Acesse o artigo completo aqui

Propaganda
.
FORMAS E PROCESSOS ANTROPOGÊNICOS NA (DES) CONSTRUÇÃO DO RELEVO
EM UM ESPAÇO PARAENSE
Antônio Carlos Ribeiro Araújo Jr.
Geógrafo e Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Geografia da IFCH/UFPA
[email protected]
Resumo
A região amazônica é conhecida por sua enorme biodiversidade e pelo seu contexto de formação
geológico-geomorfológico associados a processos naturais como formação de grabens e intenso
processo de sedimentação, sendo a ação humana considerada como coadjuvante nos processos
modificadores das formas do relevo. Para tanto, se faz importante questionar: 1) Qual o papel da
ação antrópica na modificação da paisagem amazônica? 2) Quais formas e processos são
oriundos da ação antrópica. O elemento a ser analisado são as estradas, as quais servem para
conectar centros urbanos e acessar e dar suporte a 3 Tm.82 6404Qu64 577.13 Tm[(co)-8(n)131 1 56.664 573.
antrópica, podendo representar uma transição irreversível a uma nova paisagem com a qual a
sociedade não tem nenhuma experiência (HAFF, 2001).
A Geografia, e em particular a Geomorfologia, quando considera a sociedade como agente
geomórfico, têm importância na análise da criação de formas e processos do relevo aparecendo
como ferramenta para o entendimento de mudanças recentes em razão (principalmente) da ação
humana na natureza (CASSETI, 1991; GREGORY, 1992).
O entendimento da sociedade como “fator geográfico” (LA BLACHE, [1921] 1954) e a base para
se entender as alterações procedidas em processo na superfície da terra, trabalhando como a
concepção moderna de sociedade como agente geomórfico, ciente de poder transformador da
natureza, não condicionado as possibilidades de mudança que ela oferece, ou seja, para além de
uma discussão possibilista.
Para tanto, o presente artigo tem como objetivos a) analisar qual o papel da ação antrópica na
modificação da paisagem amazônica e b) identificar e caracterizar formas e processos
decorrentes da ação antrópica sobre o relevo tomando como exemplo setores do nordeste
paraense. Levantamentos bibliográficos, bem como observações sistemáticas considerando a
(des)construção do relevo (formas e processos criados e formas e processos induzidos) em
setores do nordeste paraense constituem metodologia inicial para o desenvolvimento do trabalho.
Os pontos de referência serão as estradas, as quais servem para conectar centros urbanos e para
acessar e dar suporte a atividades de uso da terra. Elas se conectam em rede e variam em forma
e propósito (FORMAN et al., 2003). Entretanto, as estradas afetam a atmosfera, o solo, a
vegetação, a fauna e as comunidades humanas que estão em sua proximidade (SOUSA et. al.,
2009). Por este motivo algumas áreas sob influência direta (eixo principal) e indireta (vicinais) da
BR-316 (Pará-Maranhão) setor oeste localizadas no nordeste paraense, foram escolhidas para
servir de exemplo de como as certas alterações procedidas e em processo foram e são causadas
por agentes antrópicos.
Teoria e práxis: contexto da geomorfologia antropogênica
Os estudos em ciências geológicas e geomorfológicas ganham forte impulso a partir da
descoberta da costa oeste dos Estados Unidos e também da ênfase dada aos métodos para se
fazer levantamentos consistentes e comprobatórios. Vitte (2004) em seu trabalho falando sobre
fundamentos metodológicos da geomorfologia e suas implicações nas ciências da terra, promove
um debate acerca da construção histórica da metodologia em estudos geomorfológicos enfocando
nas variáveis fortuitas ao seu desenvolvimento.
A discussão empreendida por Vitte (2004) foca as dificuldades encontradas por alguns autores
como Gilbert e Davis em utilizar um método de pesquisa pertinente aos seus estudos. Algumas
leituras de Vitte apontam para estudos metafísico-indutivos por parte de Davis e positivistas (em
sentido Comteano) por parte de Gilbert.
