PÁSCOA, DE AUGUST STRINDBERG RELATÓRIO DE INVESTIGAÇÃO TEATRAL: UMA «PEÇA COM CASINHA» António Branco CIAC Faro, Abril de 2008 ÍNDICE DESCRIÇÃO (REFLEXIVA) DO PROCESSO DE INVESTIGAÇÃO ARTÍSTICA ................................. 2 I. O ANO ZERO ........................................................................................................................... 2 II. O PROCESSO DE CRIAÇÃO DE PÁSCOA, DE AUGUST STRINDBERG ...................................................... 3 A. O problema inicial da falta de meios e recursos financeiros ........................................ 3 B. Soluções teatrais encontradas ..................................................................................... 5 C. Relação entre custos e uma estética/ética teatral ....................................................... 9 REFERÊNCIAS ...................................................................................................................... 11 ANEXO I: FICHA ARTÍSTICA E TÉCNICA ................................................................................ 12 ANEXO II: TEXTO DE APRESENTAÇÃO (FOLHA DE SALA DISTRIBUÍDA AO PÚBLICO) ............ 13 ANEXO III: ENSAIOS E ESPECTÁCULOS................................................................................. 15 ANEXO IV: ESTATUTOS D’ A PESTE – ASSOCIAÇÃO DE PESQUISA TEATRAL ......................... 16 ANEXO V: OUTRAS FOTOS .................................................................................................. 23 1 DESCRIÇÃO (REFLEXIVA) DO PROCESSO DE INVESTIGAÇÃO ARTÍSTICA O presente relatório incide sobre os aspectos que considerei mais relevantes, do ponto de vista da investigação artística, no processo de criação do 1º espectáculo d’ A Peste – Associação de Pesquisa Teatral, Páscoa, de August Strindberg, dirigido por mim. I. O ano zero No ano lectivo de 2005-2006, Aida Mascarenhas, Márcio Guerra, Rui Andrade, Rui Mimoso e Sónia Esteves encontraram-se na 2ª edição do Curso de Mestrado em Teatro e Educação (Departamento de Línguas, Comunicação e Artes da F.C.H.S./UALG), tendo participado conjuntamente nas aulas de Oficina do Teatro e de Música no Teatro, dirigidas, respectivamente, por Manuela de Freitas, José Mário Branco e eu próprio. Ao longo desse ano lectivo, os alunos foram sendo confrontados com uma concepção do Teatro e da criação artística cuja exigência vinha ao encontro das suas inquietações individuais – porque não só os incitou a rever as suas convicções como lhes ia oferecendo uma ética de vida. No final desse ano, decidiram prolongar essa experiência em sessões de trabalho semanais, com a finalidade de irem compreendendo cada vez melhor como pôr em prática os ensinamentos recebidos. Juntei-me a eles, evidentemente. Começámos no dia 9 de Setembro de 2006. Ao longo desse ano, por razões e em momentos diferentes, Aida Mascarenhas e Rui Mimoso saíram do grupo e juntaram-se a nós Ana Paleta, Fernando Cabral, Fúlvia Almeida, Inês Porfírio e Jorge Carvalho que, tendo conhecido essa perspectiva do Teatro noutros contextos (nomeadamente, na 3ª edição do mesmo Mestrado e no Curso de Iniciação Teatral do Sin-Cera 2007), também quiseram concretizá-la num âmbito extra-escolar. No dia 1 de Junho de 2007, constituímo-nos como associação cultural sem fins lucrativos (A PESTE – ASSOCIAÇÃO DE PESQUISA TEATRAL). Durante aquele primeiro ano, fizemos sobretudo exercícios e uma tentativa (falhada) de levar à cena O Tartufo, de Molière: o grupo não estava obviamente preparado para a complexidade e dificuldade desse clássico do teatro francês. Contudo, os exercícios e improvisações realizados tinham contribuído para a criação de um colectivo fortemente motivado que, apesar do insucesso e das desistências, estava determinado a continuar o seu percurso e montar um espectáculo. Fomos, então, aconselhados por Manuela de Freitas a experimentarmos uma peça de Strindberg que tinha sido produzida pela Cornucópia em 19851, por ela caracterizada como «peça com casinha», termo utilizado na Comuna, nos anos setenta do século passado: uma peça de teatro em que as personagens, a história e as suas 1 Segundo a informação disponível na CETBase, para além da Cornucópia só A Peste terá montado essa peça, em Portugal. 2 circunstâncias são facilmente reconhecíveis e próximas da realidade que todos vivemos. II. O processo de criação de Páscoa, de August Strindberg A. O problema inicial da falta de meios e recursos financeiros A intenção de produzir essa peça obrigou o grupo a reflectir sobre a seguinte questão: como controlar os custos não cedendo no essencial? Mais ainda: o que é o essencial, em Teatro? A resposta foi dada no âmbito da pesquisa levada a cabo sobre a apropriação de um conjunto de princípios estéticos, éticos e técnicos fundadores da concepção de Teatro que o grupo pretende exercitar. Passo a explicar. Nos seus estatutos (em anexo), A Peste explicita um programa configurador da sua prática, nos termos a seguir: ARTIGO 3º PRINCÍPIOS 1.As actividades d’ A PESTE regem-se pelos princípios seguintes: a)Para os membros d’ A PESTE, uma ética, uma estética e uma técnica são os três pilares inseparáveis e interdependentes de qualquer criação artística; eles adoptam e levam à prática a ética, a estética e a técnica dos criadores e mestres que lhes servem de referência e que 2 estão identificados no Artigo 2º ; […] (A Peste 2007) Foi no testemunho e no legado de dois dos criadores e mestres