Concepção de linguagem e ensino de português

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CONCEPÇÃO DE LINGUAGEM E ENSINO DE PORTUGUÊS
IRIS RODRIGUES DIAS
RESUMO:
O presente trabalho tem por objetivo o estudo da língua,
considerando suas variantes e os diversos gêneros textuais numa
perspectiva sociointeracionista e funcional.
A metodologia do ensino, por sua vez, não reproduzirá a
clássica classificação e exercitação de itens lexicais ou conjunto
de regras, mas uma prática que parte da reflexão produzida pelos
alunos mediante a utilização de significação/interpretação e sentido do texto, vinculada à gramática.
Com isso, pretende-se selecionar textos, em sua modalidade oral e escrita, em diversas situações de uso, em diferentes
graus de formalidade que servirão de paradigmas para trabalhar a
língua de modo produtivo.
Introdução
O presente trabalho tem por objetivo o estudo da língua,
considerando suas variantes e os diversos gêneros textuais numa
perspectiva sócio-interacionista e funcional. A metodologia do
ensino, por sua vez, não reproduzirá a tradicional classificação e
de itens lexicais ou apresentação do conjunto de regras, mas uma
prática que parte da reflexão produzida com e pelos alunos por
meios dos aspectos lingüísticos e discursivos trabalhados. Com
isso, pretende-se selecionar textos, em sua modalidade oral e escrita, em diversas situações de uso, com diferentes graus de formalidade que servirão de paradigmas para trabalhar a língua de
modo produtivo.
Ao darmos aula de uma língua para falantes dessa língua é
necessário perguntar: “Qual é o objetivo de ensinar Português
para falantes nativos de Português?”. Se o objetivo é desenvolver
a competência comunicativa (falante, escritor/ouvinte, leitor) dos
usuários da língua devemos repensar nossas práticas docentes.
Tradicionalmente, o ensino de Língua Portuguesa no Brasil
se volta para a exploração da gramática normativa, em uma abordagem prescritiva da língua. A gramática é algo mais do que fazem supor atividades de ensino baseadas em exercícios orientados
para a interpretação de textos, desvinculada da língua e exercícios
gramaticais voltados para a segmentação de elementos lingüísticos (análise morfológica e sintática), classificações e nomenclaturas.
Segundo Travaglia (2006), o professor deve sempre explorar a riqueza e a variedade dos recursos lingüísticos em atividades
de ensino gramatical que se relacionam diretamente com o uso
desses mesmos recursos para a produção e compreensão de textos
em situações de interação comunicativa.
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A proposta dos PCN de fundamentar o ensino da língua
materna, tanto oral como escrita, nos gêneros do discurso visa
formar sujeitos capazes de utilizar a língua de modo variado, produzindo efeitos de sentido e adequando o texto a diferentes situações de uso e interlocução. Ou seja, a compreensão oral e escrita,
associada a diversos gêneros, supõe o desenvolvimento de
competências lingüístico-comunicativas que devem ser enfocadas
nas situações de ensino.
O ensino da gramática produtiva tem como objetivo o ensino da língua pela própria prática da linguagem, pois, ao ler e produzir textos, o aluno será capaz de perceber a diversidade de atos
verbais que, a cada momento, se atualizam. Daí nossa proposta
para o ensino da língua materna: da leitura à criação de texto
(ROXO; WILSON, 1995).
“Aprender uma língua, seja de forma natural no convívio
social, seja de forma sistemática em sala de aula, implica numa
reflexão sobre a linguagem, formulação de hipóteses e verificação
do acerto ou não dessas hipóteses sobre o funcionamento da língua. Quando nos envolvemos em situações de interação, temos de
fazer corresponder nossas palavras às do outro para fazer nos
entender e entender o outro” (TRAVAGLIA, 2006, p107). Assim,
a proposta metodológica que pretendemos desenvolver procura
associar o estudo dos fenômenos lingüísticos a gêneros textuais
diversos numa perspectiva funcional, sociointeracional e produtiva. O trabalho com os textos está calcado nos gêneros, e as ativi3
dades com a língua desdobram-se na compreensão do texto por
meio dos aspectos gramaticais e discursivos. O texto só é pretexto na medida em que é trabalhado de forma a que o aluno seja
levado a refletir sobre a funcionalidade dos recursos lingüísticos
que estão em jogo em cada situação discursiva. Esse trabalho é
resultado de uma metodologia desenvolvida por Wilson e Roxo
(1995).
