Ciberativismo na Amazônia: apontamentos sobre os desafios da

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Ciberativismo na Amazônia: apontamentos sobre os desafios da militância digital na floresta
Lucas Milhomens
Universidade Federal do Amazonas – Ufam
Campus de Parintins
Amazônia: porção de terra – águas e floresta – que cobre certa de 61% do território nacional,
aproximadamente 5.217.423 km², percorrendo nove estados brasileiros, também conhecida como Amazônia
Legal nos limites de nosso país. Apontada por inúmeros especialistas de várias áreas do conhecimento
científico como a floresta tropical aonde se encontra a maior fonte de biodiversidade (fauna, flora e
ecossistemas) do planeta Terra. Por consequência uma das regiões mais importantes do mundo no que se
refere a seus recursos naturais e singularidades etnico-culturais. Segundo Ab´Saber (2005), a “Amazônia
brasileira é um conjunto de paisagens e ecologias da América do Sul setentrional. A maior parcela territorial
dentro da Amazônia pan-americana de imensa diversidade geográfica e social.” Outro ponto de destaque não
menos importante são as populações que habitam a respectiva Região. Além das cerca de 80 etnias indígenas
com aproximadamente 250 mil pessoas vivendo nesta imensa área1, há, também, outros povos tradicionais
não necessariamente indígenas que compõem o caldo sócio-cultural da Amazônia brasileira moderna.
Estamos falando de ribeirinhos, pescadores, extrativistas, camponeses, caboclos homens e mulheres que
compõem e são definidos em sua complexidade como “Povos da Floresta”, conceito este adotado por Chico
Mendes2 no início de sua militância política para definir a diversidade dos moradores desta enorme região.
Dito isto, a presente pesquisa visa analisar um fenômeno relativamente recente na maior porção de terra do
Brasil: o ciberativismo praticado na Amazônia. Ou seja, como se deu/da a apropriação e uso das Novas
Tecnologias de Informação e Comunicação (NTICs) – também chamadas de mídias digitais –, por alguns
moradores/entidades/movimentos sociais desta continental, complexa e vasta área. Para tanto delimitamos
nosso estudo em análise qualitativa de exemplos que consideramos importantes expressões de militância
(seja ela política, social, educacional, cultural ou ecológica) feita através da rede mundial de computadores.
Antes, porém, é necessário apresentar o cenário infraestrutural da região no que tange às NTICs, justamente
por acreditarmos que ele é condição sine qua non para a utilização ou não de tais ferramentas.
Historicamente o Norte do país – aonde está localizada a maior parte da Amazônia Legal – é a região que
menos possui cobertura de telecomunicações, leia-se serviços de telefonia celular, fibra óptica e acesso a
internet. Segundo Santanna (2010), em artigo publicado no relatório do Comitê Gestor da Internet no Brasil
(CGIBR), com a ascensão e o aumento do poder aquisitivo da população, a demanda por conexão aumentou,
mas a oferta de banda larga, não. Fazendo com que a popularização da internet de banda larga na região seja
a pior do Brasil com apenas 8% de abrangência em relação a seus moradores.
Tendo em vista a parca presença de políticas públicas do setor (não só no Norte mas em todo o país), o
Governo Federal lançou em 2010 o Plano Nacional de Banda Larga (PNBL)3, visando levar internet de alta
velocidade a 40 milhões de domicílios em todo o Brasil até 2014. Tal medida, colocada em prática e
efetivada, seria a solução para os problemas infraestruturais relacionados as telecomunicações na Amazônia.
Apesar de não ser o objeto central desta pesquisa, analisamos o PNBL e verificamos que o mesmo
dificilmente conseguirá cumprir sua meta de universalizar a internet no Brasil até 2014, principalmente em
se tratando de uma região tão complexa como a Amazônia brasileira. Avaliamos que a meta estabelecida é
inverossímil se comparada com a realidade e execução do PNBL atualmente. Nossa hipótese é de que a
deficiência central do referido Plano materializa-se na decisão governamental – e política – de colocar como
agentes executores principais do PNBL o setor privado de Telecomunicações. Tal decisão fez com que as
ações prioritárias de universalização da banda larga fossem deixadas ao largo do critério da lucratividade, ou
seja, regiões mais pobres e de difícil acesso (como a Amazônia) que necessitam de alternativas tecnológicas
mais elaboradas e que possuem um número menor de usuários foram deixadas para o final da fila.
Tal avaliação foi necessária porque ela é o ponto de partida para as primeiras manifestações ciberativistas na
região. Manifestações estas que surgiram a partir da blogosfera4, na segunda metade dos anos 2000, como
1 Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/>. Acesso em 10 de abril de 2012.
2 Disponível em:<http://www.chicomendes.org.br/Biografia/bio.html>. Acesso em: 07 de abril de 2012.
3 Disponível em: <http://www4.planalto.gov.br/brasilconectado/forum-brasilconectado/documentos/3ofbc/documento-base-do-programa-nacional-de-banda-larga>. Acesso em 28 de março de
2012.
