e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes Escola Técnica Aberta do Brasil Vigilância em Saúde Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas Andreza Pain Marcelino Bárbara Nobre Lafetá Ministério da Educação e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes Escola Técnica Aberta do Brasil Vigilância em Saúde Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas Andreza Pain Marcelino Bárbara Nobre Lafetá Montes Claros - MG 2011 Presidência da República Federativa do Brasil Ministério da Educação Secretaria de Educação a Distância Ministro da Educação Fernando Haddad Secretário de Educação a Distância Carlos Eduardo Bielschowsky Coordenadora Geral do e-Tec Brasil Iracy de Almeida Gallo Ritzmann Governador do Estado de Minas Gerais Antônio Augusto Junho Anastasia Secretário de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior Alberto Duque Portugal Reitor João dos Reis Canela Vice-Reitora Maria Ivete Soares de Almeida Pró-Reitora de Ensino Anete Marília Pereira Diretor de Documentação e Informações Huagner Cardoso da Silva Coordenador do Ensino Profissionalizante Edson Crisóstomo dos Santos Diretor do Centro de Educação Profissonal e Tecnólogica - CEPT Maísa Tavares de Souza Leite Coordenadores de Cursos: Coordenador do Curso Técnico em Agronegócio Augusto Guilherme Dias Coordenador do Curso Técnico em Comércio Carlos Alberto Meira Coordenador do Curso Técnico em Meio Ambiente Edna Helenice Almeida Coordenador do Curso Técnico em Informática Frederico Bida de Oliveira Coordenador do Curso Técnico em Vigilância em Saúde Simária de Jesus Soares Coordenador do Curso Técnico em Gestão em Saúde Zaida Ângela Marinho de Paiva Crispim DOENÇAS PARASITÁRIAS, VIRÓTICAS E BACTERIANAS e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes Elaboração Andreza Pain Marcelino Bárbara Nobre Lafetá Projeto Gráfico e-Tec/MEC Supervisão Wendell Brito Mineiro Diagramação Hugo Daniel Duarte Silva Marcos Aurélio de Almeida e Maia Diretor do Centro de Educação à Distância - CEAD Jânio Marques Dias Impressão Gráfica RB Digital Coordenadora do e-Tec Brasil/Unimontes Rita Tavares de Mello Designer Instrucional Angélica de Souza Coimbra Franco Kátia Vanelli Leonardo Guedes Oliveira Coordenadora Adjunta do e-Tec Brasil/ CEMF/Unimontes Eliana Soares Barbosa Santos Revisão Maria Ieda Almeida Muniz Patrícia Goulart Tondineli Rita de Cássia Silva Dionísio AULA 1 Alfabetização Digital Apresentação e-Tec Brasil/Unimontes Prezado estudante, Bem-vindo ao e-Tec Brasil/Unimontes! Você faz parte de uma rede nacional pública de ensino, a Escola Técnica Aberta do Brasil, instituída pelo Decreto nº 6.301, de 12 de dezembro 2007, com o objetivo de democratizar o acesso ao ensino técnico público, na modalidade a distância. O programa é resultado de uma parceria entre o Ministério da Educação, por meio das Secretarias de Educação a Distancia (SEED) e de Educação Profissional e Tecnológica (SETEC), as universidades e escola técnicas estaduais e federais. A educação a distância no nosso país, de dimensões continentais e grande diversidade regional e cultural, longe de distanciar, aproxima as pessoas ao garantir acesso à educação de qualidade, e promover o fortalecimento da formação de jovens moradores de regiões distantes, geograficamente ou economicamente, dos grandes centros. O e-Tec Brasil/Unimontes leva os cursos técnicos a locais distantes das instituições de ensino e para a periferia das grandes cidades, incentivando os jovens a concluir o ensino médio. Os cursos são ofertados pelas instituições públicas de ensino e o atendimento ao estudante é realizado em escolas-polo integrantes das redes públicas municipais e estaduais. O Ministério da Educação, as instituições públicas de ensino técnico, seus servidores técnicos e professores acreditam que uma educação profissional qualificada – integradora do ensino médio e educação técnica, – não só é capaz de promover o cidadão com capacidades para produzir, mas também com autonomia diante das diferentes dimensões da realidade: cultural, social, familiar, esportiva, política e ética. Nós acreditamos em você! Desejamos sucesso na sua formação profissional! Ministério da Educação Janeiro de 2010 Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas 3 e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes AULA 1 Alfabetização Digital Indicação de ícones Os ícones são elementos gráficos utilizados para ampliar as formas de linguagem e facilitar a organização e a leitura hipertextual. Atenção: indica pontos de maior relevância no texto. Saiba mais: oferece novas informações que enriquecem o assunto ou “curiosidades” e notícias recentes relacionadas ao tema estudado. Glossário: indica a definição de um termo, palavra ou expressão utilizada no texto. Mídias integradas: possibilita que os estudantes desenvolvam atividades empregando diferentes mídias: vídeos, filmes, jornais, ambiente AVEA e outras. Atividades de aprendizagem: apresenta atividades em diferentes níveis de aprendizagem para que o estudante possa realizá-las e conferir o seu domínio do tema estudado. Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas 5 e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes AULA 1 Alfabetização Digital Sumário Palavra do professor conteudista............................................ 11 Projeto instrucional............................................................ 13 Aula 1 - Conceito de saúde e doença........................................ 17 1.1 Introdução............................................................. 17 1.2 História do conceito de saúde..................................... 17 1.3 Conceito de saúde-doença atual................................... 19 1.4 Conceito de zoonoses............................................... 19 1.5 Classificação da zoonses............................................ 20 Resumo.................................................................... 21 Atividades de aprendizagem............................................ 22 Aula 2 – Zoonoses virais....................................................... 23 2.1 Introdução aos vírus................................................. 23 2.2 Estrutura viral........................................................ 23 Resumo.................................................................... 25 Atividades de aprendizagem............................................ 25 Aula 3 - Raiva................................................................... 27 3.1 Introdução............................................................ 27 3.2 Agente etiológico.................................................... 27 3.3 Hospedeiros e reservatórios ....................................... 27 3.4 Modos de transmissão............................................... 29 3.5 Período de incubação............................................... 29 3.6 Quadro clínico........................................................ 30 3.7 Diagnóstico........................................................... 31 3.8 Tratamento........................................................... 32 3.9 Características epidemiológicas................................... 32 3.10 Vigilância Epidemiológica.......................................... 33 3.11 Medidas de prevenção e controle................................ 33 Resumo.................................................................... 35 Atividades de aprendizagem............................................ 35 Aula 4 - Hantavirose........................................................... 37 4.1 Introdução............................................................ 37 4.2 Agente etiológico.................................................... 37 4.3 Hospedeiros e reservatórios ....................................... 38 4.4. Modos de transmissão.............................................. 39 4.5 Período de incubação............................................... 39 4.6 Quadro clínico........................................................ 39 4.7 Diagnóstico........................................................... 40 4.8 Tratamento........................................................... 40 4.9 Características epidemiológicas................................... 40 Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas 7 e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes 4.10 Vigilância Epidemiológica.......................................... 40 4.11 Medidas de controle................................................ 41 Resumo.................................................................... 41 Atividades de aprendizagem............................................ 42 Aula 5 – Zoonoses bacterianas................................................ 43 5.1 Introdução............................................................ 43 5.2 Estrutura bacteriana................................................ 44 Resumo.................................................................... 45 Atividades de aprendizagem............................................ 46 Aula 6 - Brucelose.............................................................. 47 6.1 Introdução............................................................ 47 6.2 Agente etiológico.................................................... 47 6.3 Hospedeiros e reservatórios........................................ 48 6.4 Modos de transmissão............................................... 48 6.5 Período de incubação............................................... 48 6.6 Quadro clínico........................................................ 48 6.7 Diagnóstico........................................................... 49 6.8 Tratamento........................................................... 49 6.9 Características epidemiológicas ................................... 49 6.10 Vigilância Epidemiológica.......................................... 49 6.11 Medidas de controle................................................ 50 Resumo.................................................................... 50 Atividades de aprendizagem............................................ 51 Aula 7 – Tuberculose........................................................... 53 7.1 Introdução............................................................. 53 7.2 Agente etiológico.................................................... 53 7.3 Hospedeiros e reservatórios........................................ 54 7.4 Modo de transmissão ................................................ 54 7.5 Período de incubação............................................... 55 7.6 Quadro clínico........................................................ 55 7.7 Diagnóstico............................................................ 56 7.8 Tratamento ........................................................... 56 7.9 Características epidemiológicas.................................... 56 7.10 Vigilância Epidemiológica.......................................... 57 7.11 Medidas de controle ............................................... 58 Resumo.................................................................... 58 Atividades de aprendizagem............................................ 59 Aula 8 - Leptospirose.......................................................... 61 8.1 Introdução............................................................ 61 8.2 Agente etiológico.................................................... 61 8.3 Hospedeiros e reservatórios........................................ 62 8.4 Modos de transmissão............................................... 62 8.5 Período de incubação............................................... 64 8.6 Quadro clínico........................................................ 64 8.7 Diagnóstico........................................................... 65 e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes 8 Vigilância em Saúde 8.8 Tratamento........................................................... 66 8.9 Características epidemiológicas................................... 66 8.10 Vigilância Epidemiológica.......................................... 66 8.11 Medidas de controle................................................ 67 Resumo.................................................................... 68 Atividades de aprendizagem............................................ 68 Aula 9 – Zoonoses parasitárias................................................ 69 9.1 Introdução............................................................. 69 Resumo.................................................................... 73 Atividades de aprendizagem............................................ 74 Aula 10- Protozoários.......................................................... 75 10.1 Introdução........................................................... 75 10.2 Estrutura dos protozoários........................................ 77 Resumo.................................................................... 81 Atividades de aprendizagem............................................ 81 Aula 11-Toxoplasmose.......................................................... 83 11.1 Introdução........................................................... 83 11.2 Agente etiológico................................................... 83 11.3 Hospedeiros e reservatórios....................................... 84 11.4 Modo de transmissão............................................... 84 11.5 Período de incubação.............................................. 85 11.6 Quadro clínico....................................................... 85 11.8 Tratamento.......................................................... 88 11.9 Características epidemiológicas.................................. 88 11.10 Vigilância Epidemiológica......................................... 88 11.11 Medidas de prevenção e controle............................... 89 Resumo.................................................................... 89 Atividades de aprendizagem............................................ 90 Aula 12 - Helmintos............................................................ 91 12.1 Introdução........................................................... 91 12.2 Filo nematoda....................................................... 91 12.3 Filo platyhelminthes............................................... 93 Resumo.................................................................... 94 Atividades de aprendizagem............................................ 94 AULA 13 - Doenças causadas pela larva migrans.......................... 95 13.1 Introdução........................................................... 95 13.2 Larva migrans cutânea (LMC).................................... 96 13.3 Larva migrans visceral (LMV)..................................... 98 13.4 Larva migrans ocular (LMO) .....................................100 13.5 Vigilância Epidemiológica das doenças causadas pela Larva mi. grans...................................................................... 101 13.6 Medidas de prevenção e controle............................... 101 Resumo...................................................................102 Atividades de aprendizagem........................................... 103 Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas 9 e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes Aula 14 – Hidatidose.......................................................... 105 14.1 Introdução..........................................................105 14.2 Agente etiológico.................................................. 105 14.3 Hospedeiros e reservatórios.....................................106 14.4 Modo de transmissão..............................................106 14.5 Período de incubação............................................. 107 14.6 Quadro clínico...................................................... 107 14.7 Diagnóstico.........................................................108 14.8 Tratamento.........................................................108 14.9 Características epidemiológicas.................................108 14.10 Vigilância Epidemiológica.......................................108 14.11 Medidas de prevenção e controle..............................108 Resumo...................................................................109 Atividades de aprendizagem...........................................109 Referências .................................................................... 110 Currículos do professores conteudistas.................................... 112 e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes 10 Vigilância em Saúde AULA 1 Alfabetização Digital Palavra dos professores conteudistas Prezados estudantes, sejam bem-vindos à disciplina Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas! Nesta disciplina, vocês terão a oportunidade de conhecer algumas das zoonoses mais importantes do mundo e do nosso país. E por que uma zoonose pode ser considerada mais importante do que outras? Pois bem, selecionar as zoonoses que serão estudas foi o nosso primeiro desafio. Escolhemos as zoonoses não vetoriais prevalentes no Brasil para trabalharmos com vocês, já que não seria possível falar de todas elas. Pesquisamos as bases de informação do Ministério da Saúde para fazermos as nossas escolhas. E como o Ministério da Saúde faz as suas escolhas? É claro que as doenças que acometem o maior número de pessoas e que apresentem maior risco em saúde devem ter preferência, certo? Pois então, é justamente com essas enfermidades que trabalharemos. Outra informação importante que vocês devem sempre ter em mente é que o nosso espaço e o nosso tempo são reduzidos para falarmos de tudo sobre cada doença. Por isso, há uma infinidade de informações interessantes que não coube falar aqui, a exemplo, posso citar alguns esquemas de vacinação. E como vocês devem proceder diante disto? Sendo indivíduos pró-ativos e buscando essas informações nas mídias integradas. O nosso material didático está repleto de ícones que lhes levarão a outros materiais didáticos com um número enorme de informações. É interessante que vocês se esforcem e leiam mais e mais informações. A formação de cada um de vocês depende, em grande parte, do esforço individual. Espero que vocês sejam estudantes participativos, que aprendam a aprender com muita leitura e muito interesse pelo nosso conteúdo. Espero também que vocês comecem, desde já, a serem criteriosos com o que leem, que observem as datas das publicações e questionem se há algo mais recente, algo melhor. Espero que entendam a necessidade de se começar pelo básico para conseguirem compreender as informações mais complexas. Enfim, espero de vocês dedicação! Quanto a nós, conteudistas, esforçamo-nos para produzir um bom material. Espero que gostem. Fizemos este material didático tentando passar as informações de forma a facilitar a compreensão. Na introdução de cada doença, colocamos informações que se referem ao risco em saúde, falamos um pouco do agente etiológico e demos sequência expondo como ele é transmitido; e por aí fomos contando cada “história”. Como cada assunto é mesmo uma “história”, é importante que vocês leiam aula por aula na sequência proposta, para que possam compreender a “narrativa” sem que se percam pelo caminho. E, caso se percam, busquem ajuda. O professor formador tem o papel de lhes ajudar a entender e de lhes guiar por todas essas “histórias”. É isto, pessoal! Desejamos-lhes boa sorte nos estudos e na futura profissão! Com carinho. Andreza Pain Marcelino e Bárbara Nobre Lafetá. Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas 11 e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes AULA 1 Alfabetização Digital Projeto instrucional Disciplina: Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas (carga horária: 60 h). Ementa: Conceitos de saúde e doença; mecanismos de transmissão; organização do sistema de saúde no Brasil; quadro sanitário e demográfico brasileiro; importância das variáveis demográficas e sociais; indicadores sociais; risco em saúde; saúde e trabalho; Vigilância Epidemiológica; Vigilância Sanitária; fundamentos de saúde pública. AULA 1. Conceito de saúde e doença • • • • • • 2. Zoonoses virais • • • • • • 3. Raiva MATERIAIS CARGA HORÁRIA Conhecer o conceito de saúde estabelecido pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e compreendendo por que ele é considerado ultrapassado. Conhecer o conceito de zoonoses estabelecido pela OMS. Aprender a classificação das zoonoses. Conhecer o conceito de endêmico. Conhecer o conceito de epidêmico. Conhecer o conceito de patógenos humanos emergentes. Caderno didático 4h Saber por que os vírus são micro-organismos intracelulares obrigatórios. Conhecer as estruturas que fazem parte de vírus. Saber a diferença entre vírus nus e vírus envelopados. Conhecer o conceito de hospedeiro. Conhecer o conceito de parasita. Conhecer o conceito de agente infeccioso. Caderno didático 2h Saber o risco em saúde oferecido pela raiva. Conhecer o agente etiológico da raiva e seus reservatórios. Conhecer os ciclos de transmissão da raiva. Conhecer os principais sintomas da raiva. Conhecer as características epidemiológicas da raiva. Conhecer os grupos ocupacionais mais expostos. Entender o que é vacina pré-exposição e vacina pós-exposição. Saber as ações estabelecidas pela Vigilância Epidemiológica e as medidas de controle da raiva. Caderno didático OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM • • • • • • • • Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas 5h 13 e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes 4. Hantavirose • • • • • • • Saber o risco em saúde oferecido pela hantavirose. Conhecer o agente etiológico da hantavirose e seus reservatórios. Conhecer o ciclo de transmissão da hantavirose e suas peculiaridades. Conhecer os principais sintomas da hantavirose. Conhecer as características epidemiológicas da hantavirose. Conhecer os grupos ocupacionais mais expostos. Conhecer as ações estabelecidas pela Vigilância Epidemiológica e as medidas de controle. Caderno didático 5h 5. Zoonoses bacterianas • Relembrar conceitos acerca das bactérias e conhecer a estrutura bacteriana. Caderno didático 2h 6. Brucelose • Conhecer o risco em saúde oferecido pela brucelose. Conhecer o agente etiológico e seus principais reservatórios. Entender o ciclo de transmissão da brucelose. Conhecer os principais grupos ocupacionais mais expostos. Conhecer as ações da Vigilância Epidemiológica e as medidas de controle. Caderno didático 5h Conhecer o risco em saúde oferecido pela tuberculose. Conhecer o agente etiológico e seus principais reservatórios. Entender o ciclo de transmissão da tuberculose. Conhecer os grupos ocupacionais mais expostos. Conhecer as ações da Vigilância Epidemiológica e as medidas de controle. Caderno didático 5h Conhecer o risco em saúde oferecido pela leptospirose. Conhecer o agente etiológico e seus principais reservatórios. Entender o ciclo de transmissão da leptospirose. Conhecer os grupos sociais mais expostos. Conhecer as ações da Vigilância Epidemiológica e as medidas de controle. Caderno didático 5h Conhecer os conceitos básicos de parasitologia. Conhecer as principais classificações dos parasitas. Entender a relação: parasia/ hopedeiro/ meio ambiente. Caderno didático 2h Comparar a estrutura morfológica dos protozoários com os outros organismos já estudados. Entender como funcionam os mecanismos básicos de sobrevivência destes parasitos. Conseguir relacionar os exemplos de protozoários aplicados no texto com cada filo existente. Caderno didático 2h • • • • 7. Tuberculose • • • • • 8. Leptospirose • • • • • 9.Zoonoses parasitárias • • • 10. Protozoários • • • e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes 14 Vigilância em Saúde 11. Toxoplasmose • • • • Conhecer o risco em saúde oferecido pela toxoplasmose. Conhecer seu agente etiológico e seus hospedeiros. Conhecer seu ciclo de transmissão. Conhecer as medidas de controle. Caderno didático 5h 12.Helmintos • Entender a estrutura dos helmintos e a sua classificação. Caderno didático 2h 13. Doenças causadas pela Larva migrans • Apontar as três formas clínicas da doença. Distinguir os agentes etiológicos envolvidos em cada forma clínica e diferenciar as suas manifestações clínicas. Entender as formas de transmissão. Conhecer os hospedeiros principais de cada agente etiológico e suas respectivas formas de controle. Caderno didático 11 h Conhecer o agente etiológico mais frequente na área urbana e periurbana (Echinococcus granulosus). Conhecer os hospedeiros. Conhecer o ciclo de transmissão e as medidas de controle e prevenção. Caderno didático 5h • • • 14. Hidatidose • • • Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas 15 e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes AULA 1 Alfabetização Digital Aula 1 - Conceito de saúde e doença Objetivos • Conhecer o conceito de saúde estabelecido pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e compreendendo por que ele é considerado ultrapassado. • Conhecer o conceito de zoonoses estabelecido pela OMS. • Aprender a classificação das zoonoses. • Conhecer o conceito de endêmico. • Conhecer o conceito de epidêmico. • Conhecer o conceito de patógenos humanos emergentes. 1.1 Introdução Prezados alunos participantes do curso técnico de Vigilância em Saúde, sejam bem-vindos à disciplina Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas. Iremos iniciar nossos trabalhos conceituando saúde e doença sob a óptica das doenças infecciosas; posteriormente, restringindo nossos olhares sobre as zoonoses. Para iniciarmos nosso estudo acerca deste assunto, é necessário entendermos que, apesar da Organização Mundial de Saúde (OMS) estabelecer o que seria o conceito ideal de saúde, a percepção de saúde é algo variável de indivíduo para indivíduo, assim como de sociedade para sociedade. Além disso, também pode variar no mesmo local, em função da época. Ou seja, não se trata de um conceito fixo e isolado do ambiente e do tempo no qual a sociedade está inserida, mas sim de algo mutável, que evolui com o seu tempo. 