Ambos os métodos tem sua relevância por se tratarem do cerne metodológico da ciência
geomorfológica, não implicando apontar, como sugere Vitte (2004) qual dos dois (método indutivo
ou pragmático) merece o título de ter resgatado as ciências geológicas e geomorfológicas do
marasmo intelectual da “época de ouro” das ciências ditas físicas, como apontado por Bertrand
(1971).
Fala-se em resgate, pois, até então as ciências físicas ou naturais se pautavam basicamente em
inventários descritivos acerca do ambiente natural, sendo tais métodos importantes para dar as
ciências da terra um caráter eminentemente científico perdido ou desgastado ao longo do tempo.
Em certa medida, influenciados pela base de estudos norte americana, estudos sobre ciências da
paisagem ganham um novo vulto e na França com Bertrand (1971, 2007) e Tricart (1981) vê-se
como de fato as coisas ganharam novos rumos.
Bertrand (1971) vai propor uma linha de estudos concernentes ao meio natural não mais isolado,
mas sob uma perspectiva sistêmica, na qual a paisagem é tida como a relação indissociável entre
meio físico, biológico e antrópico, conferindo-lhe dinâmica por conta das relações, que agora são
consideradas em perpétua transformação.
Berutchachvili e Bertrand (2007) ao considerarem o “sistema territorial natural”, sem dúvida a luz
de uma perspectiva sistêmica, portanto integrada entre os agentes abióticos (hidrosfera, litosfera e
atmosfera), bióticos (biomassa – zooplâncton e fitoplâncton) e antrópicas rumam para o
entendimento do sistema como um todo, ou seja, por meio de uma visão holística.
Tricart (1981) em seu trabalho “paisagem e ecologia”, compartilhando dos pressupostos
sistêmicos, vai igualmente considerar a paisagem como um sistema integrado, podendo ser
incluídos nos estudos socioeconômicos que visem o desenvolvimento político, econômico e social,
considerando que o cientista não pode, de nenhuma maneira, ater-se a uma única dimensão ou
desconsiderar variáveis para além da geografia (sociológicas, da engenharia, etc).
O conhecimento das variáveis componentes do ecossistema permite perceber onde ocorre a
desestabilização, uma vez que a exploração social dos recursos se concentra em demandas
específicas, ou seja, naquilo que lhes é “necessário” para seu desenvolvimento. Tricart (1981) fala
da importância do ecossistema, mas não lhe atribui autonomia para a análise, uma vez que este
desconsidera as variáveis abióticas (geomorfologias, pedológicas, etc) como parte do sistema,
aspecto também salientado por Sotchava (1977).
Ao considerar o meio natural, político, econômico e cultural como interagindo de forma mútua
Tricart (1976, 1977, 1981) permite que um novo viés seja considerado no âmbito do ordenamento
territorial, um viés de fato promovedor do desenvolvimento. Integrando a sociedade em seu
debate pretende mostrá-la como geradora/modificadora/intensificadora de processos, os quais
possam vir a (des)modelar as formas do relevo.
Verificou-se na literatura geomorfológica possibilidades de interpretação do relevo modificado ou
criado a partir dos efeitos das ações humanas (COATES, 1971; SUMMERFIELD, 1991; PANIZZA,
1996; ROSSATO, SUERTEGARAY, 2000; ROSS [1994], 2003; GUERRA, GUERRA, [1997]
2009).
A Geomorfologia Ambiental, Aplicada e Antropogênica formam o rol de abordagens encontradas
que tornam possível a compreensão das intervenções da sociedade sobre a morfologia, isto inclui
a consideração da sociedade no tempo, no espaço e nas concretizações de seus objetivos, tendo
como foco a frequência, magnitude e intensidade de eventos no ambiente (des)construído; e as
potencialidades de melhor aproveitamento do relevo, entendido como um recurso (habitação,
mineração, implantação de industrias, etc).
A respeito deste tema, novos esforços foram feitos no Brasil em princípios dos anos 1990 por
Cassetti (1991), que buscou aliar a abordagem dialética à análise do relevo. Ross (1990, 1992)
discutiu a ação humana nas escalas mais locais da taxonomia do relevo, que incide, por exemplo,
na dinâmica das vertentes.