Para racionalizar a apresentação das atividades, os exercícios aparecem separados dos estudos gramaticais e expressivos
que os fundamentam. Cabe ressaltar que, para cada texto, há um
estudo prévio do gênero (ou gêneros) ao qual ele se vincula. Esse
estudo é baseado em trabalhos já realizados (Cf. Fundação Cesgranrio). Segue-se a essa etapa aquela associada diretamente ao
estudo do texto, em que também são tratadas as questões lingüísticas (gramaticais, estilísticas, expressivas) implicadas em cada
texto e motivadas pelo gênero; em seguida, a segunda parte do
trabalho, voltada sobre o modo de organização e das práticas
discursivas, parte em que chamamos a atenção para os aspectos
pragmáticos envolvidos no texto em questão. A seqüência de
textos e atividades é motivada por fatores ligados ou ao gênero
ou à língua (algum aspecto gramatical que pode ser funcional em
um gênero e motivado em outro por razões distintas). Os textos
são escolhidos a partir de uma temática comum desdobrada em
gêneros variados, ou considerando-se um aspecto gramatical cuja
funcionalidade e motivação variam em função do gênero em que
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se manifesta. As atividades são desenvolvidas em partes, com
uma seção dedicada aos comentários lingüísticos e gramaticais.
Gêneros textuais e tipo textual
Para uma maior compreensão do problema da distinção entre gênero e tipos textuais, baseamo-nos em Marcuschi (2006):
a) Usamos a expressão tipo textual para designar uma espécie de
seqüências teoricamente definidas pela natureza lingüística de
sua composição (aspectos lexicais, sintáticos, tempos verbais,
relações lógicas). Em geral, os tipos textuais abrangem cerca
de meia dúzia de categorias conhecidas como: narração, argumentação, exposição, descrição e injunção.
b) Usamos a expressão gênero textual como uma noção propositalmente vaga para referir os textos materializados que encontramos em nossa vida diária e que apresentam características
sócio-comunicativas definidas por conteúdos, propriedades
funcionais, estilo e composição característica. Alguns exemplos de gêneros textuais: telefonema, sermão, carta comercial,
carta pessoal, romance, bilhete, reportagem jornalística, horóscopo, receita culinária, reunião de condomínio, lista de compras, cardápio de restaurante, instruções de uso, outdoor, inquérito pessoal, resenha, edital de concurso, piada, conversação
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espontânea, conferência, carta eletrônica, aulas virtuais e etc.
c) Usamos a expressão domínio discursivo para designar uma
esfera ou instância de produção discursiva ou atividade humana. Esses domínios não são textos nem discursos, mas propiciam o surgimento de discursos bastante específicos. Do ponto
de vista dos domínios, falamos em discurso jurídico, discurso
jornalístico, religioso, etc.
Atividades propostas
Primeiro Gênero: Poema
Infelizmente
Eu te encontrei......profundamente
Eu te descobri.......conscientemente
Eu te analiso........detalhadamente
Eu te afasto..........temporariamente
Contigo ajo..........obrigatoriamente
Eu te olho.............exageradamente
Eu te entendo ......infantilmente
Contigo vejo........alegremente
Por ti recordo.......saudosamente
Contigo sonho......romanticamente
Sobre ti comento...orgulhosamente
Te abraço, te vejo...ardentemente
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Porém não a tenho....infelizmente.
Poemas –Luciano (poeta popular)
Serra Telhado (PE)
1.ª parte: Estudo do Texto
1 – Título: Infelizmente
2 – Gênero Textual: Poema
3 – Modo de organização textual: versos
4 – Tema/foco: o encontro / o amor
5 – Recursos lingüísticos predominantes (relevantes para a interpretação): verbos, pronomes pessoais, advérbios, conjunção adversativa, pontuação: reticências.
1. O que caracteriza um poema em termos de sua organização?
2. Como há vários modos enunciativos inscritos em diversos gêneros, pode-se afirmar que esse poema opera com o modo enunciativo do narrar. Com base na definição de narração destacada
abaixo, identifique os fatos, os personagens envolvidos, o tempo e
o espaço em que se desenvolve o texto.
A narração consiste no relato de acontecimentos ou fatos, reais ou
imaginários, envolvendo ação e movimento, no transcorrer do
tempo. A narrativa envolve, além de personagens, espaço e tempo; é essencialmente o discurso do fazer.