que «servem de referência» ao grupo, Jerzy Grotowski e Peter Brook, que a resposta para aquela questão foi encontrada. Numa célebre entrevista concedida a Eugenio Barba, Grotowski responde deste modo a algumas perguntas essenciais sobre a arte teatral3: O teatro pode existir sem figurinos nem cenários? Pode, sim senhor. Pode existir sem música de acompanhamento? Pode. Pode existir sem efeitos de luzes? Claro que pode. E sem texto? Também; a história do teatro confirma-o. [...] Mas poderá o teatro existir sem actores? Não conheço nenhum exemplo disso. [...] Pode o teatro existir sem público? Em última análise, é necessário, pelo menos um espectador para fazer um espectáculo. Ficamos, pois, com o actor e o espectador. Logo, podemos definir o teatro como “aquilo que tem lugar entre espectador e actor”. (Grotowski 1975: 29-30) Desta forma lapidar e provocadora, Grotowski defende o primado do actor na arte do Teatro – colocando no plano do supérfluo todos os outros elementos: o 2 A saber: «Constantin Stanislavski, Antonin Artaud, Fernando Amado, Jerzy Grotowski, Peter Brook, Adolfo Gutkin e Manuela de Freitas» (A Peste 2007: artº 2º). 3 «O que é o teatro? O que é a sua unicidade? Que pode ele fazer que o cinema e a televisão não podem?» (Grotowski 1975: 16) 3 cenário, os figurinos, a música, as luzes e, até, o texto. A partir dessa primazia do actor, constrói (e praticou) uma concepção ascética do Teatro expressa na designação feliz de «teatro pobre». A importância da revolução grotowskiana está bem patente nas palavras com que Jean-Jacques Roubine a ele se refere: Abrindo mão de toda maquinaria e tecnologia de que o ator não seja mestre e usuário, Grotowski não precisa senão de um espaço nu, suscetível de ser livremente arrumado, quer se trate de uma granja, de um galpão, de uma quadra ao ar livre etc. Essa libertação, a que Artaud e Brecht aspiravam sem poder realizá-la verdadeiramente, acaba acontecendo com Grotowski. Em prejuízo, segundo foi dito às vezes, da popularização do espetáculo. Mas, avle a pena referi-lo, é esse o preço que custa a eficiência, e portanto a razão de ser, do “espetáculo” grotowskiano. (1998: 104) A partir do espaço nu grotowskiano chegamos ao «espaço vazio», conceitochave de outro grande criador teatral: Peter Brook. De facto, na sua obra fundamental, Brook deixa claro que a base de construção do acto teatral é sempre essa: Posso chegar a um espaço vazio qualquer e usá-lo como espaço de cena. Uma pessoa atravessa esse espaço vazio enquanto outra pessoa observa – e nada mais é necessário para 4 que ocorra uma acção teatral. (2008: 7) Noutra obra de referência, dirá: Se concebermos automaticamente a ideia de que para fazer teatro é preciso começar por uma cena, por uma peça, por uma encenação, cenários, a luz, a música, sofás... se tomamos isso como uma evidência, optamos por um caminho errado. [...] para fazer teatro só precisamos duma coisa: a matéria humana. Isso não significa que o resto não tenha importância, mas não é a matéria principal. (1993: 22) É conhecido o impacto que a visão teatral de Grotowksi provocou em Peter Brook (1968, 2009). Ora foi, precisamente, na tentativa de conjugação da lição desses dois mestres que A Peste respondeu ao seu problema de falta de meios. Em primeiro lugar, encarando o ponto de partida do trabalho de criação como um espaço literalmente vazio5 a que, a pouco e pouco, se vão acrescentando os elementos absolutamente necessários para a significação teatral pretendida – e apenas esses. Em segundo lugar, tendo sempre presente o primado do actor, a “matéria humana” que confere realidade, consistência e densidade a tudo quanto acontece no palco. Em terceiro lugar, não aceitando encarar a escassez de meios técnicos e financeiros como obstáculo à criação. A peça produzida de August colocava uma dificuldade particular ao grupo, por se tratar de um texto naturalista. A didascália inicial, aliás, descrevia generosamente o cenário pretendido pelo autor: 4 Em obra posterior, Brook viria a corrigir aquela ideia, referindo a necessidade de, pelo menos, dois actores e um observador para que aconteça Teatro (1993:23). 5 O conceito de «espaço vazio» em Peter Brook é muito mais abrangente do que o sentido literal da expressão, compreendendo, igualmente, a ideia de disponibilidade total dos actores e do encenador para o desconhecido (o que implica, igualmente, a eliminação dos pré-conceitos ao próprio acto de descoberta e permite a libertação da imaginação). 4 Uma varanda envidraçada, no rés-do-chão, transformada em sala de estar. Ao meio, ao fundo, uma grande porta que dá para um jardim fechado por uma sebe e um portão que dá para a rua. Do outro lado da rua, que se situa, tal como a casa, numa elevação, vê-se a vedação de um jardim situado na vertente que desce para a cidade. Ao fundo, os cumes das árvores desse jardim. Por cima, vê-se um campanário e o topo de um edifício monumental. Primavera. As janelas da varanda que se estende ao longo de todo o palco têm cortinas de cretone amarela clara com flores, que podem ser corridas. À esquerda, fixo a um dos lados da porta, um espelho; por cima do espelho, um calendário. À direita da porta do fundo, uma grande secretária com livros, material para escrever, um telefone. À esquerda da porta, uma mesa de sala de jantar, uma salamandra, um aparador. À direita, em primeiro plano, uma mesa de costura e um candeeiro. Ao lado, duas poltronas. Um