Estudo de Caso número 4: morte da irmã. Estudar astrologia medieval não é necessariamente uma tarefa macabra, com o astrólogo sádico a procurar mortes em todos os mapas. Há muitos aspectos positivos e prazerosos da vida que podem ser levados em conta na delineação do futuro do nativo, mas a apresentação desse caso triste se justifica na riqueza de aplicação dos princípios da astrologia preditiva. Uma vez dominando-se estes princípios, teremos a capacidade de prever quaisquer tipo de eventos com maior acurácia. Em junho de 2004, o nativo perdeu sua primeira irmã. Vamos fazer aqui uma astrologia retrospectiva, mas com propósito didático. Usando rigorosamente os princípios aplicados por Abu Ma’shar em seu livro On Solar Revolutions (Golden Hind Press), vamos confirmar se seria possível sabermos esse evento com antecedência. Profecções do ano O nativo estava com 58 anos e vivia uma profecção de casa 11. (veja a ilustração 1). A casa 11, como sabemos, rege a morte do pai, mas não possui relação com a irmã ou sua morte: falaria de viagens da irmã mais velha, pois é a nona casa a partir da três! Como o signo de Capricórnio está vazio, tanto no mapa natal, quanto na revolução, realmente aqui o regente do ano é Saturno. No mapa natal, o grande maléfico está na casa 4, próximo à cúspide da casa 5, representando algo relacionado a família ou a sua filha, ou a angústia da filha (casa 4 é a 12 da 5). Esses temas vêm a mente pelo malefício que Saturno em Câncer representa. Como o tema da filha veio a baila, comecei a pensar que a casa 11 estaria se referindo ao relacionamento da filha (casa 7 da 5). De fato, naquele ano sua filha mais velha (casa 5) rompeu um namoro de três anos, exatamente no momento em que, por profecção mensal, o regente chega a casa 4, signo no qual Saturno predominantemente se encontra. Conte 1 mês para cada casa, a partir da 11, e você descobrirá que o namoro de sua filha terminou em janeiro de 2004. 1 57 P.faith27 ß 0148 san 01 à 47 ß P.subst 1724° à 09 P.spir it 19 à 29 ¨ 26 Þ 51 ¢ 07 ß 22 24° à 35 11 á 26° 1 28° Ö 56 2 51 9 8 Ø 57 † 08 Ø 34 28° ˆ 18 Ù ¡ 07 Ù 51 ƒ 04 Ù … 00 Ù 28° Ü 56 7 47 Û 26° 6 4 3 26° × Þ Natal Chart Natus 4 Aug 1945 AD GC 9:00:00 PM BZ2T +03:00:00 Passos Brazil 46w37'00, 20s43'00 47 £ 04 × 05 28° 26° 10 12 § 26 á 47 Ý 5 05 22 54 37 ‡ 26 Û 06 „ 04 Û 40 P.hyleg29 Ú 54 24° 48 Ù 24° ‚ 12 Ú 12 Ú 35 Ilustração 1 - Mapa Natal 2 Longe de ser o tema mais importante do ano, a astrologia não falha em mostrar os principais eventos. Nós é que não temos a devida consciência quando das técnicas quando a maioria dos eventos acontecem subitamente debaixo de nossas narinas. Esta história toda nos serve de lição para entendermos que nem sempre o regente do ascendente apontará um fato marcante durante o ano. O rompimento do namoro da filha é algo importante para um pai, pela empatia que sente pelo sofrimento dela, porém obviamente a morte de sua irmã é algo muito mais grave. Como prever eventos além daqueles indicados pelo regente do ano? Depois desse mapa, aprendi algo importantíssimo e simples: na delineação da profecção, tratamos as outras casas da mesma forma que o ascendente. Vou repetir aqui o procedimento padrão: 1. Olhe para o signo da profecção. Se ele contém um planeta, ele é o regente do ano. Caso contrário, passe para o item 2; 2. Olhe para o mesmo signo da profecção na Revolução Solar. Se há um planeta ali, ele é o regente do ano; 3. Não havendo planetas no signo da profecção tanto no mapa natal quanto na Revolução Solar, o regente do ano é o regente domiciliar do signo em questão; O procedimento acima funciona com todas as casas, não só com o Ascendente! Uma vez sabendo disso, realizamos um “procedimento reverso” que será de grande valia para detectarmos áreas problemáticas no ano em questão: 1. Buscamos na Revolução solar planetas em mal estado e regendo casas maléficas; anotamos os signos nos quais eles se encontram; 2. Percebemos em que casais anuais caem os signos. Se forem signos vazios, os planetas maléficos da Revolução serão os regentes do ano dessas casas, que por conta disso apresentarão problemas. 