O Uso da Tecnologia da Informação (TI) pelo Setor

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XI SIMPEP – Bauru, SP, Brasil, 08 a 10 de novembro de 2004.
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O Uso da Tecnologia da Informação (TI) pelo Setor Financeiro: Bancos
Comerciais.
Délcio Duque Moraes
Bacharel em Ciências Contábeis, Administração de Empresas e Ciências Econômicas (PUC - MG).
Mestre em Ciências Contábeis (FGV-RJ) e Doutorando em Engenharia Produção (UNIMEP-SBDO-SP).
E-mail: [email protected]
Fernando Celso de Campos
Doutor em Engenharia Mecânica pela Escola de Engenharia de São Carlos (EESC-SP), Professor e Pesquisador
do Programa de Pós-graduação em Engenharia da Produção (PPGEP) da Universidade Metodista de Piracicaba
(UNIMEP), Campus Santa Bárbara D’Oeste (SP).
E-mail: [email protected]
Resumo:
O presente artigo apresenta o resultado da investigação do uso da tecnologia da informação
(TI) pelos bancos comerciais na área contábil-financeira. O trabalho contempla também uma
análise dos impactos causados pela Lei 9.249/95 nas demonstrações contábeis e suas
conseqüências. Utilizou-se uma amostra de 06(seis) bancos comerciais de um universo de 18
(dezoito) bancos inscritos na CVM - Comissão de Valores Mobiliários, em 31.12.2003.Na
pesquisa de campo, utilizou-se a metodologia survey; na análise de tendência, empregou-se o
Modelo Dinâmico de Fleuriet. O estudo identificou a necessidade de se investir mais em TI
nas áreas de Contabilidade e Finanças para capacitar as empresas a resgatar o potencial
preditivo das informações gerenciais. As análises de tendência e de cenários estão
prejudicadas, por isso, as informações geradas são inapropriadas para apoiar as decisões no
âmbito interno e externo às instituições financeiras.
Palavras Chave: Tecnologia da Informação (TI), Contabilidade Gerencial, Bancos
Comerciais, Análise Financeira Avançada.
1. Introdução
Diante do quadro inflacionário da economia brasileira, os contadores têm vivenciado
dias de grande insegurança e dificuldades técnicas, principalmente a partir de 1996, quando
entrou em vigor a Lei No. 9.249, de 26.12.95, que aboliu o reconhecimento dos efeitos
inflacionários nas demonstrações contábeis. Os profissionais da área contábil reconhecem as
limitações da contabilidade a valor histórico original em ambiente inflacionário, diante disto,
procurou-se, neste estudo, identificar os recursos tecnológicos usados para atenuar os
referidos efeitos e os resultados obtidos. Considerando também a importância da tecnologia
da informação (TI) na recuperação da capacidade preditiva das informações econômicofinanceiras para o processo de tomada de decisões, decidiu-se realizar esta pesquisa.
O presente trabalho tem os seguintes objetivos: i) investigar o uso da Tecnologia da
Informação (TI) pelos Bancos Comerciais; ii) analisar os impactos causados pela suspensão
da correção monetária das demonstrações contábeis dos Bancos Comerciais; e iii) evidenciar
as principais conseqüências das decisões tomadas com base em informações defasadas.
Para tanto, partindo-se de algumas definições de TI e suas relações com o setor
financeiro, passando-se por uma contextualização do setor financeiro brasileiro e
evidenciando-se alguns aspectos da análise financeira avançada, pode-se considerar que a
base de suporte está feita para contemplar uma investigação por meio de uma pesquisa direta
aos bancos comerciais. Esta pesquisa será relatada e analisada como caminho de verificação e
resposta aos objetivos traçados.
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2. Tecnologia da informação (TI) e o setor financeiro.
De acordo com REZENDE & ABREU (2003), a tecnologia da informação pode ser
conceituada como recursos tecnológicos e computacionais para geração e uso da informação.
Esse conceito enquadra-se na visão de gestão da Informação e do Conhecimento, que é a
grande busca empresarial financeira: ter um bom suporte à tomada de decisão e ter clareza e
objetividade no negócio.
Para CRUZ (1998), a TI é qualquer dispositivo que tenha capacidade para tratar dados
e ou informações, tanto de forma sistêmica como esporádica, quer esteja aplicada ao produto,
quer esteja aplicada ao processo.
