionar grande parte ou todos os problemas relacionados a não
adesão ao tratamento medicamentoso por falta de conhecimento ou condições de manter o
tratamento. Esse projeto engloba o paciente e os profissionais das Estratégia Saúde da
Família de forma integral e continua. Com a execução desse projeto, será possível levantar
dados para implementação de uma assistência humanizada permanente e que vise sempre o
bem estar do próximo.
3.Objetivo geral
Aumentar e ampliar a adesão à terapêutica no ESF II Cohab/ Vila Feliz utilizando um
método em que paciente administre a quantidade correta de medicamentos sem precisar ler
ou dividir seus horários.
3.1Objetivos específicos
- Promover a saúde através da correta adesão medicamentosa;
- Realizar consultas médicas e de enfermagem para acompanhar terapia medicamentosa;
- Acompanhar e monitorar o uso do pacotinho no domicilio e na unidade de saúde;
- Diminuir altos custos com internações e tratamentos reincidentes;
- Despertar nos profissionais envolvidos no projeto uma maior sensibilidade para o
problema;
- Desenvolver a conscientização da população para a importância da saúde preventiva e o
correto uso da medicação prescrita.
4.Desenvolvimento
O ponto de partida foi à implantação de um projeto baseado em um sistema de
pacotinho de papel, de impressão a baixo custo composto por três compartimentos a
princípio, identificados com figuras correspondentes ao amanhecer ou período da manhã,
horário de almoço e noite ou anoitecer. Compartimentos independentes em que cada um
comporta a quantidades e tipos de comprimidos a serem tomados naquele horário
correspondendo a aproximadamente esquemas de 8/8h e 12/12h.
Cada “pacotinho” é utilizado em um dia. É preparado por enfermagem ou agentes
comunitários de saúde treinados que organizam e selam os pacotinhos. O paciente apenas
rasga de acordo com o horário e toma todos os comprimidos que estão naquele
compartimento. Procede assim ao amanhecer, no almoço ou jantar. Ao fim do dia com
todos os compartimentos utilizados ele joga o papel fora e no dia seguinte inicia outro
pacotinho.
Foi realizada uma busca ativa pelas agentes comunitárias de saúde, buscando dados
para reconhecer a população alvo e seu perfil, visando à melhor forma de alcançar os
objetivos propostos, onde se procurou identificar os pacientes que faziam uso de
medicação contínua de forma incorreta. Foi analisado a escolaridade, a presença de
familiares alfabetizados e presentes nos horários das tomadas de medicação.
Os dados apontaram que na área encontravam-se alguns idosos e analfabetos que
não faziam correto uso das medicações o que as internações eram freqüentes, inclusive em
hospitais psiquiátricos. Partindo desse ponto, a equipe conscientizou-se de que havia a
necessidade de prescrever a medicação, orientar o paciente ou familiar, montar os
pacotinhos e supervisionar o uso do mesmo.
Para possibilitar o melhor andamento do programa, a equipe estabeleceu alguns
critérios para a utilização do pacotinho; o critério de escolha deveria ter a aprovação de
todos os membros da equipe, sendo que a discordância de um componente ocasionaria a
desclassificação do uso, os pacientes são selecionados pelo componente da equipe que
prestar o primeiro atendimento, sendo ele agente comunitários de saúde em sua visita
mensal, médico, durante a consulta médica, enfermeiro, na consulta de enfermagem ou
técnico em enfermagem na dispensação mensal do medicamento, posteriormente um deste
levará para a discussão dos demais membros da equipe.
Após a inclusão no programa o paciente e/ou familiar passa por uma consulta de
enfermagem, onde recebe toda a orientação necessária para o tratamento e o uso do
pacotinho, posteriormente, o pacotinho será feito pela enfermeira, pala técnica em
enfermagem ou pelo agente comunitário de saúde, sendo que toda a confecção terá como
rotina a supervisão da enfermeira na confecção. A retirada da medicação na farmácia
básica também será feita pela enfermeira, após preenchimento da receita pelo médico da
equipe.
O paciente deverá comparecer para consultas bimestrais com o médico da
Estratégia Saúde da Família e mensal com a enfermeira, onde será fiscalizado o uso do
pacotinho e a necessidade de suspensão ou continuidade do uso. O paciente ou familiar que
não fizer uso correto do pacotinho será reavaliado e orientado novamente permanecendo
no uso incorreto perderá o beneficio do projeto. O acompanhamento do uso também será
realizado periodicamente, se necessário diariamente pelo agente comunitário de saúde, que
ajudará no andamento e sucesso do projeto.
O método mais utilizado para detectar a falta de aderência é o questionamento
direto ao paciente, devido a sua praticidade e baixo custo. Os métodos mais comumente
utilizados para avaliar a adesão incluem o relato do paciente, a contagem de comprimidos e
a presença de efeitos colaterais.
O paciente e/ou familiar receberá os pacotinhos semanalmente, quinzenalmente ou
mensalmente, conforme as medicações que faz uso e as condições em que se encontra no
momento do tratamento medicamentoso.
Toda a equipe participa da realização do projeto do pacotinho desde as ações mais
simples até as mais complexas, não excluindo a importância que todas desenvolvem para o
sucesso do projeto.
5.Resultados
Após a implantação do programa foi possível observar vários resultados positivos,
dentre eles a o fim das internações em hospitais psiquiátricos ou de emergência por surtos
psicóticos dos pacientes que fazem uso do pacotinho, as quais eram constantes no período
antecedente ao uso do pacotinho.
Também foi verificado que os pacientes diminuíram significativamente a suas idas
a unidade de saúde, com queixas, principalmente de dores de cabeça, tontura e mal estar
geral. Passando a ir à unidade somente para retirar o pacotinho e realizar o
acompanhamento exigido pelo projeto.