3. Se há nesses signos planetas, prefere-se os planetas natais como Regentes do ano para aquela casa. 3 24 Þ 13 28° ß à ¨ 00 ß 18 £ 04 ß 15 28° 08 11 P.subst 24 Þ 02° 24 00° ß 18 9 10 12 8 † 09 á 50Æ 19 Ö 00° § 00 Ö 19 1 02° × 30 Solar Return Chart Natus 4 Aug 2003 AD GC 9:15:14 PM BZ2T +03:00:00 Passos Brazil 46w37'00, 20s43'00 ¡ 25 × 36 2 P.faith00 Ø 533 02° Ý 30 7 19 Ü 00° 6 4 ¢ 25 Ý 36 ƒ 08 Ý 15 5 „ 07 Û 41 00° Ù Ø ˆ 07 Ù 50 4813 ‡ 25 Ú 08 ‚ 12 Ú 12 Ù … 08 Ú 25 28° san 05 Ú 46 18 P.hyleg02 Ù 24 P.spir it 26 Ø 22 02° 28° Ú 08 Ilustração 2 - Revolução Solar 4 Como tudo em astrologia, os exemplos ajudam a “clarear” nossa mente. Na Revolução Solar de 2003, que cobre o mês em que ocorreu o óbito, (vide ilustração 2), vemos que marte claramente é o pior planeta do mapa. Ele está cadente, em peixes, na casa 12 e regendo as casas 1, 8 10 e 11 como Almuten. Trata-se de um planeta de natureza maléfica, regendo casas maléficas, não todas evidentemente, porém por analogia os significados maléficos predominam, já que marte é maléfico essencial e significador essencial de morte e cirurgias. Marte rege o ascendente da Revolução solar, o que lhe dá uma certa proeminência no ano em questão. No ingresso1, o planeta vermelho está em peixes, signo ascendente do nativo em sua natividade mas, nesse ano, a profecção do ascendente está na casa 11 (Capricórnio), e a casa 1 abriga os significados da casa 3, a irmã mais velha. Marte da revolução solar afeta a casa 3 em profecção com seus significados, tanto aqueles concernentes a Revolução quanto aqueles do mapa natal. Por conta disso, precisamos encontrar no mapa natal como está marte: na casa três, e regendo a 2 que, por derivação, é a internação da irmã! Se seguíssemos esse método desde o início, não haveria dúvidas que a irmã sofreria algo tenebroso esse ano. Agora resta-nos encontrar evidências fortes de que poderíamos prever o mês em que isso aconteceria. Timing Uma vez detectado o regente do ano para a casa em questão (marte), procuramos o mapa em busca dos signos que ele rege, tanto por exaltação quanto domicílio – Áries, Capricórnio e Escorpião. Pela profecção mensal, esses signos indicam meses nos quais o evento prometido pode acontecer. Contamos o mês do aniversário a partir da casa 11, o ascendente da profecção anual. O evento ocorreu em Junho, mês no qual o ascendente projetado chegava a casa 9 natal, cuja cúspide abriga Escorpião. O conceito está certo, mas é passível de erro, pois antes de junho o ascendente passou por Áries, signo de marte, e por gêmeos, signo do marte natal, sem que houvesse algum evento importante concernente a irmã. Por mais que seja macabro perguntar, insinua-se em nossas mentes: porque a irmã não veio a falecer antes, quando a profecção chega a Áries no mapa natal, no terceiro mês a 1 Outro nome pelo qual a Revolução Solar era chamada nos textos medievais. 5 partir do aniversário em 2003? Ou no mês seguinte a esse, quando o ascendente chegava a marte natal? São perguntas que nos fazem perceber a necessidade de repousarmos numa técnica mais acurada de timing anual de eventos. Robert Zoller diz que todos os meses com signos do regente anual indicariam questões importantes concernentes a irmã do nativo, culminando com a sua morte em escorpião2. Talvez seja necessário interrogar se nos meses de Áries e gêmeos a nativa teve alguma grave crise de saúde, até o signo e seu regente estão em casas consecutivas (Áries na 2 e marte na 3), sugerindo dois meses seguidos de aflição, novembro e dezembro de 2003. Confirmando os achados acima pela Firdaria Toda a interpretação acima é suficiente, mas vamos fazer um teste comparando os eventos do ano com a Firdaria do período. Os períodos planetários devem ser consultados por último, a fim de proporcionarem um lastro à interpretação das profecções e ingressos. Se a Firdaria tem como regente e subregente planetas natais que dizem respeito a questão levantada pelas técnicas acima, então isso confirma os nossos prognósticos. Aplicar a Firdaria por último nos ajuda a simplificá-la, procurando somente o que nos despertou a atenção nas profecções e ingressos. Aplicá-la antes destas gera demasiada confusão, pela experiência do autor, visto que um planeta pode reger três ou mais casas, e não saberíamos qual seria a principal. Infelizmente, os períodos planetários confirmam a morte da irmã no período, pela ativação da Firdaria de Vênus-Júpiter, a primeira regendo a casa três (irmã) e o segundo a casa dez, derivada como a morte da irmã (casa 8 da 3). Além disso, como esse período se iniciou em Janeiro, isso nos ajuda a descartar os meses de Áries e de gêmeos, pois eles ocorreram por profecção mensal antes da Firdaria em questão! Aqui nós vemos como uma técnica pode auxiliar outra nos prognósticos. Conclusão. Esqueça o modernismo de que “Escorpião é o signo da morte”. Em astrologia medieval, o vínculo entre as casas e os signos inexiste, portanto não considere que a primeira casa equivale a Áries, a segunda a Touro, e a oitava a Escorpião. 2 6 Esse artigo nos servirá de exemplo clássico de aplicação das técnicas medievais no mapa. Tudo que está registrado aqui merece ser aplicado e observado em outros mapas. Por essa razão, o autor recomenda o uso combinado das técnicas medievais, pois elas têm sido confirmadas como bastante razoáveis. Não houve, em tempo algum, deturpação da teoria astrológica, possibilitando o acompanhamento da linha de raciocínio desde o início, se o estudante tem alguma experiência nos fundamentos de astrologia medieval. 7