4 Blogosfera é o termo coletivo que compreende todos os weblogs (ou blogs) como uma comunidade e ou rede social.
Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Blogosfera> . Acesso em 28 de março de 2012.
aponta Malini (2009) em uma pesquisa sobre a cartografia da blogosfera brasileira. “A utilização do blog
como instrumento de comunicação é recente na região Norte do país, cerca de 87% dos blogs pesquisados
[300 no total] datam sua primeira postagem do período de 2007 a 2009”. Tal anacronismo deve-se ao fato
mencionado anteriormente do generalizado atraso tecnológico em relação a outras regiões do país, o que, por
sua vez, inviabilizou uma participação mais efetiva da sociedade amazônica junto as novas mídias digitais e,
por conseguinte, sua militância no ciberespaço.
Verificamos que o ciberativismo na Amazônia, como todo ato de ativismo social, é resultado de uma
insatisfação ou necessidade de expressão individual ou coletiva, com o intuito de dar visibilidade a uma
“causa”, que pode ser desde uma crítica relacionada a um caso de corrupção, denúncia ambiental ou
expressão sócio-cultural etc.. Em uma época que o discurso político-institucional – seja ele nacional ou
internacional – aponta diretrizes sobre a Amazônia e como os povos desta região devem viver, vozes
endógenas, oriundas da floresta (ou das florestas) têm outros pontos de vista. É o que Castells (2001) chama
de “poder da identidade”, onde há uma reorganização social plasmada por interesses comuns, muitas vezes
relacionados a tradições culturais e/ou étnicas e que por sua vez promovem resistência à dominação do
Establishment5 e de sua visão democrática tradicional.
Podemos afirmar que a atuação ciberativista na Amazônia está promovendo um novo tipo de integração e
exposição na região. Onde temas outrora obscuros ou inexistentes na mídia tradicional podem ser
publicizados através dos novos meios digitais de comunicação e seus atores, em uma perspectiva ao mesmo
tempo local e global mas, sobretudo, articuladora. Neste sentido podemos citar três exemplos de
ciberativismo genuinamente amazônico, o portal Rede Povos da Floresta6(Acre), o blog jornalístico Lingua
Ferina7 (Pará) e o sítio educacional Organização Geral dos Professores Ticunas Bilíngues8(Amazonas), todos
criados com o viés da militância digital e abordagem de temas relacionados à Amazônia, em suas mais
diferentes temáticas e perspectivas.
Outra importante referência de atuação política, jornalística e militante na região é o sítio Jornal Pessoal 9,
versão digital do periódico paraense responsável por grandes reportagens investigativas – muitas delas
abordando a influência das corporações nacionais e internacionais que atuam na Amazônia – idealizado e
organizado pelo jornalista Lúcio Flávio Pinto.
Nesse sentido entendemos que a presente pesquisa é um importante instrumento de aferição e análise da
atuação ciberativista na Amazônia, não só tendo a possibilidade de desvendar e publicizar novos discursos e
perspectivas de atores oriundos da região, mas, também, o de desconstruir uma visão ideológica e exótica de
seus moradores, organizações, problemas e intervenções políticas e sociais.
Referências
CASTELLS, Manuel. O Poder da Identidade. São Paulo: Ed. Paz e Terra, 2001.
DOSSIÊ AMAZÔNIA BRASILEIRA I. Aziz Ab'Sáber: problemas da Amazônia brasileira. Disponível
em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142005000100002.Acesso em:
28 de março de 2012.
SANTANNA, Rogério. Democracia no acesso vai aprofundar uso de novas aplicações da internet. TIC
Domicílios e Empresas 2010. Pesquisa sobre o uso das Tecnologias de Informação e Comunicação no Brasil.
Comitê Gestor da Internet no Brasil. p.57-59.
MARTINS, Jessé;POMPERMAIER, Nathalia;LOYOLA, Darshany;MARTINUZZO, Marcel;MALINI,
Fábio.Cartografia da Blogosfera no Brasil: perspectivas amazônicas. Intercom – Sociedade Brasileira de
Estudos Interdisciplinares da Comunicação. XXXII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação –
Curitiba, PR – 4 a 7 de setembro de 2009.
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8
9
Disponível em: <http://en.wikipedia.org/wiki/The_Establishment> . Acesso em 28 de março de 2012.
Disponível em: <http://www.redepovosdafloresta.org.br/gerExi.aspx?kwd=1> . Acesso em 28 de março de 2012.
Disponível em: <http://candidoneto.blogspot.com.br/> . Acesso em 28 de março de 2012.
Disponível em: <http://www.ogptb.org.br/apresenta.htm> . Acesso em 28 de março de 2012.
Disponível em: <http://www.lucioflaviopinto.com.br/>. Acesso em 28 de março de 2012.
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