Os pacientes que estão usufruindo do projeto pacotinho englobam principalmente
pessoas idosas, com baixa escolaridade, algumas analfabetas, que não tem condições de
identificar nem mesmo símbolos usados nas cartelas de medicamentos. Pacientes
psiquiátricos, que fazem uso de grande quantidade de medicação e não conseguem
identificar quando e como devem tomá-los pela grande quantidade e a semelhança entre os
mesmos.
Constatamos também que 100% das pessoas que fazem uso do pacotinho, o fazem
corretamente e referem melhora, a qual é visível com relação ao estado dos pacientes em
situações anteriores ao uso do pacotinho. Os resultados obtidos no ESF II do município de
Campo Erê nos levam a crer que os números e benefícios do projeto pacotinho podem
ainda ser maiores apartir do momento que todas as pessoas que necessitam da ajuda dos
profissionais da equipe, admitirem que precisam desse apoio e que a equipe só tem a
contribuir para melhorar sua saúde da sua população.
A equipe concluiu que é extremamente importante o acompanhamento de uma
equipe multidisciplinar, nesse processo. Reforçando a importância da adesão ao tratamento
de forma correta e continua, bem como, a importância da orientação quanto aos cuidados e
a necessidade de não interromper o tratamento e manter um acompanhamento
especializado durante o uso do pacotinho e se não for mais necessário o mesmo, a
importância do acompanhamento médico ou de enfermagem da mesma forma. É
importante lembrar que quando houver necessidade de um encaminhamento para um
atendimento especializado ou de alta complexidade o mesmo também será providenciado
pela Estratégia Saúde da família.
Em suma, podemos apontar como pontos positivos a pontualidade e a adesão dos
pacientes que participam do projeto, bem como a ajuda e o interesse dos familiares em
buscar conhecimentos e acompanhar o paciente que faz uso do pacotinho. A equipe tem
consciência de que muitas pessoas ainda podem usufruir do projeto do pacotinho e que um
acompanhamento psicológico se faz necessário em conjunto ao programa. Para tanto serão
estabelecidas novas estratégias para o alcance desse novo objetivo para dessa forma
melhorar ainda mais o tratamento do paciente.
6.Considerações finais
Os resultados evidenciam que o analfabetismo e a idade avançada e baixo poder
sócio econômico, são preocupações que interferem na terapia medicamentosa e estão
presentes na população do Estratégia Saúde da Família II do município de Campo Erê.
As variáveis mais importantes relacionadas à adesão ao tratamento incluem os
fatores sócios demográficos, as características psicológicas dos pacientes, negação da
doença e percepção do benefício da medicação, a educação do paciente, o relacionamento
com o médico e equipe de enfermagem e a complexidade do regime medicamentoso.
Concordamos com Rosa and Elkis 2007, quando descreve como problemas que
interferem na adesão medicamentosa; os erros de omissão, ou seja, não tomar o que foi
prescrito. Depois, os erros de finalidade, ou seja, tomar o remédio para razões erradas. Em
terceiro lugar, os erros de dosagem, o que, em geral, significa ingerir menos medicamento
que o necessário. Por fim, os erros na periodicidade ou seqüência das ingestões. A
literatura se restringe quase que exclusivamente ao estudo dos erros de omissão.
No que diz respeito às variáveis relativas ao paciente, o melhor que se pode fazer é
procurar educá-lo. O treinamento de habilidades em áreas relacionadas à medicação parece
mais eficaz do que simplesmente prover informação. Faz necessário fornecer informação
sobre as medicações que o paciente fará uso, como ela deve ser administrada, seus
benefícios, os possíveis efeitos colaterais e o fato de respeitar os horários de administração
da medicação.
Para que os pacientes tenham boa adesão, o mais importante é que sintam algum
benefício, tenham uma supervisão familiar e uma relação positiva com o médico que
prescreve e com a equipe de enfermagem que orienta. Em outras palavras, a medicação
tem que ser eficaz, deve-se dar uma grande importância para a abordagem familiar e devese procurar que a relação profissional da saúde-paciente seja positiva e o menos
assimétrica possível.
A partir disso, o envolvimento de toda equipe de saúde no desenvolvimento do
programa que auxiliem o paciente no seguimento da terapia medicamentosa torna-se
fundamental, tanto para a identificação de possíveis problemas que possam estar
interferindo na sua adesão à prescrição, como também para a conscientização acerca de um
tratamento responsável.
Neste contexto, é importante que todos os profissionais envolvidos, médicos,
enfermeiros, técnicos em enfermagem e agentes comunitários de saúde desenvolvam um
relacionamento colaborador com o paciente, para que o mesmo se sinta à vontade para
relatar com fidedignidade sua conduta.
7.Referências
Carbone, Maria H.; Costa Elisa Maria A. Saúde da família: uma abordagem
interdisciplinar. Rio de Janeiro (RJ): Rubio, 200
Ministério da Saúde. Departamento de atenção básica. Guia prático do Programa Saúde
da Família. Brasília (DF): Ministério da Saúde, 2001.
ROCHA, Cristiane Hoffmeister et al. Adesão à prescrição médica em idosos de Porto
Alegre, RS. Ciênc. saúde coletiva [online]. 2008, vol.13, suppl., pp. 703-710. Disponível
em http://www.scielo.br/scielo.php. Acesso em 30 de janeiro de 2011
Rosa Moacyr a.; Elkis Helio. Adesão em Esquizofrenia. Rev. Psiq. Clín [online]. 2007,
vol. 34, supl., 2 pp. 189-192. Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php. Acesso em
30 de janeiro de 2011
8.Anexos
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