. FORMAS E PROCESSOS ANTROPOGÊNICOS NA (DES) CONSTRUÇÃO DO RELEVO EM UM ESPAÇO PARAENSE Antônio Carlos Ribeiro Araújo Jr. Geógrafo e Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Geografia da IFCH/UFPA [email protected] Resumo A região amazônica é conhecida por sua enorme biodiversidade e pelo seu contexto de formação geológico-geomorfológico associados a processos naturais como formação de grabens e intenso processo de sedimentação, sendo a ação humana considerada como coadjuvante nos processos modificadores das formas do relevo. Para tanto, se faz importante questionar: 1) Qual o papel da ação antrópica na modificação da paisagem amazônica? 2) Quais formas e processos são oriundos da ação antrópica. O elemento a ser analisado são as estradas, as quais servem para conectar centros urbanos e acessar e dar suporte a 3 Tm.82 6404Qu64 577.13 Tm[(co)-8(n)131 1 56.664 573. antrópica, podendo representar uma transição irreversível a uma nova paisagem com a qual a sociedade não tem nenhuma experiência (HAFF, 2001). A Geografia, e em particular a Geomorfologia, quando considera a sociedade como agente geomórfico, têm importância na análise da criação de formas e processos do relevo aparecendo como ferramenta para o entendimento de mudanças recentes em razão (principalmente) da ação humana na natureza (CASSETI, 1991; GREGORY, 1992). O entendimento da sociedade como “fator geográfico” (LA BLACHE, [1921] 1954) e a base para se entender as alterações procedidas em processo na superfície da terra, trabalhando como a concepção moderna de sociedade como agente geomórfico, ciente de poder transformador da natureza, não condicionado as possibilidades de mudança que ela oferece, ou seja, para além de uma discussão possibilista. Para tanto, o presente artigo tem como objetivos a) analisar qual o papel da ação antrópica na modificação da paisagem amazônica e b) identificar e caracterizar formas e processos decorrentes da ação antrópica sobre o relevo tomando como exemplo setores do nordeste paraense. Levantamentos bibliográficos, bem como observações sistemáticas considerando a (des)construção do relevo (formas e processos criados e formas e processos induzidos) em setores do nordeste paraense constituem metodologia inicial para o desenvolvimento do trabalho. Os pontos de referência serão as estradas, as quais servem para conectar centros urbanos e para acessar e dar suporte a atividades de uso da terra. Elas se conectam em rede e variam em forma e propósito (FORMAN et al., 2003). Entretanto, as estradas afetam a atmosfera, o solo, a vegetação, a fauna e as comunidades humanas que estão em sua proximidade (SOUSA et. al., 2009). Por este motivo algumas áreas sob influência direta (eixo principal) e indireta (vicinais) da BR-316 (Pará-Maranhão) setor oeste localizadas no nordeste paraense, foram escolhidas para servir de exemplo de como as certas alterações procedidas e em processo foram e são causadas por agentes antrópicos. Teoria e práxis: contexto da geomorfologia antropogênica Os estudos em ciências geológicas e geomorfológicas ganham forte impulso a partir da descoberta da costa oeste dos Estados Unidos e também da ênfase dada aos métodos para se fazer levantamentos consistentes e comprobatórios. Vitte (2004) em seu trabalho falando sobre fundamentos metodológicos da geomorfologia e suas implicações nas ciências da terra, promove um debate acerca da construção histórica da metodologia em estudos geomorfológicos enfocando nas variáveis fortuitas ao seu desenvolvimento. A discussão empreendida por Vitte (2004) foca as dificuldades encontradas por alguns autores como Gilbert e Davis em utilizar um método de pesquisa pertinente aos seus estudos. Algumas leituras de Vitte apontam para estudos metafísico-indutivos por parte de Davis e positivistas (em sentido Comteano) por parte de Gilbert. Ambos os métodos tem sua relevância por se tratarem do cerne metodológico da ciência geomorfológica, não implicando apontar, como sugere Vitte (2004) qual dos dois (método indutivo ou pragmático) merece o título de ter resgatado as ciências geológicas e geomorfológicas do marasmo intelectual da “época de ouro” das ciências ditas físicas, como apontado por Bertrand (1971). Fala-se em resgate, pois, até então as ciências físicas ou naturais se pautavam basicamente em inventários descritivos acerca do ambiente natural, sendo tais métodos importantes para dar as ciências da terra um caráter eminentemente científico perdido ou desgastado ao longo do tempo. Em certa medida, influenciados pela base de estudos norte americana, estudos sobre ciências da paisagem ganham um novo vulto e na França com Bertrand (1971, 2007) e Tricart (1981) vê-se como de fato as coisas ganharam novos rumos. Bertrand (1971) vai propor uma linha de estudos concernentes ao meio natural não mais isolado, mas sob uma perspectiva sistêmica, na qual a paisagem é tida como a relação indissociável entre meio físico, biológico e antrópico, conferindo-lhe dinâmica por conta das relações, que agora são consideradas em perpétua transformação. Berutchachvili e Bertrand (2007) ao considerarem o “sistema territorial natural”, sem dúvida a luz de uma perspectiva sistêmica, portanto integrada entre os agentes abióticos (hidrosfera, litosfera e atmosfera), bióticos (biomassa – zooplâncton e fitoplâncton) e antrópicas rumam para o entendimento do sistema como um todo, ou seja, por meio de uma visão holística. Tricart (1981) em seu trabalho “paisagem e ecologia”, compartilhando dos pressupostos sistêmicos, vai igualmente considerar a paisagem como um sistema integrado, podendo ser incluídos nos estudos socioeconômicos que visem o desenvolvimento político, econômico e social, considerando que o cientista não pode, de nenhuma maneira, ater-se a uma única dimensão ou desconsiderar variáveis para além da geografia (sociológicas, da engenharia, etc). O conhecimento das variáveis componentes do ecossistema permite perceber onde ocorre a desestabilização, uma vez que a exploração social dos recursos se concentra em demandas específicas, ou seja, naquilo que lhes é “necessário” para seu desenvolvimento. Tricart (1981) fala da importância do ecossistema, mas não lhe atribui autonomia para a análise, uma vez que este desconsidera as variáveis abióticas (geomorfologias, pedológicas, etc) como parte do sistema, aspecto também salientado por Sotchava (1977). Ao considerar o meio natural, político, econômico e cultural como interagindo de forma mútua Tricart (1976, 1977, 1981) permite que um novo viés seja considerado no âmbito do ordenamento territorial, um viés de fato promovedor do desenvolvimento. Integrando a sociedade em seu debate pretende mostrá-la como geradora/modificadora/intensificadora de processos, os quais possam vir a (des)modelar as formas do relevo. Verificou-se na literatura geomorfológica possibilidades de interpretação do relevo modificado ou criado a partir dos efeitos das ações humanas (COATES, 1971; SUMMERFIELD, 1991; PANIZZA, 1996; ROSSATO, SUERTEGARAY, 2000; ROSS [1994], 2003; GUERRA, GUERRA, [1997] 2009). A Geomorfologia Ambiental, Aplicada e Antropogênica formam o rol de abordagens encontradas que tornam possível a compreensão das intervenções da sociedade sobre a morfologia, isto inclui a consideração da sociedade no tempo, no espaço e nas concretizações de seus objetivos, tendo como foco a frequência, magnitude e intensidade de eventos no ambiente (des)construído; e as potencialidades de melhor aproveitamento do relevo, entendido como um recurso (habitação, mineração, implantação de industrias, etc). A respeito deste tema, novos esforços foram feitos no Brasil em princípios dos anos 1990 por Cassetti (1991), que buscou aliar a abordagem dialética à análise do relevo. Ross (1990, 1992) discutiu a ação humana nas escalas mais locais da taxonomia do relevo, que incide, por exemplo, na dinâmica das vertentes. Nos anos 2000 se destacam as contribuições teóricas (explicita ou implicitamente assumidas como Geomorfologia Ambiental) dos geógrafos do sul e sudeste do país, como Ross (2003), Suertegaray (2002) e Coltrinari (2000, 2001), e Sales (2004), da Universidade Federal do Ceará (UFCE). A interação relevo/solo/degradação humana foi abordada, dentre outros autores, por Guerra (1999). Dentre os geólogos o principal trabalho é o de Peloggia (1998), que forneceu contribuições acerca dos depósitos “tecnogênicos” e do relevo “tecnogênico” como objeto de