Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas

Propaganda
e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes
Escola Técnica Aberta do Brasil
Vigilância em Saúde
Doenças parasitárias,
viróticas e bacterianas
Andreza Pain Marcelino
Bárbara Nobre Lafetá
Ministério da
Educação
e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes
Escola Técnica Aberta do Brasil
Vigilância em Saúde
Doenças parasitárias,
viróticas e bacterianas
Andreza Pain Marcelino
Bárbara Nobre Lafetá
Montes Claros - MG
2011
Presidência da República Federativa do Brasil
Ministério da Educação
Secretaria de Educação a Distância
Ministro da Educação
Fernando Haddad
Secretário de Educação a Distância
Carlos Eduardo Bielschowsky
Coordenadora Geral do e-Tec Brasil
Iracy de Almeida Gallo Ritzmann
Governador do Estado de Minas Gerais
Antônio Augusto Junho Anastasia
Secretário de Estado de Ciência, Tecnologia
e Ensino Superior
Alberto Duque Portugal
Reitor
João dos Reis Canela
Vice-Reitora
Maria Ivete Soares de Almeida
Pró-Reitora de Ensino
Anete Marília Pereira
Diretor de Documentação e Informações
Huagner Cardoso da Silva
Coordenador do Ensino Profissionalizante
Edson Crisóstomo dos Santos
Diretor do Centro de Educação Profissonal e
Tecnólogica - CEPT
Maísa Tavares de Souza Leite
Coordenadores de Cursos:
Coordenador do Curso Técnico em Agronegócio
Augusto Guilherme Dias
Coordenador do Curso Técnico em Comércio
Carlos Alberto Meira
Coordenador do Curso Técnico em Meio
Ambiente
Edna Helenice Almeida
Coordenador do Curso Técnico em Informática
Frederico Bida de Oliveira
Coordenador do Curso Técnico em
Vigilância em Saúde
Simária de Jesus Soares
Coordenador do Curso Técnico em Gestão
em Saúde
Zaida Ângela Marinho de Paiva Crispim
DOENÇAS PARASITÁRIAS, VIRÓTICAS E
BACTERIANAS
e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes
Elaboração
Andreza Pain Marcelino
Bárbara Nobre Lafetá
Projeto Gráfico
e-Tec/MEC
Supervisão
Wendell Brito Mineiro
Diagramação
Hugo Daniel Duarte Silva
Marcos Aurélio de Almeida e Maia
Diretor do Centro de Educação à Distância
- CEAD
Jânio Marques Dias
Impressão
Gráfica RB Digital
Coordenadora do e-Tec Brasil/Unimontes
Rita Tavares de Mello
Designer Instrucional
Angélica de Souza Coimbra Franco
Kátia Vanelli Leonardo Guedes Oliveira
Coordenadora Adjunta do e-Tec Brasil/
CEMF/Unimontes
Eliana Soares Barbosa Santos
Revisão
Maria Ieda Almeida Muniz
Patrícia Goulart Tondineli
Rita de Cássia Silva Dionísio
AULA 1
Alfabetização Digital
Apresentação e-Tec Brasil/Unimontes
Prezado estudante,
Bem-vindo ao e-Tec Brasil/Unimontes!
Você faz parte de uma rede nacional pública de ensino, a Escola
Técnica Aberta do Brasil, instituída pelo Decreto nº 6.301, de 12 de dezembro
2007, com o objetivo de democratizar o acesso ao ensino técnico público,
na modalidade a distância. O programa é resultado de uma parceria entre
o Ministério da Educação, por meio das Secretarias de Educação a Distancia
(SEED) e de Educação Profissional e Tecnológica (SETEC), as universidades e
escola técnicas estaduais e federais.
A educação a distância no nosso país, de dimensões continentais e
grande diversidade regional e cultural, longe de distanciar, aproxima as pessoas ao garantir acesso à educação de qualidade, e promover o fortalecimento da formação de jovens moradores de regiões distantes, geograficamente
ou economicamente, dos grandes centros.
O e-Tec Brasil/Unimontes leva os cursos técnicos a locais distantes
das instituições de ensino e para a periferia das grandes cidades, incentivando os jovens a concluir o ensino médio. Os cursos são ofertados pelas
instituições públicas de ensino e o atendimento ao estudante é realizado em
escolas-polo integrantes das redes públicas municipais e estaduais.
O Ministério da Educação, as instituições públicas de ensino técnico,
seus servidores técnicos e professores acreditam que uma educação profissional qualificada – integradora do ensino médio e educação técnica, – não só
é capaz de promover o cidadão com capacidades para produzir, mas também
com autonomia diante das diferentes dimensões da realidade: cultural, social, familiar, esportiva, política e ética.
Nós acreditamos em você!
Desejamos sucesso na sua formação profissional!
Ministério da Educação
Janeiro de 2010
Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas
3
e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes
AULA 1
Alfabetização Digital
Indicação de ícones
Os ícones são elementos gráficos utilizados para ampliar as formas
de linguagem e facilitar a organização e a leitura hipertextual.
Atenção: indica pontos de maior relevância no texto.
Saiba mais: oferece novas informações que enriquecem o assunto ou
“curiosidades” e notícias recentes relacionadas ao tema estudado.
Glossário: indica a definição de um termo, palavra ou expressão utilizada
no texto.
Mídias integradas: possibilita que os estudantes desenvolvam atividades
empregando diferentes mídias: vídeos, filmes, jornais, ambiente AVEA e
outras.
Atividades de aprendizagem: apresenta atividades em diferentes níveis
de aprendizagem para que o estudante possa realizá-las e conferir o seu
domínio do tema estudado.
Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas
5
e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes
AULA 1
Alfabetização Digital
Sumário
Palavra do professor conteudista............................................ 11
Projeto instrucional............................................................ 13
Aula 1 - Conceito de saúde e doença........................................ 17
1.1 Introdução............................................................. 17
1.2 História do conceito de saúde..................................... 17
1.3 Conceito de saúde-doença atual................................... 19
1.4 Conceito de zoonoses............................................... 19
1.5 Classificação da zoonses............................................ 20
Resumo.................................................................... 21
Atividades de aprendizagem............................................ 22
Aula 2 – Zoonoses virais....................................................... 23
2.1 Introdução aos vírus................................................. 23
2.2 Estrutura viral........................................................ 23
Resumo.................................................................... 25
Atividades de aprendizagem............................................ 25
Aula 3 - Raiva................................................................... 27
3.1 Introdução............................................................ 27
3.2 Agente etiológico.................................................... 27
3.3 Hospedeiros e reservatórios ....................................... 27
3.4 Modos de transmissão............................................... 29
3.5 Período de incubação............................................... 29
3.6 Quadro clínico........................................................ 30
3.7 Diagnóstico........................................................... 31
3.8 Tratamento........................................................... 32
3.9 Características epidemiológicas................................... 32
3.10 Vigilância Epidemiológica.......................................... 33
3.11 Medidas de prevenção e controle................................ 33
Resumo.................................................................... 35
Atividades de aprendizagem............................................ 35
Aula 4 - Hantavirose........................................................... 37
4.1 Introdução............................................................ 37
4.2 Agente etiológico.................................................... 37
4.3 Hospedeiros e reservatórios ....................................... 38
4.4. Modos de transmissão.............................................. 39
4.5 Período de incubação............................................... 39
4.6 Quadro clínico........................................................ 39
4.7 Diagnóstico........................................................... 40
4.8 Tratamento........................................................... 40
4.9 Características epidemiológicas................................... 40
Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas
7
e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes
4.10 Vigilância Epidemiológica.......................................... 40
4.11 Medidas de controle................................................ 41
Resumo.................................................................... 41
Atividades de aprendizagem............................................ 42
Aula 5 – Zoonoses bacterianas................................................ 43
5.1 Introdução............................................................ 43
5.2 Estrutura bacteriana................................................ 44
Resumo.................................................................... 45
Atividades de aprendizagem............................................ 46
Aula 6 - Brucelose.............................................................. 47
6.1 Introdução............................................................ 47
6.2 Agente etiológico.................................................... 47
6.3 Hospedeiros e reservatórios........................................ 48
6.4 Modos de transmissão............................................... 48
6.5 Período de incubação............................................... 48
6.6 Quadro clínico........................................................ 48
6.7 Diagnóstico........................................................... 49
6.8 Tratamento........................................................... 49
6.9 Características epidemiológicas ................................... 49
6.10 Vigilância Epidemiológica.......................................... 49
6.11 Medidas de controle................................................ 50
Resumo.................................................................... 50
Atividades de aprendizagem............................................ 51
Aula 7 – Tuberculose........................................................... 53
7.1 Introdução............................................................. 53
7.2 Agente etiológico.................................................... 53
7.3 Hospedeiros e reservatórios........................................ 54
7.4 Modo de transmissão ................................................ 54
7.5 Período de incubação............................................... 55
7.6 Quadro clínico........................................................ 55
7.7 Diagnóstico............................................................ 56
7.8 Tratamento ........................................................... 56
7.9 Características epidemiológicas.................................... 56
7.10 Vigilância Epidemiológica.......................................... 57
7.11 Medidas de controle ............................................... 58
Resumo.................................................................... 58
Atividades de aprendizagem............................................ 59
Aula 8 - Leptospirose.......................................................... 61
8.1 Introdução............................................................ 61
8.2 Agente etiológico.................................................... 61
8.3 Hospedeiros e reservatórios........................................ 62
8.4 Modos de transmissão............................................... 62
8.5 Período de incubação............................................... 64
8.6 Quadro clínico........................................................ 64
8.7 Diagnóstico........................................................... 65
e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes
8
Vigilância em Saúde
8.8 Tratamento........................................................... 66
8.9 Características epidemiológicas................................... 66
8.10 Vigilância Epidemiológica.......................................... 66
8.11 Medidas de controle................................................ 67
Resumo.................................................................... 68
Atividades de aprendizagem............................................ 68
Aula 9 – Zoonoses parasitárias................................................ 69
9.1 Introdução............................................................. 69
Resumo.................................................................... 73
Atividades de aprendizagem............................................ 74
Aula 10- Protozoários.......................................................... 75
10.1 Introdução........................................................... 75
10.2 Estrutura dos protozoários........................................ 77
Resumo.................................................................... 81
Atividades de aprendizagem............................................ 81
Aula 11-Toxoplasmose.......................................................... 83
11.1 Introdução........................................................... 83
11.2 Agente etiológico................................................... 83
11.3 Hospedeiros e reservatórios....................................... 84
11.4 Modo de transmissão............................................... 84
11.5 Período de incubação.............................................. 85
11.6 Quadro clínico....................................................... 85
11.8 Tratamento.......................................................... 88
11.9 Características epidemiológicas.................................. 88
11.10 Vigilância Epidemiológica......................................... 88
11.11 Medidas de prevenção e controle............................... 89
Resumo.................................................................... 89
Atividades de aprendizagem............................................ 90
Aula 12 - Helmintos............................................................ 91
12.1 Introdução........................................................... 91
12.2 Filo nematoda....................................................... 91
12.3 Filo platyhelminthes............................................... 93
Resumo.................................................................... 94
Atividades de aprendizagem............................................ 94
AULA 13 - Doenças causadas pela larva migrans.......................... 95
13.1 Introdução........................................................... 95
13.2 Larva migrans cutânea (LMC).................................... 96
13.3 Larva migrans visceral (LMV)..................................... 98
13.4 Larva migrans ocular (LMO) .....................................100
13.5 Vigilância Epidemiológica das doenças causadas pela Larva mi.
grans...................................................................... 101
13.6 Medidas de prevenção e controle............................... 101
Resumo...................................................................102
Atividades de aprendizagem........................................... 103
Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas
9
e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes
Aula 14 – Hidatidose.......................................................... 105
14.1 Introdução..........................................................105
14.2 Agente etiológico.................................................. 105
14.3 Hospedeiros e reservatórios.....................................106
14.4 Modo de transmissão..............................................106
14.5 Período de incubação............................................. 107
14.6 Quadro clínico...................................................... 107
14.7 Diagnóstico.........................................................108
14.8 Tratamento.........................................................108
14.9 Características epidemiológicas.................................108
14.10 Vigilância Epidemiológica.......................................108
14.11 Medidas de prevenção e controle..............................108
Resumo...................................................................109
Atividades de aprendizagem...........................................109
Referências .................................................................... 110
Currículos do professores conteudistas.................................... 112
e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes
10
Vigilância em Saúde
AULA 1
Alfabetização Digital
Palavra dos professores conteudistas
Prezados estudantes, sejam bem-vindos à disciplina Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas! Nesta disciplina, vocês terão a oportunidade de
conhecer algumas das zoonoses mais importantes do mundo e do nosso país. E
por que uma zoonose pode ser considerada mais importante do que outras? Pois
bem, selecionar as zoonoses que serão estudas foi o nosso primeiro desafio.
Escolhemos as zoonoses não vetoriais prevalentes no Brasil para trabalharmos
com vocês, já que não seria possível falar de todas elas. Pesquisamos as bases
de informação do Ministério da Saúde para fazermos as nossas escolhas. E como
o Ministério da Saúde faz as suas escolhas? É claro que as doenças que acometem o maior número de pessoas e que apresentem maior risco em saúde devem
ter preferência, certo? Pois então, é justamente com essas enfermidades que
trabalharemos.
Outra informação importante que vocês devem sempre ter em mente é
que o nosso espaço e o nosso tempo são reduzidos para falarmos de tudo sobre
cada doença. Por isso, há uma infinidade de informações interessantes que não
coube falar aqui, a exemplo, posso citar alguns esquemas de vacinação. E como
vocês devem proceder diante disto? Sendo indivíduos pró-ativos e buscando essas informações nas mídias integradas. O nosso material didático está repleto de
ícones que lhes levarão a outros materiais didáticos com um número enorme de
informações. É interessante que vocês se esforcem e leiam mais e mais informações. A formação de cada um de vocês depende, em grande parte, do esforço
individual. Espero que vocês sejam estudantes participativos, que aprendam a
aprender com muita leitura e muito interesse pelo nosso conteúdo. Espero também que vocês comecem, desde já, a serem criteriosos com o que leem, que
observem as datas das publicações e questionem se há algo mais recente, algo
melhor. Espero que entendam a necessidade de se começar pelo básico para
conseguirem compreender as informações mais complexas. Enfim, espero de
vocês dedicação!
Quanto a nós, conteudistas, esforçamo-nos para produzir um bom material. Espero que gostem. Fizemos este material didático tentando passar as
informações de forma a facilitar a compreensão. Na introdução de cada doença,
colocamos informações que se referem ao risco em saúde, falamos um pouco do
agente etiológico e demos sequência expondo como ele é transmitido; e por aí
fomos contando cada “história”. Como cada assunto é mesmo uma “história”,
é importante que vocês leiam aula por aula na sequência proposta, para que
possam compreender a “narrativa” sem que se percam pelo caminho. E, caso
se percam, busquem ajuda. O professor formador tem o papel de lhes ajudar a
entender e de lhes guiar por todas essas “histórias”. É isto, pessoal! Desejamos-lhes boa sorte nos estudos e na futura profissão!
Com carinho.
Andreza Pain Marcelino e Bárbara Nobre Lafetá.
Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas
11
e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes
AULA 1
Alfabetização Digital
Projeto instrucional
Disciplina: Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas (carga horária: 60 h).
Ementa: Conceitos de saúde e doença; mecanismos de transmissão;
organização do sistema de saúde no Brasil; quadro sanitário e demográfico
brasileiro; importância das variáveis demográficas e sociais; indicadores sociais; risco em saúde; saúde e trabalho; Vigilância Epidemiológica; Vigilância
Sanitária; fundamentos de saúde pública.
AULA
1. Conceito
de saúde e
doença
•
•
•
•
•
•
2. Zoonoses
virais
•
•
•
•
•
•
3. Raiva
MATERIAIS
CARGA
HORÁRIA
Conhecer o conceito de saúde estabelecido pela Organização Mundial
de Saúde (OMS) e compreendendo
por que ele é considerado ultrapassado.
Conhecer o conceito de zoonoses
estabelecido pela OMS.
Aprender a classificação das zoonoses.
Conhecer o conceito de endêmico.
Conhecer o conceito de epidêmico.
Conhecer o conceito de patógenos
humanos emergentes.
Caderno
didático
4h
Saber por que os vírus são micro-organismos intracelulares obrigatórios.
Conhecer as estruturas que fazem parte
de vírus.
Saber a diferença entre vírus nus e vírus
envelopados.
Conhecer o conceito de hospedeiro.
Conhecer o conceito de parasita.
Conhecer o conceito de agente infeccioso.
Caderno
didático
2h
Saber o risco em saúde oferecido pela
raiva.
Conhecer o agente etiológico da raiva e
seus reservatórios.
Conhecer os ciclos de transmissão da
raiva.
Conhecer os principais sintomas da raiva.
Conhecer as características epidemiológicas da raiva.
Conhecer os grupos ocupacionais mais
expostos.
Entender o que é vacina pré-exposição e
vacina pós-exposição.
Saber as ações estabelecidas pela Vigilância Epidemiológica e as medidas de
controle da raiva.
Caderno
didático
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
•
•
•
•
•
•
•
•
Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas
5h
13
e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes
4. Hantavirose
•
•
•
•
•
•
•
Saber o risco em saúde oferecido pela
hantavirose.
Conhecer o agente etiológico da hantavirose e seus reservatórios.
Conhecer o ciclo de transmissão da hantavirose e suas peculiaridades.
Conhecer os principais sintomas da hantavirose.
Conhecer as características epidemiológicas da hantavirose.
Conhecer os grupos ocupacionais mais
expostos.
Conhecer as ações estabelecidas pela
Vigilância Epidemiológica e as medidas
de controle.
Caderno
didático
5h
5. Zoonoses
bacterianas
•
Relembrar conceitos acerca das bactérias
e conhecer a estrutura bacteriana.
Caderno
didático
2h
6. Brucelose
•
Conhecer o risco em saúde oferecido
pela brucelose.
Conhecer o agente etiológico e seus principais reservatórios.
Entender o ciclo de transmissão da brucelose.
Conhecer os principais grupos ocupacionais mais expostos.
Conhecer as ações da Vigilância Epidemiológica e as medidas de controle.
Caderno
didático
5h
Conhecer o risco em saúde oferecido
pela tuberculose.
Conhecer o agente etiológico e seus principais reservatórios.
Entender o ciclo de transmissão da tuberculose.
Conhecer os grupos ocupacionais mais
expostos.
Conhecer as ações da Vigilância Epidemiológica e as medidas de controle.
Caderno
didático
5h
Conhecer o risco em saúde oferecido
pela leptospirose.
Conhecer o agente etiológico e seus principais reservatórios.
Entender o ciclo de transmissão da leptospirose.
Conhecer os grupos sociais mais expostos.
Conhecer as ações da Vigilância Epidemiológica e as medidas de controle.
Caderno
didático
5h
Conhecer os conceitos básicos de parasitologia.
Conhecer as principais classificações dos
parasitas.
Entender a relação: parasia/ hopedeiro/
meio ambiente.
Caderno
didático
2h
Comparar a estrutura morfológica
dos protozoários com os outros organismos já estudados.
Entender como funcionam os mecanismos básicos de sobrevivência
destes parasitos.
Conseguir relacionar os exemplos de
protozoários aplicados no texto com
cada filo existente.
Caderno
didático
2h
•
•
•
•
7. Tuberculose
•
•
•
•
•
8. Leptospirose
•
•
•
•
•
9.Zoonoses
parasitárias
•
•
•
10. Protozoários
•
•
•
e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes
14
Vigilância em Saúde
11. Toxoplasmose
•
•
•
•
Conhecer o risco em saúde oferecido
pela toxoplasmose.
Conhecer seu agente etiológico e seus
hospedeiros.
Conhecer seu ciclo de transmissão.
Conhecer as medidas de controle.
Caderno
didático
5h
12.Helmintos
•
Entender a estrutura dos helmintos e a
sua classificação.
Caderno
didático
2h
13. Doenças
causadas
pela Larva
migrans
•
Apontar as três formas clínicas da
doença.
Distinguir os agentes etiológicos
envolvidos em cada forma clínica e
diferenciar as suas manifestações
clínicas.
Entender as formas de transmissão.
Conhecer os hospedeiros principais
de cada agente etiológico e suas
respectivas formas de controle.
Caderno
didático
11 h
Conhecer o agente etiológico mais
frequente na área urbana e periurbana (Echinococcus granulosus).
Conhecer os hospedeiros.
Conhecer o ciclo de transmissão e as
medidas de controle e prevenção.
Caderno
didático
5h
•
•
•
14. Hidatidose
•
•
•
Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas
15
e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes
AULA 1
Alfabetização Digital
Aula 1 - Conceito de saúde e doença
Objetivos
• Conhecer o conceito de saúde estabelecido pela Organização
Mundial de Saúde (OMS) e compreendendo por que ele é considerado ultrapassado.
• Conhecer o conceito de zoonoses estabelecido pela OMS.
• Aprender a classificação das zoonoses.
• Conhecer o conceito de endêmico.
• Conhecer o conceito de epidêmico.
• Conhecer o conceito de patógenos humanos emergentes.
1.1 Introdução
Prezados alunos participantes do curso técnico de Vigilância em
Saúde, sejam bem-vindos à disciplina Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas. Iremos iniciar nossos trabalhos conceituando saúde e doença sob a
óptica das doenças infecciosas; posteriormente, restringindo nossos olhares
sobre as zoonoses.
Para iniciarmos nosso estudo acerca deste assunto, é necessário entendermos que, apesar da Organização Mundial de Saúde (OMS) estabelecer
o que seria o conceito ideal de saúde, a percepção de saúde é algo variável
de indivíduo para indivíduo, assim como de sociedade para sociedade. Além
disso, também pode variar no mesmo local, em função da época. Ou seja,
não se trata de um conceito fixo e isolado do ambiente e do tempo no qual
a sociedade está inserida, mas sim de algo mutável, que evolui com o seu
tempo.
1.2 História do conceito de saúde
A primeira descrição racional do conceito de doença (desvinculada
da religião) da qual há registros encontra-se no conjunto da obra atribuída
ao grego Hipócrates de Cós (460-377 a.C.), denominada Corpus Hipocráticos.
Nessa obra, o texto intitulado “A doença sagrada” inicia-se afirmando que a
doença sagrada nada mais é do que a ignorância humana que não conhece
realmente suas causas naturais. Em outro texto, intitulado “Ares, águas, lugares”, há uma correlação entre a incidência das enfermidades com o meio
ambiente onde elas prevalecem. Talvez essa seja a primeira correlação existente entre o meio ambiente e a incidência de algumas doenças.
Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas
17
e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes
A contribuição do romano Varrão, no século I a.C, diz respeito aos
primeiros relatos nos quais a saúde é interligada com a possível existência de
animais minúsculos, que entrariam no corpo pela boca e pelo nariz e causariam
doenças. Já Lucrécio, filósofo e poeta romano, citou as “sementes” de doenças,
quando escreveu sobre as coisas da natureza. Sendo essas duas citações as primeiras referências a algo que, hoje, sabemos serem os micro-organismos.
Mais tarde, no século II, Galeno retornou aos escritos hipocráticos e reafirmou que as causas das doenças eram endógenas, estavam dentro do próprio
homem e se revelavam quando este entrava em desequilíbrio com a natureza.
A Idade Média representou um retrocesso às ideias de Hipócrates,
Varrão, Lucrécio e Galeno, ao trazer de volta as explicações religiosas, ou
melhor dizendo, pecaminosas para o estado de doença; novamente, a cura
foi vinculada à fé. Inserida nesse contexto, a igreja assumiu boa parte da
responsabilidade sobre os doentes, fundando hospitais como locais de acolhimento e conforto àqueles que padeciam.
Paracelsus (1493-1541), médico, químico e bioquímico suíço, foi o
primeiro a propor a relação existente entre saúde e bioquímica; por isso, foi
o primeiro médico a utilizar e a divulgar um tratamento realizado com a administração de compostos químicos como remédios. Como exemplo, Paracelsus utilizou mercúrio no tratamento da sífilis, doença que, naquela ocasião,
era endêmica na Europa.
No entanto, foi apenas por volta de 1665, com a construção do
primeiro microscópio pelo inglês Robert Hooke, que foi possível iniciar as
descobertas propiciadas pela visão privilegiada das “lentes de aumento” que
equipavam tal aparelho. Anton van Leeuwenhoek (1632-1723) foi a primeiro
a utilizar o microscópio para visualizar micro-organismos vivos, os quais ele
chamou de “animalículos”. De lá para cá, os microscópios já evoluíram e se
diversificaram bastante (Figura 1). Veja a imagem que se segue de um microscópio óptico. Este modelo que aparece na foto é um modelo básico, bastante utilizado para a visualização de micro-organismos, lâminas com tecidos
e tudo o mais que for possível visualizar com a resolução oferecida por este
aparelho. Ele é bem diferente do inventado por Robert Hooke, mais moderno
e com resolução maior. Porém, a ideia básica do aparelho permanece a mesma: permitir enxergar o que é pequeno demais para os nossos olhos verem.
Figura 1: Microscópio óptico.
Foto: Andreza Pain Marcelino.
e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes
18
Vigilância em Saúde
Pois bem, alunos, o microscópio auxiliou na descoberta dos tais
“animalículos”, que hoje chamamos micro-organismos; a partir daí, começaram a ser elaborados os novos conceitos de saúde, de doença, as formas mais
difundidas de prevenção e, é claro, de tratamentos relacionados às doenças
infecciosas.