lustre no tecto. Lá fora, um candeeiro de rua. À esquerda, uma varanda, uma porta, que dá para o resto da casa; à direita, a porta da cozinha. A acção passa-se nos nossos dias. (Strindberg 1985: s/p.). O projecto d’ A Peste consistia em preservar o mais possível o ambiente realista da peça, porque se tratava de experimentar a actualidade dessa escola teatral e a sua capacidade de comunicação com actores e espectadores do séc. XXI. A sala em que ensaiamos tem um pé direito muito baixo (cerca de 4m), sendo igualmente exíguas as dimensões do espaço de representação (Largura: 7m; Profundidade: 8m). Para além disso, esse laboratório é prioritariamente dedicado a aulas, razão pela qual não admite a instalação de cenários complexos e fixos, cuja construção, aliás, os inexistentes recursos financeiros d’ A Peste também não permitiriam. Por isso, o que o grupo fez foi escolher cuidadosamente os signos com que pretendia preencher o espaço vazio, de forma a indicar o conjunto de sentidos primordiais seleccionados na fase da análise dramatúrgica da peça: a) trata-se da sala da casa de uma família pequeno-burguesa; b) o chefe da família está na prisão, mas a sua ausência domina o discurso da família e é a sua fonte de sofrimento principal. Porque não se tratava de um espaço de teatro convencional, o grupo também necessitava de uma forma de criar «bastidores» que contribuíssem para dar corpo à ideia de que aquela sala se prolongava por uma casa com cozinha, quartos, corredores, etc., e onde os actores pudessem permanecer, ocultos do público, sempre que as personagens não intervinham na cena. Vamos, então, às soluções encontradas. B. Soluções teatrais encontradas Foi mantido e aproveitado flutuante. Foram cobertos com (representando um fragmento do Páscoa) três charriots com rodas, (Figs. 1 e 2). o chão do Laboratório, revestido de pavimento uma forra de pano cru pintado por nós papel de parede da casa, com cores alusivas à muito leves, fáceis de desmontar e transportar 5 (Foto 1) (Foto 2. Ao fundo à direita, a «parede da sala revestida de papel; Sónia Esteves, «Eleonora») Por detrás desse aparato, ficavam os bastidores (e o prolongamento da casa). Em cena, numa área de 6mx4m foram meticulosamente dispostos os poucos elementos que configuravam a sala: 6 - à esquerda, uma pequena mesa quadrada de plástico de 1 m2 coberta com toalhas e rodeada de 4 cadeiras velhas de mobília dos anos 50, também emprestadas; (Foto3. A mesa; da esquerda para a direita: António Branco, «Sr. Lindqvist»; Márcio Guerra, «Elis») - à direita, um tapete velho, também emprestado, sobre o qual assentava um cadeirão recuperado por nós; um aparelho de rádio antigo; e um candeeiro de latão emprestado, com um abat-jour feito por nós; (Foto 4: cadeirão e candeeiro; Sónia Esteves, «Eleonora») 7 - ao fundo, encostada à parede, uma mesinha estreita, também emprestada, em que assentava um relógio antigo; ao lado da mesa, um cesto de papéis comum de verga. (Foto 5. Mesinha e relógio; Márcio Guerra, «Elis», e Ana Paleta, «Cristina») E pronto: estava construída a sala da casa da família Heist6, com os elementos que considerámos essenciais: a mesa (elemento simbólico da ideia de família), o cadeirão (marcando a presença ausente do chefe da família) e a mesinha do relógio estragado e parado (significando a suspensão do tempo provocada pela ausência do pai). Refiro, ainda, que não estava em cena nenhum objecto que não fosse referido ou usado pelas personagens. Com os figurinos procedemos da mesma forma: só o de uma das personagens foi concebido e mandado fazer numa modista de Tavira (o da filha, a Eleonora). Todos os outros foram comprados em lojas de roupa de segunda mão ou foram emprestados. Para além das referências aos espaços interiores da casa, tanto a didascália como a acção indicavam a existência de um espaço exterior (jardim, rua). Usámos a porta da própria sala (por onde o público acede ao Laboratório): os actores entravam e saíam por aí quando as personagens saíam de casa ou nela entravam. Também era usada quando as personagens observavam o que se passava na rua, seguindo as instruções do autor. A cena era iluminada por projectores com lâmpadas de iodine de 1000W, como os que se usam no exterior das obras, montados em tripés, e cuja função era, 6 Um espectadora sueca contou-nos que o cenário da peça lhe recordou o ambiente das casas pequeno-burguesas da Suécia. No entanto, nenhum de nós conhecia essa realidade. 8 essencialmente, dar luz à cena, sem qualquer preocupação (ou possibilidade) de recortes ou qualquer outro tipo de “jogo de luz”. No total, gastámos 695,74€7 em cenários, adereços, figurinos e outros elementos técnicos. C. Relação entre custos e uma estética/ética teatral O que fizemos nós? Inventámos uma casinha com as coisas que tínhamos à mão (como as crianças que brincam às casinhas8). Mas o essencial não estava aí. De facto, cada um dos elementos de cena per se e a forma como se conjugavam era claramente insuficiente, se usados critérios estéticos mais exigentes: não existia uma impecável coerência estilística (nos móveis, nos adereços, nos figurinos), os materiais não eram nobres, usávamos um lírio artificial (cf. Fig. 3), etc. Ou seja: o cenário e os adereços não bastavam para criar a ilusão realista própria das grandes montagens realizadas nos teatros com muitos meios, desde o princípio do séc. XX. Pelo contrário: tudo aquilo era de uma enorme fragilidade, repleto