Vol. 70 nº 2 Abr./Mai./Jun. 2016 ISSN 0004-5276 Série 70 anos REVISTA DA ASSOCIAÇÃO PAULISTA DE CIRURGIÕES-DENTISTAS - VOL. 70 - N0 2 - ABR./MAI./JUN. 2016 Revista da Capa_Revista.indd 101 20/05/16 16:59 Capa_Revista.indd 102 20/05/16 16:59 Editorial A Internacionalização da Odontologia Brasileira Possivelmente, o conceito que mais sintetiza a internacionalização é aquele que expressa que toda pesquisa científica deve ser executada “com base na reciprocidade”. Significa dizer que o conhecimento gerado nas Academias e Centros de Pesquisas, obrigatoriamente deve ser socializado e não permanecer territorialmente delimitado. Significa, ainda, e em especial na Odontologia, que a internacionalização é um intercâmbio de conhecimentos plausíveis de serem implementados na prática clínica. Fundamentado nessas afirmações, o Corpo Editorial da Revista da APCD lançou um desafio de publicar uma edição de artigos de autorias e coautorias nacionais e internacionais, trabalhando em sentido sinérgico. A presente edição abrange os mais diversos assuntos das especialidades odontológicas, contemplando as evidências científicas que dão suporte e colaboram com as intervenções clínicas. Sublinhamos que a internacionalização da Revista da APCD está representada nos artigos publicados em colaboração com pesquisadores de países como: Argentina, Canadá, Chile, Equador, Espanha, Estados Unidos, Irã, Itália, México, Suíça e Turquia. Certamente essa edição será um capítulo inaugural da Revista da APCD de um movimento direcionado ao processo de internacionalização, com objetivo de criar novos parâmetros de atuação e de conhecimento com base no princípio de reciprocidade. Aos pesquisadores que emprestaram seus produtos científicos e clínicos à Revista da APCD, confiando a ela a missão de publicá-los, e aos leitores que com certeza farão bom uso dessas informações, nossos sinceros agradecimentos. Boa leitura! Danilo Antonio Duarte Editor Científico da Revista da APCD REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):103 Editorial_Principal.indd 103 103 24/05/16 10:54 Conteúdo Revista da Associação Paulista de Cirurgiões-Dentistas é uma publicação da Escola de Aperfeiçoamento Profissional da APCD Indexado pela BBO, LILACS e Latindex ISSN: 0004-5276 EDITOR CIENTÍFICO Danilo Antonio Duarte EDITORES ASSISTENTES Alessandra Pereira de Andrade, Cassius Carvalho Torres-Pereira, Eduardo Bresciani, Gustavo Pina Godoy, Jonas de Almeida Rodrigues, Michele Baffi Diniz, Murilo Fernando Neuppmann Feres, Saul Martins de Paiva, Sergio Luiz Pinheiro, Tatiane Fernandes de Novaes. CONSELHO CIENTÍFICO EDITORIAL Adair Luiz Stefanello Busato (Ulbra, Brasil), Aida Sabbagh Haddad (APCD, Brasil), Alessandra Reis (UFPG, Brasil), Ana Carla Raphaelli Nahás Scocate (Unicid, Brasil), Ana Cecília Aranha (Fousp, Brasil), Anna Fuks (Hadassah Scholl of Dental Medicine, Israel), Artur Cerri (EAP APCD, Brasil), Carlos Alberto Adde (Fousp, Brasil), Carlos Estrela (UFGO, Brasil), Cassiano Rösing (UFRS, Brasil), Celso Augusto Lemos Junior (Fousp, Brasil), Clarissa Calil Bonifácio (ACTA, Holanda), Dalva Cruz Laganá (Fousp, Brasil), Décio dos Santos Pinto Júnior (Fousp, Brasil), Erick Souza (UFMA, Brasil), Fábio Correia Sampaio (UFPB, Brasil), Fernando Borba de Araújo (UFRS, Brasil), Franco Arsati (Universidade Estadual de Feira de Santana), Gilberto Debelian (University of Oslo, Noruega), Isabela de Almeida Pordeus (UFMG, Brasil), Jenny Abanto (Fousp, Brasil), Jorge Luis Castillho (Universidad Peruana Cayetano Heredia, Peru), Katia Regina Cervantes (UFRJ, Brasil), Lidiany Karla Azevedo Rodrigues (UFC, Brasil), Lúcia Coelho Garcia Pereira (UniEvangélica, Brasil) Lucianne Coplemaia de Faria (UFRJ, Brasil), Luiz Alberto Plácido Penna (Unimes, Brasil), Magda Feres (UNG, Brasil), Marcelo Cavenagui (Unifesp, Brasil), Márcio Vivan Cardoso (KULeuven, Bélgica), Marco Antônio Bottino (Unesp, Brasil), Maria Aparecida de Andrade Moreira Machado (FOB, Brasil), Maria Cristina Zindel Deboni (Fousp, Brasil), Maria das Graças Reis (UFTM, Brasil), Marília Buzalaf (FOB, Brasil), Mauro Henrique Nogueira de Abreu (UFMG, Brasil), Miguel Simão Haddad Filho (USF, Brasil), Miriam Lacalle Turbino (Fousp, Brasil), Regina Maria Puppin-Rontani (FOP/Unicamp, Brasil), Rodrigo Sanches Cunha (University of Manitoba, Canadá), Rogerio Heladio Motta (SL Mandic, Brasil), Sandra Kalil Bussadori (Uninove, Brasil), Thiago Machado Ardenghi (UFSM, Brasil), Thiago Saads Carvalho (University of Bern, Suiça), Vicente de Paulo Aragão Saboia (UFC, Brasil), Wagner Marcenes (Queen Mary University of London, Reino Unido), Walter Luiz Siqueira (University of Western Ontario, Canadá), Ynara Bosco de Oliveira Lima Arsati (Universidade Estadual de Feira de Santana). ASSESSORES DO EDITOR CIENTÍFICO Angela Mayumi Shimaoka, Caleb David Willy Moreira Shitzuka, Caroline Moraes Moriyama, Claudio Pannuti, Fernando Neves Nogueira, Isabel de Freiras Peixoto, José Carlos Pettorrosi Imparato, Mariana Minatel Braga, Mary Caroline Skelton-Macedo, Priscila Hernández de Campos, Susana Paim dos Santos. 103 Editorial A Internacionalização da Odontologia Brasileira Danilo Antonio Duarte 106 Matéria de Capa Internacionalização: visão e conceitos na Odontologia 116 A Artrite Idiopática Juvenil como fator de risco PRESIDENTE DA APCD DIRETOR DA EAP Adriano Albano Forghieri Artur Cerri DIRETOR DA REVISTA Danilo Antonio Duarte ADMINISTRAÇÃO / REDAÇÃO E REVISÃO COORDENADORA DE COMUNICAÇÃO E JORNALISTA RESPONSÁVEL Mariana Pantano - MTb. 62.558 CAPA Danilo Fuentes PUBLICIDADE Tel.: (11) 2223-2332 - [email protected] IMPRESSÃO REVISTA DA APCD RESPONSABILIDADE EDITORIAL Os conceitos e as afirmações constantes nos originais são de inteira responsabilidade do(s) autor(es), não refletindo, necessariamente, a opinião da Revista da APCD, representada por meio de seu corpo editorial e comissão de avaliação. Só será permitida a reprodução total ou parcial com a autorização dos editores. PERIODICIDADE / TIRAGEM Trimestral / 40.000 exemplares Conteudo.indd 104 internacionalização da Odontologia Contribution of Maxillofacial Prosthetics for the dentistry internationalization Reinaldo Brito e Dias, Luis Pablo Herrera, Ricardo César dos Reis, Neide Pena Coto 126 Uma nova estratégia para PDT antimicrobiana em Ipsis Gráfica e Editora Rua Voluntários da Pátria, 547 - Santana - São Paulo - SP - CEP 02011-000 - BRASIL Tel.: (11) 2223-2553 / Fax: (11) 2221-3612 - [email protected] - www.apcd.org.br The Juvenile Idiopathic Arthritis as a risk factor for dental erosion: a preliminary study Patrizia Defabianis 122 Contribuição da Prótese Bucomaxilofacial na Swellyn França - MTb. 45.564 PRODUÇÃO E DIAGRAMAÇÃO Danilo Fuentes e Thiago Lemos para a erosão dentária: estudo preliminar Endodontia A new approach for antimicrobial Endodontic PDT Aguinaldo Silva Garcez, Juliano Alves Roque, Wilson H. Murata, Michael R. Hamblin 132 Momento atual da Odontologia para Pessoas com Deficiência na América Latina: situação do Chile e Brasil Current Status of the Dental Care Provided to Disabled People in Latin America: Chilean and Brazilian scenarios Aida Sabbagh Haddad, Elizabeth López Tagle, Vivian de Agostino Biella Passos 24/05/16 15:14 Conteúdo Conteúdo 141 Análise de diagnósticos radiográficos periapicais sugestivos de lesões refratárias Analysis of periapical radiographic diagnosis that suggest persistent lesion Manoel Eduardo de Lima Machado, Vivian Elias Costa, Cleber Keiti Nabeshima, Montserrat Mercadé, Miguel Roig Cayón 147 Efeito anticárie do flúor associado ao trimetafosfato de sódio Anticaries effect of fluoride associated with sodium trimetaphosphate Caroline Scholz, Renata Schlesner de Oliveira, Michele Baffi Diniz, Adrian Lussi, Jonas Almeida Rodrigues 151 Utilização de softwares livres para visualização e análise de imagens 3D na Odontologia The use of free softwares for 3D image analysis in Dentistry André Luiz Ferreira Costa, Clarissa Lin Yasuda, Ana Carla Raphaelli Nahás-Scocate 156 Carcinoma de células escamosas de cabeça e pescoço (HNSCC): desvendando os mistérios do microambiente tumoral Head and neck squamous cell carcinoma (HNSCC): unmasking the tumor microenvironment Jorge Augusto Borin Scutti, Mariana Pineda, Enos Emerick Jr, Eliete Rodrigues de Almeida 164 Excelência na Odontologia A internacionalização e a pesquisa odontológica brasileira Internationalization and Brazilian dental research Magda Feres 166 Uma nova perspectiva sobre a biologia da 187 Infiltrante resinoso vs Microabrasão no manejo 198 204 210 215 A new perspective in the biology of osseointegration Vanessa Cristina Mendes, John E. Davies 172 A saúde bucal de crianças menores de 5 anos de idade no município de Diadema Oral health status of children under 5 years-old in Diadema Gustavo Tello, Patrícia de Carvalho, Vanessa Silva da Costa, Jenny Abanto, Luciana Butini Oliveira, Marcelo Bönecker 181 Avaliação do sistema WaveOne Gold e ProTaper Retratamento para remoção de guta-percha clínico Evaluation of WaveOne Gold system and ProTaper Retreatment for gutta-percha removal Sergio Luiz Pinheiro, Howard M. Fogel, Marina Pellegrini Cicotti, Michael Baptista Rodillo, Carlos Eduardo da Silveira Bueno, Rodrigo Sanches Cunha Resin infiltration vs microabrasion in white-spot lesions treatment: case report Giselle Rodrigues de Sant’anna, Iolanda Macedo Silva, Ramonike Lopes Lima, Wanessa Christine Souza-Zaroni, Mariana Ferreira Leite, Mohammad Samiei 192 O impacto psicossocial da estética facial em osseointegração de lesões de mancha branca: relato de caso crianças e adolescentes e a possibilidade de intervenções precoces: relato de dois casos clínicos The psychosocial impact of facial aesthetics in children and adolescents and the possibility of early intervention: report of two clinical cases Banu Yesilbek, Sule Simsek, Patricia Valério Enxerto ósseo em bloco autógeno na maxila: relato de caso clínico Autogenous block bone graft in the upper jaw: report of case Hid Miguel Junior, Carlos Fernando Beltrão, José Camilo Furlani, Fernando Kassardjian, Leda Regina Mugayar, Walter João Genovese O desafio do tratamento ortodôntico do paciente com fenótipo facial hiperdivergente The challenge of the orthodontic treatment of the hyperdivergent facial phenotype patient Marinho Del Santo, Helder Jacob, José A. Bósio Reabilitação odontológica multidisciplinar em paciente pediátrico com hemofilia. Relato de caso Multidisciplinary rehabilitation of pediatric dentistry in patients with hemophilia. Case report Maria de Lourdes Ortiz Bravo, Alba Lilia Brambila Montoya, Tonatiuh Ruiz Rivera, Issac Murisi Pedroza Uribe, Caleb Shitsuka, Carmem Celina Alonso Sánchez, Rubén Alberto Bayardo González Incisão vertical para remoção de osso autógeno da sínfise mentual - relato de dois casos clínicos Vertical incision to autogenous bone removal from the mental symphysis - report of two clinical cases Cristiano Clausson Schroeder, Paulo Sergio Perri de Carvalho, Diego Bechelli, Pedro Silva Pacheco, Renato Tiosso, Antonio Francisco David 222 Orientando o Paciente Conceitos atuais sobre dor de dente em crianças pré-escolares Atual concepts of toothache in preschool children Ivonne Elena Vasquez Aillon, Gustavo Tello, Gabriela Oliveira Berti, Evelyn Alvarez Vidigal, Thais Cordeschi, Jenny Abanto 224 Indicador Profissional 225 Normas de Publicação REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):104-5 Conteudo.indd 105 105 24/05/16 15:14 Internacionalização na Odontologia INTERNACIONALIZAÇÃO: VISÃO E CONCEITOS NA ODONTOLOGIA A internacionalização deve ser tratada como uma cooperação de pessoas e instituições, a fim de permitir o desenvolvimento e o crescimento profissional e pessoal dos envolvidos para que sejam preparados como futuros líderes de opinião, difusores e multiplicadores do conhecimento técnico e científico de seus países. Por Swellyn França Resumidamente, a internacionalização pode ser vista como a possibilidade da troca de aprendizado entre os indivíduos de nações diferentes, algo extremamente importante para a evolução de qualquer área de conhecimento. Dentro do contexto da universidade, a internacionalização “é um processo no qual a instituição apresenta e faz acontecer uma série de políticas internas com o objetivo de dinamizar e expandir a sua inserção internacional”, afirma a professora associada do Departamento de Dentística da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo (Fousp) e presidente da Comissão de Cooperação Acadêmica Nacional e Internacional da Fousp, Ana Cecília Corrêa Aranha. Para a professora “os alunos envolvidos com o processo de internacionalização aprimoram suas habilidades cognitivas e, com o desenvolvimento do pensamento crítico, buscam informações de qualidade com o objetivo de resolver problemas técnico-científicos”. No entanto, ela considera que, deve fazer parte do esforço de universidades conscientes da importância destas medidas, não só o envio de alunos para experiências acadêmicas internacionais, mas também a recepção de estudantes de universidades do exterior. “A internacionalização ‘em duas 106 vias’ é sempre a mais significante para ambos os lados. E é crescente o número de alunos estrangeiros interessados em participar das atividades acadêmicas em universidades e institutos de pesquisa brasileira”. Atualmente à frente dos assuntos e ações de internacionalização da Fousp, Ana Cecília relata o frequente e crescente interesse que universidades latinas vêm demonstrando na tentativa do estabelecimento de intercâmbios e da viabilização da mobilidade de pessoas. Destacam-se, dentre elas, instituições peruanas, argentinas, equatorianas e colombianas. “É uma ‘bola de neve’, o pesquisador brasileiro publica em uma revista internacional com alto fator de impacto, este trabalho lhe traz visibilidade e, reconhecidamente, ele passa a trabalhar com pesquisadores internacionais, montando uma rede, na qual seus alunos têm a oportunidade de realizar estágios”. Engana-se, no entanto, quem supõe que a internacionalização trata apenas da mobilidade de alunos e profissionais, de dentro para fora ou o contrário. Ana Cecília esclarece que a internacionalização acontece de diversas formas, seja pela assinatura de contratos de parcerias, formalizando convênios, seja pela inclusão do corpo docente da universidade em atividades relacionadas a associações e sociedades científicas internacio- REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):106-14 materia_capa.indd 106 23/05/16 15:28 Matéria de capa nais ou em corpos editoriais de revistas científicas de renome internacional. “Muitos docentes são revisores de periódicos científicos internacionais, avaliadores de trabalhos submetidos a congressos científicos internacionais, participam em conselhos editoriais de periódicos internacionais e ministram cursos e palestras no exterior. Isso também é internacionalizar.” Um dos destacados pesquisadores da Odontologia brasileira, que tem vasta experiência internacional ao longo de sua carreira, Manoel Eduardo de Lima Machado, que é coordenador dos cursos de Endodontia da EAP APCD Central professor dos cursos mestrado e doutorado em Endodontia da Fousp e professor convidado da University of Harvard, ratifica o ponto de vista geral de sua colega de instituição. Quando questionado acerca do caráter de relações bilaterais ideais, o entrevistado esclarece que a internacionalização, ao contrário do que supõe o senso comum, não deve ocorrer pela assistência técnica de um centro de pesquisa mais desenvolvido em relação a outro, mais deficitário sob os aspectos científico e tecnológico. “É claro que o apoio financeiro à pesquisa contribui de maneira eficaz para o desenvolvimento do conhecimento, mas é fundamental pensar na cooperação. Este é o ponto. A cooperação pode passar pela vinda de estrangeiros para o Brasil que podem ser preparados como futuros líderes de opinião, difusores e multiplicadores do conhecimento técnico e científico para suas regiões, ou mesmo a criação de convênios onde os professores daqui possam ir para estas regiões e promover uma difusão regional”. Sob o ponto de vista das pesquisas, Manoel Machado acredita que, muitos convênios e intercâmbios podem e devem ser executados na criação da ciência, e consequentemente na melhoria de vida. “A internacionalização não deve ser vista e tratada como assistencialismo, pois este é temporário e fugaz, a cooperação permite desenvolvimento e crescimento profissional e pessoal. Desta forma, o foco deve permanecer no ser humano como um todo, neste contexto, a vivência fora da sala de aula e as experiências originadas destas relações e das diferentes culturas promovem o crescimento pessoal, humanista e profissional”. A Odontologia brasileira em termos de internacionalização “Com uma Odontologia reconhecida clínica e cientificamente, a internacionalização é fato, e vem acontecendo”, confirma Ana Cecília. A professora acredita que “a internacionalização da Odontologia brasileira sempre foi forte; porém, apenas nos últimos 10 anos, muitas atividades que até então não eram oficiais, passaram a apresentar características definidas e objetivos mais concretos”. Para ela, trata-se de um processo, felizmente, irreversível. Ana Cecília Aranha Muitos são aqueles que consideram a Odontologia brasileira como uma das melhores no cenário mundial. “Devemos sempre cultivar o espírito de humildade, abertura mental e intelectual em aceitar novos conceitos; mas ao mesmo tempo, precisamos compreender nossa posição no contexto mundial. A meu ver, tanto nas áreas básicas como clínicas, nos situamos em uma situação privilegiada. Dentro deste panorama, não diria que temos mais a ensinar do que a aprender, mas sim, que temos uma posição de destaque no mundo (estamos em 2º lugar em número de publicações científicas), e desta forma, uma grande responsabilidade com a comunidade científica e, claro, com a saúde da população mundial. O Brasil, pelo fato de passar por diferentes situações políticas e sociais, apresenta similaridade com os demais países da América Latina, da Ásia, da África e do Leste Europeu, tornando mais simples e esclarecedor o diálogo, a troca de conhecimento e de tecnologia”, pondera Machado. Uma instituição exemplo de sucesso A Fousp destaca-se, há muito tempo, pela troca de experiências e desenvolvimento de projetos de pesquisas com centros do exterior. Ao longo dos últimos anos, contudo, a Fousp vem alcançando resultados ainda mais expressivos. À frente da Comissão de Cooperação Acadêmica Nacional e Internacional, Ana Cecília testemunhou a ida de muitos de seus docentes a outros países, seja para a realização de estágios de pós-doutorado, seja para ministrarem ou participarem de palestras e treinamentos específicos. Durante a rea- REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):106-14 materia_capa.indd 107 107 23/05/16 15:28 Internacionalização na Odontologia Desafios da internacionalização e novas perspectivas José Eduardo Pelizon Pelino Manoel Eduardo Machado lização de estágios e visitas como estas, foram estabelecidos fortes vínculos de colaboração que permitiram o posterior envio de alunos de graduação e pós-graduação. Dentre os projetos de destaque conduzidos na Fousp, destaca-se o projeto de cooperação Dinter, com a Universidade Central do Equador, e vários outros, financiados pela pró-reitoria de pesquisa da USP (Cofecub, interação Brasil-França; Projeto Porto, interação USP-Universidade do Porto) ou pela Capes (Projeto Coimbra, interação USP-Universidade de Coimbra). “Em decorrência das atividades de internacionalização pode-se evidenciar que todos os departamentos da Fousp apresentaram uma maior possibilidade de elevação dos padrões acadêmicos e obtiveram maior projeção de seus alunos, docentes e de suas pesquisas em nível internacional. Fato comprovado é que a avaliação da Quacquarelli Symonds, organização britânica de pesquisa em educação, especializada em instituições de ensino superior, apontou a USP entre as 50 melhores do mundo em oito áreas diferentes, sendo que a Odontologia apresentou a melhor colocação dentre todos os cursos, ficando com a nona posição no ranking mundial”, destaca. Na Fousp, uma média de dez alunos de graduação por ano realizam estágios de longa duração em universidade no exterior através de programas de incentivo da reitoria. Entre 2012 e 2015, 24 alunos foram encaminhados a outros países por meio da “Bolsa Mérito Acadêmico”. Já na pós-graduação uma variação de cinco a dez alunos realizam estágios de doutorado sanduíche, por ano. 108 Apesar de ter exemplos de sucesso, a internacionalização da Odontologia brasileira ainda enfrenta grandes desafios e muitos obstáculos a serem superados. “Diferente de alguns campos do conhecimento, a viabilização da internacionalização da Odontologia, como área, apresenta dificuldades peculiares. Precisamos lembrar que a Odontologia é uma área da saúde profissionalizante, e que requer treinamento e aperfeiçoamento da prática. Existe a necessidade de incluir alunos em laboratórios e clínicas. O custo do material básico para a prática também é elevado”, opina Ana Cecília, que ainda resume o panorama nacional que vivenciamos atualmente: “vários são os entraves ao processo de internacionalização no Brasil. Estes obstáculos inibem a chegada de nossas universidades à elite do ensino superior. A falta de interação com o resto do mundo é apontada como um dos pontos mais fracos das instituições brasileiras, reduzindo sua visibilidade e sua competitividade no cenário internacional”. Um dos percalços mais importantes diz respeito às diferenças entre os currículos acadêmicos das universidades brasileiras e estrangeiras. Essas diferenças trazem problemas na validação de créditos de disciplinas realizadas ou mesmo para a validação do próprio diploma de graduação. “Outro obstáculo se refere à burocratização das universidades, cheias de regras inflexíveis para uso de recursos, contratações, demissões e aprovações dos alunos”, salienta a professora da Fousp. “Outra preocupação quando se tem em mente a internacionalização da Odontologia brasileira diz respeito à divulgação da nossa ciência”, aponta o professor da Universidade de Guarulhos (UNG), Murilo Feres, que é membro do setor de Internacionalização de sua instituição. “A produção científica odontológica brasileira vem crescendo ao longo dos anos. Mas é comum a constatação de que é preciso aumentar o seu impacto. A constante busca pela melhoria da qualidade metodológica das nossas pesquisas, bem como a priorização pela produção original e inovadora constituem, evidentemente, os passos mais importantes neste sentido. Quanto maior a qualidade e quanto mais importantes os resultados produzidos por uma pesquisa, maiores são as chances de que estes sejam publicados em uma revista internacional de impacto”. Mas, além disso, outras medidas devem compor a estratégia de divulgação da ciência odontológica brasileira, segundo Murilo. “Por exemplo, a adoção do inglês como idioma de publicação, de maneira exclusiva ou não, mesmo que seja uma tendência crescente, deve ser consolidada. Outra medida seria garantir o acesso livre ao conteúdo publicado pelas nossas revistas. Neste particular, temos o exemplo do Scielo (Scien- REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):106-14 materia_capa.indd 108 23/05/16 15:28 Matéria de capa tific Electronic Library Online), uma ferramenta muito útil e extremamente acessada”. Responsável pela absorção de, ao menos, um terço da produção científica brasileira, o Scielo é uma biblioteca eletrônica que contém uma coleção seleta de revistas científicas brasileiras. Trata-se de um projeto de sucesso apoiado pela Fapesp e pelo CNPq. Assim como a inclusão de pesquisadores brasileiros no corpo editorial de revistas internacionais é importante, como anteriormente ressaltado por Ana Cecília, o contrário parece ser igualmente desejável. É o que reforça Murilo: “Há uma recomendação por parte do Scielo dirigida às revistas da área de saúde para que estas aumentem seu contingente internacional de editores e revisores. Este fator deve, consequentemente, atrair autores estrangeiros – aumentando nossa comunicação com o exterior, além de auxiliar na divulgação da boa ciência que produzem nossos pesquisadores”, enaltece. Ana Cecília e Manoel Machado são unânimes na questão de que ainda necessitamos não só preparar melhor os alunos que desejam desfrutar de uma experiência no exterior, bem como nos preparar melhor para receber aqueles que virão. Neste sentido, a barreira linguística reaparece como mais um desafio a se superar. “A criação de disciplinas de graduação, e principalmente de pós-graduação, em outras línguas deve ser estimulada visando atrair mais alunos estrangeiros”, opina a professora. Questões financeiras também podem representar barreiras para a vinda de alunos estrangeiros.”Há o desafio da permanência aqui. Onde estes estudantes irão residir? Como se alimentarão e pagarão pelo transporte? Praticamente não existem projetos com estes particulares e são poucas as entidades que podem oferecer esses requisitos. Por isso, as agências de fomento são fundamentais para permitir este fluxo”, completa o professor convidado de Harvard. O professor da UNG, Murilo Feres, completa que “a internacionalização foi, e ainda é, um processo altamente correlacionado às agências de fomento. A Capes e o CNPq, no cenário nacional, e a Fapesp, no Estado de São Paulo, detêm uma importância histórica inegável neste sentido. Atualmente, é grande o número de acordos de cooperação assinados por estes órgãos que viabilizam mobilidade e financiamento de pesquisas conjuntas.” Muito embora as agências de fomento tenham representado - e ainda representem - um aporte significativo para viabilizar acordos de parceria e mobilidade, há que se pensar em outros meios, conforme Murilo. “Eventualmente, o país passa por variações nos cenários político e econômico, que potencialmente influenciam o fluxo de recursos.” O professor relata a experiência positiva que presenciou em sua instituição: “A UNG em conjunto com a USP fechou recentemente um acordo de cooperação com Murilo Feres a Colgate dos EUA. Além da criação de um centro de estudos, que já está em funcionamento, um dos objetivos desta parceria é a concessão, por parte da empresa, de bolsas de estudos para alunos da América Latina que se interessarem em cursar qualquer um dos dois programas. Há pouco tempo, recebemos a primeira aluna beneficiária desta ação, vinda do Chile.” A parceria universidade/indústria parece ainda trazer outras vantagens, além de viabilizar a mobilidade de alunos. “É uma modalidade de parceria bem mais comum no exterior. Neste tocante, ao que me parece, estamos relativamente atrasados. Mas experiências como estas devem inspirar a procura por novas modalidades de parceria. Todos saem ganhando. Empresas, em busca da imparcialidade e da experiência de pesquisadores, contratam estudos. Os investigadores realizam as pesquisas e o conhecimento gerado será eventualmente divulgado em publicações, ou mesmo difundido pelos alunos estrangeiros aqui recebidos, quando da sua saída. Esta divulgação atrai a atenção de novos alunos, além de viabilizar ao estabelecimento de novas parcerias. O pesquisador, por sua vez, adquire notabilidade e mais inserção internacional. Trata-se de um círculo virtuoso”, finaliza Murilo. Uma experiência transformadora para quem vai Estimulado pelo seu orientador, o jovem pesquisador da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Lucas Guimarães Abreu, que na época ainda era estudante, pleiteou uma bolsa de estudos no Programa de Doutorado Sanduíche no Exterior REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):106-14 materia_capa.indd 109 109 24/05/16 15:10 Internacionalização na Odontologia José Eduardo Pelizon Pelino Lucas Guimarães Abreu (PDSE) que, para sua felicidade, foi concedida. Mas ele recorda que os desafios começaram mesmo antes da chegada ao seu destino. A primeira pergunta (e aflição) havia sido em relação à escolha da instituição de destino. “Quando iniciamos o processo para tentar estudar ou trabalhar por um tempo no exterior, às vezes, nos deparamos com tantas informações que, ao final deste processo, conseguimos criar mais de uma possibilidade. Acho que o critério para definirmos esta escolha deve ser pautado no que se quer aprender ou aprimorar.” Acabou se decidindo pela Universidade de Alberta, no Canadá, onde ficou durante o ano de 2014. Logo no início da sua estadia, no entanto, Lucas se deparou com outra dificuldade, o clima. Mesmo com temperaturas extremamente baixas (Edmonton apresentava, na época, temperaturas médias ao redor dos -20°C), Lucas ameniza o primeiro impacto: “Os problemas relacionados ao frio intenso e à alimentação diferente foram logo amenizados pela ótima infraestrutura que a universidade oferecia”. Passado o primeiro “susto”, Lucas logo iniciou seus estudos. Aplicado, ainda nos primeiros meses, ele se preocupou em se organizar e criar uma rotina de trabalho: “lembro-me que passava toda a semana na universidade, seja na minha sala, na clínica ou na biblioteca. Esta rotina garantiu uma concentração muita grande no trabalho que devia exercer na universidade, e já no segundo mês, consegui uma boa publicação.” Daí por diante, Lucas continuou estudando bas- 110 tante e participando de diversos trabalhos. Organizado com o tempo, o jovem pesquisador ainda conseguiu desfrutar de outras vantagens decorrentes de se estudar fora. Para ele, o estudante “deve tentar se envolver em outras atividades fora do seu departamento. A integração com a cultura local é uma estratégia inteligente para se ocupar o tempo com atividades diferentes daquelas do seu ambiente de trabalho”. Ele recomenda: “a maioria das universidades no exterior oferece uma lista de atividades extracurriculares e programação cultural que irá contribuir ainda mais para sua experiência e socialização.” Experiências como a que teve são “oportunidades transformadoras para as pessoas que decidem encarar o desafio”, afirma Lucas. Isso mesmo, um desafio. Apesar de recompensadora, ele admite que “nem tudo são flores”. Por isso mesmo, o atual professor adjunto do departamento de Odontopediatria e Ortodontia da UFMG, Lucas, se apressa em alertar: “o primeiro passo seria não ignorar a importância de se ter o domínio de um idioma diferente do português, preferencialmente o inglês. A consolidação de uma parceria é basicamente feita através da comunicação que o pesquisador tem com seus interlocutores em outros países. Assim, o jovem deve ser capaz de ler, ouvir e escrever naquela língua estrangeira com segurança para poder expressar a sua demanda”. Mesmo ainda jovem, ele reconhece que a experiência que vivenciou é apenas uma extensão de um processo maior e necessário para a evolução do conhecimento: “O que precisamos é reconhecer que, como qualquer outro país, temos fragilidades e a consolidação destas parcerias é uma ótima oportunidade para superarmos os limites de demanda do mercado interno. Faço este relato com certo alívio, pois tenho certeza que parte da comunidade acadêmica brasileira já reconheceu esta necessidade. Prova disso é a organização dos nossos programas de pós-graduação e a reputação que nossa pesquisa possui no exterior. O que devemos fazer agora é convencer a outra parte que ainda é resistente a estes ideais e tentar estimular nos nossos alunos a ter paciência para a construção de uma formação profissional adequada, a humildade para o reconhecimento de nossas limitações e a busca pelo conhecimento independentemente de fronteiras. Talvez, este seja o caminho para um conceito que contemple a oportunidade para todos”, conclui Lucas. O conhecimento de quem está acostumado a receber O professor associado de Ortodontia da Universidade de Alberta, Canadá, Carlos Flores-Mir foi um dos que recebeu Lucas na Universidade de Alberta. Carlos é natural do Peru, mas já reside há alguns anos em Edmonton. Assim como ele, o corpo docente da instituição em que trabalha é composto REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):106-14 materia_capa.indd 110 23/05/16 15:28 Matéria de capa por outros professores de outras nacionalidades. “O Canadá sempre foi um país tradicionalmente construído por contínua imigração de pessoas. Não parece haver um direcionamento específico para forjar uma diversidade cultural em nível universitário. Mais parece que normalmente há pouca disposição por parte de Cirurgiões-Dentistas canadenses em se empregarem como professores em tempo integral. Embora não planejado para ser assim, o produto final realmente cria um ambiente acadêmico extremamente próspero, um caldeirão com várias culturas e experiências de vida. Portanto, os estudantes de Odontologia na nossa Faculdade são expostos a uma grande variedade de maneiras de como se executar procedimentos clínicos, refletindo uma mistura global de filosofias de ensino e de prática clínica”. Tradicionalmente, a Universidade de Alberta vem recebendo também muitos alunos estrangeiros. Flores-Mir confirma que a sua universidade, mais especificamente, a Faculdade de Odontologia é extremamente interessada em fomentar e apoiar este cenário, já que isto faz parte de um plano estratégico de internacionalização. “No curso de graduação, quase todos os estudantes fizeram pelo menos o ensino médio em instituições de ensino canadenses. Mas há agora um programa que permite que Cirurgiões-Dentistas estrangeiros formados sejam incorporados aos dois últimos anos de treinamento clínico, como forma de viabilizar o reconhecimento das qualificações que obtiveram previamente em seus países”. Mas é nos programas de pós-graduação, “que se observa uma entrada substancial de Cirurgiões-Dentistas estrangeiros formados. Isto acontece tanto em programas baseados no treinamento para pesquisa, quanto naqueles de treinamento clínico”. No entanto, o professor alerta para uma das maiores dificuldades enfrentadas por profissionais: licença de prática profissional. “A não ser que o mesmo seja registrado como aluno em tempo integral de um programa de treinamento clínico da Faculdade de Odontologia, nenhuma interação direta com pacientes é possível. Esta questão é parte de um complexo conjunto de regras que regem a prática clínica no nosso estado (Alberta)”. Outra dificuldade relacionada à adaptação, segundo Flores-Mir é a inicial barreira cultural e de ambiente que todo estudante estrangeiro deve superar. “O