1.2 História do conceito de saúde A primeira descrição racional do conceito de doença (desvinculada da religião) da qual há registros encontra-se no conjunto da obra atribuída ao grego Hipócrates de Cós (460-377 a.C.), denominada Corpus Hipocráticos. Nessa obra, o texto intitulado “A doença sagrada” inicia-se afirmando que a doença sagrada nada mais é do que a ignorância humana que não conhece realmente suas causas naturais. Em outro texto, intitulado “Ares, águas, lugares”, há uma correlação entre a incidência das enfermidades com o meio ambiente onde elas prevalecem. Talvez essa seja a primeira correlação existente entre o meio ambiente e a incidência de algumas doenças. Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas 17 e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes A contribuição do romano Varrão, no século I a.C, diz respeito aos primeiros relatos nos quais a saúde é interligada com a possível existência de animais minúsculos, que entrariam no corpo pela boca e pelo nariz e causariam doenças. Já Lucrécio, filósofo e poeta romano, citou as “sementes” de doenças, quando escreveu sobre as coisas da natureza. Sendo essas duas citações as primeiras referências a algo que, hoje, sabemos serem os micro-organismos. Mais tarde, no século II, Galeno retornou aos escritos hipocráticos e reafirmou que as causas das doenças eram endógenas, estavam dentro do próprio homem e se revelavam quando este entrava em desequilíbrio com a natureza. A Idade Média representou um retrocesso às ideias de Hipócrates, Varrão, Lucrécio e Galeno, ao trazer de volta as explicações religiosas, ou melhor dizendo, pecaminosas para o estado de doença; novamente, a cura foi vinculada à fé. Inserida nesse contexto, a igreja assumiu boa parte da responsabilidade sobre os doentes, fundando hospitais como locais de acolhimento e conforto àqueles que padeciam. Paracelsus (1493-1541), médico, químico e bioquímico suíço, foi o primeiro a propor a relação existente entre saúde e bioquímica; por isso, foi o primeiro médico a utilizar e a divulgar um tratamento realizado com a administração de compostos químicos como remédios. Como exemplo, Paracelsus utilizou mercúrio no tratamento da sífilis, doença que, naquela ocasião, era endêmica na Europa. No entanto, foi apenas por volta de 1665, com a construção do primeiro microscópio pelo inglês Robert Hooke, que foi possível iniciar as descobertas propiciadas pela visão privilegiada das “lentes de aumento” que equipavam tal aparelho. Anton van Leeuwenhoek (1632-1723) foi a primeiro a utilizar o microscópio para visualizar micro-organismos vivos, os quais ele chamou de “animalículos”. De lá para cá, os microscópios já evoluíram e se diversificaram bastante (Figura 1). Veja a imagem que se segue de um microscópio óptico. Este modelo que aparece na foto é um modelo básico, bastante utilizado para a visualização de micro-organismos, lâminas com tecidos e tudo o mais que for possível visualizar com a resolução oferecida por este aparelho. Ele é bem diferente do inventado por Robert Hooke, mais moderno e com resolução maior. Porém, a ideia básica do aparelho permanece a mesma: permitir enxergar o que é pequeno demais para os nossos olhos verem. Figura 1: Microscópio óptico. Foto: Andreza Pain Marcelino. e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes 18 Vigilância em Saúde Pois bem, alunos, o microscópio auxiliou na descoberta dos tais “animalículos”, que hoje chamamos micro-organismos; a partir daí, começaram a ser elaborados os novos conceitos de saúde, de doença, as formas mais difundidas de prevenção e, é claro, de tratamentos relacionados às doenças infecciosas. 1.3 Conceito de saúde-doença atual Muito tempo se passou de Hipócrátes, Paracelsus e outros. De lá para cá, muito mudou, muito foi descoberto. Só o que não se alterou foi a vontade humana de conhecer e de conceituar. Pesquisadores solitários já não impõem mais suas ideias como antes. Agora, há órgãos compostos por vários pensadores, que tentam estabelecer padrões e conceituar velhos conhecidos da Humanidade. A OMS é um desses órgãos. Em 1948, essa organização estabeleceu um novo conceito de saúde que é ainda hoje preconizado: “saúde é o estado de completo bem estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença.” Levando-se em consideração que este conceito foi elaborado há mais de 70 anos, podemos perceber que ele era bastante avançado para a sua época, já que considera três diferentes aspectos do indivíduo: o aspecto físico, o psíquico e o social. Porém, esse conceito é, hoje, criticado, por utilizar o termo “completo” remetendo à perfeição e por não levar em consideração o estado transitório de saúde e de doença. É justamente nesta transitoriedade que se baseiam as novas tentativas de conceituar a saúde. Fazer com que o conceito de saúde não seja algo estático, de forma a compreender que a saúde é algo para ser alcançado através de ações que se sobreponham às ações naturais. 1.4 Conceito de zoonoses Assim como a OMS conceituou saúde e doença, ela também conceituou zoonoses. Segundo a OMS, zoonoses são “doenças ou infecções naturalmente transmissíveis entre animais vertebrados e seres humanos.” A aparente redundância no início da frase faz sentido quando entendemos que nem todos os indivíduos que se encontram infectados podem apresentar-se doentes. Por isso, há necessidade de se usar o conceito de infectado para incluirmos também aqueles indivíduos que são portadores de micro-organismos, que são possíveis disseminadores de agentes patológicos, mas que não se apresentam com sintomas clínicos da enfermidade. Quando a OMS utiliza, em sua definição de zoonose, o termo “naturalmente transmissível”, ela tenta excluir da sua classificação aquelas doenças que foram transmitidas de animais vertebrados para o homem sob condições experimentais, tais quais as condições encontradas em um laboratório de pesquisa. As zoonoses possuem grande impacto na saúde pública, nos animais domésticos e na proteção e preservação dos animais selvagens. Há estimativas de que 61% de todos os patógenos humanos e 75% dos patógenos huma- Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas 19 Animalículos: nome que Anton van Leeuwenhoek (1632-1723) usou para transmitir a ideia de organismos vivos infimamente minúsculos capazes de causarem infecções. A Organização Mundial da Saúde (OMS) foi fundada em 7 de abril de 1948 como uma agência especializada em saúde. A OMS está subordinada à Organização das Nações Unidas; sua sede é em Genebra, na Suíça . A OMS tem suas origens nas guerras do fim do século XIX. Após a Primeira Guerra Mundial, a Sociedade das Nações Unidas criou seu comitê de higiene, que foi o embrião da OMS. Segundo a sua constituição, a OMS tem por objetivo desenvolver ao máximo possível o nível de saúde de todos os povos. e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes Patógenos humanos emergentes: são agentes infecciosos que, até pouco tempo, não eram considerados importantes, já que raramente causavam doenças nos homens. Atualmente, vêm chamando a atenção dos órgãos responsáveis pela saúde pública, por se tornarem mais e mais frequentes. Endêmico: Patógenos endêmicos são aqueles que se encontram em equilíbrio estacionário com o meio ambiente; são característicos de uma determinada região e o número de casos de doença provocada por eles não varia muito de um ano para o outro. nos emergentes sejam zoonóticos (Mahy e Murphy, 1998). É importante lembrar que a maioria destas zoonoses patogênicas, que geralmente infectam o homem, estão relacionadas às práticas da criação animal. Muitos destes patógenos são endêmicos em algumas regiões e difíceis de serem erradicados, já que, de fato, eles fazem parte daquele ecosistema. 1.5 Classificação da zoonses Na atualidade, as zoonoses são classificadas de acordo com os seus mecanismos de transmissão e de perpetuação na natureza. Você sabe o que significa transmissão? Popularmente, utilizamos o termo “pegar” para nos referirmos á transmissão. Quem nunca “pegou” uma gripe? Porém, em zoonoses, falamos mecanismos de transmissão. E são justamente esses mecanismos que utilizamos para classificar as zoonoses. Veja a classificação que se segue. • Antropozoonose – assim são chamadas as zoonoses cujos agentes infecciosos são perpetuados pela transmissão entre animais, mas que, podem, eventualmente, acometerem seres humanos. Ex.: Raiva • Amphixenosis – são zoonoses cujos agentes infecciosos são transmitidos com igual intensidade entre os animais, entre os seres humanos e também entre animais e seres humanos. Ex.: Estafilococose • Zooantroponoses – são aquelas zoonoses que, normalmente, acometem apenas os homens e que, raramente, atingem os animais. Ex.: Tuberculose em animais pelo Mycobacterium tuberculosis, bacilo do tipo humano. • Zoonoses diretas – são zoonoses que podem se perpetuar na natureza com passagens sucessivas por uma única espécie de animal vertebrado. Ex.: Raiva canina • Ciclozoonoses – neste tipo de zoonose, o agente infeccioso necessita, obrigatoriamente, passar por duas espécies distintas de animais vertebrados para que o seu ciclo se complete. Ex.: Complexo Equinococose-Hidatidose. Dentre as ciclozoonoses, são consideradas: • Euzoonoses - as doenças nas quais o ciclo biológico completo do agente etiológico necessita, obrigatoriamente, da passagem por seres humanos e animais; exemplo: Complexo Teniase-Cisticercose. • Parazoonoses - doenças nas quais o ciclo biológico pode se completar com dois animais vertebrados, porém, eventualmente, podem atingir seres humanos; exemplo: Complexo Equinococose-Hidatidose. • Metazoonoses – o agente necessita passar por um hospedeiro invertebrado para que o seu ciclo se complete. Ex.: Febre maculosa; encefalite equina americana; doença de Chagas, leishmanioses. e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes 20 Vigilância em Saúde • Saprozoonose - o agente necessita passar por transformações que ocorrem no ambiente externo, em ausência de parasitismo. Ex.: Toxoplasmose, toxocaríase. Pois bem, agora que você já sabe o que é uma zoonose e como elas são classificadas, deve saber quais são os organismos capazes de infectarem ou parasitarem a espécie humana, transmitidos por animais. É importante você saber também que o número de zoonoses já descrito é tão grande que seria impossível estudarmos todas elas. E que algumas zoonoses não são exatamente um problema de saúde pública, a exemplo, podemos citar a febre aftosa, que traz grandes prejuízos à pecuária e, consequentemente, ao país, mas que raramente acomete seres humanos. Por isso, neste curso, estudaremos as principais zoonoses encontradas em nosso país com importância na saúde dos seres humanos. Resumo Nesta aula, você aprendeu que, segundo a OMS, o conceito de saúde é: “o estado de completo bem estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença”. Aprendeu também que este conceito não é considerado apropriado para a atualidade na qual estamos inseridos, já que ele remete à perfeição, e não à transitoriedade que caracteriza a busca ativa pela saúde através de ações. Outro ponto importante trabalhado nesta aula foi o conceito de zoonoses e a sua interpretação: “doenças ou infecções naturalmente transmissíveis entre animais vertebrados e seres humanos.” Lembrando que, muitas vezes, o animal pode ser um hospedeiro bem adaptado à infecção; não apresentar os sinais clínicos da doença e, mesmo assim, disseminar o agente etiológico, o que representa um grande perigo para os seres humanos. Outro ponto muito importante trabalhado aqui foi a classificação das zoonoses segundo a intensidade com a qual elas acontecem entre os homens e os animais. De fato, essa classificação nos mostra que algumas zoonoses acometem mais comumente os homens ou os animais, e que outras zoonoses podem acometer, com intensidade semelhante, homens e animais. Além disso, a classificação estudada também nos mostra que, para algumas zoonoses se perpetuarem na natureza, existe a necessidade de hospedeiros com características específicas estarem presentes em algum momento do seu ciclo. Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas 21 e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes Atividades de aprendizagem 1. Busque na internet quatro exemplos de zoonoses que ainda não foram citadas. 2. Agora que você já sabe o que é endêmico, dê o conceito de epidêmico. 3. Todas as alternativas a seguir trazem o conceito correto acerca da classificação das zoonoses, de acordo com a forma como ela se perpetua na natureza e com o seu mecanismo de transmissão, EXCETO: a. Antropozoonose – assim são chamadas as zoonoses cujos agentes infecciosos são perpetuados pela transmissão entre animais, mas que podem, eventualmente, acometerem seres humanos. b. Amphixenosis – neste tipo de zoonose, o agente infeccioso necessita, obrigatoriamente, passar por duas espécies distintas de animais vertebrados para que o seu ciclo se complete. c. Zooantroponoses – são aquelas zoonoses que, normalmente, acometem apenas os homens, e que, raramente, atingem animais. d. Zoonoses diretas – são zoonoses que podem se perpetuar na natureza, com passagens sucessivas por uma única espécie de animal vertebrado. e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes 22 Vigilância em Saúde AULA 1 Aula 2 – Zoonoses virais Alfabetização Digital Objetivos • Saber por que os vírus são micro-organismos intracelulares obrigatórios. • Conhecer as estruturas que fazem parte de vírus. • Saber a diferença entre vírus nus e vírus envelopados. • Conhecer o conceito de hospedeiro. • Conhecer o conceito de parasita. • Conhecer o conceito de agente infeccioso. 2.1 Introdução aos vírus As zoonoses podem ser causadas por vírus, bactérias, fungos ou parasitas. Nesta aula, nós conheceremos um pouco dos vírus. Você já estudou a estrutura de um vírus? É importante começarmos nossos estudos pelo agente infeccioso. Somente assim teremos condições de entender a patologia, os mecanismos de transmissão e os mecanismos de prevenção. Aproveitaremos também este espaço para fazermos a introdução de alguns conceitos importantes, por isso, não deixem de ler o glossário e de procurarem saber o significado de cada palavra que lhes parecer estranha ou nova. Vamos entender que, para vocês aprenderem de fato o que esta disciplina se dispõe a lhes ensinar, precisamos que vocês se dediquem e que sejam bastante curiosos e práticos, buscando sempre mais informações. As mídias integradas podem lhes ajudar. Então, vamos ao trabalho! 2.2 Estrutura viral Os vírus são organismos considerados acelulares. Ou seja, não possuem organização celular. São desprovidos de organelas necessárias para efetuarem uma apropriada replicação e produção de proteínas. Essa falta de organelas torna os vírus organismos intracelulares obrigatórios. Já que eles não possuem organelas, precisam invadir células de outros organismos para conseguirem realizar suas funções vitais. Alguns vírus podem se cristalizar e sobreviver no ambiente, fora de outras células, por longos períodos de tempo; outros, tais como os vírus envelopados, não sobrevivem no ambiente por longos períodos. Essa variação no tempo de sobrevivência dos vírus fora de uma célula depende de suas características estruturais e é bastante importante para entendermos, um pouco mais à frente, os mecanismos de transmissão de todos os vírus. E como é a estrutura básica de um vírus? Vamos estudá-la? Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas 23 e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes Os vírus são constituídos, basicamente, pelo capsídeo viral e pelo seu material genético. O capsídeo viral é a cápsula que envolve o material genético viral. Ele é constituído de subunidades proteicas chamadas capsômeros. Um capsídeo pode ser constituído de repetições da mesma subunidade proteica ou pode conter diferentes subunidades. A segunda estrutura apresentada por todos os vírus é o seu material genético, o qual ele utiliza para orquestrar as funções de síntese na célula onde ele está inserido. Há uma grande variedade de tipos de material genético encontrado nos vírus. Há vírus que contêm, como material genético, ácido desoxirribonucleico (DNA) fita simples. Há vírus que possuem DNA fita dupla, podendo ser linear ou circular. Existem também os vírus de ácido ribonucleico (RNA) fita dupla, simples, linear ou circular. Há vírus que possuem tanto DNA quanto RNA. Aliás, estes últimos foram descobertos recentemente. E, por fim, ainda existem vírus com material genético segmentado, existindo na forma de muitos fragmentos. Alguns vírus apresentam uma terceira estrutura, chamada envelope. Todos os vírus que apresentam essa estrutura são denominados vírus envelopados, enquanto os demais, sem envelope, são denominados vírus nus ou não envelopados. Os vírus envelopados adquirem seu envelope a partir de membranas encontradas nas células hospedeiras, quando esses brotam ou se movem através de uma ou mais membranas celulares. Na prática, os vírus envelopados são menos resistentes ao ambiente e mais sagazes para sobreviverem no interior de hospedeiros. A Figura 2 traz uma micrografia eletrônica do vírus causador da varíola; nela, é possível visualizar a estrutura viral. Observem-na. Figura 2: Micrografia eletrônica do vírus da varíola. Fonte: Disponível em: <http://phil.cdc.gov/phil/details.asp>. Acesso em 01/09/2011. e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes 24 Vigilância em Saúde E quais seriam as principais zoonoses transmitidas por vírus? A raiva, também conhecida como hidrofobia, a coriomeningite linfocítica, a encefalomielite equina e a encefalite de Saint Louis são alguns exemplos. Provavelmente, você já deve ter ouvido falar em alguma dessas doenças. Imagino que já tenha ouvido falar na raiva, certo? De fato, dentre as zoonoses virais apresentadas anteriormente, a raiva é a mais conhecida delas. O que mais você sabe sobre essa doença? Imagino que já tenha ouvido falar que um dos animais que podem transmitir a raiva ao homem são os morcegos hematófagos. Acertei? Pois bem, há muito mais por saber sobre essa zoonose. E é por isto mesmo que, agora, estudaremos a raiva! Resumo Esta aula se propôs a relembrar as características básicas de um vírus; nela, você aprendeu que os vírus são organismos acelulares, parasitas obrigatórios, já que não possuem organelas para perpetuarem na natureza fora da célula de um hospedeiro. Relembrou também que as únicas estruturas que constituem todos os vírus são o capsídeo e o seu material genético, e que alguns vírus ainda possuem uma terceira estrutura, chamada envelope. Os vírus envelopados são mais sagazes quando se encontram dentro de um hospedeiro, e mais vulneráveis quando se encontram no ambiente. Alguns vírus mantêm-se na natureza, por longos períodos de tempo, em estado de latência, durante o qual eles não realizam funções vitais, tais como replicação do seu material genético ou formação de novas partículas virais, mas mantêm a sua capacidade de infectar seus hospedeiros. Atividades de aprendizagem 1. Cite o nome de um vírus que possua seu material genético composto de DNA fita única, e outro de RNA fita simples. 2. Descreva a estrutura do capsídeo viral. 3. Descreva a diferença existente entre os vírus envelopados e os vírus nus. Busque uma resposta mais detalhada do que a explicação que se encontra na apostila. Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas 25 Hospedeiro: é todo organismo que abriga outro organismo dentro ou sobre si. Se imaginarmos o homem como um hospedeiro, podemos pensar que ele pode abrigar parasitas dentro de si, tais como vermes, ou pode abrigar agentes infecciosos dentro de si, tais como bactérias e vírus. Ou ainda imaginarmos este homem sendo parasitado por um carrapato (ectoparasita) sobre a sua pele. Parasita: Organismo invasor que se beneficia ao utilizar recursos do seu hospedeiro que acarretam prejuízos para este último. Para fins didáticos, chamamos de parasitas apenas os seres eucariotos. Agente Infeccioso: Organismo invasor que acarreta prejuízos para o seu hospedeiro ao provocar, neste, desarranjos fisiológicos. Apesar de os agentes infecciosos não serem chamados de parasitas, eles mantêm uma relação de parasitismo com seus hospedeiros. Aqui, encaixam-se bem os vírus e as bactérias. e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes AULA 1 Alfabetização Digital Aula 3 - Raiva Objetivos • • • • • • • • Saber o risco em saúde oferecido pela raiva. Conhecer o agente etiológico da raiva e seus reservatórios. Conhecer os ciclos de transmissão da raiva. Conhecer os principais sintomas da raiva. Conhecer as características epidemiológicas da raiva. Conhecer os grupos ocupacionais mais expostos. Entender o que é vacina pré-exposição e vacina pós-exposição. Saber as ações estabelecidas pela Vigilância Epidemiológica e as medidas de controle da raiva. 3.1 Introdução A raiva humana é uma encefalite aguda de etiologia viral transmitida aos seres humanos por mamíferos silvestres e domésticos. Tem grande importância epidemiológica, já que sua taxa de letalidade é próxima a 100%. Este é um dos fatores que torna a raiva uma doença de notificação compulsória e um problema de saúde pública prioritário no Brasil. 3.2 Agente etiológico Encefalite: inflamação aguda no cérebro. Letalidade: número de pacientes com a doença confirmada e que vêm a óbito. O vírus causador da raiva é denominado vírus rábico. Ele pertence à ordem Mononegavirales, à família Rhabdoviridae e ao gênero Lyssavirus. Não se assustem com a difícil nomenclatura; não é necessário decorar todos esses nomes. Mas é importante saber que seu material genético é constituído por RNA, e que sua forma assemelha-se a de um projétil. Também é importante atentarmos para o fato de que o vírus rábico possui dois importantes antígenos: uma glicoproteína de superfície e uma nucleoproteína, que é grupo específico. 3.3 Hospedeiros e reservatórios E quais animais podem abrigar o vírus rábico? Vocês já se fizeram esta pergunta? Pois saibam que qualquer mamífero pode ser infectado por esse vírus. E já que temos uma enorme gama de hospedeiros e de reservatórios, há uma divisão bem didática que separa esses animais em grupos. O primeiro grupo é constituído por cães e gatos, e é responsável pelo ciclo urbano. Os morcegos (Figura 3) estão relacionados ao ciclo aéreo. Os animais Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas 27 Os primeiros relatos sobre a raiva datam de 2300 a. C., no Egito. Sua descrição foi feita por Demócrito, no século V a.C., e por Aristóteles, no século IV a.C., na Grécia antiga. e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes de produção, criados pelo homem na zona rural, tais como boi e cavalo, são os responsáveis pelo ciclo rural. Saguis, cachorros do mato, raposas, macacos e outros animais silvestres são responsáveis pelo chamado ciclo silvestre. No Brasil, o ciclo urbano foi considerado o responsável pelo maior número de casos de raiva humana até a última década. Atualmente, o principal ciclo encontrado no Brasil é o ciclo aéreo, no qual ocorre transmissão após o contato com morcegos infectados. Figura 3: Morcego. Fonte: Disponível em: <http://phil.cdc.gov/phil/details.asp>. Acesso em 05/10/2011. A Figura 4 traz uma síntese dos quatro ciclos existentes (urbano, aéreo, rural e silvestre) e ilustra muito bem os reservatórios envolvidos em cada um desses ciclos. Ao analisarmos essa figura, podemos perceber que há transmissão de animal para animal e dos animais para os homens. Figura 4: Ciclos de transmissão da raiva. Fonte: Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância Epidemiológica. Normas técnicas de profilaxia da raiva humana / Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância Epidemiológica. – Brasília: Ministério da Saúde, 2011. 60 p. : il. – (Série A. Normas e Manuais Técnicos). Acesso em 01/09/2011. e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes 28 Vigilância em Saúde 3.4 Modos de transmissão Independente de quais desses animais ou ciclos estejam em questão, a transmissão ocorre sempre via contato direto animal–homem. O vírus rábico encontra-se na saliva dos animais infectados e é transmitido ao homem através de arranhadura, mordedura de qualquer parte do corpo e por lambedura de mucosas. Ao penetrar no organismo humano, o vírus rábico infecta (invade) as células locais, onde se multiplica e se dissemina para outros órgãos do corpo, inclusive para as glândulas salivares. Ao se instalar nas glândulas salivares, ele é eliminado juntamente com a saliva da pessoa ou do animal infectado, podendo ser transmitido a outras pessoas. Apesar de, virtualmente, poder invadir qualquer tipo de célula, ele possui tropismo pelo sistema nervoso (SN). Inicialmente, o vírus rábico migra para o sistema nervoso periférico e, posteriormente, penetra no sistema nervoso central (SNC). Apesar do tropismo pelo sistema nervoso, há dois relatos de casos de transmissão da raiva via órgãos transplantados, ou seja, o vírus rábico estava alojado em outros locais do corpo que não o SN. Um dos relatos ocorreu nos Estados Unidos, em 2004, e o segundo ocorreu na Alemanha, em 2005. Em ambos os casos, os doadores não apresentavam quaisquer sintomas da doença e, por isso, não houve suspeita ou investigação prévia. Normalmente, é considerada remota a possibilidade de transmissão entre seres humanos, e a transmissão via órgão transplantado foi uma novidade para a ciência. Nos gatos e nos cães, o vírus rábico começa a ser transmitido, disseminado pela saliva, aproximadamente cinco dias antes do aparecimento dos sinais clínicos da doença, e permanece sendo transmitido durante todo o período em que o animal se apresenta doente, o que, normalmente, não dura mais de uma semana. Alguns animais silvestres, tais como morcegos, gambás e raposas, são bastante suscetíveis ao vírus rábico, porém, alguns desses animais apresentam maior possibilidade de desenvolverem a doença do que outros. Veja bem, nenhuma raposa infectada pelo vírus rábico sobrevive; em contrapartida, os morcegos são particularmente perigosos; já que são assintomáticos, sobrevivem por longos períodos, mesmo estando contaminados pelo vírus. O grande perigo reside aí; os morcegos, mesmo sendo assintomáticos, eliminam o vírus rábico em sua urina, fezes e saliva. A grande sorte é que nem toda pessoa ou animal que foi mordido por um animal infectado, necessariamente, contrairá a raiva. Para que a raiva seja de fato transmitida, é necessário que o vírus rábico esteja sendo eliminado na saliva no momento da mordida. Por isso, há uma possibilidade, mesmo que remota, de um indivíduo ser mordido por um animal infectado e não contrair o vírus rábico. Apesar disso, contar com a sorte em caso de acidente com animal suspeito representa risco de morte! Quando utilizamos o termo tropismo, queremos dizer que o micro-organismo é “atraído” para um determinado local ou tipo de célula específico do corpo. Sistema nervoso periférico: é constituído pelos nervos e gânglios nervosos espalhados pelo corpo. Enquanto o sistema nervoso central é constituído pela medula espinhal e pelo cérebro, também chamado de encéfalo. Assintomáico: Animal ou indivíduo contaminado por um agente infeccioso que não apresenta os sinais clínicos da doença. 