de «brechas», incompletudes, etc. E essa evidente fragilidade estava totalmente a nu, já que a primeira fila de espectadores da pequena bancada de 20 lugares se encontrava a meio metro da cena. Mas essa mesma fragilidade possibilitou-nos compreender mais a fundo o outro aspecto referido pelos dois mestres que nos serviram de referência: o principal, no Teatro, é a matéria humana, são os actores. De facto, ao longo dos 15 espectáculos realizados, foram muitos os espectadores que nos testemunharam terem-se sentido totalmente mergulhados no ambiente da peça, na vida daquelas personagens, acreditando na sua existência e no seu drama durante aquelas quase duas horas de função. Como foi possível isso acontecer, apesar das insuficiências do cenário, dos adereços, dos figurinos? Seguramente porque os actores tinham trabalhado para acreditarem que, durante o tempo de duração da peça, eles eram, realmente, aquelas pessoas que interagiam em torno de um drama familiar; eles eram os habitantes de carne e osso e sangue daquela casa (e já não apenas daquele cenário). Os actores, com a sua convicção, transformavam aqueles parcos sinais (mesa, cadeiras, cadeirão, tapete, etc.) numa realidade mais complexa e, sobretudo, totalmente coerente e credível. Afinal, tinham posto em prática as orientações metodológicas criadas por Stanislavski e tinham verificado que esse «sistema» (agora tão contestado pelas correntes pós-modernas do Teatro) ainda resultava. Mas disso é impossível falar, porque a experiência do Teatro é, como todos sabemos, intraduzível e efémera: só quem lá esteve, em cada sessão, soube o que quero dizer com «credível». Como escreveu Derrida: A representação teatral termina, não deixando atrás de si, atrás da sua actualidade, nenhum vestígio, nenhum objecto que se possa levar. Não é nem um livro nem uma obra, mas uma energia e, neste sentido, é a única arte da vida. (1967: 363, tradução minha) 7 Esta verba foi inteiramente recuperada graças à receita de três espectáculos realizados no CAPa – Centro de Artes Performativas do Algarve, em Faro, onde fomos generosamente recebidos pelo seu director, José Laginha (11, 12 e 13 de Abril de 2009. Total: 213 espectadores). 8 Segundo Manuela de Freitas, o mestre Fernando Amado definia assim a arte teatral: «Os actores são meninos a brincar no jardim dos deuses.» (Fadda & Cintra 2004: 53). 9 O que A Peste – Associação de Pesquisa Teatral me tem ensinado é que a escassez (ou inexistência) de recursos técnicos e financeiros não mata a criação teatral. Muito pelo contrário, fornece excelentes condições para que o trabalho de criação invista no essencial, nos actores: no seu poder de convicção, na sua imaginação, na sua dádiva. Tem-me, igualmente, confirmado que a lição de alguns dos mestres mais importantes da história do Teatro do séc. XX está viva e permite formas de apropriação muito frutuosas, quando encarada como orientação ética, estética e técnica. Tem-me, ainda, feito acreditar que o «teatro pobre» pode ser literalmente reinventado, sempre que o objectivo principal do grupo de pessoas que se juntam para fazer teatro for o de brincar a contar histórias significativas à comunidade a que se dirigem. E, finalmente, dá-me uma orientação para os trabalhos que o grupo vier a desenvolver: ficámos a saber que a pobreza (financeira, técnica, etc.) de um grupo ou companhia de teatro não é um empecilho, mas, pelo contrário, pode constituir-se como um elemento estimulante para a concretização de uma das funções primordiais do Teatro, aquela que os actores concretizam na simbiose «do génio apolíneo e do génio dionisíaco» (cf. Nietzsche 2005). 10 REFERÊNCIAS A Peste (2007). Estatutos. Cópia dos estatutos fixados por escritura pública notarial. Faro. 1 de Junho. Brook, Peter (1968). Introduction. In Jerzy Grotowski. Towards a Poor Theatre. London: Methuen. Brook, Peter (1993). O diabo é o aborrecimento: conversas sobre teatro. Trad. de Carlos Porto. Porto: Asa [Le Diable c’est l’ennui. Paris: Actes du Sud. 1991]. Brook, Peter (2008). O Espaço Vazio. Trad. de Rui Lopes. Lisboa: Orfeu Negro [The Empty Space. London: Penguin Books. 1968.] Brook, Peter (2009). With Grotowski: Theatre is Just a Form. Eds. Georges Banu, Grzegorz Ziolkowski e Paul Allain. Wrocław: Icarus Publishing Enterprise. Derrida, Jacques (1967). L’Ecriture et la Différence. Paris: Seuil. Fadda, S. & Cintra, R. (2004). «Manuela de Freitas, uma actriz que é “tudo ou nada”». Sinais de Cena 2, Lisboa. Grotowski, Jerzy (1975). Para um Teatro Pobre. Trad. de Rosa Macedo e Osório Mateus. Lisboa: Forja [Towards a Poor Theatre. London: Methuen. 1968]. Nietzsche, Friederich (2005). A Origem da Tragédia. Tradução, apresentação e comentários de Luís Lourenço. Lisboa: Lisboa Editora [Die Geburt der Tragödie us dem Geiste der Musik. 1872] Roubine, Jean-Jacques (1998). A linguagem da encenação teatral. Trad. e apres. De Yan Michalski. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed. [Théâtre et mise en scène – 18801980. Paris: PUF. 1980]. Strindberg, August (1985). Páscoa. Trad. de Luís Miguel Cintra, com a colaboração de Inga Gulander. Lisboa: Teatro da Cornucópia. 