1.3 Conceito de saúde-doença atual
Muito tempo se passou de Hipócrátes, Paracelsus e outros. De lá
para cá, muito mudou, muito foi descoberto. Só o que não se alterou foi
a vontade humana de conhecer e de conceituar. Pesquisadores solitários
já não impõem mais suas ideias como antes. Agora, há órgãos compostos
por vários pensadores, que tentam estabelecer padrões e conceituar velhos
conhecidos da Humanidade. A OMS é um desses órgãos. Em 1948, essa organização estabeleceu um novo conceito de saúde que é ainda hoje preconizado: “saúde é o estado de completo bem estar físico, mental e social e
não apenas a ausência de doença.” Levando-se em consideração que este
conceito foi elaborado há mais de 70 anos, podemos perceber que ele era
bastante avançado para a sua época, já que considera três diferentes aspectos do indivíduo: o aspecto físico, o psíquico e o social. Porém, esse conceito
é, hoje, criticado, por utilizar o termo “completo” remetendo à perfeição e
por não levar em consideração o estado transitório de saúde e de doença. É
justamente nesta transitoriedade que se baseiam as novas tentativas de conceituar a saúde. Fazer com que o conceito de saúde não seja algo estático,
de forma a compreender que a saúde é algo para ser alcançado através de
ações que se sobreponham às ações naturais.
1.4 Conceito de zoonoses
Assim como a OMS conceituou saúde e doença, ela também conceituou zoonoses. Segundo a OMS, zoonoses são “doenças ou infecções naturalmente transmissíveis entre animais vertebrados e seres humanos.” A
aparente redundância no início da frase faz sentido quando entendemos que
nem todos os indivíduos que se encontram infectados podem apresentar-se
doentes. Por isso, há necessidade de se usar o conceito de infectado para
incluirmos também aqueles indivíduos que são portadores de micro-organismos, que são possíveis disseminadores de agentes patológicos, mas que não
se apresentam com sintomas clínicos da enfermidade. Quando a OMS utiliza,
em sua definição de zoonose, o termo “naturalmente transmissível”, ela tenta excluir da sua classificação aquelas doenças que foram transmitidas de
animais vertebrados para o homem sob condições experimentais, tais quais
as condições encontradas em um laboratório de pesquisa.
As zoonoses possuem grande impacto na saúde pública, nos animais
domésticos e na proteção e preservação dos animais selvagens. Há estimativas de que 61% de todos os patógenos humanos e 75% dos patógenos huma-
Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas
19
Animalículos:
nome que Anton
van Leeuwenhoek
(1632-1723) usou para
transmitir a ideia
de organismos vivos
infimamente minúsculos
capazes de causarem
infecções.
A Organização Mundial
da Saúde (OMS) foi
fundada em 7 de abril
de 1948 como uma
agência especializada
em saúde. A OMS
está subordinada
à Organização das
Nações Unidas; sua
sede é em Genebra, na
Suíça . A OMS tem suas
origens nas guerras
do fim do século
XIX. Após a Primeira
Guerra Mundial, a
Sociedade das Nações
Unidas criou seu
comitê de higiene,
que foi o embrião da
OMS. Segundo a sua
constituição, a OMS
tem por objetivo
desenvolver ao
máximo possível o
nível de saúde de
todos os povos.
e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes
Patógenos humanos
emergentes:
são agentes infecciosos
que, até pouco tempo,
não eram considerados
importantes, já que
raramente causavam
doenças nos homens.
Atualmente, vêm
chamando a atenção
dos órgãos responsáveis
pela saúde pública, por
se tornarem mais e mais
frequentes.
Endêmico:
Patógenos endêmicos
são aqueles que
se encontram em
equilíbrio estacionário
com o meio ambiente;
são característicos de
uma determinada região
e o número de casos de
doença provocada por
eles não varia muito de
um ano para o outro.
nos emergentes sejam zoonóticos (Mahy e Murphy, 1998). É importante lembrar que a maioria destas zoonoses patogênicas, que geralmente infectam
o homem, estão relacionadas às práticas da criação animal. Muitos destes
patógenos são endêmicos em algumas regiões e difíceis de serem erradicados, já que, de fato, eles fazem parte daquele ecosistema.
1.5 Classificação da zoonses
Na atualidade, as zoonoses são classificadas de acordo com os seus
mecanismos de transmissão e de perpetuação na natureza. Você sabe o que
significa transmissão? Popularmente, utilizamos o termo “pegar” para nos
referirmos á transmissão. Quem nunca “pegou” uma gripe? Porém, em zoonoses, falamos mecanismos de transmissão. E são justamente esses mecanismos que utilizamos para classificar as zoonoses. Veja a classificação que
se segue.
• Antropozoonose – assim são chamadas as zoonoses cujos agentes infecciosos são perpetuados pela transmissão entre animais,
mas que, podem, eventualmente, acometerem seres humanos.
Ex.: Raiva
• Amphixenosis – são zoonoses cujos agentes infecciosos são
transmitidos com igual intensidade entre os animais, entre os
seres humanos e também entre animais e seres humanos.
Ex.: Estafilococose
• Zooantroponoses – são aquelas zoonoses que, normalmente,
acometem apenas os homens e que, raramente, atingem os animais.
Ex.: Tuberculose em animais pelo Mycobacterium tuberculosis,
bacilo do tipo humano.
• Zoonoses diretas – são zoonoses que podem se perpetuar na
natureza com passagens sucessivas por uma única espécie de
animal vertebrado.
Ex.: Raiva canina
• Ciclozoonoses – neste tipo de zoonose, o agente infeccioso necessita, obrigatoriamente, passar por duas espécies distintas de
animais vertebrados para que o seu ciclo se complete.
Ex.: Complexo Equinococose-Hidatidose.
Dentre as ciclozoonoses, são consideradas:
• Euzoonoses - as doenças nas quais o ciclo biológico completo do agente etiológico necessita, obrigatoriamente, da
passagem por seres humanos e animais; exemplo: Complexo
Teniase-Cisticercose.
• Parazoonoses - doenças nas quais o ciclo biológico pode
se completar com dois animais vertebrados, porém, eventualmente, podem atingir seres humanos; exemplo: Complexo
Equinococose-Hidatidose.
• Metazoonoses – o agente necessita passar por um hospedeiro
invertebrado para que o seu ciclo se complete.
Ex.: Febre maculosa; encefalite equina americana; doença
de Chagas, leishmanioses.
e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes
20
Vigilância em Saúde
• Saprozoonose - o agente necessita passar por transformações que ocorrem no ambiente externo, em ausência de parasitismo.
Ex.: Toxoplasmose, toxocaríase.
Pois bem, agora que você já sabe o que é uma zoonose e como elas
são classificadas, deve saber quais são os organismos capazes de infectarem
ou parasitarem a espécie humana, transmitidos por animais. É importante
você saber também que o número de zoonoses já descrito é tão grande que
seria impossível estudarmos todas elas. E que algumas zoonoses não são
exatamente um problema de saúde pública, a exemplo, podemos citar a
febre aftosa, que traz grandes prejuízos à pecuária e, consequentemente,
ao país, mas que raramente acomete seres humanos. Por isso, neste curso,
estudaremos as principais zoonoses encontradas em nosso país com importância na saúde dos seres humanos.
Resumo
Nesta aula, você aprendeu que, segundo a OMS, o conceito de saúde é: “o estado de completo bem estar físico, mental e social e não apenas
a ausência de doença”. Aprendeu também que este conceito não é considerado apropriado para a atualidade na qual estamos inseridos, já que ele
remete à perfeição, e não à transitoriedade que caracteriza a busca ativa
pela saúde através de ações.
Outro ponto importante trabalhado nesta aula foi o conceito
de zoonoses e a sua interpretação: “doenças ou infecções naturalmente
transmissíveis entre animais vertebrados e seres humanos.” Lembrando
que, muitas vezes, o animal pode ser um hospedeiro bem adaptado à
infecção; não apresentar os sinais clínicos da doença e, mesmo assim, disseminar o agente etiológico, o que representa um grande perigo para os
seres humanos. Outro ponto muito importante trabalhado aqui foi a classificação das zoonoses segundo a intensidade com a qual elas acontecem
entre os homens e os animais. De fato, essa classificação nos mostra que
algumas zoonoses acometem mais comumente os homens ou os animais,
e que outras zoonoses podem acometer, com intensidade semelhante,
homens e animais. Além disso, a classificação estudada também nos mostra que, para algumas zoonoses se perpetuarem na natureza, existe a
necessidade de hospedeiros com características específicas estarem presentes em algum momento do seu ciclo.
Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas
21
e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes
Atividades de aprendizagem
1. Busque na internet quatro exemplos de zoonoses que ainda não foram
citadas.
2. Agora que você já sabe o que é endêmico, dê o conceito de epidêmico.
3. Todas as alternativas a seguir trazem o conceito correto acerca da classificação das zoonoses, de acordo com a forma como ela se perpetua na
natureza e com o seu mecanismo de transmissão, EXCETO:
a. Antropozoonose – assim são chamadas as zoonoses cujos agentes
infecciosos são perpetuados pela transmissão entre animais, mas que
podem, eventualmente, acometerem seres humanos.
b. Amphixenosis – neste tipo de zoonose, o agente infeccioso necessita,
obrigatoriamente, passar por duas espécies distintas de animais vertebrados para que o seu ciclo se complete.
c. Zooantroponoses – são aquelas zoonoses que, normalmente, acometem apenas os homens, e que, raramente, atingem animais.
d. Zoonoses diretas – são zoonoses que podem se perpetuar na natureza, com passagens sucessivas por uma única espécie de animal
vertebrado.
e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes
22
Vigilância em Saúde
AULA 1
Aula
2 – Zoonoses
virais
Alfabetização
Digital
Objetivos
• Saber por que os vírus são micro-organismos intracelulares
obrigatórios.
• Conhecer as estruturas que fazem parte de vírus.
• Saber a diferença entre vírus nus e vírus envelopados.
• Conhecer o conceito de hospedeiro.
• Conhecer o conceito de parasita.
• Conhecer o conceito de agente infeccioso.
2.1 Introdução aos vírus
As zoonoses podem ser causadas por vírus, bactérias, fungos ou parasitas. Nesta aula, nós conheceremos um pouco dos vírus. Você já estudou a
estrutura de um vírus? É importante começarmos nossos estudos pelo agente
infeccioso. Somente assim teremos condições de entender a patologia, os
mecanismos de transmissão e os mecanismos de prevenção. Aproveitaremos
também este espaço para fazermos a introdução de alguns conceitos importantes, por isso, não deixem de ler o glossário e de procurarem saber o significado de cada palavra que lhes parecer estranha ou nova. Vamos entender
que, para vocês aprenderem de fato o que esta disciplina se dispõe a lhes
ensinar, precisamos que vocês se dediquem e que sejam bastante curiosos
e práticos, buscando sempre mais informações. As mídias integradas podem
lhes ajudar. Então, vamos ao trabalho!
2.2 Estrutura viral
Os vírus são organismos considerados acelulares. Ou seja, não possuem organização celular. São desprovidos de organelas necessárias para
efetuarem uma apropriada replicação e produção de proteínas. Essa falta de
organelas torna os vírus organismos intracelulares obrigatórios. Já que eles
não possuem organelas, precisam invadir células de outros organismos para
conseguirem realizar suas funções vitais. Alguns vírus podem se cristalizar
e sobreviver no ambiente, fora de outras células, por longos períodos de
tempo; outros, tais como os vírus envelopados, não sobrevivem no ambiente por longos períodos. Essa variação no tempo de sobrevivência dos vírus
fora de uma célula depende de suas características estruturais e é bastante
importante para entendermos, um pouco mais à frente, os mecanismos de
transmissão de todos os vírus. E como é a estrutura básica de um vírus? Vamos estudá-la?
Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas
23
e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes
Os vírus são constituídos, basicamente, pelo capsídeo viral e pelo
seu material genético.
O capsídeo viral é a cápsula que envolve o material genético viral.
Ele é constituído de subunidades proteicas chamadas capsômeros. Um capsídeo pode ser constituído de repetições da mesma subunidade proteica ou
pode conter diferentes subunidades.
A segunda estrutura apresentada por todos os vírus é o seu material
genético, o qual ele utiliza para orquestrar as funções de síntese na célula
onde ele está inserido. Há uma grande variedade de tipos de material genético encontrado nos vírus. Há vírus que contêm, como material genético,
ácido desoxirribonucleico (DNA) fita simples. Há vírus que possuem DNA fita
dupla, podendo ser linear ou circular. Existem também os vírus de ácido
ribonucleico (RNA) fita dupla, simples, linear ou circular. Há vírus que possuem tanto DNA quanto RNA. Aliás, estes últimos foram descobertos recentemente. E, por fim, ainda existem vírus com material genético segmentado,
existindo na forma de muitos fragmentos.
Alguns vírus apresentam uma terceira estrutura, chamada envelope. Todos os vírus que apresentam essa estrutura são denominados vírus
envelopados, enquanto os demais, sem envelope, são denominados vírus nus
ou não envelopados. Os vírus envelopados adquirem seu envelope a partir
de membranas encontradas nas células hospedeiras, quando esses brotam
ou se movem através de uma ou mais membranas celulares. Na prática, os
vírus envelopados são menos resistentes ao ambiente e mais sagazes para
sobreviverem no interior de hospedeiros.
A Figura 2 traz uma micrografia eletrônica do vírus causador da
varíola; nela, é possível visualizar a estrutura viral. Observem-na.
Figura 2: Micrografia eletrônica do vírus da varíola.
Fonte: Disponível em: <http://phil.cdc.gov/phil/details.asp>. Acesso em 01/09/2011.
e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes
24
Vigilância em Saúde
E quais seriam as principais zoonoses transmitidas por vírus? A raiva, também conhecida como hidrofobia, a coriomeningite linfocítica, a encefalomielite equina e a encefalite de Saint Louis são alguns exemplos. Provavelmente, você já deve ter ouvido falar em alguma dessas doenças. Imagino
que já tenha ouvido falar na raiva, certo? De fato, dentre as zoonoses virais
apresentadas anteriormente, a raiva é a mais conhecida delas. O que mais
você sabe sobre essa doença? Imagino que já tenha ouvido falar que um dos
animais que podem transmitir a raiva ao homem são os morcegos hematófagos. Acertei? Pois bem, há muito mais por saber sobre essa zoonose. E é por
isto mesmo que, agora, estudaremos a raiva!
Resumo
Esta aula se propôs a relembrar as características básicas de
um vírus; nela, você aprendeu que os vírus são organismos acelulares,
parasitas obrigatórios, já que não possuem organelas para perpetuarem
na natureza fora da célula de um hospedeiro. Relembrou também que
as únicas estruturas que constituem todos os vírus são o capsídeo e o seu
material genético, e que alguns vírus ainda possuem uma terceira estrutura, chamada envelope. Os vírus envelopados são mais sagazes quando
se encontram dentro de um hospedeiro, e mais vulneráveis quando se
encontram no ambiente. Alguns vírus mantêm-se na natureza, por longos
períodos de tempo, em estado de latência, durante o qual eles não realizam funções vitais, tais como replicação do seu material genético ou
formação de novas partículas virais, mas mantêm a sua capacidade de
infectar seus hospedeiros.
Atividades de aprendizagem
1. Cite o nome de um vírus que possua seu material genético composto de
DNA fita única, e outro de RNA fita simples.
2. Descreva a estrutura do capsídeo viral.
3. Descreva a diferença existente entre os vírus envelopados e os vírus nus.
Busque uma resposta mais detalhada do que a explicação que se encontra na apostila.
Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas
25
Hospedeiro:
é todo organismo que
abriga outro organismo
dentro ou sobre si. Se
imaginarmos o homem
como um hospedeiro,
podemos pensar que ele
pode abrigar parasitas
dentro de si, tais como
vermes, ou pode abrigar
agentes infecciosos
dentro de si, tais como
bactérias e vírus. Ou
ainda imaginarmos
este homem sendo
parasitado por um
carrapato (ectoparasita)
sobre a sua pele.
Parasita:
Organismo invasor
que se beneficia ao
utilizar recursos do
seu hospedeiro que
acarretam prejuízos
para este último.
Para fins didáticos,
chamamos de parasitas
apenas os seres
eucariotos.
Agente Infeccioso:
Organismo invasor
que acarreta prejuízos
para o seu hospedeiro
ao provocar, neste,
desarranjos fisiológicos.
Apesar de os agentes
infecciosos não serem
chamados de parasitas,
eles mantêm uma
relação de parasitismo
com seus hospedeiros.
Aqui, encaixam-se bem
os vírus e as bactérias.
e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes
AULA 1
Alfabetização Digital
Aula 3 - Raiva
Objetivos
•
•
•
•
•
•
•
•
Saber o risco em saúde oferecido pela raiva.
Conhecer o agente etiológico da raiva e seus reservatórios.
Conhecer os ciclos de transmissão da raiva.
Conhecer os principais sintomas da raiva.
Conhecer as características epidemiológicas da raiva.
Conhecer os grupos ocupacionais mais expostos.
Entender o que é vacina pré-exposição e vacina pós-exposição.
Saber as ações estabelecidas pela Vigilância Epidemiológica e
as medidas de controle da raiva.
3.1 Introdução
A raiva humana é uma encefalite aguda de etiologia viral transmitida aos seres humanos por mamíferos silvestres e domésticos. Tem grande importância epidemiológica, já que sua taxa de letalidade é próxima a
100%. Este é um dos fatores que torna a raiva uma doença de notificação
compulsória e um problema de saúde pública prioritário no Brasil.
3.2 Agente etiológico
Encefalite:
inflamação aguda no
cérebro.
Letalidade:
número de pacientes
com a doença
confirmada e que vêm
a óbito.
O vírus causador da raiva é denominado vírus rábico. Ele pertence
à ordem Mononegavirales, à família Rhabdoviridae e ao gênero Lyssavirus.
Não se assustem com a difícil nomenclatura; não é necessário decorar todos
esses nomes. Mas é importante saber que seu material genético é constituído por RNA, e que sua forma assemelha-se a de um projétil. Também é
importante atentarmos para o fato de que o vírus rábico possui dois importantes antígenos: uma glicoproteína de superfície e uma nucleoproteína, que
é grupo específico.
3.3 Hospedeiros e reservatórios
E quais animais podem abrigar o vírus rábico? Vocês já se fizeram
esta pergunta? Pois saibam que qualquer mamífero pode ser infectado por
esse vírus. E já que temos uma enorme gama de hospedeiros e de reservatórios, há uma divisão bem didática que separa esses animais em grupos.
O primeiro grupo é constituído por cães e gatos, e é responsável pelo ciclo
urbano. Os morcegos (Figura 3) estão relacionados ao ciclo aéreo. Os animais
Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas
27
Os primeiros relatos
sobre a raiva datam de
2300 a. C., no Egito. Sua
descrição foi feita por
Demócrito, no século V
a.C., e por Aristóteles,
no século IV a.C., na
Grécia antiga.
e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes
de produção, criados pelo homem na zona rural, tais como boi e cavalo, são
os responsáveis pelo ciclo rural. Saguis, cachorros do mato, raposas, macacos
e outros animais silvestres são responsáveis pelo chamado ciclo silvestre. No
Brasil, o ciclo urbano foi considerado o responsável pelo maior número de
casos de raiva humana até a última década. Atualmente, o principal ciclo encontrado no Brasil é o ciclo aéreo, no qual ocorre transmissão após o contato
com morcegos infectados.
Figura 3: Morcego.
Fonte: Disponível em: <http://phil.cdc.gov/phil/details.asp>. Acesso em 05/10/2011.
A Figura 4 traz uma síntese dos quatro ciclos existentes (urbano,
aéreo, rural e silvestre) e ilustra muito bem os reservatórios envolvidos em
cada um desses ciclos. Ao analisarmos essa figura, podemos perceber que há
transmissão de animal para animal e dos animais para os homens.
Figura 4: Ciclos de transmissão da raiva.
Fonte: Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância
Epidemiológica. Normas técnicas de profilaxia da raiva humana / Ministério da Saúde, Secretaria
de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância Epidemiológica. – Brasília: Ministério da
Saúde, 2011. 60 p. : il. – (Série A. Normas e Manuais Técnicos). Acesso em 01/09/2011.
e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes
28
Vigilância em Saúde
3.4 Modos de transmissão
Independente de quais desses animais ou ciclos estejam em questão, a transmissão ocorre sempre via contato direto animal–homem. O vírus
rábico encontra-se na saliva dos animais infectados e é transmitido ao homem através de arranhadura, mordedura de qualquer parte do corpo e por
lambedura de mucosas. Ao penetrar no organismo humano, o vírus rábico
infecta (invade) as células locais, onde se multiplica e se dissemina para
outros órgãos do corpo, inclusive para as glândulas salivares. Ao se instalar
nas glândulas salivares, ele é eliminado juntamente com a saliva da pessoa
ou do animal infectado, podendo ser transmitido a outras pessoas. Apesar
de, virtualmente, poder invadir qualquer tipo de célula, ele possui tropismo
pelo sistema nervoso (SN). Inicialmente, o vírus rábico migra para o sistema
nervoso periférico e, posteriormente, penetra no sistema nervoso central
(SNC). Apesar do tropismo pelo sistema nervoso, há dois relatos de casos de
transmissão da raiva via órgãos transplantados, ou seja, o vírus rábico estava
alojado em outros locais do corpo que não o SN. Um dos relatos ocorreu nos
Estados Unidos, em 2004, e o segundo ocorreu na Alemanha, em 2005. Em
ambos os casos, os doadores não apresentavam quaisquer sintomas da doença e, por isso, não houve suspeita ou investigação prévia. Normalmente,
é considerada remota a possibilidade de transmissão entre seres humanos, e
a transmissão via órgão transplantado foi uma novidade para a ciência. Nos
gatos e nos cães, o vírus rábico começa a ser transmitido, disseminado pela
saliva, aproximadamente cinco dias antes do aparecimento dos sinais clínicos
da doença, e permanece sendo transmitido durante todo o período em que
o animal se apresenta doente, o que, normalmente, não dura mais de uma
semana. Alguns animais silvestres, tais como morcegos, gambás e raposas,
são bastante suscetíveis ao vírus rábico, porém, alguns desses animais apresentam maior possibilidade de desenvolverem a doença do que outros. Veja
bem, nenhuma raposa infectada pelo vírus rábico sobrevive; em contrapartida, os morcegos são particularmente perigosos; já que são assintomáticos, sobrevivem por longos períodos, mesmo estando contaminados pelo
vírus. O grande perigo reside aí; os morcegos, mesmo sendo assintomáticos,
eliminam o vírus rábico em sua urina, fezes e saliva. A grande sorte é que
nem toda pessoa ou animal que foi mordido por um animal infectado, necessariamente, contrairá a raiva. Para que a raiva seja de fato transmitida, é
necessário que o vírus rábico esteja sendo eliminado na saliva no momento
da mordida. Por isso, há uma possibilidade, mesmo que remota, de um indivíduo ser mordido por um animal infectado e não contrair o vírus rábico.
Apesar disso, contar com a sorte em caso de acidente com animal suspeito
representa risco de morte!
Quando utilizamos
o termo tropismo,
queremos dizer que
o micro-organismo
é “atraído” para um
determinado local ou
tipo de célula específico
do corpo.
Sistema nervoso
periférico:
é constituído pelos
nervos e gânglios
nervosos espalhados
pelo corpo. Enquanto
o sistema nervoso
central é constituído
pela medula espinhal e
pelo cérebro, também
chamado de encéfalo.
Assintomáico:
Animal ou indivíduo
contaminado por um
agente infeccioso que
não apresenta os sinais
clínicos da doença.
3.5 Período de incubação
Estudante, você sabe o que é o período de incubação de um agente
infeccioso? Pois bem, este termo refere-se ao período que existe entre o
Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas
29
e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes
Carga viral:
é a quantidade de
partículas virais que
foram transmitidas no
momento do acidente
(mordedura, lambedura
etc.).
momento da transmissão e o aparecimento dos primeiros sinais clínicos da
doença. Trata-se de um período assintomático, no qual é bem difícil dizer
que aquele indivíduo que teve contato com o agente infeccioso está ou não
contaminado.
O período de incubação do vírus rábico é bastante variável, por
isso, há possibilidade de um indivíduo se encontrar infectado e não possuir
nenhum sintoma da doença. Em seres humanos, o período de incubação
pode durar desde dias a alguns anos (lembra-se do relato dos dois casos de
transmissão via órgãos transplantados?). Já no cão, o período de incubação
pode levar desde alguns dias a alguns meses. Segundo dados do Ministério da
Saúde, alguns fatores podem interferir no período de incubação, tais como:
distância do local da mordedura ou da lambedura do cérebro ou troncos
nervosos do indivíduo; localização, extensão, quantidade e profundidade dos
ferimentos causados pelo animal infectado; e a carga viral transmitida.
3.6 Quadro clínico
3.6.1 Em seres humanos
Neste item, faremos uma breve exposição dos principais e mais comuns sintomas apresentados pelos pacientes. Caso haja interesse em saber
mais, podem e devem buscar mais informações no manual do Ministério da
Saúde sobre a raiva.
Os sintomas nos seres humanos iniciam-se com dor de cabeça, náuseas, febre e paralisia parcial, próxima ao local da mordida. Esses sintomas
persistem entre dois a dez dias, até que os sintomas da fase aguda da doença começam a surgir: generalização da paralisia, que pode ser notada pela
alteração no modo de andar do paciente; há também hidrofobia ou medo de
água, já que os pacientes sofrem espasmos dolorosos durante a deglutição.
Outros sintomas são: o medo do ar, já que a pele fica hipersensível e dolorida
sob o menor contato com o vento; confusão mental; alucinações e hiperatividade. Posteriormente, o paciente entra em coma e, por fim, morre.
3.6.2 Em cães
Inicialmente, os cães passam a agir como se tivessem algo preso
na garganta. À medida que a doença progride, o cão pode se tornar cambaleante ou paralisado (estes são sinais da raiva silenciosa, Figura 5), ou
então agitado e agressivo, podendo passar a morder tudo o que lhes incomodar (estes são sinais da raiva furiosa, Figura 6). Além disso, esses animais
também podem apresentar salivação excessiva e dificuldades para engolir.
Assim como nos seres humanos, os cães, normalmente, entram em coma e
morrem. Alguém já viu uma imagem que retrata um cão portador de raiva?