Canadá é um caldeirão de culturas, mas há um determinado conjunto de atitudes que diferenciam os canadenses. Dependendo de onde o estudante vem, a adaptação a este novo ambiente pode se tornar fácil ou não. Além disso, há alguns comportamentos que são aceitáveis em ambientes acadêmicos de outros países, mas não no Canadá.” Carlos Flores-Mir Mas nem por isso, ele deixa de ressaltar que esta dificuldade é transponível: “Devo dizer que o verdadeiro potencial dos alunos estrangeiros é mais bem demonstrado após o processo de adaptação”. E recomenda: “às vezes, se um potencial aluno tem a oportunidade de antecipar em alguns meses sua vinda para reforçar o seu inglês e iniciar sua adaptação, esta se torna a melhor maneira de se ter um começo acadêmico intenso e produtivo.” Hoje recebendo alunos, mas outrora um dos recebidos, Carlos já vivenciou os dois lados do processo. “Todos somos indivíduos dotados de inteligência, com uma diversidade enorme de experiências profissionais. Aprender é, no final das contas, um processo de troca de suas experiências pessoais com as de outras pessoas. Qualquer experiência em si é positiva, já que esta permite que se cresça como pessoa. Sair da sua zona de conforto, tanto acadêmica quanto pessoal, é uma experiência necessária e permite nossa evolução. Os desafios enfrentados são eventualmente superados e as experiências adquiridas nos servirão por toda a vida. Além disso, estas vivências abrem nossos olhos para o mundo. Esta faceta da internacionalização torna-se, assim, uma necessidade. Se expor aos outros nos faz questionar a nós mesmos. Idealmente, esta interação permite o crescimento a todas as partes envolvidas. Este é, simplesmente, o caminho pelo qual nossa profissão deve evoluir. Devemos estar abertos à mudança, porque mudança é vida.” REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):106-14 materia_capa.indd 111 111 23/05/16 15:28 Internacionalização na Odontologia Compartilhando experiências “O meu principal objetivo ao me decidir pelo doutorado sanduíche foi a oportunidade de trabalhar em um laboratório de referência internacional no tema da minha tese, desgaste dentário erosivo. No início do meu curso de doutorado tive a possibilidade de conhecer o professor Adrian Lussi, que viria a ser meu orientador durante o doutorado sanduíche. Como meu orientador aqui no Brasil já realizava alguns projetos em colaboração com ele, tornou-se uma opção natural pelo doutorado sanduíche em seu departamento na Universidade de Berna. As maiores dificuldades que enfrentei foram a ansiedade por ter de desenvolver um projeto num tempo limitado e de acordo com o padrão de qualidade alto do laboratório e a saudade da família e dos amigos. Em Berna o idioma mais falado é o alemão suíço, difícil até para quem tem algum conhecimento da língua alemã, o que não era meu caso. Porém, dentro da universidade e na maioria dos lugares na cidade (mercado, estações de trem, restaurantes) sempre consegui me comunicar bem em inglês. Claro que algumas vezes ficava de fora das conversas no laboratório, e as reuniões da equipe passaram a ser em inglês especialmente devido à minha presença. Mas isso não interferiu no meu aproveitamento. Antes mesmo da minha chegada, tive ajuda com os documentos para a solicitação do visto. E durante minha estadia pude contar com o apoio da universidade no que precisei. Tive a oportunidade de participar de alguns cursos e workshops, inclusive com apoio financeiro do departamento. O aspecto positivo dessa experiência foi à ampliação dos horizontes, tanto profissional quanto pessoal. O aprendizado diário e o contato com culturas diferentes com certeza são as melhores partes. Foram tantos aprendizados, em tão pouco tempo, que sempre tenho a impressão que vivi três anos em um. Fui em busca de uma melhor qualificação como pesquisadora, mas o maior aprendizado foi muito além da ciência. Essa troca de experiências é indescritível, ajuda a quebrar alguns preconceitos e estereótipos, tanto da imagem que você tem dos outros, quanto da imagem que os brasileiros muitas vezes deixam transparecer. Acho que um dos maiores aprendizados é o fato de você saber selecionar o que realmente importa na sua vida. Ver a imagem positiva dos brasileiros no exterior, e como a nossa Odontologia não deixa a desejar frente a outros países é um orgulho. Mesmo com as dificuldades que enfrentamos nas nossas universidades, temos condições e recursos humanos de qualidade para continuar a produzir ciência de alto nível. Torço para que o número de bolsas, concedidas pelos governos e instituições seja compatível com a demanda, e que mais alunos possam desfrutar dessa experiência única.” Cristiane Meira Assunção - Intercâmbio durante o doutorado sanduíche na Universidade de Berna, Suíça, no Departamento de Odontologia Preventiva, Restauradora e Odontopediatria – no período de julho de 2014 a junho de 2015 por meio do Programa de Doutorado Sanduíche no Exterior (PDSE) da Capes. “Realizar um estágio no exterior sempre foi parte de um projeto profissional, como forma de conhecer, na prática, a rotina em uma grande universidade fora do Brasil, e pessoal, por ter grande vontade de conhecer de perto uma cultura diferente da brasileira junto aos nativos e praticar o inglês. Ao longo do meu mestrado com a professora Mariana Braga (que também é minha orientadora do doutorado), passei a estudar bastante o tema “diagnóstico de cárie” (e outros temas relacionados) e um professor sempre se destacou dentre as publicações que estudei: professor Kim Rud Ekstrand, da Universidade de Copenhagen. Após três anos realizando alguns trabalhos juntos, delineamos um projeto de estágio sanduíche para meu doutorado. Em setembro de 2014 tivemos a proposta aprovada pelo CNPq, e em novembro de 2015 iniciei meu estágio na Universidade de Copenhagen com o professor Kim. Não senti dificuldades com o idioma, porque, apesar de a língua oficial ser o dinamarquês, todos os habitantes de Copenhagen falam inglês fluente e não se incomodam 112 de conversar nesse idioma! A Universidade de Copenhagen é enorme e segue os padrões da Dinamarca: organização e qualidade. O prédio onde funciona a Faculdade de Odontologia é bem localizado e de fácil acesso. O departamento no qual fiz o estágio, de Cariologia e Endodontia, é munido de um laboratório com equipamentos de altíssima qualidade e sempre com um funcionário disposto a ajudar. A estrutura das clínicas de Odontologia é diferenciada e os alunos têm todos os materiais necessários ao curso disponíveis para utilização. Há, ainda, alguns consultórios do serviço público, nos quais são realizadas atividades em parceria escola-serviço. Profissionalmente falando, a experiência de estudar fora do Brasil foi sensacional! Pude mostrar o trabalho que desenvolvo no doutorado no Brasil (que eles receberam e discutiram com bastante interesse) e, ao mesmo tempo, vivenciar os trabalhos em diagnóstico de cárie que eles realizam na graduação e na pós-graduação. Tudo isso me fez adquirir mais aprendizado e a ter ideias de trabalhos, de protocolos REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):106-14 materia_capa.indd 112 23/05/16 15:28 Matéria de capa e condutas; abrir a mente mesmo! A convivência com uma cultura completamente diferente me concretizou o quanto somos diferentes nesse mundo e quantas particularidades e hábitos distintos existem. Vivenciar a rotina na Universidade de Copenhagen e poder compará-la com a Universidade de São Paulo também foi especial, pelo aprendizado que pude ter com filosofias de tratamento e de manejo da doença cárie (em crianças e adultos) e na organização diferente das instituições. Diante de tudo isso, recomendo a experiência de estágio no exterior aos alunos de pós-graduação que têm interesse. É fantástico voltar ao Brasil, ter ideias e querer melhorar o lugar onde vivemos e estudamos!” Isabela Floriano - Intercâmbio durante doutorado sanduíche para a Universidade de Copenhagen, Dinamarca - Departamento de Cariologia e Endodontia – no período de novembro de 2015 a janeiro de 2016 – por meio de bolsa doutorado sanduíche do CNPq (SWU 203244/2015-0) vinculada a um auxílio pesquisador visitante. “Realizei o intercâmbio para Coimbra, Portugal, pelo programa Bolsa Mérito Acadêmico. Nunca tinha pensado em fazer intercâmbio antes, mas quando surgiu o edital me inscrevi e passei em primeiro lugar entre os colocados. Os meus dois maiores objetivos com o intercâmbio era ter uma perspectiva internacional sobre o curso e sobre a carreira na Europa, principalmente em Portugal e poder trazer para o Brasil toda a experiência e conhecimento adquiridos para que as utilizasse em busca de crescimento pessoal e profissional. Além disso, também buscava a troca de experiências e cultura com outros intercambistas e, com isso, um aperfeiçoamento do inglês. Mesmo morando em um país que também fala português, pratiquei muito o inglês e o espanhol, pois Coimbra é um dos grandes polos de intercâmbio na Europa, com muitos alemães, italianos, espanhóis. Pude com isso conhecer pessoas de diferentes lugares do mundo e também aperfeiçoar outra língua. Os aspectos positivos do intercâmbio foram a troca de experiência com os alunos, pois pude vivenciar o dia a dia de um aluno português, como funciona o sistema de avaliação deles, as clínicas, as matérias teóricas, estágios etc.; aperfeiçoamento do inglês; mais autonomia e responsabilidade tanto na vida pessoal, o dia a dia, como na acadêmica, pois tudo é diferente. A melhor definição é que com o intercâmbio, você é tirado da sua zona de conforto e é colocado à prova. A Fousp possui uma infraestrutura muito melhor se comparada a Faculdade de Odontologia de Coimbra, tem uma clínica melhor equipada, uma faculdade mais moderna, com laboratórios muito melhores. A quantidade de pesquisas aqui também é maior e foi muito importante essa comparação para que eu também valorizasse ainda mais a Faculdade em que estudo. O intercâmbio foi muito importante profissionalmente, pois o fato de ter tido uma experiência internacional me abriu muitos oportunidades aqui e também ampliou meus horizontes para uma possível pós-graduação ou até mesmo trabalhar em outro país. Atrasei um ano da minha faculdade fazendo esse intercâmbio para Portugal e não me arrependo, pois os ganhos que eu tive foram muito maiores que a possível perda com o atraso. Foi a melhor experiência que eu já tive. O conselho que dou para alunos que querem fazer intercâmbio é que vai ser a melhor fase da vida deles, e que a pessoa tem que ir sem medo; podem aparecer diversas situações difíceis, a saudade da família e dos amigos será grande, mas tudo vai valer a pena quando comparado com o aprendizado final. Todas as dificuldades que tive foram muito bem superadas e contribuíram para o meu amadurecimento e permanecem”. Marília de Carvalho – Intercâmbio realizado na graduação para a Universidade de Coimbra, Portugal – no período de setembro de 2015 a fevereiro de 2016 – pelo Programa Bolsa Mérito Acadêmico, realizado pela AUCANI-USP. “Sempre tive curiosidade e vontade de estudar fora do país, com o objetivo de aprender novas culturas, línguas e formas de ensino diversificadas. Portanto, meu objetivo principal era aprender ao máximo tudo que estivesse ao meu alcance. Tive um pouco de dificuldade com o idioma no início, pois em um intercâmbio acadêmico somente o inglês intermediário não é suficiente, afinal, fazemos provas, temos aulas, seminários, tudo em inglês. Porém, não interferiu no aproveitamento da minha experiência, pelo contrário, por ter de estar sempre estudando e em contato direto com o idioma, meu conhecimento e minha fluência aumentaram. A recepção no exterior foi excelente. Na universidade que estudei existem muitos estrangeiros, por isso o acolhimento é bem diferenciado. Existe um programa de ‘tour’ que leva os novos estudantes para conhecer os ambientes da universidade, o que facilita muito a localização posteriormente. As pessoas dentro da universidade estão acostumadas com a diversidade cultural e muitas vezes os REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):106-14 materia_capa.indd 113 113 23/05/16 15:28 Internacionalização na Odontologia próprios funcionários são de outras regiões do mundo, o que facilita o entendimento e o respeito diante das dúvidas e dificuldades. Vários são os aspectos positivos, entre eles, o crescimento acadêmico e pessoal, a oportunidade de conhecer novas culturas, envolvimento em projetos voluntários etc. É muito difícil dizer qual foi o maior aprendizado, pois o aprender foi constante e em todos os dias. Quando uma pessoa mora em outro país acaba percebendo a importância das coisas simples e a valorizar os pequenos momentos. Aprendi a ser mais flexível com as pessoas e situações, a ter mais autoconfiança e força nos momentos difíceis e/ ou para solucionar um problema sozinha. Além disso, pela convivência com pessoas de várias partes do mundo, aprendi a respeitar muito mais as diferenças culturais, ideológicas, raciais e religiosas. Essa experiência influenciou diretamente na minha formação profissional. Tive oportunidade de entrar para a área de pesquisa e pretendo continuar. Quando voltei ao Brasil, ingressei na Iniciação Científica a qual faço parte atualmente. Além disso, tive a chance de conhecer e trabalhar com profissionais incríveis e altamente qualificados. Recomendaria essa experiência para todos os alunos, pois acredito que é muito válida a oportunidade de conviver com outras culturas, adquirir novos conhecimentos, sair da sua zona de conforto. Uma experiência assim abre a mente, faz crescer como pessoa e como profissional, e muitas vezes faz o indivíduo dar mais valor para coisas que antes não davam muita importância. Um conselho que eu daria a esses alunos que se interessam por uma experiência desse tipo é ter dedicação. O importante é não desistir do que realmente quer; ter paciência, muito estudo e ficar de olho nas datas e prazos dos programas que querem participar”. Marina Pellegrini Cicotti – Intercâmbio realizado na graduação para a Universidade de Manitoba, Canadá– Departamento de Ciências da Saúde e Odontologia-Endodontia – no período de agosto de 2013 a dezembro de 2014 – por meio de bolsa integral pelo programa Ciências sem Fronteiras. Empresa auxilia no processo de internacionalização de alunos da USP Ribeirão Preto A iTeam USP-RP é uma organização sem fins lucrativos que tem como principal objetivo catalisar o processo de internacionalização no campus da USP em Ribeirão Preto, por meio do incentivo à interação entre alunos brasileiros e estrangeiros e da ruptura de barreiras culturais existentes. “Trabalhamos oferecendo suporte, integração e informação tanto aos estrangeiros que chegam em Ribeirão Preto, quanto aos alunos brasileiros que vão para o exterior. Aos intercambistas, temos o programa de Buddy e Housing, no qual realizamos a alocação dos alunos estrangeiros através de uma plataforma on-line. Selecionamos, também, alunos voluntários do campus para serem “buddies”, ou seja, guias desses intercambistas durante sua experiência em um país desconhecido. Com os estrangeiros, também organizamos viagens, festas, city tours, aulas de capoeira, dentre outras atividades culturais. Já aos brasileiros, oferecemos um projeto contendo todas as informações necessárias para alunos que irão viajar. Além disso, também realizamos eventos de diversos temas internacionais na universidade, com a intenção de construir um canal entre os alunos e as oportunidades globais existentes”, conta Ana Luiza Bolsonaro, presidente da iteam. 114 Ana considera que, uma vez tomada a decisão de estudar fora, é importante o estudante estar consciente que muitos desafios virão pela frente, porém junto a eles, também virá muito aprendizado. “É importante manter a cabeça aberta para conhecer novas culturas, novas pessoas, aprender novos idiomas e novos hábitos também. É interessante que, antes de viajar, o aluno pesquise sobre o seu país de destino. Informações como idioma, moeda local, costumes, comidas típicas, clima local são sempre bem-vindas no processo de preparação. Também é importante que o aluno esteja atento a todos os documentos necessários para sua viagem. O estudante deve contar com um planejamento financeiro baseado na moeda local e nos gastos básicos que terá no país, como moradia, alimentação, transporte, entre outros. Além disso, o aluno pode pesquisar e aplicar para programas do governo que incentivam o intercâmbio estudantil, os quais oferecem financiamentos e incentivos financeiros. Informações como estas, juntamente com o preparo emocional do aluno, além de facilitar o processo de preparação, tornam a experiência internacional de um jovem muito mais enriquecedora e agradável”. REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):106-14 materia_capa.indd 114 23/05/16 15:28 Odontopediatria REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):116-20 Patrizia de Fabianis.indd 115 115 23/05/16 15:29 Artigo original DEFABIANIS P (convidado) A Artrite Idiopática Juvenil como fator de risco para a erosão dentária: estudo preliminar Recebido em: mar/2016 Aprovado em: abr/2016 The Juvenile Idiopathic Arthritis as a risk factor for dental erosion: a preliminary study Patrizia Defabianis - Professora associada do Instituto Dental Lingotto - seção de Odontologia Pediátrica da Universidade de Torino, Itália RESUMO O objetivo deste estudo foi avaliar se a presença da artrite idiopática juvenil (AIJ) em crianças e adolescentes pode ser considerada como indicador de risco para a erosão dentária. Para tal, foram utilizadas oitenta crianças e adolescentes com diferentes tipos de AIJ e 23 pacientes saudáveis como controle. Os critérios de inclusão foram diagnóstico de AIJ e classificação do subtipo de acordo com os critérios da Liga Internacional das Associações de Reumatologia (ILAR). Os dados sobre variáveis nutricionais, fatores socioeconômicos, vômitos, ingestão de medicamentos, hábitos alimentares e orais foram coletados por meio de questionário estruturado. Todos os pacientes foram submetidos a medição do fluxo salivar e exame clínico usando o índice Exame Básico de Desgaste Erosivo (BEWE). Dezesseis pacientes, todos afetados pelo subtipo oligoarticular de AIJ mostraram redução da quantidade de saliva estimulada; dois deles apresentaram erosão e relataram consumo diário de refrigerantes. Foi relatado vômitos (uma vez por dia) por nove pacientes devido à ingestão de metotrexato sem correlação com o subtipo de AIJ. Nenhum deles exibiu erosão. O indicador de risco para a erosão dentária foi o subtipo de AIJ (artrite oligoarticular), não havendo correlação significativa da presença de erosão dentária com as variáveis nutricionais, ingestão de medicamentos, hábitos alimentares e orais. Autor de correspondência: S.C.D.U. Odontostomatologia Preventiva e Restaurativa A.O. Città della Salute e della Scienza di Torino Dental School Via Nizza 230 10126 Torino Italy [email protected] Descritores: artrite idiopática juvenil; saliva; erosão do esmalte dental ABSTRACT The purpose of this study was evaluate the existence of prevalence and risk indicators of dental erosion in patients affected by juvenile idiopathic arthritis (JIA). Eighty patients (61 females and 19 males) with different kinds of JIA and 23 healthy control ones aging from 3 to 19 years were included in the study. The inclusion criteria were diagnosis of JIA and subtype classification according to the International League of Associations for Rheumatology (ILAR) criteria. Data on nutritional variables, socioeconomic factors, vomiting, drug intake and dietary and oral habits were collected using a questionnaire. All patients underwent saliva measurement and clinical examination using Basic Erosive Wear Examination (BEWE) Index. Sixteen patients, all affected by the oligoarticular subtype of JIA showed a reduced quantity of stimulated saliva; two of them showed erosion and reported a daily soft drink intake. Vomiting (once a day) was reported by nine patients and was due to methotrexate intake with no correlation with JIR subtype. None of them exhibited erosion. Risk indicator for wear was JIA subtype (oligoarticular arthritis). There was no significant correlation of the presence of dental erosion with nutritional variables, drug intake or dietary and oral habits. Descriptors: juvenile idiopathic arthritis; saliva; dental enamel erosion RELEVÂNCIA CLÍNICA A relevância clínica do artigo está fundamentada no princípio de que doenças sistêmicas como a AIJ podem provocar alterações bucais importantes, como a erosão dentária manifestada nos indivíduos estudados. 116 REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):116-20 Patrizia de Fabianis.indd 116 23/05/16 15:29 Odontopediatria INTRODUÇÃO Artrite idiopática juvenil (AIJ) é o novo termo que substitui os anteriores “artrite juvenil crônica” e “artrite reumatoide juvenil”. Não é uma doença, mas um diagnóstico de exclusão que engloba todas as formas de artrite que iniciam antes da idade de 16 anos, persistem mais do que 6 semanas, e são de origem desconhecida. Sua patogênese é caracterizada por inflamação crônica prolongada das membranas sinoviais associada ao recrutamento de células mononucleares e fagócitos no líquido sinovial. Embora haja, sem dúvida, predisposição genética e causas ambientais, um único fator, exclusivamente, não explica a patogênese da doença e as diferenças dos primeiros sintomas clínicos (sistêmico, poliarticular, oligoarticular ou artrite relacionada a entesite).1 A morbidade da AIJ é extensa e inclui dano articular, anormalidades de crescimento facial e osteoporose. No entanto, seu efeito sobre a condição de saúde bucal é pouco documentada. Existem várias áreas onde AIJ pode ter impacto, como na cárie dentária, doença periodontal e modificações na saliva. O envolvimento de glândulas salivares em adultos com artrite reumatóide (AR) tem sido reconhecido, e glândulas salivares menores de pacientes com AR mostraram-se marcadamente infiltrada com linfócitos, com células B predominante sobre células T, o que resulta em destruição celular.2 Estudo mostra que as típicas alterações das glândulas salivares menores na AR incluem fibrose, atrofia acinar e células sialoadenite linfoplasmocitária.3 Todas estas alterações têm impacto direto sobre a composição da saliva e há algumas evidências na literatura de que as crianças com AIJ apresentam grande aumento na atividade da enzima antioxidante na saliva. Além disso, os pacientes com AIJ oligoarticular parecem apresentar indícios de danos significativos para as glândulas salivares.4 Infelizmente, apesar do que é reportado na literatura, o envolvimento das glândulas salivares com AIJ tem recebido pouca atenção. A maioria das crianças com AIJ recebe analgésicos e anti-inflamatórios não-esteroidais (AINEs). Reconhece-se que quanto mais prontamente controla-se o processo inflamatório, menores serão as sequelas produzidas pela patologia. No entanto, não é possível prever aos primeiros sinais e sintomas, a possiblidade de recuperação ou continuidade da doença na fase adulta provocando incapacidade funcional grave. Por todas estas razões, há uma tendência de se utilizar injeções de esteróides intra-articular e drogas anti-reumáticas modificadoras da doença (DMARDs), tais como o metotrexato para controle de dor nas articulações, rigidez e inchaço, para evitar lesões articulares, preservar a amplitude de movimento e minimizar deficiência funcional. Esse tratamento de controle impõe a necessidade de polifármacos. Dessa forma, as drogas usadas no tratamento da AIJ provocam náuseas e vômitos frequentes, resultando assim em erosão dentária como efeito colateral indireto. As drogas também influenciam na taxa e composição do fluxo salivar: concentrações salivares significativamente mais baixas em cálcio, fósforo, potássio, magnésio, lisozima, amilase e IgA foram relatados na literatura.4-6 Os baixos níveis de cálcio e fósforo salivar podem favorecer aumento do risco de lesões erosivas no esmalte. Assim, o objetivo do presente estudo foi determinar os indicadores de risco de lesões erosivas de esmalte em pacientes afetados pela artrite idiopática juvenil. MATERIAIS E MÉTODOS Oitenta pacientes (61 do sexo feminino e 19 do sexo masculino) com diferentes tipos de AIJ e 23 pacientes saudáveis (controle) na faixa etária de 3 a 19 anos (média 11.2 anos de idade) foram incluídos no estudo. Todos os pacientes eram de origem caucasiana. Os pacientes com AIJ foram triados da Unidade de Imunologia Pediátrica e Unidade de Reumatologia do Queen Margaret Children’s Hospital para atendimento odontológico de rotina. O diagnóstico do subtipo da artrite idiopática juvenil foi definido de acordo com a Liga Internacional das Associações de Reumatologia (ILAR). Tomou-se como critério de exclusão situações médicas concorrentes. O grupo controle foi pareado em idade e sexo, considerando indivíduos sem comprometimento médicos ou comportamentais. A aprovação ética foi concedida pelo comitê de ética local. Dos 80 doentes afetados por AIJ, 55 (69%) tiveram oligoarticular, 21 (27%) poliarticular, 2 (2%) sistêmico e 2 (2%) artrite relacionada a entesite. Dos 55 pacientes do subtipo oligoarticular, 46 (84%) estavam afetados por oligoartrite persistente e 9 (16%) pelo subtipo estendida. Os dados sobre as variáveis nutricionais, fatores socioeconômicos, frequência à exposição ao ácido gástrico (vômito), hábitos alimentares e ingestão de medicamentos (tipo, dose e duração) foram coletados por meio de um questionário. Os pacientes foram submetidos à medição de saliva (valores de pH, capacidade tampão e estímulo do fluxo salivar) e avaliação odontológica. Utilizou-se como exame diagnóstico para as lesões erosivas de esmalte o índice Exame Básico de Desgaste Erosivo (BEWE), tendo sido feito o exame clínico por um odontopediatra e a coleta da saliva por um higienista dental, sem que tivessem conhecimento prévio do estado de saúde do paciente. A saliva foi medida por um teste in vitro, sendo que as amostras foram obtidas no período matutino, no intervalo entre 9h e 12h. Os pacientes foram orientados a não consumir comida ou bebida, escovar os dentes ou usar enxaguante bucal por pelo menos uma hora antes da consulta. Obteve-se a saliva estimulada por meio de mastigação de cera não aromatizada (parafina), e as amostras foram coletadas em um copo próprio de coleta com intervalos regulares durante 5 min. O valor da média normal para a saliva estimulada foi considerado de 1 ml / min, e foi classificada normal quando > 5 ml, baixo no intervalo de 5 e 3,5 ml e muito baixo quando < 3,5 ml. O pH salivar foi medido utilizando tiras de pH colocadas na amostra de saliva em descanso por 10 segundos. Considerou-se pH normal no intervalo de 6,8 a 7,8; moderadamente ácido no intervalo de 6 a 6,6, e altamente ácido no intervalo de 5 a 5,8. A capacidade tampão foi medida pela tiragem de uma amostra de saliva. O resultado final pode ser calculado pela soma dos pontos calculados de acordo com uma tabela de conversão pré-definida. A capacidade de tamponamento foi pontuada como se segue: no intervalo de 10 a 12 foi considerado normal, no intervalo de 6 a 9, baixa, e no intervalo de 0 a 5, muito baixa. Foram recolhidos os dados dos pacientes individualmente e transcritos para análise estatística. Todos os pacientes com oligoartrite foram identificados como AIJ1, aqueles com poliartrite como AIJ2, com artrite sistêmica como AIJ3 e aqueles com artrite relacionada REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):116-20 Patrizia de Fabianis.indd 117 117 23/05/16 15:29 DEFABIANIS P com a entesite como AIJ4. Os indivíduos incluídos no estudo foram classificados em três grupos denominados AIJ1, AIJ2-4 e CTRL. Os três grupos foram padronizados em idade e sexo. Foi utilizado o teste t para comparação entre os pacientes. Os resultados são apresentados na forma de P-valores e intervalos de confiança de 95%. Um valor de p <0,05 foi considerado estatisticamente significativo. RESULTADOS Nosso banco de dados incluiu um total de 80 pacientes com diferentes tipos de AIJ e 23 pacientes controles saudáveis (Tabela 1). A taxa de fluxo salivar estimulada foi significantemente reduzida em pacientes AIJ1 em comparação com pacientes AIJ2-4: p = 0,04, com Odds Ratio OR = 4,6 (IC 95% 1,1-32,3). Isto significa que, quando o resultado do teste é uma taxa de fluxo salivar < 3,5 ml, as probabilidades de o paciente ser um AIJ1 em vez AIJ2-4 são de 3,5: 1. Comparando os três grupos em conjunto (tabela de contingência 3x2), temos p = 0,003, estatisticamente significante. A capacidade de tamponamento foi semelhante nos dois subgrupos AIJ, mas estatisticamente diferente do grupo controle: considerando os dois subgrupos AIJ em conjunto, a comparação com CTRL foi significante (p = 0,01). Comparando-se os resultados dos dois subgrupos de pacientes AIJ com o grupo CTRL, foi possível observar que pacientes AIJ2-4 têm essencialmente a mesma taxa de fluxo salivar que o grupo controle. Se o grupo AIJ1 for comparado com o grupo (AIJ2-4 mais CTRL), observa-se diferença significante (p = 0,001, OR = 9,4; 2,0-43,6). Comparando os três grupos em conjunto (tabela de contingência 3x2), o valor de p é 0,003, estatisticamente significante (Gráficos 1 e 2). Quarenta e cinco pacientes dos oitenta (56%) relataram a ingestão de drogas (metotrexato ou Enbrel, isoladamente ou em combinação) durante períodos que variaram de 4 a 10 anos. Os valores salivares de pH moderado (intervalo de 6-6,6) foram observados em (14/80 ) 17% dos casos e 11 pacientes deste grupo relataram terapia médica. Foi observada a capacidade tampão baixa TABELA 1 Os três grupos de pacientes incluídos no estudo (AIJ1, AIJ2-4 e CTRL) estão bem distribuídos em relação à idade e sexo, sem diferenças estatisticamente significativas N Idade Prevalência do gênero feminino AIJ1 55 10.0±4.2 42/55=0.76 AIJ2-4 25 11.5±4.3 19/25 =0.76 0.15 0.80 11.5±4.3 13/18 =0.72 0.38 0.93 p CTRL 23 p (referente aos 3 grupos) GRÁFICO 1 Pacientes AIJ2-4 (JIA2-4) têm essencialmente o mesmo fluxo salivar do grupo controle (CTRL). Comparando os três grupos, observa-se p = 0,003, estatisticamente significativo Salivary flow rate (p=0.003) 100,0% 90,0% 80,0% 70,0% ≥3.5 60,0% <3.5 50,0% 40,0% 30,0% 20,0% 10,0% 0,0% 118 JIA1 JIA2-4 CTR REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):116-20 Patrizia de Fabianis.indd 118 23/05/16 15:29 Odontopediatria GRÁFICO 2 A capacidade de tamponamento foi semelhante nos dois subgrupos AIJ, mas estatisticamente diferente do grupo controle: se for considerado dois subgrupos AIJ em conjunto, a comparação com CTRL é significativa (p = 0,01) Buffering capacity 100,0% 90,0% 80,0% 70,0% ≥10 60,0% <10 50,0% 40,0% 30,0% 20,0% 10,0% 0,0% JIA1 JIA2-4 (intervalo 6-9) em (18/80) 23% dos casos, com 12 pacientes que relataram ingestão de drogas. A quantidade de saliva estimulada reduzida (taxa de fluxo < 3,5 ml) foi encontrada em (18/80) 22% dos casos, com 10 pacientes sob terapia com medicamentos. Onze (14%) dos 80 pacientes com AIJ estavam consumindo doces ou bebidas açucaradas com frequência maior do que cinco vezes por dia, nove (11%) relataram consumo diário de refrigerantes, e 2 apresentaram erosão dentária. Os pacientes com erosão dentária foram positivamente afetados pela oligoartrite persistente com redução na quantidade de saliva estimulada, tendo sido caracterizados com índice BEWE de valores 7 e 8. A criança com BEWE 8 estava sob terapia com metotrexato e relata o uso concomitante no ato da ingestão do medicamento de uma bebida adoçada. Vômitos (uma vez por dia) foram reportados por 9/80 (11%) dos pacientes devido à ingestão de metotrexato sem correlação com o subtipo de AIJ. Nenhum deles exibiu erosão dentária. DISCUSSÃO A presente pesquisa não observou correlação significativa entre a presença de erosões dentárias com as variáveis nutricionais, dieta e hábitos bucais. A despeito da ingestão frequente de doces e bebidas adocicadas, os resultados não apresentaram uma prevalência significativa de lesões de cárie. A literatura odontológica tem apontado aumento na prevalência e incidência dos comprometimentos na saúde oral, porém mais estudos com grupos controles são necessários para comprovar tais assertivas em relação às crianças com AIJ. O incremento na prevalência das erosões dentárias em indivíduos com AIJ pode ser atribuído a fatores gerais, tais como: o insuficiente conhecimento do núcleo familiar sobre o assunto e também sobre dieta e higiene oral. Acrescente-se a isso a prioridade em consultas médicas em detrimento às consultas odontológicas. É notável, tam- CTR bém, o fato de as crianças serem “consoladas” pelo núcleo familiar com uma alimentação preferencialmente açucarada. Ainda que a duração da doença e tratamento dos pacientes, neste estudo, tenha sido em média de 7 anos, a ingestão de medicação resultou em saliva com pH moderadamente baixo (faixa 6 - 6,6) e uma redução moderada na capacidade de tamponamento (intervalo 6-9), sem associação significativa com a dose e duração da terapia. Não houve correlação entre ingestão de drogas e erosão dentária. Notadamente, o presente estudo mostra que o indicador de risco para a erosão dentária recai em crianças com o diagnóstico do subtipo oligoarticular AIJ. Os dados apresentados no Gráfico 2 confirmam que uma taxa de fluxo salivar < 3,5 ml pode ser considerada como a representação de pacientes do tipo oligoarticulares. Nos países ocidentais oligoartrite representa até 50% de todos os casos de AIJ. É uma entidade bem definida observada apenas em crianças e caracterizada por um início precoce (antes dos 6 anos de idade) envolvendo assimetria de articulações, predileção feminina, alto risco de desenvolver iridociclite crônica, um teste ANA positivo e consistentes associações de HLA. A classificação de ILAR distingue dois subtipos: oligoartrite persistente em que a doença permanece confinada a quatro ou menos articulações e oligoartrite estendida em que mais do que quatro articulações estão envolvidas após os primeiros 6 meses de doença. Foi demonstrado, no entanto, que os pacientes ANA-positivas com oligoartrite persistente ou estendida partilham as mesmas características, sugerindo que representam a mesma doença diferindo apenas na propagação da artrite.7,8,9 Em (16/55) 29% dos pacientes afetados por oligoartrite observou-se taxa de fluxo salivar notavelmente reduzida (<3,5 ml) e dois deles apresentaram erosão dentária. O papel da saliva em modificar potencialmente os efeitos erosivos de alimentos dietéticos e bebidas é bem conhecida. Tanto a quantida- REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):116-20 Patrizia de Fabianis.indd 119 119 23/05/16 15:29 DEFABIANIS P de e qualidade de saliva podem ser responsáveis pelas diferenças observadas na extensão da erosão dentária. A saliva possui propriedades, dentre as quais destaca-se especialmente sua função protetora no processo de erosão dentária, com os seguintes mecanismos de ação: diluição e liberação de um agente que potencialmente reduz o processo erosivo; a neutralização e tamponamento de ácidos alimentares; manutenção do estado supersaturado próximo a superfície do dente , devido à presença de cálcio e fosfato e fornecimento de cálcio, fosfato e possivelmente fluoreto necessário para remineralização.10 Outra função importante de saliva está relacionada com a formação da película adquirida pela adsorção de proteínas salivares e glicoproteínas. A película adquirida tem a capacidade de proteger a superfície do esmalte contra a desmineralização ácida.11,12 Existe uma série de estudos que relacionam a erosão dental com várias propriedades da saliva, tais como pH salivar, capacidade tampão, cálcio e fosfato e fluxo salivar.13 Destes parâmetros salivares, apenas o fluxo salivar e capacidade tampão foram diretamente associados com a erosão dentária.14-16 Há clara relação entre redução da taxa de fluxo salivar e a capacidade de neutralização dos ácidos provenientes de uma alimentação inadequada.15,16,17 Além disso, o nível de bicarbonato na saliva está positivamente correlacionado com fluxo salivar; portanto, a saliva produzida com baixo fluxo tem pH mais baixo e uma capacidade tampão inferior.17 Em indivíduos afetados por oligoartrite, a taxa de fluxo salivar reduzida está provavelmente relacionada com as lesões específicas das glândulas salivares, como resultado de um processo inflamatório contínuo. Em nosso estudo, fica claro que a presença da erosão dentária em dois pacientes deveu-se à combinação do consumo de refrigerantes e um fluxo salivar baixo, que certamente resultou em uma capacidade de tamponamento reduzida colaborando no desenvolvimento da erosão dentária. são menos investigadas. A síndrome de Sjögren em crianças é raramente relatada em associação com AIJ e muito pouco se sabe sobre o envolvimento das glândulas salivares como um componente da AIJ. Os dados desse estudo confirmam que a taxa de fluxo salivar < 3,5 ml pode ser considerada uma característica dos pacientes AIJ1. Em outras palavras, o indicador de risco para o envolvimento das glândulas salivares é o subtipo de AIJ (artrite oligoarticular) sem correlação com variáveis nutricionais, hábitos alimentares e / ou ingestão de medicamentos. Os dados preliminares desse estudo sugerem que a redução progressiva do fluxo salivar estimulada poderia ser considerada um fator prognóstico na evolução da doença, mesmo antes do início de outras evidências clínicas. Por todas estas razões, um acompanhamento rigoroso desses pacientes com relação aos hábitos alimentares, bebidas e às práticas de higiene oral é altamente recomendado. Tudo isso em função da diminuição do fluxo salivar e da capacidade de tamponamento que pode ser um fator que contribui para o desenvolvimento da erosão dentária. Um controle frequente de pacientes com oligoartrite deve ser recomendado, considerando que a coleta de saliva para análise é pouco invasiva e mais confortável para as crianças. Apesar de um número de pesquisas pouco significativo nesse assunto, os odontopediatras devem encorajar um controle odontológico efetivo, incluindo análise de parâmetros salivares e redução do consumo de açúcar. Investigações futuras são necessárias para identificar as crianças em risco e propor estratégias de intervenção eficazes que consideram relação custo-eficácia voltadas para a saúde oral. CONCLUSÃO Reconhece-se que a artrite reumatoide em indivíduos adultos é muitas vezes complicada por insuficiência da secreção das glândulas salivares, resultando em xerostomia. Informações sobre o fluxo salivar e composição da saliva em crianças nas mesmas condições AGRADECIMENTOS O autor gostaria de agradecer à equipe da Unidade Pediátrica de Imunologia e Reumatologia no Hospital Infantil Regina Margherita pelas consultas e apoio durante o tempo deste estudo e a Profa. Laura Bergamasco pela análise estatística. APLICAÇÃO CLÍNICA Ressalta-se na aplicabilidade clínica da presente pesquisa a necessidade do Cirurgião-Dentista possuir conhecimentos da área médica, os quais servirão de base para o tratamento específico de doenças bucais provocadas por alterações sistêmicas. REFERÊNCIAS 1. Cush JJ, Lipsky PE. Cellular basis of rheumatoid inflammation. Clin Orthop Rel Res 1991;265:9-22. 