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(Adapt.: Projeto de avaliação e acompanhamento. CESGRANRIO, 2006)
3. Se há vários modos enunciativos em cada gênero, qual é a função comunicativa predominante no poema: ( ) Um depoimento?
( ) Uma declaração de amor? ( ) Uma exposição de sentimentos?
Justifique sua resposta.
Para responder à questão que se segue, consulte a seção “estudo
de caso”.
4. De acordo com a leitura do poema, podemos afirmar que o
poema pode ser dividido em duas partes. Releia as definições
dadas sobre os tempos verbais, explicando qual a função de cada
um deles na divisão do poema em dois momentos distintos, tendo
em vista os seguintes tempos verbais; presente e pretérito perfeito.
6) Nesse poema, há um uso recorrente do pronome pessoal reto
da primeira pessoa do singular:
a) A que você atribui o uso recorrente desse pronome?
b) Que efeito de sentido se revela por meio do uso desse pronome?
c) Caso o pronome fosse omitido, o efeito de sentido se alteraria?
O que mudaria em sua opinião?
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7) Em seguida ao uso do pronome pessoal do caso reto, encontramos o emprego do pronome te, também pronome pessoal, mas
do caso oblíquo.
a) Em que situações empregamos esse pronome?
b) Em que situação esse pronome está sendo empregado no poema?
d) Assim como o pronome pessoal reto, o oblíquo te também é
recorrente no poema. Qual a função dessa recorrência? E qual a
relação com o seu destinatário? Reflita.
Para responder à questão que se segue, consulte a seção “estudo
de caso”.
8) Observe o uso da conjunção adversativa porém no último verso do poema:
“Porém não a tem... infelizmente.” Podemos dizer que o emprego
da conjunção porém resulta num outro momento do texto. Leia:
Primeiro momento: Encontro: descoberta, revelação: “Eu te encontrei......profundamente
Eu te descobri ......conscientemente”
Segundo momento: aproximação afetiva com seu amado e “ encontro”: do terceiro ao penúltimo verso do poema.
Terceiro momento: quebra de expectativa:Tudo o que o eu-lírico
apresenta como se fosse “real” era aparente, fazia apenas parte de
sua imaginação.
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“Te abraço, te vejo...ardentemente / Porém não a tenho....infelizmente.”
Responda:
a) Por que se pode afirmar que o emprego de porém no último
verso traduz-se na passagem da fantasia para a realidade?
b) Além da chamada conjunção adversativa ou marcador de contra-expectativa, que outro recurso, no último verso do poema,
reforça a idéia de realidade em contraposição à de imaginação e
fantasia?
c) Crie dois enunciados com recursos lingüísticos que apresentam
uma idéia de contra-expectativa. Utilize conectores como: mas,
porém, infelizmente e apesar.
Por exemplo:
Eu te convidei para sair, _______________________.
Toda vez que eu a tocava, sentia imenso prazer. _____________.
Sonho com você todas as noites; ao acordar, ________________.
9) Você deve ter notado que o poema também é recorrente no uso
dos chamados advérbios. Consulte a seção “estudo de casos” e
responda:
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a) Os advérbios no poema estão modificando que classe (s) de
palavras?
b) Como esses advérbios são classificados pela gramática?
c) Agora, observe o uso de infelizmente no último verso: “Porém
não a tenho....infelizmente.” Esse “advérbio” exerce a mesma
função que os demais advérbios empregados no poema? Que
valor adquire no poema? A que se refere?
2.ª parte: Sobre o modo de organização e das práticas discursivas
1) Na relação do eu (eu-lírico) com um tu (te/contigo=ser amado)
evidenciada no poema, comente as afirmativas, retirando exemplos do texto:
a) A presença recorrente da primeira pessoa gramatical acaba por
reforçar outras funções como a de ser a expressão explícita de
sentimento e subjetividade do eu-lírico.
b) O tu (ser amado) é apagado/diluído em face da atitude amorosa
do eu-lírico.
c) O comportamento do eu-lírico é revelador de uma atitude de
passividade em relação ao ser amado.
2) A partir de suas reflexões sobre o texto, pode-se dizer que há
um diálogo (interação) entre o eu-lírico e o ser amado? Por quê?
Justifique sua resposta.
3) Leia o verso: “Porém não a tenho ...infelizmente.”