3.5 Período de incubação Estudante, você sabe o que é o período de incubação de um agente infeccioso? Pois bem, este termo refere-se ao período que existe entre o Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas 29 e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes Carga viral: é a quantidade de partículas virais que foram transmitidas no momento do acidente (mordedura, lambedura etc.). momento da transmissão e o aparecimento dos primeiros sinais clínicos da doença. Trata-se de um período assintomático, no qual é bem difícil dizer que aquele indivíduo que teve contato com o agente infeccioso está ou não contaminado. O período de incubação do vírus rábico é bastante variável, por isso, há possibilidade de um indivíduo se encontrar infectado e não possuir nenhum sintoma da doença. Em seres humanos, o período de incubação pode durar desde dias a alguns anos (lembra-se do relato dos dois casos de transmissão via órgãos transplantados?). Já no cão, o período de incubação pode levar desde alguns dias a alguns meses. Segundo dados do Ministério da Saúde, alguns fatores podem interferir no período de incubação, tais como: distância do local da mordedura ou da lambedura do cérebro ou troncos nervosos do indivíduo; localização, extensão, quantidade e profundidade dos ferimentos causados pelo animal infectado; e a carga viral transmitida. 3.6 Quadro clínico 3.6.1 Em seres humanos Neste item, faremos uma breve exposição dos principais e mais comuns sintomas apresentados pelos pacientes. Caso haja interesse em saber mais, podem e devem buscar mais informações no manual do Ministério da Saúde sobre a raiva. Os sintomas nos seres humanos iniciam-se com dor de cabeça, náuseas, febre e paralisia parcial, próxima ao local da mordida. Esses sintomas persistem entre dois a dez dias, até que os sintomas da fase aguda da doença começam a surgir: generalização da paralisia, que pode ser notada pela alteração no modo de andar do paciente; há também hidrofobia ou medo de água, já que os pacientes sofrem espasmos dolorosos durante a deglutição. Outros sintomas são: o medo do ar, já que a pele fica hipersensível e dolorida sob o menor contato com o vento; confusão mental; alucinações e hiperatividade. Posteriormente, o paciente entra em coma e, por fim, morre. 3.6.2 Em cães Inicialmente, os cães passam a agir como se tivessem algo preso na garganta. À medida que a doença progride, o cão pode se tornar cambaleante ou paralisado (estes são sinais da raiva silenciosa, Figura 5), ou então agitado e agressivo, podendo passar a morder tudo o que lhes incomodar (estes são sinais da raiva furiosa, Figura 6). Além disso, esses animais também podem apresentar salivação excessiva e dificuldades para engolir. Assim como nos seres humanos, os cães, normalmente, entram em coma e morrem. Alguém já viu uma imagem que retrata um cão portador de raiva? Normalmente, eles são retratados rosnando, com intensa salivação, quadro bem típico da raiva furiosa. e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes 30 Vigilância em Saúde Figura 5: Cães portadores de raiva silenciosa. Fonte: Disponível em: <http://phil.cdc.gov/phil/details.asp>. Acesso em 05/10/2011. Figura 6: Cão portador de raiva furiosa. Fonte: Disponível em: <http://portal.saude.gov.br/portal/saude/profissional/area.cfm?id_ area=1567>. Acesso em 30/09/2011. Levando em consideração o fato de os cães poderem estar disseminando o vírus rábico em sua saliva antes mesmo das primeiras manifestações clínicas ocorrerem, qualquer alteração no comportamento de um animal pode ser um indício de que ele esteja contaminado. Um animal amigável, que passe a apresentar comportamento alterado, tornando-se agressivo sem ser provocado, pode estar raivoso. Este é um importante sinal de alerta! 3.7 Diagnóstico Vamos falar um pouco do diagnóstico? É bastante interessante termos a noção de como se realiza o diagnóstico de um paciente suspeito de estar infectado pelo vírus rábico. O diagnóstico de raiva humana deve sempre ser considerado quando o paciente apresentar encefalopatia de causa desconhecida. A pesquisa laboratorial, através de exames, é muito importante para confirmar o Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas 31 e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes diagnóstico. Hoje, há disponibilidade de diferentes tipos de exames, tanto exames que buscam anticorpos contra o vírus da raiva como exames que pesquisam o próprio material genético do vírus. Mesmo os exames dando resultado negativo, é prudente não descartar o diagnóstico de raiva em caso de forte suspeita. 3.8 Tratamento O tratamento da raiva é raramente eficaz, portanto, as principais medidas a serem adotadas são as medidas profiláticas. Em 2004, a despeito de tudo que era até então conhecido, essa realidade começou a mudar, após o primeiro tratamento bem sucedido da história. O relato foi feito nos Estados Unidos, com uma paciente que foi submetida a tratamento com antivirais e sobreviveu. O protocolo de tratamento aplicado nessa paciente recebeu o nome de Protocolo de Milwaukee. Em 2008, mais dois pacientes foram submetidos a tratamento semelhante, com sucesso. No Brasil, o protocolo de tratamento foi adaptado e recebeu o nome de Protocolo de Recife. O Protocolo de Recife já salvou uma vida em nosso país, em 2009. Mesmo assim, esses são casos isolados de sucesso no tratamento; normalmente, a evolução dos casos de raiva leva o paciente à morte. 3.9 Características epidemiológicas O vírus da raiva possui distribuição cosmopolita, ou seja, ele é encontrado em todos os continentes do mundo. E já que pode infectar virtualmente todos os mamíferos, possui reservatório ilimitado. Na Ásia, África, México, América Central e América do Sul, a raiva é endêmica em cães. Já em alguns países desenvolvidos, tais como Canadá, Estados Unidos e nos países da Europa Ocidental, a raiva canina encontra-se controlada. O grande problema visto nestes últimos países é a raiva silvestre. Segundo a OMS, 60 países estão livres da raiva. Dentre eles, podemos citar a Inglaterra, a Austrália e a Espanha. No Brasil, o número de casos de raiva humana vem caindo progressivamente. Entre os anos de 1990 a 2009, foram confirmados 574 casos de raiva em seres humanos. Em 1990, foram registrados 50 casos de raiva humana transmitida pelo cão. O número de casos caiu progressivamente até que, em 2008, atingiu a tão sonhada marca de zero caso. Porém, em 2009, dois casos forma registrados. Em 2010, o Ministério da Saúde confirmou um caso de raiva humana transmitida por morcego e um caso de transmissão via cão. Em 2011, até a presente data, nenhum caso foi notificado. Veja, a seguir, a Figura 7, que traz o número de casos que ocorreram no Brasil entre os anos de 1990 e 2009, correlacionados com o ciclo de transmissão envolvido. e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes 32 Vigilância em Saúde Figura 7: Ciclos epidemiológicos de transmissão da raiva no Brasil. Fonte: Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância Epidemiológica. Normas técnicas de profilaxia da raiva humana / Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância Epidemiológica. – Brasília: Ministério da Saúde, 2011. 60 p. : il. – (Série A. Normas e Manuais Técnicos). Acesso em 01/09/2011. 3.10 Vigilância Epidemiológica A Vigilância Epidemiológica é realizada a fim de evitar que o ciclo da raiva urbana aconteça. Uma forma importante e eficaz é a vacinação de todos os animais domésticos, como cães e gatos; quanto maior a cobertura vacinal, menores os riscos de transmissão! Além disso, para indivíduos com histórico de exposição ao vírus da raiva, indica-se o tratamento profilático antirrábico. A raiva é doença de notificação compulsória, portanto, os casos humanos suspeitos devem ser imediatamente notificados, por telefone, nos níveis regional, central e federal de saúde. Outra medida de controle estimulada pelo Ministério da Saúde é a notificação da presença de morcegos nas cidades, que deve ser feita ao departamento de zoonoses local. O Ministério da Saúde define como caso suspeito todo doente que apresenta quadro clínico sugestivo de encefalite rábica, com antecedentes ou não de exposição ao vírus rábico. E, caso confirmado, todo aquele comprovado laboratorialmente e todo indivíduo com quadro clínico compatível com encefalite rábica associada a antecedentes de agressão ou contato com animal suspeito, evoluindo para óbito. 3.11 Medidas de prevenção e controle Como se dá a prevenção da infecção pelo vírus rábico? A vacina é segura? Como é realizado o combate aos reservatórios naturais? De fato, muitas perguntas podem e devem ser feitas acerca da prevenção. Felizmente, há vacinas eficazes e seguras contra o vírus rábico. A profilaxia da raiva divide-se em duas situações bastante distintas: profilaxia pré-exposição e profila- Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas 33 e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes Agora que vocês já sabem um pouco sobre a raiva, devem entrar no endereço eletrônico que se segue e começarem a se familiarizar com o material didático produzido pelo Ministério da Saúde. Disponível em: <http:// portal.saude.gov.br/ portal/arquivos/pdf/ normas_tec_profilaxia_ da_raiva_hum.pdf>. xia pós-exposição. Quando falamos em pré-exposição, estamos nos referindo àqueles indivíduos que buscam o serviço de saúde para serem vacinados por haver risco eminente de acidentes com o vírus rábico ou com animais infectados com o vírus, mas que, de fato, ainda não foram expostos ou vírus. Ou seja, ainda não houve nenhum acidente com esses indivíduos. Já a profilaxia pós-exposição diz respeito àquelas pessoas que tiveram um acidente recente com o vírus rábico ou com animais suspeitos ou não de estarem infectados e que buscaram o serviço de saúde para se vacinarem e tomarem o soro antirrábico a fim de prevenirem o surgimento dos sintomas da raiva. As pessoas que devem buscar o serviço de saúde para se vacinarem antes que ocorra qualquer acidente, pré-exposição, são aquelas que trabalham em laboratórios de diagnóstico rábico, em indústrias que produzem vacinas antirrábicas, tratadores de animais, médicos veterinários, laçadores ou qualquer outra atividade que exponha o indivíduo à companhia de animais silvestres ou domésticos com frequência, incluindo, aqui, pessoas que realizam o ecoturismo e outros. Já nos casos da vacinação pós-exposição, as pessoas devem buscar os serviços de saúde logo após ter ocorrido um acidente envolvendo animais domésticos ou silvestres suspeitos de estarem contaminados com o vírus rábico ou não. Aqui, vale mesmo aquela velha máxima sobre saúde: “é melhor prevenir do que remediar”. Tanto porque, após o aparecimento dos sinais clínicos da raiva, “não há remédio que dê jeito”, ou não havia! No que diz respeito ao controle, uma das ações mais efetivas é o controle dos animais que transmitem raiva. A população de cães de rua deve ser controlada pelo departamento de zoonoses local. Segundo o Ministério da Saúde, a incidência da raiva em cães vem diminuindo ano após ano. Ah, e não vamos nos esquecer dos morcegos! Algumas medidas simples podem diminuir o aparecimento de morcegos nos centros urbanos. Por exemplo: utilizar telas nas janelas, iluminar o lado externo das casas, vedar buracos nas paredes, fechar os cômodos pouco utilizados (porões, sótãos etc.). Todas essas medidas ajudam e devem ser aplicadas! A raiva também é fortemente controlada nos animais de produção, sendo utilizada a vacinação em grande escala nos bovinos. A maior incidência de casos acontece nesses animais; por este motivo, eles são utilizados como sentinelas para alertar os órgãos de saúde quanto à circulação do vírus rábico. Enfim, o controle dos animais silvestres que transitam pelas cidades, a vacinação dos animais de estimação, o controle dos cães de rua e a vacinação de todas as pessoas que apresentam potencial risco de contaminação têm sido de fundamental importância no controle da raiva humana. Com tais medidas, e mantendo-se sempre alerta, o governo e a população brasileira têm obtido ótimos resultados. e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes 34 Vigilância em Saúde Resumo Nesta aula, você aprendeu que a raiva é uma doença causada pelo vírus rábico (possui tropismo pelo Sistema Nervoso Central - SNC), transmitida aos seres humanos por uma grande variedade de mamíferos silvestres e domésticos. A raiva possui grande importância na saúde pública, já que sua taxa de letalidade é próxima a 100%. Trata-se de uma doença presente em todos os continentes, cujo ciclo de transmissão relaciona-se com os seus reservatórios (cães e gatos são responsáveis pelo ciclo urbano;, morcegos estão relacionados ao ciclo aéreo; animais de produção, tais como boi e cavalo, são os responsáveis pelo ciclo rural; saguis, cachorros do mato, raposas, macacos e outros animais silvestres são responsáveis pelo chamado ciclo silvestre). Tratamos também dos grupos ocupacionais mais expostos ao vírus rábico e da necessidade das pessoas mais expostas manterem suas vacinas em dia. Dentre os assuntos tratados, um dos mais relevantes foi a existência de um esquema de vacinação pós-exposição, que deve ser realizado por todas as pessoas que sofrerem acidentes com animais silvestres ou domésticos que estiverem apresentando comportamento suspeito. Já que o tratamento para a raiva é bastante recente, ainda não conhecemos bem a sua taxa de cura; assim, o melhor a se fazer, sempre, é se prevenir! Atividades de aprendizagem As duas atividades que se seguem foram aí colocadas para lhes mostrar a importância de termos curiosidade e de buscarmos informações sozinhos. Imagino que tenham sentido falta dos conceitos de vacina e de soro ao longo do texto explicativo ou no glossário. Pois é, se não sentiram, eu senti. Por isto, iremos trabalhar agora os conceitos propostos nas questões 1 e 2. 1. Dê a definição de soro. 2. Dê a definição de vacina. 3. Na aula sobre a raiva, você aprendeu vários conceitos. As alternativas a seguir trazem alguns desses conceitos de forma correta, EXCETO: a. A raiva humana é uma encefalite aguda de etiologia viral, transmitida aos seres humanos por mamíferos silvestres e domésticos. b. A raiva tem grande importância epidemiológica, já que sua taxa de letalidade é próxima a 20%. Este é um dos fatores que torna a raiva uma doença de notificação compulsória e um problema de saúde pública prioritário no Brasil. c. O vírus causador da raiva é denominado vírus rábico. Ele pertence à ordem Mononegavirales, à família Rhabdoviridae e ao gênero Lyssavirus. d. Qualquer mamífero pode ser infectado pelo vírus rábico. Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas 35 e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes AULA 1 Alfabetização Digital Aula 4 - Hantavirose Objetivos • Saber o risco em saúde oferecido pela hantavirose. • Conhecer o agente etiológico da hantavirose e seus reservatórios. • Conhecer o ciclo de transmissão da hantavirose e suas peculiaridades. • Conhecer os principais sintomas da hantavirose. • Conhecer as características epidemiológicas da hantavirose. • Conhecer os grupos ocupacionais mais expostos. • Conhecer as ações estabelecidas pela Vigilância Epidemiológica e as medidas de controle. 4.1 Introdução Nesta aula, iremos falar de uma zoonose que assustou o mundo na década de noventa: a hantavirose, também conhecida como síndrome cardiopulmonar por hantavírus (SCPH). Trata se de uma zoonose emergente de etiologia viral que foi descoberta há poucos anos, em 1993, nos Estados Unidos. No Brasil, tornou se prioridade na pesquisa em 2004, ano no qual foram registrados 163 casos da doença no território nacional. De lá para cá, o governo brasileiro vem incentivando as pesquisas na área e divulgando a doença para a comunidade médica, com o intuito de possibilitar o diagnóstico. Além da comunidade médica, todos os profissionais de saúde vêm sendo conscientizados da importância de se conhecer a hantavirose. Logo que os primeiros casos foram diagnosticados no Brasil, a taxa de letalidade registrada era próxima a 50%. Atualmente, com a divulgação da doença, essa taxa caiu para 35%. Ainda assim, o governo brasileiro considera essa taxa alta e trabalha com o intuito de reduzi-la. 4.2 Agente etiológico A hantavirose é uma doença causada por vírus do gênero Hantavirus, da família Bunyaviridae. Atualmente, está descrita uma linhagem patogênica com 16 variantes já associadas à SCPH, e uma linhagem não patogênica que, até então, não foi encontrada em seres humanos doentes. Tratam-se de vírus envelopados, suscetíveis à ação de desinfetantes comuns utilizados em casa. Não se sabe ao certo quanto tempo esses vírus conseguem sobreviver no ambiente; acredita-se que, sob a luz solar, não sobrevivem por mais de seis horas, mas podem ter o seu tempo de vida fora do hospedeiro prolongado em locais fechados para até 3 dias. A Figura 8 traz uma micrografia eletrônica de partículas do hantavirus. Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas 37 e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes Figura 8: Micrografia eletrônica do hantavirus. Fonte: Portal da Saúde, Ministério da Saúde. Acesso em 01/09/2011. 4.3 Hospedeiros e reservatórios A transmissão da hantavirose para os seres humanos está intimamente relacionada aos hábitos do seu maior reservatório, os ratos silvestres. No Brasil, sete diferentes espécies de ratos silvestres já foram identificadas como reservatórios: Necromys (antigo Bolomys) lasiurus (Figura 9), encontrado principalmente no Cerrado e na Caatinga; Oligoryzomys nigripes, encontrado na Mata Atlântica; Oligoryzomys aff. Moojeni e Calomys aff. callosus, encontrados em uma área de transição entre o Cerrado e a Floresta Amazônica; Oligoryzomys fornesi e Holochilus sciurus, encontrados em área de transição entre a Floresta Amazônica e os Alagados, no Maranhão. Por fim, Oligoryzomys microtis, encontrado no rio Mamoré. Estudante, é importante você saber que algumas dessas espécies de roedores com nomes tão complicados possuem outros nomes pelos quais são popularmente conhecidos. Por exemplo, a primeira espécie citada é conhecida popularmente como rato do capim ou rato da cauda peluda; de uma forma geral, todas essas espécies são denominadas ratos silvestres Figura 9: Bolomys SP. Fonte: Brasil. Fundação Nacional de Saúde. Manual de controle de roedores. - Brasília: Ministério da Saúde, Fundação Nacional de Saúde, 2002. 132p.: il. 1. Roedores - prevenção e controle. 2. Vigilância epidemiológica. 3 zoonose. Acesso em 16/09/2011. e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes 38 Vigilância em Saúde 4.4 Modos de transmissão Os seres humanos contraem a hantavirose, na maioria dos casos, inspirando partículas virais levadas pelo vento. E de onde vêm essas partículas virais? Pois bem, os ratos que se encontram contaminados pelo hantavirus disseminam essas partículas virais no ambiente ao depositarem sua urina, suas fezes e sua saliva sobre o chão ou sobre os objetos. Ao entrar em contato com o ambiente, os vírus presentes nas excretas podem ser levados pelo vento e inalados pelo homem. O risco de transmissão aumenta muito caso a fonte de contaminação esteja em um ambiente fechado que é visitado por pessoas, tal como um porão. Boa parte das pessoas que se contaminam, adquire a infecção ao passar algum período de tempo, mesmo que curto, como alguns minutos, em tais locais. O número de casos de hantavirose costuma aumentar muito durante as secas. Isto ocorre porque, nesses períodos, os roedores sofrem com a falta de alimentos em seu habitat natural. Consequentemente, eles migram, em busca de alimentos, para as moradias humanas, onde se instalam em ambientes pouco utilizados da casa. Ao se instalarem nesses locais, os roedores começam a liberar suas excretas no ambiente e, consequentemente, a liberarem o hantavírus, que passa a ser transmitido ao homem com mais frequência nesses períodos. Além da inalação, a hantavirose também pode ser contraída via pele e mucosas, no momento em que a pessoa entra em contato com saliva ou excretas de roedores contaminadas. A mordedura de roedores também se constitui em uma via de transmissão. É importante lembrarmos que a hantavirose não é uma doença letal para os roedores. Eles podem viver por longos períodos de tempo disseminando o vírus patogênico em suas excretas e saliva. Por isto, os ratos são reservatórios tão perigosos e potentes disseminadores. 4.5 Período de incubação Após o contato com o hantavírus, há um período de incubação viral bastante variável, de 3 a 60 dias. Mas, na maioria dos casos, do contato com o vírus até o aparecimento dos sintomas, transcorrem de duas a três semanas. 4.6 Quadro clínico Os sintomas da hantavirose em seres humanos vão desde sintomas inespecíficos, como dores de cabeça, febre, dor no corpo, até os sintomas característicos da doença, que são: tosse seca, taquicardia acompanhada de falta de ar e outros sintomas que caracterizam a síndrome cardiopulmonar. A hantavirose mata cerca de quatro pacientes em cada 10 pacientes infectados. Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas 39 e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes 4.7 Diagnóstico Em caso de suspeita clínica de hantavirose, o diagnóstico pode ser confirmado tanto com testes sorológicos, que pesquisam anticorpos específicos para o hantavírus, como por testes diretos, que pesquisam o material genético do vírus em amostras colhidas nos pacientes suspeitos. 4.8 Tratamento Não há um tratamento específico para a doença, apenas tratamento de suporte, que deve ser feito em Unidades de Terapia Intensiva. 4.9 Características epidemiológicas A hantavirose ocorre desde o Canadá até o sul da Argentina. No Brasil, as regiões que mais registraram casos são o Centro-Oeste, o Sul e o Sudeste. O primeiro caso de hantavirose registrado no Brasil ocorreu no estado de São Paulo, em 1993, mesmo ano em que a doença foi descoberta. Entre os anos de 1993 e 2008, foram registrados 1.119 casos em todo o território nacional! Em algumas regiões brasileiras, é possível notar o caráter sazonal da hantavirose. Normalmente, o número de casos registrados aumenta com chegada da seca. Isto ocorre porque o principal reservatório dos hantavirus são os ratos silvestres que, em períodos de seca, buscam alimentos nas propriedades rurais. Fato que também justifica a maior incidência da doença entre os moradores da zona rural (50% dos casos) ou pessoas que trabalham com pecuária e agricultura (65% dos casos), justamente as pessoas que têm maior contato com os ratos silvestres. Cabe dizer aqui que aproximadamente 75% das pessoas acometidas são do sexo masculino, com idade entre 20 e 39 anos. 4.10 Vigilância Epidemiológica Devido à sua importância epidemiológica, a hantavirose é uma doença de notificação compulsória e de investigação obrigatória, tendo por finalidade o tratamento adequado e a tomada de medidas cabíveis para o seu controle. Para tal, a Vigilância trabalha no sentido de: • detectar, o mais cedo possível, os casos ou os surtos de hantovirose; • conhecer a história da hantavirose no Brasil; • identificar fatores de risco associados à doença; • estudar medidas que previnam e controlem a hantavirose; • analisar os dados coletados e conhecer a tendência da doença. e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes 40 Vigilância em Saúde 4.11 Medidas de controle As principais medidas de controle e prevenção da hantavirose são baseadas no controle do seu reservatório. No entanto, há medidas diferenciadas para cada local onde existe a fonte de infecção. Quando o local contaminado está na zona rural, as medidas adotadas não englobam a utilização de controle químico, veneno. Apenas medidas de antirratização, que retiram dos roedores o abrigo, a água e o alimento nas casas rurais e em seus arredores, em um raio de trinta metros. Já nos centros urbanos, o controle inclui tanto as medidas de antirratização como, quanto necessárias, as medidas de desratização, que incluem o uso de venenos. Aqui, o saneamento básico, tanto das residências quanto dos locais de trabalho, é um forte aliado no combate à hantavirose. Caso seja identificada uma fonte de infecção, um local onde provavelmente uma ou mais pessoas contraíram a hantavirose, é necessária a desinfecção do local com desinfetantes. O procedimento de desinfecção só deve ser realizado por pessoas treinadas para esta tarefa, já que representa um risco à saúde de todos que se expuserem àquele ambiente. Dentre os cuidados que devem ser tomados ao se desinfetar um local suspeito de conter o vírus, estão: molhar o piso do local antes de entrar nele, para evitar que partículas virais se espalhem com a poeira e infectem mais pessoas, e utilizar máscaras apropriadas para entrar no local. Nas propriedades rurais, o Ministério da Saúde também recomenda que as plantações devam estar a uma distância mínima de trinta metros da casa, que os grãos sejam armazenados em locais bem vedados, que os terreiros estejam constantemente limpos e sem entulhos. E, para os amantes do ecoturismo, as recomendações são: não acampar em locais onde existam fezes de ratos, não andar descalço, evitar deitar diretamente sobre o chão e manter os alimentos levados em vasilhames bem vedados. Enfim, todas as medidas que impeçam o contato dos seres humanos com excretas de ratos silvestres, que estiverem de acordo com a legislação, devem ser tomadas para se evitar a hantavirose. Leia mais sobre hantavirose no seguinte endereço eletrônico: http://portal.saude.gov. br/portal/arquivos/pdf/ gve_7ed_web_atual_ hantaviroses.pdf Resumo Um dos pontos-chave tratados nesta aula foi o ciclo de transmissão da hantavirose, doença cauda pelo hantavírus que possui taxa de letalidade próxima a 35%. Uma das principais ações do governo brasileiro para combater a hantavirose tem sido a divulgação da doença e de seu ciclo de transmissão. A divulgação da hantavirose auxilia na execução do diagnóstico e, consequentemente, possibilita a redução na taxa de letalidade da mesma. Já o conhecimento do ciclo de transmissão da hantavirose e sua íntima relação com os roedores silvestres auxilia-nos na prevenção e no controle. É bom salientar que a hantavirose não possui vacina ou tratamento específico; por isto, a informação é a nossa principal arma nesta luta. Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas 41 e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes Atividades de aprendizagem 1. Qual a taxa de letalidade da hantavirose registrada atualmente no Brasil? 2. Qual a principal forma de combater roedores? 3. Encontre, na internet, imagens que retratem a principal forma de transmissão da hantavirose e arquive-as em seu arquivo pessoal. 4. Cite três medidas de controle da hantavirose. e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes 42 Vigilância em Saúde AULA 1 Alfabetização Digital Aula 5 – Zoonoses bacterianas Objetivos • Relembrar conceitos acerca das bactérias e conhecer a estrutura bacteriana. 5.1 Introdução Para iniciarmos nossos estudos acerca das zoonoses bacterianas, iremos, primeiro, compreender a estrutura das bactérias. As bactérias são organismos procariotos; possuem estrutura e organização celular definida. Estão entre os menores organismos da terra, medindo entre 0,5 a 2,0 µm de diâmetro. Podem apresentar formas variadas. Há bactérias em forma de coco (redonda), bacilo, vibrião (parecendo uma vírgula), espirilo, cocobacilo e espiroqueta (tal qual um macarrão tipo parafuso). Além de serem encontradas nas formas já citadas, as bactérias também são encontradas em arranjos, unidas umas às outras. Os cocos podem se organizar em cadeias semelhantes a cachos de uva; neste caso, são chamados de estafilococos (Staphilococcus). Podem também se agrupar em linha reta e serem denominados estreptococos (Streptococcus) (Figura 10). Em dupla, diplococos (Figura 11). Outras bactérias não se agrupam e são visualizadas em células separadas ao microscópio. Quem nunca teve a oportunidade de visualizar bactérias coradas pelo método de Gram em um microscópio pode explorar bastante as figuras disponíveis em livros de microbiologia, na internet ou as disponibilizadas aqui mesmo na apostila. Ao explorar as figuras, vocês irão perceber que, muitas vezes, o nome de algumas espécies bacterianas faz referência à sua forma, ao seu arranjo ou ao lugar onde primeiro essa bactéria foi isolada. Vamos citar um exemplo: Staphilococcus aureus (Figura 12). Staphylo significa cacho e refere-se ao seu arranjo celular em forma de cacho de uva; Kokkus significa grão e aureus significa áureo. Procariotos: organismos celulares que não possuem carioteca (membrana nuclear), não possuem uma membrana separando o material genético celular do citoplasma celular. Figura 10: Micrografia de estreptococos Gram-positivo Fonte: Disponível em: <http://phil.cdc.gov/phil/details.asp>. Acessado em: 20.09.11 Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas 43 e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes Figura 11: Micrografia de diplococcus Gram-negativo. Fonte: Disponível em: <http://phil.cdc.gov/phil/details.asp>. Acessado em: 20.09.11. Figura 12: Micrografia eletrônica de Estafilococos aureus. Fonte: Disponível em: <http://phil.cdc.gov/phil/details.asp>. Acessado em: 20.09.11. 5.2 Estrutura bacteriana Micoplasma: um grupo de bactérias que não possui parede celular sólida e, por isso, não possui uma forma definida. Leia mais sobre a coloração Gram no seguinte endereço eletrônico: <http:// pt.wikipedia.org/wiki/ Colora%C3%A7%C3%A3o. As células bacterianas possuem parede celular, uma estrutura rígida que lhes confere forma. Os micoplasmas são a única exceção. A parede celular possui especial importância, já que ela é a estrutura que se diferencia nos dois grandes grupos de bactérias. Ficou complicado? Vou explicar. As bactérias são separadas em dois grandes grupos: o grupo das Gram-negativas e o grupo das Gram-positivas. As bactérias Gram-negativas possuem parede celular constituída de peptidoglicano, e possuem uma membrana externa revestindo a parede, constituída de proteínas ligadas aos lipídeos (lipoproteínas) e de açucares ligados aos lipídeos (lipopolissacarídeo). Quando coradas pelo método de Gram, adquirem a coloração vermelha. Já as bactérias Gram-positivas possuem uma parede constituída de peptidoglicano e ácidos teicoicos, bem mais espessa do que as bactérias Gram-negativas. As Gram-positivas, quando submetidas à coloração de Gram, coram-se de roxo. Além da parede celular, as bactérias possuem a membrana plasmática, responsável por estabelecer uma fronteira entre o interior das células e o ambiente onde elas estão inseridas. Sua constituição assemelha-se muito à e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes 44 Vigilância em Saúde constituição das membranas celulares das células eucariotas, e é composta, principalmente, por fosfolipídios e proteínas, formando um mosaico fluido. O citoplasma celular é o local onde ocorrem as reações químicas das células bacterianas. Ele é constituído por quatro partes de água e uma última parte de substâncias dissolvidas ou suspensas nessa água. Essas substâncias são proteínas (incluindo enzimas), carboidratos, lipídios e diversos íons orgânicos. Além disso, são encontrados, no citoplasma, os ribossomos, local onde ocorrem as sínteses proteicas. A região nuclear é o local no qual o material genético da célula fica concentrado. Lembrando que, nas bactérias, essa região não se encontra delimitada por membrana (não tem carioteca). Os grânulos são vesículas delimitadas por membranas que servem de depósito para a célula guardar, de forma bastante concentrada, diferentes substâncias. Um bom exemplo são os grânulos de glicogênio, utilizados para a obtenção de energia. Algumas bactérias possuem a capacidade de formar endósporos, estrutura que se forma no interior da bactéria sob condições ambientais adversas. Os endósporos são bastante diferentes da forma vegetativa das bactérias descritas aqui. Um endósporo é capaz de sobreviver no ambiente até por cerca de 10.000 anos, com o metabolismo próximo a zero! Por isto, os endósporos são as chamadas formas de resistência das bactérias. Mas, preste bastante atenção: nem todas as bactérias são capazes de produzir endósporos. Algumas bactérias somente possuem a forma vegetativa, que é bem sensível a condições ambientais adversas. Neste momento, você deve estar se perguntando se as bactérias são organismos intra ou extracelulares, certo? Pois então, existem bactérias extracelulares e bactérias intracelulares. De fato, depende da espécie; sempre que formos estudar uma espécie, devemos atentar para este importante detalhe. Eu poderia ficar por páginas e páginas falando-lhes sobre a estrutura e sobre as funções bacterianas. Infelizmente, não devo me prolongar muito neste tema. Nosso objetivo aqui é estudarmos as zoonoses. Falar um pouco sobre a estrutura das bactérias é necessário para ajudar-lhes a compreender as zoonoses bacterianas. Por falar nisto, vamos começar! Resumo Nesta aula, vocês relembraram que as bactérias possuem características bem distintas das características virais, já que, apesar de serem procariotas, possuem organelas que lhes permitem sobreviver no ambiente sem, necessariamente, parasitarem outros organismos. No entanto, as bactérias que causam doenças são parasitas intra ou extracelulares, que possuem formas e arranjos variados. Vocês relembram também que, de acordo com a sua estrutura externa, as bactérias podem ser classificadas como Gram-positivas ou como Gram-negativas. Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas 45 e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes Atividades de aprendizagem 1. As bactérias são organismos eucariotos ou procariotos? 2. O que é a carioteca? 3. O que é um micro-organismo intracelular facultativo? e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes 46 Vigilância em Saúde AULA 1 Alfabetização Digital Aula 6 - Brucelose Objetivos • • • • • Conhecer o risco em saúde oferecido pela brucelose. Conhecer o agente etiológico e seus principais reservatórios. Entender o ciclo de transmissão da brucelose. Conhecer os principais grupos ocupacionais mais expostos. Conhecer as ações da Vigilância Epidemiológica e as medidas de controle. 6.1 Introdução A brucelose é uma doença infecto-contagiosa, uma antropozoonose, provocada por bactérias do gênero Brucella. Também é conhecida como febre ondulante ou febre de Malta. Não é obrigatória a notificação de casos isolados. Possui distribuição universal; é responsável por prejuízos em todo o mundo, além de ser um problema de saúde pública. O primeiro caso de brucelose humana descrita no Brasil data de 1913. Porém, a incidência de casos em seres humanos é pouco conhecida. A OMS estima que, a cada ano, 500 mil pessoas sejam contaminadas por alguma espécie de Brucella em todo o mundo, sendo que a maioria das pessoas infectadas está ligada à bovinocultura. No dia 10 de janeiro de 2001, o Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose (PNCEBT) foi publicado pelo Ministério da Agricultura, com o objetivo de controlar a brucelose e a tuberculose no Brasil, e com o intuito de tornar possível a aplicação de medidas de erradicação no ano de 2008. A principal medida prevista pelo programa foi a vacinação de todo o rebanho nacional. Quando o programa foi publicado, esperava-se que, até 2010, 80% das fêmeas (bovinos) nascidas no território nacional fossem vacinadas. Além dessa medida, o programa previa diversas outras medidas de controle. (BRASIL, 2006). Macrófagos: são células de defesa do sistema imune. 6.2 Agente etiológico O gênero Brucella possui várias espécies, sendo que todas elas são pequenos bacilos Gram-negativos. Cada uma dessas espécies possui seu(s) hospedeiro(s) natural(is). Apesar de terem seus hospedeiros naturais ou preferenciais, cada uma das espécies ainda pode infectar uma série de outras espécies, incluindo os seres humanos. Para os seres humanos, há quatro espécies de interesse: B. melitensis, B. abortus, B.suis e B. canis. A Brucella é um parasita intracelular facultativo, com capacidade de sobreviver e de se multiplicar dentro de macrófagos. Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas 47 e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes 6.3 Hospedeiros e reservatórios Os principais reservatórios de Brucella são os dados a seguir. • Brucella melitensis: cabras, ovelhas e camelos. • Brucella abortus: bovino. • Brucella suis: suínos. • Brucella canis: cães. Reservatórios: são chamados reservatórios os locais, animais, seres humanos ou águas que estejam contaminadas por micro-organismos; e, nos quais, esses micro-organismos consigam sobreviver e se multiplicar. Os reservatórios são fontes constantes de infecção e disseminação de patógenos. A pasteurização é uma técnica desenvolvida por Louis Pasteur, em 1864, com a finalidade de reduzir ao máximo a carga microbiana do leite. A técnica consiste em aquecer o leite a uma determinada temperatura, por um determinado tempo. Há algumas variações nas técnicas de pasteurização. Leia mais a respeito! 6.4 Modos de transmissão A transmissão da Brucella ocorre tanto via alimentos contaminados, tais como leite e derivados, como via aparelho respiratório, após a inalação de aerossóis contendo bactérias, ou pela pele, quando há contato direto com animais infectados. A transmissão entre seres humanos via sexual é bastante rara. Os animais infectados eliminam os micro-organismos nos fluidos e anexos fetais. Neste caso, a eliminação dos micro-organismos ocorre durante o parto, aborto ou logo após o seu acontecimento. Além dessas vias de eliminação, o leite e o sêmen de animais infectados também podem eliminar células de Brucella. Dessa forma, as vacas são a principal fonte de infecção, contaminando os pastos, no momento do parto ou do aborto, ou o próprio leite, no momento da ordenha. Essas bactérias podem sobreviver no ambiente por longos períodos, aumentando ainda mais as chances de contaminação de um novo indivíduo. Em seres humanos, a transmissão ocorre, normalmente, pelo trato digestivo, com a ingestão de leite e de derivados não pasteurizados. O queijo fresco, consumido em boa parte do Brasil, também chamado de queijo Minas, é uma importante fonte de transmissão, já que ele é produzido com leite não pasteurizado. A transmissão via carne contaminada é bastante improvável, já que o número de bactérias no músculo é pequeno e a ingestão da carne crua não é habitual. 6.5 Período de incubação O período de incubação é bastante variável, podendo durar de semanas a anos! 6.6 Quadro clínico Após o período de incubação, a brucelose pode se apresentar de diferentes formas. A fase aguda da doença apresenta-se com febre durante o dia e baixas temperaturas durante a noite, seguida de intensa sudorese. Nas fases subaguda e crônica, os sintomas são insônia, impotência sexual, intestino preso, dores por todo o corpo, inclusive nas articulações, e anorexia. O quadro clínico pode se complicar, havendo infecção da vesícula seminal e da próstata, meningite e encefalite. e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes 48 Vigilância em Saúde 6.7 Diagnóstico 6.7.1 Em animais O diagnóstico de brucelose pode ocorrer por uma combinação de fatores: sintomatologia clínica (abortos no rebanho, esterilidade nas fêmeas e nos machos e bezerros fracos), diagnóstico epidemiológico baseado no histórico do rebanho, diagnóstico direto baseado no isolamento do agente etiológico e, por fim, o diagnóstico sorológico. 6.7.2 Em seres humanos Após o surgimento do quadro clínico característico supracitado, deve-se fazer o teste sorológico para confirmar a infecção. O Sistema Único de Saúde (SUS) preconiza o teste sorológico por reação de aglutinação rápida do soro do paciente suspeito com os antígenos de Brucella abortos, chamado de rosa de bengala. 6.8 Tratamento Diante do resultado positivo, os pacientes devem ser tratados com antibiótico. Normalmente, o tratamento apresenta bons resultados. 6.9 Características epidemiológicas Apesar de todos serem suscetíveis à Brucella, a brucelose é considerada uma doença ocupacional, ligada a alguns tipos de trabalho; normalmente, a trabalhos na criação animal. Prevalece em regiões nas quais há criação de gado, e acomete mais homens do que mulheres. Sabe-se que a prevalência da brucelose em humanos está diretamente relacionada com a prevalência encontrada nos animais de criação, e a prevalência nos animais não é muito conhecida. Estima-se que o número real de casos de brucelose é cerca de cinco vezes maior do que o número de casos confirmados. O bovino é a espécie animal mais importante na transmissão da brucelose aos seres humanos. Prova disto é que a maior incidência de casos de brucelose humana encontra-se entre os tratadores de gado. 6.10 Vigilância Epidemiológica A Vigilância Epidemiológica trabalha com o intuito de eliminar as fontes de infecção da brucelose através de medidas que atinjam o maior número de animais e de pessoas possível. O trabalho visa desde a eliminação de prováveis fontes de infecção à educação da população. Para tal, deve-se: • realizar testes para a identificação de animais positivos; Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas 49 e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes • sacrifícar os animais positivos; • controlar o trânsito de animais que são utilizados como reprodutores; • educaçar a população sobre os riscos existentes no consumo de leite e derivados não pasteurizados; • educação dos tratadores de animais, para que eles evitem o contato com animais doentes ou suspeitos; • incentivar o cuidado no descarte de placenta e de fetos de animais; • em caso de surtos da doença, é necessário fazer a investigação das possíveis fontes de infecção; • confiscar o leite e seus derivados dos animais com suspeita ou confirmação de infecção. Como vocês puderam perceber, a Vvigilância Epidemiológica possui ações bastante voltadas para o principal reservatório da Brucella, o bovino. O que nos mostra que, de fato, a incidência da doença em seres humanos está intimamente relacionada à incidência da infecção nessa espécie animal. 6.11 Medidas de controle O controle da brucelose é realizado principalmente nos animais que são os reservatórios da Brucella. A vacinação é a principal forma de controle da doença. Outra forma de controle importante é a identificação de animais positivos e a sua eliminação. Além disso, o controle do trânsito dos animais e as medidas de desinfecção, que visam diminuir a carga bacteriana presente nos ambientes infectados, constituem-se em importantes formas de combate à infecção, tanto para os animais quanto para os seres humanos. Resumo A brucelose, também conhecida por febre de Malta, é uma zoonose causada por bactérias do gênero Brucella. Trata-se de uma zoonose subdiagnosticada no Brasil, cuja incidência nos seres humanos está intimamente relacionada à incidência encontrada nos bovinos. Sua transmissão ocorre principalmente pela ingestão de leite e de derivados do leite contaminados com seu agente etiológico. Como a transmissão também pode ocorrer de forma direta, via cutânea ou via aérea, os tratadores de gado e os veterinários constituem os grupos ocupacionais mais expostos à doença. Neste tipo de transmissão, os fetos abortados e os restos de placenta são reservatórios importantes da Brucella. A principal medida de controle da brucelose é mesmo a vacinação em massa dos rebanhos. Aqui, a prevenção da doença nos animais é capaz de reduzir a incidência da doença nos humanos. e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes 50 Vigilância em Saúde Atividades de aprendizagem 1. Qual é o principal reservatório de cada uma das espécies de Brucella citadas nesta unidade? 2. Dê o conceito de parasita intracelular facultativo. 3. Busque o máximo de informações sobre brucelose nas publicações do Ministério da Saúde e troque informações com seus colegas. 4. Vamos enriquecer todas essas informações sobre brucelose com muitas imagens. Sugiro que acrescentem, em seus arquivos pessoais, imagens relacionadas aos temas tratados nesta aula. Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas 51 e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes AULA 1 Alfabetização Digital Aula 7 – Tuberculose Objetivos • • • • • Conhecer o risco em saúde oferecido pela tuberculose. Conhecer o agente etiológico e seus principais reservatórios. Entender o ciclo de transmissão da tuberculose. Conhecer os grupos ocupacionais mais expostos. Conhecer as ações da Vigilância Epidemiológica e as medidas de controle. 7.1 Introdução A tuberculose (TB) é zoonose de notificação obrigatória, considerada problema de saúde pública prioritário no Brasil. O que é bastante louvável, já que estima-se que 85 mil novos casos da doença ocorram por ano em todo o território nacional. No que diz respeito à taxa de mortalidade, há uma pequena variação, de acordo com a região do país. As maiores taxas são encontradas no Sudeste brasileiro, onde 3,5% das pessoas que são infectadas vêm a óbito. E as menores taxas são encontradas no Centro-Oeste, onde aproximadamente 1,8% das pessoas infectadas vêm a óbito. Além de possuir uma alta incidência, ainda podemos citar dois sérios agravantes da tuberculose (TB): as infecções pelo vírus HIV e o tabagismo. Sabe-se, desde 1918, que a associação de TB e tabaco aumenta muito a possibilidade de recidiva e morte pela TB. Já a epidemia mundial de AIDS constitui-se no novo desafio enfrentado pela saúde pública no combate à TB. 7.2 Agente etiológico As espécies de bactérias que causam a TB pertencem à família Mycobacteriaceae, gênero Mycobacterium (Figura 13). Trata-se de bastonetes curtos, imóveis, aeróbicos, intracelulares, que apresentam crescimento lento. São altamente resistentes a baixas umidades, podendo permanecer viáveis em escarro contaminado por até 8 meses, o que é um fator agravante no seu mecanismo de transmissão. Contudo, essas células bacterianas são muito sensíveis à luz direta; tal contato pode reduzir seu tempo de vida no ambiente. Para saírem do estado de latência, é necessário que se instalem em um hospedeiro. A espécie encontrada comumente em humanos é o Mycobacteium tuberculosis. Além dessa espécie, o Mycobacterium bovis também pode infectar seres humanos. Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas 53 e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes Figura 13: Mycobacterium SP. Fonte: Janice Haney Carr. Disponível em: <http://phil.cdc.gov/phil/details.asp>. Acesso em 04/10/2011. 7.3 Hospedeiros e reservatórios A principal espécie a infectar seres humanos é o Mycobacterium tuberculosis, sendo o próprio homem o principal reservatório. Em especial, em algumas regiões do Brasil, o bovino também pode ser considerado reservatório do Mycobacterium tuberculosis. No entanto, é bom salientar que, em bovinos, o Mycobacterium tuberculosis não causa doença progressiva. Outra espécie, o Mycobacterium bovis, encontrado principalmente em bovinos e bubalinos, pode participar da etiologia da tuberculose humana. A doença humana causada pelo M. bovis é também denominada tuberculose zoonótica. 7.4 Modo de transmissão 7.4.1 Em seres humanos A tuberculose é transmitida de um indivíduo a outro através da tosse, da fala e do espirro. As pessoas que disseminam, juntamente com seu escarro, o agente etiológico, detectado em testes de laboratório, são chamados de bacilíferos. Estes tendem a serem fontes de contaminação mais importantes do que aqueles pacientes que, mesmo doentes, não demonstraram disseminar o bacilo em seu escarro. A transmissão entre seres humanos ocorre principalmente antes de se começar o tratamento. À medida que a tuberculose é tratada, a transmissão é reduzida, gradativamente. Portanto, estudantes, há pacientes de TB bacilíferos e há pacientes não bacilíferos, e os bacilíferos são disseminadores do agente etiológico, mais importantes que os demais. e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes 54 Vigilância em Saúde 7.4.2 Entre homens e animais A tuberculose também pode ser transmitida entre bovinos e seres humanos através da ingestão de leite e de seus derivados contaminados com o M. bovis, via cutânea e por via respiratória. A ocorrência de tuberculose no homem, causada por M. bovis, depende do quadro epidemiológico encontrado nos rebanhos bovinos, pelos hábitos alimentares da população, pelas condições socioeconômicas, pela forma como os alimentos são manipulados e são guardados, e pelas medidas de controle adotadas na propriedade rural. O homem adquire a doença por meio da ingestão de leite e derivados crus oriundos de vacas infectadas. O risco é maior para crianças, idosos e pessoas com deficiência imunológica. 7.5 Período de incubação A TB possui período de incubação de seis a doze meses. 7.6 Quadro clínico A tuberculose pode atingir diferentes órgãos: pele (Figura 14), rins, olhos, ossos e outros. No entanto, a tuberculose pulmonar é a forma mais conhecida da doença, e a que acomete o maior número de pessoas. Nesta forma, os sintomas mais comuns são: tosse com secreção, febre (normalmente ao entardecer), suores noturnos, falta de apetite, emagrecimento, cansaço fácil e dores musculares. Nos casos mais graves, há dificuldade na respiração, eliminação de sangue e acúmulo de pus na membrana que reveste os pulmões. Normalmente, as pessoas procuram o serviço médico quando apresentam tosse prolongada, por mais de três semanas. Quando a tuberculose atinge outros órgãos, tais como a pele, há outros sintomas relacionados. Figura 14: Paciente com tuberculose cutânea. Fonte: Basilio-de-Oliveira, C. A. e colaboradores. Disponível em: <http://ppsus.cederj.edu.br/ site/buscar>. Acesso em 02/10/2011. Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas 55 e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes 7.7 Diagnóstico Baciloscopia de escarro: é um teste de laboratório que utiliza o escarro do paciente suspeito para buscar, neste, o agente infeccioso da TB. O diagnóstico da TB é feito de forma direta, ou seja, busca-se encontrar o agente etiológico no escarro do paciente com suspeita de TB. A baciloscopia de escarro, se realizada de maneira correta, identifica 60 a 80% dos casos positivos. Visto que os pacientes que disseminam o agente no escarro possuem grande importância na transmissão, esse diagnóstico é de extrema importância epidemiológica, pois tende a identificar justamente os pacientes disseminadores do bacilo. O exame deve ser realizado com, no mínimo, duas amostras. Em caso de resultado negativo nas duas amostras e fortes suspeitas de TB, deve-se repetir a baciloscopia de escarro. Em caso de baciloscopia novamente negativa, deve-se fazer a cultura do escarro. Esta é forma de fazer o diagnóstico básico. Porém, há outros testes que podem auxiliar o médico no fechamento do diagnóstico. 