TURBAN et al. (2003), vão além, afirmando que o papel principal da TI é dar apoio
ao pessoal da organização, independentemente de sua área funcional ou de seu nível na
organização. A TI dá apoio aos processos empresariais que permitem as empresas operar na
era digital, reagindo de modo rápido e adequado às mudanças. Em muitos casos, a TI é a base
de estratégias agressivas e proativas que podem alterar radicalmente a perspectiva competitiva
de um setor.
Na opinião de STAIR (1998), a TI é vista como recursos tecnológicos e
computacionais para guarda, geração e uso da informação. A TI está fundamentada nos
seguintes componentes: hardware e seus dispositivos e periféricos; software e seus recursos;
sistemas de telecomunicações; e gestão de dados e informações.
Segundo REZENDE & ABREU (2003), as tecnologias aplicadas aos Sistemas de
Informação Empresariais são as seguintes: Executive Information Systems (EIS); Sistema de
Apoio a Decisões (SAD); Enterprise Resource Planning (ERP); Bancos de Dados (BD) –
Data Warehouse (DW); Inteligência Artificial (AI); Sistemas de Telecomunicações; Recursos
da Internet; Automação de Escritórios; Tecnologias OLAP E OLTP; e Database Marketing.
Destaca-se dentre as tecnologias disponíveis o Data Warehouse (DW) com a função
específica de banco de dados e as ferramentas OLAP (On-line Analytical Processing) e OLTP
(On-line Transaction Processing) com as funções de realizar análises – transformar dados
operacionais em informações gerenciais - e processamentos em tempo real, respectivamente.
De acordo com KIMBALL & ROSS (2001), o Data Warehouse pode fornecer numa
única fonte informações financeiras compreensíveis e utilizáveis, além disto, garante que
todos estejam trabalhando com os mesmos dados com base em definições e métricas comuns.
Acrescentam, ainda, que o público usuário de dados e informações financeiras é diversificado,
desde analistas, gerentes operacionais até altos executivos. Cada grupo de usuário demanda
informações corporativas com formato e freqüência diferentes. Analistas e gerentes desejam
informações em um alto nível, mas, quando necessário recorrem às entradas periódicas para
obter dados mais detalhados. Os executivos precisam de informações e dos principais
indicadores de desempenho, por isso, recorrem somente ao Data Warehouse (DW).
De acordo com CARVALHO et al. (2000), apud REZENDE & ABREU (2003), as
tecnologias OLAP e OLTP constituem em uma recente abordagem do que se pode fazer com
relação aos sistemas de informação como suporte à tomada de decisão. O recurso OLTP
suporta as operações cotidianas dos negócios empresariais através de processamento
operacional em tempo real e tem a função de alimentar a base de dados. Por outro lado,
entretanto, o recurso OLAP suporta análise de tendência, de cenários e projeções de negócios,
como instrumento de suporte às decisões gerenciais e estratégicas. Normalmente, o OLAP
executa cinco funções básicas: interface, consulta, processo, formato e exibição.
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O Setor Financeiro foi o primeiro a adotar a TI nas soluções de suporte à tomada de
decisão, concentrando-se em análise de dados financeiros para gerenciar melhor os negócios.
A demanda de informações de natureza financeira é muito grande, principalmente, pelos
gerentes que precisam verificar tendências, variações e anomalias de desempenho de uma
empresa com o mínimo de sacrifício possível (KIMBALL & ROSS, 2001).
Segundo BECKER et al. (2000), o setor bancário é um dos setores que mais têm
investido em TI, tendo grande parte de seus produtos e serviços dependentes da tecnologia.
Dados de 1998, sobre o total de gastos empresariais em TI na América Latina por setor de
atuação, salientam a indústria financeira, com valores entre 20% e 30% desse total (Lara et
al., 2000). Dados brasileiros de 1999, sobre investimentos realizados pelo setor bancário,
indicam cifras superiores a R$ 2,5 bilhões, somente em equipamentos de informática e de
comunicação e programas. O Brasil aumentou sua rede de caixas automáticas em 32,6%, no
período de 1998 a 1999, dispondo de mais de 18.000 salas de auto-atendimento (Febraban,
2000).