2. Sullivan S, Fernandes L, McFarlance IG, et al. Impairment of lacrimal and salivary secretion and cellular immune responses to salivary antigens in rheumatoid arthritis. Ann Rheum Dis 1978;37:164-7. 3. Markkanen SO, Syrjanen SM, Lappalainen R, Markkanan H. Assessment of labial salivary gland changes in patients with rheumatoid arthritis by subjective and quantitative methods. Appl.Pathol 1989;7:233-40. 4. Brik R, Livnat G, Pollack S, Catz R, Nagler R Salivary Gland Involvement and Oxidative Stress in Juvenile Idiopathic Arthritis: Novel Observation in Oligoarticular-type Patients J Rheumatol 2006;33;2532-2537 5. Nagler R, Hershkovitch O, Lischinsky S, Diamond E, Reznick A. Saliva analysis in the clinical setting: revisiting an underused diagnostic tool. J Invest Med 2002;50:214-25. 6. Siamopoulou A, Mavridis AK, Vasakos S et al. 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REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):116-20 Patrizia de Fabianis.indd 120 23/05/16 15:29 Odontopediatria REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):116-20 Patrizia de Fabianis.indd 121 121 23/05/16 15:29 Artigo BRITO Eoriginal DIAS R; (convidado) HERRERA LP; DOS REIS RC; COTO NP Contribuição da Prótese Bucomaxilofacial na internacionalização da Odontologia Recebido em: mar/2016 Aprovado em: abr/2016 Contribution of Maxillofacial Prosthetics for the dentistry internationalization Reinaldo Brito e Dias - Professor titular do departamento de Cirurgia, Prótese e Traumatologia Maxilofaciais da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo (Fousp) RESUMO Objetivos: Este artigo visa exemplificar uma parceria internacional técnico cientifica por meio da utilização de técnica idealizada e patenteada por pesquisadores brasileiros. Materiais e Métodos: Um grupo de pesquisadores brasileiros idealizou, pesquisou e patenteou uma técnica de obtenção e utilização de íris digitalizada na reabilitação protética ocular. A internacionalização do método foi decorrente do intercâmbio estabelecido entre professores do Brasil e do México. A permanência do pesquisador mexicano, por um período em que especializou e concluiu o curso de mestrado, junto aos colegas brasileiros, pôde oferecer conhecimento e treinamento na aplicação da técnica proposta. Resultados: São apresentados casos clínicos em que a reabilitação protética ocular foi realizada usando a técnica brasileira de íris digitalizada. Conclusão: Pesquisas brasileiras, principalmente na área da saúde, vêm tendo destaque internacional. A preocupação com a melhora da qualidade de vida torna relevantes nossos estudos e técnicas em âmbito mundial. Luis Pablo Herrera - Professor investigador, responsável pela clínica de Prótese Bucomaxilofacial da Faculdade de Odontologia da Univesidad Autonôma de Chihuahua, México Ricardo César dos Reis - Professor doutor, estagiário do ambulatório de Prótese Bucomaxilofacial do Departamento de Cirurgia, Prótese e Traumatologia Maxilofaciais da Fousp Neide Pena Coto - Professora associada do Departamento de Cirurgia, Prótese e Traumatologia Maxilofaciais da Fousp Autor de correspondência: Neide Pena Coto Avenida Lineu Prestes, 2227 Cidade Universitária - São Paulo – SP 05508-000 Brasil [email protected] Descritores: olho artificial; íris; reabilitação ABSTRACT Objectives: This article aims to illustrate a scientific technical international relationship through the use of technique created and patented by Brazilian researchers. Materials and Methods: A group of Brazilian researchers devised, researched and patented a technique of obtaining and using scanned iris in ocular prosthetic rehabilitation. The internationalization of the technique was due to technical and scientific partnership between Brazilian and Mexican researchers. A Mexican researcher remained for a period in which he specialized and completed his master’s course with the Brazilian team that was able to transfer knowledge and offer a training in the application of the technique. Results: Three cases are shown, two Brazilian and one Mexican. Ocular Prosthetic rehabilitation of these cases was performed using the Brazilian technique of scanned iris. Conclusion: Brazilian research, especially in health, comes with international relevance. The concern with improving life quality makes our technical studies relevant worldwide. Descriptors: eye, artificial; iris; reabilitation RELEVÂNCIA CLÍNICA A relevância clínica desta internacionalização técnico científica é a melhora da qualidade de vida dos pacientes reabilitados. Os resultados são positivos e o tempo de confecção das próteses minimizado. 122 REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):122-5 Neide Pena Coto.indd 122 20/05/16 18:05 Prótese Bucomaxilofacial INTRODUÇÃO O Brasil vem se destacando mundialmente devido a seriedade que conduz suas pesquisas e inovações tecnológicas. Muitos pesquisadores e estudantes, principalmente da América Latina, buscam conhecimento em nosso país por meio de parcerias técnico-científicas e programas de pós-graduação. Este fato contribui para a disseminação do conhecimento aqui adquirido e aplicação de técnicas inovadoras, levando-as assim a sua internacionalização. Quando uma nova técnica é desenvolvida, principalmente quando sua aplicação visa a melhoria da qualidade de vida e tendo aproveitamento clínico principalmente quando voltado para a atenção à pacientes portadores de anomalias, distúrbio de desenvolvimento e ou sequelas de oncocirurgia ou até mesmo quando vitima de violência, sua disseminação pelo mundo torna-se mais relevante e prazeroso. A prótese ocular é uma das mais antigas reabilitações executadas pelo homem, sendo que o principal objetivo de seu desenvolvimento era procurar um meio de disfarçar a mutilação. Segundo Murphey et al. (1945)1, já na antiga China em 2000 a.C. as estátuas tinham, no lugar dos olhos, jade imitando o bulbo ocular. Os romanos e os gregos enfeitavam suas estátuas com olhos artificiais feitos com pedras preciosas e ouro. Em 1578 foi introduzida a prótese de vidro, desenvolvida por artesões assopradores de vidro, chegando à industrialização primeiramente em Veneza para posteriormente atingir a Itália e a França. Foi, no entanto, a Alemanha que adquiriu o domínio da fabricação desses olhos artificiais e passou a liderar a exportação destas próteses oculares, fabricadas a partir de cristais de vidro, para diversos países, determinando a primeira internacionalização de técnicas nesta área.2,3,4 Com a chegada da Segunda Guerra Mundial, as facilidades de importação dos olhos de vidro tornaram-se inviáveis. Porém, como os soldados e os civis aliados precisavam ser reabilitados devido às mutilações causadas pela guerra, iniciou-se uma busca por olhos de plástico - que era o material de laboratório utilizado na época em prótese dental, empregado por Fincham na Inglaterra em 1941.3 Então as forças armadas americanas e inglesas se uniram para o desenvolvimento de técnicas de confecção de próteses oculares em resina, sendo que um dos precursores desta técnica foi Dietz em 1945.4 Esta técnica foi aceita universalmente e até hoje muitos estudos têm sido feitos visando seu aperfeiçoamento, pois a resina acrílica continua sendo o material eleito para confecção destas próteses.5,6,7,8 Porém, a técnica de obtenção da íris protética, com o avanço da fotografia e sua possível digitalização e impressão em diversos tipos de papéis e com o emprego de várias técnicas de pigmentação, recebeu um sopro de possibilidade de inovação. No Brasil, um grupo de pesquisadores da Disciplina de Prótese Bucomaxilofacial da Fousp propôs a utilização de íris digital na confecção da prótese ocular, após estudos que utilizaram a fotodegradação para sua correta indicação. Obtendo no ano de 2008 sua patente junto ao Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI) sob o número BR 1.003.0388-2, que permitiu sua utilização e disseminação de técnica pelo Brasil e mundo.9,10 MATERIAIS E MÉTODOS A finalidade do desenvolvimento da técnica de digitalização de íris protética foi aumentar a dissimulação da reabilitação protética ocular, diminuir tempo ambulatorial do paciente e profissional, visando sempre a qualidade de vida do paciente a ser reabilitado.9 Outro objetivo foi apresentar o processo de confecção da íris protética digitalizada, que além de ser relativamente simples e rápido por não envolver etapas de cura e prensagem, ainda possibilita a criação de um banco de próteses para uso imediato em outros pacientes.9,10,11 A internacionalização da técnica foi decorrente de parcerias técnico-científicas estabelecidas entre pesquisadores brasileiros e, neste caso, pesquisadores mexicanos. A permanência do pesquisador mexicano, por um período, onde este se especializou e concluiu o curso de mestrado, junto à equipe brasileira, pode oferecer conhecimento e treinamento para a aplicação da técnica proposta. RESULTADOS Pacientes brasileiros já recebem desde 2008 os benefícios deste estudo apresentando reabilitação protética ocular satisfatória. Paciente V.C.C., 38 anos, sofreu cirurgia de evisceração do globo ocular esquerdo por trauma (Figuras 1A e 1B). Paciente T.M.B.V., 50 anos, apresentou perda do conteúdo escleral por trauma (Figuras 2A e 2B). Observou-se, nesses casos, que o tempo de confecção da prótese ocular foi otimizado, conseguindo-se uma dissimulação satisfatória. Desde 2014, a Universidade Autônoma de Chihuahua, México, por meio de seus pesquisadores parceiros, vem empregando a técnica brasileira no atendimento e reabilitação de seus pacientes portadores de perdas oculares. Esta parceria se renova por meio de visitas periódicas aos Serviços envolvidos, como mostra a figura 3, onde o pesquisador brasileiro acompanha o tratamento reabilitador ocular de pacientes do ambulatório da universidade mexicana (Figura 4). Os pacientes que apresentam perdas oculares e são atendidos no Ambulatório de Prótese Bucomaxilofacial no México, recebem o mesmo tratamento que os pacientes brasileiros, utilizando a técnica proposta e patenteada em nosso país. A figura 5 mostra a cavidade anoftálmicas do paciente A.H.G., de 45 anos com perda ocular por arma de fogo. Sendo reabilitado seguindo a técnica preconizada (Figura 6 A e 6B). DISCUSSÃO Conceitualmente, a palavra internacionalização traz a ideia de divulgação e/ou intercâmbio de conhecimento, seja no âmbito econômico, político ou cultural. Sua motivação e benefícios sempre trazem implícita a busca de conhecimento e aprendizagem.12 Políticas públicas brasileiras vêm incentivando a internacionalização de conhecimento e inovações tecnológicas fundamentando a inserção internacional do Brasil.13,14 Quando esse movimento é realizado em prol da saúde humana, sua contribuição ganha relevância, pois vem acompanhado de melhora de qualidade de vida do homem e crescimento social, por trazer novas soluções para esses problemas de saúde. A Prótese Bucomaxilofacial, especialidade odontológica que é responsável pelo estudo clínico e o tratamento (reparação artificial ou correção ortopédica) das lesões congênitas, evolutivas, traumá- REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):122-5 Neide Pena Coto.indd 123 123 20/05/16 18:05 BRITO E DIAS R; HERRERA LP; DOS REIS RC; COTO NP 124 FIGURA 1 Reabilitação ocular do paciente T.M.B.V A) Reabilitação ocular do paciente T.M.B.V - B) Prótese instalada FIGURA 2 Reabilitação ocular da paciente V.C.C A) perda ocular - B) Prótese instalada FIGURA 3 Intercâmbio Brasil-México FIGURA 4 Equipe parceira Brasil-México em atendimento no Ambulatório de Prótese Bucomaxilofacial da Universidade Autônoma de Chihuahua FIGURA 5 Intercâmbio Brasil-México FIGURA 6 Resultado da reabilitação. A) Paciente antes da reabilitação ocular. B) Paciente pós-reabilitação ocular REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):122-5 Neide Pena Coto.indd 124 20/05/16 18:05 Prótese Bucomaxilofacial ticas (acidentais e cirúrgicas) e patológicas sediadas na boca, maxilares e face.1,3,4 Busca sempre pesquisar materiais e técnicas que minimizem tempo ambulatorial e laboratorial, trazendo melhora no soerguimento psicossocial do paciente acometido em sua qualidade de vida e finalização protética de qualidade. Essa busca resultou no desenvolvimento de técnica de digitalização de íris para utilização na reabilitação protética ocular. Técnica esta reconhecida e patenteada como propriedade intelectual brasileira. A partir daí sua utilização por profissionais estrangeiros vem sendo multiplicada. Esta ação, além de elevar o nome da pesquisa odontológica bra- sileira perante pesquisadores internacionais, exporta também a possibilidade da melhora do atendimento e de qualidade de vida ao paciente que dela se beneficia. Este fato traz, com certeza, uma maior satisfação aos que se dedicam a estudos e inovações tecnológicas. CONCLUSÃO Pesquisas brasileiras, principalmente na área da saúde, vêm obtendo destaque internacional. A preocupação constante com a melhora da qualidade de vida torna relevantes nossos estudos e desenvolvimento de técnicas em âmbito mundial. REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. Murphey PJ, Pitton RD, Schlossberg L, Harris LW. The development of acrylic eye prosthesis at The National Naval Medical Center. J Am Dent Assoc 1945;32(19): 1227-44. Danz W. Ancient and contemporary history of artificial eyes. Adv Ophthalmic Plast Reconstr Surg. 1990;8:1-10. Finchmam EF. Some recente development in artificial eyes. Trans Ophtal Soc U.K. 1978; 39(2): 188-92. Dietz H. The all plastic artificial eye. Illinois Dent J.1945; 14(7):246:8. Dias RB, Rezende JRV, Carvalho JC. Light-weight ocular prosthesis. Braz Dent J. 1994;5(2):105-8. Geraldini CAC, Coto NP, Dias RB. 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REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):122-5 Neide Pena Coto.indd 125 125 20/05/16 18:05 Artigo (convidado) GARCEZoriginal AS; ROQUE JA; MURATA WH; HAMBLIN MR Uma nova estratégia para PDT antimicrobiana em Endodontia Recebido em: mar/2016 Aprovado em: abr/2016 A new approach for antimicrobial Endodontic PDT Aguinaldo Silva Garcez - Professor doutor do Centro de Pesquisa e pós-graduação em Odontologia São Leopoldo Mandic, Campinas RESUMO O presente estudo avaliou diferentes parâmetros como concentração do fotossensibilizador, tempo/energia de irradiação e uso de fibras ópticas, na aPDT para redução bacteriana intracanal. Avaliou-se, in vitro, em cubetas de quartzo contendo concentrações de 50, 100, 150 e 300µM de solução aquosa de Azul de Metileno (AM) a produção de espécies reativas de oxigênio (EROs) em irradiações adicionais de 30s com um laser de diodo emitindo em 660nm. Utilizando-se a mesma metodologia, foi avaliado os efeitos na produção de EROs com e sem o uso de fibra óptica. Concentrações de 50, 150 e 300µM de AM e análise por imagens, avaliaram a formação do fenômeno escudo óptico. Dez incisivos contaminados com P. Aeruginosas bioluminescentes, foram utilizados para analisar as energias/tempo para redução bacteriana intracanal. Imagens obtidas nos dentes avaliaram a contaminação inicial. Os canais foram preenchidos com o fotossensibilizador (PS) e irradiações de 2,4J foram realizadas. A cada irradiação, imagens foram obtidas e a redução bacteriana avaliada. A formação de EROs é maior em concentrações menores do PS, assim como a formação de escudo óptico. O uso de fibra aumenta a formação de ERO quando comparado a irradiação sem fibra. Irradiação com 7J impossibilitou a detecção de biofilme intracanal. A concentração do PS em que há maior eficiência na formação de EROs e menor formação de escudo óptico se encontra entre 50 a 100µM. O uso de fibras ópticas contribui para maior formação de EROs. Energia de irradiação mínima de 7J promove significativa redução bacteriana intracanal. Juliano Alves Roque - Doutorando do Centro de Pesquisa e pós-graduação em Odontologia São Leopoldo Mandic Professor assistente do Departamento de Ortodontia da SLMandic, Campinas Wilson H. Murata - Professor mestre da Universidade Cruzeiro do Sul, São Paulo Michael R. Hamblin - Professor doutor da Harvard-MIT Division of Health Sciences and Technology, Boston, EUA Autor de correspondência: Centro de Pesquisa e pós-graduação em Odontologia SLMandic Wilson H. Murata Rua José Rocha Junqueira, 13 Ponte Preta - Campinas – SP 13045-755 [email protected] Descritores: endodontia; microbiologia; lasers; fotoquimioterapia ABSTRACT This study evaluates different approach such as photossensitizer (PS) concentration, irradiation time/energy, and the use of optical fiber for intracanal microbial reduction. In a quartz curvet, aqueous solution of Methylene blue at 50, 100, 150 and 300µM was tested for reactive oxygen species production (ROS) after successive irradiations of 30s with a diode laser (660nm, 100mW). Using the same methodology, the ROS production was tested using an optical fiber. Image analyses evaluated the presence of optical shield in 3 different concentration of PS. Ten central incisors were contaminated with bioluminescent P. aeruginosas to test the ideal energy/ time for endodontic microbial reduction. Initial contamination was recorded by image after biofilm grown. The root canals were fulfilled with Ps and irradiated with successive energies of 2.4J. After every irradiation new images were recorded to compare the microbial reduction. ROS formation was improved using low concentration of PS, such as optical shield formation. The use of optical fiber did enhance the ROS formation when compared to irradiation with the laser tip. Energy of 7J was the minimal energy to achieve lost of bioluminescent signal. For more efficient ROS production and minor optical shield presence, a concentration between 50 and 100µM seams to be ideal. The use of an optical fiber improves ROS production. Energy of 7J promotes significative intracanal decontamination. Descriptors: endodontics; microbiology; lasers; photochemotherapy 126 REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):126-30 Wilson H. Murata.indd 126 20/05/16 18:11 Endodontia INTRODUÇÃO Um dos objetivos fundamentais do tratamento endodôntico, seja ele tratamento convencional, cirúrgico ou retratamento, é a eliminação dos microrganismos presente no sistema de canais radiculares. Para que se obtenha êxito, uma combinação de instrumentação mecânica e irrigação química tem sido utilizada.1 Entretanto, devido a características particulares da infecção microbiana, tanto no interior do sistema de canais, como na região periapical, em certas circunstâncias, o tratamento convencional poderá apresentar falhas, mesmo quando os procedimentos de limpeza e desinfecção forem adequadamente realizados.2 De forma geral, a microbiota encontrada em infecções endodôntica primária é tipicamente formada por anaeróbios, bacilos e Gram negativos.3,4 Nos casos em que há falha no tratamento endodôntico e um retratamento é indicado, a microbiota encontrada, geralmente é composto por algumas poucas espécies microbiana, geralmente Gram positivas e sem predominância entre anaeróbias estritas ou facultativas.5 Características como formação de biofilme, resistência a medicação intracanal, anatomia dos canais radiculares e acesso restrito dos sistemas de instrumentação, fazem com que microrganismos como o Enterococcus faecalis e Candida albicans sejam frequentemente isolados em casos de infecções endodônticas persistentes.6,7 Como uma apropriada desinfecção intracanal aumenta substancialmente o índice de sucesso do tratamento ou retratamento endodôntico, protocolos de desinfecção mais efetivos tem sido proposto na literatura atual. A Terapia Fotodinâmica antimicrobiana (aPDT – Antimicrobial Photodynamic Therapy) é um método que tem demonstrado tanto in vitro8,9, ex-vivo (dentes extraídos)10,11e principalmente em estudos clínicos em pacientes12,13, um grande potencial como terapia adjuvante na descontaminação de canais radiculares. Esta terapia é um método que utiliza um agente fotossensibilizador (geralmente um corante não tóxico) e uma fonte de luz de baixa potência (usualmente um laser com potência não superior a 100 mW) e sem potencial térmico (aumento de temperatura inferior a 1o.C), para a geração de espécies reativas de oxigênio (EROs) citotóxico para os microrganismos. O fotossensibilizador (PS) ao ser ativado pelo laser, em uma cascata fotoquímica, via transferência de elétrons (reação tipo I) ou transferência de energia (reação tipo II), reage com o oxigênio, formando íons hidroxila, superóxidos e oxigênio singleto, promovendo assim redução microbiana.5,8,9,11,13 Diversos estudos suportam o uso da aPDT associado ao tratamento endodôntico para a redução microbiana intracanal.5,8-13 Entretanto não há consenso quanto ao parâmetros ideais para sua utilização. O presente estudo se propõe a avaliar diferentes parâmetros como concentração do fotossensibilizador, tempo/energia de irradiação e uso de fibras ópticas, para uso da aPDT na a redução bacteriana intracanal. MATERIAIS E MÉTODOS Todos os experimentos foram realizados de acordo com os princípios éticos. Os protocolos de pesquisa foram submetidos e avaliados e receberam aprovação para sua realização de acordo com CEP do IPEN/CNEN-SP. Eficiência fotoquímica de diferentes concentrações do PS Para avaliar a concentração ideal do fotossensibilizador quanto à produção de espécies reativas de Oxigênio, concentrações incrementais do corante Azul de Metileno (Sigma Aldrich – Milwaukee EUA) a 50, 100, 150 e 300 micromolares, em solução aquosa, foram testadas em uma cubeta de quartzo em presença dos compostos L-histidina (15µM) e RNO (13,3 µM). Irradiações de 30 a 240 segundos (energia de 1,2 a 9,6J) foram realizadas, com um laser de diodo emitindo em 660nm e com potência de 40mW (MMOptics - São Carlos Brasil) e as amostras foram imediatamente avaliadas em um espectrofotômetro quanto a sua absorbância em 440nm, de acordo com metodologia proposta por Nunez et al.14, de forma breve, ao ser fotoativado, o PS produz espécies reativas de oxigênio, que reagem com a L-histidina e então promove degradação do RNO. Este tem sua coloração alterada por esta reação, podendo assim ser detectado e quantificado, de forma indireta pelo espectrofotômetro, a produção de EROs. Posteriormente, o mesmo experimento foi realizado com o fotossensibilizador na concentração de 50 µM e a irradiação sendo realizada com e sem o acoplamento de uma fibra óptica ao laser. Formação de escudo óptico em relação da concentração do PS Escudo óptico é um fenômeno que ocorre quando a concentração de uma solução é alta o suficiente para que a absorção da luz ocorra na superfície do liquido, impedindo sua penetração. No caso da aPDT, a reação fotoquímica ocorreria na superfície da solução de PS impedindo a descontaminação em profundidade do sistema de canais, diminuindo portanto a eficiência da terapia. Para avaliar a possível formação de escudo óptico, devido à concentração do PS, foram avaliadas soluções aquosas do Azul de metileno nas concentrações de 50, 150 e 300µM. Em uma cubeta de quartzo foi colocada 5ml de cada uma das solução aquosa do PS e um feixe laser de 10mW, de um ponteira laser (Multilaser AC - Brasil) foi disparado em direção à cubeta. Utilizando uma câmera digital (Pentax K200) acoplada a uma lente macro 100mm, foram obtidas imagens perpendicular ao feixe laser. As imagens foram, gravadas em uma resolução de 32-bits e 265 níveis de cinza e então, avaliadas pelo software Image J (National Institute of Health, EUA)10. Avaliação da dosimetria e redução microbiana em dentes extraídos Para avaliar em tempo real os efeitos da aPDT em dentes extraídos, cultura, gentilmente cedidas pela Xenogem Corp. (Alameda, CA EUA), de Pseudomonas aeruginosa (XEN5), modificadas geneticamente para que expressem bioluminescência, foram crescidas em meio de cultura BHI a 37o C por 24 horas. Foram utilizados 10 incisivos centrais, humanos, com canais retos, recém-extraídos por motivos periodontais. Os dentes tiveram suas coroas removidas com um disco diamantado e seus canais preparados, utilizando o sistema de preparo rotatório Mtwo (Munique Alemanha) até a lima 35.04, associado à irrigação com hipoclorito de sódio a 2,5% e irrigação final com EDTA (Biodinâmica – Ibiporã Brasil). Ao final do preparo, os dentes foram esterilizados em auto- REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):126-30 Wilson H. Murata.indd 127 127 20/05/16 18:11 GARCEZ AS; ROQUE JA; MURATA WH; HAMBLIN MR clave e armazenados em tubos plásticos estéreis (Eppendorf). Para o crescimento do biofilme e contaminação dos canais, foram inoculados 10 microlitros da suspensão da cultura de P. aeruginosa e as amostras foram armazenadas em estufa a 37o C por 72hs, sob agitação (150 rpm). A cada 24hs o líquido no interior dos canais foi sugado e substituído por 10µl de meio de cultura novo, para possibilitar o crescimento de biofilme. Após 72hs os canais radiculares foram irrigados com 10ml de solução salina estéril, para a remoção de bactérias planctônicas e foram obtidas imagens digitais dos dentes para a quantificação da contaminação inicial, em uma câmera de alta sensibilidade (Hamamatsu Photonics KK), seguindo metodologia proposta por Sabino et al.15, de forma sucinta, este sistema acumula durante 120 segundo o sinal de bioluminescência. O software ARGUS (Hamamatsu Photonics KK) apresenta as imagens como um falso-colorido de acordo com o grau de contaminação, sobreposta à imagem em preto e branco do dente. Os canais radiculares foram, então, preenchidos com a solução aquosa de AM a 50 µM, esperou-se um tempo de pré-irradiação de 1 minuto para que o PS penetrasse no biofilme e foram irradiados com a fibra óptica acoplada ao laser por 60 segundos. Novas imagens de bioluminescência foram obtidas a cada irradiação (1 minuto – 2,4J), até que não fosse possível obter o sinal da contaminação dos canais.11 Os parâmetros de irradiação foram os seguintes: laser de diodo emitindo em 660m (MMOptics São Carlos, Brasil) e com potência de 40mW. A energia irradiada foi de 2,4J a cada minuto de irradiação. RESULTADOS Comparando os dados referentes à formação in vitro de EROs em cada concentração de AM na solução (Figura 1), podemos notar que a cada irradiação de 30 segundos (ou 1,2J) ocorre uma degradação na absorção do composto RNO, resultante da reação fotoquímica para todas as concentrações. Entretanto em concentrações menores como 50 e 100µM a degradação do composto ocorre de forma mais efetiva do que em concentrações maiores. As imagens da análise da formação do escudo óptico (Figura 2) podem ajudar a entender os resultados da produção de EROs em diferentes concentrações do PS. Note que ao se aumentar a concentração da solução, a penetração da luz ocorre em menor profundidade do que em concentrações menores do PS. Na concentração de 50 µM, ocorreu uma penetração da luz por todo o volume da solução, a 150µM esta penetração ocorre até aproximadamente 75% do volume total e a 300µM a penetração se restringe a 1/3 do volume. Como a reação fotodinâmica só ocorre em presença do PS, da luz e do oxigênio, a reação tende a ocorrer apenas superficialmente (visto que a penetração da luz é restrita em maiores concentrações) e, portanto, sua eficiência diminui. Em relação ao uso da fibra óptica, a figura 3 mostra que ao se realizar a irradiação com o uso da fibra, a formação de EROs, detectada indiretamente pela degradação do composto RNO, ocorre de forma mais efetiva do que quando se irradia somente com a ponteira do equipamento. A redução bacteriana intracanal, foi medida em relação à re128 FIGURA 1 Análise da formação de Espécies Reativas de Oxigênio (EROs). Note que o declínio na absorção do composto RNO indica sua degradação pela formação de EROs. A curva de absorção do PS a 50µM demonstra a maior eficiência da aPDT FIGURA 2 Imagens da penetração da luz (λ= 660nm) em diferentes concentrações do PS Azul de Metileno. Note que concentrações maiores impedem a penetração da luz e demonstram a formação do fenômeno físico chamado escudo óptico dução do sinal de bioluminescência. A figura 4 mostra a redução da bioluminescência a cada irradiação adicional de 1 minuto (ou 2,4J) até que não fosse possível captar o sinal. A redução obtida foi de 45% após a primeira irradiação, 77% após a segunda e não foi possível captar sinal de bioluminescência após 3 minutos (7,2J). DISCUSSÃO O uso da aPDT como terapia coadjuvante ao tratamento endodôntico convencional tem se mostrado uma alternativa interessante para uma maior redução microbiana intracanal.5,8,9,11,12 Em uma revisão da literatura sobre os efeitos da aPDT em endodontia, Trindade et al.5 relata um excelente potencial anti- REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):126-30 Wilson H. Murata.indd 128 20/05/16 18:11 Endodontia microbiano desta terapia. Entretanto estes autores concluem que devido a uma grande variação nos parâmetros utilizados na literatura, é virtualmente impossível chegar a um protocolo de uso clínico. Parece haver certo consenso quanto ao uso de laser de baixa potência como fonte de luz e em relação aos PS, compostos fenotiazínicos como o Azul de metileno tem sido utilizado em diversos trabalhos. Entretanto, parâmetros como concentração do fotossensibilizador, uso de fibras ópticas e tempo de irradiação permanecem como temas controversos. Neste estudo, quando avaliado a formação de EROs em diferentes concentrações do AM, notamos que concentrações menores como 50 e 100µM, quando irradiadas, promovem uma maior formação de EROs. Estes dados