Normalmente, eles são retratados rosnando, com intensa salivação, quadro
bem típico da raiva furiosa.
e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes
30
Vigilância em Saúde
Figura 5: Cães portadores de raiva silenciosa.
Fonte: Disponível em: <http://phil.cdc.gov/phil/details.asp>. Acesso em 05/10/2011.
Figura 6: Cão portador de raiva furiosa.
Fonte: Disponível em: <http://portal.saude.gov.br/portal/saude/profissional/area.cfm?id_
area=1567>. Acesso em 30/09/2011.
Levando em consideração o fato de os cães poderem estar disseminando o vírus rábico em sua saliva antes mesmo das primeiras manifestações
clínicas ocorrerem, qualquer alteração no comportamento de um animal
pode ser um indício de que ele esteja contaminado. Um animal amigável,
que passe a apresentar comportamento alterado, tornando-se agressivo sem
ser provocado, pode estar raivoso. Este é um importante sinal de alerta!
3.7 Diagnóstico
Vamos falar um pouco do diagnóstico? É bastante interessante termos a noção de como se realiza o diagnóstico de um paciente suspeito de
estar infectado pelo vírus rábico.
O diagnóstico de raiva humana deve sempre ser considerado quando o paciente apresentar encefalopatia de causa desconhecida. A pesquisa laboratorial, através de exames, é muito importante para confirmar o
Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas
31
e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes
diagnóstico. Hoje, há disponibilidade de diferentes tipos de exames, tanto
exames que buscam anticorpos contra o vírus da raiva como exames que
pesquisam o próprio material genético do vírus. Mesmo os exames dando
resultado negativo, é prudente não descartar o diagnóstico de raiva em caso
de forte suspeita.
3.8 Tratamento
O tratamento da raiva é raramente eficaz, portanto, as principais
medidas a serem adotadas são as medidas profiláticas. Em 2004, a despeito de tudo que era até então conhecido, essa realidade começou a mudar,
após o primeiro tratamento bem sucedido da história. O relato foi feito nos
Estados Unidos, com uma paciente que foi submetida a tratamento com antivirais e sobreviveu. O protocolo de tratamento aplicado nessa paciente
recebeu o nome de Protocolo de Milwaukee. Em 2008, mais dois pacientes
foram submetidos a tratamento semelhante, com sucesso. No Brasil, o protocolo de tratamento foi adaptado e recebeu o nome de Protocolo de Recife.
O Protocolo de Recife já salvou uma vida em nosso país, em 2009. Mesmo
assim, esses são casos isolados de sucesso no tratamento; normalmente, a
evolução dos casos de raiva leva o paciente à morte.
3.9 Características epidemiológicas
O vírus da raiva possui distribuição cosmopolita, ou seja, ele é encontrado em todos os continentes do mundo. E já que pode infectar virtualmente todos os mamíferos, possui reservatório ilimitado. Na Ásia, África,
México, América Central e América do Sul, a raiva é endêmica em cães. Já
em alguns países desenvolvidos, tais como Canadá, Estados Unidos e nos
países da Europa Ocidental, a raiva canina encontra-se controlada. O grande
problema visto nestes últimos países é a raiva silvestre. Segundo a OMS, 60
países estão livres da raiva. Dentre eles, podemos citar a Inglaterra, a Austrália e a Espanha.
No Brasil, o número de casos de raiva humana vem caindo progressivamente. Entre os anos de 1990 a 2009, foram confirmados 574 casos de raiva em seres humanos. Em 1990, foram registrados 50 casos de
raiva humana transmitida pelo cão. O número de casos caiu progressivamente até que, em 2008, atingiu a tão sonhada marca de zero caso.
Porém, em 2009, dois casos forma registrados. Em 2010, o Ministério da
Saúde confirmou um caso de raiva humana transmitida por morcego e um
caso de transmissão via cão. Em 2011, até a presente data, nenhum caso
foi notificado. Veja, a seguir, a Figura 7, que traz o número de casos que
ocorreram no Brasil entre os anos de 1990 e 2009, correlacionados com o
ciclo de transmissão envolvido.
e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes
32
Vigilância em Saúde
Figura 7: Ciclos epidemiológicos de transmissão da raiva no Brasil.
Fonte: Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância
Epidemiológica. Normas técnicas de profilaxia da raiva humana / Ministério da Saúde, Secretaria
de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância Epidemiológica. – Brasília: Ministério da
Saúde, 2011. 60 p. : il. – (Série A. Normas e Manuais Técnicos). Acesso em 01/09/2011.
3.10 Vigilância Epidemiológica
A Vigilância Epidemiológica é realizada a fim de evitar que o ciclo
da raiva urbana aconteça. Uma forma importante e eficaz é a vacinação de
todos os animais domésticos, como cães e gatos; quanto maior a cobertura
vacinal, menores os riscos de transmissão! Além disso, para indivíduos com
histórico de exposição ao vírus da raiva, indica-se o tratamento profilático
antirrábico. A raiva é doença de notificação compulsória, portanto, os casos
humanos suspeitos devem ser imediatamente notificados, por telefone, nos
níveis regional, central e federal de saúde. Outra medida de controle estimulada pelo Ministério da Saúde é a notificação da presença de morcegos nas
cidades, que deve ser feita ao departamento de zoonoses local. O Ministério
da Saúde define como caso suspeito todo doente que apresenta quadro clínico sugestivo de encefalite rábica, com antecedentes ou não de exposição ao
vírus rábico. E, caso confirmado, todo aquele comprovado laboratorialmente
e todo indivíduo com quadro clínico compatível com encefalite rábica associada a antecedentes de agressão ou contato com animal suspeito, evoluindo
para óbito.
3.11 Medidas de prevenção e controle
Como se dá a prevenção da infecção pelo vírus rábico? A vacina é
segura? Como é realizado o combate aos reservatórios naturais? De fato, muitas perguntas podem e devem ser feitas acerca da prevenção. Felizmente, há
vacinas eficazes e seguras contra o vírus rábico. A profilaxia da raiva divide-se em duas situações bastante distintas: profilaxia pré-exposição e profila-
Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas
33
e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes
Agora que vocês já
sabem um pouco
sobre a raiva, devem
entrar no endereço
eletrônico que se
segue e começarem
a se familiarizar com
o material didático
produzido pelo
Ministério da Saúde.
Disponível em: <http://
portal.saude.gov.br/
portal/arquivos/pdf/
normas_tec_profilaxia_
da_raiva_hum.pdf>.
xia pós-exposição. Quando falamos em pré-exposição, estamos nos referindo
àqueles indivíduos que buscam o serviço de saúde para serem vacinados por
haver risco eminente de acidentes com o vírus rábico ou com animais infectados com o vírus, mas que, de fato, ainda não foram expostos ou vírus. Ou
seja, ainda não houve nenhum acidente com esses indivíduos. Já a profilaxia
pós-exposição diz respeito àquelas pessoas que tiveram um acidente recente
com o vírus rábico ou com animais suspeitos ou não de estarem infectados e
que buscaram o serviço de saúde para se vacinarem e tomarem o soro antirrábico a fim de prevenirem o surgimento dos sintomas da raiva.
As pessoas que devem buscar o serviço de saúde para se vacinarem
antes que ocorra qualquer acidente, pré-exposição, são aquelas que trabalham em laboratórios de diagnóstico rábico, em indústrias que produzem
vacinas antirrábicas, tratadores de animais, médicos veterinários, laçadores
ou qualquer outra atividade que exponha o indivíduo à companhia de animais silvestres ou domésticos com frequência, incluindo, aqui, pessoas que
realizam o ecoturismo e outros.
Já nos casos da vacinação pós-exposição, as pessoas devem buscar
os serviços de saúde logo após ter ocorrido um acidente envolvendo animais
domésticos ou silvestres suspeitos de estarem contaminados com o vírus rábico ou não. Aqui, vale mesmo aquela velha máxima sobre saúde: “é melhor
prevenir do que remediar”. Tanto porque, após o aparecimento dos sinais
clínicos da raiva, “não há remédio que dê jeito”, ou não havia!
No que diz respeito ao controle, uma das ações mais efetivas é o
controle dos animais que transmitem raiva. A população de cães de rua deve
ser controlada pelo departamento de zoonoses local. Segundo o Ministério
da Saúde, a incidência da raiva em cães vem diminuindo ano após ano.
Ah, e não vamos nos esquecer dos morcegos! Algumas medidas simples podem diminuir o aparecimento de morcegos nos centros urbanos. Por
exemplo: utilizar telas nas janelas, iluminar o lado externo das casas, vedar
buracos nas paredes, fechar os cômodos pouco utilizados (porões, sótãos
etc.). Todas essas medidas ajudam e devem ser aplicadas!
A raiva também é fortemente controlada nos animais de produção,
sendo utilizada a vacinação em grande escala nos bovinos. A maior incidência de casos acontece nesses animais; por este motivo, eles são utilizados
como sentinelas para alertar os órgãos de saúde quanto à circulação do vírus
rábico. Enfim, o controle dos animais silvestres que transitam pelas cidades,
a vacinação dos animais de estimação, o controle dos cães de rua e a vacinação de todas as pessoas que apresentam potencial risco de contaminação
têm sido de fundamental importância no controle da raiva humana. Com tais
medidas, e mantendo-se sempre alerta, o governo e a população brasileira
têm obtido ótimos resultados.
e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes
34
Vigilância em Saúde
Resumo
Nesta aula, você aprendeu que a raiva é uma doença causada pelo
vírus rábico (possui tropismo pelo Sistema Nervoso Central - SNC), transmitida aos seres humanos por uma grande variedade de mamíferos silvestres e
domésticos. A raiva possui grande importância na saúde pública, já que sua
taxa de letalidade é próxima a 100%. Trata-se de uma doença presente em
todos os continentes, cujo ciclo de transmissão relaciona-se com os seus reservatórios (cães e gatos são responsáveis pelo ciclo urbano;, morcegos estão
relacionados ao ciclo aéreo; animais de produção, tais como boi e cavalo, são
os responsáveis pelo ciclo rural; saguis, cachorros do mato, raposas, macacos
e outros animais silvestres são responsáveis pelo chamado ciclo silvestre).
Tratamos também dos grupos ocupacionais mais expostos ao vírus rábico e
da necessidade das pessoas mais expostas manterem suas vacinas em dia.
Dentre os assuntos tratados, um dos mais relevantes foi a existência de um
esquema de vacinação pós-exposição, que deve ser realizado por todas as
pessoas que sofrerem acidentes com animais silvestres ou domésticos que
estiverem apresentando comportamento suspeito. Já que o tratamento para
a raiva é bastante recente, ainda não conhecemos bem a sua taxa de cura;
assim, o melhor a se fazer, sempre, é se prevenir!
Atividades de aprendizagem
As duas atividades que se seguem foram aí colocadas para lhes mostrar a
importância de termos curiosidade e de buscarmos informações sozinhos.
Imagino que tenham sentido falta dos conceitos de vacina e de soro ao longo
do texto explicativo ou no glossário. Pois é, se não sentiram, eu senti. Por
isto, iremos trabalhar agora os conceitos propostos nas questões 1 e 2.
1. Dê a definição de soro.
2. Dê a definição de vacina.
3. Na aula sobre a raiva, você aprendeu vários conceitos. As alternativas a
seguir trazem alguns desses conceitos de forma correta, EXCETO:
a. A raiva humana é uma encefalite aguda de etiologia viral, transmitida aos seres humanos por mamíferos silvestres e domésticos.
b. A raiva tem grande importância epidemiológica, já que sua taxa de
letalidade é próxima a 20%. Este é um dos fatores que torna a raiva
uma doença de notificação compulsória e um problema de saúde
pública prioritário no Brasil.
c. O vírus causador da raiva é denominado vírus rábico. Ele pertence à ordem Mononegavirales, à família Rhabdoviridae e ao gênero Lyssavirus.
d. Qualquer mamífero pode ser infectado pelo vírus rábico.
Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas
35
e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes
AULA 1
Alfabetização Digital
Aula 4 - Hantavirose
Objetivos
• Saber o risco em saúde oferecido pela hantavirose.
• Conhecer o agente etiológico da hantavirose e seus reservatórios.
• Conhecer o ciclo de transmissão da hantavirose e suas peculiaridades.
• Conhecer os principais sintomas da hantavirose.
• Conhecer as características epidemiológicas da hantavirose.
• Conhecer os grupos ocupacionais mais expostos.
• Conhecer as ações estabelecidas pela Vigilância Epidemiológica
e as medidas de controle.
4.1 Introdução
Nesta aula, iremos falar de uma zoonose que assustou o mundo
na década de noventa: a hantavirose, também conhecida como síndrome
cardiopulmonar por hantavírus (SCPH). Trata se de uma zoonose emergente
de etiologia viral que foi descoberta há poucos anos, em 1993, nos Estados
Unidos. No Brasil, tornou se prioridade na pesquisa em 2004, ano no qual
foram registrados 163 casos da doença no território nacional. De lá para cá,
o governo brasileiro vem incentivando as pesquisas na área e divulgando a
doença para a comunidade médica, com o intuito de possibilitar o diagnóstico. Além da comunidade médica, todos os profissionais de saúde vêm sendo
conscientizados da importância de se conhecer a hantavirose. Logo que os
primeiros casos foram diagnosticados no Brasil, a taxa de letalidade registrada era próxima a 50%. Atualmente, com a divulgação da doença, essa taxa
caiu para 35%. Ainda assim, o governo brasileiro considera essa taxa alta e
trabalha com o intuito de reduzi-la.
4.2 Agente etiológico
A hantavirose é uma doença causada por vírus do gênero Hantavirus, da família Bunyaviridae. Atualmente, está descrita uma linhagem patogênica com 16 variantes já associadas à SCPH, e uma linhagem não patogênica que, até então, não foi encontrada em seres humanos doentes. Tratam-se
de vírus envelopados, suscetíveis à ação de desinfetantes comuns utilizados
em casa. Não se sabe ao certo quanto tempo esses vírus conseguem sobreviver no ambiente; acredita-se que, sob a luz solar, não sobrevivem por mais
de seis horas, mas podem ter o seu tempo de vida fora do hospedeiro prolongado em locais fechados para até 3 dias. A Figura 8 traz uma micrografia
eletrônica de partículas do hantavirus.
Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas
37
e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes
Figura 8: Micrografia eletrônica do hantavirus.
Fonte: Portal da Saúde, Ministério da Saúde. Acesso em 01/09/2011.
4.3 Hospedeiros e reservatórios
A transmissão da hantavirose para os seres humanos está intimamente relacionada aos hábitos do seu maior reservatório, os ratos silvestres.
No Brasil, sete diferentes espécies de ratos silvestres já foram identificadas
como reservatórios: Necromys (antigo Bolomys) lasiurus (Figura 9), encontrado principalmente no Cerrado e na Caatinga; Oligoryzomys nigripes, encontrado na Mata Atlântica; Oligoryzomys aff. Moojeni e Calomys aff. callosus,
encontrados em uma área de transição entre o Cerrado e a Floresta Amazônica; Oligoryzomys fornesi e Holochilus sciurus, encontrados em área de
transição entre a Floresta Amazônica e os Alagados, no Maranhão. Por fim,
Oligoryzomys microtis, encontrado no rio Mamoré. Estudante, é importante
você saber que algumas dessas espécies de roedores com nomes tão complicados possuem outros nomes pelos quais são popularmente conhecidos. Por
exemplo, a primeira espécie citada é conhecida popularmente como rato do
capim ou rato da cauda peluda; de uma forma geral, todas essas espécies
são denominadas ratos silvestres
Figura 9: Bolomys SP.
Fonte: Brasil. Fundação Nacional de Saúde. Manual de controle de roedores. - Brasília: Ministério
da Saúde, Fundação Nacional de Saúde, 2002. 132p.: il. 1. Roedores - prevenção e controle. 2.
Vigilância epidemiológica. 3 zoonose. Acesso em 16/09/2011.
e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes
38
Vigilância em Saúde
4.4 Modos de transmissão
Os seres humanos contraem a hantavirose, na maioria dos casos,
inspirando partículas virais levadas pelo vento. E de onde vêm essas partículas virais? Pois bem, os ratos que se encontram contaminados pelo hantavirus
disseminam essas partículas virais no ambiente ao depositarem sua urina,
suas fezes e sua saliva sobre o chão ou sobre os objetos. Ao entrar em contato com o ambiente, os vírus presentes nas excretas podem ser levados pelo
vento e inalados pelo homem. O risco de transmissão aumenta muito caso a
fonte de contaminação esteja em um ambiente fechado que é visitado por
pessoas, tal como um porão. Boa parte das pessoas que se contaminam, adquire a infecção ao passar algum período de tempo, mesmo que curto, como
alguns minutos, em tais locais.
O número de casos de hantavirose costuma aumentar muito durante as secas. Isto ocorre porque, nesses períodos, os roedores sofrem com a
falta de alimentos em seu habitat natural. Consequentemente, eles migram,
em busca de alimentos, para as moradias humanas, onde se instalam em
ambientes pouco utilizados da casa. Ao se instalarem nesses locais, os roedores começam a liberar suas excretas no ambiente e, consequentemente,
a liberarem o hantavírus, que passa a ser transmitido ao homem com mais
frequência nesses períodos.
Além da inalação, a hantavirose também pode ser contraída via
pele e mucosas, no momento em que a pessoa entra em contato com saliva
ou excretas de roedores contaminadas. A mordedura de roedores também
se constitui em uma via de transmissão. É importante lembrarmos que a
hantavirose não é uma doença letal para os roedores. Eles podem viver por
longos períodos de tempo disseminando o vírus patogênico em suas excretas
e saliva. Por isto, os ratos são reservatórios tão perigosos e potentes disseminadores.
4.5 Período de incubação
Após o contato com o hantavírus, há um período de incubação viral bastante variável, de 3 a 60 dias. Mas, na maioria dos casos, do contato
com o vírus até o aparecimento dos sintomas, transcorrem de duas a três
semanas.
4.6 Quadro clínico
Os sintomas da hantavirose em seres humanos vão desde sintomas inespecíficos, como dores de cabeça, febre, dor no corpo, até os sintomas característicos da doença, que são: tosse seca, taquicardia acompanhada de falta de ar e outros sintomas que caracterizam a síndrome
cardiopulmonar. A hantavirose mata cerca de quatro pacientes em cada
10 pacientes infectados.
Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas
39
e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes
4.7 Diagnóstico
Em caso de suspeita clínica de hantavirose, o diagnóstico pode ser
confirmado tanto com testes sorológicos, que pesquisam anticorpos específicos para o hantavírus, como por testes diretos, que pesquisam o material
genético do vírus em amostras colhidas nos pacientes suspeitos.
4.8 Tratamento
Não há um tratamento específico para a doença, apenas tratamento de suporte, que deve ser feito em Unidades de Terapia Intensiva.
4.9 Características epidemiológicas
A hantavirose ocorre desde o Canadá até o sul da Argentina. No
Brasil, as regiões que mais registraram casos são o Centro-Oeste, o Sul e
o Sudeste. O primeiro caso de hantavirose registrado no Brasil ocorreu no
estado de São Paulo, em 1993, mesmo ano em que a doença foi descoberta.
Entre os anos de 1993 e 2008, foram registrados 1.119 casos em todo o território nacional!
Em algumas regiões brasileiras, é possível notar o caráter sazonal
da hantavirose. Normalmente, o número de casos registrados aumenta com
chegada da seca. Isto ocorre porque o principal reservatório dos hantavirus
são os ratos silvestres que, em períodos de seca, buscam alimentos nas propriedades rurais. Fato que também justifica a maior incidência da doença
entre os moradores da zona rural (50% dos casos) ou pessoas que trabalham
com pecuária e agricultura (65% dos casos), justamente as pessoas que têm
maior contato com os ratos silvestres. Cabe dizer aqui que aproximadamente
75% das pessoas acometidas são do sexo masculino, com idade entre 20 e 39
anos.
4.10 Vigilância Epidemiológica
Devido à sua importância epidemiológica, a hantavirose é uma doença de notificação compulsória e de investigação obrigatória, tendo por
finalidade o tratamento adequado e a tomada de medidas cabíveis para o seu
controle. Para tal, a Vigilância trabalha no sentido de:
• detectar, o mais cedo possível, os casos ou os surtos de hantovirose;
• conhecer a história da hantavirose no Brasil;
• identificar fatores de risco associados à doença;
• estudar medidas que previnam e controlem a hantavirose;
• analisar os dados coletados e conhecer a tendência da doença.
e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes
40
Vigilância em Saúde
4.11 Medidas de controle
As principais medidas de controle e prevenção da hantavirose são
baseadas no controle do seu reservatório. No entanto, há medidas diferenciadas para cada local onde existe a fonte de infecção. Quando o local contaminado está na zona rural, as medidas adotadas não englobam a utilização
de controle químico, veneno. Apenas medidas de antirratização, que retiram
dos roedores o abrigo, a água e o alimento nas casas rurais e em seus arredores, em um raio de trinta metros. Já nos centros urbanos, o controle inclui
tanto as medidas de antirratização como, quanto necessárias, as medidas
de desratização, que incluem o uso de venenos. Aqui, o saneamento básico,
tanto das residências quanto dos locais de trabalho, é um forte aliado no
combate à hantavirose.
Caso seja identificada uma fonte de infecção, um local onde provavelmente uma ou mais pessoas contraíram a hantavirose, é necessária a
desinfecção do local com desinfetantes. O procedimento de desinfecção só
deve ser realizado por pessoas treinadas para esta tarefa, já que representa
um risco à saúde de todos que se expuserem àquele ambiente. Dentre os
cuidados que devem ser tomados ao se desinfetar um local suspeito de conter o vírus, estão: molhar o piso do local antes de entrar nele, para evitar
que partículas virais se espalhem com a poeira e infectem mais pessoas, e
utilizar máscaras apropriadas para entrar no local. Nas propriedades rurais,
o Ministério da Saúde também recomenda que as plantações devam estar a
uma distância mínima de trinta metros da casa, que os grãos sejam armazenados em locais bem vedados, que os terreiros estejam constantemente
limpos e sem entulhos. E, para os amantes do ecoturismo, as recomendações
são: não acampar em locais onde existam fezes de ratos, não andar descalço,
evitar deitar diretamente sobre o chão e manter os alimentos levados em
vasilhames bem vedados. Enfim, todas as medidas que impeçam o contato
dos seres humanos com excretas de ratos silvestres, que estiverem de acordo
com a legislação, devem ser tomadas para se evitar a hantavirose.
Leia mais sobre
hantavirose no seguinte
endereço eletrônico:
http://portal.saude.gov.
br/portal/arquivos/pdf/
gve_7ed_web_atual_
hantaviroses.pdf
Resumo
Um dos pontos-chave tratados nesta aula foi o ciclo de transmissão
da hantavirose, doença cauda pelo hantavírus que possui taxa de letalidade
próxima a 35%. Uma das principais ações do governo brasileiro para combater a hantavirose tem sido a divulgação da doença e de seu ciclo de transmissão. A divulgação da hantavirose auxilia na execução do diagnóstico e,
consequentemente, possibilita a redução na taxa de letalidade da mesma. Já
o conhecimento do ciclo de transmissão da hantavirose e sua íntima relação
com os roedores silvestres auxilia-nos na prevenção e no controle. É bom
salientar que a hantavirose não possui vacina ou tratamento específico; por
isto, a informação é a nossa principal arma nesta luta.
Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas
41
e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes
Atividades de aprendizagem
1. Qual a taxa de letalidade da hantavirose registrada atualmente no Brasil?
2. Qual a principal forma de combater roedores?
3. Encontre, na internet, imagens que retratem a principal forma de transmissão da hantavirose e arquive-as em seu arquivo pessoal.
4. Cite três medidas de controle da hantavirose.
e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes
42
Vigilância em Saúde
AULA 1
Alfabetização Digital
Aula 5 – Zoonoses bacterianas
Objetivos
• Relembrar conceitos acerca das bactérias e conhecer a estrutura bacteriana.
5.1 Introdução
Para iniciarmos nossos estudos acerca das zoonoses bacterianas,
iremos, primeiro, compreender a estrutura das bactérias.
As bactérias são organismos procariotos; possuem estrutura e organização celular definida. Estão entre os menores organismos da terra, medindo entre 0,5 a 2,0 µm de diâmetro. Podem apresentar formas variadas. Há
bactérias em forma de coco (redonda), bacilo, vibrião (parecendo uma vírgula), espirilo, cocobacilo e espiroqueta (tal qual um macarrão tipo parafuso).
Além de serem encontradas nas formas já citadas, as bactérias também
são encontradas em arranjos, unidas umas às outras. Os cocos podem se organizar
em cadeias semelhantes a cachos de uva; neste caso, são chamados de estafilococos (Staphilococcus). Podem também se agrupar em linha reta e serem denominados
estreptococos (Streptococcus) (Figura 10). Em dupla, diplococos (Figura 11). Outras
bactérias não se agrupam e são visualizadas em células separadas ao microscópio.
Quem nunca teve a oportunidade de visualizar bactérias coradas pelo método de
Gram em um microscópio pode explorar bastante as figuras disponíveis em livros de
microbiologia, na internet ou as disponibilizadas aqui mesmo na apostila. Ao explorar as figuras, vocês irão perceber que, muitas vezes, o nome de algumas espécies
bacterianas faz referência à sua forma, ao seu arranjo ou ao lugar onde primeiro
essa bactéria foi isolada. Vamos citar um exemplo: Staphilococcus aureus (Figura
12). Staphylo significa cacho e refere-se ao seu arranjo celular em forma de cacho
de uva; Kokkus significa grão e aureus significa áureo.
Procariotos:
organismos celulares
que não possuem
carioteca (membrana
nuclear), não possuem
uma membrana
separando o material
genético celular do
citoplasma celular.
Figura 10: Micrografia de estreptococos Gram-positivo
Fonte: Disponível em: <http://phil.cdc.gov/phil/details.asp>. Acessado em: 20.09.11
Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas
43
e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes
Figura 11: Micrografia de diplococcus Gram-negativo.