estudo. As ações humanas sobre o meio físico têm sido intensificadas e seu poder transformador tem sido potencializado pelo avanço técnico e científico. As revoluções na agricultura, na indústria e na ciência deixaram registros na paisagem do período conhecido como Quaternário, indicando os modos pelos quais as sociedades apropriaram-se da natureza em diversos tempos e espaços. Cada vez mais, torna-se necessário entender a sociedade como agente geomorfológico, que por meio do emprego de suas técnicas é capaz de transformar a paisagem em diferentes escalas. As ações sociais realizadas neste sentido podem ser denominadas de tecnogênicas, partindo desde a utilização dos primeiros instrumentos técnicos até a utilização de equipamentos capazes de modificar potencialmente as paisagens (LISBÔA, 2004). O tema em questão tem se expandido, sobretudo, por meio de estudos em espaços urbanos (GUERRA, 2011), de geomorfologia fluvial (CUNHA, 2008, 2009) e aqueles que enfatizam desastres e riscos em áreas costeiras ou de relevo mais acidentado (PANIZZA, 1996). Há, também, estudos de caráter morfogenético/histórico (RODRIGUES, 2005) que identificam formas de relevo e processos geomorfológicos pretéritos com base na análise do conteúdo de depósitos de origem “tecnogênica” (artificial), mapas e textos antigos, dentre outras fontes (ROSSATO, SUERTEGARAY, 2002; PELOGGIA, 2005). (Des) construção do relevo em um espaço amazônico Os fatos observados foram agrupados em dois tipos principais (Quadro 1): formas e processos criados, os quais não existiriam sem a intervenção antropogênica e, como tal, revelam a “originalidade” tecnogênica em sua plenitude (PELOGGIA, 2005); e formas e processos induzidos, nos quais a ação da sociedade acelera ou evoca o potencial do relevo aos fenômenos de degradação (deposição) e agradação (erosão). Quadro 1: Esboço preliminar das formas e processos geomórficos sob influência antropogênica, identificados em faixas ao longo do eixo principal da BR-316 e vicinais, Nordeste do Estado do Pará. FATOR PRINCIPAL FORMAS E PROCESSOS CRIADOS FORMAS E PROCESSOS INDUZIDOS Criação de depósitos -Aterros -Bancos e cargas de fundo: tecnogênicos (pode -Terraços artificiais assoreamento de curso d’água. estar associados a -Montículos, morrotes e elevações obras de engenharia) artificiais diversas Empréstimo de -Depressões: rebaixamento do terreno -Redução de depósitos de terras (mineração) com ou sem formação de lagos. sedimentos inconsolidados (retirada -Elevações isoladas de configuração de areia das planícies). irregular ou geométrica. -Mudanças nas bacias de drenagem -Rampas (vertentes) e nos processos de erosão e -Elevações artificiais de material “estéril” colmatação fluvial. rejeitos. Retirada de -Depósitos de cobertura como vegetação e outras produto de lixiviação. estruturas naturais -Retomada de erosão em superfície – de proteção sulcos, ravinas e voçorocas. -Erosão de planícies, margens fluviais e bordas de planaltos e vertentes. -Surgimento, expansão e migração de depósitos inconsolidados sob ação das águas. Obras de engenharia -Cortes em terrenos planálticos. -Processos de erosão linear. e adensamento de -Lagos artificiais (barragens). Mudança nos padrões de erosão e construções -Retificação, canalização e supressão de sedimentação em ambientes fluviais cursos d’água. ou costeiros. -Barreiras a circulação das águas superficiais e subterrâneas. -Terraplenos. -Ilhas e terraços artificiais. Uso do solo e -Nivelamento de passeio. -Desaparecimento, redução e limpeza ocupação urbana -Abertura e desobstrução de furo. de igarapés. -Canalização, escoamento de águas, -Abertura e aprofundamento de canal. extração de rochas em leitos de rios. -Desobstrução de porto e rio. -Abertura e retificação de vala e fiada d’água. Fonte: Elaborado com base em Araújo Jr. e Barbosa (2010) e a partir de trabalhos de campo. Os resultados são mostrados em razão de seu ambiente principal de ocorrência: a) locais de extração mineral, b) planícies aluviais, c) margens de estrada, d) empreendimentos industriais e e) áreas urbanas. Os fatos geomórficos das áreas urbanas estão sendo considerados preliminarmente nesta exposição em virtude de sua diversidade e complexidade de