Nos anos 2000 se destacam as contribuições teóricas (explicita ou implicitamente assumidas
como Geomorfologia Ambiental) dos geógrafos do sul e sudeste do país, como Ross (2003),
Suertegaray (2002) e Coltrinari (2000, 2001), e Sales (2004), da Universidade Federal do Ceará
(UFCE). A interação relevo/solo/degradação humana foi abordada, dentre outros autores, por
Guerra (1999). Dentre os geólogos o principal trabalho é o de Peloggia (1998), que forneceu
contribuições acerca dos depósitos “tecnogênicos” e do relevo “tecnogênico” como objeto de
estudo.
As ações humanas sobre o meio físico têm sido intensificadas e seu poder transformador tem sido
potencializado pelo avanço técnico e científico. As revoluções na agricultura, na indústria e na
ciência deixaram registros na paisagem do período conhecido como Quaternário, indicando os
modos pelos quais as sociedades apropriaram-se da natureza em diversos tempos e espaços.
Cada vez mais, torna-se necessário entender a sociedade como agente geomorfológico, que por
meio do emprego de suas técnicas é capaz de transformar a paisagem em diferentes escalas. As
ações sociais realizadas neste sentido podem ser denominadas de tecnogênicas, partindo desde
a utilização dos primeiros instrumentos técnicos até a utilização de equipamentos capazes de
modificar potencialmente as paisagens (LISBÔA, 2004).
O tema em questão tem se expandido, sobretudo, por meio de estudos em espaços urbanos
(GUERRA, 2011), de geomorfologia fluvial (CUNHA, 2008, 2009) e aqueles que enfatizam
desastres e riscos em áreas costeiras ou de relevo mais acidentado (PANIZZA, 1996). Há,
também, estudos de caráter morfogenético/histórico (RODRIGUES, 2005) que identificam formas
de relevo e processos geomorfológicos pretéritos com base na análise do conteúdo de depósitos
de origem “tecnogênica” (artificial), mapas e textos antigos, dentre outras fontes (ROSSATO,
SUERTEGARAY, 2002; PELOGGIA, 2005).
(Des) construção do relevo em um espaço amazônico
Os fatos observados foram agrupados em dois tipos principais (Quadro 1): formas e processos
criados, os quais não existiriam sem a intervenção antropogênica e, como tal, revelam a
“originalidade” tecnogênica em sua plenitude (PELOGGIA, 2005); e formas e processos induzidos,
nos quais a ação da sociedade acelera ou evoca o potencial do relevo aos fenômenos de
degradação (deposição) e agradação (erosão).
Quadro 1: Esboço preliminar das formas e processos geomórficos sob influência antropogênica,
identificados em faixas ao longo do eixo principal da BR-316 e vicinais, Nordeste do Estado do Pará.
FATOR PRINCIPAL
FORMAS E PROCESSOS CRIADOS
FORMAS E PROCESSOS
INDUZIDOS
Criação de depósitos -Aterros
-Bancos e cargas de fundo:
tecnogênicos (pode -Terraços artificiais
assoreamento de curso d’água.
estar associados a -Montículos, morrotes e elevações
obras de engenharia) artificiais diversas
Empréstimo
de -Depressões: rebaixamento do terreno -Redução
de
depósitos
de
terras (mineração)
com ou sem formação de lagos.
sedimentos inconsolidados (retirada
-Elevações isoladas de configuração de areia das planícies).
irregular ou geométrica.
-Mudanças nas bacias de drenagem
-Rampas (vertentes)
e nos processos de erosão e
-Elevações artificiais de material “estéril” colmatação fluvial.
rejeitos.
Retirada
de
-Depósitos de cobertura como
vegetação e outras
produto de lixiviação.
estruturas
naturais
-Retomada de erosão em superfície –
de proteção
sulcos, ravinas e voçorocas.
-Erosão de planícies, margens fluviais
e bordas de planaltos e vertentes.
-Surgimento, expansão e migração de
depósitos inconsolidados sob ação
das águas.
Obras de engenharia -Cortes em terrenos planálticos.