A propósito, o Sistema Financeiro Nacional é formado por um conjunto de
instrumentos normativos e instituições que funcionam como meio para a realização da
intermediação financeira. E, ainda, é dividido em dois subsistemas: um normativo e outro
operacional.
•
•
O subsistema normativo é responsável pela normatização e controle das
instituições que operam no mercado. É composto pelo Conselho Monetário
Nacional, Banco Central do Brasil, Banco do Brasil, Banco Nacional de
Desenvolvimento Social e pela CVM – Comissão de Valores Mobiliários.
O subsistema operativo é composto pelas instituições financeiras bancárias e não
bancárias que operam diretamente na intermediação financeira. São instituições
financeiras: bancos comerciais, caixas econômicas, bancos de investimentos,
bancos de desenvolvimento, sociedades de crédito, financiamento e investimento,
sociedades corretoras, sociedades distribuidoras, sociedades de arrendamento
mercantil, sociedades de crédito imobiliário e bancos múltiplos.
3. Contabilidade Gerencial e Análise Financeira Avançada
A Contabilidade é a principal fonte de dados econômicos e financeiros de uma
empresa. Mas, em ambiente inflacionário os processos contábeis têm sido ineficientes e as
informações geradas são inadequadas às tomadas de decisão. Enfatiza-se, entretanto, que a
Tecnologia da Informação (TI) tem viabilizado a Contabilidade como sistema de apoio à
decisão, que é um de seus principais objetivos.
A propósito, STEWART (2003) afirma que “a contabilidade não funciona”. Essa
afirmação decorre dos casos de manipulação e fraudes contábeis que motivaram a
promulgação de leis severas nos Estados Unidos da América (U.S.A.), como a SarbannesOxley, na expectativa de coibir os abusos e os excessos na gestão empresarial. A lei SOX,
como é conhecida, aumenta a responsabilidade dos executivos e torna o processo mais rígido
“mas não toca nos procedimentos atuais, que são imprecisos e não refletem a situação real
das empresas”.
Corroborando com o exposto, SZUSTER (1988) acrescenta que:
“A Contabilidade tradicional que se atém à manutenção do custo histórico original,
não reconhecendo as alterações do valor da moeda não tem mais lugar nos dias de
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hoje. As suas informações não representam a realidade econômica e os seus
resultados são totalmente defasados”. (SZUSTER, 1988, p.178).
Observa-se, na prática, que um dos fatores que mais interfere na qualidade da
informação contábil é a variação de preço dos bens e serviços disponíveis na economia.
E neste sentido, BRUNÉLI (1987) afirma que:
“A variação de preço é um fator que está diretamente ligado à economia, e também à
Contabilidade, que deve refletir seus efeitos nas demonstrações contábeis,
constituindo-se num dos aspectos mais discutidos nos últimos tempos pela classe
contábil do mundo inteiro”.(BRUNÉLI, 1987, p.18).
Entretanto, a Contabilidade, que é a principal fonte de dados econômicos e financeiros,
associando-se aos recursos da Tecnologia da Informação (TI), pode facilmente recuperar o
potencial preditivo das informações gerenciais e tornar-se uma poderosa ferramenta de gestão
empresarial.
3.1 - Análise Financeira Avançada - Variáveis Dinâmicas – Modelo Fleuriet.
Na análise financeira avançada avalia-se, principalmente, o comportamento das
variáveis dinâmicas: o Capital de Giro (CDG), a Necessidade de Capital de Giro (NCG) e a
resultante que é o Saldo de Tesouraria (ST). Para aplicação do modelo é necessária a
reclassificação das contas patrimoniais em: ACF - Ativo Circulante Financeiro, ACC - Ativo
Circulante Cíclico e ANC - Ativo Não Circulante; e, PCF - Passivo Circulante Financeiro,
PCC - Passivo Circulante Cíclico e PNC – Passivo Não Circulante.
De acordo com FLEURIET & BRASIL (1987), as variáveis dinâmicas são obtidas
pelas seguintes fórmulas:
CDG = PNC -ANC
NCG = ACC – PCC
ST = ACF – PCF
O Saldo de Tesouraria (ST) pode ser obtido também pela diferença entre o Capital de
Giro (CDG) e a Necessidade do Capital de Giro (NCG): SF = CDG – NCG.