7.8 Tratamento A TB possui tratamento eficaz, com aproximadamente 100% de cura em casos recentes. Todas as pessoas com baciloscopia positiva devem ser tratadas, e todas as pessoas com baciloscopia negativa, que fizeram tratamento inespecífico e não apresentaram melhora, também podem ser tratadas, após criteriosa avaliação clínica. O tratamento da tuberculose é realizado com antibiótico e possui duração de, aproximadamente, seis meses. Para a obtenção de bons resultados, é imprescindível que o paciente realize o tratamento até o final. Há uma tendência dos pacientes a abandonarem o tratamento, em virtude dos muitos efeitos adversos da medicação (vômito, náuseas, indisposição e mal-estar geral). É importante conscientizar os pacientes da necessidade de realização do tratamento até o final. A medicação é distribuída gratuitamente pelo SUS - Sistema Único de Saúde através dos postos de saúde municipais. 7.9 Características epidemiológicas A TB atinge tanto homens quanto mulheres, sendo mais comum em homens. Pode acometer indivíduos de qualquer faixa etária. Ela está presente em todo o mundo, sendo mais comum em áreas pobres, onde há desnutrição, condições sanitárias inadequadas e saúde pública deficitária. A associação da tuberculose com a Síndrome da Imunodeficiência Humana (AIDS) constitui-se em um grande desafio para a saúde pública em todo o mundo. O Brasil está entre os 22 países que, juntamente, concentram 80% dos casos de TB. O Brasil notificou, em 2007, mais de setenta e dois mil novos casos! Sendo que a maioria dos casos ocorreu no estado de São Paulo, e o maior número de casos por habitantes foi registrado no estado do Rio de Janeiro. Estima-se que 4.500 pessoas morrem em decorrência da TB todos e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes 56 Vigilância em Saúde os anos no Brasil, mesmo existindo formas eficientes de prevenção e de tratamento. A maioria dos óbitos ocorre em hospitais e em grandes cidades. Diante dos números alarmantes, é fácil de entendermos porque a TB foi a quarta causa de morte por doenças infecciosas em 2008, entre pacientes que não estavam infectados pelo vírus HIV, e a primeira causa de morte entre pacientes aidéticos no Brasil. Diversas entidades ligadas à saúde vêm estabelecendo metas para o controle da TB. Espera-se que, até o ano de 2015, a incidência seja de 25,9 casos a cada 100.000 habitantes, e a taxa de prevalência e de mortalidade seja a metade da registrada em 1990. Além disso, espera-se que, até 2050, a incidência global de TB ativa seja menor que 1 para cada 1.000.000 habitantes por ano (BRASIL, 2010). Os tratadores de rebanhos que possuem animais infectados e os trabalhadores da indústria de carnes constituem os grupos ocupacionais mais expostos à doença. Nesses grupos, a principal forma clínica observada é a pulmonar. A incidência da tuberculose humana de origem animal tem diminuído nos países onde existem campanhas de combate à tuberculose bovina e a pasteurização do leite é obrigatória. Diante de todos esses dados, é impossível não percebermos a importância da tuberculose como grave problema de saúde pública a ser resolvido. Por isso mesmo é que a TB é uma doença de notificação compulsória, ou seja, todos os casos da doença devem ser informados ao Ministério da Saúde. Incidência: significa o número de novos casos de uma doença, durante um período de tempo definido, em uma população. Calcular a incidência é útil para medir e comparar a frequência das doenças em populações. 7.10 Vigilância Epidemiológica O Programa Nacional de Controle da Tuberculose possui, como principais objetivos, reduzir a morbidade, a mortalidade e a transmissão da TB. Para tal, os objetivos específicos são os dados a seguir. • Aumentar a detecção de novos casos. • Diminuir o abandono do tratamento. • Aumentar as taxas de cura. • Expandir o tratamento para os programas de Saúde da Família. • Expandir os programas de educação em saúde que visem à educação da população acerca da TB. • Capacitar profissionais que atuem no controle e na prevenção da TB. • Prevenir a TB por meio da vacinação e da quimioprofilaxia. • Manter a cobertura de prevenção adequada pela BCG. • Aprimorar o sistema de informação, coleta e retransmissão dos dados epidemiológicos. • Acompanhar o desenvolvimento das novas drogas que surgirem. • Promover ações que disseminem as normas do Programa de Controle da TB. Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas 57 e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes 7.11 Medidas de controle Amostras atenuadas: são micro-organismos que não possuem mais a capacidade de causar doença, mas que mantêm a capacidade de gerar memória imunológica e são utilizados na formulação de vacinas vivas. A TB em crianças, adolescentes e em pacientes portadores do vírus HIV possui diversas peculiaridades. Para saber mais, leia a apostila publicada pelo Ministério da Saúde em 2010, no endereço eletrônico que segue. Você também pode utilizar essa apostila para tirar dúvidas e para enriquecer os seus conhecimentos acerca da tuberculose. Bons estudos! <http://portal. saude.gov.br/portal/ arquivos/pdf/manual_ de_recomendacoes_ controle_tb_novo.pdf>. Para saber mais sobre a vacina BCG e o calendário de vacinação nacional, acesse o ambiente virtual no seguinte endereço eletrônico: <http://portal.saude. gov.br/portal/saude/ visualizar_texto. cfm?idtxt=21462>. O controle da tuberculose fundamenta-se no bloqueio de pontos críticos da cadeia de transmissão da doença. Especificamente em seres humanos, o tratamento dos doentes é a principal medida de controle adotada pelo governo. Outra forma de controle é a inspeção sanitária dos produtos de origem animal destinados ao consumo humano e a pasteurização ou esterilização do leite e derivados. Tais medidas diminuem os riscos de transmissão do M. bovis ao homem. Bovinos infectados podem ser responsáveis por parte dos casos de tuberculose humana causada pelo M. bovis, principalmente em áreas de alta prevalência de infecção e onde não existe controle sanitário dos produtos de origem animal. A prevenção da TB é realizada através de eficazes programas de vacinação. A vacina BCG (Bacilo de Calmette-Guérin) é utilizada para evitar que a primo-infecção natural, causada por Mycobacterium tuberculosis, evolua para doença. A vacina é composta por uma amostra atenuada do Mycobacterium tuberculosis. O Ministério da Saúde recomenda que todas as crianças devam receber, logo após o nascimento, uma dose única da vacina BGC, salvo algumas exceções. Para tal, o Programa de Controle da Tuberculose determina: • incentivo da vacinação com BCG nas maternidades; • controle da qualidade da BCG; • investigação dos efeitos adversos ocorridos em decorrência da vacinação com a BCG; • análise da incidência das formas graves de TB em relação às coberturas de vacinação para avaliação de impacto. Resumo Nesta aula, tratamos da tuberculose (TB), um problema de saúde pública prioritário no Brasil, notificação obrigatória, causada pelo Mycobacterium tuberculosis ou pelo Mycobacterium bovis. A TB não possui uma taxa de letalidade muito alta, se analisarmos este dado em separado, porém, se analisarmos este dado levando em consideração o grande número de pessoas que adoecem e o fato de ser uma doença com tratamento e cura, aí, a taxa de letalidade média apresentada no Brasil passa a ser inaceitável. É justamente por este motivo que uma das principais medidas incentivadas pelo governo para reduzir a taxa de letalidade da TB é a busca ativa por pacientes que ainda não estão em tratamento; campanhas que incentivam esses pacientes a se manterem em tratamento até a alta médica e a vacinação em massa da população logo após o nascimento. A TB é transmitida principalmente entre os seres humanos, sendo mais raros os casos de transmissão entre animais e seres humanos. Nesses casos, a transmissão pode ser tanto via leite e derivados contaminados ou por via aérea ou cutânea. Seja lá qual e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes 58 Vigilância em Saúde for o tipo de transmissão, o fato é que o tratamento dos doentes constitui-se em uma das medidas mais eficazes para evitar o aumento da incidência da doença. Atividades de aprendizagem 1. Cite cinco medidas adotadas pela Vigilância Epidemiológica para controlar a TB. 2. Quando uma criança deve receber a vacina BCG? 3. Quais medidas são adotadas pelo governo brasileiro para aumentar as taxas de cura da TB? Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas 59 e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes AULA 1 Alfabetização Digital Aula 8 - Leptospirose Objetivos • • • • • Conhecer o risco em saúde oferecido pela leptospirose. Conhecer o agente etiológico e seus principais reservatórios. Entender o ciclo de transmissão da leptospirose. Conhecer os grupos sociais mais expostos. Conhecer as ações da Vigilância Epidemiológica e as medidas de controle. 8.1 Introdução A leptospirose é uma doença infecciosa grave causada por bactérias do gênero Leptospira. Uma grande variedade de animais é suscetível às leptospiras, incluindo bovinos, equinos, caprinos, cães e roedores. A leptospirose está intimamente relacionada com a pobreza e com as condições precárias de saneamento básico, associadas à alta infestação de ratos infectados por Leptospira. Possui taxa de letalidade próxima a 11%. Ou seja, em um grupo de 100 pessoas que se infectam com alguma espécie de Leptospira, aproximadamente 11 pessoas morrem em decorrência da doença (BRASIL, 2009). 8.2 Agente etiológico O gênero Leptospira possui muitas espécies patogênicas e algumas espécies de vida livre, não patogênicas. Trata-se de bactérias em forma de espiral (Figura 15), Gram-negativas, móveis, extracelulares, sensíveis ao dessecamento, isto é, não sobrevivem em locais sem água. Quando disseminadas na água, na lama ou na terra úmida, podem sobreviver por até três meses. Além de não sobrevirem à falta de água, também são muito sensíveis aos desinfetantes e aos agentes bactericidas em geral. Figura 15: Leptospira sp. Foto: Janice Haney Carr. Fonte: http://phil.cdc.gov/phil/details.asp. Acesso em 30/09/2011. Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas 61 e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes 8.3 Hospedeiros e reservatórios Uma grande variedade de mamíferos pode abrigar e disseminar Leptospiras patogênicas. Nos centros urbanos, os roedores são o principal reservatório da Leptospira. Na zona rural, os bovinos, equinos, suínos, ovinos e caprinos são os principais reservatórios. O homem, além de ser hospedeiro acidental, também é considerado um hospedeiro terminal dentro da cadeia de transmissão. 8.4 Modos de transmissão Nas cidades, o principal animal envolvido na disseminação da doença são os roedores: Rattus norvegicus (ratazana ou rato de esgoto) (Figura 16), Rattus rattus (rato de telhado ou rato preto) (Figura 17) Mus musculus (camundongo ou catita) (Figura 18); eles são portadores assintomáticos altamente adaptados à Leptospira. Na zona rural, além dos roedores, os bovinos, caprinos, suínos, ovinos e equinos também são considerados importantes disseminadores. Figura 16: Rattus norvegicus (ratazana ou rato de esgoto). Fonte: Brasil. Fundação Nacional de Saúde. Manual de controle de roedores. - Brasília: Ministério da Saúde, Fundação Nacional de Saúde, 2002. 132p.: il. 1. Roedores - prevenção e controle. 2. Vigilância epidemiológica. 3 zoonose. Acesso em 16/09/2011. Figura 17: Rattus rattus (rato de telhado ou rato preto). Fonte: Brasil. Fundação Nacional de Saúde. Manual de controle de roedores. - Brasília: Ministério da Saúde, Fundação Nacional de Saúde, 2002. 132p.: il. 1. Roedores - prevenção e controle. 2. Vigilância epidemiológica. 3 zoonose. Acesso em 16/09/2011. e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes 62 Vigilância em Saúde Figura 18: Mus musculus (camundongo ou catita). Fonte: Brasil. Fundação Nacional de Saúde. Manual de controle de roedores. - Brasília: Ministério da Saúde, Fundação Nacional de Saúde, 2002. 132p.: il. 1. Roedores - prevenção e controle. 2. Vigilância epidemiológica. 3 zoonose. Acesso em 16/09/2011. A transmissão da leptospirose ocorre via urina de animais contaminados. Após invadirem um animal, as Leptospiras patogênicas migram para os seus rins e são expelidas na urina dos animais infectados. Após serem expelidas na urina, podem sobreviver no ambiente por dias, semanas ou meses, caso entrem em contato com água ou com solo úmido. A grande incidência da doença nos centros urbanos ocorre nos períodos chuvosos, quando as águas das chuvas entram em contato com as águas dos esgotos. Os roedores representam grande perigo por, normalmente, serem bem adaptados à infecção, não apresentando sinais clínicos da doença e disseminando as Leptospiras no ambiente onde vivem ou transitam. As populações que não possuem saneamento básico (Figura 19) e que estão mais expostas aos ratos, consequentemente, estão também mais expostas ao risco de contraírem a doença. Porém, mesmo pessoas que vivem em áreas com saneamento básico correm o risco de contraírem a leptospirose ao caminharem por áreas inundadas ou terem qualquer outro contato com águas de enchentes. Durante a exposição dos seres humanos à água contaminada, a Leptospira penetra pela pele em locais que estão feridos ou arranhados, ou mesmo na pele íntegra molhada, cujos poros estão muito abertos. Da pele, as bactérias migram para a corrente sanguínea e se disseminam por todo o organismo. É bom ressaltarmos que a leptospirose também pode ser contraída durante os períodos mais secos do ano, caso o homem ou os animais tenham contato com qualquer tipo de água ou lama contaminada com Leptospiras patogênicas. A Leptospira também possui a capacidade de penetrar pelas mucosas, incluindo a mucosa da boca. No entanto, caso ocorra a ingestão de água contaminada, as possibilidades de infecção são pequenas, já que as Leptospiras são sensíveis ao suco gástrico. Nesses casos, a contaminação pode ocorrer via invasão de mucosas. Outras formas de infecção pouco relatadas são: contato com sangue e excretas de animais ou pacientes contaminados. Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas 63 e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes Figura 19: Moradias urbanas sem saneamento básico. Fonte: Brasil. Fundação Nacional de Saúde. Manual de controle de roedores. - Brasília: Ministério da Saúde, Fundação Nacional de Saúde, 2002. 132p.: il. 1. Roedores - prevenção e controle. 2. Vigilância epidemiológica. 3 zoonose. Acesso em 16/09/2011. 8.5 Período de incubação O período de incubação da leptospirose é bastante curto, podendo variar de dois a vinte dias. Em média, os primeiros sintomas aparecem cerca de dez dias após a contaminação. 8.6 Quadro clínico Icterícia: coloração amarelada da pele e das mucosas. O quadro clínico da leptospirose varia de acordo com a espécie animal acometida e com a espécie de Leptospira envolvida. Para vocês terem ideia, um boi pode passar a vida inteira sendo portador assintomático. O mesmo acontece com os ratos, a espécie mais adaptada à infecção por Leptospira que conhecemos. Já o cão pode ou não apresentar sinais clínicos da doença. Quando não apresentam sinais clínicos, são um grande risco à saúde humana porque, mesmo não estando doentes, são disseminadores da bactéria em sua urina. Quando são sensíveis à Leptospira infectante, podem apresentar falta de apetite, fraqueza, febre, vômitos, diarreia, hemorragias e icterícia. A leptospirose pode levar o cão à morte. No caso de apresentação de sinais clínicos, a recomendação sempre é procurar um veterinário para uma apropriada avaliação do animal. Nos seres humanos, há duas formas distintas de sintomatologia: a forma anictérica (leve, moderada ou grave) e a forma ictérica (moderada ou grave). e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes 64 Vigilância em Saúde 8.6.1 Forma anictérica (leve, moderada ou grave) A forma leve é responsável pela quase totalidade dos casos, porém, devido às dificuldades de confirmação do diagnóstico, não ultrapassa 45% dos casos oficiais. Os sintomas podem se apresentar de forma leve, começar subitamente com febre, cefaleia (dor de cabeça), dores musculares, anorexia, náuseas e vômitos. Tende a se curar sozinha, em poucos dias, sem deixar sequelas, podendo ser confundida com outras enfermidades, tais como viroses ou outras doenças que costumam ocorrer na mesma época. A melhor forma de correlacionar os sintomas quando há suspeita de leptospirose é mesmo o histórico do paciente, que deve ser relatado caso tenha ocorrido contato com águas com possível contaminação. Quando se apresenta na forma grave, há septicemia com febre alta e calafrios. Neste momento, há uma infecção generalizada, e a Leptospira encontra-se circulante no sangue dos pacientes. Além desses sintomas, há dores musculares, principalmente nas panturrilhas, e prostração. Podendo também ser observada uma enorme variedade de outros sintomas. Nesta fase, alguns pacientes podem vir a óbito. 8.6.2 Forma ictérica (moderada ou grave) Alguns pacientes, após passarem pela bacteremia, podem evoluir para uma doença ictérica grave, com disfunção renal, fenômenos hemorrágicos, alterações na circulação, no coração, nos pulmões e de consciência (doença de Weil), com taxas de letalidade entre 10% e 40%. Esse curso da doença não é muito comum e, normalmente, é precedido por sintomas mais intensos. A icterícia, de tonalidade alaranjada (icterícia rubínica), bastante intensa, é característica dessa fase. A disfunção hepática está associada à maior incidência de complicações e à maior mortalidade, embora a insuficiência hepática não constitua importante causa de morte. Nesses casos, a principal causa de morte são as hemorragias gastrointestinais e pulmonares. 8.7 Diagnóstico Para facilitar o diagnóstico da leptospirose, é muito importante o paciente informar ao médico que teve contato com água ou lama de enchentes ou de esgotos. O médico poderá coletar amostras de sangue do paciente para enviar ao laboratório, onde serão realizados exames diretos, que buscam a bactéria no sangue do paciente. Neste caso, a cultura do sangue somente será positiva se a infecção ainda estiver nos primeiros dias. Após o período inicial, os exames não irão detectar a Leptospira no sangue do paciente, mas anticorpos contra essas bactérias. Esses exames, que buscam anticorpos, são chamados exames indiretos. Além desses exames, um hemograma é de grande valia para ajudar o médico a fazer o diagnóstico diferencial da leptospirose. Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas 65 e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes A leptospirose é uma doença curável quando o diagnóstico é realizado a tempo. Procurar o serviço de saúde logo que surgem os sintomas ajuda a salvar vidas. 8.8 Tratamento O tratamento da leptospirose é realizado com antibióticos e, se for iniciado a tempo, é considerado bastante eficaz. Para o tratamento ter sucesso, é necessário que os pacientes busquem o serviço de saúde logo que surgirem os primeiros sintomas e informem o historio de contato com águas com suspeita de contaminação. Somente com essa informação os médicos terão condições de suspeitarem da doença, diagnosticarem e tratarem-na. 8.9 Características epidemiológicas Trata-se de uma doença endêmica, com distribuição mundial, que pode se tornar epidêmica nos períodos chuvosos, principalmente nas grandes cidades. Possui caráter sazonal, atribuído ao aumento do número de casos na época das chuvas. O que é bastante normal, já que seu agente etiológico é dependente da alta umidade para sobreviver no meio ambiente. Alguns profissionais (lixeiros, limpadores de esgotos, médicos veterinários, tratadores de animais, agricultores, bombeiros e outros) estão mais sujeitos à contaminação devido ao contato maior com fontes de contaminação. No período de 2004 a 2008, foram notificados, pelo Ministério da Saúde, 68.379 casos de leptospirose, com a confirmação de 17.533 casos. Sendo que o maior número de casos ocorreu no Sudeste brasileiro, seguido pela região Sul, e a maioria das vítimas foram moradores de regiões pobres das grandes cidades. A taxa de letalidade apresentada no período foi próxima a 11%. Por todos esses motivos apresentados, pelos altos custos do tratamento e pelos grandes prejuízos causados na pecuária, a leptospirose é um importante problema de saúde pública para o qual devemos atentar. Sazonal: a frequência com a qual ocorre a doença varia de acordo com a época do ano. 8.10 Vigilância Epidemiológica e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes A Vigilância Epidemiológica tem como objetivos: • monitorar a ocorrência da doença e determinar a sua distribuição espacial; • facilitar o diagnóstico precoce da doença a fim de iniciar o tratamento e, consequentemente, reduzir as taxas de mortalidade; • identificar o tipo (a espécie ou a sorovariedade) de Leptospira circulante em cada região; • direcionar as medidas que visam à prevenção e ao controle da leptospirose junto à população, ao meio ambiente e aos hospedeiros que servem como reservatórios para a Leptospira. 66 Vigilância em Saúde 8.11 Medidas de controle A melhor forma de prevenir a leptospirose é evitar o contato com águas contaminadas; evite que crianças brinquem em águas de enchentes. Caso o contato seja inevitável, é recomendada a utilização de botas de borracha, luvas de borracha ou sacos plásticos nas mãos para evitar o contato da pele com a água. Em casos de inundação de residências, deve-se fazer a desinfecção de toda a casa com solução de hipoclorito, água sanitária, utilizando a medida de quatro xícaras de café para vinte litros de água. É importante que a caixa d’água também seja desinfetada, e que todos os alimentos que tiveram contato com a água sejam jogados fora. Vocês se lembram de que na descrição do agente etiológico foi falado que a Leptospira é sensível aos desinfetantes comuns? Pois então, a água sanitária é um desinfetante barato e muito eficiente contra a Leptospira e contra uma séria de outros agentes infecciosos também! Outra importante medida de controle da leptospirose é o combate ao seu principal reservatório, os ratos. Há uma regra simples para combater esses roedores: combater os três As. Parece estranho, não parece? Pois não é. Estudantes, prestem atenção: os ratos somente permanecem onde há abrigo, alimento e água. Por isso, se não deixarmos disponível para eles esses três fatores, eles irão buscá-los em outros locais. As recomendações básicas para o combate aos roedores são: vedar os vasilhames onde se encontram os alimentos; dispensar o lixo pouco antes do momento da coleta, em locais mais altos, onde os ratos não possam alcançar, e bem vedados em sacos plásticos; lavar os vasilhames utilizados para servir o alimento de outros animais; manter os terrenos baldios sempre capinados; fechar todos os buracos nos telhados e nos cantos das paredes para evitar a entrada de ratos para dentro de casa; manter as caixas d’águas, os ralos, e os esgotos sempre fechados com tampas pesadas e manter os jardins sempre podados, para evitar que a grama sirva de abrigo para os ratos. Enfim, tudo que tiver utilidade para os ratos, como abrigo, água ou alimentos, deve ser evitado. Quanto à vacinação, o Brasil não possui vacinas para prevenir a leptospirose em seres humanos. Existem vacinas para cães e para animais de fazenda. Mesmo assim, as vacinas existentes no mercado não oferecem 100% de proteção para os animais vacinados. Por isto é tão importante ficar atento aos sinais clínicos apresentados pelos animais. O Ministério da Saúde promove campanhas de esclarecimento e de alerta à população, além de estudar os dados epidemiológicos e de se manter sempre alerta para surtos da doença em todo o país. Aliando todas essas medidas de controle à conscientizando da população sobre os riscos apresentados pelas principais fontes de contaminação, bons resultados devem ser alcançados no controle da leptospirose no Brasil. Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas 67 Acesse a apostila do Ministério da Saúde e leia mais sobre a leptospirose no seguinte endereço digital: <http://portal.saude. gov.br/portal/arquivos/ pdf/apresentacao_ lepto.pdf Acesso em 30/08/2011>. e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes Resumo Nesta aula, vocês aprenderam um pouco sobre a leptospirose, infecção causada por bactérias patogênicas do gênero Leptospira. Vamos rever algunss pontos para relembrarmos os mecanismos de transmissão da leptospirose. 1. Ratos contaminados com leptospira moram nos esgotos e, em sua água, urinam. 2. A água do esgoto contaminada por leptospiras patogênicas mistura-se à água das chuvas durante as enchentes e invade as ruas e as casas das pessoas. 3. As pessoas entram em contato com a água das enchentes, agora contaminada por leptospiras, ao tentarem salvar seus pertences, ao caminharem por ruas inundadas, ao consumirem a água das caixas d’água contaminadas e ao realizarem a faxina em casa após a enchente. 4. A leptospira penetra ativamente pela pele das pessoas; debaixo d’água, migram para a corrente sanguínea e instalam a infecção. A principal forma de transmissão, descrita anteriormente, está intimamente relacionada à pobreza e às condições de saneamento básico inadequadas. Para facilitar o diagnóstico da leptospirose, é imprescindível que todos os pacientes com sintomas semelhantes aos de uma gripe e que tiveram contato com água de enchente informem o episódio ao médico. Dessa forma, a leptospirose poderá ser diagnosticada e tratada com sucesso. Atividades de aprendizagem 1. Busque na internet o nome da espécie de Leptospira que mais acomete o homem no Brasil. Tente encontrar também a espécie prevalente em sua região. 