Fonte: Disponível em: <http://phil.cdc.gov/phil/details.asp>. Acessado em: 20.09.11.
Figura 12: Micrografia eletrônica de Estafilococos aureus.
Fonte: Disponível em: <http://phil.cdc.gov/phil/details.asp>. Acessado em: 20.09.11.
5.2 Estrutura bacteriana
Micoplasma:
um grupo de bactérias
que não possui parede
celular sólida e, por
isso, não possui uma
forma definida.
Leia mais sobre a
coloração Gram no
seguinte endereço
eletrônico: <http://
pt.wikipedia.org/wiki/
Colora%C3%A7%C3%A3o.
As células bacterianas possuem parede celular, uma estrutura rígida que lhes confere forma. Os micoplasmas são a única exceção.
A parede celular possui especial importância, já que ela é a estrutura que se diferencia nos dois grandes grupos de bactérias. Ficou complicado? Vou explicar. As bactérias são separadas em dois grandes grupos: o
grupo das Gram-negativas e o grupo das Gram-positivas. As bactérias Gram-negativas possuem parede celular constituída de peptidoglicano, e possuem
uma membrana externa revestindo a parede, constituída de proteínas ligadas aos lipídeos (lipoproteínas) e de açucares ligados aos lipídeos (lipopolissacarídeo). Quando coradas pelo método de Gram, adquirem a coloração
vermelha. Já as bactérias Gram-positivas possuem uma parede constituída
de peptidoglicano e ácidos teicoicos, bem mais espessa do que as bactérias Gram-negativas. As Gram-positivas, quando submetidas à coloração de
Gram, coram-se de roxo.
Além da parede celular, as bactérias possuem a membrana plasmática, responsável por estabelecer uma fronteira entre o interior das células e
o ambiente onde elas estão inseridas. Sua constituição assemelha-se muito à
e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes
44
Vigilância em Saúde
constituição das membranas celulares das células eucariotas, e é composta,
principalmente, por fosfolipídios e proteínas, formando um mosaico fluido.
O citoplasma celular é o local onde ocorrem as reações químicas das células
bacterianas. Ele é constituído por quatro partes de água e uma última parte
de substâncias dissolvidas ou suspensas nessa água. Essas substâncias são
proteínas (incluindo enzimas), carboidratos, lipídios e diversos íons orgânicos. Além disso, são encontrados, no citoplasma, os ribossomos, local onde
ocorrem as sínteses proteicas. A região nuclear é o local no qual o material
genético da célula fica concentrado. Lembrando que, nas bactérias, essa região não se encontra delimitada por membrana (não tem carioteca). Os grânulos são vesículas delimitadas por membranas que servem de depósito para
a célula guardar, de forma bastante concentrada, diferentes substâncias.
Um bom exemplo são os grânulos de glicogênio, utilizados para a obtenção
de energia. Algumas bactérias possuem a capacidade de formar endósporos,
estrutura que se forma no interior da bactéria sob condições ambientais
adversas. Os endósporos são bastante diferentes da forma vegetativa das
bactérias descritas aqui. Um endósporo é capaz de sobreviver no ambiente
até por cerca de 10.000 anos, com o metabolismo próximo a zero! Por isto,
os endósporos são as chamadas formas de resistência das bactérias. Mas,
preste bastante atenção: nem todas as bactérias são capazes de produzir
endósporos. Algumas bactérias somente possuem a forma vegetativa, que é
bem sensível a condições ambientais adversas.
Neste momento, você deve estar se perguntando se as bactérias
são organismos intra ou extracelulares, certo? Pois então, existem bactérias
extracelulares e bactérias intracelulares. De fato, depende da espécie; sempre que formos estudar uma espécie, devemos atentar para este importante
detalhe.
Eu poderia ficar por páginas e páginas falando-lhes sobre a estrutura e sobre as funções bacterianas. Infelizmente, não devo me prolongar
muito neste tema. Nosso objetivo aqui é estudarmos as zoonoses. Falar um
pouco sobre a estrutura das bactérias é necessário para ajudar-lhes a compreender as zoonoses bacterianas. Por falar nisto, vamos começar!
Resumo
Nesta aula, vocês relembraram que as bactérias possuem características bem distintas das características virais, já que, apesar de serem procariotas, possuem organelas que lhes permitem sobreviver no ambiente sem,
necessariamente, parasitarem outros organismos. No entanto, as bactérias
que causam doenças são parasitas intra ou extracelulares, que possuem formas e arranjos variados. Vocês relembram também que, de acordo com a sua
estrutura externa, as bactérias podem ser classificadas como Gram-positivas
ou como Gram-negativas.
Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas
45
e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes
Atividades de aprendizagem
1. As bactérias são organismos eucariotos ou procariotos?
2. O que é a carioteca?
3. O que é um micro-organismo intracelular facultativo?
e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes
46
Vigilância em Saúde
AULA 1
Alfabetização Digital
Aula 6 - Brucelose
Objetivos
•
•
•
•
•
Conhecer o risco em saúde oferecido pela brucelose.
Conhecer o agente etiológico e seus principais reservatórios.
Entender o ciclo de transmissão da brucelose.
Conhecer os principais grupos ocupacionais mais expostos.
Conhecer as ações da Vigilância Epidemiológica e as medidas
de controle.
6.1 Introdução
A brucelose é uma doença infecto-contagiosa, uma antropozoonose, provocada por bactérias do gênero Brucella. Também é conhecida como
febre ondulante ou febre de Malta. Não é obrigatória a notificação de casos
isolados. Possui distribuição universal; é responsável por prejuízos em todo
o mundo, além de ser um problema de saúde pública. O primeiro caso de
brucelose humana descrita no Brasil data de 1913. Porém, a incidência de
casos em seres humanos é pouco conhecida. A OMS estima que, a cada ano,
500 mil pessoas sejam contaminadas por alguma espécie de Brucella em
todo o mundo, sendo que a maioria das pessoas infectadas está ligada à
bovinocultura. No dia 10 de janeiro de 2001, o Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose (PNCEBT) foi publicado pelo
Ministério da Agricultura, com o objetivo de controlar a brucelose e a tuberculose no Brasil, e com o intuito de tornar possível a aplicação de medidas de
erradicação no ano de 2008. A principal medida prevista pelo programa foi
a vacinação de todo o rebanho nacional. Quando o programa foi publicado,
esperava-se que, até 2010, 80% das fêmeas (bovinos) nascidas no território
nacional fossem vacinadas. Além dessa medida, o programa previa diversas
outras medidas de controle. (BRASIL, 2006).
Macrófagos:
são células de defesa do
sistema imune.
6.2 Agente etiológico
O gênero Brucella possui várias espécies, sendo que todas elas são
pequenos bacilos Gram-negativos. Cada uma dessas espécies possui seu(s)
hospedeiro(s) natural(is). Apesar de terem seus hospedeiros naturais ou preferenciais, cada uma das espécies ainda pode infectar uma série de outras
espécies, incluindo os seres humanos. Para os seres humanos, há quatro
espécies de interesse: B. melitensis, B. abortus, B.suis e B. canis. A Brucella
é um parasita intracelular facultativo, com capacidade de sobreviver e de se
multiplicar dentro de macrófagos.
Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas
47
e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes
6.3 Hospedeiros e reservatórios
Os principais reservatórios de Brucella são os dados a seguir.
• Brucella melitensis: cabras, ovelhas e camelos.
• Brucella abortus: bovino.
• Brucella suis: suínos.
• Brucella canis: cães.
Reservatórios:
são chamados
reservatórios os locais,
animais, seres humanos
ou águas que estejam
contaminadas por
micro-organismos;
e, nos quais, esses
micro-organismos
consigam sobreviver
e se multiplicar. Os
reservatórios são fontes
constantes de infecção
e disseminação de
patógenos.
A pasteurização é uma
técnica desenvolvida
por Louis Pasteur, em
1864, com a finalidade
de reduzir ao máximo
a carga microbiana do
leite. A técnica consiste
em aquecer o leite
a uma determinada
temperatura, por um
determinado tempo.
Há algumas variações
nas técnicas de
pasteurização. Leia mais
a respeito!
6.4 Modos de transmissão
A transmissão da Brucella ocorre tanto via alimentos contaminados,
tais como leite e derivados, como via aparelho respiratório, após a inalação de
aerossóis contendo bactérias, ou pela pele, quando há contato direto com animais infectados. A transmissão entre seres humanos via sexual é bastante rara.
Os animais infectados eliminam os micro-organismos nos fluidos e
anexos fetais. Neste caso, a eliminação dos micro-organismos ocorre durante
o parto, aborto ou logo após o seu acontecimento. Além dessas vias de eliminação, o leite e o sêmen de animais infectados também podem eliminar
células de Brucella. Dessa forma, as vacas são a principal fonte de infecção,
contaminando os pastos, no momento do parto ou do aborto, ou o próprio
leite, no momento da ordenha. Essas bactérias podem sobreviver no ambiente por longos períodos, aumentando ainda mais as chances de contaminação
de um novo indivíduo.
Em seres humanos, a transmissão ocorre, normalmente, pelo trato
digestivo, com a ingestão de leite e de derivados não pasteurizados. O queijo fresco, consumido em boa parte do Brasil, também chamado de queijo
Minas, é uma importante fonte de transmissão, já que ele é produzido com
leite não pasteurizado. A transmissão via carne contaminada é bastante improvável, já que o número de bactérias no músculo é pequeno e a ingestão
da carne crua não é habitual.
6.5 Período de incubação
O período de incubação é bastante variável, podendo durar de semanas a anos!
6.6 Quadro clínico
Após o período de incubação, a brucelose pode se apresentar de
diferentes formas. A fase aguda da doença apresenta-se com febre durante o
dia e baixas temperaturas durante a noite, seguida de intensa sudorese. Nas
fases subaguda e crônica, os sintomas são insônia, impotência sexual, intestino preso, dores por todo o corpo, inclusive nas articulações, e anorexia. O
quadro clínico pode se complicar, havendo infecção da vesícula seminal e da
próstata, meningite e encefalite.
e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes
48
Vigilância em Saúde
6.7 Diagnóstico
6.7.1 Em animais
O diagnóstico de brucelose pode ocorrer por uma combinação de
fatores: sintomatologia clínica (abortos no rebanho, esterilidade nas fêmeas e nos machos e bezerros fracos), diagnóstico epidemiológico baseado no
histórico do rebanho, diagnóstico direto baseado no isolamento do agente
etiológico e, por fim, o diagnóstico sorológico.
6.7.2 Em seres humanos
Após o surgimento do quadro clínico característico supracitado,
deve-se fazer o teste sorológico para confirmar a infecção. O Sistema Único
de Saúde (SUS) preconiza o teste sorológico por reação de aglutinação rápida
do soro do paciente suspeito com os antígenos de Brucella abortos, chamado
de rosa de bengala.
6.8 Tratamento
Diante do resultado positivo, os pacientes devem ser tratados com
antibiótico. Normalmente, o tratamento apresenta bons resultados.
6.9 Características epidemiológicas
Apesar de todos serem suscetíveis à Brucella, a brucelose é considerada uma doença ocupacional, ligada a alguns tipos de trabalho; normalmente, a trabalhos na criação animal. Prevalece em regiões nas quais há
criação de gado, e acomete mais homens do que mulheres. Sabe-se que a
prevalência da brucelose em humanos está diretamente relacionada com a
prevalência encontrada nos animais de criação, e a prevalência nos animais
não é muito conhecida. Estima-se que o número real de casos de brucelose é
cerca de cinco vezes maior do que o número de casos confirmados. O bovino
é a espécie animal mais importante na transmissão da brucelose aos seres
humanos. Prova disto é que a maior incidência de casos de brucelose humana encontra-se entre os tratadores de gado.
6.10 Vigilância Epidemiológica
A Vigilância Epidemiológica trabalha com o intuito de eliminar as
fontes de infecção da brucelose através de medidas que atinjam o maior
número de animais e de pessoas possível. O trabalho visa desde a eliminação
de prováveis fontes de infecção à educação da população. Para tal, deve-se:
• realizar testes para a identificação de animais positivos;
Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas
49
e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes
• sacrifícar os animais positivos;
• controlar o trânsito de animais que são utilizados como reprodutores;
• educaçar a população sobre os riscos existentes no consumo de
leite e derivados não pasteurizados;
• educação dos tratadores de animais, para que eles evitem o contato com animais doentes ou suspeitos;
• incentivar o cuidado no descarte de placenta e de fetos de animais;
• em caso de surtos da doença, é necessário fazer a investigação
das possíveis fontes de infecção;
• confiscar o leite e seus derivados dos animais com suspeita ou
confirmação de infecção.
Como vocês puderam perceber, a Vvigilância Epidemiológica possui
ações bastante voltadas para o principal reservatório da Brucella, o bovino.
O que nos mostra que, de fato, a incidência da doença em seres humanos
está intimamente relacionada à incidência da infecção nessa espécie animal.
6.11 Medidas de controle
O controle da brucelose é realizado principalmente nos animais que
são os reservatórios da Brucella. A vacinação é a principal forma de controle
da doença. Outra forma de controle importante é a identificação de animais
positivos e a sua eliminação. Além disso, o controle do trânsito dos animais
e as medidas de desinfecção, que visam diminuir a carga bacteriana presente
nos ambientes infectados, constituem-se em importantes formas de combate
à infecção, tanto para os animais quanto para os seres humanos.
Resumo
A brucelose, também conhecida por febre de Malta, é uma zoonose
causada por bactérias do gênero Brucella. Trata-se de uma zoonose subdiagnosticada no Brasil, cuja incidência nos seres humanos está intimamente
relacionada à incidência encontrada nos bovinos. Sua transmissão ocorre
principalmente pela ingestão de leite e de derivados do leite contaminados
com seu agente etiológico. Como a transmissão também pode ocorrer de
forma direta, via cutânea ou via aérea, os tratadores de gado e os veterinários constituem os grupos ocupacionais mais expostos à doença. Neste tipo
de transmissão, os fetos abortados e os restos de placenta são reservatórios
importantes da Brucella. A principal medida de controle da brucelose é
mesmo a vacinação em massa dos rebanhos. Aqui, a prevenção da doença
nos animais é capaz de reduzir a incidência da doença nos humanos.
e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes
50
Vigilância em Saúde
Atividades de aprendizagem
1. Qual é o principal reservatório de cada uma das espécies de Brucella citadas nesta unidade?
2. Dê o conceito de parasita intracelular facultativo.
3. Busque o máximo de informações sobre brucelose nas publicações do Ministério da Saúde e troque informações com seus colegas.
4. Vamos enriquecer todas essas informações sobre brucelose com muitas
imagens. Sugiro que acrescentem, em seus arquivos pessoais, imagens relacionadas aos temas tratados nesta aula.
Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas
51
e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes
AULA 1
Alfabetização Digital
Aula 7 – Tuberculose
Objetivos
•
•
•
•
•
Conhecer o risco em saúde oferecido pela tuberculose.
Conhecer o agente etiológico e seus principais reservatórios.
Entender o ciclo de transmissão da tuberculose.
Conhecer os grupos ocupacionais mais expostos.
Conhecer as ações da Vigilância Epidemiológica e as medidas
de controle.
7.1 Introdução
A tuberculose (TB) é zoonose de notificação obrigatória, considerada problema de saúde pública prioritário no Brasil. O que é bastante louvável, já que estima-se que 85 mil novos casos da doença ocorram por ano
em todo o território nacional. No que diz respeito à taxa de mortalidade, há
uma pequena variação, de acordo com a região do país. As maiores taxas são
encontradas no Sudeste brasileiro, onde 3,5% das pessoas que são infectadas
vêm a óbito. E as menores taxas são encontradas no Centro-Oeste, onde
aproximadamente 1,8% das pessoas infectadas vêm a óbito.
Além de possuir uma alta incidência, ainda podemos citar dois sérios agravantes da tuberculose (TB): as infecções pelo vírus HIV e o tabagismo. Sabe-se, desde 1918, que a associação de TB e tabaco aumenta muito
a possibilidade de recidiva e morte pela TB. Já a epidemia mundial de AIDS
constitui-se no novo desafio enfrentado pela saúde pública no combate à TB.
7.2 Agente etiológico
As espécies de bactérias que causam a TB pertencem à família
Mycobacteriaceae, gênero Mycobacterium (Figura 13). Trata-se de bastonetes curtos, imóveis, aeróbicos, intracelulares, que apresentam crescimento
lento. São altamente resistentes a baixas umidades, podendo permanecer
viáveis em escarro contaminado por até 8 meses, o que é um fator agravante
no seu mecanismo de transmissão. Contudo, essas células bacterianas são
muito sensíveis à luz direta; tal contato pode reduzir seu tempo de vida no
ambiente. Para saírem do estado de latência, é necessário que se instalem
em um hospedeiro. A espécie encontrada comumente em humanos é o Mycobacteium tuberculosis. Além dessa espécie, o Mycobacterium bovis também
pode infectar seres humanos.
Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas
53
e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes
Figura 13: Mycobacterium SP.
Fonte: Janice Haney Carr. Disponível em: <http://phil.cdc.gov/phil/details.asp>. Acesso em
04/10/2011.
7.3 Hospedeiros e reservatórios
A principal espécie a infectar seres humanos é o Mycobacterium
tuberculosis, sendo o próprio homem o principal reservatório. Em especial,
em algumas regiões do Brasil, o bovino também pode ser considerado reservatório do Mycobacterium tuberculosis. No entanto, é bom salientar que, em
bovinos, o Mycobacterium tuberculosis não causa doença progressiva.
Outra espécie, o Mycobacterium bovis, encontrado principalmente
em bovinos e bubalinos, pode participar da etiologia da tuberculose humana.
A doença humana causada pelo M. bovis é também denominada tuberculose
zoonótica.
7.4 Modo de transmissão
7.4.1 Em seres humanos
A tuberculose é transmitida de um indivíduo a outro através da
tosse, da fala e do espirro. As pessoas que disseminam, juntamente com
seu escarro, o agente etiológico, detectado em testes de laboratório, são
chamados de bacilíferos. Estes tendem a serem fontes de contaminação mais
importantes do que aqueles pacientes que, mesmo doentes, não demonstraram disseminar o bacilo em seu escarro. A transmissão entre seres humanos
ocorre principalmente antes de se começar o tratamento. À medida que a
tuberculose é tratada, a transmissão é reduzida, gradativamente. Portanto,
estudantes, há pacientes de TB bacilíferos e há pacientes não bacilíferos, e
os bacilíferos são disseminadores do agente etiológico, mais importantes que
os demais.
e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes
54
Vigilância em Saúde
7.4.2 Entre homens e animais
A tuberculose também pode ser transmitida entre bovinos e seres
humanos através da ingestão de leite e de seus derivados contaminados com
o M. bovis, via cutânea e por via respiratória.
A ocorrência de tuberculose no homem, causada por M. bovis, depende do quadro epidemiológico encontrado nos rebanhos bovinos, pelos
hábitos alimentares da população, pelas condições socioeconômicas, pela
forma como os alimentos são manipulados e são guardados, e pelas medidas
de controle adotadas na propriedade rural. O homem adquire a doença por
meio da ingestão de leite e derivados crus oriundos de vacas infectadas. O
risco é maior para crianças, idosos e pessoas com deficiência imunológica.
7.5 Período de incubação
A TB possui período de incubação de seis a doze meses.
7.6 Quadro clínico
A tuberculose pode atingir diferentes órgãos: pele (Figura 14), rins,
olhos, ossos e outros. No entanto, a tuberculose pulmonar é a forma mais
conhecida da doença, e a que acomete o maior número de pessoas. Nesta
forma, os sintomas mais comuns são: tosse com secreção, febre (normalmente ao entardecer), suores noturnos, falta de apetite, emagrecimento,
cansaço fácil e dores musculares. Nos casos mais graves, há dificuldade na
respiração, eliminação de sangue e acúmulo de pus na membrana que reveste os pulmões. Normalmente, as pessoas procuram o serviço médico quando
apresentam tosse prolongada, por mais de três semanas. Quando a tuberculose atinge outros órgãos, tais como a pele, há outros sintomas relacionados.
Figura 14: Paciente com tuberculose cutânea.
Fonte: Basilio-de-Oliveira, C. A. e colaboradores. Disponível em: <http://ppsus.cederj.edu.br/
site/buscar>. Acesso em 02/10/2011.
Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas
55
e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes
7.7 Diagnóstico
Baciloscopia de
escarro:
é um teste de
laboratório que utiliza
o escarro do paciente
suspeito para buscar,
neste, o agente
infeccioso da TB.
O diagnóstico da TB é feito de forma direta, ou seja, busca-se encontrar o agente etiológico no escarro do paciente com suspeita de TB. A
baciloscopia de escarro, se realizada de maneira correta, identifica 60 a
80% dos casos positivos. Visto que os pacientes que disseminam o agente no
escarro possuem grande importância na transmissão, esse diagnóstico é de
extrema importância epidemiológica, pois tende a identificar justamente
os pacientes disseminadores do bacilo. O exame deve ser realizado com, no
mínimo, duas amostras. Em caso de resultado negativo nas duas amostras e
fortes suspeitas de TB, deve-se repetir a baciloscopia de escarro. Em caso
de baciloscopia novamente negativa, deve-se fazer a cultura do escarro. Esta
é forma de fazer o diagnóstico básico. Porém, há outros testes que podem
auxiliar o médico no fechamento do diagnóstico.
7.8 Tratamento
A TB possui tratamento eficaz, com aproximadamente 100% de cura
em casos recentes. Todas as pessoas com baciloscopia positiva devem ser
tratadas, e todas as pessoas com baciloscopia negativa, que fizeram tratamento inespecífico e não apresentaram melhora, também podem ser tratadas, após criteriosa avaliação clínica.
O tratamento da tuberculose é realizado com antibiótico e possui
duração de, aproximadamente, seis meses. Para a obtenção de bons resultados, é imprescindível que o paciente realize o tratamento até o final. Há
uma tendência dos pacientes a abandonarem o tratamento, em virtude dos
muitos efeitos adversos da medicação (vômito, náuseas, indisposição e mal-estar geral). É importante conscientizar os pacientes da necessidade de realização do tratamento até o final. A medicação é distribuída gratuitamente
pelo SUS - Sistema Único de Saúde através dos postos de saúde municipais.
7.9 Características epidemiológicas
A TB atinge tanto homens quanto mulheres, sendo mais comum
em homens. Pode acometer indivíduos de qualquer faixa etária. Ela está
presente em todo o mundo, sendo mais comum em áreas pobres, onde há
desnutrição, condições sanitárias inadequadas e saúde pública deficitária.
A associação da tuberculose com a Síndrome da Imunodeficiência Humana
(AIDS) constitui-se em um grande desafio para a saúde pública em todo o
mundo.
O Brasil está entre os 22 países que, juntamente, concentram 80%
dos casos de TB. O Brasil notificou, em 2007, mais de setenta e dois mil novos casos! Sendo que a maioria dos casos ocorreu no estado de São Paulo, e
o maior número de casos por habitantes foi registrado no estado do Rio de
Janeiro. Estima-se que 4.500 pessoas morrem em decorrência da TB todos
e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes
56
Vigilância em Saúde
os anos no Brasil, mesmo existindo formas eficientes de prevenção e de
tratamento. A maioria dos óbitos ocorre em hospitais e em grandes cidades.
Diante dos números alarmantes, é fácil de entendermos porque a TB foi a
quarta causa de morte por doenças infecciosas em 2008, entre pacientes
que não estavam infectados pelo vírus HIV, e a primeira causa de morte
entre pacientes aidéticos no Brasil. Diversas entidades ligadas à saúde vêm
estabelecendo metas para o controle da TB. Espera-se que, até o ano de
2015, a incidência seja de 25,9 casos a cada 100.000 habitantes, e a taxa de
prevalência e de mortalidade seja a metade da registrada em 1990. Além
disso, espera-se que, até 2050, a incidência global de TB ativa seja menor
que 1 para cada 1.000.000 habitantes por ano (BRASIL, 2010).
Os tratadores de rebanhos que possuem animais infectados e os
trabalhadores da indústria de carnes constituem os grupos ocupacionais mais
expostos à doença. Nesses grupos, a principal forma clínica observada é a
pulmonar. A incidência da tuberculose humana de origem animal tem diminuído nos países onde existem campanhas de combate à tuberculose bovina
e a pasteurização do leite é obrigatória.
Diante de todos esses dados, é impossível não percebermos a importância da tuberculose como grave problema de saúde pública a ser resolvido. Por isso mesmo é que a TB é uma doença de notificação compulsória,
ou seja, todos os casos da doença devem ser informados ao Ministério da
Saúde.
Incidência:
significa o número de
novos casos de uma
doença, durante um
período de tempo
definido, em uma
população. Calcular a
incidência é útil para
medir e comparar a
frequência das doenças
em populações.
7.10 Vigilância Epidemiológica
O Programa Nacional de Controle da Tuberculose possui, como principais objetivos, reduzir a morbidade, a mortalidade e a transmissão da TB.
Para tal, os objetivos específicos são os dados a seguir.
• Aumentar a detecção de novos casos.
• Diminuir o abandono do tratamento.
• Aumentar as taxas de cura.
• Expandir o tratamento para os programas de Saúde da Família.
• Expandir os programas de educação em saúde que visem à educação da população acerca da TB.
• Capacitar profissionais que atuem no controle e na prevenção
da TB.
• Prevenir a TB por meio da vacinação e da quimioprofilaxia.
• Manter a cobertura de prevenção adequada pela BCG.
• Aprimorar o sistema de informação, coleta e retransmissão dos
dados epidemiológicos.
• Acompanhar o desenvolvimento das novas drogas que surgirem.
• Promover ações que disseminem as normas do Programa de Controle da TB.
Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas
57
e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes
7.11 Medidas de controle
Amostras atenuadas:
são micro-organismos
que não possuem mais
a capacidade de causar
doença, mas que
mantêm a capacidade
de gerar memória
imunológica e são
utilizados na formulação
de vacinas vivas.