corroboram os resultados encontrados quando avaliamos a formação do fenômeno escudo óptico em diferentes concentrações da solução do PS. A maior formação de EROs em concentrações entre 50 e 100µM possivelmente ocorra devido a não formação do escudo óptico. Na concentração de 150µM, o escudo óptico impede que a luz atinja todo o volume do PS, portanto reduzindo o efeito fotodinâmico, fato agravado FIGURA 3 Análise da formação de Espécies Reativas de Oxigênio (EROs). Note que a curva de absorção do PS quando irradiado com auxílio da fibra óptica demonstra uma maior eficiência da aPDT FIGURA 4 Imagem representativa do sinal de bioluminescência capturado nas raízes contaminadas por biofilme. A) contaminação inicial após aplicação do PS; B) após irradiação por 1 minuto e energia de 2,4J; C) após irradiação por 2 minuto e energia de 4,8J; D) após irradiação por 3minuto e energia de 7,2J pela concentração de 300µM. Diversos autores têm utilizado concentrações não superiores a 100µM, mesmo quando utilizados PS diferente do AM.9,10,12,16 Além do fenômeno escudo óptico e a perda da eficiência da aPDT, Carvalho e colaboradores17 relatam manchamento dentário e comprometimento estético quando utilizado o AM em concentração de 300µM (0,01%). A redução microbiana em endodontia deve ocorrer não só no canal principal, mas de forma ideal, em todo o sistema de canais, como canais secundários, istmos, canais acessórios, delta apical e ainda no interior de túbulos dentinários, pois o biofilme microbiano não se limita ao canal principal.1-3,6,7 O uso de concentrações maiores do PS (como 300µM) dificultam a penetração da solução pelos túbulos dentinários, conforme já relatado na literatura1, adicionalmente, esta concentrações permitem a formação de escudo óptico, promovendo assim, uma absorção da luz na superfície do líquido, reduzindo como já visto o efeito fotodinâmico e reduzindo ainda a ação antimicrobiana em profundidades na dentina radicular. O uso de fibra óptica para a irradiação intracanal, conforme já re- latado por Garcez et al.10, Fimple et al.9 e Sabino et al.15 promove uma melhor distribuição e acesso da luz no sistema de canais e em áreas como a região apical. Esta melhor distribuição da luz por toda a solução do PS, permite uma maior formação de EROs e consequentemente uma maior redução microbiana. Sabino e colaboradores15, comparando o uso da fibra intracanal, relatam uma redução microbiana aproximadamente 30% superior com o uso da fibra, em nossa analise in vitro a irradiação com a fibra óptica obteve uma produção de ERO proporcionalmente semelhante (30% maior com o uso da fibra). Energias de irradiação entre 2 e 30J, que resultam em tempos de 30 segundos a 15 minutos de tratamento com o laser, tem sido relatadas na literatura5,18 e como podemos notar este é mais um dos controversos parâmetros encontrado. O uso de microrganismos bioluminescentes, justifica-se, pois possibilita uma analise em tempo real da redução microbiana obtida pela terapia que esta sendo utilizada19,20; ainda trabalhos prévios de nosso grupo já utilizaram com sucesso esta metodologia.10,11,21 Neste estudo, mais especificamente, a analise em tempo REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):126-30 Wilson H. Murata.indd 129 129 20/05/16 18:11 GARCEZ AS; ROQUE JA; MURATA WH; HAMBLIN MR real, permite identificar os parâmetros mínimos de irradiação para a utilização da aPDT em Endodontia. Os resultados mostram que uma energia mínima de aproximadamente 7J é necessária para a redução total do sinal de bioluminescência (portanto da presença de microbiota viável) em contaminação endodôntica com biofilme crescido em 72h. Conforme já relatado5,18, energia de 2 a 30J tem sido utilizadas com sucesso na descontaminação intracanal. Entretanto, nossos resultados mostram que com energias mais baixas, como 2,4J ocorre uma redução expressiva da contaminação (45%), mas esta redução é significativamente melhorada após irradiações adicionais. Da mesma forma, energias de 30J possivelmente possam resultar em descontaminação efetiva intracanal, mas nosso estudo mostra que energias próximas a 7J já se mostram suficientes, concordando com os resultados de Sabino et al.15, que afirma que após 12J não é possível identificar sinal de bioluminescência em contaminação intracanal com biofilme de C. albicans. Portanto, irradiações adicionais, talvez não signifiquem reduções adicionais, apenas acréscimo de tempo clínico. Baseados nos achados deste trabalho e apoiado nos trabalhos da literatura8,10,12,13,15, recomendamos o seguinte protocolo para uso clínico da aPDT em Endodontia: A) O uso de composto fenotiazínicos, como o azul de metileno, em concentrações de 50 a 100µM. Estas concentrações promovem maior produção de espécies reativas do oxigênio, como radicais hidroxila, íons superóxido e oxigênio singleto. Adicionalmente, estas concentrações minimizam ou mesmo impedem a formação do fenômeno físico conhecido como escudo óptico, possibilitando, desta forma uma maior eficiência do efeito antimicrobiano da aPDT no sistema de canais. B) Uso de fibra óptica acoplada ao laser para melhorar a distribuição de luz intracanal e consequentemente a formação de EROs, maximizan- do a redução microbiana, quando comparado à irradiação sem fibra. C) Irradiação com energias entre 7 e 12J. O que nos equipamentos atualmente disponíveis no mercado (que apresentam potência entre 40 e 100mW) resultam em irradiações de aproximadamente 2 a 4 minutos. CONCLUSÃO A indicação e uso da aPDT na a redução bacteriana intracanal, tem sido comprovado por diversos estudos na literatura, entretanto, não há consenso sobre os parâmetro ideais. Avaliando os dados obtidos neste trabalho, concluímos que: • A concentração do PS em que há maior eficiência na formação de EROs e menor formação de escudo óptico se encontra entre 50 a 100µM; • O uso de fibras ópticas contribui para maior formação de EROs; • Energia de irradiação mínima de 7J promove significativa redução bacteriana intracanal. APLICAÇÃO CLÍNICA O uso da Terapia fotodinâmica antimicrobiana em endodontia tem se mostrado um método efetivo na redução microbiana intracanal, tanto em trabalhos in vitro, quanto em trabalhos em pacientes. Entretanto, não há concordância quanto aos seus parâmetros ideais para uso clinico. A padronização de parâmetros de irradiação e de concentração na solução fotossensibilizadora, certamente levará a uma maior utilização e reconhecimento da eficiência desta terapia. A falta de consenso nestes parâmetros dificulta ao clínico na hora da escolha dos protocolos de utilização e na comparação entre diferentes protocolos encontrados na literatura, desestimulando seu uso na rotina diária do consultório.. REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 130 Kosarieh E, Khavas SS, Rahimi A, Chiniforush N, Gutknecht N. The comparison of penetration depth of two different photosensitizers in root canals with and without smear layer: An in vitro study. Photodiagnosis Photodyn Ther. Mar 2016;13:10-14. Rosa TP, Signoretti FG, Montagner F, Gomes BP, Jacinto RC. Prevalence of Treponema spp. in endodontic retreatment-resistant periapical lesions. Braz Oral Res. 2015;29. Gautam S, Thapa A, Rajkumar B. Reasons for failure of nonsurgical root canal treatment in Nepali population. Nepal Med Coll J. Jun 2012;14(2):142-145. Siqueira JF, Jr. Aetiology of root canal treatment failure: why well-treated teeth can fail. Int Endod J. Jan 2001;34(1):1-10. 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Murata.indd 131 131 20/05/16 18:11 Artigo original (convidado) SABBAGH-HADDAD A; LÓPEZ TAGLE E; PASSOS VAB Momento atual da Odontologia para Pessoas com Deficiência na América Latina: situação do Chile e Brasil Recebido em: mar/2016 Aprovado em: abr/2016 Current Status of the Dental Care Provided to Disabled People in Latin America: Chilean and Brazilian scenarios Aida Sabbagh Haddad - Especialista em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial e em Odontologia para Pacientes com Necessidades Especiais, doutora em Diagnóstico Bucal/Radiologia pela Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo RESUMO A saúde é um fator essencial para a qualidade de vida do ser humano. Baseado nesse fato a Convenção Internacional sobre os direitos das pessoas com deficiência da ONU aponta que as Pessoas em Situação de Incapacidade têm o direito de desfrutar o mais alto padrão atingível de saúde sem discriminação; assim, o estado deve tomar as medidas adequadas para garantir seu acesso aos serviços de saúde. No Chile 20% da população adulta apresenta algum grau de deficiência, ou seja, aquela que em relação ao seu desenvolvimento físico, mental, intelectual, sensorial ou outras condições, mostram restrições à participação plena e ativa na sociedade. Quanto à distribuição por gênero, as mulheres apresentam maior prevalência de pessoas com algum grau de deficiência em relação aos homens. No Brasil, aproximadamente 24% da população brasileira (45.606.048 de pessoas) apresenta algum tipo de deficiência, pelo menos uma das deficiências investigadas, incluindo as deficiências auditiva, física, visual, intelectual, transtorno do espectro autista, ostomias e mobilidade reduzida. Desses indivíduos, 25.800.681 de pessoas (56,5%) são mulheres e 19.805.367 (43,5%) são homens. De acordo com o estudo da situação global da pessoa com deficiência, a saúde bucal geralmente é ruim e o acesso a cuidados odontológicos é limitado. No Chile e no Brasil, cárie e doença periodontal, estão dentro das patologias orais de maior prevalência, que aumentam com a idade e que surgem de forma desigual, afetando principalmente população de periferia e de baixa renda. Assim, tanto o Chile como o Brasil têm desenvolvido projetos que visam contribuir para que a pessoa com deficiência consiga ser atendida em suas necessidades específicas na área da saúde bucal. Elizabeth López Tagle - Mestrado em Saúde Pública - Chefe do Departamento de Saúde Bucal - Subsecretaria de Saúde Pública do Ministério da Saúde do Chile Vivian de Agostino Biella Passos Doutora em Ciências da Reabilitação pelo Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais da Universidade de São Paulo (HRAC-USP/Bauru-São Paulo) - Professora assistente nas disciplinas de Odontopediatria (incluindo Odontologia para PNE) e Dentística da Faculdade de Odontologia da Universidade do Sagrado Coração (USC), Bauru, São Paulo Autor de correspondência: Aida Sabbagh Haddad Al. dos Maracatins, 426 – cj. 912 Moema - São Paulo – SP 04089-000 Brasil [email protected] Descritores: pessoa com deficiência; saúde pública; saúde bucal ABSTRACT Health care is an essential factor for the quality of life of human beings. Based upon this fact, information about the rights of disabled people presented by the WHO International Convention shows that people with disabilities must have the opportunity to access the highest level of health care without any prejudice. Furthermore, the State must guarantee such accessibility. In Chile 20% of the adult population presents some degree of disability; which means, a person who shows some limitation in regard to his/her physical, mental, intellectual, sensorial or other condition, and restricted participation in the society. In regard to the gender distribution, 14.8% of the man population and 24.9% of the woman population present some degree of deficiency. In Brazil, approximately 24.0% of the population (45.606.048 people) presents some deficiency (at least one of the searched deficiencies), including hearing, physical, visual, intellectual, autism disorder, ostomies and restricted mobility impairments. In this group, 25.800.681 people (26.5%) are women and 19.805.367 people (21.2%) are men. In general, according to the global assessment of the health condition of disabled people, their oral health is poor and their access to dental care is limited. Then, Chile and Brazil have developed projects to specifically contribute to the oral health of disable people. In this direction, Brazil has formulated public policies to guarantee autonomy and wider support of the health system, and of the education and work systems as well, improving the quality of life of disabled people. Descriptors: disabled people; public health care; oral care 132 REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):132-40 Artigo Convidado - Momento atual da Odontologia para Pessoas com Deficiência na América Latina- situação do Chile e Brasil.indd 132 23/05/16 15:30 Odontologia para Pacientes com Necessidades Especiais RELEVÂNCIA CLÍNICA Divulgar e correlacionar a atual situação do atendimento odontológico, em nível da política pública nacional de saúde, nas pessoas com deficiência no Chile e no Brasil. INTRODUÇÃO A Organização Mundial de Saúde (OMS) afirma que uma sociedade inclusiva garante espaços sociais para todas as pessoas, fortalecendo atitudes de aceitação das diferenças individuais e coletivas, e enfatiza a importância do pertencer, da convivência, cooperação e contribuição de todos para uma vida mais justa, saudável e igualitária. Esse processo democrático constitui-se no reconhecimento de que todos os seres humanos são livres, iguais e têm o direito de exercer plenamente sua cidadania. Dessa forma, a inclusão social é o direito de todos os seres humanos ao lado da educação e da saúde. A Organização Mundial de Saúde define a saúde como “um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não meramente a ausência de doença ou enfermidade”. Assim, a saúde é um fator preponderante na qualidade de vida das pessoas. Neste contexto, a Convenção Internacional sobre os direitos das pessoas com deficiência da ONU aponta que as Pessoas em Situação de Incapacidade (PESI), têm o direito de desfrutar o mais alto padrão atingível de saúde sem discriminação, portanto, o estado deve tomar as medidas adequadas para garantir o acesso aos serviços de saúde, incluindo a promoção, prevenção, tratamento, habilitação, reabilitação e atenção para a situação de dependência; deve garantir o acesso das pessoas em situação de incapacidade (PESI) ao sistema de saúde em condições de igualdade, em comparação com o resto da população e avaliar o atual acesso dos mesmos aos serviços de saúde, tanto no que diz respeito a acessibilidade da infraestrutura, como aos serviços públicos e privados.1 No Chile, a lei nº 20.422 promulgada em 2010 e modificada em 20152 assinalam que “a prevenção de incapacidades e reabilitação constituem uma obrigação do Estado e, além disso, um direito e um dever às pessoas com deficiência, suas famílias e da sociedade como um todo.” Essa lei é baseada no desenho e implementação de ações destinadas a melhorar o acesso à saúde e reabilitação das PESI, de maneira coordenada, descentralizados e com elevados padrões técnicos. De acordo com o II Estudo de Incapacidade Nacional3, no Chile 20% da população adulta apresenta algum grau de deficiência, entendendo-se como uma pessoa em situação de incapacidade, PESI, aquela que, em relação ao seu desenvolvimento físico, mental, intelectual, sensorial ou outras condições, ao interagir com diferentes barreiras contextuais, atitudinais e ambientais, mostram restrições à participação plena e ativa na sociedade. Aproximadamente 8,3% da população maiores de 18 anos de idade têm graves problemas em seu desempenho (deficiência grave) e aproximadamente 11,7% apresentam deficiência de leve a moderada. Em relação à distribuição por gênero, 14,8% dos homens e 24,9% das mulheres têm algum grau de deficiência (Gráfico 1). A situação de incapacidade está intimamente relacionada com o envelhecimento das pessoas e sua renda e, afeta em maior proporção as mulheres. Assim, pode ser visto no Gráfico 2 que quanto maior a renda familiar per capita, menor a porcentagem da população adulta em situação de deficiência.3 Com relação a sua dependência funcional, 40,4% das PESI GRÁFICO 1 % de população adulta em situação de incapacidade por sexo segundo grau de deficiência, Chile 2015 % de população adulta em situação de incapacidade por sexo según grado de deficiência, Chile 2015 30,0% 25,0% 20,0% 14,3% 15,0% 11,7% 8,9% 10,0% 5,0% 5,9% 0,0% Homem PESI grave 10,6% 8,3% Mulher Total PESI ligeira a moderada Fonte: Ministério de Desenvolvimento Social, II Estudo de Incapacidade Nacional. GRÁFICO 2 % de população adulta em situação de incapacidade por renda familiar per capita, Chile 2015 % de população adulta em situação de incapacidade por quintil de ingreso autónomo per cápita, Chile 2015 30,0% 25,0% 20,0% 13% 13,1% 15,0% 12,4% 10,0% 5,0% 11,7% 11,8% 8,2% 12,8% 11,3% 7,3% 5,8% 4,2% III IV V 0,0% I II PESI grave 8,3% Total PESI ligeira a moderada Fonte: Ministério de Desenvolvimento Social, II Estudo de Incapacidade Nacional. declararam ter extrema dificuldade ou incapacidade de realizar tarefas básicas de vida diária, ou que devem receber ajuda com alta frequência (muitas vezes ou sempre). Do total das pessoas em situação de incapacidade, 41,2% deles têm um cuidador3, dentro ou fora de casa, sendo este em 73,9% do sexo feminino. Saúde bucal De acordo com o estudo da situação global da deficiência, a saúde bucal de muitas pessoas em situação de incapacidade é ruim e o acesso a cuidados odontológicos é limitado.4 A Academia Americana de Odontopediatria considera que pessoas em situação de deficiência tem maior risco de desenvolver doenças bucais.5 O aumento do risco de cárie está relacionado com a dificuldade de manter adequada higiene oral, uso frequente de drogas açucaradas e consumo inadequado de alimentos cariogênicos.6 Além disso, pessoas com deficiência intelectual e funcionamento social, tem geralmente pior nível de higiene oral e controle de placa bacteriana, o que se traduz em doença periodontal.7 REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):132-40 Artigo Convidado - Momento atual da Odontologia para Pessoas com Deficiência na América Latina- situação do Chile e Brasil.indd 133 133 23/05/16 15:30 SABBAGH-HADDAD A; LÓPEZ TAGLE E; PASSOS VAB No Chile, cárie e doença gengival e periodontal, estão dentro das patologias orais de maior prevalência, que aumentam com a idade e que surgem em forma desigual, afetando principalmente população de maior ruralidade e de baixa renda.8 A desigualdade na saúde bucal é maior em pessoas com deficiência, pois elas e suas famílias experimentam ainda, um maior nível de pobreza e menos oportunidades de educação, emprego e independência em relação à população em geral.9 As PESI têm menos dentes, mais elementos dentais sem tratar e mais doença gengival em comparação com a população.6 Isto tem um efeito negativo significativo do ponto de vista da dor e o sofrimento que causam; a perda da capacidade funcional e qualidade de vida trazem como consequência implicações importantes para a nutrição, comunicação, confianças em si mesmos e, em geral, a sua participação e inclusão na sociedade. Boa parte da necessidade de tratamento odontológico das PESI pode ser evitada. A prestação de cuidados curativos é onerosa, tanto para o estado como para a família, razão pela qual é fundamental a entrega de ferramentas educacionais para a promoção da saúde e a inserção de intervenções preventivas.10 Políticas públicas de saúde bucal Chile tem priorizado a saúde bucal em suas políticas públicas. Os objetivos sanitários definidos pelo Ministério da Saúde especificam os desafios e estratégias para lidar com eles de forma justa e eficiente. No início da década 2011-2020, foi estabelecido como alvo na saúde bucal “prevenir e reduzir a morbilidade bucal de maior prevalência em crianças abaixo dos 20 anos, com destaque para os mais vulneráveis”. Os objetivos para este período são rela- cionados com o aumento de crianças de 6 anos livres de cáries e com a redução dos danos por cárie em adolescentes com idade de 12 anos, centrando-se esses objetivos na população saudável e na diminuição da lacuna de desigualdade em saúde oral.11 Uma das principais estratégias propostas para atingir as metas de saúde descritas é o Modelo de Intervenção Promocional e Preventiva de Doenças Orais, para a instalação precoce dos hábitos de higiene e alimentação saudável em crianças envolvidas no sistema de educação pré-escolar e escolar e, o reforço do componente da saúde bucal no modelo de atenção integral focado na família e na comunidade. Este modelo, como se observa na tabela 1, considera nove estratégias que são desenvolvidas nas áreas de ação em educação e saúde, reconhecendo que a ação intersetorial é essencial para alcançar resultados sustentáveis em saúde. O âmbito de ação em estratégias de ensino é desenvolvido em estabelecimentos de educação pré-escolar, enquanto as estratégias de ação de saúde desenvolvidas nos estabelecimentos sanitários se integram no modelo de saúde integrado baseados na família e na comunidade. As estratégias definidas no campo da educação são cinco e descritas a seguir: 1. Promover hábitos saudáveis, com ênfase na alimentação e higiene: visa incorporar hábitos saudáveis de alimentação e higiene oral nas atividades diárias das crianças em educação infantil, definindo, promovendo o consumo de água potável e monitorando a escovação de dentes nos espaços apropriados. 2. Instalar o apropriado uso de fluoretos como proteção específica de cárie: uso diário de pasta dental e a aplicação semestral de verniz de flúor em crianças que frequentam estabelecimentos de educação pré-escolar. TABELA 1 Estratégias do “Modelo de Intervenção Promocional e Preventiva de Doenças Orais” Promover hábitos saludables con énfasis en alimentación e higiene. Instalar el uso adecuado de fluoruros como medida de prevención específica de caries dental. Ámbito de acción en Educación Modelo de Intervención de Promoción de Salud y Preveción de Enfermedades Bucales Fomentar el auto cuidado en salud bucal de las comunidades educativas y su participatión en la planificación y desarrollo de actividades Mejorar las condiciones de salud bucal del personal a cargo del cuidado de los niños y niñas Integrar la familia de los niños y niña en el cuidado de su salud bucal Promover el cuidado de la salud bucal desde la gestación Ámbito de accián en Salud Promover la incorporación del componente de salud bucal a la supervisión de salud infantil Instalar el uso adecuado de medidas de protección específica para patologías bucales más prevalente según riesgo Instalar la vigilancia de población sanay en riesgo de enfermar através de la mantención de población bajo control Modelo de Atención Integral con Enfoque Familiar y Comunitario 134 REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):132-40 Artigo Convidado - Momento atual da Odontologia para Pessoas com Deficiência na América Latina- situação do Chile e Brasil.indd 134 23/05/16 15:30 Odontologia para Pacientes com Necessidades Especiais 3. Melhoria da saúde bucal das pessoas responsáveis pelo cuidado de crianças pequenas: inclui atenção dental do pessoal educador a fim de lhes permitir recuperar sua saúde bucal, quando eles a perderam. 4. Promover o autocuidado da saúde bucal em comunidades educativas através da participação na concepção do programa a nível local: incentivar o trabalho integrado dos setores da educação e da saúde a nível local com a finalidade de programar as estratégias do modelo. 5. Integrar os pais e encarregados da educação das crianças no cuidado dos seus dentes: visa promover o trabalho do educador e do pessoal de saúde com as famílias de crianças que frequentam as escolas na primeira infância, a fim de motivar e conseguir compartilhar a responsabilidade de cuidar da saúde bucal infantil. O âmbito da ação em saúde considera quatro estratégias, integradas ao modelo de atenção integral, com abordagem de família e comunidade. As estratégias são as seguintes: 1. Promover a saúde bucal desde a gravidez: considera cuidar da saúde bucal da mulher grávida e a entrega de ferramentas, permitindo-a se sentir capaz de cuidar da saúde bucal da sua criança. Esta estratégia corresponde a uma Garantia Explícita em Saúde (GES), em vigor desde 2010.12 2. Promover a incorporação do componente de saúde bucal na supervisão da criança: visa integrar a saúde bucal em controles de saúde do filho que têm como objetivos promover a saúde da criança de uma forma abrangente e detectar precocemente e prontamente o risco de desenvolver qualquer anomalia ou doença que possa ocorrer.13 Esta estratégia considera a formação em saúde bucal dos trabalhadores que realizam os controles de saúde da criança. 3. Instalar o uso apropriado de proteção específica para patologias bucais mais prevalentes de acordo com o risco: considera a avaliação antecipada do risco de desenvolvimento de patologias bucais para instalação de medidas específicas de prevenção, antes que o dano ocorra. Esta estratégia incorpora o atendimento odontológico completo às crianças de 6 anos de idade, o que corresponde a uma Garantia Explícita de Saúde (GES) existente desde 20059 e controles odontológicos em idades mais jovens. 4. Instalar a vigilância e manutenção no controle da população em risco de adquirir a doença: visa definir uma população atribuída a uma equipe de saúde para planejar ações de saúde de acordo com suas necessidades e determinantes sociais, gerenciando a demanda e a capacidade de resposta em alcançar um melhor estado de saúde dessa população.14 Por outro lado, no Chile, desde 1996 é usada a fluoretação da água potável, como medida de saúde pública rentável para a prevenção da cárie dentária. Ela está atualmente presente em 14 regiões do país, cobrindo aproximadamente 83% da população urbana, isto é, aproximadamente 12.700.000 pessoas. Em áreas rurais, desde 2004, o programa de alimentação escolar incorporou o leite fluoretado (PAE/F), destinadas às escolas rurais de 1° ao 8° ano do ensino básico. Atualmente este programa beneficia 243 cidades em 11 regiões, com um total aproximado de 3.635 escolas abrangendo 170.263 crianças. Atualmente, o Chile garante acesso, oportunidade e proteção financeira, por lei, para atendimento odontológico completo às crianças até 6 anos de idade, mulheres grávidas, adultos de 60 anos ou mais e, a emergência dentária considerada entre as 80 patologias do regime de Garantias Explícitas em Salud (GES). Estas garantias constituem direitos para as pessoas que devem ser outorgados pelo sistema de saúde e cujo tratamento deve ser efetuado cada vez que for diagnosticada qualquer uma das patologias incluídas obedecendo aos requisitos que são estabelecidos para cada uma delas. Além disso, desde o nascimento e até os 9 anos, uma equipe de saúde executa dentro do controle da saúde da criança, uma avaliação bucal, onde pode ser acessado o programa de atendimento odontológico aos 2 anos e aos 4 anos. A presidenta Michelle Bachelet incluiu a Saúde Bucal dentro de seu programa de governo 2014-2018, incorporando o atendimento odontológico orientado às mulheres vulneráveis de 15 anos ou mais, beneficiárias do Sistema Público de Saúde (Programa Mais Sorrisos para o Chile); jovens do 4º ano do ensino médio em escolas municipais, além de um programa de promoção e prevenção destinado às crianças de 2 a 5 anos, desenvolvido em instituições pré-escolares dependentes do Estado, Conselho Nacional de Jardins de infância - JUNJI-, Fundação Integra e Escolas Municipalizadas (Programa Semeando Sorrisos). Considerando que a população do Chile em 2015 era de 18.105.371 habitantes, o Sistema de Saúde Pública, de acordo com os registros do departamento de estatísticas e informações do Ministério da Saúde, foi informado que 1.630.000 de pessoas tiveram acesso a atendimento odontológico integral, 420.000 pessoas foram atendidas por emergência odontológica y 3.000.000 de pessoas foram atendidas por alguma necessidade odontológica específica (morbilidade). Progresso e desafios dos cuidadosda saúde bucal das PESI A partir do ano de 2005, na rede de saúde pública, tem sido aplicada uma maior cobertura de atendimento odontológico integral às pessoas com deficiências individuais, considerando os níveis de medo ou ansiedade que podem ocorrer. Duas instituições de Saúde desenvolvem um Programa de atendimento odontológico sob sedação, no qual a equipe foi formada para executar a técnica e, além disso, elaborar e publicar a Normativa do controle da ansiedade no atendimento odontológico. A primeira edição foi publicada em 2005 e outras em 2007 e 2015, coletando evidências e a experiência dos serviços de saúde. Dentro das indicações para o uso de sedação para o tratamento dentário em Odontopediatria, a falta de cooperação para o atendimento por parte do paciente, devido à deficiência física ou cognitiva, é uma das principais causas para a indicação da sedação; assim, esse documento tem permitido orientar as equipes de saúde para fornecer um serviço acolhedor, amigável e com a melhor tecnologia possível. Durante o ano de 2012, o Ministério da Saúde publicou o Guia da Clínica de Saúde Bucal Integral para indivíduos menores de 20 anos, com deficiência e que necessitam de cuidados odontológicos especiais. Este guia, que foi preparado por um grupo de especialistas, fornece recomendações com base na melhor evidência REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):132-40 Artigo Convidado - Momento atual da Odontologia para Pessoas com Deficiência na América Latina- situação do Chile e Brasil.indd 135 135 23/05/16 15:30 SABBAGH-HADDAD A; LÓPEZ TAGLE E; PASSOS VAB disponível para ser uma referência ao atendimento odontológico integral de pessoas abaixo dos 20 anos, em situação de deficiência, com transtornos de movimentação ou dificuldade para seguir ordens simples e que são atendidos nos estabelecimentos públicos e privados do país.16 A tabela 2 apresenta o fluxograma da modalidade de atenção para pessoas abaixo dos 20 anos de idade em situação de incapacidade16 que está contida no guia. Além disso, no mesmo ano 2012, foi estabelecido pelo Fondo Nacional de Salud (FONASA), um mecanismo de pagamento compreendendo benefícios odontológicos a nível hospitalar aos pacientes com incapacidades, através do Programa de Benefício Valorizado (PPV). Isso permite ao estabelecimento do nível secundário de saúde, conceder, agendar e negociar o número de benefícios anualmente. Durante o primeiro ano de funcionamento do programa foi possível realizar o tratamento odontológico sob anestesia geral para 397 PESI e cuidados dentários convencionais em ambulatório para 3.256 PESI. Esses números têm aumentado ao longo do tempo onde foram atendidos 599 casos sob anestesia geral e 4.158 ambulatorialmente, no ano de 2014. Para acessar esses benefícios os destinatários devem pertencer a FONASA, ter menos de 20 anos de idade e apresentar uma condição de deficiência que impeça seu atendimento em forma tradicional. Existem três tipos de benefícios em PPV: • Prevenção dentária para crianças em situação de deficiência: essa atenção considera educação preventiva de saúde bucal, avaliação através do exame da saúde bucal do indivíduo, duas aplicações de verniz de flúor ao ano e a entrega de duas escovas e um creme dental. TABELA 2 Fluxograma da modalidade de atenção para pessoas abaixo dos 20 anos de idade em situação de incapacidade Derivación o solicitud de atención de un paciente en Situación de Discapacidad Tratamento convencional Derivación presenta transtorno del movimiento y/o incapacidad de responder a órdenes simples? NO SI Educación al apoderado y/o al cuidador sobre cuidado de la salud bucal 1 Fa Quirúgico or ad it cil Tipo de tratamiento Co nb Tipo de entorno Preventivo arr era 1 Tipo de tratamiento Recuperativo Recuperativo o Quirúrgico Paciente colabora utilizando diferentes técnicas de abordaje Es complejo, necesita múltipes sesiones? Es complejo? ? NO ? ? NO SI Paciente colabora utilizando diferentes técnicas de abordaje ? NO Atención en pabellón bajo anestesia genereal SI Atención en sillón dental con o sin medidas de restricción y/o sedación SI SI NO Atención en pabellón bajo anestesia general Control de acuerdo a riesgo y característucas del paciente 136 REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):132-40 Artigo Convidado - Momento atual da Odontologia para Pessoas com Deficiência na América Latina- situação do Chile e Brasil.indd 136 23/05/16 15:30 Odontologia para Pacientes com Necessidades Especiais • Atendimento odontológico na cadeira odontológica em crianças com deficiência: considera além da prevenção, o tratamento reabilitador ambulatorial. Inclui a aplicação de selantes e flúor verniz duas vezes no ano, entrega de duas escovas e creme dental, remoção de tártaro e polimento coronário, restaurações, endodontia e extrações se necessário. • Atendimento odontológico sob sedação em crianças com deficiência: corresponde ao cuidado dental preventivo e reabilitador em ambiente hospitalar. Além dos benefícios acima mencionados, inclui exames laboratoriais se for necessário, para maior segurança neste tipo de tratamento odontológico. Em 2013, o Ministério da Saúde publicou o Guia de Higiene Bucal em pessoas com deficiência: dicas aos cuidadores, onde proferiu recomendações para facilitar os cuidados de saúde bucal em casa, dando conselhos aos cuidadores para manter uma boa higiene bucal da pessoa em situação de deficiência.17 Em termos de educação e treinamento do recurso humano na rede de saúde, a partir do ano de 2014, o Servicio Nacional de Discapacidad (SENADIS), em conjunto com o Ministério da Saúde e da Universidade do Chile, desenvolveu um projeto de treinamento teórico e prático aos Cirurgiões-Dentistas e assistentes dentários da rede de saúde pública, em cuidados especiais às PESI, incluindo as famílias e seus cuidadores no referido processo. Assim, já foram treinados Cirurgiões-Dentistas e assistentes dentários em nove regiões do país. Espera-se completar 15 regiões em 2016, com o objetivo de fornecer ferramentas para um maior número de profissionais odontológicos, os quais orientados possam cuidar da saúde de PESI e, portanto, melhorar o acesso ao atendimento odontológico em todo território nacional. O Ministério da Saúde, consciente da necessidade de fortalecer a formação dos Cirurgiões-Dentistas em cuidados odontológicos secundários, das PESI, financiou o diploma de atendimento odontológico para Pacientes que Necessitam de Cuidados Especiais, ministrado pela Faculdade de Odontologia da Universidade do Chile. Assim, 14 profissionais foram orientados cujo objetivo foi formar