2. Quais são os principais hospedeiros da Leptospira? 3. Cite quatro ações da Vigilância Epidemiológica úteis no combate à leptospirose. 4. Descreva o modo de transmissão mais frequente da leptospirose. e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes 68 Vigilância em Saúde AULA 1 Alfabetização Digital Aula 9 – Zoonoses parasitárias Objetivos • Conhecer os conceitos básicos de parasitologia. • Conhecer as principais classificações dos parasitas. • Entender a relação: parasia/ hopedeiro/meio ambiente. 9.1 Introdução O que é parasitismo? Bem, entendemos como parasitismo uma associação íntima, normalmente duradoura, entre duas espécies diferentes, com algum grau de dependência metabólica e com prejuízo para uma das partes. E o que é parasita? Segundo a microbiologia básica, o parasita é o micro-organismo que sobrevive nutrindo-se das expensas de alguém. Sendo assim, segundo essa definição, podem-se destacar as bactérias, os vírus e os fungos! Alguns destes já estudados por nós anteriormente. Para fins didáticos, a parasitologia médica restringe-se a estudar aquelas patologias causadas por organismos eucariotos, espoliadores, que causam grandes prejuízos ao homem e a outros animais. A partir de agora, nosso estudo irá explorar esses micro-organismos, com destaque para as zoonoses de maior importância para a saúde pública. Como se dividem esses micro-organismos? Os principais são: protozoários, helmintos e artrópodes. Como o nosso objetivo é focar nas doenças de maior importância em saúde pública, vamos estudar, nas próximas aulas, o grupo dos protozoários e dos helmintos, tudo bem? Então, vamos lá! Existem, na natureza, quase 50 mil espécies de protozoários; estes são agrupados em quatro filos, de acordo com suas estruturas de locomoção. Estudantes, vocês se lembram da classificação científica dos seres vivos? Como na natureza existe um grande número de seres, estes devem ser agrupados de acordo com as suas características morfológicas, fisiológicas e estruturais, com a filogenia etc. De modo geral, existem os seguintes níveis de organização, também chamados taxons na natureza: reino, filo, classe, ordem, família, gênero, espécie e, algumas vezes, subespécie. Portanto, o filo corresponde a um grupo amplo de classificação. Para os protozoários, existem os seguintes filos, dados a seguir. • Sarcodina: Entamoeba hystolistica (ameba; já ouviram falar?). • Sporozoa: Toxoplasma gondii (um agente que causa a toxoplasmose). • Flagelatta: Giardia Lamblia (agente que causa a giardíase, famosa por levar a cólicas intestinais). • Ciliophora: Balantidium coli (este não é muito conhecido, mas tem seu lugar junto às outras espécies que causam distúrbios digestivos; a doença chama-se balantidiose). Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas 69 Organismos eucariotos: são todos os seres vivos que possuem um núcleo delimitado por uma membrana, consequentemente, possuem DNA compartimentado, separado do citoplasma; além disso, existem muitas organelas específicas desses seres. Os eucariotos podem ser desde organismos unicelulares até multicelulares. e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes Os helmintos estão dentro de uma classificação mais ampla, que são os metazoários, um sub-reino que inclui os seres multicelulares, que apresentam diferentes tecidos e sistemas, como o sistema digestivo. Então, estudantes, concluímos que os helmintos são seres mais “evoluídos” em relação à sua estrutura. Continuando nossa aula, os helmintos, ou Helmintas, dividem-se em: • nematelmintas: nematoideos intestinais (Ascaris lumbricoides; a famosa lombriga); • platelmintos: cestodos (Taenia solium, que pode causar a cisticercose no homem, proveniente da ingestão de carne de porco contaminada) e tremátodos (Schistossoma mansoni, causador da famosa esquistossomose, doença adquirida em cachoeiras, que possui o caramujo como importante hospedeiro intermediário). Mas não se preocupem, alunos, porque, nas próximas aulas, vamos estudar essa classificação de forma mais detalhada. Agora, nós precisamos entender alguns conceitos que são de grande importância. A seguir, vamos destacar alguns deles. • Quanto ao ciclo de vida: Têm-se três definições que classificam os parasitas quanto ao seu ciclo de vida. São elas: os seres autoxenos, que possuem o seu desenvolvimento completo em apenas um hospedeiro; os seres monoxenos, com um desenvolvimento que acontece parte em um hospedeiro e parte no ambiente; e os seres heteroxenos, que, para um ciclo de vida completo, necessitam de mais de um hospedeiro. Um bom exemplo de seres heteróxenos são os parasitas causadores da leishmaniose visceral, uma endemia emergente nos centros urbanos, atualmente. Para esta patologia se estabelecer, é necessário que o parasita do gênero Leishmania desenvolva uma forma infectante, flagelada (Figura 20), em um hospedeiro invertebrado (Lutzomyia sp.) (Figura 21), e uma fase imóvel, sem flagelos, em um hospedeiro vertebrado (homem, cães e alguns animais silvestres). Figura 20: Leishmania. Leishmania sp., visualizada por microscopia óptica. Legenda: núcleo central (1); cinetoplasto (2); flagelo (3). Fonte: de Souza, Wanderley. Instituição: UFR. Disponível em: <http://ppsus.cederj.edu.br/site/ buscar>.. Acesso em 02/10/2011. e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes 70 Vigilância em Saúde Figura 21 - Inseto flebotomínio. Transmissor da Leishmaniose Visceral. Fonte: Manual de vigilância e controle da leishmaniose visceral / Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância Epidemiológica. Brasil. Editora do Ministério da Saúde. Brasília. 2006. 120 p. Acesso em 20/09/2011. • Quanto ao hospedeiro: na natureza, existem afinidades entre espécies. Essas afinidades, mesmo que possam favorecer apenas um dos lados (o que acontece no parasitismo), são importantes para estabelecer o local ideal de desenvolvimento de um parasito. Alguns hospedeiros podem exercer um papel definitivo no ciclo de vida do parasito. Neste caso, o parasita irá estabelecer seu ciclo sexuado, e o hospedeiro será o seu hospedeiro definitivo. Em outras ocasiões, o hospedeiro servirá para o desenvolvimento assexuado do parasita, e ele será denominado, então, hospedeiro intermediário. O hospedeiro mais importante é o chamado reservatório. Por quê? Bom, neste, o parasita poderá se desenvolver e perpetuar a sua espécie. • Ações do parasita dentro de um hospedeiro: cada espécie de parasita tem a sua forma de sobrevivência, seja o tipo de alimentação, o local de instalação ou mesmo a forma como ele se protege do sistema imunológico do hospedeiro; e isto está diretamente ligado à lesão que ele causará. Existem os parasitas espoliadores, que absorvem sangue e nutrientes do hospedeiro. Outros produzem substâncias tóxicas que agridem o hospedeiro. Há também aqueles que agridem de forma mecânica, muitas vezes por seu tamanho, e são capazes de interferir no trato digestivo, por exemplo, obstruindo o seu fluxo normal de passagem dos alimentos. • Local de desenvolvimento: existem parasitas que se desenvolvem dentro de tecidos internos e nas mucosas dos hospedeiros, por exemplo, Toxoplasma gondii, que causa a toxoplasmose; são denominados endoparasitas. Outros se desenvolvem nas partes externas do hospedeiro, como a epiderme, e são denominados ectoparasitas. Por exemplo: artrópodes, como o carrapato (Figura 22), e anelídeos, como a sanguessuga. Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas 71 e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes Figura 22: Carrapato da espécie Amblyomma cajennense macha (esquerda) e fêmea (direita). Fonte: Jim Occi, BugPics. Disponível em: <http://www.bugwood.org/>. Acesso em 02/09/2011. Quimo: é o nome dado ao alimento quando este chega ao intestino; possui consistência pastosa, pois é um produto da mistura do alimento com ácidos e enzimas digestivas. Gameta: células dos seres vivos responsáveis pela reprodução. Por exemplo, no homem, temos o gameta masculino, denominado espermatozoide, e o feminino, denominado óvulo. • Tipos de desenvolvimento: a classificação é muito simples; observem, alunos! Se for relacionada aos endoparasitas, denomina-se infecção, e se for diretamente ligada aos ectoparasitas, será infestação. Por exemplo; você poderá dizer: “eu estou infectado pelo agente da toxoplasmose” ou “eu estou infestado de carrapatos!” • Quanto à exigência nutritiva: aqueles parasitas que se alimentam de vários tipos de alimentos denominamos de seres euritróficos. Por exemplo, o agente causador da ancilostomose, o Ancylostoma duodenali, alimenta-se de quimo e de sangue. Os parasitas que se alimentam de apenas um tipo de alimento denominam-se de estenotróficos. Exemplo: o sangue para as pulgas. • Quanto ao tipo de parasita: esta classificação também é fácil, estudantes. Quando os parasitas só sobrevivem dentro de um hospedeiro, eles são denominados obrigatórios, e quando sobreviverem de forma livre ou vinculados ao hospedeiro, são facultativos. • Quanto ao tipo de reprodução: podem ser organismos sexuados, com necessidade de fusão de dois gametas, feminino e masculino. Outras definições importantes que podemos destacar são as dadas a seguir. • Parasitíase: nome dado à doença. • Período pré-patente: intervalo entre a contaminação do hospedeiro e o início da eliminação dos parasitas no ambiente, que é a forma de contaminação causada pelo parasita. Caros estudantes, também é importante salientar as vias de contaminação, ou melhor dizendo, as portas de entrada para os parasitas. Como exemplo, tem-se: • boca: alimentos, água e fômites; • pele: penetração ativa ou direta do parasita, ou passiva, através de vetores, como picada de insetos transmissores; • mucosas ou conjuntivas; • inalatória (através da respiração); e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes 72 Vigilância em Saúde • placentária (também denominada transmissão vertical; ela acontece durante a gestação); • vias genitais (transmissão sexual). Como vocês podem perceber, as vias de contaminação são múltiplas, no entanto, para os parasitas conseguirem infestar ou infectar um hospedeiro, ele deve passar por algumas barreiras; algumas delas inerentes ao parasita, outras ao hospedeiro e outras, ainda, ao meio ambiente. A interação desses fatores é que vai determinar a instalação ou não do organismo. Os fatores inerentes ao parasita são: 1. número de exemplares presentes; 2. capacidade de multiplicação; 3. virulência: poder de infecção; 4. vitalidade: quanto maior o tempo de vida, melhor o desempenho. Fômites: qualquer objeto ou substância capaz de transportar um agente infeccioso de um indivíduo para outro. Exemplo: compartilhamento de copos, toalhas e outros utensílios pessoais. E os fatores inerentes ao hospedeiro são os dados a seguir. 1. Imunidade: O perfil imunológico pode estar diretamente ligado ao número de exposições do hospedeiro a um determinado parasito. 2. Idade: Para cada idade, existe um perfil imunológico distinto. 3. Qualidade de vida: O estilo de vida de um indivíduo está intimamente ligado à sua imunidade. Por exemplo: tipo de alimentação, hábitos e costumes, nível de estresse, uso ou não de medicamentos etc. Resumo Esta aula foi baseada na definição de parasitismo e na relação que pode existir entre o parasita e o hospedeiro a ser parasitado. Os principais parasitas são: protozoários, helmintos e artrópodes. Para os protozoários, têm-se os seguintes filos: Sarcodina, Sporozoa, Flagelatta e Ciliophora. Os helmintos são metazoários e dividem-se em Nematelmintos e Platelmintos. Os parasitas possuem diferentes classificações, de acordo com alguns aspectos, como: ciclo de vida, tipo de hospedeiro, ações do parasita dentro do hospedeiro, local de desenvolvimento, tipo de desenvolvimento, exigência nutritiva etc. As vias de contaminação são múltiplas, no entanto, para os parasitas conseguirem infestar ou infectar um hospedeiro, ele deve passar por algumas barreiras; algumas delas inerentes ao parasita, outras ao hospedeiro e outras, ainda, ao meio ambiente. A interação desses fatores é que vai determinar a instalação ou não do parasita no organismo e o surgimento da doença. Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas 73 e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes Atividades de aprendizagem 1. (a) Diferencie virulência de patogenicidade. (b) Discorra sobre os tipos de hospedeiros: hospedeiro definitivo, intermediário e paratênico. 2. Para que os parasitas consigam infestar ou infectar um hospedeiro, ele deve passar por algumas barreiras; algumas delas inerentes ao parasita, outras, ao hospedeiro. Marque (P) para situações ligadas ao parasita e (H) para aquelas ligadas ao hospedeiro. a. ( ) Número de exemplares presentes b. ( ) Capacidade de multiplicação c. ( ) Perfil imunológico d. ( ) Virulência e. ( ) Qualidade de vida 3. Marque a alternativa correta em relação aos conceitos enumerados a seguir. a. Gametas são células dos seres vivos responsáveis pela reprodução. Por exemplo: no homem, temos o gameta masculino, denominado espermatozoide, na mulher, o feminino, denominado óvulo. b. Os helmintos estão dentro de uma classificação mais ampla, que são os metazoários, um sub-reino que inclui os seres unicelulares, que apresentam diferentes tecidos e sistemas, como o sistema digestivo. c. Em algumas ocasiões, o hospedeiro servirá para o desenvolvimento assexuado do parasita, e ele será denominado, então, hospedeiro intermediário. d. Período pré-patente é o intervalo entre a contaminação do hospedeiro e a cura total da infecção. e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes 74 Vigilância em Saúde AULA 1 Alfabetização Digital Aula 10 - Protozoários Obetivos • Comparar a estrutura morfológica dos protozoários com os outros organismos já estudados. • Entender como funcionam os mecanismos básicos de sobrevivência destes parasitos. • Conseguir relacionar os exemplos de protozoários aplicados no texto com cada filo existente. 10.1 Introdução Os protozoários pertencem ao Reino Protista; são seres unicelulares, possuindo uma membrana que recobre o núcleo, portanto, são seres eucariotos. Podemos dizer que são seres mais evoluídos, mais complexos que os já estudados anteriormente, os vírus e as bactérias. Possuem sistema reprodutor, digestivo, de locomoção e produção de energia; por muito tempo, foram considerados “animais unicelulares”. Os protozoários podem viver em diferentes tipos de ambiente e de duas formas: vida livre (em colônias ou sozinhos) e parasitando. Existem várias formas de alimentação, de acordo com cada espécie. Os holofíticos ou autotróficos são os que, a partir de grãos ou pigmentos citoplasmáticos (cromatóforos), conseguem sintetizar energia a partir da luz solar (fotossíntese); holozoicos ou heterotróficos ingerem partículas orgânicas de origem animal, digerem-nas e, posteriormente, expulsam os metabólitos. Essa ingestão dá-se por fagocitose (ingestão de partículas sólidas; figuras 23 e 24) ou pinocitose (ingestão de partículas pequenas); os saprozoicos “absorvem” substâncias orgânicas de origem vegetal, já decompostas e dissolvidas em meio liquido; por fim, há os mixotróficos, que são capazes de se alimentar por mais de um dos métodos anteriormente descritos. A digestão é realizada através de vacúolos digestivos, estruturas que se formam no interior da célula após a ingestão de partículas externas. Os resíduos são excretados juntamente com o vacúolo, podendo ser eliminados por toda a superfície celular. Os protozoários podem se reproduzir tanto assexuada quanto sexuadamente. Na reprodução assexuada, a célula cresce até se dividir em dois novos organismos. Este processo é chamado de divisão binária. A reprodução sexuada ocorre por conjugação, quando dois indivíduos se unem, trocam material genético e originam novos protozoários. Em algumas espécies, ocorre a alternância de gerações (sexuada e assexuada) e a formação de esporos. Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas 75 e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes Figura 23: Protozoário ingerindo uma partícula. Trichomonas vaginalis. Trichomonas vaginalis (em verde) fagocitando e internalizando leveduras (em laranja) por afundamento. Visualizada por microscopia eletrônica de varredura. Observe que não houve a mudança para a morfologia ameboide e a emissão de pseudópodes pelo parasita. Fonte: Disponível em: <http://ppsus.cederj.edu.br/site/buscar>. Acesso em 02/10/2011. , Figura 24: Trichomonas vaginalis fagocitando levedura. Trichomonas vaginalis fagocitando uma levedura visualizada por microscopia eletrônica de varredura. Observe que a ligação ocorre através do flagelo recorrente. Fonte: Disponível em: <http://ppsus.cederj.edu.br/site/buscar>.. Acesso em 02.10.2011 e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes 76 Vigilância em Saúde Figura 25: Protozoário Giardia lamblia dividindo-se em dois, divisão binária. Foto: Dr. Stan Erlandsen. Fonte: Disponível em: <http://phil.cdc.gov/phil/details.asp>. Acesso em 10/10/2011. 10.2 Estrutura dos protozoários Em relação à morfologia, os protozoários podem ser esféricos, ovais ou alongados, dependendo da sua fase evolutiva ou do meio no qual eles se encontram. Para cada função desempenhada pelos protozoários, existem organelas específicas. Como exemplo, pode-se citar o núcleo bem definido e com envelope nuclear, sendo que alguns possuem apenas um núcleo e outros têm dois ou mais núcleos semelhantes. Os ciliados possuem macronúcleo, que é vegetativo e sintetiza DNA e RNA, e micronúcleo diretamente envolvido na reprodução, sexuada e assexuada. O aparelho de Golgi, para sintetizar carboidratos e secretar proteínas; retículo endoplasmático liso, para sintetizar esteroides; e retículo endoplasmático granuloso, para sintetizar proteínas; mitocôndria, para produção de energia; cinetoplasto, que é uma mitocôndria especializada rica em DNA; lisossoma, para digestão intracelular de partículas; e microtúbulos, que formam o citoesqueleto e participam dos movimentos celulares de contração e distensão e na composição de flagelos e cílios. Além de possuírem também corpo basal, para a inserção dos cílios e flagelos; axonema, que é o eixo do flagelo; e citóstoma, que permite ingestão de partículas. Muitas espécies possuem fases de vida definidas de acordo com as atividades fisiológicas desempenhadas em determinado momento. Podemos destacar, assim, as seguintes fases, descritas a seguir. Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas 77 e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes • Trofozoito: fase ativa do protozoário, na qual ocorre alimentação e reprodução. • Cisto e oocisto: formas de proteção utilizadas principalmente quando o meio externo não está propício para o seu desenvolvimento (Figura 25). • Gameta: forma sexuada, na qual o gameta masculino é o microgameta, e o feminino é o macrogameta. Figura 25: Cistos de Giardia lamblia. Cistos de Giardia lamblia visualizados por microscopia eletrônica de varredura. Fonte: Disponível em: <http://ppsus.cederj.edu.br/site/buscar>. Acesso em 02/10/2011. Conforme foi relatado na última aula, os protozoários possuem quatro filos importantes. Vamos relembrá-los? • Filo Sarcodina: os sarcodíneos locomovem-se através de pseudópodes, que são expansões transitórias do citoplasma. São de vida livre e se reproduzem por divisão binária. Alguns exemplos são: amebas (figuras 26 e 27), foraminíferos (aqueles que apresentam uma carapaça calcárea externa, com inúmeras perfurações, por onde os pseudópodes são emitidos), radiolários e heliozoários, com pseudópodes finos e projetados em forma de raios ao redor da célula. Os radiolários são marinhos, e os heliozoários podem ser de água doce ou salgada. e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes 78 Vigilância em Saúde Figura 26: Pseudópodes de uma ameba de vida livre. Foto: Janice Haney Carr. Fonte: Disponível em: <http://phil.cdc.gov/phil/details.asp>. Acesso em 10/10/2011. Figura 27: Entamoeba histolytica. Ameba realizando fagocitose, visualizada por microscopia eletrônica de varredura. Fonte: Disponível em: <http://ppsus.cederj.edu.br/site/buscar>. Acesso em 02/10/2011. • Filo Flagellata: podem apresentar um ou dois flagelos, que servem tanto para locomoção quanto para captação de alimento. São de vida livre ou sésseis, e se reproduzem por divisão binária ou sexuadamente. Muitos são parasitas do homem. Alguns exemplos de protozoários flagelados são parasitas que causam a leishmaniose, a doença de Chagas, a giárdia e a tricomoníase (Figura 28). Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas 79 e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes Figura 28: Trichomonas vaginalis. Trichomonas vaginalis visualizada por microscopia eletrônica de varredura. Fonte: Disponível em: <http://ppsus.cederj.edu.br/site/buscar>. Acesso em 02/10/2011. Organismos sésseis: são aqueles que não se deslocam de forma livre do seu local de fixação. • Filo Ciliophora: a forma de locomoção e captação de alimento ocorre por meio de cílios (filamentos curtos e numerosos). Possui reprodução por divisão binária ou conjugação. Grande parte dos ciliados são organismos de vida livre, com poucos exemplares parasitas. Entre os ciliados parasitas, encontram-se espécies consideradas gigantes para os padrões dos protozoários, como é o caso do Paramecium caudatum, ou simplesmente paramécio, que pode chegar a cinco milímetros de comprimento! • Filo Sporozoa: não possuem estruturas locomotoras. Todas as espécies são parasitas obrigatórios de vertebrados e invertebrados. A forma de reprodução é sexuada e assexuada, podendo também haver a produção de esporos. Os mais comuns são do gênero Plasmodium, que causam a malária, e do gênero Toxoplasma, que causam a toxoplasmose (Figura 29), doença que vamos estudar mais detalhadamente em outra aula. Figura 29:Toxoplasma gondii. Toxoplasma gondii visualizado por microscopia eletrônica de transmissão. O protozoário está no interior dos vacúolos parasitóforos. Fonte: Disponível em: <http://ppsus.cederj.edu.br/site/buscar>. Acesso em 02/10/2011. e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes 80 Vigilância em Saúde Estudantes, a aula de protozoários foi um pouco longa, mas não se assustem. É importante que vocês percebam como os protozoários são seres mais complexos que as bactérias e os vírus. Com o tempo e com leituras constantes, vocês vão conseguir absorver todas essas informações. Resumo Nesta aula, o foco foi o protozoário. Os protozoários são seres unicelulares, de estrutura complexa, e a grande diferença entre eles e os organismos anteriormente estudados é a delimitação do núcleo. Os protozoários são, portanto, eucariotos. Eles possuem quatro filos importantes e fases de vida definidas de acordo com as atividades fisiológicas desempenhadas no momento. Esta aula foi a base para entendermos algumas parasitoses. Atividades de aprendizagem 1.Vocês sentiram falta de uma figura que ilustre o filo Ciliophora? Pois bem, eu senti. Então, mãos a obra. Agora, vocês irão fazer uma pesquisa ilustrativa sobre este filo. 2. Os protozoários possuem quatro filos importantes. Relacione cada filo com a alternativa que melhor descreve a sua característica. 1. Filo Sarcodina 2. Filo Flagellata 3. Filo Ciliophora 4. Filo Sporozoa ( ) Não possuem estruturas locomotoras. Todas as espécies são parasitas obrigatórios de vertebrados e invertebrados. A forma de reprodução é sexuada e assexuada, podendo também haver a produção de esporos. ( ) Podem apresentar um ou dois flagelos, que servem tanto para locomoção quanto para captação de alimento. São de vida livre ou sésseis, e se reproduzem por divisão binária ou sexuadamente. ( ) Os sarcodíneos locomovem-se através de pseudópodes, que são expansões transitórias do citoplasma. São de vida livre e se reproduzem por divisão binária. Um exemplo são as amebas. ( ) A forma de locomoção e captação de alimento ocorre por meio de cílios (filamentos curtos e numerosos). Possui reprodução por divisão binária ou conjugação. Grande parte dos ciliados são organismos de vida livre, com poucos exemplares parasitas. 3. Cite um exemplo de cada um dos filos trabalhados. Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas 81 e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes AULA 1 Alfabetização Digital Aula 11 - Toxoplasmose Objetivos • • • • Conhecer Conhecer Conhecer Conhecer o risco em saúde oferecido pela toxoplasmose. seu agente etiológico e seus hospedeiros. seu ciclo de transmissão. as medidas de controle. 11.1 Introdução Vamos começar a conhecer um pouco mais sobre as protozooses? Nossa, nome difícil, não é? Que nada; junte protozoários com zoonoses e é isto que dá. Uma protozoose muito importante que vamos começar a falar é a toxoplasmose. Esta patologia é muito conhecida, cosmopolita, e possui como principal reservatório o gato. É responsável por determinar quadros variados, desde infecção assintomática e autolimitante às manifestações sistêmicas extremamente graves. Uma grande preocupação das autoridades em saúde é em relação ao acometimento de mulheres grávidas. Denominada como toxoplasmose congênita, ela poderá gerar grandes transtornos para o feto, e o seu diagnóstico deve ser realizado o mais breve possível. Por este motivo, a toxoplasmose congênita é de notificação compulsória. 11.2 Agente etiológico O responsável pela toxoplasmose é o Toxoplasma gondii, um protozoário coccídio intracelular, próprio dos gatos, e que pertencem à família Sarcocystidae, da classe Sporozoa (Figura 30). Infecção autolimitante: é aquela cujo sistema imunológico do indivíduo infectado consegue eliminar a infecção sem a intervenção medicamentosa. Popularmente, podemos dizer que é aquela doença que se resolve por si só! Figura 30: Toxoplasma gondii . Toxoplasma gondii visualizado por microscopia óptica de campo claro. Fonte: Disponível em: <http://ppsus.cederj.edu.br/site/buscar>. Acesso em 02/10/2011. Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas 83 e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes 11.3 Hospedeiros e reservatórios leiam mais a respeito da toxoplasmose no endereço eletrônico: WWW.saude.gov.br! O gato (Figura 31) e seus amigos felídeos são os reservatórios principais, no entanto, existem alguns hospedeiros acidentais envolvidos no ciclo desta patologia. Dentre eles, podemos citar o homem e outros animais não felídeos, como bovinos, suínos, caprinos, ovinos e cães. Bradizoitos: forma encontrada nos tecidos (músculos, nervos e retina). Sua multiplicação é lenta e ocorre dentro do cisto. Seu tamanho é variável, podendo atingir 200µm. Podem permanecer viáveis nos tecidos por anos. Algumas vezes, podem ser encontrados na forma aguda da infecção. Taquizoitos: é a forma encontrada na fase aguda da infecção ou forma proliferativa, livre ou trofozoito. Possui uma forma de meia-lua, móvel, e se multiplica rapidamente. Pode ser destruído pelo suco gástrico. Oocistos: são produzidos na parede intestinal de felídeos não imunes, e são liberados, de forma imatura, com as fezes. São esféricos, resistentes às condições do meio ambiente e constituem-se em um importante veículo de transmissão. Figura 31: Gato. Principal reservatório do Toxoplasma. Fonte: Disponível em: <http://ppsus.cederj.edu.br/site/buscar>. Acesso em 02/10/2011. 11.4 Modo de transmissão Muitas são as maneiras pelas quais o homem pode se infectar acidentalmente pela toxoplasmose. Os gatos, que são os hospedeiros definitivos, ou seja, são neles que ocorre a fase sexuada do parasito, eliminam uma grande quantidade de oocistos através das fezes, durante uma infecção aguda, e perpetuam o ciclo do parasita, podendo infectar alimentos e a água. Os animais, como bovinos, caprinos, ovinos, suínos, cães, homem e os próprios gatos infectam-se ingerindo alimentos contaminados com oocistos, taquizoitos ou bradizoitos. A infecção, portanto, pode acontecer por várias vias, como ingestão de carne mal cozida, contaminada por bradizoitos de Toxoplasma, ou a ingestão de taquizoitos no leite, ou mesmo oocistos nos outros alimentos, na água ou, ainda, provenientes de mão contaminada por fezes. Outro ponto importante é que apenas os gatos não imunes liberam os oocistos. Ou seja, o gato, depois de alguns contatos com o parasita, cria imunidade protetora e não é mais responsável pela fase sexuada do mesmo. É comum que a infecção em crianças ocorra ao brincarem em caixas de areia, onde os gatos comumente defecam. Além destes, a transmissão transplacentária é muito importante. Para a transmissão congênita acontecer, a mãe precisa adquirir a infecção durante a gestação, acometendo 40% dos recém-natos, nestes e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes 84 Vigilância em Saúde casos. É importante saber que a infecção congênita não ocorre em mães que já tiveram infecção prévia, exceto quando ocorrer reativação por alguma forma de imunodepressão. Ainda não acabou! A transmissão também pode ocorrer pela inalação de oocistos esporulados. A infecção por transfusão de sangue e transplante de órgãos de um doador infectado é rara, porém, pode ocorrer também. 11.5 Período de incubação Transmissão transplacentária: é a transmissão que acontece da mãe para o feto durante a gestação. O período de incubação é variável, dependendo do tipo de manifestação da doença. 11.6 Quadro clínico A toxoplasmose é uma infecção parasitária, geralmente, de característica oligoassintomática e autolimitada. Ela pode assumir uma maior relevância no período gestacional; tornou-se mais importante com o aparecimento da infecção HIV/Aids e com o incremento do número de transplantes, além de outras condições imunodepressoras. É importante diferenciar as manifestações da doença, quais sejam: infecção primária em imunocompetentes (toxoplasmose ganglionar), toxoplasmose em pacientes imunocomprometidos, toxoplasmose congênita, coriorretinite isolada (toxoplasmose ocular). 11.6.1 Toxoplasmose ganglionar Quando a contaminação da toxoplasmose acontece em indivíduos considerados saudáveis ou imunocompetentes, aproximadamente 90% destes sendo adultos e adolescentes, eles apresentam infecção assintomática. Se por algum motivo a patologia se desenvolver, o período de incubação varia entre 10 e 20 dias. Na apresentação clínica típica, ganglionar, o paciente apresenta acometimento de linfonodos pelo corpo. O aumento do tamanho dos linfonodos pode ser generalizado ou focal. Os linfonodos podem estar indolores, elásticos e móveis. A localização ocular é bastante frequente nesta forma da doença. A febre acomete mais de 50% dos pacientes sintomáticos. Perda de força muscular, falta de apetite, mal-estar geral e dor de cabeça são queixas comuns nos pacientes com toxoplasmose ganglionar. Mais de 30% dos pacientes apresentam aumento do baço, e 60% aumento do fígado. A persistência dos linfonodos alterados pode durar por muitos meses, porém, sem outras manifestações da doença. 11.6.2 Toxoplasmose febril aguda Como vocês já sabem, na maioria das vezes, a infecção inicial é assintomática. Porém, em muitos casos, a infecção pode se generalizar e ser acompanhada de exantema. Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas 85 e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes Exantema: é uma erupção cutânea (na pele) que ocorre em consequência de doenças agudas provocadas por vírus protozoários ou cocos (bactérias de forma esférica) durante a fase inicial, como todas estas patologias que nós já estudamos anteriormente. Corioretinite: é a inflamação da retina e coroide, componentes oculares. Podem levar à cegueira, em casos graves (Figura 32). Às vezes, sintomas de acometimento pulmonar, cardíaco, hepático ou cerebral são evidentes. Atenção à dica: sempre que for usado o termo ite no final das palavras, isto significa inflamação! Por exemplo: linfadenite: inflamação do linfonodo! Continuando, então, com as ites, outro sintoma da toxoplasmose pode ser a linfadenite toxoplásmica, uma linfadenite regional que pode estar relacionada à porta de entrada, durante a síndrome febril aguda. Geralmente, o quadro caracteriza-se por acometimento dos linfonodos de forma focal, especialmente em mulheres. 11.6.3 Toxoplasmose ocular A coriorretinite ou retinocoroidite é a lesão mais frequentemente associada à toxoplasmose, e, em 30 a 60% dos pacientes com esta enfermidade, se pode atribuir a etiologia ao toxoplasma. Dois tipos de lesões de retina podem ser observados: a) retinite aguda, com intensa inflamação; e b) retinite crônica, com perda progressiva de visão, algumas vezes, chegando à cegueira. Figura 32: Manifestações oculares na AIDS. Em A, papiledema secundário à toxoplasmose cerebral. Em B, lesão de retinocoroidite por toxoplasmose em atividade. Em C, lesão de retinocoroidite por toxoplasmose cicatrizada. Manifestações da infecção pelo HIV. Fonte: Disponível em: <http://ppsus.cederj.edu.br/site/buscar>. Acesso em 02/10/2011. e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes 86 Vigilância em Saúde 11.6.4 Toxoplasmose neonatal Resulta da infecção intrauterina, variando de assintomática à fatal, dependendo da idade fetal e de fatores não conhecidos. Os achados comuns são prematuridade, baixo peso, coriorretinite pós-maturidade, estrabismo, icterícia e aumento do fígado do feto. O quadro pode se modificar de acordo com a fase na qual o bebê está. Por exemplo: se a infecção ocorreu no último trimestre, o bebê pode apresentar, principalmente, pneumonia, inflamação do músculo do coração ou hepatite com icterícia, anemia, coriorretinite, ausência de ganho de peso ou, então, é assintomático. Se ocorrer no segundo trimestre, o bebê pode nascer prematuramente, mostrando sinais de encefalite, com convulsões e calcificações cerebrais. Pode aparecer a tétrade de Sabin, que é uma microcefalia com hidrocefalia, coriorretinite, retardo mental e calcificações intracranianas. A tétrade de Sabin é um sintoma muito conhecido e patognomônico da toxoplasmose neonatal, então, memorizem este nome! Ah, e não se esqueçam de pesquisar o que é sintoma patognomônico! Esta vai ser uma tarefa de casa! 11.6.5 Toxoplasmose no paciente imunodeprimido Como os cistos do toxoplasma persistem por um período indefinido, qualquer imunossupressão significativa pode ser seguida por um recrudescimento da toxoplasmose. As lesões são focais e vistas com maior frequência no cérebro; menos frequentemente, na retina, no miocárdio e nos pulmões. As condições mais comumente associadas a esta forma são a AIDS, a doença de Hodgkin e o uso de imunossupressores. Toxoplasmose e gravidez: como já mencionado, o toxoplasma pode ser transmitido ao feto se a paciente grávida contrair a infecção durante a gestação. Uma vez que a infecção da mãe é usualmente assintomática, geralmente, não é detectada. Por isto, tem-se sugerido a realização de testes sorológicos na gestação, porém, é uma medida dispendiosa e com pouca aplicabilidade prática. Resta, assim, apenas a instituição da quimioterapia adequada, quando o diagnóstico é realizado. 11.7 Diagnóstico Como toda patologia, o diagnóstico pode ser clínico. No entanto, este não é fácil, pois, em casos agudos da doença, pode levar à morte ou evoluir para a forma crônica. Em alguns casos, a toxoplasmose pode se assemelhar com outras infecções, portanto, a suspeita clínica deve ser confirmada com outras técnicas laboratoriais. Uma forma é a pesquisa direta de taquizoitos em lâminas, ou a pesquisa do DNA do parasito. Em casos crônicos, biópsias de lesões poderão acusar a presença de cistos. O diagnóstico rotineiro, mais prático e de fácil execução, são os exames sorológicos, já discutidos anteriormente. Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas 87 e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes 11.8 Tratamento Não existe, até o momento, um medicamento eficaz contra a forma crônica da toxoplasmose, já que as drogas utilizadas agem sobre os taquizoitos, mas não contra os cistos. As drogas de escolha para o tratamento são tóxicas, em uso prolongado, então, recomenda-se o tratamento apenas para casos agudos, pacientes imunocomprometidos em qualquer fase da doença e casos de toxoplasmose ocular. Para os casos de toxoplasmose ocular, recomenda-se a utilização de anti-inflamatórios e antiparasitários. 11.9 Características epidemiológicas Bem, como já foi dito, a toxoplasmose é cosmopolita, sendo assim, está presente em praticamente todos os países. Em cada local, ela apresenta uma prevalência específica, dependendo de cada realidade. Na França, por exemplo, algumas áreas apresentam prevalência superior a 80%, principalmente pelo consumo de carne crua ou mal cozida. Bem, já nas Américas, a prevalência também é alta, mas principalmente porque existe uma grande quantidade de gatos abandonados. Além disso, a toxoplasmose é comum em áreas com clima quente e baixa altitude. Lembre-se: o Brasil está na América, portanto, está dentro dessa estatística. No Brasil, os índices de prevalência de anticorpos variam de 54%, na região Centro-Oeste, a 75%, na região Norte. Esta prevalência aumenta de acordo com a idade, sendo igualmente distribuída entre os dois sexos. Já no Japão, a prevalência é mais baixa, cerca de 10%, e não está vinculada ao consumo de carne crua (eles comem carne crua, mas a carne é de peixe). Perceberam a dica? Carne crua para transmitir toxoplasmose tem que ser de boi, suínos e aves, peixe não é importante (BRASIL, 2008). 11.10 Vigilância Epidemiológica Conforme podemos aprender, a toxoplasmose causa sérios problemas de saúde pública por sua alta infectividade e ampla distribuição geográfica, alto risco de recrudescimento da doença em imunodeprimidos, gravidade da infecção congênita e suas sequelas, gravidade dos casos de toxoplasmose ativa e grande número de casos de toxoplasmose ocular. A toxoplasmose não é uma doença de notificação compulsória, com exceção da forma congênita. Portanto, a Vigilância baseia-se muito mais na busca ativa, quando do surgimento de surtos. No Brasil, três surtos importantes de toxoplasmose aconteceram nos últimos anos. Em 2005, na cidade de Anápolis, 26 pessoas contraíram a infecção em uma festa de confraternização de Natal preparada pela Polícia Civil, que contou com a presença de, aproximadamente, 1.000 convidados, sendo 310 funcionários. A provável forma de transmissão da doença foi a ingestão de alimentos e de bebidas servidos na festa. Dentre estes alimentos, e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes 88 Vigilância em Saúde os principais suspeitos foram o quibe cru, o churrasco de carne bovina, boi no rolete e vinagrete (BRASIL, 2008). No município de Santa Vitória do Palmar, em 2005, dez pessoas da mesma família adoeceram por toxoplasmose adquirida. Nove destas adoeceram entre os dias 13 de maio e 1° de junho. A idade dos pacientes variou entre dois meses e 54 anos. Entrevistas com os pacientes com o diagnóstico confirmado indicaram que eles frequentaram a mesma residência no mesmo período. Os alimentos servidos na refeição, suspeitos de veicular a infecção, foram: água da torneira, frango no molho de cerveja e embutido de carne suína denominado “copa”, de produção industrial. 11.11 Medidas de prevenção e controle • Não se alimentar de carne crua ou mal cozida de qualquer animal ou de leite cru. • Controlar a população de gatos no meio urbano e rural. • Os proprietários de gatos devem manter os animais dentro de casa e alimentá-los com carne cozida ou seca, ou com ração de boa qualidade. • Incinerar todas as fezes dos gatos. • Realizar o exame pré-natal para toxoplasmose em todas as gestantes. • Fornecer tratamento com antiparasitários para grávidas em fase aguda. • Desenvolvimento de vacinas: vacinas com subunidades do parasito, adequadas para combater a toxoplasmose nos seres humanos têm sido desenvolvidas, porém, sem nenhum resultado preventivo concreto até o momento. Resumo A toxoplasmose é uma doença de distribuição mundial. O hospedeiro principal da toxoplasmose é o gato. O homem e outros animais infectam-se acidentalmente por algumas vias bem definidas, como ingestão ou inalação de cistos liberados nas fezes de gatos contaminados. Outra forma do homem se infectar é ingerindo carne ou leite (mais raramente) de animais contaminados pela toxoplasmose. Atualmente, a forma que muito preocupa em termos de saúde pública é a transmissão da mãe para o feto. Esta via de transmissão é denominada transmissão congênita, e pode acarretar em grandes transtornos para a criança. O agente etiológico da toxoplasmose é denominado Toxoplasma gondii. Normalmente, a infecção de pessoas adultas é autolimitante ou apresenta poucos sintomas. Além da importância da toxoplasmose congênita, outra forma preocupante é a coinfecção toxoplasmose e HIV, e em pessoas transplantadas, visto que a transmissão também pode ocorrer por esta via. As principais vias de prevenção e controle da toxoplasmose são: evitar carne crua ou mal cozida, evitar gatos em vias públicas, alimentá-los apenas com ração ou carne cozida e realizar, no pré-natal, exame para diagnosticar a toxoplasmose. Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas 89 e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes Atividades de aprendizagem 1. Estudantes, no item sobre Vigilância Epidemiológica, foram citados dois surtos de grande importância causados pela toxoplasmose. A atividade é que vocês entrem no site do Ministério da Saúde - http://portal.saude.gov.br/portal/saude/profissional/visualizar_texto.cfm?idtxt=34252 - e visualizem os três surtos que estão publicados no boletim eletrônico epidemiológico. 2. Quais são os tipos de toxoplasmose que podem acontecer nos seres humanos? 3. Marque (V) para as alternativas verdadeiras e (F) para as alternativas falsas, a respeito da toxoplasmose. ( ) A toxoplasmose é uma infecção parasitária, geralmente, de característica oligoassintomática e autolimitante. ( ) A toxoplasmose pode assumir uma maior relevância no período gestacional. ( ) Condições imunodepressoras, como infecção por HIV, não influenciam na contaminação do homem por toxoplasmose. ( ) Quando a contaminação da toxoplasmose acontece em indivíduos considerados saudáveis ou imunocompetentes, aproximadamente 90% destes sendo adultos e adolescentes, eles apresentam infecção sintomática. e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes 90 Vigilância em Saúde AULA 1 Alfabetização Digital Aula 12 - Helmintos Objetivos • Entender a estrutura dos helmintos e a sua classificação. 12.1 Introdução São seres metazoários, ou seja, multicelulares, com numerosas espécies, tanto de vida livre quanto de vida parasitária. Estão distribuídos nos filos Platyhelminthes, Nematoda e Acanthocephala. Sua ocorrência é comum; prova disto é que há estimativas que cerca de 20% da população humana de todo o mundo está parasitada por ancilostomídeos. Aqui, focaremos nossa aula nos filos Nematoda e Platelminthes, pois, neles, existem espécies causadoras de antropozoonoses de grande interesse em saúde pública. 12.2 Filo nematoda 12.2.1 Estrutura dos nematodas O filo Nematoda apresenta seres com diversos tipos de vida e habitat. São conhecidos como vermes redondos (figuras 33 e 34). Podemos agrupar grande parte dos nematóides em duas classes: Adenophorea e Secernentea. São vermes de simetria bilateral, tamanho variável, de poucos milímetros a dezenas de centímetros, que apresentam tubo digestivo completo, com boca e abertura anal, e dois sexos distintos (Figura 35). Em geral, o macho é menor do que a fêmea. O sistema genital masculino é diferenciado em testículo, canal deferente, vesícula seminal e canal ejaculador, abrindo-se na cloaca. O aparelho genital feminino é constituído, fundamentalmente, de ovário, oviduto, útero, vagina e vulva. Perceberam a grande diferença entre estes organismos e os anteriormente estudados? Estudamos vírus, bactérias, protozoários e vermes, e as nossas aulas foram dispostas de forma evolutiva, por complexidade dos seres. Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas 91 e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes Figura 33: Região posterior de Trichuris sp macho. Microscopia de luz. Região posterior mostrando a curvatura do corpo de Trichuris sp. macho. Fonte: Disponível em: <http://ppsus.cderj.edu.br/site/buscar>. Acesso em 02/10/2011. Figura 34: Ponta da cauda de Enterobius vermicularis fêmea. Microscopia de luz. Extremidade posterior de Enterobius vermicularis fêmea, mostrando a ponta da cauda bem afilada. Fonte: Disponível em: <http://ppsus.cederj.edu.br/site/buscar>. Acesso em 02/10/2011. Figura 35: Larva rab-ditoide de Ancylostoma duodenale. Larva Rab-ditoide. Larva rab-ditoide de Ancylostoma duodenale visualizada por microscopia de contraste diferencial e interferencial. RA: região anterior; C: região posterior. Barra: 40 μm. Fonte: Disponível em: <http://ppsus.cederj.edu.br/site/buscar>. Acesso em 02/10/2011. e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes 92 Vigilância em Saúde 12.3 Filo platyhelminthes 12.3.1 Estrutura dos platelmintos Exoesqueleto: Podem ser de vida livre, endo ou ectoparasitos. Constituem-se no filo mais inferior dentro dos helmintos. Sua estrutura é achatada, pela ausência de exoesqueleto e endoesqueleto. Possui simetria bilateral, uma extremidade anterior contendo órgãos sensitivos e uma posterior. Não possuem órgão de excreção, cavidade anal ou aparelho respiratório. Estudos mais recentes afirmam existir três classes dentro deste filo (Cestoda, Trematoda, Turbellaria). 12.3.2 Classe Trematoda camada externa formada por cutícula que pode recobrir o corpo de alguns parasitas, promovendo proteção contra a perda de água, flexibilidade e proteção das estruturas internas. Endoesqueleto: estrutura interna de sustentação. São achatados dorsalmente, com simetria bilateral, de contorno oval ou alongado. Corpo não segmentado, presença de tubo digestivo, sem a presença de ânus. Possui, muitas vezes, ventosas de fixação, um sistema nervoso simples, sistema digestivo incompleto, poucos órgãos de sentido. Em algumas espécies, existe um dimorfismo sexual, com órgãos reprodutores bem distintos, e podem ser hermafroditas ou não; desta forma, pode ocorrer autofecundação ou mesmo fecundação cruzada entre dois seres. 12.3.3 Classe Cestoda Apresentam corpo alongado, segmentado, lembrando, por vezes, os trematódeos. Não possuem sistema digestivo, desprovidos de epiderme. O corpo está dividido em três porções bem distintas: o escólice ou escólex (órgãos de fixação; Figura 36), colo ou pescoço e estróbilo. A excreção dá-se por canais excretores; sistema nervoso simples; geralmente, hermafroditas. Figura 36: Escólex de Taenia solium . Microscopia de luz (DIC)- Coloração carmim clorídrico. Escólex de Taenia solium. As setas indicam as quatro ventosas e a coroa de acúleos. Fonte: Acesso em: <http://ppsus.cederj.edu.br/site/buscar>. Acesso em 02/10/2011. Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas 93 e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes Resumo Os helmintos são seres multicelulares, ou seja, metazoários. Possuem três filos distintos. Sua ocorrência é muito comum no Brasil e no mundo. Nesta aula, estudantes, vocês estudaram detalhadamente as características de cada filo. Existem diferenças estruturais bem definidas entre estes filos, como corpo cilíndrico ou achatado, sistema digestivo completo ou incompleto, sistema reprodutor, excretor e nervoso, completos ou não. Atividades de aprendizagem 1. Façam um esquema ilustrativo da morfologia básica de um nematoda e de um platelminto, evidenciando as diferenças entre eles. Agora, é hora de usar todo o seu talento artístico, estudante! 2. Cite duas espécies para exemplificar os helmintos, uma espécie de nematelmintos e uma de platelmintos. 3. Dois exemplos de nematelmintos muito comuns que podemos citar são os popularmente conhecidos por lombriga e amarelão. Definam os agentes etiológicos de cada um deles. e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes 94 Vigilância em Saúde AULA 1 Alfabetização Digital AULA 13 - Doenças causadas pela larva migrans Objetivos • Apontar as três formas clínicas da doença. • Distinguir os agentes etiológicos envolvidos em cada forma clínica e diferenciar as suas manifestações clínicas. • Entender as formas de transmissão. • Conhecer os hospedeiros principais de cada agente etiológico e suas respectivas formas de controle. 13.1 Introdução Para entendermos sobre a Larva migrans, primeiro, vamos saber qual a família a qual estes parasitas pertencem. Bem, existem vários parasitas de espécies diferentes, e até mesmo famílias diferentes que podem causar o mesmo quadro clínico da Larva migrans. A família Ancylostomatidae, que se constitui em uma das principais famílias dos nematodas, é uma delas. Além dela, outra família também poderá estar envolvida: a família Ascarididae. Nesta aula, vamos focar nas espécies que liberam larvas migratórias e que podem acarretar em sintomatologias características no homem. Essas espécies são tipicamente parasitas dos animais e, acidentalmente, podem infectar o homem. Sendo assim, são antropozoonoses. Se não se lembram destes conceitos, é necessário voltar a estudar a nossa aula introdutória! As principais espécies envolvidas são: Ancylostoma caninum e Ancylostoma brasiliensis, da família Ancylostomatidae, Toxocara canis e Toxocara catti, da família Ascarididae. Pois bem, essas espécies de micro-organismos só conseguem desenvolver suas formas larvais a contento se estas estiverem dentro do hospedeiro ideal, ou seja, um hospedeiro definitivo. Em algumas situações, essas larvas entram em contato com o homem, que é um hospedeiro acidental, e não conseguem completar o seu ciclo de vida. No entanto, elas insistem e permanecem por algum tempo neste hospedeiro, procurando um lugar ideal para se desenvolver, migrando pelo corpo do indivíduo infectado. Quando isto acontece, são denominadas as larvas migrans viscerais ou LMV, migrans cutâneas ou LMC e migrans oculares ou LMO. A LMC também é popularmente conhecida como bicho geográfico! Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas 95 e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes 13.2 Larva migrans cutânea (LMC) 13.2.1 Agente etiológico Os agentes envolvidos na LMC são: Ancylostoma caninum e Ancylostoma brasiliensis, que são parasitas intestinais de cães e gatos. É importante que vocês percebam, estudantes, que mais de um agente etiológico pode estar envolvido com a mesma manifestação clínica! 13.2.2 Hospedeiros e reservatórios Os hospedeiros definitivos são cães e gatos. O homem é um hospedeiro acidental. 13.2.3 Modo de transmissão As fêmeas desses parasitos eliminam, diariamente, uma grande quantidade de ovos no solo; estes, sob condições ideais de temperatura e umidade, eclodem e liberam as larvas L1. Mais ou menos depois de sete dias, essas larvas passam por dois processos de muda e se transformam em L3, que é justamente a forma larval infectante. Esta L3 é mais resistente, poderosa mesmo, porque consegue viver no ambiente sem se alimentar por um longo período. Caso elas consigam infectar outros cães e gatos, pela boca ou pele, elas serão deglutidas e irão para o intestino, onde se desenvolverão em formas adultas das ancilostomoses, em cerca de um mês. Assim é o ciclo nos animais (figura 37). Figura 37: Ancylostoma caninum infectando a mucosa intestinal de um cão. Fonte: http://phil.cdc.gov/phil/details.asp. Acesso em 10/10/2011. e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes 96 Vigilância em Saúde Porém, acidentalmente, essas larvas podem infectar o homem. Se, acidentalmente, essas larvas infectam o homem através da pele, elas ficarão “andando” por um período de tempo pela pele, deixando um rastro sinuoso e característico. Como o homem não é o hospedeiro específico, depois de um tempo, elas morrerão. Com menor frequência, essas larvas podem ser ingeridas; chegam ao intestino e, de lá, elas migram pelas vísceras, denominando, assim, de larvas migrans viscerais. Elas também podem cair na corrente sanguínea, alcançar a árvore brônquica (nos pulmões) através dos capilares. Quando isto acontece, essas larvas podem ser percebidas nos escarros, ou mesmo serem deglutidas e completarem o seu ciclo de vida no intestino. Perceberam? O mesmo organismo pode ser responsável pela infecção da pele ou pela infecção do intestino. Tudo vai depender da via de penetração. 