A TB em crianças,
adolescentes e
em pacientes
portadores do vírus
HIV possui diversas
peculiaridades. Para
saber mais, leia a
apostila publicada pelo
Ministério da Saúde
em 2010, no endereço
eletrônico que segue.
Você também pode
utilizar essa apostila
para tirar dúvidas e
para enriquecer os
seus conhecimentos
acerca da tuberculose.
Bons estudos!
<http://portal.
saude.gov.br/portal/
arquivos/pdf/manual_
de_recomendacoes_
controle_tb_novo.pdf>.
Para saber mais sobre
a vacina BCG e o
calendário de vacinação
nacional, acesse o
ambiente virtual no
seguinte endereço
eletrônico:
<http://portal.saude.
gov.br/portal/saude/
visualizar_texto.
cfm?idtxt=21462>.
O controle da tuberculose fundamenta-se no bloqueio de pontos
críticos da cadeia de transmissão da doença. Especificamente em seres humanos, o tratamento dos doentes é a principal medida de controle adotada
pelo governo.
Outra forma de controle é a inspeção sanitária dos produtos de
origem animal destinados ao consumo humano e a pasteurização ou esterilização do leite e derivados. Tais medidas diminuem os riscos de transmissão
do M. bovis ao homem.
Bovinos infectados podem ser responsáveis por parte dos casos de
tuberculose humana causada pelo M. bovis, principalmente em áreas de alta
prevalência de infecção e onde não existe controle sanitário dos produtos de
origem animal.
A prevenção da TB é realizada através de eficazes programas de
vacinação. A vacina BCG (Bacilo de Calmette-Guérin) é utilizada para evitar que a primo-infecção natural, causada por Mycobacterium tuberculosis,
evolua para doença. A vacina é composta por uma amostra atenuada do
Mycobacterium tuberculosis. O Ministério da Saúde recomenda que todas as
crianças devam receber, logo após o nascimento, uma dose única da vacina
BGC, salvo algumas exceções. Para tal, o Programa de Controle da Tuberculose determina:
• incentivo da vacinação com BCG nas maternidades;
• controle da qualidade da BCG;
• investigação dos efeitos adversos ocorridos em decorrência da
vacinação com a BCG;
• análise da incidência das formas graves de TB em relação às
coberturas de vacinação para avaliação de impacto.
Resumo
Nesta aula, tratamos da tuberculose (TB), um problema de saúde
pública prioritário no Brasil, notificação obrigatória, causada pelo Mycobacterium tuberculosis ou pelo Mycobacterium bovis. A TB não possui uma taxa
de letalidade muito alta, se analisarmos este dado em separado, porém, se
analisarmos este dado levando em consideração o grande número de pessoas
que adoecem e o fato de ser uma doença com tratamento e cura, aí, a taxa
de letalidade média apresentada no Brasil passa a ser inaceitável. É justamente por este motivo que uma das principais medidas incentivadas pelo
governo para reduzir a taxa de letalidade da TB é a busca ativa por pacientes que ainda não estão em tratamento; campanhas que incentivam esses
pacientes a se manterem em tratamento até a alta médica e a vacinação
em massa da população logo após o nascimento. A TB é transmitida principalmente entre os seres humanos, sendo mais raros os casos de transmissão
entre animais e seres humanos. Nesses casos, a transmissão pode ser tanto
via leite e derivados contaminados ou por via aérea ou cutânea. Seja lá qual
e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes
58
Vigilância em Saúde
for o tipo de transmissão, o fato é que o tratamento dos doentes constitui-se
em uma das medidas mais eficazes para evitar o aumento da incidência da
doença.
Atividades de aprendizagem
1. Cite cinco medidas adotadas pela Vigilância Epidemiológica para controlar
a TB.
2. Quando uma criança deve receber a vacina BCG?
3. Quais medidas são adotadas pelo governo brasileiro para aumentar as
taxas de cura da TB?
Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas
59
e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes
AULA 1
Alfabetização Digital
Aula 8 - Leptospirose
Objetivos
•
•
•
•
•
Conhecer o risco em saúde oferecido pela leptospirose.
Conhecer o agente etiológico e seus principais reservatórios.
Entender o ciclo de transmissão da leptospirose.
Conhecer os grupos sociais mais expostos.
Conhecer as ações da Vigilância Epidemiológica e as medidas
de controle.
8.1 Introdução
A leptospirose é uma doença infecciosa grave causada por bactérias
do gênero Leptospira. Uma grande variedade de animais é suscetível às leptospiras, incluindo bovinos, equinos, caprinos, cães e roedores. A leptospirose
está intimamente relacionada com a pobreza e com as condições precárias
de saneamento básico, associadas à alta infestação de ratos infectados por
Leptospira. Possui taxa de letalidade próxima a 11%. Ou seja, em um grupo
de 100 pessoas que se infectam com alguma espécie de Leptospira, aproximadamente 11 pessoas morrem em decorrência da doença (BRASIL, 2009).
8.2 Agente etiológico
O gênero Leptospira possui muitas espécies patogênicas e algumas
espécies de vida livre, não patogênicas. Trata-se de bactérias em forma de
espiral (Figura 15), Gram-negativas, móveis, extracelulares, sensíveis ao dessecamento, isto é, não sobrevivem em locais sem água. Quando disseminadas
na água, na lama ou na terra úmida, podem sobreviver por até três meses.
Além de não sobrevirem à falta de água, também são muito sensíveis aos
desinfetantes e aos agentes bactericidas em geral.
Figura 15: Leptospira sp.
Foto: Janice Haney Carr. Fonte: http://phil.cdc.gov/phil/details.asp. Acesso em 30/09/2011.
Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas
61
e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes
8.3 Hospedeiros e reservatórios
Uma grande variedade de mamíferos pode abrigar e disseminar
Leptospiras patogênicas. Nos centros urbanos, os roedores são o principal
reservatório da Leptospira. Na zona rural, os bovinos, equinos, suínos, ovinos
e caprinos são os principais reservatórios. O homem, além de ser hospedeiro
acidental, também é considerado um hospedeiro terminal dentro da cadeia
de transmissão.
8.4 Modos de transmissão
Nas cidades, o principal animal envolvido na disseminação da doença são os roedores: Rattus norvegicus (ratazana ou rato de esgoto) (Figura
16), Rattus rattus (rato de telhado ou rato preto) (Figura 17) Mus musculus
(camundongo ou catita) (Figura 18); eles são portadores assintomáticos altamente adaptados à Leptospira. Na zona rural, além dos roedores, os bovinos,
caprinos, suínos, ovinos e equinos também são considerados importantes
disseminadores.
Figura 16: Rattus norvegicus (ratazana ou rato de esgoto).
Fonte: Brasil. Fundação Nacional de Saúde. Manual de controle de roedores. - Brasília: Ministério
da Saúde, Fundação Nacional de Saúde, 2002. 132p.: il. 1. Roedores - prevenção e controle. 2.
Vigilância epidemiológica. 3 zoonose. Acesso em 16/09/2011.
Figura 17: Rattus rattus (rato de telhado ou rato preto).
Fonte: Brasil. Fundação Nacional de Saúde. Manual de controle de roedores. - Brasília: Ministério
da Saúde, Fundação Nacional de Saúde, 2002. 132p.: il. 1. Roedores - prevenção e controle. 2.
Vigilância epidemiológica. 3 zoonose. Acesso em 16/09/2011.
e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes
62
Vigilância em Saúde
Figura 18: Mus musculus (camundongo ou catita).
Fonte: Brasil. Fundação Nacional de Saúde. Manual de controle de roedores. - Brasília: Ministério
da Saúde, Fundação Nacional de Saúde, 2002. 132p.: il. 1. Roedores - prevenção e controle. 2.
Vigilância epidemiológica. 3 zoonose. Acesso em 16/09/2011.
A transmissão da leptospirose ocorre via urina de animais contaminados. Após invadirem um animal, as Leptospiras patogênicas migram para
os seus rins e são expelidas na urina dos animais infectados. Após serem
expelidas na urina, podem sobreviver no ambiente por dias, semanas ou
meses, caso entrem em contato com água ou com solo úmido. A grande incidência da doença nos centros urbanos ocorre nos períodos chuvosos, quando
as águas das chuvas entram em contato com as águas dos esgotos. Os roedores representam grande perigo por, normalmente, serem bem adaptados
à infecção, não apresentando sinais clínicos da doença e disseminando as
Leptospiras no ambiente onde vivem ou transitam. As populações que não
possuem saneamento básico (Figura 19) e que estão mais expostas aos ratos,
consequentemente, estão também mais expostas ao risco de contraírem a
doença. Porém, mesmo pessoas que vivem em áreas com saneamento básico
correm o risco de contraírem a leptospirose ao caminharem por áreas inundadas ou terem qualquer outro contato com águas de enchentes.
Durante a exposição dos seres humanos à água contaminada, a Leptospira penetra pela pele em locais que estão feridos ou arranhados, ou
mesmo na pele íntegra molhada, cujos poros estão muito abertos. Da pele,
as bactérias migram para a corrente sanguínea e se disseminam por todo o
organismo. É bom ressaltarmos que a leptospirose também pode ser contraída durante os períodos mais secos do ano, caso o homem ou os animais
tenham contato com qualquer tipo de água ou lama contaminada com Leptospiras patogênicas. A Leptospira também possui a capacidade de penetrar pelas mucosas, incluindo a mucosa da boca. No entanto, caso ocorra a
ingestão de água contaminada, as possibilidades de infecção são pequenas,
já que as Leptospiras são sensíveis ao suco gástrico. Nesses casos, a contaminação pode ocorrer via invasão de mucosas. Outras formas de infecção
pouco relatadas são: contato com sangue e excretas de animais ou pacientes
contaminados.
Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas
63
e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes
Figura 19: Moradias urbanas sem saneamento básico.
Fonte: Brasil. Fundação Nacional de Saúde. Manual de controle de roedores. - Brasília: Ministério
da Saúde, Fundação Nacional de Saúde, 2002. 132p.: il. 1. Roedores - prevenção e controle. 2.
Vigilância epidemiológica. 3 zoonose. Acesso em 16/09/2011.
8.5 Período de incubação
O período de incubação da leptospirose é bastante curto, podendo
variar de dois a vinte dias. Em média, os primeiros sintomas aparecem cerca
de dez dias após a contaminação.
8.6 Quadro clínico
Icterícia:
coloração amarelada da
pele e das mucosas.
O quadro clínico da leptospirose varia de acordo com a espécie
animal acometida e com a espécie de Leptospira envolvida. Para vocês terem ideia, um boi pode passar a vida inteira sendo portador assintomático.
O mesmo acontece com os ratos, a espécie mais adaptada à infecção por
Leptospira que conhecemos. Já o cão pode ou não apresentar sinais clínicos
da doença. Quando não apresentam sinais clínicos, são um grande risco à
saúde humana porque, mesmo não estando doentes, são disseminadores da
bactéria em sua urina. Quando são sensíveis à Leptospira infectante, podem
apresentar falta de apetite, fraqueza, febre, vômitos, diarreia, hemorragias
e icterícia. A leptospirose pode levar o cão à morte. No caso de apresentação de sinais clínicos, a recomendação sempre é procurar um veterinário
para uma apropriada avaliação do animal.
Nos seres humanos, há duas formas distintas de sintomatologia: a
forma anictérica (leve, moderada ou grave) e a forma ictérica (moderada ou
grave).
e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes
64
Vigilância em Saúde
8.6.1 Forma anictérica (leve, moderada ou grave)
A forma leve é responsável pela quase totalidade dos casos, porém,
devido às dificuldades de confirmação do diagnóstico, não ultrapassa 45% dos
casos oficiais.
Os sintomas podem se apresentar de forma leve, começar subitamente com febre, cefaleia (dor de cabeça), dores musculares, anorexia,
náuseas e vômitos. Tende a se curar sozinha, em poucos dias, sem deixar sequelas, podendo ser confundida com outras enfermidades, tais como viroses
ou outras doenças que costumam ocorrer na mesma época. A melhor forma
de correlacionar os sintomas quando há suspeita de leptospirose é mesmo
o histórico do paciente, que deve ser relatado caso tenha ocorrido contato
com águas com possível contaminação. Quando se apresenta na forma grave,
há septicemia com febre alta e calafrios. Neste momento, há uma infecção
generalizada, e a Leptospira encontra-se circulante no sangue dos pacientes.
Além desses sintomas, há dores musculares, principalmente nas panturrilhas, e prostração. Podendo também ser observada uma enorme variedade
de outros sintomas. Nesta fase, alguns pacientes podem vir a óbito.
8.6.2 Forma ictérica (moderada ou grave)
Alguns pacientes, após passarem pela bacteremia, podem evoluir
para uma doença ictérica grave, com disfunção renal, fenômenos hemorrágicos, alterações na circulação, no coração, nos pulmões e de consciência
(doença de Weil), com taxas de letalidade entre 10% e 40%. Esse curso da
doença não é muito comum e, normalmente, é precedido por sintomas mais
intensos. A icterícia, de tonalidade alaranjada (icterícia rubínica), bastante
intensa, é característica dessa fase. A disfunção hepática está associada à
maior incidência de complicações e à maior mortalidade, embora a insuficiência hepática não constitua importante causa de morte. Nesses casos, a
principal causa de morte são as hemorragias gastrointestinais e pulmonares.
8.7 Diagnóstico
Para facilitar o diagnóstico da leptospirose, é muito importante o
paciente informar ao médico que teve contato com água ou lama de enchentes ou de esgotos.
O médico poderá coletar amostras de sangue do paciente para enviar ao laboratório, onde serão realizados exames diretos, que buscam a
bactéria no sangue do paciente. Neste caso, a cultura do sangue somente
será positiva se a infecção ainda estiver nos primeiros dias.
Após o período inicial, os exames não irão detectar a Leptospira
no sangue do paciente, mas anticorpos contra essas bactérias. Esses exames, que buscam anticorpos, são chamados exames indiretos. Além desses
exames, um hemograma é de grande valia para ajudar o médico a fazer o
diagnóstico diferencial da leptospirose.
Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas
65
e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes
A leptospirose é uma doença curável quando o diagnóstico é realizado a tempo. Procurar o serviço de saúde logo que surgem os sintomas
ajuda a salvar vidas.
8.8 Tratamento
O tratamento da leptospirose é realizado com antibióticos e, se
for iniciado a tempo, é considerado bastante eficaz. Para o tratamento ter
sucesso, é necessário que os pacientes busquem o serviço de saúde logo que
surgirem os primeiros sintomas e informem o historio de contato com águas
com suspeita de contaminação. Somente com essa informação os médicos
terão condições de suspeitarem da doença, diagnosticarem e tratarem-na.
8.9 Características epidemiológicas
Trata-se de uma doença endêmica, com distribuição mundial, que
pode se tornar epidêmica nos períodos chuvosos, principalmente nas grandes cidades. Possui caráter sazonal, atribuído ao aumento do número de
casos na época das chuvas. O que é bastante normal, já que seu agente
etiológico é dependente da alta umidade para sobreviver no meio ambiente.
Alguns profissionais (lixeiros, limpadores de esgotos, médicos veterinários,
tratadores de animais, agricultores, bombeiros e outros) estão mais sujeitos
à contaminação devido ao contato maior com fontes de contaminação.
No período de 2004 a 2008, foram notificados, pelo Ministério da
Saúde, 68.379 casos de leptospirose, com a confirmação de 17.533 casos.
Sendo que o maior número de casos ocorreu no Sudeste brasileiro, seguido
pela região Sul, e a maioria das vítimas foram moradores de regiões pobres das grandes cidades. A taxa de letalidade apresentada no período foi
próxima a 11%. Por todos esses motivos apresentados, pelos altos custos do
tratamento e pelos grandes prejuízos causados na pecuária, a leptospirose
é um importante problema de saúde pública para o qual devemos atentar.
Sazonal:
a frequência com a qual
ocorre a doença varia
de acordo com a época
do ano.
8.10 Vigilância Epidemiológica
e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes
A Vigilância Epidemiológica tem como objetivos:
• monitorar a ocorrência da doença e determinar a sua distribuição espacial;
• facilitar o diagnóstico precoce da doença a fim de iniciar o tratamento e, consequentemente, reduzir as taxas de mortalidade;
• identificar o tipo (a espécie ou a sorovariedade) de Leptospira
circulante em cada região;
• direcionar as medidas que visam à prevenção e ao controle da
leptospirose junto à população, ao meio ambiente e aos hospedeiros que servem como reservatórios para a Leptospira.
66
Vigilância em Saúde
8.11 Medidas de controle
A melhor forma de prevenir a leptospirose é evitar o contato com
águas contaminadas; evite que crianças brinquem em águas de enchentes.
Caso o contato seja inevitável, é recomendada a utilização de botas de borracha, luvas de borracha ou sacos plásticos nas mãos para evitar o contato
da pele com a água. Em casos de inundação de residências, deve-se fazer a
desinfecção de toda a casa com solução de hipoclorito, água sanitária, utilizando a medida de quatro xícaras de café para vinte litros de água. É importante que a caixa d’água também seja desinfetada, e que todos os alimentos
que tiveram contato com a água sejam jogados fora. Vocês se lembram de
que na descrição do agente etiológico foi falado que a Leptospira é sensível
aos desinfetantes comuns? Pois então, a água sanitária é um desinfetante
barato e muito eficiente contra a Leptospira e contra uma séria de outros
agentes infecciosos também!
Outra importante medida de controle da leptospirose é o combate
ao seu principal reservatório, os ratos. Há uma regra simples para combater esses roedores: combater os três As. Parece estranho, não parece? Pois
não é. Estudantes, prestem atenção: os ratos somente permanecem onde há
abrigo, alimento e água. Por isso, se não deixarmos disponível para eles esses
três fatores, eles irão buscá-los em outros locais. As recomendações básicas
para o combate aos roedores são: vedar os vasilhames onde se encontram
os alimentos; dispensar o lixo pouco antes do momento da coleta, em locais
mais altos, onde os ratos não possam alcançar, e bem vedados em sacos plásticos; lavar os vasilhames utilizados para servir o alimento de outros animais;
manter os terrenos baldios sempre capinados; fechar todos os buracos nos
telhados e nos cantos das paredes para evitar a entrada de ratos para dentro
de casa; manter as caixas d’águas, os ralos, e os esgotos sempre fechados
com tampas pesadas e manter os jardins sempre podados, para evitar que a
grama sirva de abrigo para os ratos. Enfim, tudo que tiver utilidade para os
ratos, como abrigo, água ou alimentos, deve ser evitado.
Quanto à vacinação, o Brasil não possui vacinas para prevenir a
leptospirose em seres humanos. Existem vacinas para cães e para animais
de fazenda. Mesmo assim, as vacinas existentes no mercado não oferecem
100% de proteção para os animais vacinados. Por isto é tão importante ficar
atento aos sinais clínicos apresentados pelos animais. O Ministério da Saúde
promove campanhas de esclarecimento e de alerta à população, além de
estudar os dados epidemiológicos e de se manter sempre alerta para surtos da doença em todo o país. Aliando todas essas medidas de controle à
conscientizando da população sobre os riscos apresentados pelas principais
fontes de contaminação, bons resultados devem ser alcançados no controle
da leptospirose no Brasil.
Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas
67
Acesse a apostila do
Ministério da Saúde
e leia mais sobre a
leptospirose no seguinte
endereço digital:
<http://portal.saude.
gov.br/portal/arquivos/
pdf/apresentacao_
lepto.pdf Acesso em
30/08/2011>.
e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes
Resumo
Nesta aula, vocês aprenderam um pouco sobre a leptospirose, infecção causada por bactérias patogênicas do gênero Leptospira. Vamos rever
algunss pontos para relembrarmos os mecanismos de transmissão da leptospirose.
1. Ratos contaminados com leptospira moram nos esgotos e, em
sua água, urinam.
2. A água do esgoto contaminada por leptospiras patogênicas mistura-se à água das chuvas durante as enchentes e invade as ruas
e as casas das pessoas.
3. As pessoas entram em contato com a água das enchentes, agora
contaminada por leptospiras, ao tentarem salvar seus pertences,
ao caminharem por ruas inundadas, ao consumirem a água das
caixas d’água contaminadas e ao realizarem a faxina em casa
após a enchente.
4. A leptospira penetra ativamente pela pele das pessoas; debaixo
d’água, migram para a corrente sanguínea e instalam a infecção.
A principal forma de transmissão, descrita anteriormente, está intimamente relacionada à pobreza e às condições de saneamento básico inadequadas.
Para facilitar o diagnóstico da leptospirose, é imprescindível que todos os pacientes com sintomas semelhantes aos de uma gripe e que tiveram
contato com água de enchente informem o episódio ao médico. Dessa forma,
a leptospirose poderá ser diagnosticada e tratada com sucesso.
Atividades de aprendizagem
1. Busque na internet o nome da espécie de Leptospira que mais acomete
o homem no Brasil. Tente encontrar também a espécie prevalente em sua
região.
2. Quais são os principais hospedeiros da Leptospira?
3. Cite quatro ações da Vigilância Epidemiológica úteis no combate à leptospirose.
4. Descreva o modo de transmissão mais frequente da leptospirose.
e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes
68
Vigilância em Saúde
AULA 1
Alfabetização Digital
Aula 9 – Zoonoses parasitárias
Objetivos
• Conhecer os conceitos básicos de parasitologia.
• Conhecer as principais classificações dos parasitas.
• Entender a relação: parasia/ hopedeiro/meio ambiente.
9.1 Introdução
O que é parasitismo? Bem, entendemos como parasitismo uma associação íntima, normalmente duradoura, entre duas espécies diferentes, com
algum grau de dependência metabólica e com prejuízo para uma das partes. E o
que é parasita? Segundo a microbiologia básica, o parasita é o micro-organismo
que sobrevive nutrindo-se das expensas de alguém. Sendo assim, segundo essa
definição, podem-se destacar as bactérias, os vírus e os fungos! Alguns destes
já estudados por nós anteriormente. Para fins didáticos, a parasitologia médica
restringe-se a estudar aquelas patologias causadas por organismos eucariotos,
espoliadores, que causam grandes prejuízos ao homem e a outros animais. A
partir de agora, nosso estudo irá explorar esses micro-organismos, com destaque para as zoonoses de maior importância para a saúde pública.
Como se dividem esses micro-organismos? Os principais são: protozoários, helmintos e artrópodes. Como o nosso objetivo é focar nas doenças
de maior importância em saúde pública, vamos estudar, nas próximas aulas,
o grupo dos protozoários e dos helmintos, tudo bem? Então, vamos lá!
Existem, na natureza, quase 50 mil espécies de protozoários; estes
são agrupados em quatro filos, de acordo com suas estruturas de locomoção. Estudantes, vocês se lembram da classificação científica dos seres vivos? Como na natureza existe um grande número de seres, estes devem ser
agrupados de acordo com as suas características morfológicas, fisiológicas e
estruturais, com a filogenia etc. De modo geral, existem os seguintes níveis
de organização, também chamados taxons na natureza: reino, filo, classe,
ordem, família, gênero, espécie e, algumas vezes, subespécie. Portanto, o
filo corresponde a um grupo amplo de classificação. Para os protozoários,
existem os seguintes filos, dados a seguir.
• Sarcodina: Entamoeba hystolistica (ameba; já ouviram falar?).
• Sporozoa: Toxoplasma gondii (um agente que causa a toxoplasmose).
• Flagelatta: Giardia Lamblia (agente que causa a giardíase, famosa por levar a cólicas intestinais).
• Ciliophora: Balantidium coli (este não é muito conhecido, mas
tem seu lugar junto às outras espécies que causam distúrbios
digestivos; a doença chama-se balantidiose).
Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas
69
Organismos
eucariotos:
são todos os seres
vivos que possuem
um núcleo delimitado
por uma membrana,
consequentemente,
possuem DNA
compartimentado,
separado do citoplasma;
além disso, existem
muitas organelas
específicas desses
seres. Os eucariotos
podem ser desde
organismos unicelulares
até multicelulares.
e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes
Os helmintos estão dentro de uma classificação mais ampla, que são os
metazoários, um sub-reino que inclui os seres multicelulares, que apresentam
diferentes tecidos e sistemas, como o sistema digestivo. Então, estudantes, concluímos que os helmintos são seres mais “evoluídos” em relação à sua estrutura.
Continuando nossa aula, os helmintos, ou Helmintas, dividem-se em:
• nematelmintas: nematoideos intestinais (Ascaris lumbricoides; a
famosa lombriga);
• platelmintos: cestodos (Taenia solium, que pode causar a cisticercose no homem, proveniente da ingestão de carne de porco
contaminada) e tremátodos (Schistossoma mansoni, causador da
famosa esquistossomose, doença adquirida em cachoeiras, que
possui o caramujo como importante hospedeiro intermediário).
Mas não se preocupem, alunos, porque, nas próximas aulas, vamos
estudar essa classificação de forma mais detalhada. Agora, nós precisamos
entender alguns conceitos que são de grande importância. A seguir, vamos
destacar alguns deles.
• Quanto ao ciclo de vida: Têm-se três definições que classificam
os parasitas quanto ao seu ciclo de vida. São elas: os seres autoxenos, que possuem o seu desenvolvimento completo em apenas
um hospedeiro; os seres monoxenos, com um desenvolvimento
que acontece parte em um hospedeiro e parte no ambiente; e
os seres heteroxenos, que, para um ciclo de vida completo, necessitam de mais de um hospedeiro. Um bom exemplo de seres
heteróxenos são os parasitas causadores da leishmaniose visceral, uma endemia emergente nos centros urbanos, atualmente.
Para esta patologia se estabelecer, é necessário que o parasita
do gênero Leishmania desenvolva uma forma infectante, flagelada (Figura 20), em um hospedeiro invertebrado (Lutzomyia sp.)