11 ANEXO I: FICHA ARTÍSTICA E TÉCNICA ELENCO 1 (ESPECTÁCULOS DE ABRIL E MAIO) Elis ......................................................................................................... Márcio Guerra Eleonora ....................................................................................................Sónia Esteves Sra. Heist ................................................................................................. Fúlvia Almeida Cristina .......................................................................................................... Ana Paleta Benjamim ....................................................................................................Rui Andrade Sr. Lindqvist ........................................................................................... António Branco ELENCO 2 (ESPECTÁCULOS DE JUNHO) Elis ......................................................................................................... Márcio Guerra Eleonora ....................................................................................................Sónia Esteves Sra. Heist ................................................................................................. Fúlvia Almeida Cristina .......................................................................................................... Ana Paleta Benjamim ................................................................................................ Jorge Carvalho Sr. Lindqvist .................................................................................................Rui Andrade ENCENAÇÃO, DRAMATURGIA E DIRECÇÃO DE ACTORES António Branco ASSISTÊNCIA DE ENCENAÇÃO E DRAMATURGIA Rui Andrade ACONSELHAMENTO ARTÍSTICO Carlos Carvalheiro, José Mário Branco e Manuela de Freitas TRADUÇÃO Luís Miguel Cintra, com a colaboração de Inga Gulander ASSISTÊNCIA DE CENA Inês Porfírio e Jorge Carvalho CENÁRIO, ADEREÇOS E FIGURINOS António Branco e Susana Duarte SELECÇÃO MUSICAL António Branco: François Jules Barcellini (genérico de O Meu Tio, de Jacques Tati), Jules Massenet (Werther), Giuseppe Verdi (Requiem) e Wolfgang A. Mozart (Ave Verum Corpus) DESENHO DE LUZ, OPERAÇÃO DE LUZ E SOM Fernando Cabral CARTAZ (FOTO) Fernando Cabral IMPRENSA E RELAÇÕES PÚBLICAS Fúlvia Almeida PRODUÇÃO A PESTE – ASSOCIAÇÃO DE PESQUISA TEATRAL [Duração: 1h55, com intervalo] 12 ANEXO II: TEXTO DE APRESENTAÇÃO (FOLHA DE SALA DISTRIBUÍDA AO PÚBLICO) PÁSCOA Drama em três actos, de August Strindberg (1849-1912) Uma família vive atormentada pelas consequências da fraude cometida pelo pai no colégio de órfãos de que era Director – e pela qual foi condenado à prisão. Para além das grandes dificuldades financeiras em que ficou por causa das dívidas, também a honra e a imagem da família foi atingida, na pequena cidade de província onde vivem. Ao longo da história, o principal credor aproxima-se várias vezes da casa, provocando o grande temor dos seus moradores, receosos da sua exigência de execução da dívida. A acção desenrola-se nas vésperas do Domingo de Páscoa: quinta-feira santa (Acto I), sexta-feira santa (Acto II) e sábado de Aleluia (Acto III). Na obra de Strindberg, toca-nos muito o conhecimento que o autor tem das doenças da nossa alma, revelado na negra impossibilidade da felicidade que as suas personagens tão obsessivamente exprimem e vivem. Como diz uma mestra de Teatro: «As personagens de Strindberg, tão envolvidas consigo mesmas, só poderiam acabar num lamaçal, descendo para as entranhas, onde se afogam. [...] A armadilha suga-as para dentro e jamais as deixa sair.» (Stella Adler sobre Ibsen, Strindberg & Chekhov, organização de Barry Paris, Rio de Janeiro: Editora Bertrand Brasil, 2002). No entanto, o que nos atraiu em Páscoa (recomendada ao grupo pela Manuela de Freitas, depois de termos desistido d’ O Tartufo, de Molière, em que trabalhámos entre Outubro de 2007 e Junho de 2008), foi que, neste caso, Strindberg deixa uma saída às personagens. E, desse ponto de vista, Páscoa é muito especial na vasta obra desse tão grande dramaturgo sueco. Quando começámos a ensaiar, em Outubro de 2007, pareceu-nos que a peça (na tradução inspirada de Luís Miguel Cintra) nos permitia falar, sobretudo, do orgulho e do fechamento, talvez porque ainda estivesse muito próxima a experiência de pesquisa teatral em que a cegueira da soberba fanática era tão central (O Tartufo, de Molière). Depois, julgámos que o seu núcleo temático fosse o sofrimento humano – provavelmente por termos caído, deslumbrados, na armadilha em que também as personagens subsistem quase até ao final. À medida que o trabalho avançava, contudo, começámos a ver mais, a partir de perguntas do Carlos Carvalheiro e da Manuela de Freitas e da fala de uma das personagens: «Não se deve escravizar os homens, deve-se libertá-los» (Elonora, Acto I). Tornou-se, então, nítido que queríamos falar da redenção sempre ao nosso alcance, por mais embrenhados que estejamos nas várias circunstâncias que nos fazem mergulhar na infelicidade e no sofrimento. E também se foi tornando evidente que a personagem principal é a família – e as redes afectivas com que ela e a sua história, por vezes tão pesada, nos cercam (ou em que nos deixamos aprisionar): porto de abrigo, umas vezes, prisão, outras, a família é a nossa primeira fonte de aprendizagem e é dela que recebemos a bagagem primordial com que «vamos por aí, por essa estrada fora, pelos caminhos de pedras que fazem os pés sangrar» (Eleonora, Acto II). Como disse Tolstoi: «As famílias felizes parecem-se todas; as famílias infelizes são infelizes cada uma à sua maneira». E assim chegámos às perguntas que foram orientando os ensaios: Quanto sofremos e fazemos sofrer por