uma grande rede no Chile que possa responder a essa necessidade de atenção odontológica, a partir do ano de 2015. Para contar com informações sobre cuidados dentários das PESI no sistema público de saúde, a partir do ano 2015, foram registradas todas as atividades odontológicas, preventivas e curativas, identificando se as pessoas estão em situação de incapacidade; esse registro tem a finalidade de quantificar o acesso aos cuidados de saúde primária, o uso de serviços odontológicos e tipo de consultas executadas, para uma melhor gestão dos cuidados odontológicos oferecidos. De acordo com o levantamento estatístico, no ano 2015 foram realizadas 36.913 atividades sob os cuidados de saúde primárias, 1.081 atendimentos odontológicos integrais (preventivo-curativo) e 134 consultas de emergências dentárias. Do total de pacientes atendidos, 26% apresentaram-se no momento do exame, livres de cáries. No Chile, a saúde bucal das pessoas em situação de deficiência foi progressivamente incorporada na política nacional de saúde, visando melhorar o acesso ao atendimento odontológico das PESI, com programas que vão desde a promoção até a reabilitação da saúde bucal. No entanto, a cobertura ainda é baixa, e nem todas as pessoas que mais precisam podem acessar esta atenção em todas as regiões do país. Um dos grandes desafios que temos como país, é desenvolver as políticas públicas inclusivas. O “Plan Nacional de Salud Bucal”, que está sendo construído para os próximos 15 anos, tem considerado a elaboração participativa e intersetorial, considerando ainda a definição dos seus eixos estratégicos e a incorporação da saúde bucal de pessoas com deficiência, não só no campo do tratamento curativo, mas essencialmente no preventivo e promocional para a inclusão social, com foco sobre as determinantes sociais e as necessidades de saúde de todas as PESI. Odontologia para Pessoas com Deficiência no Brasil Com a Declaração dos Direitos das Pessoas com Deficiências, promulgada pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), por meio da Resolução n° 542 de 9 de dezembro de 1975, ficou estabelecido em seu Art. 6 que as pessoas com deficiência teriam direito a tratamento médico, psicológico e funcional, reabilitação médica e social, além de outros serviços que garantissem seu processo de integração social, solicitando aos Estados Membros a adoção de medidas nacionais e internacionais de apoio e proteção a esses indivíduos.18 A Constituição da República Federativa do Brasil promulgada em 1988 criou vários dispositivos relacionados aos direitos das pessoas com deficiência, atribuindo em seu Art. 23, inciso II, ser responsabilidade da União, Estados e Municípios a assistência à saúde, proteção e garantia de direitos.19 A Convenção sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência promulgada pelo Estado brasileiro, por meio do Decreto nº 6.949, de 25 de agosto de 200920, estabeleceu a acessibilidade como foco principal para a garantia dos direitos oferecidos às pessoas com deficiências e apresentou como definição que “pessoa com deficiência (PcD) é aquela que tem impedimentos de longo prazo, de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas” (Art. 1°). Nessa trajetória o Brasil tem dado maior atenção à formulação de políticas públicas que garantem autonomia e ampliação do acesso à saúde, educação e trabalho, melhorando a qualidade de vida das pessoas com deficiência. Em 17 de novembro de 2011 foi lançado o Plano Viver sem Limite: Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência (Decreto N° 7.612)21, em que o Ministério da Saúde, juntamente com mais 16 Ministérios, instituiu a Rede de Cuidados à Saúde da Pessoa com Deficiência no âmbito do Sistema Único de Saúde - SUS, estabelecendo diretrizes para o cuidado às pessoas com deficiência temporária ou permanente, progressiva, regressiva ou estável, intermitente ou contínua. O Plano Viver sem Limite apresenta como diretrizes: garantia de um sistema educacional inclusivo; garantia de equipamentos públicos de educação acessíveis às PcD, inclusive por meio de transporte adequado; ampliação da participação das PcD no mercado de trabalho, mediante capacitação e qualificação profissional; ampliação do acesso das PcD às políticas de assistência social e de combate à extrema pobreza; prevenção das causas de deficiência; ampliação e qualificação da rede de atenção à saúde da PcD, em especial os serviços de habilitação e reabilitação; ampliação do acesso das PcD à habitação adaptável e com recursos de acessibilidade; promoção do acesso, do REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):132-40 Artigo Convidado - Momento atual da Odontologia para Pessoas com Deficiência na América Latina- situação do Chile e Brasil.indd 137 137 23/05/16 15:30 SABBAGH-HADDAD A; LÓPEZ TAGLE E; PASSOS VAB desenvolvimento e da inovação em tecnologia assistida. Para a Odontologia no Brasil, o Plano Viver sem Limite estabelece: aumento em 20% no financiamento do SUS para 420 Centros de Especialidades Odontológicas (CEOs) para atendimento às PcD; adequação física e aquisição de equipamentos para 27 centros cirúrgicos em hospitais gerais; além de capacitação para equipes de saúde bucal por meio da qualificação de seis mil e seiscentos profissionais da Odontologia do serviço público brasileiro para atendimento de PcD.21 Com essa iniciativa foi implementada a Rede de Cuidados à Pessoa com Deficiência (Portaria N° 793, de 24 de abril de 2012)22, com a criação, ampliação e articulação de pontos de atenção à saúde para PcD, no âmbito do SUS. Essa rede contempla a Atenção Básica; Atenção Especializada em Reabilitação Auditiva, Física, Intelectual, Visual, Ostomia e Múltiplas Deficiências; e Atenção Hospitalar e de Urgência e Emergência. Surge então o desafio de promover acesso qualificado à saúde para todos, tendo a equidade como estratégia no sentido de acolher diferenças e contornar desigualdades. No âmbito da saúde bucal, a Rede de Cuidados à Pessoa com Deficiência22 se propõe a garantir o atendimento odontológico qualificado a todos os indivíduos que apresentem algum tipo de deficiência, devendo esse atendimento ser iniciado na atenção básica, que referenciará para a atenção especializada (Centro de Especialidades Odontológicas-CEO) ou atenção hospitalar (Atendimento odontológico sob anestesia geral). Dessa forma, a Portaria Ministerial N° 1.341 de 29/06/2012 criou incentivos adicionais para os CEO que fizerem parte da Rede de Cuidados à Pessoa com Deficiência (RCPD).23 Todos os CEO credenciados pelo Ministério da Saúde (MS) podem solicitar o incentivo adicional. Os incentivos são da seguinte ordem: • R$ 1.650,00 mensais para o CEO Tipo I (mínimo de 3 CD) • R$ 2.200,00 mensais para o CEO Tipo II (mínimo de 4 CD) • R$ 3.850,00 mensais para o CEO Tipo III (mínimo de 7 CD) Atualmente são 915 CEOs distribuídos em 759 municípios brasileiros, que oferecem serviços especializados como tratamento endodôntico, cirurgia oral menor, periodontia, diagnóstico bucal (ênfase para câncer bucal), colocação de implantes e tratamento ortodôntico. Esses centros integram a Rede de Cuidados à Pessoa com Deficiência do Ministério da Saúde. No Brasil, de acordo com o IBGE (2010)24, aproximadamente 24% (45.606.048) da população brasileira apresenta algum tipo de deficiência (pelo menos uma das deficiências investigadas), incluindo as deficiências auditiva, física, visual, intelectual, transtorno do espectro autista, ostomias e mobilidade reduzida. Desses indivíduos, 25.800.681 (56,5%) são mulheres e 19.805.367 (43,5%) são homens. Vários são os tipos de deficiência, sendo a deficiência visual a mais prevalente, afetando 18,75% da população brasileira. Em segundo lugar apresenta-se a deficiência física/motora, ocorrendo em 6,95% da população, seguida da deficiência auditiva, em 5,09% e deficiência mental ou intelectual, em 1,40%. Ainda, observou-se que 8,3% da população brasileira apresentava pelo menos um tipo de deficiência severa, sendo 3,46% com deficiência visual severa, 1,12% com deficiência auditiva severa, 2,33% com deficiência motora severa e 1,4% com deficiência mental ou intelectual severa. Das 45.606.048 pessoas com deficiência 1,6% são totalmente cegas, 7,6% são totalmente sur138 das, 1,62% não conseguem se locomover. A relação das pessoas com deficiência no Brasil por modalidade e graus de dificuldade está demonstrada na tabela 1. As dificuldades associadas aos tratamentos de saúde para pessoas com deficiências são reconhecidas, principalmente no que se refere à Odontologia. Dessa forma buscam-se estratégias para prover cuidados odontológicos a esses indivíduos, no âmbito do serviço público e de instituições que prestam atendimentos a essa população. Espera-se, desse modo: 1. Fornecer subsídios para instruir entidades e profissionais interessados no estabelecimento de rotinas de atendimento a PcD. 2. Aprimorar os serviços das entidades e profissionais que já disponibilizam esses atendimentos em suas unidades. 3. Repercutir e fomentar entre as entidades que não disponibilizam esses serviços, que a Odontologia deve ser encarada como uma especialidade clínica primordial no processo de reabilitação das PcD. Em 2004, o Ministério da Saúde lançou as diretrizes da política nacional de saúde bucal conhecida como Brasil Sorridente25, visando à organização da saúde bucal no âmbito do SUS e assumindo o compromisso de qualificar a atenção básica, por meio de uma política de educação permanente para as equipes de saúde bucal e do incentivo à resolução dos problemas dos usuários, dando suporte à atenção integral à saúde e às necessidades dos diferentes grupos populacionais, na perspectiva da universalidade, integralidade e equidade da atenção. A política determina que o atendimento odontológico deva ocorrer em todas as esferas da Rede de Atenção à Saúde (RAS) do SUS: Atenção Básica e Atenção Especializada, seja ambulatorial ou hospitalar, compreendendo ações da atenção domiciliar e de urgência. Como princípio da atenção à saúde bucal das pessoas com deficiência no SUS, a organização do cuidado na Rede de Atenção à Saúde também deverá ser de forma integral, compreendendo todas as esferas de atenção, visando a expansão do acesso e reduzindo a segmentação entre serviços assistenciais e fragmentação do cuidado à saúde. As Redes de Atenção à Saúde configuram-se como mecanismo de articulação entre os pontos de atenção à saúde, potencializando a assistência ao paciente, por meio do cuidado compartilhado, de forma horizontal, promovendo a corresponsabilização dos casos pelas equipes de saúde, envolvendo em certo território as equipes de atenção básica, equipes hospitalares, Unidades de Pronto Atendimento (UPA) e equipes ambulatoriais especializadas.26 O cuidado em saúde bucal, na atenção básica, estabelece a necessidade de se ampliar a oferta e qualidade dos serviços prestados, aumentando a resolutividade do cuidado e incluindo ações de acolhimento humanizado. Deve ser o ponto de entrada principal do usuário do SUS, garantindo a universalidade do acesso e cobertura universal da pessoa com deficiência. Os serviços de saúde devem ter acessibilidade e também pessoal capacitado e treinado para o atendimento odontológico da PcD.27 A equipe de saúde deve trabalhar para aumentar a autonomia e estimular práticas de autocuidado por pacientes, famílias e comunidades.25 É responsabilidade da Equipe de Saúde Bucal (ESB) acolher as PcD de acordo com sua competência de ação e escopo, prestando assistência às queixas, encaminhando para realização de exames complementares e para unidades de atenção especializada somente quando necessário. Além disso, devem orientar familiares e cuidadores para REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):132-40 Artigo Convidado - Momento atual da Odontologia para Pessoas com Deficiência na América Latina- situação do Chile e Brasil.indd 138 23/05/16 15:30 Odontologia para Pacientes com Necessidades Especiais que os mesmos possam tornar-se colaboradores no processo de cuidado das PcD que necessitam de atendimento em saúde bucal.28 O Diário Oficial da União publicou em 7 de janeiro a Resolução n° 167, de 15 de dezembro de 2015, do Conselho Federal de Odontologia29, determinando que os Conselhos Regionais orientem os profissionais sob sua jurisdição a cumprirem as regras estabelecidas pela Lei Federal 13.146/2015 para atendimento prioritário à pessoa com deficiência. Em seu Art. 2° define que nas clínicas e nos consultórios odontológicos, tanto no âmbito privado como no público, deverá ser priorizado o agendamento às pessoas com necessidades especiais ou que tiverem sua mobilidade reduzida. O atendimento preferencial e obrigatório constitui-se na atenção imediata em todos os níveis de serviço de saúde, sendo importante que o profissional priorize o agendamento e atendimento desses pacientes em relação aos demais que não possuem deficiência ou mobilidade reduzida. De acordo com a Política Nacional de Saúde Bucal25, buscam-se duas formas de inserção transversal da saúde bucal: por linhas de cuidado (reconhecimento de especificidades próprias da idade, podendo ser trabalhada como saúde da criança, do adolescente, adulto e idoso) e por condição de vida (saúde da mulher, do trabalhador, das pessoas com deficiência, hipertensos, diabéticos, dentre outras). Representa um novo espaço de práticas e relações a serem construídas com possibilidades de reorientar o processo de trabalho e inserção da saúde bucal no âmbito dos serviços de saúde. As maiores possibilidades de ganhos situam-se nos campos do trabalho em equipe, das relações com os usuários e da gestão, implicando uma nova forma de se produzir o cuidado em saúde bucal.25 DISCUSSÃO A deficiência faz parte da condição humana tornando-a com necessidades especiais. Quase todas as pessoas terão uma deficiência temporária ou permanente em algum momento de suas vidas, e aqueles que sobreviverem ao envelhecimento enfrentarão dificuldades cada vez maiores com a funcionalidade de seus corpos. Segundo o Relatório Mundial sobre a Deficiência, publicado em 2011 pela Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de um bilhão de pessoas convivem com algum tipo de deficiência. É considerada uma questão de direitos humanos, porque essas pessoas enfrentam desigualdades, por exemplo, quando não têm acesso igualitário aos serviços de saúde, educação, emprego ou participação política em função de sua deficiência. No Chile 20% da população adulta apresenta algum grau de deficiência, ou seja, com alteração no seu desenvolvimento físico, mental, intelectual, sensorial ou outras condições; no Brasil aproximadamente 24% da população brasileira apresenta algum tipo de deficiência (pelo menos uma das deficiências investigadas), incluindo as deficiências auditiva, física, visual, intelectual, transtorno do espectro autista, ostomias e mobilidade reduzida. Embora as diferenças populacionais na porcentagem de deficiências entre os dois países não sejam grandes, devemos observar que a avaliação realizada no Chile inclui outras condições sem enumerá-las e, ainda alterações mentais as quais não foram avaliadas no Brasil. Já no Brasil foram incluídos transtorno do espectro autista, ostomias e mobilidade reduzida às quais não foram especificadas no Chile. Quanto ao gênero das pessoas com algum grau de deficiência, tanto no Chile como no Brasil as mulheres apresentam maior prevalência em relação ao gênero masculino. A prevalência das pessoas com deficiência consideradas no Brasil pelo IBGE24 na verdade são inferiores aquelas que são observadas pelo Cirurgião-Dentista na prática diária e que necessitam de atenção e cuidados especiais pelo profissional no seu atendimento odontológico; assim, a especialidade Odontologia para Pacientes com Necessidades Especiais, reconhecida pelo Conselho Federal de Odontologia desde 2001, abrange indivíduos com deficiência intelectual, física, anomalias congênitas, distúrbios comportamentais, transtornos psiquiátricos, distúrbios sensoriais e de comunicação, doenças sistêmicas crônicas, doenças infectocontagiosas e condições sistêmicas.30 A literatura científica no que se refere à Odontologia aponta que a saúde bucal das pessoas com deficiência apresenta principalmente, uma alta incidencia das doenças cárie e periodontal. As dificuldades associadas aos tratamentos de saúde para pessoas com deficiências são reconhecidas; se inicia pela ausência da disciplina de Odontologia para Pacientes com Necessidades Especiais na graduação, na maioria das faculdades de Odontologia do Brasil havendo, portanto uma lacuna na formação de Cirurgiões-Dentistas aptos a esse atendimento. Assim, cursos de capacitação e de especialização nessa área são extremamente importantes ao aprimoramento do profissional para atender o grande contingente de pessoas com deficiência, pois atualmente, de acordo com os dados do CFO somente 582 especialistas em Odontologia para Pacientes com Necessidades Especiais em todo o Brasil foram registrados, para atenderem aproximadamente 24,5% da população brasileira. Boa parte da necessidade de tratamento odontológico das pessoas com deficiência pode ser evitada. A realização de procedimentos odontológicos curativos e reabilitadores são onerosos, tanto para o estado como para a família, razão pela qual é fundamental a entrega de ferramentas educacionais para a promoção da saúde e a inserção de intervenções preventivas.10 Por outro lado, há a necessidade de buscar estratégias para prover cuidados odontológicos a esses indivíduos não só no âmbito privado, mas principalmente no âmbito do serviço público e de instituições que prestam atendimentos a essa população. Nesse sentido, é de alta relevância que o Chile através do Ministério da Saúde tem priorizado a saúde bucal das pessoas com deficiência onde especificaram estratégias de 2011 a 2020, estabelecendo como alvo “prevenir e reduzir a morbilidade bucal de maior prevalência em indivíduos com idade abaixo dos 20 anos, com destaque para os mais vulneráveis”. Em 2012 foi publicado um Guia da Clínica de Saúde Bucal Integral para indivíduos menores de 20 anos com deficiência e o Fundo Nacional de Saúde estabeleceu um mecanismo de pagamento para benefícios odotológicos em nível hospitalar para pessoas com deficiência; finalmente entre as ações à pessoa com deficiência, o Ministério da Saúde do Chile estabeleceu um modelo de intervenção de promoção da saúde e prevenção de enfermidades bucais integradas ao modelo de atenção integral, com abordagem da família e comunidade. No Brasil a Constituição promulgada em 1988 criou vários dispositivos relacionados aos direitos à assistência da saúde das pessoas com deficiência. Nessa trajetória os órgãos governamentais no âmbito da Odontologia têm formulado políticas públicas ampliando o acesso das pessoas com deficiência à saúde bucal, dentro do Sistema Único de Saúde – SUS; esse atendimento odontológico qualificado estabelece diretrizes para o cuidado dessa população, o qual deve ser iniciado na atenção básica, que referenciará à atenção REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):132-40 Artigo Convidado - Momento atual da Odontologia para Pessoas com Deficiência na América Latina- situação do Chile e Brasil.indd 139 139 23/05/16 15:30 SABBAGH-HADDAD A; LÓPEZ TAGLE E; PASSOS VAB especializada (Centros de Especialidades Odontológicas-CEO) ambulatorial ou hospitalar sob anestesia geral, compreendendo ações da atenção domiciliar e de urgência. O cuidado em saúde bucal na atenção básica deve ser o ponto de entrada principal do usuário do SUS o qual tem a necessidade de se ampliar a oferta e qualidade dos serviços prestados. Os CEOs embora estejam presentes em 759 municípios brasileiros ainda são insuficientes para o atendimento da grande população dos indivíduos com deficiência. É de suma importância considerar ainda que o atendimento odontológico das pessoas com deficiência, tanto no setor público como no privado deverá ser realizado com a participação de uma equipe multiprofissional e/ou multidisciplinar visando alcançar as melhores condições possíveis em sua saúde bucal e geral. CONCLUSÃO O Brasil e Chile, apesar de que as suas realidades sejam diferentes no que tange as dimensões territoriais e populacionais, apresentam semelhança quanto a suas altas prevalências de pessoas com deficiências na população. Na área da saúde bucal, embora não seja ainda o ideal, atualmente uma rede de serviços especializados amplia o acesso das pessoas com deficiência aos estabelecimentos de saúde públicos, com programas que vão desde a prevenção e promoção até a reabilitação da saúde bucal, contribuindo para a sua integração social e uma melhor qualidade de vida. No entanto, a cobertura desse atendimento ainda é insuficiente, e nem todas as pessoas que mais precisam podem acessar esta atenção em todas as regiões do país, tanto no Chile como no Brasil. APLICAÇÃO CLÍNICA O poder público estatal, tanto o brasileiro como o chileno, tem contemplado projetos no eixo da saúde, incluindo a saúde bucal da pessoa com deficiência, que visam contribuir diretamente para a construção de uma sociedade mais justa, em que a pessoa com deficiência consiga ser atendida em suas necessidades específicas. REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. Naciones Unidas. 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REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):132-40 Artigo Convidado - Momento atual da Odontologia para Pessoas com Deficiência na América Latina- situação do Chile e Brasil.indd 140 23/05/16 15:30 Endodontia Artigo original (convidado) Análise de diagnósticos radiográficos periapicais sugestivos de lesões refratárias Recebido em: mar/2016 Aprovado em: abr/2016 Analysis of periapical radiographic diagnosis that suggest persistent lesion Manoel Eduardo de Lima Machado – RESUMO Cicatrizes fibrosas periapicais podem ter aspecto radiográfico semelhante a lesões periapicais, levando ao plano de tratamento incorreto. Assim, o objetivo deste estudo foi realizar um confronto entre o diagnóstico radiográfico e histopatológico de dentes que foram tratados endodonticamente e apresentaram “lesões periapicais” detectadas radiograficamente após 18 meses do tratamento. Dez pacientes submetidos ao tratamento endodôntico adequado e apresentando imagem radiolúcia persistente 18 meses pós-tratamento, tiveram cirurgia paraendodôntica indicada. Durante a cirurgia, o tecido em volta do ápice foi removido e mergulhado em solução de formalina 10% para processamento histopatológico através de coloração de HE. O ápice removido na apicectomia foi mantido em glutaraldeído 2% e processado para análise por microscopia eletrônica de varredura. Dentre os 10 casos sugestivos de lesão periapical, em apenas um caso foi confirmado diagnóstico de cisto, um caso de granuloma, e os outros oito casos confirmaram cicatriz fibrosa. Em nenhum dos casos foi detectada a presença de bactéria extrarradicular, somente infiltrado inflamatório e presença de células de defesa como linfócitos e neutrófilos, além de hemácias, tecido conjuntivo e colágeno. Pode-se concluir que a radiográfica convencional não constitui ponto conclusivo no diagnóstico de lesões periapicais. Livre-docente - Professor associado 2 da disciplina de Endodontia da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo (Fousp) e professor convidado em Harvard School of Dental Medicine Vivian Elias Costa - Especialista em Endodontia Cleber Keiti Nabeshima - Doutor em Endodontia - Pesquisador na Fousp Montserrat Mercadé - Doutora - Professora de Dentística Restauradora e Endodontia da Facultat d’Odontologia da Universitat Internacional de Catalunya Miguel Roig Cayón - Doutor - Professor e chefe da Dentística Restauradora e Endodontia da Facultat d’Odontologia da Universitat Internacional de Catalunya CEP/Fousp nº 314867 05/2010 Autor de correspondência: Manoel Eduardo de Lima Machado Fousp - Av. Professor Lineu Prestes, 2227 Cidade Universitária – São Paulo – SP 05508-000 Brasil [email protected] Descritores: diagnóstico; cicatriz; radiografia ABSTRACT Periapical fibrous scars may have similar radiographic appearance of periapical lesions that can result in incorrect diagnosis. The aim of this study was a confrontation between the radiographic and histopathologic diagnosis of teeth that were endodontically treated and presented “persistent periapical lesions” detected radiographically after 18 months of treatment. Ten patients undergoing adequate endodontic treatment and presenting persistent radiolucent image at 18 months post-treatment, had surgery Paraendodontic indicated. During surgery, the tissue around the apex was removed and immersed in 10% formalin solution for histological processing by HE staining. The apex oh the tooth was removed and immersed in 2% glutaraldehyde for scanning electron microscopy processing. Among the 10 radiographically suggestive cases of persistent periapical lesion, only 1 case was confirmed diagnosis of cyst, 1 case of granuloma, and the other 8 cases were fibrous scar. In neither case was observed the presence of bacteria, only inflammatory infiltrate and the presence of defense cells such as lymphocytes and neutrophils, red blood cells, connective tissue and collagen. It can be concluded that the conventional radiography is not conclusive point in the diagnosis of periapical lesions. Descriptors: diagnosis; cicatrix; radiography RELEVÂNCIA CLÍNICA Os conhecimentos biológicos e clínicos têm sido vistos como secundários na avaliação do sucesso da terapia endodôntica, onde a ausência de imagem radiolúcida periapical é ponto de referência prioritária. Erros nas interpretações radiográficas podem levar ao diagnóstico incorreto, e uma conduta clínica desnecessária. REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):141-6 Manoel Eduardo de Lima Machado.indd 141 141 23/05/16 15:31 MACHADO MEL; COSTA VE; NABESHIMA CK; MERCADÉ M; CAYÓN MR INTRODUÇÃO As condutas clínicas não podem ter como base principal as interpretações de imagens radiográficas como manobra de diagnóstico. Tal situação merece uma melhor discussão devido à importância do diagnóstico e a ação clínica a ser instituída. Neste particular, é de comum acordo que as radiografias convencionais e qualquer diagnóstico por imagem são complementares ao exame clínico, pois diferentes processos de reparação podem refletir em falsas interpretações gerando diagnósticos imprecisos.1-4 Os maiores enganos ou as situações clínicas mais difíceis de serem interpretadas estão ligados a um processo de reparação óssea que evolui para uma cicatriz apical3, que podem estar presentes entre as lesões patológicas diagnosticadas radiograficamente.5,6 Neste particular, a reparação ocorre com maior presença de fibras, originando uma imagem mais radiolúcida que o tecido normal, podendo sugerir radiograficamente uma lesão.7 A segunda dificuldade está associada à bidimensionalidade da imagem obtida, que consequentemente, não permite visualizar com precisão os limites em todas as dimensões do dente e da loja óssea.3 Clinicamente, tal fato é pouco discutido, e a falta de compreensão dos processos biológicos associados a outros fatores clínicos tais como tempo de tratamento concluído, ausência de sintomatologia, controle de evolução da lesão, presença de edema e/ou abalamento da cortical óssea, são fatores quase que secundários, pois quando se aborda o sucesso da terapia, observa-se quase sempre que a ausência radiográfica de lesão apical é ponto de referência prioritária. Dentro deste contexto, estudos que contribuam com maiores esclarecimentos sobre o tema em questão são justificados no sentido de colaborar com o diagnóstico, e consequentemente, com as ações clínicas a serem executadas. Diante do exposto, o objetivo deste estudo foi realizar um confronto entre o diagnostico radiográfico e histopatológico de dentes que foram adequadamente tratados endodonticamente e apresentaram “lesões periapicais persistentes” detectadas por radiografia após 18 meses do tratamento. MATERIAIS E MÉTODOS O presente estudo foi aprovado pelo comitê de ética em pesquisa da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo (05/2010). Dez pacientes diagnosticados radiograficamente como portadores de lesões periapicais foram submetidos ao tratamento endodôntico convencional. Após isolamento absoluto, os canais foram instrumentados com sistema rotatório ProTaper (Dentsply Maillefer, Ballaigues, VD, Switzerland), utilizando hipoclorito de sódio 1% (Fórmula e Ação, São Paulo, SP, Brasil) como irrigante. Após obturação utilizando técnica de cone único e cimento N-Rickert (Fórmula e Ação), os dentes foram restaurados, e então, realizado o acompanhamento radiográfico no período de até 18 meses. Todas as tomadas radiográficas foram realizadas com o uso de um posicionador (Indusbello, Londrina, PR, Brasil) para garantir a padronização das angulações e permitir as comparações entre as radiografias pós-tratamento. Após este período, a persistência de imagem periapical radiolúcida indicou a cirurgia paraendodôntica. O paciente foi aneste142 siado, a gengiva rebatida, e o acesso à região periapical do dente em questão realizado com auxílio de uma broca esférica carbide em alta rotação sob refrigeração. Depois do acesso à região periapical, o tecido em volta do ápice foi removido e fixado com o uso de numa solução de formalina 10% por 24h para processamento histopatológico. Uma apicectomia da região também foi realizada, e o ápice removido foi imerso em glutaraldeído 2% para análise por microscopia eletrônica de varredura. Para o processamento histopatológico, após a fixação, as amostras foram embebidas em parafina e seccionadas em série com intervalos de 4 µm. Assim, os cortes foram desparafinizados em xilol e bateria de etanol decrescente, seguida de coloração com hematoxilina e eosina, sendo então visualizado em microscópio óptico (BX60, Olympus Optical, Tokyo, JHS, Japan) numa ampliação de 100x e 400x. Para o processamento da amostra a ser analisada por microscopia eletrônica de varredura, após fixação, o fragmento foi desidratado por imersão em etanol em séries crescentes e secagem com HMDS (Sigma-Aldrich Inc, Dallas, Texas, USA) em capela de fluxo laminar, sendo então, montados em suportes metálicos (stubs) e recobertos com ouro em sputtering catódico (Bal-Tec/ SCD 050; Bal-Tec AG, Balzers, Liechtenstein), e levados ao microscópio eletrônico de varredura LEO 430i. Para efeito de avaliação, selecionou-se a área do ápice que se encontrava em maior contato com o tecido de granulação. Varreu-se a região e fotografou no aumento de 40x e 2000x. RESULTADOS Dentre os 10 casos analisados sugestivos de lesão periapical indicados à cirurgia paraendodôntica, apenas em um caso foi confirmado o diagnóstico de cisto, um caso de granuloma, e os outros oito casos confirmaram cicatriz fibrosa. A distribuição percentual dos diagnósticos histológicos encontrados pode ser vista na figura 1. Em nenhum dos casos foi detectada a presença de bactéria extrarradicular, somente infiltrado inflamatório e presença de células de defesa como linfócitos e neutrófilos, além de hemácias, tecido conjuntivo e colágeno. Descrição histopatológica No caso confirmado como cisto, os cortes histológicos apresentaram tecido conjuntivo revestido por epitélio pavimentoso estratificado, uma cápsula de tecido conjuntivo ricamente vascularizado e infiltrado por células mononucleares, sugerindo uma lesão cística (Figuras 2A e 2B), onde não foi observado por meio da microscopia eletrônica de varredura, a presença de bactérias no ápice do dente com lesão cística (Figuras 2C e 2D). No outro espécime catalogado como granuloma, os resultados foram semelhantes sugerindo uma pequena área inflamada ou ainda cicatrização com deposição de tecido calcificado, sendo constatado maior quantidade de tecido conjuntivo fibroso, exsudado seroso, moderada quantidade de células e focos de infiltrado inflamatório mononuclear (Figuras 3A e 3B), onde havia presença de linfócitos e trama de colágeno sem a presença de bactérias REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):141-6 Manoel Eduardo de Lima Machado.indd 142 23/05/16 15:31 Endodontia (Figuras 3C, 3D e 3E), sugerindo processo cicatricial, porém devido ao infiltrado inflamatório não catalogamos como cicatriz. Os outros oito casos podem ser interpretados como reparo ou cicatriz, dado a presença de tecido conjuntivo denso permeado por raspas de tecido mineralizado com ausência de infiltrado inflamatório, trama de colágeno e ausência de qualquer microrganismos (Figuras 4 A, 4B e 4C). FIGURA 1 Distribuição percentual dos diagnósticos encontrados por análise histopatológica DISCUSSÃO O diagnóstico em Endodontia é uma ação de extrema complexidade, e ao mesmo tempo, não tem a pretensão de definir com exatidão as alterações patológicas existentes. Assim sendo, quando os exames clínicos são concluídos, a terminologia aplicada refere-se a um “diagnóstico clínico provável”. Desta forma, a partir deste ponto, o profissional deverá associar os achados clínicos obtidos no momento da intervenção ao exame clínico realizado, e tal atitude deve permanecer durante todo o ato operatório. No pas- FIGURAS 2 - A e B Análise da lesão com diagnóstico confirmado como cisto. Corte histológico em HE FIGURAS 2 - C e D Análise da lesão com diagnóstico confirmado como cisto. Imagem da superfície do ápice observada por microscopia eletrônica de varredura REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):141-6 Manoel Eduardo de Lima Machado.indd 143 143 23/05/16 15:31 MACHADO MEL; COSTA VE; NABESHIMA CK; MERCADÉ M; CAYÓN MR FIGURAS 3 - A e B Análise da lesão com diagnóstico confirmado como granuloma. Corte histológico em HE FIGURA 3 - C, D e E Análise da lesão com diagnóstico confirmado como granuloma. Imagem da superfície do ápice observada por microscopia eletrônica de varredura FIGURA 3E Análise da lesão com diagnóstico confirmado como granuloma. Imagem da superfície do ápice observada por microscopia eletrônica de varredura 144 FIGURA 4A Análise da lesão com diagnóstico confirmado como cicatriz. Corte histológico em HE REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):141-6 Manoel Eduardo de Lima Machado.indd 144 23/05/16 15:31 Endodontia FIGURAS 4 - B e C Análise da lesão com diagnóstico confirmado como cicatriz. Imagem da superfície do ápice observada por microscopia eletrônica de