relações políticas, econômicas, sociais e ambientais. a) Locais de extração mineral Com grande efeito sobre o relevo, a mineração ou “empréstimo de terras” implica em rebaixamento do terreno, acentuação dos desníveis topográficos, desorganização da rede de drenagem e fragmentação da superfície original. Em outros sistemas biofísicos, ela atua na supressão da cobertura vegetal e do solo, em conseqüência, ocorrem processos erosivos nas bordas das depressões (“cavas”), principalmente nas camadas de solo mais inconsolidado. A drenagem superficial e subterrânea, tendo seu fluxo alterado, origina lagos de dimensão variada. Os rejeitos gerados pela mineração, quando não acumulados sobre a superfície em forma de morrotes e montículos, são carreados pelas águas pluviais para os rios, afetando também áreas à jusante dos locais de extração. As principais ocorrências de mineração correspondem aos locais de extração de calcário em Capanema e Bragança, e em diversas áreas, de retirada de material de uso imediato na indústria cerâmica (argilas) e na construção civil – seixo, areia, argila para argamassa, pedra “preta” (grês da Formação Barreiras) e “piçarra” (substrato areno-argiloso). b) Planícies fluviais Em virtude de apresentar uma densa rede de drenagem, uma das conseqüências mais nítidas da ocupação humana na Amazônia é o impacto causado sobre as planícies e os ecossistemas aluviais. No Nordeste Paraense, os principais impactos foram verificados em rios de baixa hierarquia, que têm sua geometria fortemente modificada. Por efeito do assoreamento, diminui a profundidade dos canais e, em muitos casos, aumenta a largura dos mesmos, isto é, a área abrangida pela várzea maior é expandida. As inundações atingem, assim, terrenos outrora não afetados por elas. Infere-se que, como resultado das mudanças ambientais como um todo, o fluxo/vazão de água é diminuído, o que contribui para agravar o entulhamento dos canais. O material carreado para as planícies aluviais provêm dos solos erodidos pelo escoamento superficial e das margens fluviais solapadas, intervindo neste último caso a retirada da mata ciliar que consolidava o terreno. Os depósitos hoje encontrados nestes terrenos são muito heterogêneos, com sedimentos de granulometria diversificada, misturados a detritos e materiais orgânicos e artificiais. Na paisagem, as planícies fortemente alteradas aparecem comumente recobertas por vegetação herbácea, bosques de palmeiras como o buruti e uma mata ciliar heterogênea, incluindo lavouras e pomares. Aterros foram realizados em alguns locais de modo bastante pontual. Nos casos em que os rios têm seu fluxo parcialmente obstruído por barragens, instala-se uma dinâmica geomorfológica similar a dos lagos. Nestas barragens, há épocas em que as águas ficam muito turvas devido ao acúmulo excessivo de sedimentos, tomando geralmente a cor característica do substrato laterizado (tons vermelho – Formações Barreiras, Itapecuru e Ipixuna, branco – Formação Ipixuna, e amarelado - Sedimentos Pós-Barreiras). Não se pode inferir, nesta exposição, sobre a influência de microorganismos e algas na composição da cor das águas dos lagos artificiais. O trecho do igarapé Apeú em questão é uma área de terraço, na qual o rio teve seu talvegue escavado, tendo uma várzea baixa, já com a presença de sulcos, os quais “são incisões que se formam nos solos, em função do escoamento superficial concentrado” (GUERRA, 2006, p. 591) e se cuidados não forem tomados podem surgir ravinas pela ausência de cobertura vegetal. c) Empreendimentos industriais Como a socioeconomia regional é dominada pela agropecuária, a indústria assume menor importância no Nordeste Paraense, com exceção das firmas localizadas na Região Metropolitana de Belém e das unidades relacionadas à produção oleira ou à mineração industrial – CIBRASA, em Capanema; Globo Verde, em Bragança; e CAP, em Paragominas. Outros empreendimentos da mineração industrial existem no Nordeste Paraense, porém fora das faixas de influência da BR316. Um primeiro efeito da implantação das grandes indústrias é que, por conta dos vastos terrenos que elas ocupam, obras de engenharia modificam a topografia com o objetivo de “planificar” o terreno para receber a