13.2.4 Período de incubação A sintomatologia aparece logo após ocorrer a infecção. 13.2.5 Quadro clínico O quadro clínico mais comum ocorre quando as larvas atingem áreas que possuem maior contato com o solo, como pés, pernas, nádegas, mãos e braços. Mais raramente, lábios, boca e palato. No momento da infecção, pode aparecer prurido e eritema inicial, algumas vezes, os sinais clínicos iniciais passam despercebidos. Quando penetram pela pele, as larvas deixam um rastro pruriginoso e saliente, que pode levar a infecções secundárias, devido ao grande prurido da região; depois de algum tempo, desaparecem. Também podem aparecer sintomas pulmonares, semelhantes às crises alérgicas. 13.2.6 Diagnóstico Devido à apresentação característica das lesões, o diagnóstico é basicamente clínico. 13.2. 7 Tratamento Frequentemente, a infecção é de curta duração, e a aplicação de medicamentos não é necessária. Em casos graves, recomenda-se a utilização de vermífugos, como albendazol ou tiobendazol, em forma de pomada ou comprimidos. Em casos de infecção secundária, que acontece quando outros micro-organismos, como as bactérias, invadem a lesão, podem-se aplicar antialérgicos, para diminuir o prurido, e anti-inflamatórios tópicos. 13.2.8 Características epidemiológicas A ocorrência da Larva migrans cutânea está intimamente ligada ao status socioeconômico de um país. É frequente em comunidades pobres de países em desenvolvimento. Existem relatos em países mais ricos, no entanto, parte deles se dá pelo contágio de turistas que visitaram áreas endêmicas. Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas 97 e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes 13.3 Larva migrans visceral (LMV) 13.3.1 Agente etiológico A espécie causadora da LMV mais comum é Toxocara canis e cati, parasita do intestino delgado de cães e gatos. Este parasito possui distribuição cosmopolita. 13.3.2 Hospedeiros e reservatórios Os cães e os gatos são os hospedeiros definitivos; o homem é o hospedeiro acidental. 13.3.3 Modo de transmissão Hospedeiro paratênico: é o ser vivo que serve de refúgio temporário e de veículo para contaminação do hospedeiro definitivo. O parasita não evolui neste e, portanto, não é imprescindível para completar o ciclo vital, ainda que, geralmente, aumente as possibilidades de sobrevivência e transmissão. Também se denomina hospedeiro de transporte. Da mesma forma que na larva migras cutânea, as fêmeas de Toxocara podem eliminar milhares de ovos por dia nas fezes dos hospedeiros comuns, os animais. Quando essas larvas atingem o solo, em condições ideais de umidade, temperatura e oxigênio, a larva dentro dos ovos pode se desenvolver depois de alguns dias, e atinge a fase L3, que é justamente a fase larval infectante. Dentro destes ovos, elas permanecem viáveis por um longo período. Os cães jovens podem se infectar pela ingestão de ovos contendo as larvas, que, então, eclodem no intestino, penetram na circulação, atingem órgãos, como fígado, coração, pulmão, e mudam para o estágio larval L4. Depois de atingirem o estágio L4, elas vão para os alvéolos, de onde são expelidas para os brônquios e, em seguida, vão para a traqueia. Quando se encontram na traqueia, são deglutidas e retornam para o intestino, onde atingem a maturidade sexual. Nossa, são muitas idas e vindas para estas larvas se estabelecerem, não é mesmo? Outro fato curioso é que as aves, os roedores, os ruminantes e os suínos podem funcionar como hospedeiros paratênicos. Após a ingestão dos ovos, as larvas eclodem no intestino delgado desses hospedeiros e realizam migração até atingirem vários tecidos, onde permanecem viáveis e em latência por meses, tornando-se fonte de infecção para cães e mesmo para o homem, quando este ingerir carne crua ou mal cozida ou água contaminada. 13.3.3.1 Infecção em seres humanos A infecção em seres humanos ocorre via ingestão de água ou alimentos contaminados com ovos contendo as larvas. Mais raramente, ocorre infecção via ingestão de carne ou vísceras do hospedeiro paratênico. Quando o alimento contaminado chega ao intestino delgado, o ovo eclode, libera as larvas que vão atingir a parede intestinal e, logo após, essas larvas caem na corrente sanguínea e distribuem-se para tecidos de todo o corpo, tais como fígado, rins, pulmões, medula óssea, coração e olhos. Depois de um e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes 98 Vigilância em Saúde tempo, elas são destruídas por mecanismos imunes próprios do hospedeiro. E são justamente esses mecanismos de defesa os responsáveis por formarem as lesões típicas dessa infecção, o granuloma alérgico, que nada mais é do que o parasito morto cercado de infiltrados de células de defesa. Algumas larvas possuem mecanismos de escape do sistema imune do hospedeiro, que consistem em “encistar”, ou seja, não saem dos seus ovos e conseguem ficar viáveis por vários anos dentro do hospedeiro. 13.3.4 Período de incubação A sintomatologia aparece logo após ocorrer a infecção. 13.3.5 Quadro clínico As manifestações são bem variadas, podendo se apresentarem desde assintomáticas até manifestações subagudas ou agudas. O que vai definir a gravidade da infecção são aqueles fatores já discutidos na aula de parasitismo, ou seja: número de larvas infectantes, órgão que foi invadido e quadro imunológico do paciente infectado. O mais comum é um quadro subclínico, muitas vezes, sem o diagnóstico evidenciado, principalmente porque a infecção pode ser autolimitante. O quadro clínico pode apresentar inflamação de órgãos acometidos (ex.: linfadenite), aumento do baço e do fígado, tosse, dispneia, falta de apetite, emagrecimento e dor abdominal. Uma situação mais grave é o acometimento do sistema nervoso, que pode ocorrer pela migração da larva ou mesmo pela formação de granulomas de eosinófilos (células de defesa) no local. Sintomas como ataques epilépticos e encefalites podem ocorrer. 13.3.6 Diagnóstico O diagnóstico é definido em conjunto com as informações clínicas, epidemiológicas e também exames sorológicos. 13.3.7 Tratamento Geralmente, a infecção é autolimitante, não necessitando de tratamento adicional. Em casos mais graves, para a Larva migrans visceral, recomenda-se o uso de um anti-helmíntico, ou mais popularmente falando, um vermífugo, e anti-inflamatórios, dependendo do quadro clínico. Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas 99 e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes 13.3.8 Características epidemiológicas Possui distribuição mundial, com maior frequência em países das Américas, África e Ásia. 13.4 Larva migrans ocular (LMO) 13.4.1 Agente etiológico Toxocara canis e catti 13.4.2 Hospedeiros e reservatórios Cães e gatos, como hospedeiros definitivos, e o homem, como hospedeiro acidental. 13.4.3 Modo de transmissão Semelhante à transmissão da Larva migrans visceral, sendo que o órgão de instalação da infecção é o olho. 13.4.4 Período de incubação Variável de acordo com sistema imunológico do indivíduo acometido. Quando falamos em uma infecção ocular unilateral, estamos dizendo que a infecção atingiu apenas um olho. 13.4.5 Quadro clínico A infecção é, normalmente, unilateral, e depende do local de infecção e da atividade larval. A gravidade está ligada com o número de larvas no olho e a imunidade do hospedeiro. Possivelmente, as lesões são devidas às reações alérgicas ou tóxicas das larvas. Com a morte da larva, formam-se granulomas. Alguns sintomas que podem ser observados são: descolamento de retina, estrabismo, inflamação da úvea e coriorretinite. 13.4.6 Diagnóstico O diagnóstico da LMO é complicado, pois apenas a biópsia da lesão pode levar a um diagnóstico confirmatório, que é a identificação da larva. Neste caso, o histórico do paciente pode ajudar muito, principalmente a descrição dos seus hábitos alimentares e contato com cães e gatos. Existe a possibilidade também de investigação por técnicas sorológicas, como já visto em outras patologias. e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes 100 Vigilância em Saúde 13.4.7 Tratamento Para a Larva migrans ocular, como os vermífugos não conseguem atuar de forma satisfatória no olho, o melhor é utilizar anti-inflamatórios, como corticoides, para diminuir lesões como a coriorretinite. 13.4.8 Características epidemiológicas A incidência da LMO não está muito bem definida, no entanto, muitos autores descrevem que o maior número de casos ocorre em crianças com média de sete anos, e que 80% dos casos atingem pessoas com menos de 16 anos de idade. 13.5 Vigilância Epidemiológica das doenças causadas pela Larva migrans No Brasil, a Larva migrans é uma doença subdiagnosticada, sem dados concretos de incidência e prevalência. Não existe um programa governamental específico para a Vigilância Epidemiológica desta enfermidade. 13.6 Medidas de prevenção e controle Como vocês podem perceber, estudantes, a infecção por essas larvas dá-se principalmente em locais onde há grande fluxo de cães e gatos, como praias, parques e praças públicas. Portanto, siga as duas instruções dadas a seguir. • Evite que crianças brinquem em caixas de areia e terra, entrando em contato direto com larvas infectantes de nematoides. • Ingerir ou levar à boca objetos contaminados com ovos de Toxocara é outro grande risco para as crianças. Vale ressaltar que grande parte dos casos registrados de LMV ocorreu em crianças com idade média de 2 anos. Já os casos de LMO ocorreram em crianças com idade superior a sete anos e em adultos, com história de geofagia e/ou exposição a fezes de cães e gatos. A conscientização da população e, principalmente, dos proprietários de cães sobre o real problema que representa esta parasitose é uma medida muito importante. Outras medidas profiláticas importantes são as descritas a seguir. • Exame de fezes periódicos dos cães e gatos e tratamento dos mesmos com anti-helmínticos (vermífugos) de largo espectro. • Evitar acesso desses animais a locais públicos (praças, praias, parques infantis). • Reduzir as populações de cães e gatos vadios, que representam as mais altas cargas parasitárias. Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas 101 Doenças subdiagnosticas : são aquelas doenças que possuem uma incidência superior aos valores notificados pelos órgãos de saúde. Geofagia: é uma prática de comer substâncias terrestres (como argila); frequentemente, é praticada para melhorar uma nutrição deficiente em minerais. É mais frequente em sociedades rurais ou pré-industriais e em mulheres grávidas, podendo ocorrer também em crianças, como um distúrbio psicológico na alimentação. e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes Muitos trabalhos já foram realizados em todo o Brasil para investigar a prevalência de Toxocara canis e Ancylostoma sp. em áreas públicas das cidades. Os achados demonstram um volume incrível de contaminação do solo. Por exemplo, a ocorrência de ovos de Toxocara sp. e ovos e larvas de Ancylostoma sp. na cidade de Lavras foi de 69,6% (16/23) das amostras de solo coletadas nas praças públicas (Guimarães et al., 2005). Em Itapema, Santa Catarina, foram estudadas amostras fecais de cães apreendidos em logradouros públicos, pela vigilância sanitária. Encontraram aproximadamente 80% de amostras positivas (121/158) com uma prevalência maior para Ancylostoma sp. (70,9%), seguida por Toxocara canis (14,5%) (Blauzius et al., 2005). No Estado do Rio Grande do Sul, na cidade de Santa Maria, pesquisou-se o grau de contaminação do solo para ovos de Ancylostoma sp., em 30 praças públicas da cidade e encontrou-se 93,3 % de praças contaminadas, nas respectivas zonas trabalhadas (Côrrea et al., 1996)! Em São Paulo, na praia Grande, avaliou-se o grau de contaminação dos canteiros da orla e 45,9% das amostras analisadas estavam contaminadas por Ancylostoma sp. em amostras de fezes de cães. Avaliou-se a contaminação dos canteiros (utilizados par cães para defecar) na orla marítima de Praia Grande (São Paulo) quanto a contaminação por ovos de Ancylostoma e Toxocara. Do total das amostras analisadas, 45,9% estavam contaminadas por ovos de Ancylostoma e 1,2% com ovos de Toxocara (Castro, et al., 2005). Em Campo Grande (Mato Grosso do Sul), 74 praças foram pesquisadas e destas 42(56,8%) estavam com o solo contaminado por ovos de Ancylostoma, 8 (10,8%) com ovos de Toxocara e 7 (9,5%) com ambos (Araújo et al., 1999). Como podem perceber, este é realmente um problema de saúde pública e todos nós somos responsáveis por manter o ambiente mais limpo e saudável. Uma boa forma de começarmos é cuidando bem dos nossos cães e gatos! Resumo A doença causada por Larva migrans apresenta vários tipos de manifestações clínicas, que dependem da espécie causadora e do local de instalação das mesmas. Todas as larvas são oriundas de vermes da família Nematoda ou da família Ascarididae. Os principais reservatórios são gatos e cães que eliminam as larvas pelas fezes. Quando as larvas penetram na pele, a doença é chamada Larva migrans cutânea (LMC); se o acometimento é nas vísceras, denomina-se Larva migrans visceral (LMV); e quando as larvas acometem os olhos, é denominada Larva migrans ocular (LMO). A ocorrência de LMC, LMV e LMO está intimamente ligada ao status socioeconômico de um país; quanto mais pobre, mais frequente. As formas de prevenção e controle baseiam-se em não ingerir ou levar à boca objetos contaminados com a larva, evitar contato com areia e terra contaminados, vermifugar cães e gatos, e evitar o acesso destes animais em locais públicos. e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes 102 Vigilância em Saúde Atividades de aprendizagem 1. Quais são os três tipos trabalhados de infecção por Larva migrans? 2. Quais são os agentes etiológicos envolvidos em cada uma dessas infecções? 3. Leia com atenção as alternativas a seguir. Marque a alternativa correta, de acordo com as sentenças dadas, em relação à Larva migrans. I. Se, acidentalmente, a LMC infecta o homem através da pele, ela, por um período de tempo, fica “andando” pela pele, deixando um rastro sinuoso e característico. Como o homem não é o hospedeiro específico, depois de um tempo, a larva morre. II. As áreas mais comuns que as larvas LMC atingem são aquelas que possuem maior contato com o solo, como pés, pernas, nádegas, mãos e braços. Mais raramente, lábios, boca e palato. III. No momento da infecção por LMC, pode aparecer prurido e eritema inicial, ou mesmo a infecção passar despercebida. As larvas deixam um rastro pruriginoso e saliente, que pode levar a infecções secundárias, devido ao grande prurido da região, depois de algum tempo, desaparecem. IV. Frequentemente, a infecção é de longa duração, e a aplicação de medicamentos é necessária. Em casos graves, recomenda-se a utilização de vermífugos, como albendazol ou tiobendazol, em forma de pomada ou comprimidos. a. b. c. d. e. Todas as alternativas estão corretas. I e II estão corretas. Somente a alternativa IV está incorreta. I e IV estão corretas. Todas as alternativas estão incorretas. Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas 103 e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes AULA 1 Alfabetização Digital Aula 14 – Hidatidose Objetivos • Conhecer o agente etiológico mais frequente na área urbana e periurbana (Echinococcus granulosus). • Conhecer os hospedeiros. • Conhecer o ciclo de transmissão e as medidas de controle e prevenção. 14.1 Introdução A hidatidose, também conhecida por seus cistos hidáticos, é uma antrozoonose de distribuição cosmopolita. O micro-organismo que causa a hidatidose é composto por três fases de desenvolvimento: parasito adulto, presente no intestino dos hospedeiros, ovos eliminados no ambiente e a forma larval, conhecida como cisto hidático ou hidátide, presente nas vísceras dos hospedeiros intermediários. 14.2 Agente etiológico Os agentes etiológicos da hidatiose são micro-organismos pertencentes ao gênero Echinococcus, filo Plathyhelminthes, classe Cestoda. Existem algumas espécies deste gênero que estão envolvidas no surgimento da hidatidose. São elas: Echinococcus granulosus (Figura 38), Echinococcus multiloculares, Echinococcus vogeli, Echinococcus oligarthus. Figura 38: Echinococcus granulosus. Fonte: Disponível em: <http://phil.cdc.gov/phil/details.asp>. Acesso em 10/10/2011. Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas 105 e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes 14.3 Hospedeiros e reservatórios Para cada espécie anteriormente citada, tem-se um hospedeiro definitivo e outros hospedeiros intermediários. Observe o Quadro 1. Quadro 1 Relação entre os agentes etiológicos da hidatidose com seus hospedeiros intermediários e definitivos Agentes etiológicos da hidatidose Hospedeiros intermediários Hospedeiros definitivos Echinococcus granulosus Ovinos, bovinos, suínos, caprinos, cervídeos, camelídeos e o homem. Cães domésticos e selvagens. Echinococcus multilocularis Pequenos roedores e o homem. Raposa Echinococcus vogeli Algumas espécies de roedores e o homem. Carnívoros selvagens. Echinococcus oligarthus Alguns roedores e o homem. Gatos silvestres. 14.4 Modo de transmissão 14.4.1 Infecção nos hospedeiros definitivos Os cães, que são os hospedeiros definitivos, eliminam os ovos nas fezes, contaminando o ambiente. Esses ovos são infectantes e ficam viáveis por meses, em locais úmidos e com sombreamento. A infecção no hospedeiro definitivo dá-se pela ingestão de vísceras de outros animais com o cisto hidático que, quando chega ao intestino, fixa-se na mucosa intestinal. O interessante é que o parasita possui uma limitação: vive por alguns meses e, se não houver reinfecção, o cão ficará curado. 14.4.2 Infecção nos hospedeiros intermediários Os cães eliminam seus ovos nas fezes, contaminam o meio ambiente, a água e os alimentos. Quando seus ovos são ingeridos pelo hospedeiro intermediário, eles liberam, dentro do organismo deste hospedeiro, a forma oncosfera, que consegue aderir na parede do intestino e que, posteriormente, passa, através da circulação, para o fígado e para os pulmões. Depois de um tempo, torna-se cisto hidático, que amadurece e fica por anos no hospedeiro intermediário. O homem adquire a infecção principalmente na infância, pelo contato mais íntimo e descuidado com os cães de estimação. e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes 106 Vigilância em Saúde 14.5 Período de incubação A evolução dos cistos é lenta, podendo levar anos ou mesmo passar despercebida pelo hospedeiro, dependendo do órgão atingido. 14.6 Quadro clínico O quadro clínico está diretamente ligado ao órgão afetado, tamanho e número de cistos. Pode variar de assintomático até um quadro mais grave, com lesões no sistema nervosos. Hidatidose no fígado: é o local mais frequente de instalação do cisto. Distúrbios gástricos são comuns e podem causar sintomas como: icterícia (pele amarela) e ascite (aumento do volume abdominal causado pelo acúmulo de líquido, popularmente conhecido como barriga d’água). Caso o cisto se rompa, poderá formar cistos filhos em outros órgãos do hospedeiro. Hidatidose pulmonar: o pulmão é o segundo órgão de eleição para a instalação do cisto. Este pode atingir grandes dimensões, dificultando a respiração. Sintomas como cansaço ao esforço e tosse são comuns (Figura 39). Hidatidose cerebral: rara; o cisto cresce de forma rápida e os sinais neurológicos vão depender do local da instalação. Hidatidose óssea: também rara. Normalmente, de curso crônico; sua percepção dá-se, muitas vezes, devido à ruptura do osso, em casos extremos. Independente do local de instalação, a hidatidose pode causar reação inflamatória local ou alérgica. Figura 39: Cistos hidáticos extraídos de um pulmão humano. Fonte: Disponível em: <http://phil.cdc.gov/phil/details.asp>. Acesso em 10/10/2011. Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas 107 e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes 14.7 Diagnóstico Como geralmente é assintomática, a investigação deve unir, além de sintomatologia clínica, aspectos epidemiológicos e exames laboratoriais. Os sinais clínicos, quando presentes, são a observação dos cistos, quando palpáveis. Exames sorológicos também podem ser feitos, além de diagnósticos por imagem, como RX, ultrassom e tomografia. Nos cães, hospedeiros definitivos, o exame de fezes não é efetivo. Na maioria das vezes, observa-se o parasita íntegro, eliminado depois da ingestão de medicamento específico ou no exame post-mortem do animal. Para os animais de produção, como suínos, caprinos e bovinos, os cistos podem ser evidenciados no exame post-mortem das carcaças. 14.8 Tratamento O tratamento, no homem, baseia-se em ingestão de vermífugos específicos, como primeira escolha, retirada do cisto mediante cirurgia (quando os cistos estão grandes, mas em locais de fácil acesso) ou aspiração do cisto, em casos extremos. O tratamento em cães é feito pela aplicação de vermífugo específico e incineração das fezes durante o tratamento, para evitar a contaminação do ambiente. 14.9 Características epidemiológicas Está presente em todos os continentes. É uma doença tipicamente rural, periurbana. Em países com a tradição de criação de carneiros e utilização de cães pastores, a infecção é mais frequente. No Brasil, a maior concentração de casos é no Rio Grande do Sul, que possui hábitos facilitadores para a dispersão do verme, como alimentar os cães com vísceras cruas de carneiros abatidos e não vermifugar seus cães. Casos isolados em outras regiões do Brasil já foram relatados, e estão, muitas vezes, ligados à migração de gaúchos ou à ingestão de carnes produzidas na região Sul do país. 14.10 Vigilância Epidemiológica As medidas de Vigilância baseiam-se na educação em saúde da população, principalmente das áreas endêmicas. A aplicação das medidas profiláticas é um caminho efetivo para o controle desta doença. 14.11 Medidas de prevenção e controle • Vermifugar regularmente os cães das propriedades rurais. • Evitar o consumo, por estes cães, de vísceras cruas de outros animais. e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes 108 Vigilância em Saúde • Intensificar a inspeção sanitária por veterinários nos abatedouros. • Educação sanitária da população. • Controle sanitário na comercialização do rebanho. Resumo A hidatidose é uma doença de distribuição mundial. O principal agente etiológico envolvido é o Echinococcus granulosus. Os hospedeiros principais são os canídeos domésticos e silvestres. O homem contamina-se através dos ovos eliminados nas fezes dos hospedeiros principais. Formam-se cistos que, com o tempo, amadurecem e se tornam cistos hidáticos. O quadro clínico está diretamente vinculado ao órgão afetado, ao tamanho e número do cisto. A hidatidose é uma doença tipicamente rural, com maior prevalência no Sul do Brasil. A melhor forma de controle é a vacinação dos cães e evitar alimentar estes animais com vísceras de outros animais contaminados. A educação em saúde é também uma forma muito importante de prevenção da hidatidose. Atividades de aprendizagem 1. Elabore, mediante o aprendizado desta aula, um folheto educativo com informações gerais sobre a hidatidose, modo de transmissão, diagnóstico e, principalmente, as medidas de prevenção e controle destinadas ao produtor rural. Para elaborar este folheto, vocês precisam procurar outras fontes de informação além desta aula. 2. Descreva o ciclo da hidatidose no hospedeiro intermediário e no hospedeiro definitivo. 3. Quais são as principais formas clínicas da hidatidose? Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas 109 e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes Referências ARAÚJO, F.R., CROCCI, A. J., RODRIGUES, R..G.C., AVALHAES, J.S., MIYOSHI, M. 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Doenças parasitárias, viróticas e bacterianas 111 e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes Currículos do professores conteudistas Andreza Pain Marcelino Sou veterinária e me graduei em 2003 pela Universidade Federal de Uberlândia. Tenho mestrado em Epidemiologia, pela Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), e doutorado em Ciência Animal, na área de Medicina Veterinária Preventiva, também pela mesma instituição, onde desenvolvi trabalhos relacionados à leishmaniose visceral. Atualmente, coordeno o Serviço de Doenças Parasitárias, pertencente ao Laboratório de Saúde Pública de Minas Gerais, integrante da Fundação Ezequiel Dias. O laboratório realiza o diagnóstico de toxoplasmose congênita, é referência estadual para o diagnóstico da malária e referência nacional para a doença de Chagas e as leishmanioses. A missão da instituição é “participar da construção do Sistema Único de Saúde, protegendo e promovendo a saúde”. Bárbara Nobre Lafetá Sou bióloga graduada pela Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES), mestre em Medicina Veterinária Preventiva e doutora em Ciência Animal, ambos pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Atuo como tutora no curso médico da SOEBRÁS/FUNORTE, em Montes Claros, e como professora formadora no curso de Biologia da Universidade Aberta do Brasil (UAB). e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes 112 Vigilância em Saúde e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes Escola Técnica Aberta do Brasil e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes 114 Vigilância em Saúde