comodismo, por preconceito, por vergonha, por orgulho, por medo, por antecipação de males? Que parte do caminho 13 para a felicidade está ao nosso alcance e o que fazemos para o percorrer? Que responsabilidade temos na infelicidade que vivemos? O que nos impede de sermos livres? Da matriz judaico-cristã da peça, retivemos a história de um homem que se entregou (exposto e indefeso) para que todos os outros homens compreendessem que a libertação é ser capaz de assumir totalmente a sua humanidade e a sua divindade, morrendo e ressuscitando em cada dia das suas vidas. Essa lição é coincidente com um dos nossos entendimentos da missão dos actores, inspirado em Artaud e Grotowski: oferecer, cada dia, em sacrifício (no sentido etimológico de “tornar sagrado” e, portanto, “divinizar” – e não no sentido judaico-cristão de “expiação” ou de “esforço infeliz”), a sua condição de homens e de deuses, para que os outros homens (os espectadores) se possam reconhecer nela e libertar-se. Daí que a nossa pesquisa se centre sobretudo no ofício do actor, razão pela qual não nos consideramos impedidos de fazer teatro pelo facto de não termos recursos financeiros ou materiais. Também acreditamos no compromisso entre actor e personagem legado por Stanislavski; na eliminação do supérfluo, defendida por Gordon Craig e Peter Brook; e no Teatro enquanto espaço de comunhão ideológica, ideia herdada de Brecht. As opções de encenação, cenografia, figurinos, direcção de actores, etc., reflectem esse enraizamento ético, técnico e estético do colectivo que estamos a querer construir. Fazemos teatro para contarmos, com a melhor qualidade possível, uma história que interessa à comunidade a quem nos dirigimos. Se o conseguimos ou não, o público – também co-criador do espectáculo – dirá, contribuindo com as suas opiniões para que o encontro (que queremos que seja cada um dos nossos espectáculos) seja cada vez mais rico para todos. A PESTE – ASSOCIAÇÃO DE PESQUISA TEATRAL 14 ANEXO III: ENSAIOS E ESPECTÁCULOS ENSAIOS LOCAL: Laboratório de Teatro e Artes Performativas da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais DURAÇÃO: Outubro de 2007 a Abril de 2008 REGULARIDADE: 2ª e 5ª feiras, das 20h30 às 23h30; Sábados, das 14h00 às 18h30, duas vezes por mês (interrupção total no mês de Agosto) TOTAL DE HORAS DE ENSAIO: cerca de 192 horas ESPECTÁCULOS (15) LABORATÓRIO DE TEATRO E ARTES PERFORMATIVAS (FCHS-Faro): ensaios com público: 3, 4, 5 e 6 de Abril; espectáculos: 26, 27 e 28 de Junho de 2008 CAPA (Faro) – 11, 12 e 13 de Abril de 2008 ESAPÇO DA CORREDOURA/AL-MASRAH (Tavira) – 18 e 19 de Abril de 2008 MUSEU MUNICIPAL (Faro) – 8, 9 e 10 de Maio de 2008 TOTAL DE ESPECTADORES: 403 15 ANEXO IV: ESTATUTOS D’ A PESTE – ASSOCIAÇÃO DE PESQUISA TEATRAL A PESTE – ASSOCIAÇÃO DE PESQUISA TEATRAL ESTATUTOS CAPÍTULO I DA ASSOCIAÇÃO E DOS SEUS OBJECTIVOS E PRINCÍPIOS ARTIGO 1º DENOMINAÇÃO, SEDE E DURAÇÃO 1. Com a denominação de A PESTE – Associação de Pesquisa Teatral, adiante designada por A PESTE, é constituída uma associação cultural sem fins lucrativos e com personalidade jurídica, com sede em Faro, na Faculdade de Ciências Humanas e Sociais, Universidade do Algarve, Campus de Gambelas, 8005-139, Faro. 2. A sua duração é por tempo indeterminado. ARTIGO 2º OBJECTO 1. A PESTE tem por objecto: a) A realização de espectáculos e de pesquisa teatral, segundo princípios éticos e estéticos (definidos, entre outros, por Constantin Stanislavski, Antonin Artaud, Fernando Amado, Jerzy Grotowski, Peter Brook, Adolfo Gutkin e Manuela de Freitas); b) A investigação sobre Ética e Estética do Teatro e Literacias das Artes; c) A intervenção comunitária, através de projectos formativos e educativos destinados a crianças, jovens e adultos, na área da educação artística e da educação para uma cidadania crítica e participativa; d) A participação em eventos artísticos e culturais, bem como a sua organização; 2. A PESTE compromete-se, igualmente, a apoiar outros grupos que queiram fazer teatro com base nos princípios enunciados no artigo seguinte. ARTIGO 3º PRINCÍPIOS 1. As actividades d’ A PESTE regem-se pelos princípios seguintes: a) Para os membros d’ A PESTE, uma ética, uma estética e uma técnica são os três pilares inseparáveis e interdependentes de qualquer criação artística; eles adoptam e levam à prática a ética, a estética e a técnica dos criadores e mestres que lhes servem de referência e que estão identificados no Artigo 2º; b) Os membros d’ A PESTE, mesmo quando pontualmente dirigidos ou assistidos por artistas convidados, exteriores ao seu grupo, são, conjunta e individualmente, co-responsáveis e co-autores dos espectáculos e outras 16 actividades em que estejam envolvidos, independentemente da função que neles exerçam; c) Os membros d’ A PESTE consideram que, no teatro como nas outras artes, o acto criativo é o resultado do encontro entre um artista e um público, duas entidades diferentes mas em pé de igualdade, das quais resulta a obra artística, sendo o trabalho privado dos membros d’ A PESTE, individual ou colectivo, não mais do que a preparação do melhor resultado possível desse encontro. d) Os membros d’ A PESTE observam uma rigorosa confidencialidade quando aos aspectos concretos do seu trabalho de preparação e ensaio, não como forma de sectarismo ou de fechamento, mas como forma de garantir a todos um total respeito de todos pela dádiva criativa e pela busca de verdade que cada actor é chamado a fazer no contexto desse trabalho; e) Os membros d’ A PESTE consideram que o teatro, não sendo igual à vida, é uma projecção criativa e universalizante da vida, sendo por isso, sempre, reflexo e testemunho interveniente em todos os aspectos da vida das comunidades, locais ou universais, de que fazem parte. 