A análise dinâmica do capital de giro está baseada no comportamento ou tendência de
suas variáveis. A pior situação financeira de uma empresa é caracterizada como “efeito
tesoura”. Segundo SILVA (1997), uma empresa entra em efeito tesoura quando, ao longo de
uma série de exercícios sociais, a variação da NCG é superior à variação do CDG.
FLEURIET & BRASIL afirmam que:
“O efeito tesoura é conseqüência de um saldo de tesouraria (ST) crescentemente
negativo, vale dizer, que se está operando com capital de giro (CDG) insuficiente
para financiar as necessidades de capital de giro (NCG) da empresa. Dessa forma,
ela tem que lançar mão de empréstimos de curto prazo em nível elevado.” FLEURIET
& BRASIL, 1987, p.61)
Quando o saldo de tesouraria (ST) apresentar-se crescentemente negativo, exercício
após exercício, é forte sinal de “efeito tesoura”, mas não determinante. É importante observar
que o fato isolado de o saldo de tesouraria (ST) ser negativo não é preocupante, mas, o grave
é a tendência.
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A Tendência (T) é analisada pelo resultado da seguinte fórmula: T = ST / NCG. Se o
resultado desta relação for crescentemente negativo, variando em proporção superior a NCG,
evidencia que a empresa está recorrendo, cada vez mais, a recursos ou empréstimos bancários
onerosos de curto prazo. E isto, configura o “efeito tesoura”. Para avaliar a tendência é
necessário utilizar-se, no mínimo, de 03 (três) balanços patrimoniais anuais e consecutivos.
Para BRASIL & BRASIL (1992) as 04 (quatro) causas fundamentais do “efeito
tesoura” são:
a) crescimento excessivo das vendas: a variação da NCG crescendo mais que
proporcional à variação do CDG;
b) redução do capital de giro em decorrência de investimentos excessivos em ativo
fixo, com retorno inadequado ou a prazo muito longo;
c) crescimento do ciclo financeiro em decorrência de má gestão;
d) crises econômicas.
O Modelo Fleuriet, que avalia o desempenho e a tendência financeira de uma empresa,
foi aplicado no presente estudo para analisar a qualidade das informações geradas pelas
demonstrações contábeis. Estas demonstrações foram elaboradas de acordo com o método
Legal: um Sem Correção Monetária e outro Com Atualização Monetária. Portanto, o que
se visa é obter uma informação compatível com a realidade empresarial, ou seja,
independentemente dos resultados alcançados terem sido positivos ou negativos.
3.2 – Análise Vertical e Horizontal.
As análises vertical e horizontal, conforme SILVA (1987), prestam valiosas
contribuições na interpretação nos índices de estrutura e nas análises de tendência dos
números das demonstrações contábeis de uma empresa. De certa forma, análise vertical e
horizontal complementam-se e sobrepõem-se.
3.2.1 - Análise Vertical (AV): a análise vertical é realizada em um balanço patrimonial ou em
uma demonstração de resultado de uma mesma data, isto é, de um exercício social com o
objetivo de mostrar a participação relativa de cada item da peça contábil em relação a
determinado referencial. Normalmente, no balanço esse referencial é o Total do Ativo ou do
Passivo. Na demonstração de resultado é a receita líquida de Vendas.
Salienta-se, entretanto, que os índices extraídos da Análise Vertical (AV) não sofrem
alterações com o mecanismo de atualização monetária de um exercício para o outro. Sendo
que o mesmo não acontece com a aplicação da correção monetária integral, que altera o valor
absoluto e relativo das contas patrimoniais e de resultado.
3.2.2 – Análise Horizontal (AH): o propósito da análise horizontal é analisar a evolução
histórica de uma série de valores. Normalmente, analisam-se 03(três) exercícios consecutivos,
tomando-se o primeiro ano como base = 100. A partir daí, verifica-se a evolução ou involução
dos demais exercícios. Todavia, para que o resultado da análise seja válido, é imprescindível
que todas as demonstrações contábeis sejam devidamente corrigidas para a data-base, que
geralmente é a data do último balanço.
Neste caso, utilizou-se o Modelo Dinâmico de Fleuriet para proceder à análise
comparativa das informações geradas a partir das demonstrações contábeis Com e Sem
Atualização Monetária.