-Processos de erosão linear.
e adensamento de -Lagos artificiais (barragens).
Mudança nos padrões de erosão e
construções
-Retificação, canalização e supressão de sedimentação em ambientes fluviais
cursos d’água.
ou costeiros.
-Barreiras a circulação das águas
superficiais e subterrâneas.
-Terraplenos.
-Ilhas e terraços artificiais.
Uso do solo e -Nivelamento de passeio.
-Desaparecimento, redução e limpeza
ocupação urbana
-Abertura e desobstrução de furo.
de igarapés.
-Canalização, escoamento de águas, -Abertura e aprofundamento de canal.
extração de rochas em leitos de rios.
-Desobstrução de porto e rio.
-Abertura e retificação de vala e fiada
d’água.
Fonte: Elaborado com base em Araújo Jr. e Barbosa (2010) e a partir de trabalhos de campo.
Os resultados são mostrados em razão de seu ambiente principal de ocorrência: a) locais de
extração mineral, b) planícies aluviais, c) margens de estrada, d) empreendimentos industriais e e)
áreas urbanas. Os fatos geomórficos das áreas urbanas estão sendo considerados
preliminarmente nesta exposição em virtude de sua diversidade e complexidade de relações
políticas, econômicas, sociais e ambientais.
a) Locais de extração mineral
Com grande efeito sobre o relevo, a mineração ou “empréstimo de terras” implica em
rebaixamento do terreno, acentuação dos desníveis topográficos, desorganização da rede de
drenagem e fragmentação da superfície original. Em outros sistemas biofísicos, ela atua na
supressão da cobertura vegetal e do solo, em conseqüência, ocorrem processos erosivos nas
bordas das depressões (“cavas”), principalmente nas camadas de solo mais inconsolidado.
A drenagem superficial e subterrânea, tendo seu fluxo alterado, origina lagos de dimensão
variada. Os rejeitos gerados pela mineração, quando não acumulados sobre a superfície em
forma de morrotes e montículos, são carreados pelas águas pluviais para os rios, afetando
também áreas à jusante dos locais de extração. As principais ocorrências de mineração
correspondem aos locais de extração de calcário em Capanema e Bragança, e em diversas áreas,
de retirada de material de uso imediato na indústria cerâmica (argilas) e na construção civil –
seixo, areia, argila para argamassa, pedra “preta” (grês da Formação Barreiras) e “piçarra”
(substrato areno-argiloso).
b) Planícies fluviais
Em virtude de apresentar uma densa rede de drenagem, uma das conseqüências mais nítidas da
ocupação humana na Amazônia é o impacto causado sobre as planícies e os ecossistemas
aluviais. No Nordeste Paraense, os principais impactos foram verificados em rios de baixa
hierarquia, que têm sua geometria fortemente modificada. Por efeito do assoreamento, diminui a
profundidade dos canais e, em muitos casos, aumenta a largura dos mesmos, isto é, a área
abrangida pela várzea maior é expandida. As inundações atingem, assim, terrenos outrora não
afetados por elas. Infere-se que, como resultado das mudanças ambientais como um todo, o
fluxo/vazão de água é diminuído, o que contribui para agravar o entulhamento dos canais.
O material carreado para as planícies aluviais provêm dos solos erodidos pelo escoamento
superficial e das margens fluviais solapadas, intervindo neste último caso a retirada da mata ciliar
que consolidava o terreno. Os depósitos hoje encontrados nestes terrenos são muito
heterogêneos, com sedimentos de granulometria diversificada, misturados a detritos e materiais
orgânicos e artificiais. Na paisagem, as planícies fortemente alteradas aparecem comumente
recobertas por vegetação herbácea, bosques de palmeiras como o buruti e uma mata ciliar
heterogênea, incluindo lavouras e pomares. Aterros foram realizados em alguns locais de modo
bastante pontual.