(Figura 21), e uma fase imóvel, sem flagelos, em um hospedeiro
vertebrado (homem, cães e alguns animais silvestres).
Figura 20: Leishmania. Leishmania sp., visualizada por microscopia óptica. Legenda:
núcleo central (1); cinetoplasto (2); flagelo (3).
Fonte: de Souza, Wanderley. Instituição: UFR. Disponível em: <http://ppsus.cederj.edu.br/site/
buscar>.. Acesso em 02/10/2011.
e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes
70
Vigilância em Saúde
Figura 21 - Inseto flebotomínio. Transmissor da Leishmaniose Visceral.
Fonte: Manual de vigilância e controle da leishmaniose visceral / Ministério da Saúde, Secretaria
de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância Epidemiológica. Brasil. Editora do Ministério
da Saúde. Brasília. 2006. 120 p. Acesso em 20/09/2011.
• Quanto ao hospedeiro: na natureza, existem afinidades entre espécies. Essas afinidades, mesmo que possam favorecer apenas
um dos lados (o que acontece no parasitismo), são importantes
para estabelecer o local ideal de desenvolvimento de um parasito. Alguns hospedeiros podem exercer um papel definitivo no
ciclo de vida do parasito. Neste caso, o parasita irá estabelecer
seu ciclo sexuado, e o hospedeiro será o seu hospedeiro definitivo. Em outras ocasiões, o hospedeiro servirá para o desenvolvimento assexuado do parasita, e ele será denominado, então,
hospedeiro intermediário. O hospedeiro mais importante é o
chamado reservatório. Por quê? Bom, neste, o parasita poderá
se desenvolver e perpetuar a sua espécie.
• Ações do parasita dentro de um hospedeiro: cada espécie de
parasita tem a sua forma de sobrevivência, seja o tipo de alimentação, o local de instalação ou mesmo a forma como ele
se protege do sistema imunológico do hospedeiro; e isto está
diretamente ligado à lesão que ele causará. Existem os parasitas
espoliadores, que absorvem sangue e nutrientes do hospedeiro.
Outros produzem substâncias tóxicas que agridem o hospedeiro.
Há também aqueles que agridem de forma mecânica, muitas
vezes por seu tamanho, e são capazes de interferir no trato
digestivo, por exemplo, obstruindo o seu fluxo normal de passagem dos alimentos.
• Local de desenvolvimento: existem parasitas que se desenvolvem dentro de tecidos internos e nas mucosas dos hospedeiros,
por exemplo, Toxoplasma gondii, que causa a toxoplasmose; são
denominados endoparasitas. Outros se desenvolvem nas partes
externas do hospedeiro, como a epiderme, e são denominados
ectoparasitas. Por exemplo: artrópodes, como o carrapato (Figura 22), e anelídeos, como a sanguessuga.
Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas
71
e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes
Figura 22: Carrapato da espécie Amblyomma cajennense macha (esquerda) e fêmea
(direita).
Fonte: Jim Occi, BugPics. Disponível em: <http://www.bugwood.org/>. Acesso em 02/09/2011.
Quimo:
é o nome dado ao
alimento quando este
chega ao intestino;
possui consistência
pastosa, pois é um
produto da mistura do
alimento com ácidos e
enzimas digestivas.
Gameta:
células dos seres
vivos responsáveis
pela reprodução. Por
exemplo, no homem,
temos o gameta
masculino, denominado
espermatozoide, e o
feminino, denominado
óvulo.
• Tipos de desenvolvimento: a classificação é muito simples; observem, alunos! Se for relacionada aos endoparasitas, denomina-se infecção, e se for diretamente ligada aos ectoparasitas,
será infestação. Por exemplo; você poderá dizer: “eu estou infectado pelo agente da toxoplasmose” ou “eu estou infestado
de carrapatos!”
• Quanto à exigência nutritiva: aqueles parasitas que se alimentam de vários tipos de alimentos denominamos de seres euritróficos. Por exemplo, o agente causador da ancilostomose, o
Ancylostoma duodenali, alimenta-se de quimo e de sangue.
Os parasitas que se alimentam de apenas um tipo de alimento denominam-se de estenotróficos. Exemplo: o sangue para as pulgas.
• Quanto ao tipo de parasita: esta classificação também é fácil,
estudantes. Quando os parasitas só sobrevivem dentro de um
hospedeiro, eles são denominados obrigatórios, e quando sobreviverem de forma livre ou vinculados ao hospedeiro, são facultativos.
• Quanto ao tipo de reprodução: podem ser organismos sexuados,
com necessidade de fusão de dois gametas, feminino e masculino.
Outras definições importantes que podemos destacar são as dadas
a seguir.
• Parasitíase: nome dado à doença.
• Período pré-patente: intervalo entre a contaminação do hospedeiro e o início da eliminação dos parasitas no ambiente, que é
a forma de contaminação causada pelo parasita.
Caros estudantes, também é importante salientar as vias de contaminação, ou melhor dizendo, as portas de entrada para os parasitas. Como
exemplo, tem-se:
• boca: alimentos, água e fômites;
• pele: penetração ativa ou direta do parasita, ou passiva, através
de vetores, como picada de insetos transmissores;
• mucosas ou conjuntivas;
• inalatória (através da respiração);
e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes
72
Vigilância em Saúde
• placentária (também denominada transmissão vertical; ela
acontece durante a gestação);
• vias genitais (transmissão sexual).
Como vocês podem perceber, as vias de contaminação são múltiplas, no entanto, para os parasitas conseguirem infestar ou infectar um
hospedeiro, ele deve passar por algumas barreiras; algumas delas inerentes
ao parasita, outras ao hospedeiro e outras, ainda, ao meio ambiente. A interação desses fatores é que vai determinar a instalação ou não do organismo.
Os fatores inerentes ao parasita são:
1. número de exemplares presentes;
2. capacidade de multiplicação;
3. virulência: poder de infecção;
4. vitalidade: quanto maior o tempo de vida, melhor o desempenho.
Fômites:
qualquer objeto ou
substância capaz
de transportar um
agente infeccioso de
um indivíduo para
outro. Exemplo:
compartilhamento de
copos, toalhas e outros
utensílios pessoais.
E os fatores inerentes ao hospedeiro são os dados a seguir.
1. Imunidade: O perfil imunológico pode estar diretamente ligado
ao número de exposições do hospedeiro a um determinado parasito.
2. Idade: Para cada idade, existe um perfil imunológico distinto.
3. Qualidade de vida: O estilo de vida de um indivíduo está intimamente ligado à sua imunidade. Por exemplo: tipo de alimentação, hábitos e costumes, nível de estresse, uso ou não
de medicamentos etc.
Resumo
Esta aula foi baseada na definição de parasitismo e na relação que
pode existir entre o parasita e o hospedeiro a ser parasitado. Os principais
parasitas são: protozoários, helmintos e artrópodes. Para os protozoários,
têm-se os seguintes filos: Sarcodina, Sporozoa, Flagelatta e Ciliophora. Os
helmintos são metazoários e dividem-se em Nematelmintos e Platelmintos.
Os parasitas possuem diferentes classificações, de acordo com alguns aspectos, como: ciclo de vida, tipo de hospedeiro, ações do parasita dentro do
hospedeiro, local de desenvolvimento, tipo de desenvolvimento, exigência
nutritiva etc. As vias de contaminação são múltiplas, no entanto, para os
parasitas conseguirem infestar ou infectar um hospedeiro, ele deve passar
por algumas barreiras; algumas delas inerentes ao parasita, outras ao hospedeiro e outras, ainda, ao meio ambiente. A interação desses fatores é que
vai determinar a instalação ou não do parasita no organismo e o surgimento
da doença.
Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas
73
e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes
Atividades de aprendizagem
1. (a) Diferencie virulência de patogenicidade.
(b) Discorra sobre os tipos de hospedeiros: hospedeiro definitivo, intermediário e paratênico.
2. Para que os parasitas consigam infestar ou infectar um hospedeiro, ele
deve passar por algumas barreiras; algumas delas inerentes ao parasita,
outras, ao hospedeiro. Marque (P) para situações ligadas ao parasita e (H)
para aquelas ligadas ao hospedeiro.
a. ( ) Número de exemplares presentes
b. ( ) Capacidade de multiplicação
c. ( ) Perfil imunológico
d. ( ) Virulência
e. ( ) Qualidade de vida
3. Marque a alternativa correta em relação aos conceitos enumerados a
seguir.
a. Gametas são células dos seres vivos responsáveis pela reprodução. Por
exemplo: no homem, temos o gameta masculino, denominado espermatozoide, na mulher, o feminino, denominado óvulo.
b. Os helmintos estão dentro de uma classificação mais ampla, que são os
metazoários, um sub-reino que inclui os seres unicelulares, que apresentam diferentes tecidos e sistemas, como o sistema digestivo.
c. Em algumas ocasiões, o hospedeiro servirá para o desenvolvimento assexuado do parasita, e ele será denominado, então, hospedeiro intermediário.
d. Período pré-patente é o intervalo entre a contaminação do hospedeiro e
a cura total da infecção.
e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes
74
Vigilância em Saúde
AULA 1
Alfabetização Digital
Aula 10 - Protozoários
Obetivos
• Comparar a estrutura morfológica dos protozoários com os outros organismos já estudados.
• Entender como funcionam os mecanismos básicos de sobrevivência destes parasitos.
• Conseguir relacionar os exemplos de protozoários aplicados no
texto com cada filo existente.
10.1 Introdução
Os protozoários pertencem ao Reino Protista; são seres unicelulares, possuindo uma membrana que recobre o núcleo, portanto, são seres
eucariotos. Podemos dizer que são seres mais evoluídos, mais complexos que
os já estudados anteriormente, os vírus e as bactérias. Possuem sistema reprodutor, digestivo, de locomoção e produção de energia; por muito tempo,
foram considerados “animais unicelulares”. Os protozoários podem viver em
diferentes tipos de ambiente e de duas formas: vida livre (em colônias ou
sozinhos) e parasitando. Existem várias formas de alimentação, de acordo
com cada espécie. Os holofíticos ou autotróficos são os que, a partir de grãos
ou pigmentos citoplasmáticos (cromatóforos), conseguem sintetizar energia a
partir da luz solar (fotossíntese); holozoicos ou heterotróficos ingerem partículas orgânicas de origem animal, digerem-nas e, posteriormente, expulsam
os metabólitos. Essa ingestão dá-se por fagocitose (ingestão de partículas
sólidas; figuras 23 e 24) ou pinocitose (ingestão de partículas pequenas); os
saprozoicos “absorvem” substâncias orgânicas de origem vegetal, já decompostas e dissolvidas em meio liquido; por fim, há os mixotróficos, que são
capazes de se alimentar por mais de um dos métodos anteriormente descritos. A digestão é realizada através de vacúolos digestivos, estruturas que
se formam no interior da célula após a ingestão de partículas externas. Os
resíduos são excretados juntamente com o vacúolo, podendo ser eliminados
por toda a superfície celular. Os protozoários podem se reproduzir tanto
assexuada quanto sexuadamente. Na reprodução assexuada, a célula cresce
até se dividir em dois novos organismos. Este processo é chamado de divisão
binária. A reprodução sexuada ocorre por conjugação, quando dois indivíduos se unem, trocam material genético e originam novos protozoários. Em
algumas espécies, ocorre a alternância de gerações (sexuada e assexuada) e
a formação de esporos.
Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas
75
e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes
Figura 23: Protozoário ingerindo uma partícula. Trichomonas vaginalis.
Trichomonas vaginalis (em verde) fagocitando e internalizando leveduras (em
laranja) por afundamento. Visualizada por microscopia eletrônica de varredura.
Observe que não houve a mudança para a morfologia ameboide e a emissão de
pseudópodes pelo parasita.
Fonte: Disponível em: <http://ppsus.cederj.edu.br/site/buscar>. Acesso em 02/10/2011.
,
Figura 24: Trichomonas vaginalis fagocitando levedura. Trichomonas vaginalis
fagocitando uma levedura visualizada por microscopia eletrônica de varredura.
Observe que a ligação ocorre através do flagelo recorrente.
Fonte: Disponível em: <http://ppsus.cederj.edu.br/site/buscar>.. Acesso em 02.10.2011
e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes
76
Vigilância em Saúde
Figura 25: Protozoário Giardia lamblia dividindo-se em dois, divisão binária. Foto:
Dr. Stan Erlandsen.
Fonte: Disponível em: <http://phil.cdc.gov/phil/details.asp>. Acesso em 10/10/2011.
10.2 Estrutura dos protozoários
Em relação à morfologia, os protozoários podem ser esféricos, ovais
ou alongados, dependendo da sua fase evolutiva ou do meio no qual eles
se encontram. Para cada função desempenhada pelos protozoários, existem
organelas específicas. Como exemplo, pode-se citar o núcleo bem definido e
com envelope nuclear, sendo que alguns possuem apenas um núcleo e outros
têm dois ou mais núcleos semelhantes. Os ciliados possuem macronúcleo,
que é vegetativo e sintetiza DNA e RNA, e micronúcleo diretamente envolvido na reprodução, sexuada e assexuada. O aparelho de Golgi, para sintetizar carboidratos e secretar proteínas; retículo endoplasmático liso, para
sintetizar esteroides; e retículo endoplasmático granuloso, para sintetizar
proteínas; mitocôndria, para produção de energia; cinetoplasto, que é uma
mitocôndria especializada rica em DNA; lisossoma, para digestão intracelular
de partículas; e microtúbulos, que formam o citoesqueleto e participam dos
movimentos celulares de contração e distensão e na composição de flagelos
e cílios. Além de possuírem também corpo basal, para a inserção dos cílios e
flagelos; axonema, que é o eixo do flagelo; e citóstoma, que permite ingestão de partículas.
Muitas espécies possuem fases de vida definidas de acordo com as
atividades fisiológicas desempenhadas em determinado momento. Podemos
destacar, assim, as seguintes fases, descritas a seguir.
Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas
77
e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes
• Trofozoito: fase ativa do protozoário, na qual ocorre alimentação e reprodução.
• Cisto e oocisto: formas de proteção utilizadas principalmente
quando o meio externo não está propício para o seu desenvolvimento (Figura 25).
• Gameta: forma sexuada, na qual o gameta masculino é o microgameta, e o feminino é o macrogameta.
Figura 25: Cistos de Giardia lamblia. Cistos de Giardia lamblia visualizados por
microscopia eletrônica de varredura.
Fonte: Disponível em: <http://ppsus.cederj.edu.br/site/buscar>. Acesso em 02/10/2011.
Conforme foi relatado na última aula, os protozoários possuem quatro filos importantes. Vamos relembrá-los?
• Filo Sarcodina: os sarcodíneos locomovem-se através de pseudópodes, que são expansões transitórias do citoplasma. São de vida
livre e se reproduzem por divisão binária. Alguns exemplos são:
amebas (figuras 26 e 27), foraminíferos (aqueles que apresentam
uma carapaça calcárea externa, com inúmeras perfurações, por
onde os pseudópodes são emitidos), radiolários e heliozoários,
com pseudópodes finos e projetados em forma de raios ao redor
da célula. Os radiolários são marinhos, e os heliozoários podem
ser de água doce ou salgada.
e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes
78
Vigilância em Saúde
Figura 26: Pseudópodes de uma ameba de vida livre.
Foto: Janice Haney Carr. Fonte: Disponível em: <http://phil.cdc.gov/phil/details.asp>. Acesso em
10/10/2011.
Figura 27: Entamoeba histolytica. Ameba realizando fagocitose, visualizada por
microscopia eletrônica de varredura.
Fonte: Disponível em: <http://ppsus.cederj.edu.br/site/buscar>. Acesso em 02/10/2011.
• Filo Flagellata: podem apresentar um ou dois flagelos, que servem tanto para locomoção quanto para captação de alimento.
São de vida livre ou sésseis, e se reproduzem por divisão binária ou sexuadamente. Muitos são parasitas do homem. Alguns
exemplos de protozoários flagelados são parasitas que causam
a leishmaniose, a doença de Chagas, a giárdia e a tricomoníase
(Figura 28).
Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas
79
e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes
Figura 28: Trichomonas vaginalis. Trichomonas vaginalis visualizada por microscopia
eletrônica de varredura.
Fonte: Disponível em: <http://ppsus.cederj.edu.br/site/buscar>. Acesso em 02/10/2011.
Organismos sésseis:
são aqueles que não se
deslocam de forma livre
do seu local de fixação.
• Filo Ciliophora: a forma de locomoção e captação de alimento
ocorre por meio de cílios (filamentos curtos e numerosos). Possui reprodução por divisão binária ou conjugação. Grande parte
dos ciliados são organismos de vida livre, com poucos exemplares parasitas. Entre os ciliados parasitas, encontram-se espécies
consideradas gigantes para os padrões dos protozoários, como é
o caso do Paramecium caudatum, ou simplesmente paramécio,
que pode chegar a cinco milímetros de comprimento!
• Filo Sporozoa: não possuem estruturas locomotoras. Todas as
espécies são parasitas obrigatórios de vertebrados e invertebrados. A forma de reprodução é sexuada e assexuada, podendo
também haver a produção de esporos. Os mais comuns são do
gênero Plasmodium, que causam a malária, e do gênero Toxoplasma, que causam a toxoplasmose (Figura 29), doença que
vamos estudar mais detalhadamente em outra aula.
Figura 29:Toxoplasma gondii. Toxoplasma gondii visualizado por microscopia eletrônica
de transmissão. O protozoário está no interior dos vacúolos parasitóforos.
Fonte: Disponível em: <http://ppsus.cederj.edu.br/site/buscar>. Acesso em 02/10/2011.
e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes
80
Vigilância em Saúde
Estudantes, a aula de protozoários foi um pouco longa, mas não
se assustem. É importante que vocês percebam como os protozoários são
seres mais complexos que as bactérias e os vírus. Com o tempo e com leituras constantes, vocês vão conseguir absorver todas essas informações.
Resumo
Nesta aula, o foco foi o protozoário. Os protozoários são seres unicelulares, de estrutura complexa, e a grande diferença entre eles e os organismos anteriormente estudados é a delimitação do núcleo. Os protozoários
são, portanto, eucariotos. Eles possuem quatro filos importantes e fases de
vida definidas de acordo com as atividades fisiológicas desempenhadas no
momento. Esta aula foi a base para entendermos algumas parasitoses.
Atividades de aprendizagem
1.Vocês sentiram falta de uma figura que ilustre o filo Ciliophora? Pois bem,
eu senti. Então, mãos a obra. Agora, vocês irão fazer uma pesquisa ilustrativa sobre este filo.
2. Os protozoários possuem quatro filos importantes. Relacione cada filo com
a alternativa que melhor descreve a sua característica.
1. Filo Sarcodina
2. Filo Flagellata
3. Filo Ciliophora
4. Filo Sporozoa
( ) Não possuem estruturas locomotoras. Todas as espécies são parasitas
obrigatórios de vertebrados e invertebrados. A forma de reprodução é sexuada e assexuada, podendo também haver a produção de esporos.
(
) Podem apresentar um ou dois flagelos, que servem tanto para locomoção quanto para captação de alimento. São de vida livre ou sésseis, e se
reproduzem por divisão binária ou sexuadamente.
(
) Os sarcodíneos locomovem-se através de pseudópodes, que são expansões transitórias do citoplasma. São de vida livre e se reproduzem por
divisão binária. Um exemplo são as amebas.
( ) A forma de locomoção e captação de alimento ocorre por meio de cílios (filamentos curtos e numerosos). Possui reprodução por divisão binária
ou conjugação. Grande parte dos ciliados são organismos de vida livre, com
poucos exemplares parasitas.
3. Cite um exemplo de cada um dos filos trabalhados.
Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas
81
e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes
AULA 1
Alfabetização Digital
Aula 11 - Toxoplasmose
Objetivos
•
•
•
•
Conhecer
Conhecer
Conhecer
Conhecer
o risco em saúde oferecido pela toxoplasmose.
seu agente etiológico e seus hospedeiros.
seu ciclo de transmissão.
as medidas de controle.
11.1 Introdução
Vamos começar a conhecer um pouco mais sobre as protozooses?
Nossa, nome difícil, não é? Que nada; junte protozoários com zoonoses e é
isto que dá. Uma protozoose muito importante que vamos começar a falar
é a toxoplasmose. Esta patologia é muito conhecida, cosmopolita, e possui
como principal reservatório o gato. É responsável por determinar quadros
variados, desde infecção assintomática e autolimitante às manifestações
sistêmicas extremamente graves. Uma grande preocupação das autoridades
em saúde é em relação ao acometimento de mulheres grávidas. Denominada
como toxoplasmose congênita, ela poderá gerar grandes transtornos para o
feto, e o seu diagnóstico deve ser realizado o mais breve possível. Por este
motivo, a toxoplasmose congênita é de notificação compulsória.
11.2 Agente etiológico
O responsável pela toxoplasmose é o Toxoplasma gondii, um protozoário coccídio intracelular, próprio dos gatos, e que pertencem à família
Sarcocystidae, da classe Sporozoa (Figura 30).
Infecção
autolimitante:
é aquela cujo sistema
imunológico do
indivíduo infectado
consegue eliminar
a infecção sem
a intervenção
medicamentosa.
Popularmente, podemos
dizer que é aquela
doença que se resolve
por si só!
Figura 30: Toxoplasma gondii . Toxoplasma gondii visualizado por microscopia óptica
de campo claro.
Fonte: Disponível em: <http://ppsus.cederj.edu.br/site/buscar>. Acesso em 02/10/2011.
Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas
83
e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes
11.3 Hospedeiros e reservatórios
leiam mais a respeito
da toxoplasmose no
endereço eletrônico:
WWW.saude.gov.br!
O gato (Figura 31) e seus amigos felídeos são os reservatórios principais, no entanto, existem alguns hospedeiros acidentais envolvidos no ciclo
desta patologia. Dentre eles, podemos citar o homem e outros animais não
felídeos, como bovinos, suínos, caprinos, ovinos e cães.
Bradizoitos:
forma encontrada nos
tecidos (músculos,
nervos e retina). Sua
multiplicação é lenta e
ocorre dentro do cisto.
Seu tamanho é variável,
podendo atingir 200µm.
Podem permanecer
viáveis nos tecidos por
anos. Algumas vezes,
podem ser encontrados
na forma aguda da
infecção.
Taquizoitos:
é a forma encontrada na
fase aguda da infecção
ou forma proliferativa,
livre ou trofozoito.
Possui uma forma de
meia-lua, móvel, e se
multiplica rapidamente.
Pode ser destruído pelo
suco gástrico.
Oocistos:
são produzidos na
parede intestinal de
felídeos não imunes,
e são liberados, de
forma imatura, com as
fezes. São esféricos,
resistentes às condições
do meio ambiente e
constituem-se em um
importante veículo de
transmissão.
Figura 31: Gato. Principal reservatório do Toxoplasma.
Fonte: Disponível em: <http://ppsus.cederj.edu.br/site/buscar>. Acesso em 02/10/2011.
11.4 Modo de transmissão
Muitas são as maneiras pelas quais o homem pode se infectar acidentalmente pela toxoplasmose. Os gatos, que são os hospedeiros definitivos, ou seja, são neles que ocorre a fase sexuada do parasito, eliminam
uma grande quantidade de oocistos através das fezes, durante uma infecção
aguda, e perpetuam o ciclo do parasita, podendo infectar alimentos e a
água. Os animais, como bovinos, caprinos, ovinos, suínos, cães, homem e os
próprios gatos infectam-se ingerindo alimentos contaminados com oocistos,
taquizoitos ou bradizoitos.
A infecção, portanto, pode acontecer por várias vias, como ingestão de carne mal cozida, contaminada por bradizoitos de Toxoplasma, ou a
ingestão de taquizoitos no leite, ou mesmo oocistos nos outros alimentos, na
água ou, ainda, provenientes de mão contaminada por fezes. Outro ponto
importante é que apenas os gatos não imunes liberam os oocistos. Ou seja,
o gato, depois de alguns contatos com o parasita, cria imunidade protetora
e não é mais responsável pela fase sexuada do mesmo. É comum que a infecção em crianças ocorra ao brincarem em caixas de areia, onde os gatos
comumente defecam. Além destes, a transmissão transplacentária é muito
importante. Para a transmissão congênita acontecer, a mãe precisa adquirir
a infecção durante a gestação, acometendo 40% dos recém-natos, nestes
e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes
84
Vigilância em Saúde
casos. É importante saber que a infecção congênita não ocorre em mães que
já tiveram infecção prévia, exceto quando ocorrer reativação por alguma
forma de imunodepressão. Ainda não acabou! A transmissão também pode
ocorrer pela inalação de oocistos esporulados. A infecção por transfusão de
sangue e transplante de órgãos de um doador infectado é rara, porém, pode
ocorrer também.
11.5 Período de incubação
Transmissão
transplacentária:
é a transmissão que
acontece da mãe
para o feto durante a
gestação.
O período de incubação é variável, dependendo do tipo de manifestação da doença.
11.6 Quadro clínico
A toxoplasmose é uma infecção parasitária, geralmente, de característica oligoassintomática e autolimitada. Ela pode assumir uma maior relevância no período gestacional; tornou-se mais importante com o aparecimento da
infecção HIV/Aids e com o incremento do número de transplantes, além de outras condições imunodepressoras. É importante diferenciar as manifestações da
doença, quais sejam: infecção primária em imunocompetentes (toxoplasmose
ganglionar), toxoplasmose em pacientes imunocomprometidos, toxoplasmose
congênita, coriorretinite isolada (toxoplasmose ocular).
11.6.1 Toxoplasmose ganglionar
Quando a contaminação da toxoplasmose acontece em indivíduos
considerados saudáveis ou imunocompetentes, aproximadamente 90% destes
sendo adultos e adolescentes, eles apresentam infecção assintomática. Se
por algum motivo a patologia se desenvolver, o período de incubação varia
entre 10 e 20 dias. Na apresentação clínica típica, ganglionar, o paciente
apresenta acometimento de linfonodos pelo corpo. O aumento do tamanho
dos linfonodos pode ser generalizado ou focal. Os linfonodos podem estar indolores, elásticos e móveis. A localização ocular é bastante frequente nesta
forma da doença. A febre acomete mais de 50% dos pacientes sintomáticos.