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4. Metodologia aplicada na Pesquisa de Campo.
Na execução do presente trabalho, utilizou-se de 03(três) tipos de pesquisa:
bibliográfica, documental e de levantamento (survey).
Segundo GIL (1999, pp.65-70), a pesquisa bibliográfica é desenvolvida a partir de
material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos, para a
construção do plano referencial teórico. A pesquisa documental vale-se de materiais que não
receberam ainda tratamento analítico – neste caso, foram utilizadas as demonstrações
contábeis das empresas que constituíram a amostra. A pesquisa de levantamento (survey)
caracteriza-se pela interrogação direta das pessoas, cujo comportamento e opinião se deseja
conhecer. Este levantamento foi realizado através de questionários enviados a 18 (dezoito)
bancos comerciais inscritos na CVM, em 31/12/2003.
Para a consecução dos objetivos propostos neste estudo, optou-se pela análise de uma
amostra aleatória, tendo em vista as limitações de ordem financeira e de tempo para se
analisar todo o universo objeto da pesquisa.
A propósito, CASTRO (1977) afirma que:
“Muito freqüentemente não é possível examinar toda a população ou universo cujos
atributos estamos tentando analisar. Recorre-se conseqüentemente ao exame de uma
amostra, isto é, de uma fração dessas populações. A amostra escolhida por um
processo aleatório terá a maior probabilidade possível de reproduzir os parâmetros
da população. (CASTRO, 1977, p.90)”.
Portanto, foi elaborada uma estratégia para coleta de dados, mas, de um universo de 18
(dezoito) bancos comerciais, apenas 06 (seis) responderam devidamente os questionários
enviados. A amostra aleatória representa 33% do universo em estudo.
O processo de pesquisa dividiu-se em coleta de dados e tratamento dos dados.
a) Coleta de Dados
• Questionários sobre o uso da TI pelos bancos: aplicou-se um questionário com 11
(onze) questões fechadas, sendo: 02 (duas) relacionadas à utilização da tecnologia
da informação (TI); 08 (oito) relativas à área contábil-financeira; e 1 (uma) sobre o
setor de direito no qual o banco está inserido.
• Demonstrações Contábeis: os dados financeiros foram coletados a partir das
demonstrações contábeis de 03(três) exercícios consecutivos: 2001, 2002 e 2003,
publicados em jornais de grande circulação nacional.
b) Tratamento dos Dados
• Os dados levantados através dos questionários foram tabulados e analisados em
termos percentuais para cada resposta obtida por questão feita;
• As demonstrações contábeis de cada exercício foram agregadas em uma única.
Desta forma, obteve-se demonstrações contábeis agregadas para 2001, 2002 e
2003. A partir desses documentos, criaram-se 02(dois) conjuntos de
demonstrações contábeis: um a valor histórico original e outro a valor atualizado
monetariamente pelo IGP-DI.
Em seguida, procedeu-se a análise comparativa das informações, de natureza
financeira, geradas a partir do 1º. conjunto de demonstrações contábeis (sem atualização
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monetária) com as informações do 2º. conjunto de demonstrações contábeis (atualizadas
monetariamente). Esclarece-se que os 02(dois) conjuntos de informações constituem resultado
da aplicação do Modelo Dinâmico de Fleuriet.
Por meio da análise comparativa, podem-se destacar os pontos de divergências de
informações entre os 02 (dois) conjuntos e explicitar as efetivas melhorias informacionais que
validam o processo de tomada de decisões.
5. Apresentação e análise dos resultados da Pesquisa de Campo.
5.1 – 1ª. parte da pesquisa: Questionário sobre o uso de Tecnologia da Informação (TI): do
universo de 18 (dezoito) bancos comerciais apenas 06 (seis) devolveram o questionário
devidamente respondido. Os referidos bancos são: um público; dois privados; dois de
economia mista e um multinacional que adquiriu um banco brasileiro privado.
5.1.1 – P: Quais os tipos de bancos de dados que o seu banco possui?
R: 100% dos bancos da amostra possuem somente o banco de dados operacional contábil.
5.1.2 – P: Quais os tipos de ferramentas de Tecnologia da Informação (TI) que o banco utiliza
para acessar às informações nos bancos de dados?