Nos casos em que os rios têm seu fluxo parcialmente obstruído por barragens, instala-se uma
dinâmica geomorfológica similar a dos lagos. Nestas barragens, há épocas em que as águas
ficam muito turvas devido ao acúmulo excessivo de sedimentos, tomando geralmente a cor
característica do substrato laterizado (tons vermelho – Formações Barreiras, Itapecuru e Ipixuna,
branco – Formação Ipixuna, e amarelado - Sedimentos Pós-Barreiras). Não se pode inferir, nesta
exposição, sobre a influência de microorganismos e algas na composição da cor das águas dos
lagos artificiais.
O trecho do igarapé Apeú em questão é uma área de terraço, na qual o rio teve seu talvegue
escavado, tendo uma várzea baixa, já com a presença de sulcos, os quais “são incisões que se
formam nos solos, em função do escoamento superficial concentrado” (GUERRA, 2006, p. 591) e
se cuidados não forem tomados podem surgir ravinas pela ausência de cobertura vegetal.
c) Empreendimentos industriais
Como a socioeconomia regional é dominada pela agropecuária, a indústria assume menor
importância no Nordeste Paraense, com exceção das firmas localizadas na Região Metropolitana
de Belém e das unidades relacionadas à produção oleira ou à mineração industrial – CIBRASA,
em Capanema; Globo Verde, em Bragança; e CAP, em Paragominas. Outros empreendimentos
da mineração industrial existem no Nordeste Paraense, porém fora das faixas de influência da BR316. Um primeiro efeito da implantação das grandes indústrias é que, por conta dos vastos
terrenos que elas ocupam, obras de engenharia modificam a topografia com o objetivo de
“planificar” o terreno para receber a infra-estrutura necessária. Disto são criados desníveis no
terreno, com o “corte” dos planaltos sedimentares, ou aterros de trechos inundáveis. Às
proximidades dos cursos d’água navegáveis, aterros (considerados como terraços artificiais)
também são realizados para viabilizar uma infra-estrutura portuária, geralmente de pequeno porte.
Porém, as formas de relevo tecnogênico mais proeminentes geradas pelas indústrias são os
montículos ou morrotes de rejeitos, que chegam a dezenas de metros de altura e de
largura/comprimento, poluindo tanto o solo quanto a drenagem. A mineração, por exemplo, gera
“estéril” (substância mineral sem valor comercial), e a indústria madeireira, restos de toras e
serragem, que não são viáveis comercialmente. Por todo o Nordeste Paraense, são encontrados
depósitos de serrarias pretéritas, alguns deles soterrados por terraplenos mais recentes. Outros
depósitos com origem em serrarias são, após o cessar da atividade industrial, remobilizados por
ação humana ou pelas águas pluviais.
d) Áreas urbanas
A dimensão de vários tempos está impregnada na paisagem da cidade (CARLOS, 1992) e mesmo
colocando-se no nível do aparente e do imediato, o exercício de analisar as condicionantes
históricas que induziram a sua atual configuração urbana se faz importante. As ações
institucionais estão a frente de grande parte das transformações sofridas na paisagem urbana da
cidade de Belém, em especial as ligadas a drenagem de áreas alagadas, dissecação de
pântanos, dragagem, desobstrução e canalização de rios.
Os problemas concernentes as áreas propícias a inundação e alagamentos sempre
canais fluviais, o que acaba apenas mascarando as reais consequências das intervenções
empreendidas sobre o relevo do espaço urbano.
Considerações
As ações humanas sobre o meio físico têm sido intensificadas e seu poder transformador tem sido
potencializado pelo avanço técnico e científico. As revoluções na agricultura, na indústria e na
ciência deixaram registros na paisagem do período conhecido como Quaternário, indicando os
modos pelos quais as sociedades apropriaram-se da natureza em diversos tempos e espaços.
O aumento populacional faz com que os grupos sociais organizem o seu ambiente de variadas
maneiras, transformando, intensificando ou mesmo criando formas e processos sobre o relevo, o
qual pode ser entendido como síntese de formas e processos, que se pode apreender na
paisagem por meio da observação.
Ao transformar, induzir, intensificar e criar formas e processos sobre o relevo, a sociedade acaba
por desencadear fenômenos que em curto prazo, podem apresentar-se favoráveis e passíveis de
controle sistemático. No entanto, muitas vezes o resultado destas ações é o desencadear de
fenômenos que têm na sociedade seu principal vetor de impactação.