Perda de força muscular, falta de apetite, mal-estar geral e dor de cabeça
são queixas comuns nos pacientes com toxoplasmose ganglionar. Mais de 30%
dos pacientes apresentam aumento do baço, e 60% aumento do fígado. A
persistência dos linfonodos alterados pode durar por muitos meses, porém,
sem outras manifestações da doença.
11.6.2 Toxoplasmose febril aguda
Como vocês já sabem, na maioria das vezes, a infecção inicial é
assintomática. Porém, em muitos casos, a infecção pode se generalizar e ser
acompanhada de exantema.
Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas
85
e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes
Exantema:
é uma erupção cutânea
(na pele) que ocorre
em consequência
de doenças agudas
provocadas por vírus
protozoários ou cocos
(bactérias de forma
esférica) durante a
fase inicial, como
todas estas patologias
que nós já estudamos
anteriormente.
Corioretinite:
é a inflamação da retina
e coroide, componentes
oculares. Podem levar
à cegueira, em casos
graves (Figura 32).
Às vezes, sintomas de acometimento pulmonar, cardíaco, hepático
ou cerebral são evidentes.
Atenção à dica: sempre que for usado o termo ite no final das palavras, isto significa inflamação! Por exemplo: linfadenite: inflamação do linfonodo!
Continuando, então, com as ites, outro sintoma da toxoplasmose
pode ser a linfadenite toxoplásmica, uma linfadenite regional que pode estar
relacionada à porta de entrada, durante a síndrome febril aguda. Geralmente, o quadro caracteriza-se por acometimento dos linfonodos de forma focal,
especialmente em mulheres.
11.6.3 Toxoplasmose ocular
A coriorretinite ou retinocoroidite é a lesão mais frequentemente
associada à toxoplasmose, e, em 30 a 60% dos pacientes com esta enfermidade, se pode atribuir a etiologia ao toxoplasma.
Dois tipos de lesões de retina podem ser observados: a) retinite
aguda, com intensa inflamação; e b) retinite crônica, com perda progressiva
de visão, algumas vezes, chegando à cegueira.
Figura 32: Manifestações oculares na AIDS. Em A, papiledema secundário
à toxoplasmose cerebral. Em B, lesão de retinocoroidite por toxoplasmose
em atividade. Em C, lesão de retinocoroidite por toxoplasmose cicatrizada.
Manifestações da infecção pelo HIV.
Fonte: Disponível em: <http://ppsus.cederj.edu.br/site/buscar>. Acesso em 02/10/2011.
e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes
86
Vigilância em Saúde
11.6.4 Toxoplasmose neonatal
Resulta da infecção intrauterina, variando de assintomática à fatal,
dependendo da idade fetal e de fatores não conhecidos. Os achados comuns
são prematuridade, baixo peso, coriorretinite pós-maturidade, estrabismo,
icterícia e aumento do fígado do feto. O quadro pode se modificar de acordo
com a fase na qual o bebê está. Por exemplo: se a infecção ocorreu no último
trimestre, o bebê pode apresentar, principalmente, pneumonia, inflamação
do músculo do coração ou hepatite com icterícia, anemia, coriorretinite, ausência de ganho de peso ou, então, é assintomático. Se ocorrer no segundo
trimestre, o bebê pode nascer prematuramente, mostrando sinais de encefalite, com convulsões e calcificações cerebrais. Pode aparecer a tétrade
de Sabin, que é uma microcefalia com hidrocefalia, coriorretinite, retardo
mental e calcificações intracranianas. A tétrade de Sabin é um sintoma muito
conhecido e patognomônico da toxoplasmose neonatal, então, memorizem
este nome! Ah, e não se esqueçam de pesquisar o que é sintoma patognomônico! Esta vai ser uma tarefa de casa!
11.6.5 Toxoplasmose no paciente imunodeprimido
Como os cistos do toxoplasma persistem por um período indefinido,
qualquer imunossupressão significativa pode ser seguida por um recrudescimento da toxoplasmose. As lesões são focais e vistas com maior frequência
no cérebro; menos frequentemente, na retina, no miocárdio e nos pulmões.
As condições mais comumente associadas a esta forma são a AIDS, a doença
de Hodgkin e o uso de imunossupressores.
Toxoplasmose e gravidez: como já mencionado, o toxoplasma pode
ser transmitido ao feto se a paciente grávida contrair a infecção durante a
gestação. Uma vez que a infecção da mãe é usualmente assintomática, geralmente, não é detectada. Por isto, tem-se sugerido a realização de testes
sorológicos na gestação, porém, é uma medida dispendiosa e com pouca
aplicabilidade prática. Resta, assim, apenas a instituição da quimioterapia
adequada, quando o diagnóstico é realizado.
11.7 Diagnóstico
Como toda patologia, o diagnóstico pode ser clínico. No entanto,
este não é fácil, pois, em casos agudos da doença, pode levar à morte ou
evoluir para a forma crônica. Em alguns casos, a toxoplasmose pode se assemelhar com outras infecções, portanto, a suspeita clínica deve ser confirmada com outras técnicas laboratoriais. Uma forma é a pesquisa direta de
taquizoitos em lâminas, ou a pesquisa do DNA do parasito. Em casos crônicos, biópsias de lesões poderão acusar a presença de cistos. O diagnóstico
rotineiro, mais prático e de fácil execução, são os exames sorológicos, já
discutidos anteriormente.
Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas
87
e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes
11.8 Tratamento
Não existe, até o momento, um medicamento eficaz contra a forma
crônica da toxoplasmose, já que as drogas utilizadas agem sobre os taquizoitos, mas não contra os cistos. As drogas de escolha para o tratamento são
tóxicas, em uso prolongado, então, recomenda-se o tratamento apenas para
casos agudos, pacientes imunocomprometidos em qualquer fase da doença e casos de toxoplasmose ocular. Para os casos de toxoplasmose ocular,
recomenda-se a utilização de anti-inflamatórios e antiparasitários.
11.9 Características epidemiológicas
Bem, como já foi dito, a toxoplasmose é cosmopolita, sendo assim,
está presente em praticamente todos os países. Em cada local, ela apresenta
uma prevalência específica, dependendo de cada realidade. Na França, por
exemplo, algumas áreas apresentam prevalência superior a 80%, principalmente pelo consumo de carne crua ou mal cozida. Bem, já nas Américas, a
prevalência também é alta, mas principalmente porque existe uma grande
quantidade de gatos abandonados. Além disso, a toxoplasmose é comum
em áreas com clima quente e baixa altitude. Lembre-se: o Brasil está na
América, portanto, está dentro dessa estatística. No Brasil, os índices de
prevalência de anticorpos variam de 54%, na região Centro-Oeste, a 75%,
na região Norte. Esta prevalência aumenta de acordo com a idade, sendo
igualmente distribuída entre os dois sexos. Já no Japão, a prevalência é mais
baixa, cerca de 10%, e não está vinculada ao consumo de carne crua (eles
comem carne crua, mas a carne é de peixe). Perceberam a dica? Carne crua
para transmitir toxoplasmose tem que ser de boi, suínos e aves, peixe não é
importante (BRASIL, 2008).
11.10 Vigilância Epidemiológica
Conforme podemos aprender, a toxoplasmose causa sérios problemas de saúde pública por sua alta infectividade e ampla distribuição geográfica, alto risco de recrudescimento da doença em imunodeprimidos,
gravidade da infecção congênita e suas sequelas, gravidade dos casos de
toxoplasmose ativa e grande número de casos de toxoplasmose ocular. A toxoplasmose não é uma doença de notificação compulsória, com exceção da
forma congênita. Portanto, a Vigilância baseia-se muito mais na busca ativa,
quando do surgimento de surtos.
No Brasil, três surtos importantes de toxoplasmose aconteceram
nos últimos anos. Em 2005, na cidade de Anápolis, 26 pessoas contraíram a
infecção em uma festa de confraternização de Natal preparada pela Polícia
Civil, que contou com a presença de, aproximadamente, 1.000 convidados,
sendo 310 funcionários. A provável forma de transmissão da doença foi a ingestão de alimentos e de bebidas servidos na festa. Dentre estes alimentos,
e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes
88
Vigilância em Saúde
os principais suspeitos foram o quibe cru, o churrasco de carne bovina, boi
no rolete e vinagrete (BRASIL, 2008).
No município de Santa Vitória do Palmar, em 2005, dez pessoas da
mesma família adoeceram por toxoplasmose adquirida. Nove destas adoeceram entre os dias 13 de maio e 1° de junho. A idade dos pacientes variou
entre dois meses e 54 anos. Entrevistas com os pacientes com o diagnóstico
confirmado indicaram que eles frequentaram a mesma residência no mesmo
período. Os alimentos servidos na refeição, suspeitos de veicular a infecção,
foram: água da torneira, frango no molho de cerveja e embutido de carne
suína denominado “copa”, de produção industrial.
11.11 Medidas de prevenção e controle
• Não se alimentar de carne crua ou mal cozida de qualquer animal ou de leite cru.
• Controlar a população de gatos no meio urbano e rural.
• Os proprietários de gatos devem manter os animais dentro de
casa e alimentá-los com carne cozida ou seca, ou com ração de
boa qualidade.
• Incinerar todas as fezes dos gatos.
• Realizar o exame pré-natal para toxoplasmose em todas as gestantes.
• Fornecer tratamento com antiparasitários para grávidas em fase
aguda.
• Desenvolvimento de vacinas: vacinas com subunidades do parasito, adequadas para combater a toxoplasmose nos seres humanos têm sido desenvolvidas, porém, sem nenhum resultado
preventivo concreto até o momento.
Resumo
A toxoplasmose é uma doença de distribuição mundial. O hospedeiro principal da toxoplasmose é o gato. O homem e outros animais infectam-se acidentalmente por algumas vias bem definidas, como ingestão ou inalação de cistos liberados nas fezes de gatos contaminados. Outra forma do
homem se infectar é ingerindo carne ou leite (mais raramente) de animais
contaminados pela toxoplasmose. Atualmente, a forma que muito preocupa
em termos de saúde pública é a transmissão da mãe para o feto. Esta via
de transmissão é denominada transmissão congênita, e pode acarretar em
grandes transtornos para a criança. O agente etiológico da toxoplasmose é
denominado Toxoplasma gondii. Normalmente, a infecção de pessoas adultas
é autolimitante ou apresenta poucos sintomas. Além da importância da toxoplasmose congênita, outra forma preocupante é a coinfecção toxoplasmose
e HIV, e em pessoas transplantadas, visto que a transmissão também pode
ocorrer por esta via. As principais vias de prevenção e controle da toxoplasmose são: evitar carne crua ou mal cozida, evitar gatos em vias públicas,
alimentá-los apenas com ração ou carne cozida e realizar, no pré-natal, exame para diagnosticar a toxoplasmose.
Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas
89
e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes
Atividades de aprendizagem
1. Estudantes, no item sobre Vigilância Epidemiológica, foram citados dois
surtos de grande importância causados pela toxoplasmose. A atividade é que
vocês entrem no site do Ministério da Saúde - http://portal.saude.gov.br/portal/saude/profissional/visualizar_texto.cfm?idtxt=34252 - e visualizem os três
surtos que estão publicados no boletim eletrônico epidemiológico.
2. Quais são os tipos de toxoplasmose que podem acontecer nos seres humanos?
3. Marque (V) para as alternativas verdadeiras e (F) para as alternativas falsas, a respeito da toxoplasmose.
( ) A toxoplasmose é uma infecção parasitária, geralmente, de característica
oligoassintomática e autolimitante.
( ) A toxoplasmose pode assumir uma maior relevância no período gestacional.
( ) Condições imunodepressoras, como infecção por HIV, não influenciam na
contaminação do homem por toxoplasmose.
( ) Quando a contaminação da toxoplasmose acontece em indivíduos considerados saudáveis ou imunocompetentes, aproximadamente 90% destes sendo adultos e adolescentes, eles apresentam infecção sintomática.
e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes
90
Vigilância em Saúde
AULA 1
Alfabetização Digital
Aula 12 - Helmintos
Objetivos
• Entender a estrutura dos helmintos e a sua classificação.
12.1 Introdução
São seres metazoários, ou seja, multicelulares, com numerosas espécies, tanto de vida livre quanto de vida parasitária. Estão distribuídos nos
filos Platyhelminthes, Nematoda e Acanthocephala. Sua ocorrência é comum;
prova disto é que há estimativas que cerca de 20% da população humana de
todo o mundo está parasitada por ancilostomídeos.
Aqui, focaremos nossa aula nos filos Nematoda e Platelminthes,
pois, neles, existem espécies causadoras de antropozoonoses de grande interesse em saúde pública.
12.2 Filo nematoda
12.2.1 Estrutura dos nematodas
O filo Nematoda apresenta seres com diversos tipos de vida e habitat. São conhecidos como vermes redondos (figuras 33 e 34). Podemos agrupar
grande parte dos nematóides em duas classes: Adenophorea e Secernentea.
São vermes de simetria bilateral, tamanho variável, de poucos milímetros
a dezenas de centímetros, que apresentam tubo digestivo completo, com
boca e abertura anal, e dois sexos distintos (Figura 35). Em geral, o macho
é menor do que a fêmea. O sistema genital masculino é diferenciado em
testículo, canal deferente, vesícula seminal e canal ejaculador, abrindo-se
na cloaca. O aparelho genital feminino é constituído, fundamentalmente, de
ovário, oviduto, útero, vagina e vulva. Perceberam a grande diferença entre
estes organismos e os anteriormente estudados? Estudamos vírus, bactérias,
protozoários e vermes, e as nossas aulas foram dispostas de forma evolutiva,
por complexidade dos seres.
Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas
91
e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes
Figura 33: Região posterior de Trichuris sp macho. Microscopia de luz. Região
posterior mostrando a curvatura do corpo de Trichuris sp. macho.
Fonte: Disponível em: <http://ppsus.cderj.edu.br/site/buscar>. Acesso em 02/10/2011.
Figura 34: Ponta da cauda de Enterobius vermicularis fêmea. Microscopia de luz.
Extremidade posterior de Enterobius vermicularis fêmea, mostrando a ponta da
cauda bem afilada.
Fonte: Disponível em: <http://ppsus.cederj.edu.br/site/buscar>. Acesso em 02/10/2011.
Figura 35: Larva rab-ditoide de Ancylostoma duodenale. Larva Rab-ditoide. Larva
rab-ditoide de Ancylostoma duodenale visualizada por microscopia de contraste
diferencial e interferencial. RA: região anterior; C: região posterior. Barra: 40 μm.
Fonte: Disponível em: <http://ppsus.cederj.edu.br/site/buscar>. Acesso em 02/10/2011.
e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes
92
Vigilância em Saúde
12.3 Filo platyhelminthes
12.3.1 Estrutura dos platelmintos
Exoesqueleto:
Podem ser de vida livre, endo ou ectoparasitos. Constituem-se no
filo mais inferior dentro dos helmintos. Sua estrutura é achatada, pela ausência de exoesqueleto e endoesqueleto. Possui simetria bilateral, uma
extremidade anterior contendo órgãos sensitivos e uma posterior. Não possuem órgão de excreção, cavidade anal ou aparelho respiratório. Estudos
mais recentes afirmam existir três classes dentro deste filo (Cestoda, Trematoda, Turbellaria).
12.3.2 Classe Trematoda
camada externa
formada por cutícula
que pode recobrir
o corpo de alguns
parasitas, promovendo
proteção contra a perda
de água, flexibilidade e
proteção das estruturas
internas.
Endoesqueleto:
estrutura interna de
sustentação.
São achatados dorsalmente, com simetria bilateral, de contorno
oval ou alongado. Corpo não segmentado, presença de tubo digestivo, sem
a presença de ânus. Possui, muitas vezes, ventosas de fixação, um sistema
nervoso simples, sistema digestivo incompleto, poucos órgãos de sentido.
Em algumas espécies, existe um dimorfismo sexual, com órgãos reprodutores
bem distintos, e podem ser hermafroditas ou não; desta forma, pode ocorrer
autofecundação ou mesmo fecundação cruzada entre dois seres.
12.3.3 Classe Cestoda
Apresentam corpo alongado, segmentado, lembrando, por vezes,
os trematódeos. Não possuem sistema digestivo, desprovidos de epiderme.
O corpo está dividido em três porções bem distintas: o escólice ou escólex
(órgãos de fixação; Figura 36), colo ou pescoço e estróbilo. A excreção dá-se
por canais excretores; sistema nervoso simples; geralmente, hermafroditas.
Figura 36: Escólex de Taenia solium . Microscopia de luz (DIC)- Coloração carmim
clorídrico. Escólex de Taenia solium. As setas indicam as quatro ventosas e a coroa
de acúleos.
Fonte: Acesso em: <http://ppsus.cederj.edu.br/site/buscar>. Acesso em 02/10/2011.
Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas
93
e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes
Resumo
Os helmintos são seres multicelulares, ou seja, metazoários. Possuem três filos distintos. Sua ocorrência é muito comum no Brasil e no mundo.
Nesta aula, estudantes, vocês estudaram detalhadamente as características
de cada filo. Existem diferenças estruturais bem definidas entre estes filos,
como corpo cilíndrico ou achatado, sistema digestivo completo ou incompleto, sistema reprodutor, excretor e nervoso, completos ou não.
Atividades de aprendizagem
1. Façam um esquema ilustrativo da morfologia básica de um nematoda e de
um platelminto, evidenciando as diferenças entre eles. Agora, é hora de usar
todo o seu talento artístico, estudante!
2. Cite duas espécies para exemplificar os helmintos, uma espécie de nematelmintos e uma de platelmintos.
3. Dois exemplos de nematelmintos muito comuns que podemos citar são
os popularmente conhecidos por lombriga e amarelão. Definam os agentes
etiológicos de cada um deles.
e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes
94
Vigilância em Saúde
AULA 1
Alfabetização Digital
AULA 13 - Doenças causadas pela larva
migrans
Objetivos
• Apontar as três formas clínicas da doença.
• Distinguir os agentes etiológicos envolvidos em cada forma clínica e diferenciar as suas manifestações clínicas.
• Entender as formas de transmissão.
• Conhecer os hospedeiros principais de cada agente etiológico e
suas respectivas formas de controle.
13.1 Introdução
Para entendermos sobre a Larva migrans, primeiro, vamos saber
qual a família a qual estes parasitas pertencem. Bem, existem vários parasitas de espécies diferentes, e até mesmo famílias diferentes que podem
causar o mesmo quadro clínico da Larva migrans. A família Ancylostomatidae, que se constitui em uma das principais famílias dos nematodas, é uma
delas. Além dela, outra família também poderá estar envolvida: a família
Ascarididae.
Nesta aula, vamos focar nas espécies que liberam larvas migratórias
e que podem acarretar em sintomatologias características no homem. Essas
espécies são tipicamente parasitas dos animais e, acidentalmente, podem
infectar o homem. Sendo assim, são antropozoonoses. Se não se lembram
destes conceitos, é necessário voltar a estudar a nossa aula introdutória!
As principais espécies envolvidas são: Ancylostoma caninum e Ancylostoma
brasiliensis, da família Ancylostomatidae, Toxocara canis e Toxocara catti,
da família Ascarididae.
Pois bem, essas espécies de micro-organismos só conseguem desenvolver suas formas larvais a contento se estas estiverem dentro do hospedeiro ideal, ou seja, um hospedeiro definitivo. Em algumas situações, essas
larvas entram em contato com o homem, que é um hospedeiro acidental, e
não conseguem completar o seu ciclo de vida. No entanto, elas insistem e
permanecem por algum tempo neste hospedeiro, procurando um lugar ideal
para se desenvolver, migrando pelo corpo do indivíduo infectado. Quando
isto acontece, são denominadas as larvas migrans viscerais ou LMV, migrans
cutâneas ou LMC e migrans oculares ou LMO. A LMC também é popularmente conhecida como bicho geográfico!
Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas
95
e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes
13.2 Larva migrans cutânea (LMC)
13.2.1 Agente etiológico
Os agentes envolvidos na LMC são: Ancylostoma caninum e Ancylostoma brasiliensis, que são parasitas intestinais de cães e gatos. É importante
que vocês percebam, estudantes, que mais de um agente etiológico pode
estar envolvido com a mesma manifestação clínica!
13.2.2 Hospedeiros e reservatórios
Os hospedeiros definitivos são cães e gatos. O homem é um hospedeiro acidental.
13.2.3 Modo de transmissão
As fêmeas desses parasitos eliminam, diariamente, uma grande
quantidade de ovos no solo; estes, sob condições ideais de temperatura e
umidade, eclodem e liberam as larvas L1. Mais ou menos depois de sete dias,
essas larvas passam por dois processos de muda e se transformam em L3, que
é justamente a forma larval infectante. Esta L3 é mais resistente, poderosa
mesmo, porque consegue viver no ambiente sem se alimentar por um longo
período. Caso elas consigam infectar outros cães e gatos, pela boca ou pele,
elas serão deglutidas e irão para o intestino, onde se desenvolverão em formas adultas das ancilostomoses, em cerca de um mês. Assim é o ciclo nos
animais (figura 37).
Figura 37: Ancylostoma caninum infectando a mucosa intestinal de um cão.
Fonte: http://phil.cdc.gov/phil/details.asp. Acesso em 10/10/2011.
e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes
96
Vigilância em Saúde
Porém, acidentalmente, essas larvas podem infectar o homem. Se,
acidentalmente, essas larvas infectam o homem através da pele, elas ficarão
“andando” por um período de tempo pela pele, deixando um rastro sinuoso
e característico. Como o homem não é o hospedeiro específico, depois de um
tempo, elas morrerão. Com menor frequência, essas larvas podem ser ingeridas; chegam ao intestino e, de lá, elas migram pelas vísceras, denominando, assim, de larvas migrans viscerais. Elas também podem cair na corrente
sanguínea, alcançar a árvore brônquica (nos pulmões) através dos capilares.
Quando isto acontece, essas larvas podem ser percebidas nos escarros, ou
mesmo serem deglutidas e completarem o seu ciclo de vida no intestino.
Perceberam? O mesmo organismo pode ser responsável pela infecção da pele
ou pela infecção do intestino. Tudo vai depender da via de penetração.
13.2.4 Período de incubação
A sintomatologia aparece logo após ocorrer a infecção.
13.2.5 Quadro clínico
O quadro clínico mais comum ocorre quando as larvas atingem áreas
que possuem maior contato com o solo, como pés, pernas, nádegas, mãos e
braços. Mais raramente, lábios, boca e palato. No momento da infecção, pode
aparecer prurido e eritema inicial, algumas vezes, os sinais clínicos iniciais passam despercebidos. Quando penetram pela pele, as larvas deixam um rastro
pruriginoso e saliente, que pode levar a infecções secundárias, devido ao grande
prurido da região; depois de algum tempo, desaparecem. Também podem aparecer sintomas pulmonares, semelhantes às crises alérgicas.
13.2.6 Diagnóstico
Devido à apresentação característica das lesões, o diagnóstico é
basicamente clínico.
13.2. 7 Tratamento
Frequentemente, a infecção é de curta duração, e a aplicação de
medicamentos não é necessária. Em casos graves, recomenda-se a utilização
de vermífugos, como albendazol ou tiobendazol, em forma de pomada ou
comprimidos. Em casos de infecção secundária, que acontece quando outros
micro-organismos, como as bactérias, invadem a lesão, podem-se aplicar
antialérgicos, para diminuir o prurido, e anti-inflamatórios tópicos.
13.2.8 Características epidemiológicas
A ocorrência da Larva migrans cutânea está intimamente ligada ao status socioeconômico de um país. É frequente em comunidades pobres de países
em desenvolvimento. Existem relatos em países mais ricos, no entanto, parte
deles se dá pelo contágio de turistas que visitaram áreas endêmicas.
Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas
97
e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes
13.3 Larva migrans visceral (LMV)
13.3.1 Agente etiológico
A espécie causadora da LMV mais comum é Toxocara canis e cati,
parasita do intestino delgado de cães e gatos. Este parasito possui distribuição cosmopolita.
13.3.2 Hospedeiros e reservatórios
Os cães e os gatos são os hospedeiros definitivos; o homem é o
hospedeiro acidental.
13.3.3 Modo de transmissão
Hospedeiro paratênico:
é o ser vivo que serve
de refúgio temporário
e de veículo para
contaminação do
hospedeiro definitivo.
O parasita não evolui
neste e, portanto,
não é imprescindível
para completar o
ciclo vital, ainda que,
geralmente, aumente
as possibilidades
de sobrevivência e
transmissão. Também
se denomina hospedeiro
de transporte.
Da mesma forma que na larva migras cutânea, as fêmeas de Toxocara podem eliminar milhares de ovos por dia nas fezes dos hospedeiros
comuns, os animais. Quando essas larvas atingem o solo, em condições ideais
de umidade, temperatura e oxigênio, a larva dentro dos ovos pode se desenvolver depois de alguns dias, e atinge a fase L3, que é justamente a fase
larval infectante. Dentro destes ovos, elas permanecem viáveis por um longo
período. Os cães jovens podem se infectar pela ingestão de ovos contendo
as larvas, que, então, eclodem no intestino, penetram na circulação, atingem órgãos, como fígado, coração, pulmão, e mudam para o estágio larval
L4. Depois de atingirem o estágio L4, elas vão para os alvéolos, de onde são
expelidas para os brônquios e, em seguida, vão para a traqueia. Quando se
encontram na traqueia, são deglutidas e retornam para o intestino, onde
atingem a maturidade sexual. Nossa, são muitas idas e vindas para estas
larvas se estabelecerem, não é mesmo?