R: 100% dos bancos utilizam a Intranet; 50% utilizam ferramentas OLAP (Relatórios
Especializados) e 16,67% utilizam Consultas SQL (Structured Query Language)
Convencional.
5.1.3 – P: A sua empresa mantém paralelamente ao Sistema Contábil um Sistema de
Contabilidade Gerencial?
R: 100% dos bancos respondentes não possuem Sistemas de Contabilidade Gerencial.
5.1.4 – P: Os bancos de dados existentes em sua empresa atendem plenamente às
necessidades operacionais e gerenciais?
R: 100% dos bancos disseram que os bancos de dados existentes não atendem plenamente às
necessidades operacionais e gerenciais.
5.1.5 – P: O sistema de análise de risco de cliente atualiza monetariamente as demonstrações
contábeis?
R: Somente um banco (16,67%) tem sistemas de análise de risco de clientes que atualiza as
demonstrações contábeis pelo IGP-DI. Os demais (83,33%) analisam as demonstrações
contábeis pelo valor histórico original.
5.1.6 – P: O sistema de análise de risco de clientes incorpora a análise dinâmica do Capital de
Giro do modelo Fleuriet?
R: 100% dos bancos responderam que sim.
5.1.7 – P: Qual é a análise que melhor avalia a situação financeira de uma empresa?
R: 100% responderam que é a análise dinâmica, porque tem ênfase na liquidez. Mas, um
banco (16,67%) incluiu na resposta que a análise dinâmica deve ser complementada com o
fluxo de caixa da empresa.
5.1.8 – P: Você concorda com a atual sistemática da Lei No. 9.249/95 que aboliu o
reconhecimento dos efeitos inflacionários nas demonstrações contábeis?
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R: 83,33% das opiniões não concordam. Apenas 16,66%, um banco, disse que concorda com
a atual sistemática contábil, mas não se justificou.
5.1.9 – P: As demonstrações contábeis elaboradas de acordo com a Lei No. 9.249/95
representam adequadamente as posições patrimoniais, econômica e financeira das empresas?
R: 100% dos respondentes disseram que as demonstrações contábeis pela legislação vigente
não representam adequadamente as posições patrimoniais e econômico-financeiras.
5.1.10 – P: Você é favorável à volta da correção monetária nas demonstrações contábeis?
R: 83,33% são favoráveis, mas nos moldes da Correção Monetária Integral. Somente um
banco (16,67%) disse que não é favorável, justificando: “como suporte adicional à
manutenção da estabilidade macroeconômica”.
5.2 – 2ª. parte da pesquisa:
Os resultados obtidos na análise comparativa de 02(dois) conjuntos de balanços
agregados de 06(seis) bancos comerciais dos exercícios 2001, 2002 e 2003, sendo um
conjunto a valor histórico e outro a valor ajustado para 31.12.2003, são os seguintes:
5.2.1 - Análise Vertical: O resultado da Análise Vertical não é afetado pela perda do poder
aquisitivo da moeda, uma vez que os seus índices e/ou indicadores são gerados a partir de
dados contábeis de uma mesma data-base.
5.2.2 -Análise Horizontal: A análise horizontal que avalia a tendência de uma empresa é
realizada a partir de 03(três) balanços anuais e consecutivos. Nesta análise, o reconhecimento
dos efeitos inflacionários nas demonstrações contábeis é fundamental para que se conheça a
real tendência da empresa analisada.
A propósito, apresentam-se os resultados da Análise Dinâmica de 02 (dois) conjuntos
de demonstrações contábeis agregadas – um a valor histórico original e outro a valor
atualizado pelo IGP-DI – enfatizando as divergências e a qualidade da informação contábil
para fins de apoio ao processo decisório.
Quadro 01 - Variáveis Dinâmicas (Data-base: 2003) – Em R$ mil.
Variáveis
Dinâmicas
Em moeda de:
ST
NCG
CDG
2001
2003
(195.648.684)
14.797.996
(180.850.688)
2002
2003
(157.183.055)
28.799.627
(128.383.428)
2003
2003
(134.464.552)
23.077.405
(111.387.147)
Gráfico 01
Tendência
Evolução.