2. A alteração destes princípios só poderá ser feita conforme o disposto no nº2 do Artigo 16º. CAPÍTULO II DOS ASSOCIADOS E DA SUA ADMISSÃO ARTIGO 4º CATEGORIAS DE ASSOCIADOS 1. Haverá três categorias de associados: efectivos, conselheiros e amigos. 2. Serão associados efectivos os membros que forem admitidos nessa qualidade por pelo menos dois terços dos associados efectivos existentes à data da admissão. 3. Serão associados conselheiros aqueles que, a convite de dois terços dos sócios efectivos, aceitarem contribuir, com o seu saber e a sua experiência, para uma boa prática ética, estética e técnica dos princípios d’ A PESTE, integrando o Conselho Artístico previsto no Artigo 9º. 4. Serão associados amigos todos aqueles que nessa qualidade desejarem apoiar os princípios e as actividades d’ A PESTE ou que com ela quiserem colaborar organizada e regularmente. 5. Poderão ainda ser associados amigos: outras associações, entidades ou grupos formalmente constituídos. 6. A aprovação de novos associados efectivos, conselheiros e amigos será feita em Assembleia Geral, sob proposta da Direcção, nas condições definidas nos números anteriores. 7. Todos os associados se comprometem a preservar e respeitar os princípios d’ A PESTE, podendo o seu não cumprimento ou deturpação ser motivo de exclusão, por proposta da Direcção à Assembleia Geral, sendo nestes casos requerida a maioria de dois terços dos participantes com direito a voto. 17 ARTIGO 5º JÓIA E QUOTA Os associados efectivos e amigos contribuirão com uma jóia e uma quota anual, cujos montantes serão fixados por Assembleia Geral, sob proposta da Direcção. CAPÍTULO III DOS DEVERES E DOS DIREITOS DOS ASSOCIADOS ARTIGO 6º DEVERES E DIREITOS DOS ASSOCIADOS EFECTIVOS 1. Os associados efectivos ficam obrigados: a) A respeitar os Estatutos e a concorrer para o desenvolvimento das actividades d’ A PESTE; b) A desempenhar os cargos para que forem eleitos pela Assembleia Geral, salvo em caso de escusa justificada; c) A pagar pontualmente as quotas. 2. Os associados efectivos têm direito: a) A eleger e a serem eleitos para os órgãos sociais d’ A PESTE e a tomar parte nas Assembleias Gerais, com direito a voto; b) A usufruir de todas as regalias que A PESTE conceda aos seus associados; c) A propor à Direcção, em qualquer oportunidade, quaisquer providências que entendam necessárias para a prossecução dos objectivos e princípios d’ A PESTE. ARTIGO 7º DEVERES E DIREITOS DOS ASSOCIADOS CONSELHEIROS 1. Os associados conselheiros ficam obrigados: a) A respeitar os Estatutos; b) A alertar a Direcção, sempre que considerem que os princípios d’ A PESTE não estão a ser observados ou que precisam de ser revistos, propondo quaisquer providências que entendam necessárias para a sua prossecução ou correcção. 2.Os associados conselheiros têm direito: a) A integrar os órgãos sociais para que forem eleitos; b) A tomar parte nas Assembleias Gerais, com direito a voto; c) A usufruir de convite nas actividades organizadas por esta Associação, sempre que tal depender apenas d’ A PESTE. ARTIGO 8º DEVERES E DIREITOS DOS ASSOCIADOS AMIGOS 1. Os associados amigos são obrigados: a) A respeitar os Estatutos; b) A pagar pontualmente as quotas. 2. Os associados amigos têm direito: a) A tomar parte nas Assembleias Gerais, sem direito a voto; 18 b) A usufruir de convite ou desconto nas actividades organizadas por esta Associação, sempre que tal depender apenas d’ A PESTE. c) A propor à Direcção quaisquer providências que entendam necessárias para a prossecução dos objectivos d’ A PESTE. CAPÍTULO IV DOS CORPOS ASSOCIATIVOS E SEU FUNCIONAMENTO ARTIGO 9º ÓRGÃOS 1. São órgãos sociais d’ A PESTE: a) a Assembleia Geral; b) a Direcção; c) o Conselho Fiscal d) o Conselho Artístico. ARTIGO 10º COMPOSIÇÃO DOS ÓRGÃOS 1. A Mesa da Assembleia Geral é composta, no mínimo, por: a) Presidente; b) Secretário; c) Vogal. 2. A Direcção é composta, no mínimo, por: a) Presidente; b) Vice-Presidente ou Secretário; c) Tesoureiro. 3. O Conselho Fiscal é composto por: a) Presidente; b) Dois vogais. 4. O Conselho Artístico é composto por, pelo menos, cinco associados efectivos designados pela Assembleia e por todos os associados conselheiros. 5. Os mandatos dos órgãos sociais eleitos têm a duração de dois anos. ARTIGO 11º ASSEMBLEIA GERAL 1. A Assembleia Geral é o órgão soberano da associação e deverá ser convocada com a antecedência mínima de 15 dias pelo Presidente da Mesa (ou pelo Secretário no impedimento daquele) e nela têm assento todos os associados. 2. Compete à Assembleia Geral: a) Aprovar o Plano de Actividades anual ou semestral d’ A PESTE, assim como todas as alterações posteriores; b) Apreciar os pareceres do Conselho Artístico; c) Eleger bienalmente os órgãos sociais, que se apresentarão em lista; d) Aprovar o Relatório e Contas da Direcção; 19 e) Deliberar sobre todos os assuntos que lhe forem apresentados pela Direcção, pelo Conselho Fiscal ou pelos associados, com base nas disposições estatutárias; f) Fixar o montante da jóia e da quota anual, nos termos do Artigo 5º; g) Interpretar os Estatutos, zelar pelo seu cumprimento e aprovar os regulamentos julgados necessários; h) Todo o acto não compreendidos nas atribuições legais estatutárias de outros órgãos d’ A PESTE. i) Deliberar sobre as admissões ou exclusões de sócios, nos termos acima definidos. 