Outro fato curioso é que as aves, os roedores, os ruminantes e os
suínos podem funcionar como hospedeiros paratênicos. Após a ingestão dos
ovos, as larvas eclodem no intestino delgado desses hospedeiros e realizam
migração até atingirem vários tecidos, onde permanecem viáveis e em latência por meses, tornando-se fonte de infecção para cães e mesmo para o
homem, quando este ingerir carne crua ou mal cozida ou água contaminada.
13.3.3.1 Infecção em seres humanos
A infecção em seres humanos ocorre via ingestão de água ou alimentos contaminados com ovos contendo as larvas. Mais raramente, ocorre
infecção via ingestão de carne ou vísceras do hospedeiro paratênico. Quando
o alimento contaminado chega ao intestino delgado, o ovo eclode, libera as
larvas que vão atingir a parede intestinal e, logo após, essas larvas caem
na corrente sanguínea e distribuem-se para tecidos de todo o corpo, tais
como fígado, rins, pulmões, medula óssea, coração e olhos. Depois de um
e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes
98
Vigilância em Saúde
tempo, elas são destruídas por mecanismos imunes próprios do hospedeiro.
E são justamente esses mecanismos de defesa os responsáveis por formarem
as lesões típicas dessa infecção, o granuloma alérgico, que nada mais é do
que o parasito morto cercado de infiltrados de células de defesa. Algumas
larvas possuem mecanismos de escape do sistema imune do hospedeiro, que
consistem em “encistar”, ou seja, não saem dos seus ovos e conseguem ficar
viáveis por vários anos dentro do hospedeiro.
13.3.4 Período de incubação
A sintomatologia aparece logo após ocorrer a infecção.
13.3.5 Quadro clínico
As manifestações são bem variadas, podendo se apresentarem desde assintomáticas até manifestações subagudas ou agudas. O que vai definir
a gravidade da infecção são aqueles fatores já discutidos na aula de parasitismo, ou seja: número de larvas infectantes, órgão que foi invadido e
quadro imunológico do paciente infectado. O mais comum é um quadro subclínico, muitas vezes, sem o diagnóstico evidenciado, principalmente porque
a infecção pode ser autolimitante.
O quadro clínico pode apresentar inflamação de órgãos acometidos
(ex.: linfadenite), aumento do baço e do fígado, tosse, dispneia, falta de
apetite, emagrecimento e dor abdominal.
Uma situação mais grave é o acometimento do sistema nervoso,
que pode ocorrer pela migração da larva ou mesmo pela formação de granulomas de eosinófilos (células de defesa) no local. Sintomas como ataques
epilépticos e encefalites podem ocorrer.
13.3.6 Diagnóstico
O diagnóstico é definido em conjunto com as informações clínicas,
epidemiológicas e também exames sorológicos.
13.3.7 Tratamento
Geralmente, a infecção é autolimitante, não necessitando de
tratamento adicional. Em casos mais graves, para a Larva migrans visceral, recomenda-se o uso de um anti-helmíntico, ou mais popularmente falando, um vermífugo, e anti-inflamatórios, dependendo do quadro clínico.
Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas
99
e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes
13.3.8 Características epidemiológicas
Possui distribuição mundial, com maior frequência em países das
Américas, África e Ásia.
13.4 Larva migrans ocular (LMO)
13.4.1 Agente etiológico
Toxocara canis e catti
13.4.2 Hospedeiros e reservatórios
Cães e gatos, como hospedeiros definitivos, e o homem, como hospedeiro acidental.
13.4.3 Modo de transmissão
Semelhante à transmissão da Larva migrans visceral, sendo que o
órgão de instalação da infecção é o olho.
13.4.4 Período de incubação
Variável de acordo com sistema imunológico do indivíduo acometido.
Quando falamos em
uma infecção ocular
unilateral, estamos
dizendo que a infecção
atingiu apenas um olho.
13.4.5 Quadro clínico
A infecção é, normalmente, unilateral, e depende do local de infecção e da atividade larval. A gravidade está ligada com o número de larvas
no olho e a imunidade do hospedeiro. Possivelmente, as lesões são devidas
às reações alérgicas ou tóxicas das larvas. Com a morte da larva, formam-se
granulomas. Alguns sintomas que podem ser observados são: descolamento
de retina, estrabismo, inflamação da úvea e coriorretinite.
13.4.6 Diagnóstico
O diagnóstico da LMO é complicado, pois apenas a biópsia da lesão
pode levar a um diagnóstico confirmatório, que é a identificação da larva.
Neste caso, o histórico do paciente pode ajudar muito, principalmente a
descrição dos seus hábitos alimentares e contato com cães e gatos. Existe a
possibilidade também de investigação por técnicas sorológicas, como já visto
em outras patologias.
e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes
100
Vigilância em Saúde
13.4.7 Tratamento
Para a Larva migrans ocular, como os vermífugos não conseguem
atuar de forma satisfatória no olho, o melhor é utilizar anti-inflamatórios,
como corticoides, para diminuir lesões como a coriorretinite.
13.4.8 Características epidemiológicas
A incidência da LMO não está muito bem definida, no entanto, muitos autores descrevem que o maior número de casos ocorre em crianças com
média de sete anos, e que 80% dos casos atingem pessoas com menos de 16
anos de idade.
13.5 Vigilância Epidemiológica das doenças causadas pela Larva migrans
No Brasil, a Larva migrans é uma doença subdiagnosticada, sem
dados concretos de incidência e prevalência. Não existe um programa governamental específico para a Vigilância Epidemiológica desta enfermidade.
13.6 Medidas de prevenção e controle
Como vocês podem perceber, estudantes, a infecção por essas larvas dá-se principalmente em locais onde há grande fluxo de cães e gatos,
como praias, parques e praças públicas. Portanto, siga as duas instruções
dadas a seguir.
• Evite que crianças brinquem em caixas de areia e terra, entrando em contato direto com larvas infectantes de nematoides.
• Ingerir ou levar à boca objetos contaminados com ovos de Toxocara é outro grande risco para as crianças.
Vale ressaltar que grande parte dos casos registrados de LMV ocorreu em crianças com idade média de 2 anos. Já os casos de LMO ocorreram
em crianças com idade superior a sete anos e em adultos, com história de
geofagia e/ou exposição a fezes de cães e gatos.
A conscientização da população e, principalmente, dos proprietários de cães sobre o real problema que representa esta parasitose é uma
medida muito importante. Outras medidas profiláticas importantes são as
descritas a seguir.
• Exame de fezes periódicos dos cães e gatos e tratamento dos
mesmos com anti-helmínticos (vermífugos) de largo espectro.
• Evitar acesso desses animais a locais públicos (praças, praias,
parques infantis).
• Reduzir as populações de cães e gatos vadios, que representam
as mais altas cargas parasitárias.
Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas
101
Doenças
subdiagnosticas :
são aquelas doenças
que possuem uma
incidência superior
aos valores notificados
pelos órgãos de saúde.
Geofagia:
é uma prática de
comer substâncias
terrestres (como argila);
frequentemente,
é praticada para
melhorar uma nutrição
deficiente em minerais.
É mais frequente em
sociedades rurais ou
pré-industriais e em
mulheres grávidas,
podendo ocorrer
também em crianças,
como um distúrbio
psicológico na
alimentação.
e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes
Muitos trabalhos já foram realizados em todo o Brasil para
investigar a prevalência de Toxocara canis e Ancylostoma sp. em áreas
públicas das cidades. Os achados demonstram um volume incrível de
contaminação do solo. Por exemplo, a ocorrência de ovos de Toxocara
sp. e ovos e larvas de Ancylostoma sp. na cidade de Lavras foi de 69,6%
(16/23) das amostras de solo coletadas nas praças públicas (Guimarães
et al., 2005). Em Itapema, Santa Catarina, foram estudadas amostras
fecais de cães apreendidos em logradouros públicos, pela vigilância
sanitária. Encontraram aproximadamente 80% de amostras positivas
(121/158) com uma prevalência maior para Ancylostoma sp. (70,9%),
seguida por Toxocara canis (14,5%) (Blauzius et al., 2005). No Estado
do Rio Grande do Sul, na cidade de Santa Maria, pesquisou-se o grau
de contaminação do solo para ovos de Ancylostoma sp., em 30 praças
públicas da cidade e encontrou-se 93,3 % de praças contaminadas, nas
respectivas zonas trabalhadas (Côrrea et al., 1996)! Em São Paulo, na
praia Grande, avaliou-se o grau de contaminação dos canteiros da orla
e 45,9% das amostras analisadas estavam contaminadas por Ancylostoma sp. em amostras de fezes de cães. Avaliou-se a contaminação dos
canteiros (utilizados par cães para defecar) na orla marítima de Praia
Grande (São Paulo) quanto a contaminação por ovos de Ancylostoma
e Toxocara. Do total das amostras analisadas, 45,9% estavam contaminadas por ovos de Ancylostoma e 1,2% com ovos de Toxocara (Castro,
et al., 2005). Em Campo Grande (Mato Grosso do Sul), 74 praças foram
pesquisadas e destas 42(56,8%) estavam com o solo contaminado por
ovos de Ancylostoma, 8 (10,8%) com ovos de Toxocara e 7 (9,5%) com
ambos (Araújo et al., 1999). Como podem perceber, este é realmente
um problema de saúde pública e todos nós somos responsáveis por
manter o ambiente mais limpo e saudável. Uma boa forma de começarmos é cuidando bem dos nossos cães e gatos!
Resumo
A doença causada por Larva migrans apresenta vários tipos de
manifestações clínicas, que dependem da espécie causadora e do local
de instalação das mesmas. Todas as larvas são oriundas de vermes da
família Nematoda ou da família Ascarididae. Os principais reservatórios
são gatos e cães que eliminam as larvas pelas fezes. Quando as larvas
penetram na pele, a doença é chamada Larva migrans cutânea (LMC); se o
acometimento é nas vísceras, denomina-se Larva migrans visceral (LMV);
e quando as larvas acometem os olhos, é denominada Larva migrans ocular (LMO). A ocorrência de LMC, LMV e LMO está intimamente ligada ao
status socioeconômico de um país; quanto mais pobre, mais frequente.
As formas de prevenção e controle baseiam-se em não ingerir ou levar à
boca objetos contaminados com a larva, evitar contato com areia e terra
contaminados, vermifugar cães e gatos, e evitar o acesso destes animais
em locais públicos.
e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes
102
Vigilância em Saúde
Atividades de aprendizagem
1. Quais são os três tipos trabalhados de infecção por Larva migrans?
2. Quais são os agentes etiológicos envolvidos em cada uma dessas infecções?
3. Leia com atenção as alternativas a seguir. Marque a alternativa correta, de
acordo com as sentenças dadas, em relação à Larva migrans.
I. Se, acidentalmente, a LMC infecta o homem através da pele, ela, por um
período de tempo, fica “andando” pela pele, deixando um rastro sinuoso
e característico. Como o homem não é o hospedeiro específico, depois
de um tempo, a larva morre.
II. As áreas mais comuns que as larvas LMC atingem são aquelas que possuem maior contato com o solo, como pés, pernas, nádegas, mãos e
braços. Mais raramente, lábios, boca e palato.
III. No momento da infecção por LMC, pode aparecer prurido e eritema inicial, ou mesmo a infecção passar despercebida. As larvas deixam um
rastro pruriginoso e saliente, que pode levar a infecções secundárias, devido ao grande prurido da região, depois de algum tempo, desaparecem.
IV. Frequentemente, a infecção é de longa duração, e a aplicação de medicamentos é necessária. Em casos graves, recomenda-se a utilização de
vermífugos, como albendazol ou tiobendazol, em forma de pomada ou
comprimidos.
a.
b.
c.
d.
e.
Todas as alternativas estão corretas.
I e II estão corretas.
Somente a alternativa IV está incorreta.
I e IV estão corretas.
Todas as alternativas estão incorretas.
Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas
103
e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes
AULA 1
Alfabetização Digital
Aula 14 – Hidatidose
Objetivos
• Conhecer o agente etiológico mais frequente na área urbana e
periurbana (Echinococcus granulosus).
• Conhecer os hospedeiros.
• Conhecer o ciclo de transmissão e as medidas de controle e
prevenção.
14.1 Introdução
A hidatidose, também conhecida por seus cistos hidáticos, é uma
antrozoonose de distribuição cosmopolita. O micro-organismo que causa
a hidatidose é composto por três fases de desenvolvimento: parasito adulto, presente no intestino dos hospedeiros, ovos eliminados no ambiente e
a forma larval, conhecida como cisto hidático ou hidátide, presente nas
vísceras dos hospedeiros intermediários.
14.2 Agente etiológico
Os agentes etiológicos da hidatiose são micro-organismos pertencentes ao gênero Echinococcus, filo Plathyhelminthes, classe Cestoda.
Existem algumas espécies deste gênero que estão envolvidas no surgimento da hidatidose. São elas: Echinococcus granulosus (Figura 38), Echinococcus multiloculares, Echinococcus vogeli, Echinococcus oligarthus.
Figura 38: Echinococcus granulosus.
Fonte: Disponível em: <http://phil.cdc.gov/phil/details.asp>. Acesso em 10/10/2011.
Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas
105
e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes
14.3 Hospedeiros e reservatórios
Para cada espécie anteriormente citada, tem-se um hospedeiro definitivo e outros hospedeiros intermediários. Observe o Quadro 1.
Quadro 1
Relação entre os agentes etiológicos da hidatidose com
seus hospedeiros intermediários e definitivos
Agentes etiológicos da
hidatidose
Hospedeiros intermediários
Hospedeiros
definitivos
Echinococcus granulosus
Ovinos, bovinos, suínos,
caprinos, cervídeos, camelídeos e o homem.
Cães domésticos e
selvagens.
Echinococcus multilocularis
Pequenos roedores e o
homem.
Raposa
Echinococcus vogeli
Algumas espécies de roedores e o homem.
Carnívoros selvagens.
Echinococcus oligarthus
Alguns roedores e o homem.
Gatos silvestres.
14.4 Modo de transmissão
14.4.1 Infecção nos hospedeiros definitivos
Os cães, que são os hospedeiros definitivos, eliminam os ovos nas
fezes, contaminando o ambiente. Esses ovos são infectantes e ficam viáveis
por meses, em locais úmidos e com sombreamento. A infecção no hospedeiro definitivo dá-se pela ingestão de vísceras de outros animais com o cisto
hidático que, quando chega ao intestino, fixa-se na mucosa intestinal. O interessante é que o parasita possui uma limitação: vive por alguns meses e,
se não houver reinfecção, o cão ficará curado.
14.4.2 Infecção nos hospedeiros intermediários
Os cães eliminam seus ovos nas fezes, contaminam o meio ambiente, a água e os alimentos. Quando seus ovos são ingeridos pelo hospedeiro intermediário, eles liberam, dentro do organismo deste hospedeiro,
a forma oncosfera, que consegue aderir na parede do intestino e que,
posteriormente, passa, através da circulação, para o fígado e para os
pulmões. Depois de um tempo, torna-se cisto hidático, que amadurece e
fica por anos no hospedeiro intermediário. O homem adquire a infecção
principalmente na infância, pelo contato mais íntimo e descuidado com
os cães de estimação.
e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes
106
Vigilância em Saúde
14.5 Período de incubação
A evolução dos cistos é lenta, podendo levar anos ou mesmo passar
despercebida pelo hospedeiro, dependendo do órgão atingido.
14.6 Quadro clínico
O quadro clínico está diretamente ligado ao órgão afetado, tamanho e número de cistos. Pode variar de assintomático até um quadro mais
grave, com lesões no sistema nervosos.
Hidatidose no fígado: é o local mais frequente de instalação do
cisto. Distúrbios gástricos são comuns e podem causar sintomas como: icterícia (pele amarela) e ascite (aumento do volume abdominal causado pelo
acúmulo de líquido, popularmente conhecido como barriga d’água). Caso o
cisto se rompa, poderá formar cistos filhos em outros órgãos do hospedeiro.
Hidatidose pulmonar: o pulmão é o segundo órgão de eleição para a
instalação do cisto. Este pode atingir grandes dimensões, dificultando a respiração. Sintomas como cansaço ao esforço e tosse são comuns (Figura 39).
Hidatidose cerebral: rara; o cisto cresce de forma rápida e os sinais neurológicos vão depender do local da instalação.
Hidatidose óssea: também rara. Normalmente, de curso crônico;
sua percepção dá-se, muitas vezes, devido à ruptura do osso, em casos extremos.
Independente do local de instalação, a hidatidose pode causar reação inflamatória local ou alérgica.
Figura 39: Cistos hidáticos extraídos de um pulmão humano.
Fonte: Disponível em: <http://phil.cdc.gov/phil/details.asp>. Acesso em 10/10/2011.
Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas
107
e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes
14.7 Diagnóstico
Como geralmente é assintomática, a investigação deve unir, além
de sintomatologia clínica, aspectos epidemiológicos e exames laboratoriais.
Os sinais clínicos, quando presentes, são a observação dos cistos, quando
palpáveis. Exames sorológicos também podem ser feitos, além de diagnósticos por imagem, como RX, ultrassom e tomografia.
Nos cães, hospedeiros definitivos, o exame de fezes não é efetivo.
Na maioria das vezes, observa-se o parasita íntegro, eliminado depois da
ingestão de medicamento específico ou no exame post-mortem do animal.
Para os animais de produção, como suínos, caprinos e bovinos, os
cistos podem ser evidenciados no exame post-mortem das carcaças.
14.8 Tratamento
O tratamento, no homem, baseia-se em ingestão de vermífugos específicos, como primeira escolha, retirada do cisto mediante cirurgia (quando os cistos estão grandes, mas em locais de fácil acesso) ou aspiração do
cisto, em casos extremos.
O tratamento em cães é feito pela aplicação de vermífugo específico e incineração das fezes durante o tratamento, para evitar a contaminação
do ambiente.
14.9 Características epidemiológicas
Está presente em todos os continentes. É uma doença tipicamente
rural, periurbana. Em países com a tradição de criação de carneiros e utilização de cães pastores, a infecção é mais frequente. No Brasil, a maior concentração de casos é no Rio Grande do Sul, que possui hábitos facilitadores
para a dispersão do verme, como alimentar os cães com vísceras cruas de
carneiros abatidos e não vermifugar seus cães. Casos isolados em outras regiões do Brasil já foram relatados, e estão, muitas vezes, ligados à migração
de gaúchos ou à ingestão de carnes produzidas na região Sul do país.
14.10 Vigilância Epidemiológica
As medidas de Vigilância baseiam-se na educação em saúde da população, principalmente das áreas endêmicas. A aplicação das medidas profiláticas é um caminho efetivo para o controle desta doença.
14.11 Medidas de prevenção e controle
• Vermifugar regularmente os cães das propriedades rurais.
• Evitar o consumo, por estes cães, de vísceras cruas de outros
animais.
e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes
108
Vigilância em Saúde
• Intensificar a inspeção sanitária por veterinários nos abatedouros.
• Educação sanitária da população.
• Controle sanitário na comercialização do rebanho.
Resumo
A hidatidose é uma doença de distribuição mundial. O principal
agente etiológico envolvido é o Echinococcus granulosus. Os hospedeiros
principais são os canídeos domésticos e silvestres. O homem contamina-se
através dos ovos eliminados nas fezes dos hospedeiros principais. Formam-se cistos que, com o tempo, amadurecem e se tornam cistos hidáticos. O
quadro clínico está diretamente vinculado ao órgão afetado, ao tamanho e
número do cisto. A hidatidose é uma doença tipicamente rural, com maior
prevalência no Sul do Brasil. A melhor forma de controle é a vacinação dos
cães e evitar alimentar estes animais com vísceras de outros animais contaminados. A educação em saúde é também uma forma muito importante de
prevenção da hidatidose.
Atividades de aprendizagem
1. Elabore, mediante o aprendizado desta aula, um folheto educativo com
informações gerais sobre a hidatidose, modo de transmissão, diagnóstico e,
principalmente, as medidas de prevenção e controle destinadas ao produtor
rural. Para elaborar este folheto, vocês precisam procurar outras fontes de
informação além desta aula.
2. Descreva o ciclo da hidatidose no hospedeiro intermediário e no hospedeiro definitivo.
3. Quais são as principais formas clínicas da hidatidose?
Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas
109
e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes
Referências
ARAÚJO, F.R., CROCCI, A. J., RODRIGUES, R..G.C., AVALHAES, J.S., MIYOSHI,
M. I., SALGADO, F.P., SILVA,M.A., PEREIRA, M. L. Contaminação de praças
públicas de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, Brasil, por ovos de Toxocara
e Ancylostoma em fezes de cães. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, v.32, n.5, p.581-583, 1999.
BLACK, Jacquelyn G. Microbiologia: fundamentos e perspectivas. 4° ed. Rio
de Janeiro: Guanabara Koogan, 2002.
BLAZIUS, R. D.,EMERICK, S., PROPHIRO, J. S.,ROMÃO,P. R. T. SILVA, O.S.
Ocorrência de protozoários e helmintos em amostras de fezes de cães
errantes da Cidade de Itapema, Santa Catarina. Revista da Sociedade
Brasileira de Medicina Tropical, v.38,n.1, p.73-74, 2005.
Boletim eletrônico epidemiológico. Hantavirose. Disponível em http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/gve_7ed_web_atual_hantaviroses.pdf
Acesso em 20 de setembro de 2011.
Boletim eletrônico epidemiológico. Surto intra-familiar de toxoplasmose,
Santa Vitória do Palmar/RS. Ano 06, n.3, 2006. Disponível em WWW.portal.saúde.gov.br. Acesso em 20 de setembro de 2011.
Boletim eletrônico epidemiológico. Surto de toxoplasmose adquirida,
Anápolis/GO, ano 07, n.8, 2006. Disponível em WWW.portal.saúde.gov.br.
Acesso em 20 de setembro de 2011.
BRASIL, Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento, Secretaria de
Defesa Agropecuária, Programa nacional de controle e erradicação da brucelose e da tuberculose animal- PNCEBT, Brasília, 2006.
______. Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Doenças
infecciosas e parasitárias, Brasília, 2008.
______. Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Guia de
Leptospirose: Diagnóstico e manejo Clínico, 2009.
______. Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde. Manual de recomendações para o controle da tuberculose no Brasil: Brasília,
2010.
______. Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde. Normas
técnicas de profilaxia da raiva humana, Brasília, 2011.
______. Secretaria de vigilância em saúde. Surto intrafamiliar de oxoplasmose, Santa Vitória do Palmar-RS, Julho 2005. Bolem eletrônico epidemiológico. Disponível em: <http//www.saude.gov.br/svs>. Acesso em: 11.08.2011.
e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes
110
Vigilância em Saúde
CASTRO, J.M., SANTOS, S.V., MONTEIRO, N.A.Contaminação de canteiros
da orla marítima do município de Praia Grande, São Paulo, por ovos de
Ancylostoma e Toxocara em fezes de cães. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, v.38, n.2,p.199-201, 2005.
CÔRREA, G.L.B., MOREIRA, W.S. Contaminação do solo por ovos de
Ancylostoma spp. em praças públicas, na cidade de Santa Maria, R.S.
Revista da FZVA,Uruguaiana, v. 2/3, n. 1, p.18-23. 1995/1996.
Doenças infecciosas e parasitárias - aspectos clínicos, vigilância epidemiologia e medidas de controle. 2ª. Ed., Ministério da Saúde, 2000.
GUIMARAES, A.M., ALVES, E. G. L., REZENDE, G. F., RODRIGUES, M. C.
Ovos de Toxocara sp. e larvas de Ancylostoma sp. em praça pública de
Lavras, MG. Rev. Saúde Pública, v.39, n.2, p. 293-295, 2005.
MAHY, B.W. J. e Murphy, F.A. Emergence and reemergence of viral infections, Topley and Wilson’s Microbiology and Microbial Infections, vol. 1, p.
1011-1025,1998.
NEVES, D. P.; Melo, A. L.; Linardi, P. M.; Vitor, R.W.A. Parasitologia humana. Ed. Atheneu, 11a ed., 2005, 495 p.
PERUCA, L.C.B.; Langoni, H.; Lucheis, S.B. Larva migrans visceral e cutânea como zoonoses: revisão de literatura. Veterinária e Zootecnia, v.16,
n.4, p.601-616, 2009.
PESSEGUEIRO P., BARATA C.,CORREIA J., “Brucelose – uma revisão sistematizada”, Artigo de revisão in Medicina Interna Vol. 10, N. 2, 2003.
REY, L. Bases da Parasitologia. Ed. Guanabara Koogan, 2a ed, 2002. 349 p.
SCLIAR, M. História do conceito de saúde. Physis, Rio de Janeiro, v. 17, n.
1, p. 29-41, abr. 2007.
Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas
111
e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes
Currículos do professores conteudistas
Andreza Pain Marcelino
Sou veterinária e me graduei em 2003 pela Universidade Federal de
Uberlândia. Tenho mestrado em Epidemiologia, pela Escola de Veterinária
da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), e doutorado em Ciência
Animal, na área de Medicina Veterinária Preventiva, também pela mesma
instituição, onde desenvolvi trabalhos relacionados à leishmaniose visceral.
Atualmente, coordeno o Serviço de Doenças Parasitárias, pertencente ao
Laboratório de Saúde Pública de Minas Gerais, integrante da Fundação Ezequiel Dias. O laboratório realiza o diagnóstico de toxoplasmose congênita, é
referência estadual para o diagnóstico da malária e referência nacional para
a doença de Chagas e as leishmanioses. A missão da instituição é “participar da construção do Sistema Único de Saúde, protegendo e promovendo a
saúde”.
Bárbara Nobre Lafetá
Sou bióloga graduada pela Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES), mestre em Medicina Veterinária Preventiva e doutora em
Ciência Animal, ambos pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Atuo como tutora no curso médico da SOEBRÁS/FUNORTE, em Montes Claros,
e como professora formadora no curso de Biologia da Universidade Aberta
do Brasil (UAB).
e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes
112
Vigilância em Saúde
e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes
Escola Técnica Aberta do Brasil
e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes
114
Vigilância em Saúde
Download