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a) O verbo ter, nesse contexto, apresenta que sentido?
b) De acordo com o sentido de ter nesse verso e nesse contexto,
responda:
b.1. O que é preciso fazer, sob o ponto de vista do eu-lírico, para
se construir uma relação amorosa?
b.2 Nas sociedades de consumo, o ter se sobrepõe ao ser. Refletindo sobre essa questão, responda:
• Quais são os valores que a sociedade de consumo privilegia?
• Que valores são deixados de lado em detrimento de outros?
• O que uma pessoa precisa ser para ser amada e estabelecer
laços afetivos com o parceiro?
• Ter alguém é suficiente para a garantia de uma relação amorosa?
b.3 O que é preciso fazer, sob o seu ponto de vista, para que uma
relação amorosa aconteça?
4) Responda: diante das reflexões realizadas, pode-se dizer que o
eu-lírico idealiza o ser amado? Em que aspectos? Como o texto
revela essa idéia?
5) Imagine o eu-lírico, diante da amada. Que enunciados ele diria
a ela, nas seguintes situações?
a) Convidando-a para sair.
b) Pedindo-lhe para namorar.
c) Perguntando-lhe sobre a sua família?
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d) Impondo-lhe uma determinada situação.
Estudo de caso
I. Tempos verbais
Observe que o poema trabalha com dois tempos verbais: o
presente e o pretérito perfeito.
De acordo com a gramática (CUNHA,(2001)
a) os verbos no Presente do Indicativo empregam-se:
1 – para enunciar um fato atual, isto é, que ocorre no momento da
fala (presente momentâneo) Ex: O céu está limpo, não há nenhuma nuvem acima de nós.
2 – para indicar ações e estados permanentes ou assim considerados, como seja uma verdade científica, um dogma, um artigo
(presente durativo) Ex: A Terra gira em torno do Sol
3 – para expressar uma ação habitual ou uma faculdade do sujeito,
ainda que não estejam sendo exercidas no momento em que se
fala (presente habitual ou freqüentativo)
Ex: Como pouquíssimo.
4 – para dar vivacidade a fatos ocorridos no passado (presente
histórico ou narrativo).
Ex.: “A avenida é o mar dos foliões. Serpentinas cortam o ar (...)”
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5 – para marcar um futuro presente, mais próximo; caso em que,
para impedir qualquer ambigüidade, se faz acompanhar geralmente de um adjunto adverbial:
Ex: Outro dia eu volto, talvez depois de amanhã, ou na primavera.
b) os verbos no Pretérito Perfeito:
A forma simples indica uma ação que se produziu em certo momento do passado. É ao que se emprega para “descrever o passado tal como aparece a um observador situado no presente e que o
considera do presente”.
Ex.: Jantei com apetite devorador e dormi como um anjo”.
A forma composta exprime geralmente a repetição de um ato ou a
sua continuidade até o presente em que falamos.
Ex.: Tenho escrito bastante poemas.
Quanto aos modos verbais:
a) o modo Indicativo exprime um fato certo, preciso, seja ele passado, presente ou futuro.
Ex.: Lúcia estuda Português. / “Eu te olho ............. exageradamente”
b) o modo subjuntivo exprime um fato incerto, duvidoso; ou pode
indicar volição, desejo:
Ex: Se Lúcia estudasse Português, seria aprovada. / Gostaria que
você compartilhasse da minha companhia.
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c) o modo Imperativo exprime ordem ou solicitação; convite,
ameaça, etc.:
Ex: Faça a coisa certa.
d) o Infinitivo: aceitar, entregar, acender
e) Particípio Regular: aceitado, entregado, acendido
Particípio Irregular: aceito, entregue, aceso
f) Gerúndio: cantando, batendo, partindo, pondo.
II. Conjunção:
Segundo a gramática, as conjunções servem para ligar dois termos
ou duas orações. Se são conjunções coordenativas, ligam orações e
termos de igual função; se são subordinativas, ligam termos e orações de função distinta.
As conjunções adversativas como porém são coordenativas e ligam dois termos ou duas orações de igual função, acrescentadolhes, porém, uma idéia de contraste: mas, porém, todavia, contudo,
no entanto, entretanto.
Além do sentido dado pela NGB, há outros estudos, como os lingüísticos, que fornecem novas explicações sobre esses tipos de
conectores. Para a Lingüística, porém e outros conectores de igual
valor e função são classificados como marcadores de contra–
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expectativa, ou operadores argumentativos, incluindo, nesse caso,
as conjunções subordinativas concessivas.