varredura sado, tentou-se estabelecer classificações de patologias pulpares e periapicais por meio da associação de achados histológicos e manifestações clínicas (sinais e sintomas). Tal método, denominado de Kantarovisch, não logrou êxito devido à dificuldade em se obter um corte histológico que demonstrasse com plenitude as alterações patológicas existentes. Desta forma, não era possível associar os sinais e sintomas com os achados histológicos de uma maneira direta.8 Outros procedimentos de ordem microbiológica também se perderam pelo tempo, tal como o “teste microbiológico” com coleta do canal radicular utilizando cones de papel seguido de cultura em meios de crescimento, que era praticado entre os anos 40 e 60 para determinar o momento adequado da obturação dos canais radiculares.8 O abandono se deu pelos mesmos motivos anteriores: a complexidade biológica e microbiológica. Desta forma, os conceitos atuais têm sido dimensionados no estudo de sinais e sintomas e demais observações, dentre elas a radiologia, como atitudes e ações clínicas. A radiografia é uma grande ferramenta relacionada ao diagnóstico, principalmente por se tratar de exame não invasivo, no entanto, não pode ser considerada patognomônica, pois não permitem a identificação das patologias, nem mesmo discernir entre doença e cicatriz (reparo).3,5,7 Além disso, a bidimensionalidade pode ser um problema, pois não permite a visualização total das lesões, principalmente no que se concerne à suas dimensões, que é uma importante referência quando utilizamos este recurso como controle do sucesso ou não do tratamento.8 Neste âmbito, muitos quadros patológicos podem apresentar imagens radiográficas semelhantes3,9, o que leva a questionar o diagnóstico estabelecido pelos métodos convencionais, proporcionando dúvidas entre as patologias e mesmo sobre a existência real ou não de uma lesão periapical. Neste particular, Tavares et al.10 (2009) observaram que a imagem radiográfica não foi suficiente para auxiliar o diagnóstico de 13% de casos analisados, cujo tratamento endodôntico parecia adequado e apresentava imagem com pequenas alterações na estrutura óssea. Outro ponto que deve ser considerado é em relação ao tempo de observação do pós-operatório, não há um tempo definido quanto à reparação da lesão periapical. Em estudos sobre osteoindução, Machado et al.11 (2013) não observaram histológicamente a presença de focos de mineralização no período de até 60 dias, porém num segundo estudo, a formação de áreas de calcificação estava presente em 180 dias.12 Estudos observando lesões pariapicais demonstraram que tempos maiores que 90 dias de proservação podem ser necessários para se observar o reparo13, e que a completa reparação de lesão periapical extensa pode levar o tempo de até sete anos.14 Torabinejad et al.15 (2009) compararam radiograficamente a evolução de casos cirúrgicos e não cirúrgicos, e observaram que quanto maior o tempo de controle, maior é o sucesso de casos não cirúrgicos (retratamento); no período de 2 a 4 anos o sucesso foi maior no tratamento cirúrgico (77,8%) em relação ao não cirúrgico (70,9%), porém quando a análise foi feita no período de 4 a 6 anos a situação se inverte, o sucesso de casos cirúrgicos declina para 71,8%, e no período maior que 6 anos este valor chega em torno de 62,9%, diferente dos casos não cirúrgicos que tem sucesso aumentado para 83,0% no controle de 2 a 4 anos, o que mostra que o período de controle maior é importante para se obter a melhores diagnósticos. Neste contexto, o objetivo deste estudo foi verificar o que significava as “lesões” clínicas que permaneciam pós-tratamento endodôntico. Como salientado na metodologia, as imagens radiográficas distribuídas aos profissionais indicavam a cirurgia periapical. Uma vez realizada a cirurgia, foi obtido um material composto pelo ápice radicular, que teve sua superfície analisada por microscopia eletrônica de varredura, e tecidos moles colhidos ao redor do ápice, que foram estudados com exames histopatológicos. Como pode ser observado, o resultado foi relevante. De 10 casos, um foi diagnosticado como cisto, outro era granuloma, e os outros oito casos eram cicatrizes periapicais. Este resultado permite colaborar com algumas atitudes clínicas voltadas à proservação. É claro que, com o conhecimento atual da microbiologia, eliminar REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):141-6 Manoel Eduardo de Lima Machado.indd 145 145 23/05/16 15:31 MACHADO MEL; COSTA VE; NABESHIMA CK; MERCADÉ M; CAYÓN MR um foco de infecção é fundamental, pois há inter-relações entre o dente e o restante do organismo, que podem levar a complicações sistêmicas como a endocardite bacteriana16,17, ou seja, hoje se compreende muito bem que a infecção dentária pode levar o paciente ao óbito. Todavia, as intervenções cirúrgicas não justificáveis também não constituem ações de relevância clínica, e o profissional de hoje necessita de informações biológicas de uma forma tão significativa quanto às técnicas. Assim sendo, o conhecimento do processo reparacional é importante, pois muitas vezes a cicatriz óssea poderá demorar anos para atingir sua reparação total, e ainda assim, evoluir para uma cicatrícula fibrosa periapical, que é composta por um tecido fibroso denso localizado ao periápice de dentes tratados previamente com abscesso, cisto ou granuloma; sua imagem radiolúcida bem circunscrita se assemelha bastante ao cisto ou granuloma.7,8 Além disso, o causador do processo inflamatório também deve ser levado em consideração, pois quanto maior intensidade do agente agressor maior a transição do processo regenerativo para o cicatricial, visto que a regeneração tecidual é uma neoformação com células numa mesma morfologia dentro do processo reparação, já na cicatrização, a morfologia e a qualidade tecidual é diferente do original, como pode ocorrer no reparo da lesão, levando à imagens mais radiolúcidas no tecido neoformado. Neste particular, a radiografia deve assumir um aspecto complementar de análise, e não de caráter definitivo e de diagnóstico final. Ela não deve ser vista de maneira isolada na interpretação de um diagnóstico, pois sua limitação é significativa, até mesmo no acompanhamento das lesões. Se uma variável nas angulagens ho- rizontais ou verticais no posicionamento do cone em uma tomada radiográfica for aplicada, uma imagem diferente de dimensões maiores ou menores da lesão apical pode ser observada. Assim sendo, caberá ao profissional a árdua tarefa de interpretar, julgar e sugerir uma conduta, baseado não apenas na observação, mas no todo: sinais, sintomas18, e até utilizar-se de outros recursos tais como a cintilografia, tomografia, fluxometria doppler, entre outros19, que deverão ser utilizados na somatória, auxiliando com a finalidade de definir seu possível diagnóstico. CONCLUSÃO Pode-se concluir que a radiografia convencional não constitui ponto conclusivo no diagnóstico de lesões periapicais. APLICAÇÃO CLÍNICA Claro está que a radiografia é uma importante ferramenta na elaboração do diagnóstico clínico. No entanto, ela não deve ser supervalorizada e deve se associar ao conhecimento biológico e aos fatores de ordem clínica quando da interpretação e racionalização dos resultados obtidos nos recursos semiotécnicos no sentido de se estabelecer um diagnóstico clínico provável. Os resultados encontrados demonstram claramente esta situação, onde oito dos 10 casos analisados apresentaram uma cicatriz, que deve ser considerada parte de um processo de reparação e cura, anulando a necessidade de uma nova reintervenção endodôntica ou cirúrgica. Desta maneira, a radiografia não deve ser utilizada como conclusiva no diagnóstico, e sim como um meio complementar ao conhecimento, e principalmente ao histórico clínico do paciente. 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REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):141-6 Manoel Eduardo de Lima Machado.indd 146 23/05/16 15:31 Revisão de literatura (convidado) Odontopediatria Efeito anticárie do flúor associado ao trimetafosfato de sódio Recebido em: mar/2016 Aprovado em: abr/2016 Anticaries effect of fluoride associated with sodium trimetaphosphate Caroline Scholz - Cirurgiã-Dentista RESUMO Objetivo: Estudar o efeito anticárie da adição de trimetafosfato de sódio (TMP) aos compostos fluoretados (dentifrícios, vernizes e soluções) para prevenção e tratamento de lesões de cárie através de uma revisão de literatura. Materiais e Métodos: Foram selecionados artigos de pesquisa e revisões sistemáticas da literatura mais relevantes sobre o assunto publicados na língua inglesa, desde 1968 até 2015, pesquisados no PubMed. As palavras-chave utilizadas foram: trimetafosfato de sódio, cárie dentária e fluoretos. Resultados: Foram apresentados os principais resultados de trabalhos de pesquisa sobre o TMP quando associado aos dentifrícios, vernizes e soluções para bochechos e estudos clínicos longitudinais. Conclusão: Os estudos in vitro e in situ mostram que o trimetafosfato de sódio pode potencializar a eficácia do flúor na prevenção e tratamento da cárie dentária, porém ainda faltam estudos para entender o mecanismo de ação do TMP, além de estudos clínicos para comprovar sua eficácia e indicação. Renata Schlesner de Oliveira - Mestre Professora de Odontologia da Faculdade da Serra Gaúcha Michele Baffi Diniz - Doutora - Professora assistente I de Odontologia da Universidade Cruzeiro do Sul Adrian Lussi - Doutor - Paediatric Dentistry, University of Bern, Suiça Jonas Almeida Rodrigues - Doutor - Professor adjunto da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Autor de correspondência: Jonas de Almeida Rodrigues - UFRGS Rua Ramiro Barcelos, 2492 Bairro Santa Cecília - Porto Alegre – RS 90035-003 Brasil [email protected] Descritores: compostos de sódio; polifosfatos; cárie dentária; fluoretos; compostos de flúor ABSTRACT Objective: The aim of this work was to study the anticaries effect of adding sodium trimetaphosphate (TMP) to fluoride compounds (toothpastes, varnishes and mouthrinse) for prevention and treatment of caries lesions with a review of the literature. Materials and Methods: The most relevant research articles and systematic reviews on the subject published in English, were selected from 1968 to 2015, browsed on Pubmed. The keywords used were: sodium trimetaphosphate, dental caries and fluorides. Results: The main results of research articles on the TMP associated with dentifrices, varnishes and mouthrinses and longitudinal clinical studies were presented. Conclusion: In situ and in vitro studies have shown that TMP might increase the effectiveness of fluoride in the prevention and treatment of caries, but there are few studies that explain its mechanism of action, as well as clinical studies to demonstrate its anticaries effect and indication. Descriptors: sodium compounds; polyphosphates; dental caries; fluorides; fluorine compounds RELEVÂNCIA CLÍNICA Este trabalho poderá contribuir para que o Cirurgião-Dentista tenha conhecimento sobre as pesquisas que estão sendo desenvolvidas envolvendo a adição de trimetafosfato de sódio a compostos fluoretados e seu efeito anticárie. REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):147-50 Jonas Rodrigues e Michele Diniz.indd 147 147 20/05/16 18:19 SCHOLZ C; OLIVEIRA RS; DINIZ MB; LUSSI A; RODRIGUES JA INTRODUÇÃO A prevalência da cárie dentária tem diminuído ao longo do tempo devido ao uso de flúor em veículos como a água de abastecimento público, dentifrícios, vernizes e soluções para bochecho.1 O flúor atua como um auxiliar importante na manutenção do equilíbrio mineral dos dentes, atuando diretamente sobre a dinâmica do processo des-remineralização, inibindo a desmineralização, promovendo a remineralização, e a formação de fluoreto de cálcio.1 Uma revisão sistemática da literatura confirmou os benefícios do uso do dentifrício fluoretado para prevenção de lesões de cárie em crianças e adolescentes em comparação ao placebo (sem flúor). Porém, estes dados são significativos para dentifrícios com concentrações de fluoreto igual ou superior a 1000 ppm.2 Assim, alguns estudos têm sido realizados para avaliar a possibilidade de se potencializar o efeito anticárie dos dentifrícios fluoretados através da adição de sais de fosfato.3-5 Os resultados demonstram eficácia desta adição em diminuir desmineralização3,4, assim como, em aumentar o potencial remineralizador em lesões inicias em esmalte5, evidenciando uma possível vantagem na utilização de compostos fluoretados suplementados com estes sais. Sugere-se que este efeito possa estar relacionado com a capacidade de fosfatos de formar complexos com cátions, tais como Ca2+ e CaF+ e aumentar a atividade iónica das espécies neutras tais como CaHPO40 e HF04,6,7 que aumentam o coeficiente de difusão do esmalte.8 Entre os polifosfatos, o trimetafosfato de sódio (TMP) pode reduzir a solubilidade da hidroxiapatita.9 O TMP é um polifosfato cíclico que se adsorve a superfície do esmalte, reduzindo assim a sua desmineralização7,10,11 e alterando a afinidade entre a superfície do esmalte e proteínas salivares.12 Este composto forma uma camada de proteção contra a difusão do ácido para o esmalte13, evitando a desmineralização, e, simultaneamente, resultando em uma incorporação aumentada de íons de cálcio, bem como íons de fluoreto.7,11 O aumento da quantidade de fluoreto e da concentração de cálcio é seguido pela diminuição da concentração de polissacarídeos extracelulares no biofilme. O TMP poderia atuar sobre o biofilme indiretamente, uma vez que elevadas concentrações de cálcio e de flúor no biofilme alteraram o metabolismo bacteriano e a atividade biológica, bem como a formação de polissacarídeos extracelulares.14,15 No entanto, apesar de vários estudos na literatura, seu mecanismo de ação ainda não está completamente elucidado. Dessa forma, o objetivo deste trabalho foi realizar uma revisão de literatura sobre o efeito anticárie da adição de trimetafosfato de sódio (TMP) aos compostos fluoretados (dentifrícios, vernizes e soluções) para prevenção e tratamento de lesões de cárie. REVISÃO DA LITERATURA O levantamento dos dados contidos nesta revisão da literatura foi realizado por meio da base de dados PubMed. As palavras-chave utilizadas foram: trimetafosfato de sódio, cárie dentária e fluoretos. Foram selecionados artigos de pesquisa in 148 vitro, in situ e in vivo, além de revisões sistemáticas da literatura publicadas entre 1968 e 2015 em revistas internacionais, em língua inglesa. A revisão de literatura deste trabalho foi redigida em tópicos, com o objetivo de facilitar o acesso e consulta para os Cirurgiões-Dentistas. Estudos iniciais Navia et al. (1968)16 estudaram o efeito do TMP quando adicionado na dieta de ratos durante quatro fases de desenvolvimento dos dentes: 1) durante os últimos 15 dias antes do nascimento; 2) durante os primeiros 20 dias após o nascimento; 3) durante o período de 20 a 40 dias de idade ou imediatamente após a irrupção dos molares e 4) durante 40-80 dias de idade, ou mais tarde durante a maturação pós-irruptiva dos molares. Os resultados mostraram que a alimentação suplementada com fosfato durante a gravidez não teve influência sobre a cárie dentária, porém o suplemento foi eficaz quando se ofereceu para ratos imediatamente após irrupção dos dentes, levando os autores a concluírem que o efeito cariostático em ratos parecia ser devido principalmente a uma ação local do fosfato, da mesma maneira como atuam os fluoretos. Em 1969, outro estudo com dieta de ratos foi realizado para avaliar os efeitos do TMP e do fluoreto de sódio a fim de se tentar entender as ações cariostáticas de ambos. O TMP mostrou uma interação significativa quando administrado em conjunto com o fluoreto, o que sugeriu uma diferença no seu mecanismo de ação. O efeito do TMP e do fluoreto sugeriram que essa combinação pode ser altamente eficaz na prevenção do início e no desenvolvimento das lesões de cárie.17 Gonzalez (1971)18 realizou um trabalho utilizando dentes bovinos com o objetivo de avaliar os efeitos de baixas concentrações de TMP sobre a deposição mineral no esmalte condicionado com ácido. Concluiu-se que os íons de TMP alteraram a qualidade do mineral depositado sobre superfícies de esmalte condicionadas e melhoraram a estabilidade e integridade do mineral. Na sequência, McGaughey e Stowell (1977)19 estudaram o efeito de diversos polifosfatos (pirofosfato, tripolifosfato, e hexametafosfato) em amostras de hidroxiapatita. Os autores concluíram que o efeito anticárie superior do TMP podia estar relacionado à sua baixa capacidade de causar a desagregação de microcristais de hidroxiapatita, enquanto exerce efeitos comparáveis aos outros polifosfatos. Dentifrícios Takeshita et al. (2009)20 em um estudo in vitro, com blocos de dentes bovinos, estudaram alguns tipos de dentifrícios: sem flúor (controle negativo), com 500 ppm F + TMP (0 %, 0,1%, 0,25%, 0,5%, 1%, 2% e 3%) e com 1100 ppm F. Os blocos de esmalte eram submetidos a ciclagem de pH e tratamento com os dentifrícios testados 2x ao dia por um minuto durante 7 dias. Os resultados mostraram que a adição de TMP a dentífricos com baixa concentração de flúor (500 ppm) resultou em uma eficácia semelhante a de um dentifrício convencional (1100 ppm F). Os autores também mostraram que em concentrações maiores que 1%, o TMP reduziu REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):147-50 Jonas Rodrigues e Michele Diniz.indd 148 20/05/16 18:19 Odontopediatria a perda mineral e aumentou o conteúdo de flúor no esmalte tratado com dentifrício com baixa concentração de flúor. Estudos também avaliaram o efeito in vitro de dentifrícios com citrato de cálcio e TMP na desmineralização do esmalte21, assim como, na remineralização de lesões de cárie iniciais em esmalte.22 Ambos os estudos observaram que é possível melhorar a eficácia de dentifrícios com baixa concentração de flúor quando associados ao citrato de cálcio e ao TMP. Já uma pesquisa utilizando um modelo in situ com desmineralização artificial em blocos de esmalte bovino estudou o efeito remineralizante de dentifrícios convencionais (1100 ppm F), associados ou não ao TMP (3%) nano ou microparticulado. Voluntários usaram os blocos de esmalte em dispositivos palatinos, realizaram escovação dos dentes 3x ao dia com os dentifrícios testados. Concluiu-se que essa adição de TMP (3%) a dentifrícios convencionais promoveu um efeito remineralizante significativamente maior quando comparado a um dentifrício da mesma concentração de flúor, sendo que, quando nanoparticulado, o TMP mostrou um potencial ainda superior de remineralização.11 O estudo in vitro de Castro et al. (2015)23 avaliou o efeito de diferentes concentrações de TMP (1%, 3 %, 4.5 %, 6 % e 9 %) em dentifrícios fluoretados (1100 ppm F) na desmineralização do esmalte e mostrou que a adição de TMP ao dentifrício melhorou a sua capacidade de reduzir a perda de minerais, sendo a concentração de 3% de TMP a que produziu o efeito máximo, com uma redução da perda mineral de 61% em comparação ao dentifrício convencional (1100 ppm F). Um aumento no efeito anticárie de um dentifrício de baixa concentração com adição de TMP (1%) também foi demonstrado em estudo com desmineralização de esmalte em um modelo in situ.24 Nele, o dentifrício de baixa concentração suplementado mostrou resultados semelhantes aos obtidos pelo uso de formulação convencional. Vernizes O estudo in vitro de Manarelli et al. (2014)6 analisou os efeitos de vernizes fluoretados suplementado com TMP sobre a remineralização de lesões de cárie iniciais em esmalte, avaliando sete grupos experimentais: placebo (sem flúor ou TMP), 5% TMP, 2,5% de NaF, 2,5% NaF + 5% TMP, 5% NaF, 5 % NaF + 5% TMP e formulação comercial (5% NaF). Os autores concluíram que a suplementação de vernizes fluoretados com TMP levou a um melhor efeito remineralizante de lesões de cárie artificiais quando comparado com vernizes com a mesma concentração de fluoreto sem TMP. Em 2015, os efeitos de um verniz fluoretado suplementado com TMP sobre a remineralização de lesões de cárie foram avaliados em um modelo in situ. Os voluntários utilizaram dispositivos palatinos com discos de esmalte bovino com lesões artificiais e foram testados três grupos de vernizes: placebo (sem F ou TMP), 5% de NaF e 5% NaF / 5% TMP. Da mesma forma, foi demonstrado que a adição de TMP em um verniz com flúor levou a uma melhor remineralização de lesões de cárie artificiais e que os seus efeitos são mais pronunciados em profundidade, quando comparado com uma formulação convencional.25 Soluções para bochechos Takeshita et al. (2011)10 estudaram os efeitos in vitro do TMP (3%) quando adicionado a diferentes concentrações de flúor (0, 500, 1500 e 3000 ppm F) em soluções para prevenção de lesões inicias em esmalte bovino. Com exceção da solução contendo 3000 ppm de flúor, TMP a 3% forneceu uma remineralização significativamente maior em comparação com o flúor sozinho. Favretto et al. (2013)26 também realizaram um estudo in vitro com dentes bovinos com o objetivo de investigar a eficácia da adição do TMP em enxaguatórios bucais em inibir a desmineralização do esmalte. Nessa pesquisa, as soluções para bochecho com 100 ppm de flúor com 0,4% de TMP foram superiores às soluções contendo 225 ppm de flúor em inibir a desmineralização do esmalte. Estudos clínicos longitudinais Um estudo clínico, de três anos de acompanhamento, com crianças em idade escolar utilizando TMP como aditivo em goma de mascar produziu reduções significativas nos incrementos de cárie dentária na superfície proximal em comparação a um grupo sem goma de mascar. As reduções foram de 23,3% para o grupo de goma de sacarose com TMP e 47,6% para o grupo do TMP sem sacarose quando comparados com o grupo que não utilizou a goma de mascar.27 Quando avaliado clinicamente o efeito anticárie de um dentifrício contendo TMP a 3% (teste) comparado a um dentifrício sem flúor (controle) e sem TMP em um protocolo duplo-cego com 2500 crianças, os resultados mostraram diferença estatisticamente significante entre o dentifrício teste e controle, mostrando uma eficácia do dentifrício teste após três anos de acompanhamento.28 O’Mullane et al. (1997)29 testaram a hipótese de que o efeito anticárie dos dentifrícios contendo 1500 ppm de flúor era maior do que aqueles contendo 1000 ppm F, e que a inclusão de TMP melhora a eficácia do dentifrício fluoretado. Após três anos, o incremento de cárie para os indivíduos usando 1500 ppm de flúor foi 6% menor que para os dentifrícios com 1000 ppm F. Não houve diferença significativa entre a média de incremento para aqueles que utilizam dentifrício com ou sem TMP. DISCUSSÃO Este estudo teve como objetivo avaliar o efeito anticárie da adição de TMP aos compostos fluoretados para prevenção e tratamento de cárie. A literatura ainda é limitada com relação às evidências sobre este efeito, pois predominam os estudos in vitro e in situ. Alguns estudos utilizam dentes hígidos e testam o efeito preventivo dessas formulações21,23,24, outros utilizam amostras de dentes previamente desmineralizadas e avaliam o seu efeito remineralizador.22,25 Os estudos de Takeshita et al. (2009)20, Delbem et al. (2010)21 e Hirata et al. (2013)22 mostraram que dentifrícios com baixas REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):147-50 Jonas Rodrigues e Michele Diniz.indd 149 149 20/05/16 18:19 SCHOLZ C; OLIVEIRA RS; DINIZ MB; LUSSI A; RODRIGUES JA concentrações de flúor (450-500 ppm F) têm eficácia semelhante a dentifrícios com 1100 ppm de flúor após a adição de TMP. Também foi demonstrado nos estudos de Castro et al. (2015)23 e Danelon et al. (2015)11 que quando adicionado a dentifrícios convencionais (1000 ppm F), o TMP pode melhorar seu efeito anticárie. Quando adicionado a vernizes fluoretados, o TMP também levou a um melhor efeito remineralizador no tratamento de lesões de cárie iniciais, tanto em estudo in vitro6 quanto em estudo in situ.25 Quanto à adição do TMP a soluções para bochechos, os estudos in vitro de Takeshita et al. (2011)10 e Favretto et al. (2013)26 observaram que o TMP associado ao flúor pode favorecer uma desmineralização significativamente menor em comparação ao flúor sozinho na prevenção de lesões de cárie. Entretanto, cabe ressaltar que a extrapolação destes resultados disponíveis para as situações clínicas não é possível. As evidências clínicas apresentam metodologias limitadas. Uma delas28 avaliou o efeito no incremento de cárie do TMP quando associado a um dentifrício sem flúor. Isto vai de encontro com os resultados dos trabalhos laboratoriais, visto que o efeito anticárie do TMP tem sido avaliado em compostos fluoretados. Outro ponto importante a ser considerado é o fato de não haver estudos que tenham avaliado possíveis efeitos adversos do acréscimo de TMP aos compostos fluoretados. Além disso, não existem dados disponíveis sobre a relação custo/benefício da utilização do TMP para o controle da cárie dentária. CONCLUSÃO O TMP parece aumentar o efeito anticárie dos compostos fluoretados, o que pode ser de grande importância para os grupos de indivíduos que ainda apresentam atividade de doença. Porém, faltam estudos que esclareçam seu mecanismo de ação, bem como, trabalhos que demonstrem clinicamente seu efeito anticárie para justificar a sua fabricação e indicação na prevenção e tratamento das lesões de cárie. APLICAÇÃO CLÍNICA Os resultados dos estudos observados nesta revisão de literatura apontam para um potencial efeito do trimetafosfato de sódio associado a compostos fluoretados de uso tópico, como dentifrícios, vernizes e soluções para bochechos no controle da cárie dentária. Acredita-se que se os resultados forem comprovados clinicamente em longo prazo, o trimetafosfato de sódio estará disponível no mercado e será um importante produto para ser indicado para indivíduos com alto risco à cárie dentária. REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 150 Marinho VC, Higgins JP, Logan S, Sheiham A. Topical fluoride (toothpastes, mouth rinses, gels, varnishes) for preventing dental caries in children and adolescents. Cochrane Database Syst. Rev 2003;(4):CD002782. Walsh T, Worthington HV, Glenny AM, Appelbe, Marinho VC, Shi X. Fluoride toothpastes of different concentrations for preventing dental caries in children and adolescents. Cochrane Database of Syst. 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Visando aumentar a percepção de Cirurgiões-Dentistas a respeito de vantagens do uso desses softwares como ferramenta de diagnóstico por meio da geração e análise de reconstruções 3D, procuramos introduzir a metodologia da análise computacional em exames de imagem processadas por softwares livres. Adicionalmente, cinco softwares de segmentação e reconstrução 3D serão apresentados. Clarissa Lin Yasuda – Pesquisadora visitante da Divisão de Neurologia, Departamento de Medicina e Odontologia, Universidade de Alberta, Edmonton, Canadá Ana Carla Raphaelli Nahás-Scocate - Professora associada dos cursos de graduação e pós-graduação em Odontologia, disciplina de Ortodontia, da Unicid Autor de correspondência: Ana Carla Raphaelli Nahás-Scocate Unicid/ Faculdade de Odontologia/ Departamento de Ortodontia e Radiologia Rua Cesário Galeno, 448/475 Tatuapé - São Paulo - SP 03071-000 Brasil [email protected] Descritores: software; tomografia computadorizada; ressonância magnética; imagens ABSTRACT Free softwares are computer programs, available for free in the internet, provided to the users to execute without cost, in other words, without the necessity to pay the copyright license. Aiming to enhance the dentists’ perception related to the advantages of using these softwares as diagnostic tool through 3D analysis, we are introducing methodologies of computer analysis in images processed by free softwares. Additionally, five free softwares of segmentation and 3D reconstruction are presented. Descriptors: software, computed tomography; magnetic resonance; image RELEVÂNCIA CLÍNICA Aperfeiçoamento do diagnóstico odontológico nos dias atuais pela aquisição de imagens tridimensionais, com a utilização de softwares livres para a sua reconstrução. REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):151-5 Ana Carla Nahás-Scocate.indd 151 151 20/05/16 18:20 COSTA ALF; YASUDA CL; NAHÁS-SCOCATE ACR INTRODUÇÃO O progresso na aquisição e processamento de imagens na área da Saúde vem possibilitando o aprimoramento de diagnósticos e tratamentos de doenças. Atualmente, existem à disposição dos profissionais, vários métodos de aquisição de imagens para diagnóstico com técnicas de visualização exploratórias do corpo humano que auxiliam e, muitas vezes, são fundamentais na decisão terapêutica. Assim, o antigo processo de análise de imagens pelo negatoscópio tornou-se obsoleto se comparado às tecnologias atuais.15 Na década de 1970, iniciou-se uma evolução no diagnóstico por imagem com a introdução da tomografia computadorizada (TC) e, posteriormente, da ressonância magnética (RM) que se tornaram essenciais para a prática clínica moderna. Logo, a tecnologia da TC e da RM prosseguiu evoluindo com cortes mais finos e numerosos.2 As imagens costumam ser adquiridas em planos axiais e juntas constituem um volume, pois mais de uma fatia é adquirida. A reformatação multiplanar consiste em reapresentar os dados dos volumes por meio de cortes em qualquer direção (sagital e coronal), e não essencialmente a direção axial em que os dados foram adquiridos, proporcionando a 3 capacidade de se gerar imagens dos órgãos alvos com uma riqueza de detalhes inigualada por outros métodos.4,23 Com a atual geração de TC, o surgimento da tomografia computadorizada de feixe cônico (TCFC) e com a evolução das RM, é possível adquirir grande quantidade e máxima resolução de dados volumétricos em poucos segundos15,18, proporcionando imagens com dados em voxel isotrópicos que apresentam resolução idêntica em três dimensões. Estes métodos atuais geram detalhes anatômicos de forma requintada.16 As técnicas de reconstrução de imagem tridimensional (3D) consistem em permitir a aplicação de uma escala de cores e transparência na imagem reconstruída com alta resolução anatômica e incrível riqueza de detalhes, possibilitando as análises de medidas de volume, diâmetros, distâncias e ângulos, por meio de softwares modernos específicos4,15. Portanto, a reconstrução 3D tornou-se rapidamente uma parte vital das ferramentas de visualização utilizadas em uma variedade de procedimentos de diagnóstico em radiologia4. Na Odontologia, destaca-se o planejamento do tratamento virtual em ortodontia, planejamento de implantes, reconstruções do complexo crânio-mandibular e simulações de cirurgias ortognáticas. No passado, a reconstrução 3D era restrita a computadores das chamadas workstations, muito caros e limitados a utilização a profissionais em hospitais. No entanto, com a evolução dos computadores pessoais, é possível ter, em qualquer ambiente de trabalho, um computador tão poderoso como uma workstation destinado a imagens médicas e capaz de manipular imagens com qualidade e velocidade.16 A grande limitação há pouco tempo atrás, era a quase inexistência de um software adequado para a análise de imagens DICOM (Digital Imaging and Communications in Medicine, ou comunicação de imagens digitais em medicina), para computadores 152 pessoais; os poucos disponíveis eram muito onerosos e não acessíveis para o usuário comum.2 A maioria dos fabricantes de equipamentos de TC e RM comercializam, ainda hoje, separadamente os softwares para reconstrução 3D a um preço inacessível para a realidade brasileira.3 Apesar de já existir softwares gratuitos nos dias atuais para esse fim, não apresentando direitos de cópia, o que possibilita seu uso sem custos, eles ainda possuem algumas limitações, com alguns apresentando uma interface gráfica pouco amigável. Outros, só podendo ser executados em plataformas específicas.3,5 A proposta deste artigo é apresentar alguns dos softwares livres de reconstrução 3D disponíveis atualmente e fazer uma comparação entre eles, mostrando as vantagens de cada um no campo da Odontologia, além de expor o processo de trabalho para aquisição de modelos 3D. MÉTODO DE RECONSTRUÇÃO 3D E VISUALIZAÇÃO Para a reconstrução 3D a partir de imagens bidimensionais (2D), deve-se necessariamente: 1- adquirir as imagens; 2- realizar a segmentação das mesmas, de tal forma que as estruturas de interesse sejam identificadas e separadas; 3- remover os contornos destas áreas segmentadas; e a partir dos contornos alinhados, 4- gerar o modelo 3D e a posterior visualização e cálculos de volumes. Segmentação A segmentação consiste em um método para a análise de imagens e tem como finalidade a separação das regiões mediante propriedades de descontinuidade e similaridade, como por exemplo, nível de cinza, e a definição precisa de sua extensão espacial (delineamento). A precisão da segmentação determina o sucesso ou falha de um sistema de análise computadorizada8. Existem três técnicas de segmentação20: a) Na segmentação baseada em regiões, avalia-se o conteúdo dos pixels da imagem, definindo regiões por inclusão dos pixels que contenham propriedades na mesma escala de cinza. b) Na segmentação baseada em contorno, considera-se a definição geométrica dos elementos da imagem. c) Na segmentação por textura, avaliam-se regularidades e repetição de características, como cor e luminosidade, para critério de diferenciação de uma região. A segmentação é também dividida quanto ao papel do usuário no processo, definindo assim três grupos13, 21: a) manual: o operador indica a área que deve ser incluída na região de interesse. b) automática: o software escolhe os pixels baseando-se num conjunto de regras previamente determinadas (associada à identificação de grupos de pixels ou áreas da imagem). Neste método, existe menor interação operador/computador. c) semiautomática: os métodos de segmentação manual e automática são associados, isto é, automatizando parte do processo e deixando que o operador ajude com sua experiência e bom senso. Consiste em fornecer informação inicial acerca da região de interesse permitindo ao operador conduzir o processo de segmen- REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):151-5 Ana Carla Nahás-Scocate.indd 152 20/05/16 18:20 Imaginologia tação. Qualquer falha ainda inserida pelo processo de segmentação automática pode ser ajustada manualmente. Reconstrução 3D e obtenção do volume As reconstruções 3D geradas a partir das diversas técnicas de imagem podem ser pós-processadas de diversas formas, para melhor demonstração de diagnóstico e de suas relações com os elementos circunvizinhos. Permite-se desta forma, uma melhor visão espacial do que a fornecida pelos cortes axiais. 