infra-estrutura necessária. Disto são criados desníveis no terreno, com o “corte” dos planaltos sedimentares, ou aterros de trechos inundáveis. Às proximidades dos cursos d’água navegáveis, aterros (considerados como terraços artificiais) também são realizados para viabilizar uma infra-estrutura portuária, geralmente de pequeno porte. Porém, as formas de relevo tecnogênico mais proeminentes geradas pelas indústrias são os montículos ou morrotes de rejeitos, que chegam a dezenas de metros de altura e de largura/comprimento, poluindo tanto o solo quanto a drenagem. A mineração, por exemplo, gera “estéril” (substância mineral sem valor comercial), e a indústria madeireira, restos de toras e serragem, que não são viáveis comercialmente. Por todo o Nordeste Paraense, são encontrados depósitos de serrarias pretéritas, alguns deles soterrados por terraplenos mais recentes. Outros depósitos com origem em serrarias são, após o cessar da atividade industrial, remobilizados por ação humana ou pelas águas pluviais. d) Áreas urbanas A dimensão de vários tempos está impregnada na paisagem da cidade (CARLOS, 1992) e mesmo colocando-se no nível do aparente e do imediato, o exercício de analisar as condicionantes históricas que induziram a sua atual configuração urbana se faz importante. As ações institucionais estão a frente de grande parte das transformações sofridas na paisagem urbana da cidade de Belém, em especial as ligadas a drenagem de áreas alagadas, dissecação de pântanos, dragagem, desobstrução e canalização de rios. Os problemas concernentes as áreas propícias a inundação e alagamentos sempre canais fluviais, o que acaba apenas mascarando as reais consequências das intervenções empreendidas sobre o relevo do espaço urbano. Considerações As ações humanas sobre o meio físico têm sido intensificadas e seu poder transformador tem sido potencializado pelo avanço técnico e científico. As revoluções na agricultura, na indústria e na ciência deixaram registros na paisagem do período conhecido como Quaternário, indicando os modos pelos quais as sociedades apropriaram-se da natureza em diversos tempos e espaços. O aumento populacional faz com que os grupos sociais organizem o seu ambiente de variadas maneiras, transformando, intensificando ou mesmo criando formas e processos sobre o relevo, o qual pode ser entendido como síntese de formas e processos, que se pode apreender na paisagem por meio da observação. Ao transformar, induzir, intensificar e criar formas e processos sobre o relevo, a sociedade acaba por desencadear fenômenos que em curto prazo, podem apresentar-se favoráveis e passíveis de controle sistemático. No entanto, muitas vezes o resultado destas ações é o desencadear de fenômenos que têm na sociedade seu principal vetor de impactação. Cada vez mais, torna-se necessário entender a sociedade como agente geomorfológico, que por meio do emprego de suas técnicas é capaz de transformar a paisagem em diferentes escalas, uma vez que as alterações pela qual a Amazônia foi submetida nos últimos 50 anos não podem ser consideradas inéditas, com exceção dos produtos químicos decorrentes da atividade agropecuária, como fertilizantes e pesticidas. Nos mais de 11.000 anos de convivência com a espécie humana, a floresta amazônica já havia experimentado o desmatamento, as queimadas, a introdução de espécies exóticas, a retirada de espécies de valor comercial, os ciclos econômicos e a fragmentação da paisagem. Ir além de fenômenos naturais como os de erosão (degradação) e sedimentação (agradação) e considerar a ação antrópica no ambiente amazônico se faz necessário, posto que suas ações sobre o relevo acabam por aparecer como significativas geradoras e intensificadoras de formas e processos em escalas locais. Referências ARAÚJO JR. A. C. R. Ambiente e planejamento urbano-ambiental: reflexões preliminares sobre o PROMABEN. In: XII SIMPÓSIO NACIONAL DE GEOGRAFIA URBANA, 2011, Belo Horizonte - MG. Anais... Editora Belo Horizonte, 2011. BERTRAND, G. Paisagem e Geografia Física Global: esboço metodológico. Caderno de Ciências da Terra. São Paulo: Instituto de geografia, USP, 1971. BERTRAND, J.; BERUTCHACHVILI, N. 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