(%)
Crescente
Indefinida
Crescente
31,27
55,95
38,41
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Valores em R$
mil
Análise Dinâmica - Ajustada
100.000.000
-
ST
2001
(100.000.000)
2002
2003
NCG
CDG
(200.000.000)
(300.000.000)
Tempo (ano)
Fonte: Fleuriet & Brasil (1979)
Quadro 02 - Variáveis Dinâmicas (Datas-base: 2001 2002 e 2003) – Em R$ mil.
Variáveis
Dinâmicas
Em moeda de:
ST
NCG
CDG
2001
2002
2001
(143.743.000)
10.872.081
(132.870.919)
2003
2002
(145.981.965)
26.747.324
(119.234.641)
2003
(134.464.552)
23.077.405
(111.387.147)
Tendência
Evolução
(%)
Crescente
Indefinida
Crescente
6,45
112,26
16,17
Gráfico 02
Valores em R$
mil
Análise Dinâmica
50.000.000
0
-50.000.000
-100.000.000
-150.000.000
-200.000.000
ST
2001
2002
2003
NCG
CDG
Tempo (ano)
Fonte: Brasil & Fleuriet (1979)
Análise Gráfica Comparativa:
•
Capital de Giro (CDG) – evidencia uma situação de CDG negativa. Todavia, por se
tratar de um setor de intermediação financeira, tal fato pode ocorrer devido, por um
lado, à captação de recursos de curto prazo e aplicação de longo prazo. E, por outro
lado, baixa captação de recursos de longo prazo e/ou patrimônio líquido pequeno em
relação ao nível de atividade.
Quadro 02 demonstra um crescimento de 16,17% no período de 2001 a 2003,
enquanto que na verdade o seu crescimento foi de 38,41% (Quadro 01). Isto evidencia
que houve uma redução do Ativo Realizável a Longo Prazo e Permanente ou aumento
do Exigível a Longo Prazo e Patrimônio Líquido maior do que aparentemente parece
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ser, uma vez que não houve redução do Ativo. Deduz-se, com isto, que maior volume
de recursos foi transferido para o Ativo Circulante, onde o tempo de realização é
menor, a liquidez e a rentabilidade são maiores.
•
Necessidade de Capital de Giro (NCG) – verifica-se também grande divergência em
termos de valor na NCG entre as demonstrações contábeis a valores históricos
originais e as ajustadas pelo IGP-DI. A valor histórico a NCG cresceu 112,26%
(Quadro 02) no período analisado, enquanto que pelo valor corrigido o crescimento foi
de apenas 55,95% (Quadro 01). Comprova-se, aí, a grande divergência entre o valor
suposto e o real.
•
Saldo de Tesouraria (ST) – o ST apresenta-se negativo nos 03(três) exercícios
consecutivos, todavia a sua Tendência é de recuperação. O ST em 2003 em relação a
2001 cresceu 31,27%. Isto significa uma redução do saldo negativo. Não existindo,
portanto, qualquer indício de efeito tesoura. Vide Gráficos 01 e 02. Todos apresentam
crescimento da NCG, redução do CDG negativo e redução do ST negativo. Mas, o que
oferece melhores condições de análise é a situação do Gráfico 01, porque é a
resultante das demonstrações contábeis atualizadas para 31.12.2003.
A análise de tendência abaixo descarta a possibilidade de um “efeito tesoura”
(insolvência) a curto prazo. Na verdade, o que houve foi uma brusca redução na
relação ST / NCG em 2002. Em 2003, o ST volta a crescer mais que
proporcionalmente a NCG. Mas, ainda assim, em patamar bastante inferior ao atingido
em 2001. Demonstrando, com isto, melhor gerenciamento das fontes e aplicações de
recursos.
Análise de Tendência: T1 = ST / NCG = 2001(-13,22) < 2002(-5,45) > 2003 (-5,82)
Destaca-se na análise comparativa as divergências entre os percentuais de Evolução
das Variáveis Dinâmicas (Vide Quadro 01 e Quadro 02).
6. Conclusão.
A partir da pesquisa de campo e de sua tabulação, que envolveu 06 (seis) respondentes
(em 18 no total) e das análises financeiras dos balanços “com e sem atualização monetária”,
pode-se dizer que os 03 (três) objetivos do presente estudo foram atingidos com as seguintes
constatações:
a) 1º. Objetivo da Pesquisa - Investigar o Uso de Tecnologia da Informação (TI) pelos
Bancos Comerciais: Todos os bancos entrevistados possuem somente o Banco de
Dados Operacional Contábil. Assim sendo, nenhum banco utiliza alta tecnologia na
preparação e armazenamento de informações gerenciais, como: o Data Mart, Data
Mining, Data Warehouse, etc.