5 Inicialmente, essa tecnologia foi aplicada na área da Medicina, não sendo empregada com assiduidade na Odontologia, dado o elevado custo e complexidade dos softwares. Há 20 anos, com o surgimento da TCFC, propiciou-se a difusão de softwares de visualização 3D de imagens médicas na área odontológica, fornecendo equipamentos mais baratos.6,7 O emprego desses softwares é apresentado como um recurso de grande acurácia e precisão1, pois o volume numérico gerado representa o volume ocupado da estrutura anatômica estudada, significando o número de voxels contidos naquele limite de interesse.22 Como em qualquer processo de imagens médicas, as reconstruções em 3D precisas e confiáveis devem seguir alguns critérios9,11,12,18: • A distância entre os cortes não pode exceder 1 mm, já que cortes muito espaçados impossibilitam a criação volumétrica (quanto maior é a espessura do corte, mais a imagem estará sujeita à presença de artefatos de volume parcial). • Campos de visão e centros de exibição idênticos devem ser utilizados em todas as imagens da série escaneada. • O voxel deve ser isotrópico. Softwares Livre de Imagens O domínio público da tecnologia de um software de imagens médicas pode reduzir custos, homogeneizar o uso multicêntrico, possibilitar progresso contínuo e promover o desenvolvimento de diversas linhas de pesquisa.10 Os requisitos básicos de um software livre são19: • Deve ser livremente disponível para download na internet; • Deve possuir funções avançadas, além da simples exibição de imagens no monitor; • Deve apresentar uma interface gráfica acessível e entendível para o usuário, permitindo a interação do operador com o software; • Deve ser de fácil instalação, sem a necessidade de outros programas. A seguir, serão apresentadas as informações principais sobre alguns dos softwares de imagem disponíveis para download na internet para computadores pessoais e que podem ser usados na Odontologia. Ademais, serão evidenciadas algumas funções que devem estar presentes em um software de imagem de reconstrução 3D, destacando seus pontos fortes. Vale ressaltar que todos possuem visualização automatizada, análise e quantificação de imagens. Invesalius Software livre (Figura 1) desenvolvido no Brasil pelo Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer – CTI. Seu site está hospedado no Portal do Software Público (http://svn. softwarepublico.gov.br/trac/invesalius/wiki/InVesalius/pt/ Download). O software opera nas plataformas Linux, Windows, Linux e Ap- FIGURA 1 Segmentação (em vermelho) de carcinoma espinocelular de base de língua no software Invesalius usando imagens de TC, sendo mostrada nos cortes axial, sagital, coronal e modelo virtual 3D REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):151-5 Ana Carla Nahás-Scocate.indd 153 153 20/05/16 18:20 COSTA ALF; YASUDA CL; NAHÁS-SCOCATE ACR ple Mac OS X, e obtém imagens 2D, provenientes de equipamentos como TC e RM e gera modelos 3D correspondentes às estruturas anatômicas e renderização volumétrica e segmentação semiautomática e manual. O programa tem sido utilizado em diversas áreas da Saúde e os protótipos biomédicos, na resolução de diferentes casos cirúrgicos. ITK/SNAP Software que fornece métodos de segmentação (Figura 2) manual, semiautomático e automático de contorno ativos. Possui um grande número de funcionalidades de apoio e segmentação nos três planos ortogonais de uma só vez e uma interface com visual primoroso e amigável para operação. Sua execução permite download (www.itksnap.org) nas plataformas Windows, Linux e Apple Mac OS X. FIGURA 3 Interface do software OsiriX com imagem de TC de crânio em 3D 3D Slicer O 3D Slicer foi desenvolvido pelo “Surgical Planning Laboratory” do “Brigham and Women’s Hospital”, pertencente à “Harvard Medical School”, em conjunto com o “Artificial Intelligence Laboratory” do “Massachusetts Institute of Technology” (MIT). Este software foi elaborado para análise (registro e segmentação interativa) e visualização (abrangendo renderização de volume) de imagens médicas para pesquisas, possuindo uma interface muito intuitiva (Figura 4). É compatível para download (http://www.slicer.org/) em vários sistemas operacionais: Linux, Apple Mac OS X e Windows. FIGURA 2 Reconstrução 3D do disco articular (verde) e da cabeça da mandíbula (vermelho) em imagens de RM por meio do software ITK/SNAP OsiriX O software OsiriX é considerado um dos melhores softwares de imagem médica (www.osirix-viewer.com), com inúmeras funções e ferramentas. As reconstruções 3D podem ser rotacionadas em qualquer plano e esmiuçada virtualmente empregando-se ferramenta de corte, podendo ser realizada em qualquer direção ou angulação (Figura 3). Contudo, este software está disponível apenas para o sistema operacional Apple Mac OS X. 154 FIGURA 4 Reconstrução volumétrica de uma TCFC da mandíbula por meio do software 3D Slicer ImageJ O ImageJ é um software livre e de código aberto (http:// rsb.info.nih.gov/ij/) desenvolvido com a ajuda dor NIH (National Institutes of Health). Sua funcionalidade pode ser expandida pelo uso de plugins escritos em Java. Esses plugins podem adicionar suporte para novos formatos de arquivos e reconstruções. Sua interface é bastante interessante, tra- REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):151-5 Ana Carla Nahás-Scocate.indd 154 20/05/16 18:21 Imaginologia FIGURA 5 Interface do software ImageJ com uma reconstrução 3D de TCFC da mandíbula na janela central com filtro ósseo tando-se de uma barra horizontal onde se encontram vários ícones (Figura 5). Este software está disponível para as plataformas Windows, Mac OS X e Linux. CONCLUSÕES Nossas inovações levaram a um progresso inédito nos últimos 50 anos, apoiadas na chegada de tecnologias, aprimorando constantemente os diagnósticos e planos de tratamento na área da saúde. A imaginologia odontológica vem sendo favorecida neste âmbito, principalmente pela aquisição de imagens em 3D e utilização de softwares livres para a sua reconstrução. Os softwares livres apresentam inúmeras vantagens como: custo zero para licenças e atualizações; modernizações frequentes, mantendo a segurança de dados; flexibilidade e interoperabilidade facilitando a implementação de interfaces que permitem a troca de dados entre diferentes programas e funções; e incentivo ao desenvolvimento tecnológico. O software livre pode e deve se tornar um novo modelo de partilhar informação e conhecimento, constituindo um novo padrão na Imaginologia. REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. Adams, Gregory L. Gansky, Stuart A. Miller, Arthur J.; Harrell, William E.; Hatcher, David C. 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REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):151-5 Ana Carla Nahás-Scocate.indd 155 155 20/05/16 18:21 Revisão de literatura SCUTTI JAB; PINEDA M;(convidado) EMERICK JR E; ALMEIDA ER Carcinoma de células escamosas de cabeça e pescoço (HNSCC): desvendando os mistérios do microambiente tumoral Recebido em: mar/2016 Aprovado em: abr/2016 Head and neck squamous cell carcinoma (HNSCC): unmasking the tumor microenvironment Jorge Augusto Borin Scutti – PhD, RESUMO Este artigo refere-se à uma revisão sobre o carcinoma de células escamosas de cabeça e pescoço (HNSCC), o qual está envolvido em cerca de 90% dos cânceres de cabeça e pescoço, originado do revestimento escamoso da superfície das mucosas do trato aerodigestivo superior, incluindo cavidade oral, faringe, laringe e trato sinonasal. Atualmente, o HNSCC apresenta-se como o sexto tipo de câncer mais comum no mundo, sendo que apenas 50% dos pacientes permanecem vivos por 5 anos, após o diagnóstico. Devido à sua distribuição acelerada e alta prevalência, este tipo de câncer tornou-se, nas últimas décadas, uma das principais ameaças para a saúde pública. Seu desenvolvimento e progressão vem ganhando um destaque especial, considerando-se as novas descobertas relacionadas à instabilidade no cerne da genômica e epigenômica, metabolômica, remodelamento celular e fatores de risco associados, principalmente com o envolvimento de infecções virais e, mais recentemente, aos aspectos imunológicos inerentes ao microambiente tumoral (TME), principalmente o perfil celular (fibroblastos associados ao câncer, linfócitos T reguladores, linfócitos e macrófagos com perfil imunossupressor Th2 e M2, respectivamente e neutrófilos associados ao tumor) e o perfil humoral (quimiocinas, citocinas imunossupressoras tais como TGF-B, IL-13, IL-10, proteínas responsáveis pela quebra da matrix extracelular–metaloproteases e fatores que contribuem para o desenvolvimento e progressão tumoral mediados pela angiogênese, tais como EGF e VEGF). Nos próximos anos, a compreensão da imunobiologia do HNSCC será paralelamente acompanhada de importantes avanços na detecção precoce de pacientes de alto risco, baseada na identificação de biomarcadores, na manipulação do sistema imune e na compreensão da farmacogenômica. Estratégias baseadas na imunoterapia, as quais têm sido utilizadas com sucesso em diversos tipos de câncer, podem contribuir positivamente para a reeducação de alguns componentes do microambiente e reduzir as graves consequências associadas a este tipo de malignidade. Research Scientist MD Anderson Cancer Center, Departament of Immunology, Houston, Texas, EUA Mariana Pineda - BSc, Research Assistant MD Anderson Cancer Center, Departament of Immunology, Houston, Texas, EUA Enos Emerick Jr - BDS, Aluno do Curso de Especialização em Implantodontia, Faculdades Metropolitanas Unidas/FMU-Laureate, São Paulo, SP, Brasil Eliete Rodrigues de Almeida - PhD, Docente do Programa de Pós-graduação em Odontologia, Universidade Cruzeiro do Sul, São Paulo, SP, Brasil Autor de correspondência: Jorge Augusto Borin Scutti 7455 Fannin, 1SCR3.3020 Houston, Texas 77054 [email protected] Descritores: carcinoma de células escamosas de cabeça e pescoço (HNSCC); microambiente tumoral; imunoterapia ABSTRACT This article refers to a review about head and neck squamous cell carcinoma (HNSCC), which involves about 90% of all head and neck cancers, originated from the squamous lining of the upper aero digestive tract, including the oral cavity, pharynx, larynx and sinonasal tract. Currently, it is known as the 6th most common cancer in the world and only 50% of patients will remain alive for 5 years post-diagnosis. Due to its accelerated spreading and its high occurrence, this kind of cancer has become, in the last decades, one of the major threats to public health. Its development and progression has been gaining special attention, considering the new findings associated to the core instability of genetic and epigenetic, metabolomics, cellular remodeling and associated risk factors, especially with the involvement of viral infections and, more recently, to the immunological aspects inherent from the tumor microenvironment (TME) particularly cell profiles (fibroblast associated with cancer, regulatory T cells, lymphocytes, and macrophages with immunosuppressive profile Th2 and M2, respectively, and neutrophils associated with tumor) and humoral profile (chemokines, immunosuppressive cytokines such as TGF-B, IL-13, IL-10, proteins responsible for the breakdown of extracellular matrix- metalloproteinase and factors that contribute to the development and tumor progression mediated by angiogenesis, such as EGF and VEGF). In the upcoming years, understanding the immunobiology of head and neck squamous cell carcinoma will be accompanied simultaneously by important advances in the early detection of high-risk patients, based on the identification of biomarkers, on the manipulation of the immune system and on the understanding of the pharmacogenomics. Strategies based on immunotherapy, which have been successfully used in numerous types of cancer, can contribute positively to the rehabilitation of some microenvironment components and reduce the serious consequences associated with this type of malignancy. Descriptors: head and neck squamous cell carcinoma (HNSCC); tumor microenvironment; immunotherapy 156 REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):156-63 Eliete Almeida Rodrigues.indd 156 23/05/16 15:32 Patologia Bucal RELEVÂNCIA CLÍNICA Abordar o papel do microambiente tumoral no contexto do carcinoma de células escamosas de cabeça e pescoço (HNSCC) e as futuras estratégias terapêuticas que podem ser úteis para a melhora clínica dos pacientes, aumento da sobrevida e possível erradicação da mesma. INTRODUÇÃO O câncer de cabeça e pescoço refere-se a um grupo de cânceres biologicamente similares, os quais afetam principalmente os lábios, cavidade oral (boca), cavidade nasal, faringe, laringe e seios paranasais.1 É considerado um dos cânceres mais agressivos e invasivos. Histologicamente, cerca de 90% de todos os casos de câncer de cabeça e pescoço caracterizam-se como carcinomas de células escamosas de cabeça e pescoço (HNSCC).2 Os principais sítios anatômicos acometidos nesse grupo de neoplasias constituem a cavidade oral (mucosa bucal, gengiva, palato duro, lingual e assoalho de língua); a faringe (orofaringe, nasofaringe e hipofaringe); a cavidade nasal e os seios paranasais; a laringe glótica, supraglótica e glândulas. Cerca de 40% das lesões ocorrem na cavidade oral, 15% na faringe, 25% na laringe e os 20% restantes estão distribuídos nos demais sítios.3 Apesar do amplo espectro das abordagens terapêuticas, incluindo a quimioterapia pré ou pós-operatória e/ou radioterapia associada à cirurgia reconstrutiva, pacientes com HNSCC não obtém melhora significativa e a sobrevida após 5 anos de diagnóstico ainda não é satisfatória.4 Os insucessos dessas estratégias baseiam-se principalmente na reincidência loco regional ou devidos as constantes metástases em linfonodos cervicais, marca registrada deste tipo de câncer.5 Historicamente, a alta taxa de reincidência local levou à criação em meados dos anos de 50, dos termos conhecidos como condenação da mucosa ou campo de cancerização. Estes conceitos não só evidenciaram a dificuldade do tratamento, mas também enfatizaram a complexidade com que o HNSCC se desenvolve.6 Fenotipicamente, o HNSCC exibe um perfil agressivo de malignidade caracterizado principalmente pelo extensivo potencial de invasão aos tecidos adjacentes e sítios de metástases para órgãos distantes mesmo em estágios precoces. Aproximadamente 560.000 novos casos de HNSCC e cerca 300.000 mortes são reportadas anualmente em todo o mundo.7,8 É amplamente aceito que a presença de metástases linfáticas tornou-se um fator de prognóstico negativo para pacientes com HNSCC.9 Com o intuito de determinar o estágio da progressão, o desenvolvimento tumoral e as estratégias terapêuticas a serem abordadas no futuro, dados clínicos radiológicos, parâmetros histológicos e marcadores moleculares são de fundamental importância para a caracterização do HNSCC. Como resultado, vários marcadores moleculares mostram-se caracterizados e associados a esta neoplasia. As alterações iniciais nas células epiteliais nos casos de HNSCC são primariamente resultantes da transformação celular associadas as propriedades químicas do tabaco, álcool e mais recentemente pela associação de vírus oncogênicos, tais como HPV (Papiloma vírus humano) principalmente HPV16, HPV18, pela ação das proteínas E6 e E7 além do HPV 31.10 Dentre as alterações canônicas neste tipo de câncer perfis mutacionais são resultantes da alteração da expressão e funcionalidade do gene TP53. Este padrão molecular está alterado em cerca de 50% das lesões pré-malignas e malignas.11 Este perfil mutagênico está altamente associado com maiores níveis de agressividade e piores prognósticos12, sendo que 95% dos pacientes resistentes à radioterapia desenvolvem este perfil.13 Além disso, a alteração neste gene implica em um desbalanço metabólico tumoral contribuindo com o aumento da glicólise e o metabolismo oxidativo, fatores que auxiliam a lesão celular.14 Além do gene p53 demais genes tais como NOTCH1, EGFR, CDKN2a, STAT3, ciclina D1, proteína do retinoblastoma, p16, p27, p21WAF1/CIP1 e CYP1A1 mostram-se alterados em pacientes com HNSCC.15 As últimas décadas contribuíram muito para a compreensão da biologia do câncer e principalmente quanto aos mecanismos envolvidos na iniciação, desenvolvimento e progessão tumoral. Para que ocorra a tumorigênese, vários fatores são indispensáveis, podendo-se destacar: 1) potencial replicativo imortal; 2) produção de fatores de crescimento; 3) insensibilidade aos fatores anti-crescimento; 4) habilidade de evadir dos mecanismos intrínsecos da apoptose; 5) angiogênese; 6) invasão e metástase.16 Apesar dos avanços nas ferramentas de biologia molecular e a compreensão da instabilidade genética em pacientes com estágios avançados de HNSCC, recentes estudos revelam que não há uma diferença significativa nos acúmulos de mutação de pacientes com ou sem envolvimento metastático. Estas evidências indicam que há outras modificações em questão do que os eventos de mutação propriamente ditos. Assim, a contribuição em favor das metástases oriundas nesses pacientes é uma constante alteração no comportamento das células tumorais e as interações com diversos componentes do estroma no microambiente.17 Neste cenário, um dos aspectos mais relevantes é de que forma o sistema imunológico, seus produtos e demais células não tumorais podem contribuir de maneira direta com o desenvolvimento e progressão do câncer. Damos o nome de microambiente do câncer ou simplesmente microambiente tumoral, o conjunto de células não-tumorais presentes no próprio tumor que de alguma maneira fornecem aporte para o desenvolvimento e progressão do mesmo. Fazem parte deste contexto os fibroblastos, células do sistema imune e seus produtos além de células que compõem os vasos sanguíneos. Ele também inclui as proteínas produzidas por todas as células presentes no tumor que suportam o crescimento das células tumorais. Nesse artigo iremos abordar o papel do microambiente tumoral no contexto do carcinoma de células escamosas de cabeça e pescoço (HNSCC) e as futuras estratégias terapêuticas que podem ser úteis para a melhora clínica dos pacientes, aumento da sobrevida e possível erradicação da mesma. REVISÃO DE LITERATURA Microambiente e mecanismos de imunoedição em pacientes com HNSCC A compreensão do envolvimento do sistema imunológico e do câncer é recente. Lloyd J. Old18, considerado o pai da imunologia tumoral foi o primeiro pesqusiador à levantar questões imunológicas relacionadas ao câncer na década de 50. Na célebre obra intitu- REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):156-63 Eliete Almeida Rodrigues.indd 157 157 23/05/16 15:32 SCUTTI JAB; PINEDA M; EMERICK JR E; ALMEIDA ER lada “Effect of Bacillus Calmette Guérin infection on transplanted tumours in the mouse” os autores introduziram um novo conceito ao associar a BCG, um método de imunização contra a tuberculose, como uma via inespecífica de gerar uma reposta contra os tumores – estimulação do sistema imune via componentes bacterianos contra a resistência do crescimento e desenvolvimento tumoral. A partir daí, conceitos sobre imunovigilância e imunogenicidade foram ganhando relevância científica nos anos subsequentes. Infelizmente, muito desses conceitos foram sendo abandonados principalmente com o advento da genômica e uma possível cura baseada na expressão gênica de pacientes com câncer. Atualmente a expansão de conceitos inerentes ao sistema imune e sua correlação com o prognóstico de pacientes com câncer vem crescendo exponencialmente e hoje, tratado como indispensável. Os últimos quinze anos foram muito importantes para a compreensão da importância do sistema imune e sua relação direta com o câncer, principalmente pelos experimentos de meta-análise e experimentos realizados em uma diversidade de modelos experimentais deficientes para células e moléculas chaves da resposta imune, tais como linfócitos T e B, granzimas e perforinas, anticorpos, citocinas tais como IFN-γ e TNF-α, fatores de transcrição tais como STAT-1, NFAT, Ap-1, Eomes, Ki67 dentre outros. Estes dados em conjunto revelaram que o sistema imune é, de fato, indispensável para proteger contra o desenvolvimento de cânceres induzidos por carcinógenos químicos e tumores primários. Estas hipóteses tornaram-se fato quando populações específicas de linfócitos T foram encontradas nos infiltrados celulares nas regiões intratumorais de determinados tumores sólidos. No entanto, esses mesmos resultados levantaram uma questão ímpar: por qual razão organismos com sistemas imunes eficientes e responsivos falham em responder especificamente contra os mais variados tipos de câncer? Surge então o conceito de imunoedição, ou seja, mecanismos liderados pelas próprias células tumorais capazes de subverter a resposta imune levando a exaustão e inatividade. Por essa razão, o câncer não pode ser definido apenas como um conjunto de massa provinciana oriunda de um perfil celular transformado que adquiriu o caráter de malignidade ao longo do tempo mas sim como um complexo celular com perfil transformado capaz de induzir a produção de fatores autócrinos capazes de recrutar e subverter células que auxiliam em seu desenvolvimento e progressão, principalmente células do sistema imune além de um arsenal específico de estratégias capazes de ludibriar e inativar sucessivas tentativas de resposta imune específica. As interações entre células malignas e não transformadas criam o que chamamos de microambiente tumoral (TME). As células não-malignas do TME têm uma função dinâmica e muitas vezes induzem fases subsequentes da carcinogênese.18 Essa comunicação é impulsionada por uma rede complexa e dinâmica de citocinas, quimiocinas, fatores de crescimento, enzimas histolíticas, proteínas pró-inflamatórias e remodeladoras da matrix extracelular as quais são capazes de modular diretamente o desenvolvimento tumoral. Dentre os principais componentes do microambiente podemos citar: Linfócitos T e B, macrófagos associados ao tumor (TAM), células Natural Killer (NK) e Natural Killer T (NKT), células mielóides supressoras (MDSC), células dendríticas, fibroblastos associados ao tumor (CFA), neutró158 filos associados ao tumor, células endoteliais vasculares, linfáticas e pericitos, além dos fatores secretados tais como: metaloproteases (MMP2, MMP9, MMP13), radicais de oxigênio (ROS), fator de crescimento endotelial vascular (VEGF), fator de crescimento derivado de plaquetas (PDGF), fator de crescimento fibroblástico, quimiocinas (CXCL8, CXCL1), citocinas (IL-10, IL-13, IL-12, TGF-B, TNF-a, IL-1, GM-CSF, IL-4, IL-6) e enzimas histolíticas (proteases, colagenases, hialuronidades e elastases).19 Poucos trabalhos ainda configuram no papel do microambiente tumoral, porém uma qualidade científica revela que o microambiente está marcantemente envolvido no desenvolvimento e progressão de pacientes com HNSCC, assim como na aquisição de resistência as diversas estratégias de quimioterapia. Diversas evidências ainda apontam para os efeitos imunomoduladores em pacientes com HNSCC principalmente no que se refere à imunoedição do TME. A figura 1 sumariza os eventos do TME em pacientes com HNSCC. Fibroblastos Fisiologicamente, o revestimento escamoso da mucosa no trato aerodigestivo é organizado em distintos compartimentos: camada superior de células epiteliais escamosas ou respiratórias diferenciadas, uma camada epitelial basal, a membrana basal subjacente e a camada estromal. Os fibroblastos são abundantes no estroma e são elementos primários na secreção de proteínas estruturais, tais como colágeno e laminina, além de produzirem citocinas e sinais parácrinos. Os fibroblastos associados ao tumor (CAFs) no microambiente do HNSCC são os mais críticos, distribuídos como fibroblastos fenotipicamente alterados e participam ativamente do processo de tumorigênese promovendo crescimento e metástases.8 Mutações no gene TP53 em células de HNSCC favorecem o recrutamento e a migração de CAFs para o microambiente tumoral enquanto a expressão intacta do mesmo gene fornece sinais supressores para esta migração. Os CAFs estão diretamente envolvidos com o desenvolvimento do HNSCC através da expressão de proteínas contráteis as quais são ativadoras de seu fenótipo transformado, apresentando frequentemente um acúmulo de actina do músculo liso alfa (α-SMA), característico da diferenciação miofibrástica (MF).20 No microambiente do HNSCC, os fibroblastos associados ao tumor adquirem o fenótipo MF e estão associados com uma densa deposição de colágeno e desmoplasia estromal. A resposta a esta desmoplasia é considerada um marcador específico da progressão do câncer, uma vez que a secreção e reestruturação das proteínas ECM (proteínas da matriz extracelular) direcionam a invasão celular por vias proteolíticas, além de estimularem a criação de cursos para a degradação independente da proteólise. Fibroblastos são especializados para exercerem estas tarefas e, assim, podem contribuir para a degradação e rearranjo de uma variedade de proteínas da matriz extracelular, incluindo colágeno tipo I e IV, laminina e fibronectina.21 A expressão da integrina α6 é outro marcador na caraterização de CAFs no microambiente do HNSCC, uma molécula crítica na adesão e sinalização celular. Esta integrina é responsável pela ligação dos CAFs na membrana basal, principalmente pela conexão com a laminina, e é capaz de induzir a degradação da mesma mediada pela proteólise. Diversos trabalhos evidenciam que os CAFs fornecem sinais pró tumorigênicos favore- REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):156-63 Eliete Almeida Rodrigues.indd 158 23/05/16 15:32 Patologia Bucal FIGURA 1 Microambiente tumoral e fatores que contribuem para à progressão e desenvolvimento do HNSCC. Legenda: DC – células dendríticas; TAM – macrófagos associados ao tumor; Treg – células T reguladoras; MDSC – células mieloides supressoras; CTNH – células transformadas em condições de normóxia; CTPH – células transformadas em condições de hipóxia; FBST – fibroblastos; NK – células Natural Killer cendo um aumento no desenvolvimento e na progressão do HNSCC, através da estimulação da proliferação de células tumorais e por contribuírem com a angiogênese, potencial migratório e invasivo. Além disso, CAFs podem modular a sensibilidade a uma série de drogas e este fato poderia explicar a resistência de células resistentes às diversas estratégias quimioterápicas.22 Infiltrado de células T A resposta imune contra tumores sólidos pode ser evidenciada pelos mecanismos de imunovigilância - presença do infiltrado de células T (TIL). No entanto, as neoplasias são caracterizadas por possuírem um microambiente altamente supressivo, o qual impede, em um primeiro momento, não só a função das células T efetoras, como também promove crescimento, migração e invasão de células tumorais. Muitos casos de sucesso hoje alcançados pelas estratégias terapêuticas se devem ao fato da elucidação do microambiente tumoral e uma resposta imunológica pré-existente, capaz de potencializar os efeitos da quimioterapia e radioterapia. Os linfócitos infiltrantes do tumor geralmente representam uma resposta imune específica do hospedeiro dirigido contra antígenos expressos nas células do tumor. Em particular, linfócitos T citotóxicos CD8+ (CTL) são considerados como sendo as principais células efetoras dirigidas contra células tumorais. Esta noção é suportada pela observação de que TIL citotóxicos é um indicador de prognóstico positivo em certos carcinomas, enquanto que células T reguladoras infiltrantes tumorais (Treg) estão associadas com prognóstico desfavorável. Em casos avançados de HNSCC é possível observar que há uma redução significativa dos linfócitos citotóxicos específicos e um aumento dos linfócitos T reguladores com perfil imunossupressor. Strauss et al. (2007) demonstraram através da análise de linfócitos T infiltrantes de pacientes com HNSCC assim como de PBMC no sangue periférico um aumento significativo na expressão de uma população ímpar de linfócitos T reguladores CD4+ CD25+ Foxp3+ secretando IL-10 e TGF- β1.23 Além disso, outros fatores contribuem para com o perfil imunossupressor em pacientes com HNSCC no microambiente tumoral, como por exemplo: ausência ou redução da expressão de moléculas chaves tais como CD3α, redução da proliferação e inativação específica de linfócitos efetores, desbalanço do perfil de citocinas que favorecem a expansão clonal de linfócitos T CD8+, indução da apoptose mediada pela expressão de Fas, redução da expressão de moléculas de MHC de classe I devido o aumento da produção de gangliosídeos, aumento da expressão de checkpoints tais como CTLA-4 e PD1 - além da expressão de seus ligantes tais como PD-L1 e PD-L2. A evasão tumoral pode ocorrer através da expressão elevada de PD-L1.24 Recentes estudos indicam que PD-L1 é expresso em 50% a 60% dos casos de HNSCCs e que a infiltração do tumor por células T reguladoras positivas para a expressão de PD-1 podem ser mais comum para os casos relacionados ao HPV do que aos demais fatores. Jie et al. (2015) observaram um aumento na expressão de CTLA-4 e PD-1 em células Treg intratumorais quando comparadas às amostras de sangue periféricos correspondentes a 27 pacientes com HNSCC. Estes dados apoiam fortemente a ideia da possível inibição futura destes checkpoints via imunoterapia.25 Considerando que HNSCC expressam moléculas inibidoras do sistema imunológico e secretam fatores supressores, torna-se indispensável o desenvolvimento de protocolos multiespectrais, a fim de avaliar o caráter imunológico do microambiente tumoral, a partir de técnicas de imunohistoquímica, imunoflourescência e citometria de fluxo. Células dendríticas (DC) Células dendríticas são essenciais para a geração de uma resposta imune específica e de memoria, principalmente por serem capazes em reconhecer antígenos oriundos de HNSCC, processar, apresentar e serem fundamentais na maturação do repertório de células T. Porém, quando estas células são expostas à concentrações de TGF-β e IL-10, fornecidas no TME de pacientes com HNSCC, são REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):156-63 Eliete Almeida Rodrigues.indd 159 159 23/05/16 15:32 SCUTTI JAB; PINEDA M; EMERICK JR E; ALMEIDA ER capazes de induzir a tolerância imunológica periférica e a diferenciação de linfócitos T CD4+ em células T reguladoras.26 Infelizmente, a heterogeneidade e número de subpopulações de DC envolvidas no HNSCC cria dificuldades na obtenção de dados concisos. Macrófagos Macrófagos pertencem à linhagem mieloide da diferenciação do sistema imune, e estes, são caracterizados por participarem ativamente das respostas imunes em relação a endocitose de micro-organismos assim como debris celulares. Também podem ser encontrados como fazendo parte do microambiente tumoral contribuindo principalmente para a progressão tumoral e metástase em nível de linfonodos. Macrófagos associados aos tumores (TAM) estão presentes em uma variedade de tumores e são comumentes encontrados em pacientes com HNSCC e podem ser classificados como macrófagos pró-inflamatórios (M1) e supressores (M2). Sabidamente, M1 contribuem com respostas imunes anti-tumorais, via produção de uma série de citocinas pró-inflamatórias, tais como IL12, IL-23 e IFN-y, ao passo que macrófagos M2 podem ser encontrados distribuídos próximos ao endotélio vascular e são caracterizados pela produção de fatores pró angiogênicos e uma série de citocinas anti-inflamatórias tais como IL-10 e TGF-β. Os macrófagos M2 também estão relacionados com o remodelamento tecidual, além de inibirem os efeitos citotóxicos mediados pelos M1.27 Lago Costa et al. (2013) demonstraram um aumento no perfil de macrófagos produzindo TGF-β no TME. Além da produção deste perfil de citocinas, esta população de macrófagos foi capaz de secretar ROS, RNS e prostaglandinas, todas relacionadas em contribuir com a inflamação e tumorigênese.28 TAMs em pacientes com HNSCC também são capazes de produzir MIF (fator inibidor da migração de macrófagos), uma citocina inflamatória que estimula a quimiotaxia de neutrófilos. MIF recruta neutrófilos aos sítios tumorais via CXCR2, em um mecanismo claramente envolvido na migração e invasividade. Além disso, esses neutrófilos podem contribuir para a progressão tumoral principalmente pela indução da angiogênese via MMP9, VEFG e HGF. TAMs ainda contribuem com o crescimento, desenvolvimento, migração e invasão de células de HNSCC por secretarem EGF. Curiosamente, células de HNSCC aumentam o recrutamento, a diferenciação e a proliferação de macrófagos no TME por secretarem CFS-1. Em resposta à secreção de fatores parácrinos, TAMs são capazes de desenvolver podossomos, os quais são capazes de auxiliar as células tumorais no rompimento da membrana basal e acesso ao endotélio vascular ou rede linfática. Estes podossomos são formados na borda das células móveis, contribuindo para a motilidade celular e adesão via ECM. Além disso, estas estruturas podem conter MMP´s, incluindo MMP-2, MMP-9 e MMP-MT1, contribuindo para a degradação proteolítica e a reorganização do ECM. Por fim, TAMs secretam um fator quimiotático conhecido como MIP-3α, capaz de induzir a migração e invasão de células neoplásicas no contexto HNSCC.29 Células supressoras mielóides (MDSC) Células supressoras mielóides (MDSC) foram descritas em sangue periférico, tecido linfóide e TEM e desempenham papel fundamental na atividade imunossupressora de vários tipos de 160 câncer, incluindo HNSCC. MDSC circulantes associados aos estágios avançados de HNSCC (estágios III e IV) estão sendo frequentemente identificados e, assim, representam uma população chave no microambiente para este tipo de neoplasia. Dunddel et al. (2013) avaliaram MDSC de pacientes com HNSCC a partir do infiltrado tumoral, gânglios linfáticos e sangue periférico. Nos três compartimentos avaliados houve uma redução significativa na atividade de linfócitos T independentemente de antígenos tumorais, demonstrando que esse perfil de células MDSC foi capaz de limitar