Cada vez mais, torna-se necessário entender a sociedade como agente geomorfológico, que por
meio do emprego de suas técnicas é capaz de transformar a paisagem em diferentes escalas,
uma vez que as alterações pela qual a Amazônia foi submetida nos últimos 50 anos não podem
ser consideradas inéditas, com exceção dos produtos químicos decorrentes da atividade
agropecuária, como fertilizantes e pesticidas.
Nos mais de 11.000 anos de convivência com a espécie humana, a floresta amazônica já havia
experimentado o desmatamento, as queimadas, a introdução de espécies exóticas, a retirada de
espécies de valor comercial, os ciclos econômicos e a fragmentação da paisagem.
Ir além de fenômenos naturais como os de erosão (degradação) e sedimentação (agradação) e
considerar a ação antrópica no ambiente amazônico se faz necessário, posto que suas ações
sobre o relevo acabam por aparecer como significativas geradoras e intensificadoras de formas e
processos em escalas locais.
Referências
ARAÚJO JR. A. C. R. Ambiente e planejamento urbano-ambiental: reflexões preliminares sobre o
PROMABEN. In: XII SIMPÓSIO NACIONAL DE GEOGRAFIA URBANA, 2011, Belo
Horizonte - MG. Anais... Editora Belo Horizonte, 2011.
BERTRAND, G. Paisagem e Geografia Física Global: esboço metodológico. Caderno de
Ciências da Terra. São Paulo: Instituto de geografia, USP, 1971.
BERTRAND, J.; BERUTCHACHVILI, N. O geossistema ou sistema territorial natural.. In:
BERTRAND, J. BERTRAND, C. (orgs.) Uma geografia transversal e de travessias: o meio
ambiente através dos territórios e das temporalidades. Maringá: Massoni, p. 47-61, 2007.
CARLOS, A. F. A. A Cidade. São Paulo: Contexto, 1992.
CASSETI, V. Ambiente e apropriação do relevo. São Paulo: Contexto, 1991.
COLTRINARI, L. Mudanças ambientais globais e geoindicadores. Pesquisas em Geociências.
Porto Alegre, UFRGS, v. 28, n. 2, p. 307-314, 2001.
______. Geomorfologia: caminhos e perspectivas. Revista Brasileira de Geomorfologia. Rio de
Janeiro, v. 1, n. 1, p. 44-47, 2000.
COATES, D. R. (ed.). Environmental Geomorphology. Binghamton: State University of New
York Publications in Geomorphology, 1971.
CUNHA, S. B. da. Canais fluviais e a questão ambiental. In: CUNHA, S. B. da.; GUERRA, A. J. T.
(orgs.). A questão ambiental: diferentes abordagens. 5ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil,
2009.
_______. Geomorfologia Fluvial. In: GUERRA, A. J. T. & CUNHA. S. B. da. (orgs.).
Geomorfologia: uma atualização de bases e conceitos. 8ª ed. – Rio de Janeiro: Bertrand Brasil,
2008.
FORMAN, R. T. T.; SPERLING, D.; BISSONETTE, J. A.; CLEVENGER, A. P.; CUTSHALL, C. D.;
DALE, V. H.; FAHRIG, L.; FRANCE, R.; GOLDMAN, C. R.; HEANUE, K.; JONES, J. A.;
SWANSON, F. J.; TURRENTINE, T.; WINTER, T. C. Road ecology: science and solutions.
Washington: Island Press, 481 p. 2003.
GREGORY, K. J. A natureza da Geografia Física. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil (Primeira
edição em inglês: 1985.), 1992.
GUERRA, A. J. T (org.). Erosão e conservação dos solos: conceitos, temas e aplicações. Rio
de Janeiro: Bertrand Brasil, 1999.
_______. Geomorfologia Urbana. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2011.
GUERRA, A. T.; GUERRA, A. J. T. Novo Dicionário Geológico-Geomorfológico. 7. ed. Rio de
Janeiro: Bertrand Brasil (Primeira edição: 1997), 2009.