Como sistemas de acesso: 100 % dos bancos usam intranet; 50% utilizam tecnologias
OLAP (On-line Analytic Processing) e 16,66% fazem Consultas SQL (Structured
Query Language).
b) 2º. Objetivo da Pesquisa – Analisar os principais impactos causados pela suspensão da
correção monetária nas demonstrações contábeis dos Bancos Comerciais no período de
2001 a 2003:
XI SIMPEP – Bauru, SP, Brasil, 08 a 10 de novembro de 2004.
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I – A Análise de Tendência fica totalmente prejudicada, uma vez que os índices e/ou
percentuais de evolução dos números são incoerentes com a realidade dos bancos.
Vide quadros 01 e 02 das Variáveis Dinâmicas;
II – Subavaliações das Contas Patrimoniais. Os maiores impactos são registrados nas
contas do Permanente e do Patrimônio Líquido. A valores históricos originais o
Permanente e Patrimônio Líquido do balanço agregado de 2001 são respectivamente:
R$33.300.929 mil e R$33.346.264 mil. Os mesmos balanços atualizados
monetariamente para 2003 são: R$45.325.915 mil e R$45.387.620 mil,
respectivamente.
III – Redução do valor patrimonial das ações;
IV – As contas de Receitas e Despesas também são afetadas. As Receitas e Despesas
de Intermediação Financeira de 2001 são: R$ 60.786.792 mil e R$ 48.340.135 mil,
respectivamente. As mesmas Receitas e Despesas, em moeda de 2003, correspondem a
R$ 82.736.939 mil e R$ 65.795.787 mil, respectivamente;
V – Divergência na evolução das variáveis dinâmicas (análise do capital de giro),
conforme evidenciam os Quadros 01 e 02.
c) 3º. Objetivo da Pesquisa – Evidenciar as principais conseqüências das decisões tomadas
com base em informações defasadas.
I - Sistemas de Custos – sistemas de custos alimentados com dados contábeis
históricos pode subavaliar o custo e estabelecer incorretamente o preço de venda de
produtos e/ou serviços e, com isso, dilapidar o patrimônio;
II - Política de Investimentos – decisões tomadas com informações defasadas podem
levar a direção da empresa a implementar projetos e planos inviáveis;
III – Uma gestão em bases falsas levará, inevitavelmente, a empresa ao desequilíbrio
econômico-financeiro “overtrade”;
IV – A informação imprecisa conduz o empreendimento à descontinuidade (falência).
Essa é a principal razão da existência e da manutenção de um bom sistema de
informação gerencial;
Logo, a pesquisa e as análises feitas identificaram áreas onde os bancos comerciais
poderiam investir mais em TI, com o objetivo de elaborar informações gerenciais com maior
capacidade preditiva para favorecer os processos decisórios e redirecionar, sempre que
preciso, o foco da gestão financeira. O que se verifica no setor financeiro é a priorização da
área de relacionamento com clientes e auto-atendimento, onde os investimentos maciços em
TI beneficiam tão-somente os negócios de produtos e serviços bancários.
Também, pode-se dizer que há um “gap” entre a literatura e as práticas dos bancos
comerciais brasileiros. Essa lacuna pode ser preenchida com a incorporação de Sistemas
Especialistas de Informação desenvolvidos com base em Tecnologia da Informação (TI) e do
conhecimento, objetivando a geração de informações mais realistas e adequadas para apoiar o
processo de tomada de decisões.
Por fim, ficou evidente que a legislação vigente que suspende a correção monetária
nas demonstrações contábeis, Lei No. 9.249/95, é nociva e prejudicial aos 05 (cinco) aspectos
destacados anteriormente, no item “b”. Não sendo, portanto, viável tomar decisões com base
em informações defasadas, conforme comprovado na análise financeira avançada
desenvolvida através do Modelo Dinâmico de Fleuriet.
XI SIMPEP – Bauru, SP, Brasil, 08 a 10 de novembro de 2004.
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7. Referências Bibliográficas
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