III. Advérbios
Advérbio é uma classe de palavra que pode modificar um verbo,
um adjetivo ou outro advérbio, segundo a gramática tradicional.
Ex: Como modificador de verbos
“Contigo ajo... obrigatoriamente”.
Você compreendeu-me mal.
Ex: Como modificador de outro advérbio
O teu pai está muito mal. .(modificador de um adjetivo)
Ex: Como modificador de adjetivos
Por que me escondeu um segredo tão grande?
Observar os usos adverbiais: aqueles que mantêm predominantemente a função gramatical, ao contrário daqueles que assumem
uma função discursiva, funcionando como modalizadores. No poema, infelizmente assume uma função expressiva, portanto, discursiva, funcionando como modalizador. Essa função não é abordada
pela NGB, mas deve ser considerada pelo professor para esclarecer
aos alunos sobre os diferentes usos lingüísticos e suas motivações
no texto.
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Observação: Depois do estudo realizado, os alunos passaram à atividade de produção, elaborando um poema. Foi selecionado um exemplo de poema que foi trabalhado em seguida com a
turma. Em seguida, passou-se ao estudo da receita, pois trata-se de
um gênero suscetível ao emprego de advérbios de modo, sobretudo.
Segundo Gênero: Receita
Texto: II
Cozinha de Ana Maria: Pavê de abacaxi com coco
Ingredientes
1 caixa de biscoito champanhe
1 lata de leite condensado
a mesma medida de leite (1 lata)
3 ovos
100g de coco ralado
1 lata de abacaxi em calda
1 lata de creme de leite
sem soro bem gelada
Passo a passo
Em uma panela, junte o leite condensado, o leite, as gemas e metade do pacote de coco e leve para ferver sem parar de mexer. Reserve.
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Pique o abacaxi e deixe escorrendo em uma peneira.Em um recipiente de vidro, forre o fundo com abacaxi picado.Cubra a metade do
creme amarelo.
Em um prato fundo, coloque a calda de abacaxi, molhe os biscoitos
e coloque-os sobre o creme. Cubra os biscoitos com o restante do
creme amarelo.
Bata as claras em neve firme, adicione o açúcar e delicadamente
incorpore o creme de leite. Cubra o doce com as claras e sirva bem
gelado.
Estudo do texto
1.ª parte:
1 – Responda:
a) Quais os recursos lingüísticos predominantes na receita?
b) Esses recursos são empregados aleatoriamente? Qual a função
de cada um desses recursos empregados na receita?
c) Receitas trabalham com medidas. Que medidas são apresentadas
nesta receita?
d) Dentre as medidas, há aquelas consideradas convencionais como grama/quilo, que se distinguem das não-convencionais como1 caixa, 1 lata, por exemplo. Além dessas medidas, escreva
outras, separando-as em convencionais e não-convencionais.
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e) Receitas, em geral, têm um destinatário específico que nem
sempre aparece explícito no texto.
e.1. Como podemos inferir, por meio de recursos lingüísticos
empregados, que a receita se dirige a um destinatário?
e.2. Identifique os prováveis destinatários das receitas.
f) Há outros modos (verbais) usados para se dirigir a alguém?
Qual ou quais seriam? Redigir a receita, usando outro modo
verbal diferente do empregado.
g) Se você empregar o modo infinitivo no lugar do imperativo,
haverá algum tipo de mudança?
h) Em que outros gêneros textuais podem ser encontradas formas
de se dirigir ao destinatário como as da receita, isto é, com
verbos ou no imperativo ou no infinitivo?
i) Identifique os advérbios e expressões adverbiais empregados na
receita, na seção “passo a passo”. Explique a função gramatical e discursiva que esses advérbios desempenham nesse contexto, isto é, relacione o uso à função (motivação) que exercem.
j) Pense na seguinte situação:
“Misture as claras suavemente” ou “Leve ao forno ligeiramente”
para dourar. Se os advérbios e expressões adverbiais forem suprimidos, a receita ficará comprometida? Por quê? Justifique sua
resposta?
2 – Procure outras receitas que apresentem outros usos adverbiais.
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2.ª parte: Sobre o modo de organização e das práticas discursivas:
1) De que modo os ingredientes são apresentados numa receita?