HAFF, P. Neogeomorphology, prediction and the antropic landscape. Division of Earth and
Ocean Sciences. Nicholas School of the Environment and Earth Sciences, Duke University
Durman, NC 27708. 2001.
LA BLACHE, V. Princípios de Geografia Humana. 2. Ed. Lisboa: Edições Cosmos (Primeira
edição em francês: 1921), 1954.
LISBÔA, T. H. C. Os depósitos tecnogênicos e a alteração da linha de costa do distrito sede
de Florianópolis/sc. Dissertação (Mestrado). Curso de mestrado em Geografia do Departamento
de Geociências da Universidade Federal de Santa Catarina. UFSC/Florianópolis, 2004.
MOREIRA, E. Belém e sua expressão geográfica. Belém: UFPA, cadernos do NAEA nº 2, 1966.
PANIZZA, M. Environmental Geomorphology. Amsterdan: Elsevier, 1996.
PELOGGIA, A. U. G. A cidade, as vertentes e as várzeas: a transformação do relevo pela ação
do homem no município de São Paulo. Revista do Departamento de Geografia. São Paulo, n.º 16,
p. 24-31, 2005.
______. O homem e o ambiente geológico: geologia, sociedade e ocupação urbana no
município de São Paulo. São Paulo: Xamã, 1998.
RODRIGUES, C. Morfologia original e morfologia antropogênica na definição de unidades
espaciais de planejamento urbano: exemplo na metrópole paulista. Revista do Departamento de
Geografia, 17, 101-111, 2005.
ROSSATO, M. S. e SUERTEGARAY, D. M. Repensando o tempo da natureza em transformação.
Ágora (UNISC), Santa Cruz, v. 6, nº 2, p. 93-98, 2000.
ROSS, J. L. Geomorfologia Ambiental. In: GUERRA, A. J. T.; CUNHA, S. B (orgs.).
Geomorfologia do Brasil. 3. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003.
______. O registro cartográfico dos fatos geomórficos e a questão da taxonomia do relevo.
Revista do Departamento de Geografia. São Paulo, FFLCH-USP, n.º 6, p.17-29, 1992.
______. Geomorfologia: ambiente e planejamento. São Paulo: Contexto, 1990.
SALES, V. C. Geografia, sistemas e análise ambiental: abordagem crítica. Geousp: espaço e
tempo. São Paulo, n.º 16, p. 125-141, 2004.
SUERTEGARAY, D. Geografia Física (?) Geografia Ambiental (?) ou Geografia e Ambiente (?). In:
MENDONÇA, F.; KOSEL, S. (orgs.). Elementos de Epistemologia da Geografia
Contemporânea. Curitiba: Ed. da UFPR, p.111-20, 2002.
SUMMERFIELD, M. A. Global Geomorphology: an introduction to the study of landforms. Harlow
– England: Pearson Prentice Hall, 1991.
SOTCHAVA, Viktor Borisovich. O estudo dos Geossistemas. In: Métodos em Questão, nº 16. IG,
USP, São Paulo, 1977.
SOUSA, C. O. M.; FREITAS, S. R.; DIAS, A. A.; GODOY, A. B. P.; METZGER, J. P. O papel das
estradas na conservação da vegetação nativa no Estado de São Paulo. Anais XIV Simpósio
Brasileiro de Sensoriamento Remoto, Natal, Brasil, INPE, p. 3087-3094. 25-30 abril 2009.
TRICART, J. A Geomorfologia nos Estudos Integrados de Ordenação do Meio Natural. Boletim
Geográfico, Rio de Janeiro, 34 (251), p. 15-42, 1976.
_______. Ecodinâmica. Rio de Janeiro: IBGE, 1977.
_______. Paisagem e Ecologia, USP, 1981.
VITTE, A. C. Os fundamentos da geomorfologia e sua influência no desenvolvimento das ciências
da terra. In: GUERRA, A. J. T. e VITTE, A. C. (orgs.) Reflexões sobre a Geografia Física no
Brasil. Rio de Janeiro: Bertrand, p. 23-48, 2004.
Download