comunicação e expressão por J. B. Oliveira* Jogos de palavras – uma arte esquecida Vivemos, como diria Shakespeare, em um “admirável mundo novo”. Tudo é diferente em relação aos tempos passados. Tudo mudou desde os tempos de nossos avós e mesmo de nossos pais. Nada, porém, mudou tanto quanto a comunicação! Hoje as formas comunicacionais são dinâmicas, eletrônicas, desenvolvidas através de parafernálias avançadas, rápidas e diversificadas. No passado, usávamos o telefone para falar; a máquina datilográfica para escrever; a fotográfica para fotos; a cinematográfica para filmar; o rádio para ouvir o noticiário; a vitrola para executar música e – um pouco mais próximo dos dias atuais – a TV para assistir às novelas e notícias. Quando surgiu um equipamento 3 em 1, foi um sucesso: toca fitas, rádio e toca-discos conjugados. Em um móvel que ocupava um espaço imenso na sala... Hoje, um aparelhinho que cabe na palma da mão, faz tudo isso e muito mais! Em compensação, porém, muitas coisas se perderam, como alguns gostosos e inteligentes jogos de palavras, não incluídos nos equipamentos modernos... Entre esses jogos nostálgicos, destacam-se as Charadas, as Trovas e os Trocadilhos. Charada é uma maneira de formar palavras a partir de dicas e indicações, o que dá agilidade à mente, propicia o enriquecimento do vocabulário e ainda auxilia o aprendizado da gramática. Quatro são as principais modalidades de charada: Novíssimas; Apocopadas; Sincopadas e Aferéticas. Nas Novíssimas, são dadas duas indicações – com o número de sílabas – e o conceito. Exemplo: Aqui o formoso está na cabeça (1-2). Solução: Aqui, com 1 sílaba = CA; formoso, com duas sílabas = BELO. Logo, conceito: CABELO. Apocopadas, Sincopadas e Aferéticas têm a ver com um fenômeno gramatical chamado Metaplasmo, que é a perda de fonemas, respectivamente no fim (Apócope), no meio (Síncope) ou no início (Aférese) da palavra. Como nas novíssimas, são dadas as indicações e o conceito. Exemplo de charada apocopada: Que bela igreja você tem (2-1). Solução: Igreja, com 2 sílabas = templo. Menos a última sílaba (plo) = tem. Exemplo de charada sincopada: A valise está na selva (3-2). Solução: valise, com 3 sílabas = maleta. Menos a sílaba do meio (le) = mata. Exemplo de charada aferética: O símio feriu-se com um pedaço de vidro (3-2). Solução: símio com 3 sílabas = macaco. Menos a sílaba inicial (ma) = caco. As Trovas, por sua vez, são poemas de uma só estrofe e quatro versos, como nestes casos: Senhor, em minha oração, eu peço em termos exatos: – Fazei que os maus sejam bons e os bons sejam menos chatos. Muito esquisitos eu acho: teus vestidos, minha prima são altos demais embaixo São baixos demais em cima. A situação tá tão feia, minha grana, tão escassa, que o vizinho churrasqueia e eu passo o pão na fumaça. Os Trocadilhos, por fim, constituem um jogo de palavras com efeitos sempre marcados pelo humor. É uma figura de linguagem que recebe o nome pomposo de paronomásia. Emílio de Menezes (1866-1918) dominava essa área poético-irônica, tornando-se referência obrigatória. Certa feita, encontra-se com ele um pseudo-trocadilhista, que, tocando-o, lhe diz: “É milho!” Tranquilamente, o escritor responde: “Vejo que você hoje está Com aveia!” Meio sem graça, o outro vai saindo com um sorriso amarelo. Emílio o segura: “Não Cevada!” Empurra-o numa cadeira e completa: “Centeio”! Noutra ocasião, ele está sentado no teatro quando vê, vindo em sua direção, uma atriz que vivia se insinuando para ele e que lhe pergunta sobre o lugar vazio a seu lado. Olhando para a fileira de trás, ele vê três lugares vagos, e então responde: “Atriz atroz: atrás há três!” Na época de estudante, brincávamos muito com trocadilhos. Certa ocasião, erámos três a tomar café. “Camões”, o colega português, começou a pôr açúcar nas xícaras. “Que gentileza”, disse Celso, outro colega. Retruquei: “Não é gentileza, é gente lisa. Ele faz isso pra não pagar”. A resposta dele foi: “Você não entendeu; eu disse que a gente lesa ele! “Só se for gente lusa!”, arrematei. “Velhos tempos, belos dias”! * J. B. é Consultor de Empresas, Professor Universitário, Advogado e Jornalista. É Autor do livro “Falar Bem é Bem Fácil”, e membro da Academia Cristã de Letras. [email protected] | www.jboliveira.com.br 42