2. A Assembleia Geral reunirá, pelo menos, uma vez por ano e, sempre que necessário, por iniciativa do Presidente da Mesa, por solicitação da Direcção ou do Conselho Artístico, ou ainda a requerimento ao Presidente da Mesa subscrito por pelo menos um terço dos associados efectivos. ARTIGO 12º DIRECÇÃO 1. A Direcção é convocada pelo respectivo presidente, só pode deliberar com a presença da maioria dos seus titulares e as deliberações são tomadas por maioria dos votos dos titulares presentes, tendo o presidente voto de qualidade. 2. À Direcção compete: a) Representar A PESTE, social, administrativa, fiscal e judicialmente; b) Promover e coordenar todas as acções tendentes à consecução dos objectivos d’ A PESTE, nomeadamente o seu Plano de Actividades anual ou semestral e a direcção artística da sua execução. c) Administrar A PESTE e executar as decisões da Assembleia Geral, zelando sempre pelo rigoroso cumprimento dos Estatutos; d) Zelar pelo cumprimento dos pareceres do Conselho Artístico; e) Propor à Assembleia Geral a admissão de sócios, a mudança de categoria dos mesmos ou a sua exclusão; f) Apresentar anualmente à Assembleia Geral o Relatório e Contas; g) Aceitar ou recusar os donativos, heranças, legados e doações feitos a esta Associação; 3. A PESTE fica obrigada com a intervenção de dois membros da Direcção, excepto nos actos de mero expediente, em que é suficiente a de um só. ARTIGO 13º CONSELHO FISCAL 1. O Conselho Fiscal é convocado pelo respectivo presidente, só pode deliberar por maioria dos votos dos titulares presentes, tendo o presidente voto de qualidade. 2. São atribuições do Conselho Fiscal: a) Exercer a fiscalização das contas; b) Formular parecer sobre o Relatório e Contas apresentado pela Direcção. 20 ARTIGO 14º CONSELHO ARTÍSTICO 1. Ao Conselho Artístico compete: a) Dar parecer sobre os espectáculos a serem realizados pel’ A PESTE, assim como sobre todas as actividades que envolvam a aplicação dos princípios definidos no Artigo 3º; b) Orientar artisticamente A PESTE, por sua iniciativa ou a pedido da Direcção. 2. Os pareceres do Conselho Artístico são vinculativos sempre que envolvam orientações sobre a forma de concretização dos princípios definidos no Artigo 3º. 3. O Conselho Artístico reúne sempre que convocado pela Direcção, por iniciativa desta ou de dois associados conselheiros, e delibera sem necessidade de quórum. CAPÍTULO V DAS RECEITAS E DAS DESPESAS ARTIGO 15º RECEITAS E DESPESAS 1. As receitas d’ A PESTE serão constituídas: a) Pelas jóias e quotas dos associados; b) Por subsídios, heranças, legados e doações; c) Pelo produto da venda de quaisquer publicações e da receita de espectáculos, projectos de investigação ou cursos promovidos pel’ A PESTE ou em que esta participe. d) Pelo produto da prestação de serviços d’ A PESTE a outras entidades. 2. São despesas d’ A PESTE: a) Os gastos de instalação de secretaria e de expediente; b) Os encargos com as relações externas e divulgação d’ A PESTE e seus objectivos; c) Os encargos com a realização das suas iniciativas; d) Todas as que a Direcção aprovar, ouvido o Conselho Fiscal. CAPÍTULO VI DA ALTERAÇÃO DOS ESTATUTOS, DA DISSOLUÇÃO E DA LIQUIDAÇÃO ARTIGO 16º ALTERAÇÃO DOS ESTATUTOS 1. Os presentes estatutos só poderão ser alterados em Assembleia Geral, sob proposta da Direcção, da Mesa da Assembleia ou do Conselho Artístico. 2. As deliberações sobre alteração dos estatutos exigem o voto favorável de, pelo menos, dois terços dos sócios efectivos e conselheiros presentes, acrescendo, para as alterações à alínea a) do Artigo 2º e ao Artigo 3º, o voto favorável da maioria dos membros do Conselho Artístico, presentes ou não. 21 3. Para o efeito previsto no número anterior, poderá um associado efectivo ou conselheiro enviar o seu parecer escrito e o seu voto, no caso de não poder estar presente, por motivos justificados. ARTIGO 17º DISSOLUÇÃO A dissolução d’ A PESTE só pode ser deliberada em Assembleia Geral expressamente convocada para esse fim e com os votos favoráveis de, pelo menos, três quartos de todos os associados efectivos e conselheiros. ARTIGO 18º LIQUIDAÇÃO Havendo dissolução, a Assembleia Geral que a deliberar nomeará uma Comissão Liquidatária que procederá à venda de todos os haveres d’ A PESTE, revertendo o produto líquido para o fim determinado por essa Assembleia. ARTIGO 19º OMISSÕES Em todas as omissões dos Estatutos, aplicar-se-á a legislação em vigor sobre associações ou outra legislação adequada. 22 ANEXO V: OUTRAS FOTOS (A Peste, 2008: Páscoa, de August Strindberg. Da esquerda para a direita: António Branco, Márcio Guerra, Ana Paleta, Jorge Carvalho, Inês Porfírio, Fúlvia Almeida, Sónia Esteves, Rui Andrade e Fernando Cabral) (Sónia Esteves, «Eleonora»; Márcio Guerra, «Elis») 23 (Márcio Guerra, «Elis»; Ana Paleta, «Cristina») (Sónia Esteves, «Eleonora»; Rui Andrade, «Benjamim») 24 (Fúlvia Almeida, «Sra. Heist»; Márcio Guerra, «Elis») (Ana Paleta, «Cristina»; «Márcio Guerra, «Elis») 25 (Sónia Esteves, «Eleonora»; Rui Andrade, «Benjamim») (Rui Andrade, «Benjamim»; Márcio Guerra, «Elis») 26 (António Branco, «Sr. Lindqvist»; Márcio Guerra, «Elis») (António Branco, «Sr. Lindqvist»; Sónia Esteves, «Eleonora») 27