2) Em que outro(s) gênero(s) textual(is) encontramos um modo de
organização discursiva semelhante ao da receita na parte referente à lista dos ingredientes?
3) Como se organiza discursivamente a parte da receita (isto é, a
seqüência lingüística) referente ao passo a passo ou modo de fazer?
a) Que recursos lingüísticos são utilizados nessa parte? Qual a
razão, motivação de seu emprego nesse contexto?
b) Em que essa seção da receita se distingue da primeira parte?
Estudo de caso
I. Sobre a questão (1):
1. Os alunos nessa questão serão ser levados a perceber a produtividade e a motivação dos usos lingüísticos da receita como: numerais (as medidas),os advérbios e os verbos, sobretudo.
2. Relacionar o imperativo ao infinitivo que também pode exercer
essa função nesse contexto. Levar o aluno a refletir sobre as diferenças relacionadas aos usos desses modos verbais. Por exemplo: imperativo; pode aproximar mais destinador-destinatário, ao
contrário do infinitivo.
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3. Relacionar uso e função dos modos imperativo e infinitivo Por
exemplo: bula de remédio, regulamentos, etc. Levar exemplos
desses textos para trabalhar em aula.
II. Sobre a segunda parte:
Explicar a função da lista dos elementos na receita: a relação entre
texto e coerência textual, tratando-se de um alista de compras, lista
de remédios, lista de convidados em contraposição a um texto solto, fragmentado e, portanto, incoerente.
3.ª parte: Texto Leitura do poema “Torta de cebola para
prender namorado”
Objetivo: Associar a questão dos gêneros a diferentes funções
comunicativas (intergêneros / gêneros híbridos; modos enunciativos)
Discussão com os alunos sobre o gênero (misto) desse poema
Gênero: receita poética
Modo de organização textual: em versos como um poema
Função/ objetivo do gênero: dar uma receita para se conquistar um
namorado (função estética e não referencial)
Recursos lingüísticos utilizados: levantar com os alunos
Torta de cebola para prender namorado (Roseana Murray)
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Minha avó já dizia
que homem se prende
é pela boca
os tempos estão mudados
hoje são muito diferentes
os namorados
mas pelo sim e pelo não
vai neste poema uma torta
caprichada
faça a massa com farinha
manteiga uma gema de ovo
e de sal uma pitada
depois corte um quilo
de cebolas graúdas
(aproveite para chorar mágoas esquecidas)
ponha margarina na panela
e deixe a cebola dourar
bata três ovos inteiros
e despeje tudo lá dentro
ponha queijo ralado
alguns segredos delicados
e bastante noz-moscada
assim está pronto o recheio
agora é só assar em forno brando
e servir bem quente com muitos
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beijos e vinho branco
Trabalho de produção textual:
1) Apresentação de receitas (pode-se aproveitar o momento para
confraternização, caso cada aluno leve o “produto” de sua receita.
– Receita de bolinho de chocolate, beijinho de amor, bolos, biscoitos, etc.
2) Elaboração de poemas-receita: “ensopado” de namorado, receita
para reconquistar seu grande amor (...), etc.
3) Elaboração de regulamentos (para usos de verbos no imperativo/infinitivo)
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Referências Bibliográficas:
MARCUSCHI, Luiz A. Gêneros Textuais: definição e funcionalidade. In: DIONÍSIO, Angela P., MACHADO, Anna R.; BEZERRA, Maria A. (Orgs.) Gêneros Textuais e Ensino. Rio de Janeiro:
Lucerna, 2006
ANTUNES, Irandé. Muito além da gramática: por um ensino em
línguas sem pedras no caminho. São Paulo: Parábola editorial,
2007.
TRAVAGLIA, Luiz C. Gramática e interação: uma proposta para
o ensino de gramática. 11. ed., São Paulo: Cortez, 2006.
GERALDI, João W. Portos de passagem. 4. ed., São Paulo: Martins Fontes,1997
PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS: terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental: língua portuguesa/ Secretaria de
Educação Fundamental - Brasília: MEC/SEF, 2001.
Projeto de avaliação e acompanhamento dos alunos de 1.ª a 8.ª
séries do Ensino Fundamental com capacitação de professores de
Língua Portuguesa e Matemática do Estado de Mato Grosso. CESGRANRIO / SEDUC. 2006.
ROXO, Maria do Rosário, WILSON, Victoria. Entretextos. São
Paulo: Moderna, 1995.
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