uma resposta imune direcionada contra células T. Interessantemente, em todos esses compartimentos um aumento significativo na expressão de STAT-3 fosforilado com atividade de arginase I também foi evidenciado. Além disso, a direta supressão de células T mediada pelas MDSC também pode ser caracterizada pela diferenciação e expansão de células T reguladoras CD4+ CD25+ Foxp3+ dependente ou independente de TGF-β.30 MDSCs são capazes de suportar neoangiogênese, o crescimento tumoral e metástases. Estas células produziem VEGF (fator de crescimento endothelial vascular), bFGF (fator de crescimento de fibroblastos e HIF-1 (fator inductor de hypoxia 1) além do TGF-β, e a MMP9, já descritos anteriormente, os quais promovem neoangiogênese e criam um ambiente pré-metastático.31 Células Natural killer (NK) e Natural killer T (NKT) Células Natural killer (NK) são um elemento chave do sistema imunológico inato nas respostas contra células neoplásicas, principalmente por apresentarem sua capacidade citotóxica à células que reduzem à expressão de moléculas tais como MHC de classe I, um evento conhecido como missing self. Afim de avaliar os níveis de células NK em sangue periférico Accomando et al. (2013) avaliaram 122 pacientes com HNSCC e observaram uma drástica redução dos níveis de células NK.32 Pouco se sabe sobre a biologia e a participação de células NK no microambiente tumoral, assim como no sangue periférico. Células NKT também parecem desempenhar um importante papel nas repostas imunológicas em pacientes com HNSCC, principalmente mediante as respostas via glicosídeos e CD1d. Apesar de sua biologia ser pouco compreendida, ao que tudo indica, baixos níveis de NKT predizem um pior prognóstico aos pacientes com HNSCC.33 INVASÃO MEDIADA PELAS CÉLULAS DE HNSCC O primeiro passo necessário para transpor a barreira imposta pelas membranas biológicas é o rompimento da membrana basal. A progressão, o desevolvimento e a invasão tecidual de células oriundas do HNSCC necessitam de (1) motilidade, (2) alteração do perfil de aderência e (3) remodelamento da matriz extracelular. Fisiologicamente, a membrana basal não atua somente como uma estrutura física de células epiteliais capaz de delimitação e permeabilidade seletiva, mas também fornece sinais parácrinos que afetam o comportamento cellular, tais como diferenciação e migração. A maior parte desses elementos inclui colágeno tipo IV e fibronectina, os quais se mostram desregulados em HNSCC. As metaloproteases (MMP´s) são os representantes mais importantes de um grupo de enzimas proteolíticas utilizadas pelas células de HNSCC para degra- REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):156-63 Eliete Almeida Rodrigues.indd 160 23/05/16 15:32 Patologia Bucal dar a matriz extracelular e iniciar o processo de invasão. Dentre as MMP´s mais estudadas no microambiente do HNSCC estão MMP-2, MMP-9 e MT-MMP. As duas primeiras são gelatinases e se destacam pela degradação do colágeno do tipo IV e por fazerem parte do processo mais crítico na ruptura da membrana basal, com aumento das MMP-2 e MPP-9, intrinsicamente envolvidas nos processos de metástases e pior prognóstico em pacientes com HNSCC.33 Estruturalmente, a MMP-9 é mais complexa e capaz de degradar uma série de substratos, incluindo elastina, fibrina, laminina, gelatina e colágeno do tipo IV, V, XI e XIV. Anteriormente aos estudos do microambiente tumoral, as MMP foram inicialmente atribuídas como sendo produzidas somente pelas células tumorais, porém, com o advento da imunobiologia dos tumores, hoje sabemos que estas enzimas podem ser oriundas dos CAFs, neutrófilos e macrófagos do TME. Uma vez que as células oriundas do HNSCC atingem o sangue ou vasculatura linfática, estas células devem sobreviver em circulação até que elas atinjam nódulos linfáticos ou outros locais metastáticos. Embora pouco elucidado até o momento, são denominadas células tumorais circulantes (CTC´s). A quantidade de CTC nos casos de HNSCC aumenta significativamente na fase IV, correlacionando-se diretamente com o aumento das metástases e inversamente com a qualidade da resposta terapêutica e sobrevida. Infelizmente, CTC´s de HNSCC ainda não estão bem definidos, porém, podem ser caracterizados tipicamente como células que expressam moléculas epidérmicas (EpCAM), citoqueratina 8 (CK8), CK18 e CK19. Krishnamurthy et al. (2014) demosntraram que a citocina IL-6 foi responsável pelo aumento da sobrevivência e auto-renovação de uma populacão de células caracterizadas como CD44 high ALDH high (aldeído desidrogenase), potencialmente CTC´s e essa mesma população foi responsável pelo crescimento tumoral e mestástases em modelos de xenotransplante. Além disso, essa populacão celular mostrou-se resistente à indução da morte mediada por cisplastina.34 Uma vez que este perfil de células é capaz de induzir a proliferação de células de HNSCC e, consequentemente, de mestástases, novos alvos terapêuticos podem ser criados a fim de reduzir esta população de células ou inibição específica de componentes nestas células. IMUNOTERAPIA PARA HNSCC Uma vez que tumores primários detectados precocemente são removidos ou regredidos via radioterapia com sucesso, pacientes com HNSCC com caráter invasivo e mestastático não possuem a mesma eficácia no caráter terapêutico. Uma vez que o microambiente tumoral foi fortemente caracterizado como uma das principais formas de subversão de células tumorais frente ao sistema imune e seu desenvolvimento e progressão se tornam embasados nesse TME, estratégias que visam em um primeiro momento alterar o perfil do TME e assim induzir uma resposta imune mais ávida e de memória contra o câncer começaram a ser levantadas. Como vimos até aqui, diversas evidências demonstram que indivíduos com HNSCC possuem um desbalanço no perfil de citocinas, disfunção de células T e demais células do sistema imune, marcadores celulares, apresentação de antígenos e fatores de crescimento os quais, em conjunto, corroboram para o perfil de imunosupressão associado à progressão, desenvolvimento e frequentes metástases. Além disso, o microambiente associado à HNSCC revelou papel crítico para a sua progressão, em pacientes com HNSCC. Essas recentes descobertas têm provocado um interesse crescente voltado à imunoterapia, como uma estratégia potencial de tratamento de HNSCC, tornando a imunoterapia uma realidade. Nos Estados Unidos, o FDA (Food and Drug Administration) vem aprovando uma diversidade de estratégias imunoterapêuticas e somente no ano de 2015, 18 diferentes estratégias capazes de modular não só o microambiente tumoral de diversos tipos de câncer, mas também em induzir uma resposta ávida contra eles, foram aprovadas. A imunoterapia foi considerada como o grande avanço da Medicina nos últimos anos e no tratamento de pacientes com câncer. Determinados antígenos estão sendo amplamente estudados, como potenciais alvos na criação de imunizações utilizando células dendríticas para pacientes com HNSCC em diversos estágios, tais como MUC-1, EGFR, RAGE, GAGE, NY-ESO-1 e CEA. Além disso, os bloqueios de determinados receptores (antagonistas) e estimulação (agonistas), mediante anticorpos monoclonais, estão sendo amplamente utilizados em ensaios clínicos. Como exemplos destas terapias destacam-se: o bloqueio dos inibidores de checkpoints (checkpoints inhibitors), tais como PD-1 (Nivolumab e Pembrolizumab) e seus ligantes (PD-L1 e PD-L2) e CTLA-4 (Ipilimumab), anti-EGFR (Cetuximab e Nimotuzumab), anti-EpCAM (Catumaxomab), agonistas de moléculas coestimuladoras tais como OX40, vacinas baseadas em peptídeos específicos, capazes de estimular uma resposta específica, terapia baseada em citocinas, tais como GM-CSF, IL-2, IL-12 e IFN-γ, inibidores de MDSC, terapias baseadas em CAR´s (Chimeric Antigen Receptors) e vírus recombinantes, capazes de produzir GM-CSF e transferência de células T adotivas.35 CONSIDERAÇÕES FINAIS Pacientes com HNSCC, além de apresentarem um desbalanço nos mecanismos celulares e controles do ciclo e comportamento celular apresentam, concomitantemente, falhas importantes em seu sistema imune, incluindo os mecanismos efetores das respostas imunes celular e humoral. As atuais terapias para pacientes com HNSCC carecem de eficácia e ainda podem conduzir a efeitos secundários graves. A imunovigilância é uma estratégia evolutiva em constante permuta, permite que o sistema imunológico possa reconhecer e responder à neoplasias - um conjunto de alterações celulares que culminaram de uma alteração genética e/ou epigenética e conquentemente metabólica. Qualquer alteração que se afaste do padrão de normalidade é passível de eliminação por esse sistema. Essas alterações influenciam no comportamento celular e a resultante deste processo direciona-se à expressão de diversos receptores celulares, sinais de transdução e síntese de proteínas, capazes de estimular o crescimento desse novo perfil celular e sustentar o seu desenvolvilmento. A partir dos antígenos associados aos tumores (TAA), células especializadas, conhecidas como células apresentadoras de antígenos (APC´s), são capazes de reconhecer, processar e apresentar antígenos derivados desses tumores para um braço da imunidade conhecida como adaptativa e, assim, delinear um perfil de resposta baseado em morte celular específica (especificidade) e a longo prazo (memória). Este fato explica a razão de alguns tumores não evoluirem, caracterizados como regressores espontâneos. Atualmente, sabe-se que REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):156-63 Eliete Almeida Rodrigues.indd 161 161 23/05/16 15:32 SCUTTI JAB; PINEDA M; EMERICK JR E; ALMEIDA ER o conjunto celular presente no ambiente tumoral (microambiente), aqui apresentado em caráter descritivo, desempenha um papel fundamental no desenvolvimento, progressão e metástase de diversas neoplasias malignas, especialmente o HNSCC. A imunoterapia pode contribuir, potencialmente, para evitar os efeitos secundários associados com a quimioterapia tradicional e induzir uma memória imunológica que conduz a eficácia de longa duração. A estimulação immune, visando antígenos tumorais de HNSCC e desenvolvimento de vacinas, pode fornecer opções terapêuticas para o futuro. Assim, esta técnica pode interferir nesse contexto e alterar o curso e o desenvolvimento dos pacientes com HNSCC, podendo ser usado em caráter monoterápico ou como adjuvante de outras formas terapêuticas, como quimioterapia e radioterapia. A imunologia de tumores vêm crescendo rapidamente e novas moléculas vem sendo descobertas. Estas por sua vez, auxiliam na compreensão de respostas imunes frente às neoplasias. Há uma necessidade de novas abordagens terapêuticas para pacientes com HNSCC, visto que nos últimos anos nenhum progresso efetivo pôde ser visto em relação à sobrevida desses pacientes (Figura 2). Neste sentido, a imunoterapia pode ser um forte candidato para tal abordagem. No entanto, estudos clínicos testando a eficácia de algumas abordagens têm deixado a desejar, quando comparado com ensaios clínicos para outros cânceres sólidos, como mama, pulmão e colorretal. Estes insucessos podem ser atribuídos às características aqui apresentadas, como o microambiente tumoral, estratégias de inibição da resposta immune, devido aos inibidores específicos e perfil imunossupressor. Sabemos que a presença de linfócitos T CD8+ específicos após o tratamento com inibidores de checkpoint aumenta a eficácia da resposta imune, além da FIGURA 2 Capacidades biológicas inerentes ao HNSCC e possíveis estratégias terapêuticas. A) Indução da sinalização proliferativa; B) Evasão dos mecasnismos supressores; C) Destruição e inativação das respostas imunes efetoras; D) Cascata de oncogenes; E) Inflamação e progressão tumoral; F) Invasão e mestástases; G) Angiogênese; H) Instabilidade genética; I)Resistência de morte celular; J) Desbalanço energético. Todas essas capacidades biológicas podem ser atualmente alvo dirigidas, contribuindo para o sucesso terapêutico. Utilização de inibidores da EGFR (A), Inibidores das quinases dependentes de ciclina (B), utilização de anticorpos monoclonais e estratégias imunoterapêuticas aqui destacadas (C), Inibidores da telomerase (D), drogas com peril anti-inflamatório (E), Inibidores de HGF/c-met (F); Inidiores da sinalização mediada por VEGF (G), Inibidores de PARP (H), drogas indutoras da apoptose (I) e Inibidores da via glicolítica (J) FIGURA 3 A presença de linfócitos T CD8+ específicos para antígenos de HNSCC podem ser indicadores de sucessos terapêuticos quando o microambiente é avaliado 162 REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):156-63 Eliete Almeida Rodrigues.indd 162 23/05/16 15:33 Patologia Bucal sobrevida de pacientes com HNSCC (Figura 3). Assim, novas moléculas têm sido testadas, como possíveis alvos da imunoterapia (Quadro 1), sendo as mais recentes: 4-1BB, GITR, ICOS, TIM-3, LAG-3 e CD28, além dos fatores de transcrição Eomes, T-bet, BLIMP-1 e c-myc. Estas estratégias tornam-se ainda mais promissoras quando acompanhadas pelos avanços da imunobiologia e da biologia do HNSCC. TABELA 1 Recentes estratégias terapêuticas em Imunoterapia (clinical trials) para pacientes portadores de HNSCC Vacina baseada em células dendríticas MAGE-A3 + HPV16 Troiano Fase I Múltiplos peptídeos (LY6K, CDCA1, IMP3) Fase II Peptídeos derivados de p53 Fase I NY-ESO-1 Fase I HPV-DNA Fase I Vacina baseada em células dendríticas Bloqueio dos inibidores de checkpoints e seus ligantes Alvo LMP-1 Estudos pré-clínicos Anti-PD-1 Nivolumab Fase III Anti-PD-1 Pembrolizumab Fase II Epstein Barr Estudos pré-clínicos Alvo CSPG-4 Estudos pré-clínicos Alvo CEA Estudos pré-clínicos Alvo MUC-1 Estudos pré-clínicos Anti-CTLA-4 Fase I Anti- PD-L1 Estudos pré-clínicos Anti-PD-L2 Estudos pré-clínicos Bloqueio de EGFR Citocinas Cetuximab Fase III IL-12 Fase II Nimotuzumab Fase II IL-2 Fase II - IL-2 + GM-CSF Estudos-pré clínicos - IFN-γ Fase III - - REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. 19. KuSafdari Y, Khalili M, Farajnia S, Asgharzadeh M, Yazdani Y, Sadegui M. 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REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):156-63 Eliete Almeida Rodrigues.indd 163 163 23/05/16 15:33 Excelência na Odontologia A internacionalização e a pesquisa odontológica brasileira Internationalization and Brazilian dental research O termo internacionalização é amplo, pode ser interpretado de formas distintas e muitas vezes se confunde com globalização. Segundo Jane Knight, professora doutora do Instituto de Estudos em Educação da Universidade de Toronto (Canadá), e uma estudiosa dos movimentos de internacionalização da educação superior, “a internacionalização está mudando o mundo do ensino superior, e a globalização está mudando o mundo da internacionalização”. A pesquisadora ressalta que a internacionalização vem aumentando na sua abrangência, escala e valor, e que planos estratégicos das universidades, declarações internacionais de cooperação acadêmica e artigos científicos indicam o papel central desempenhado pela internacionalização no mundo atual do ensino superior e da pesquisa (Knight 2004). No Brasil, além do volumoso crescimento, houve uma mudança substancial na internacionalização dentro do cenário acadêmico/científico nas últimas décadas. A concessão de bolsas de estudos no exterior pelos órgãos de fomento é uma boa forma de ilustrar esta trajetória. Entre as décadas de 1950 e 1990 os órgãos de fomento, como o CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e a Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), concederam inúmeras bolsas de estudo para que pesquisadores brasileiros realizassem pós-graduação no exterior. A fase de expansão atingiu um teto entre os anos de 1988 e 1990, quando eram mantidos no sistema cerca de 2.200 bolsistas, sendo a imensa maioria – por volta de 75% - realizando Doutorado pleno no exterior, curso que tem duração de 3 a 4 anos. Isso ocorria porque até aquela época a pesquisa brasileira era fortemente dependente de tecnologias e equipamentos de ponta existentes nos laboratórios, universidades e centros de pesquisa dos países desenvolvidos, como EUA, Canadá e Japão. A partir de meados dos anos 1990, com a volta de muitos daqueles pesquisadores para o Brasil e com o concomitante avanço tecnológico do país, as bolsas de Doutorado pleno foram reduzidas, dando lugar a uma outra modalidade de fomento, o Doutorado “sanduíche”, em que o pesquisador realiza apenas uma parte do seus estudos no exterior. Além do tempo de estágio no exterior ser menor, este intercâmbio passou a ocorrer mais com o objetivo de troca de experiências entre pesquisadores dos distintos países do que por uma real necessidade de se utilizar tecnologias ou equipamentos dos países estran164 geiros. Hoje em dia a pesquisa odontológica brasileira, por exemplo, além de praticamente não depender mais de tecnologias estrangeiras, tem um papel importante na geração de novos conhecimentos e, em muitos casos, na formação de estudantes de outros países. Pode-se então dizer que o Brasil passou por uma longa fase em que a internacionalização era fundamentalmente unilateral e se caracterizava por um fluxo de pesquisadores para o exterior na busca pelo conhecimento. Nas últimas décadas a internacionalização mudou de formato, tendo se tornado bilateral. Este processo de internacionalização das universidades ocorreu não somente pelas mudanças nos fomentos para pesquisa descritas acima, mas também por influência de distintos fatores, como a globalização, o aumento do número de programas de pós-graduação no Brasil e no mundo, e o incremento de acordos internacionais interinstitucionais. Tudo isto gerou profundos avanços no campo da ciência e tecnologia no Brasil que hoje se reflete em várias áreas, incluindo a Odontologia. Atualmente, a pesquisa odontológica brasileira alcança destaques internacionais importantes por meio da publicação de inúmeros artigos científicos de qualidade em revistas científicas de alto impacto, da participação de pesquisadores brasileiros em corpos diretivos de sociedades cientificas internacionais ou como palestrantes em congressos de excelência pelo mundo. Vale destacar que uma pesquisadora brasileira, Profa. Maria Fidela de Lima Navarro (USP-Bauru), foi presidente da maior associação de pesquisa odontológica do mundo, a IADR (International Association for Dental Research) entre os anos de 2010 e 2011. Não há dúvidas que a internacionalização e a globalização influenciaram positivamente a pesquisa científica odontológica no Brasil e no mundo. Porém, será que isso tem se refletido na forma que tratamos nosso pacientes no consultório? Essa é uma reflexão importante, e para tal tomarei como exemplo minha própria linha de pesquisa. Desde o término do meu doutorado nos EUA, em 1999, venho desenvolvendo pesquisa sobre os benefícios clínicos e microbiológicos de terapias periodontais que associam procedimentos mecânicos e químicos. Nossos estudos nesta área têm sido publicados em revistas internacionais de alto impacto científico, sendo que somente em 2016 apresentarei, a convite, resultados desses estudos em 5 países: Holanda, Polônia, Uruguai, Suíça e Bélgica (Feres et al. 2012, Mestnik et al. 2012, Soares et al. 2014, Feres et al. REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):164-5 Seção Excelência na Odontologia.indd 164 20/05/16 18:25 2015, Tamashiro et al. 2016). Estes são, indiscutivelmente, reflexos internacionais importantes dos nossos estudos. Porém, o quanto estamos efetivamente atingindo os clínicos em seus consultórios é uma pergunta que não sabemos responder, mas é provável que não estejamos mudando a prática clínica na velocidade que gostaríamos. Para entendermos melhor o porquê desta situação, devemos revisitar certos conceitos históricos. Desde o final do século XX, pesquisadores e clínicos na área da Saúde já entendiam a importância da pesquisa clínica de qualidade para o estabelecimento de uma prática médica/odontológica mais efetiva, o que começou a ser chamado de “prática clínica baseada em evidências”. Estima-se que no final da década de 70 aproximadamente 14 estudos clínicos eram publicados por dia. Em 2010, esse número subiu para 75 estudos clínicos e 11 revisões sistemáticas a cada dia (Bastian et al. 2010). Este excessivo aumento no volume de informação, que ocorreu em todas as áreas do conhecimento, é considerado por muitos o remédio e o veneno do século XXI. É certo que esta extensa divulgação científica levou a um aumento no entendimento sobre a etiologia e o tratamento de diversas enfermidades, porém representa um problema para o clínico quanto a utilização dos dados provenientes desses estudos. Ocorre que, atualmente, a maioria dos profissionais de saúde está sobrecarregada de informações, gerando muitas vezes frustração, ansiedade e um atraso na aplicação do conhecimento científico na prática clínica (Feres e Figueiredo, 2013). Neste sentido, revistas e congressos nacionais como os liderados pela APCD (Associação Paulista de Cirurgiões-Dentistas) podem ter um papel importante na conexão entre os pesquisadores brasileiros que geram conhecimento e os Cirurgiões-Dentistas clínicos. Uma cooptação não muito comum, mas que pode trazer benefícios importantes para os pacientes. Esta seria uma contribuição importante por parte dos pesquisadores, no sentido de transmitir o conhecimento gerado dentro das universidades para os consultórios. Do outro lado, existem movimentos importantes por parte dos clínicos que também podem ajudar na evolução da prática médica/odontológica. Na minha opinião o mais importante deles é a realização de um Mestrado. Apesar da relativa percepção de que o Mestrado é um curso afastado do dia a dia da clínica, isto não é fato. Este talvez seja o nível de formação mais importante para o Cirurgião-Dentista clínico da era moderna, não com o objetivo único de adquirir a informação, mas principalmente de aprender a interpretá-la apropriadamente. A figura do professor catedrático como o detentor do conhecimento não existe mais, pois as informações – sejam elas importantes ou irrelevantes - estão disponíveis para todos, incluindo a informação científica. Porém, em um curso de Mestrado, e até mesmo de Doutorado, o professor tem a função primordial de ensinar os alunos a ficarem independentes no processo de selecionar, compilar e utilizar as informações científicas para tomar decisões clínicas acertadas. Forest, Miller e Newman (2012) ressaltam: “A habilidade de encontrar, discriminar, avaliar e usar informação é a mais importante que um profissional pode aprender. Tornar-se excelente nesta habilidade pode proporcionar uma carreira profissional gratificante e satisfatória”. Magda Feres - Coordenadora do Programa de Pós-Graduação (Mestrado e Doutorado) em Odontologia da Universidade Guarulhos. Doutora em Biologia Oral pela Harvard University, Mestre e Especialista em Periodontia. Vice-presidente da Academia Internacional de Periodontia (IAP, EUA) e primeira pesquisadora da América Latina a fazer parte do Corpo Diretivo do Periodontal Research Group da IADR (EUA). Possui 140 artigos internacionais publicados no PubMed e leciona frequentemente no exterior. Pesquisadora nível 1 do CNPq. REFERÊNCIAS 1. Bastian H, Glasziou P, Chalmers I. Seventy-Five Trials and Eleven Systematic Reviews a Day: How Will We Ever Keep Up?. PLoS Med. 2010; 7(9):e1000326. 2. Feres MF, Figueiredo LC. O papel da pesquisa como base para a clínica periodontal. In: Oppermann RV, Rosing CK. Periodontia para todos – da prevenção ao implante. São Paulo: Napoleão; 2013. p. 2-12. 3. 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[Epub ahead of print] REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):164-5 Seção Excelência na Odontologia.indd 165 165 20/05/16 18:25 Artigo original (convidado) MENDES VC; DAVIES JE Uma nova perspectiva sobre a biologia da osseointegração Recebido em: mar/2016 Aprovado em: abr/2016 A new perspective in the biology of osseointegration Vanessa Cristina Mendes - Doutora RESUMO O termo osseointegração refere-se à ancoragem de um implante no tecido ósseo, de forma que esse implante possa suportar carga funcional. O processo de osseointegração envolve vários mecanismos biológicos e o entendimento desses mecanismos e do papel da superfície dos implantes nesse processo, auxiliará o clínico de duas maneiras importantes: 1) na escolha dos implantes mais apropriados para os seus pacientes; e 2) no reconhecimento de problemas que possam surgir após a colocação de um implante. Nesse artigo, abordaremos uma nova perspectiva sobre a osseointegração, baseada em um trabalho recente que demonstrou que a reparação peri-implantar pode ser considerada um processo de restauração da homeostasia óssea. Esse processo representa um fenômeno universal, com vários exemplos nas ciências naturais e biológicas. O crescimento exponencial da ancoragem do implante no tecido ósseo através do tempo leva a um novo equilíbrio que pode ser representado por uma simples equação, onde dois parâmetros são importantes: 1) o valor máximo da ancoragem entre o implante e osso (novo equilíbrio tecidual) e 2) o período através do qual esse equilíbrio é adquirido. Portanto, em condições experimentais, é importante monitorar o processo de reparo por um longo período de tempo para que esse novo equilibrio seja obtido. Esse período de tempo necessário para que a hemostasia seja adquirida é descrito por um parâmetro matemático chamado “Tau”, que surge como uma maneira única de quantificar e comparar a performance do processo de osseointegração dos implantes. Essa nova perspectiva sobre a osseointegração será discutida em detalhes nesse artigo. - Professora assistente da Faculdade de Odontologia, Universidade de Toronto John E. Davies - Doutor - Professor Titular do Departamento de Biomateriais da Faculdade de Odontologia, Universidade de Toronto Autor de correspondência: Vanessa C. Mendes - Faculdade de Odontologia Universidade de Toronto University of Toronto 170 College Street (Mining Building), room 330 Toronto, Ontario M5S 3E3 [email protected] Descritores: osseointegração; implantes dentários; implantação dentária endo-óssea; homeostase ABSTRACT Osseointegration refers to the anchorage of an implant in bone, to a degree that can withstand functional loading. Osseointegration comprises several distinct biological mechanisms. An understanding these phenomena, and the role of implant surface topography in this process, will assist the clinician in two important ways: 1) It will inform their choice of the most appropriate implant designs for their patients, and 2) It will facilitate their recognition of problems that may arise after implant placement. We describe herein a new perspective on osseointegration. It is based on recent work that has demonstrated that peri-implant healing may be regarded as a restoration of bony homeostasis. Restoration of homeostasis is a universal phenomenon of which there are a multitude of examples in the natural and biological worlds. Applied to bone healing, the exponential rise in bone anchorage with time reaches the new equilibrium. This can be modeled using a simple equation where two important parameters emerge: 1) The ultimate value of implant/bone anchorage, which represents the new tissue equilibrium and 2) The rate at which this equilibrium is reached. Thus, experimentally, it is important to monitor healing over a relatively long time so that the new bony equilibrium, can be achieved. However, the rate at which homeostasis is reached, described by a single mathematical parameter “tau”, emerges as a unique means by which the osseointegration performance of implants can be quantified and compared. This new perspective on osseointegration will be discussed in more details herein. Descriptors: eointegration; dental implants; dental implantation, endosseous; homeostasis 166 REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):166-71 Vanessa C. Medes.indd 166 24/05/16 11:00 Implantodontia RELEVÂNCIA CLÍNICA A relevância clínica desse artigo fundamenta-se no entendimento dos mecanismos biológicos da osseointegração dos implante dentários e de como esse conhecimento poderá auxiliar o clínico na escolha de implantes mais apropriados para os seus pacientes, assim como no reconhecimento de problemas que possam surgir após a colocação de um implante. INTRODUÇÃO Osseointegração: processo de reparo ou rejeição? Osseointegração é um termo que pode ser utilizado para descrever a ancoragem de um implante endósseo, suficiente para suportar cargas funcionais. A osseointegração de um implante é vital para o seu sucesso clínico, portanto, para que seja possível dissecar os mecanismos da osseointegração, é fundamental que se entenda o processo natural de osteogênese (formação óssea) durante os períodos de regeneração e remodelação óssea. Como os implantes são inseridos no tecido ósseo, uma das abordagens para explicar o fenômeno da osseointegração considera esse processo como sendo parte do mecanismo relacionado à reparação de injúrias ósseas. De fato, vários autores estabeleceram semelhanças entre o processo de reparação peri-implantar endo-ósseo e o processo de reparo de fraturas.1 Essa abordagem tem a vantagem de ser fundamentada em um modelo geral de reparação tecidual, que engloba alguns processos fundamentais comuns ao reparo da maioria dos tecidos, como por exemplo, a resolução do coágulo sanguíneo no local da injúria, a necessidade da formação de novos vasos sanguíneos (angiogênese), e a importância das células perivasculares como fonte de células-tronco mesenquimais presentes nos tecidos. Essa abordagem, que considera os aspectos fundamentais, ou comuns, do processo de reparo de feridas, nos levou recentemente a elaborar uma nova perspectiva para entender o processo de reparo de forma geral, e a osseointegração de forma particular. Essa nova proposta está fundamentada na restauração da homeostasia tecidual e será abordada nesse artigo. Recentemente, no entanto, foi proposta na literatura outra abordagem, radicalmente diferente da descrita acima, que surgiu da ideia de que a osseointegração é o resultado de uma resposta imunológica contra o implante.2 Existem fatores importantes que são comuns a essas duas abordagens (processo de reparo vs. reação imunológica contra o implante), como por exemplo, as interações iniciais do sangue com a superfície do implante. No entanto, essas duas linhas de pensamento são divergentes quando se considera a inevitável resposta inflamatória aguda. A inflamação aguda, causada pelo trauma cirúrgico ao tecido, provoca uma intrincada resposta imune adaptativa que poderá resultar em uma rápida resolução da lesão, mesmo na presença de infecção. No entanto, a inflamação aguda também poderá transicionar para uma resposta crônica, caracterizada pelo recrutamento de células gigantes de corpo estranho.3 Essa sequela crônica pode ser exemplificada pela presença de um espinho encravado em tecido mole e encapsulado por tecido fibroso, o qual em algum momento, poderá ser expulso do organismo como corpo estranho. O “encapsulamento” de um implante pelo tecido ósseo foi sugerido como sendo outro exem- plo de sequestro pelo tecido conjuntivo4, no entanto, é importante considerar que a presença de células gigantes de corpo estranho nesse ambiente seria um indicador claro da rejeição do implante pelo organismo. Portanto, o seguinte questionamento é inevitável: a integração de um implante endo-ósseo seria o resultado de uma resposta reparativa do organismo, que resultaria no restabelecimento da homeostasia, ou seria uma tentativa do organismo de sequestrar, ou rejeitar um corpo estranho? O enorme sucesso clínico dos implantes dentários endo-ósseos indica que a primeira opção seria uma suposição mais razoável, além dessa também estar contida no conceito de Raghavendra, frequentemente citato na literatura para ilustrar a transição entre a estabilidade primária e secundária de um implante dentário durante o processo de osseointegração.5 Duas lições importantes sobre o processo de remodelação óssea Existem dois conceitos críticos que surgiram a partir do nosso entendimento sobre o fenômeno natural de remodelação óssea, e que também são relevantes para o entendimento da osseointegração. O primeiro conceito está relacionado à topografia da superfície do tecido ósseo remanescente após reabsorção por um osteoclasto. Essa topografia é tridimensional e complexa em três escalas distintas: 1) sub-micrométrica (em inglês: “sub-micron scale”), representada pela superfície óssea exposta após desmineralização das fibras de colágeno orientadas em vários planos; 2) micrométrica (em inglês: “micron scale”), representada por lacunas individuais de Howship; e 3) a escala micrométrica grosseira (em inglês: “coarse-micron scale”), representada pela profundidade de reabsorção da superfície óssea por grupos de osteoclastos e também pela complexidade tridimensional dessa superfície (Figura 1).6 O segundo conceito refere-se às células osteogênicas que irão se diferenciar em osteoblastos e secretar matriz óssea sobre a superfície do implante durante o processo de osteogênese por contato. Essas células osteogênicas são derivadas de células perivasculares (em inglês: “perivascular cells” or “pericytes”), localizadas FIGURA 1 A - Área de reabsorção deixada por um osteoclasto em uma trabécula óssea do fêmur de rato. Medida do campo = 136 micrometros. As lacunas de Howship estão claramente visíveis nesse aumento e contornam a estrutura trabecular. B - A desmineralização da superfície do colágeno em uma lacuna de Howship é bastante complexa em nível ultraestrutural. A superfície possui retenções deixadas entre as fibras de colágeno. Medida do campo = 2.45 micrometros REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):166-71 Vanessa C. Medes.indd 167 167 24/05/16 11:00 MENDES VC; DAVIES JE ao redor das paredes dos vasos sanguíneos presentes na área de remodelação óssea, ou na região peri-implantar durante o processo de reparo. Crisan et al. (2008)7 demonstraram que as células perivasculares representam uma fonte ubíqua de células mesenquimais progenitoras em todos os órgãos do organismo. Sabemos que essas células migram através da região peri-implantar para povoar a superfície do implante, sobre a qual elas irão diferenciar e elaborar uma nova matriz óssea (Figura 2). De forma semelhante, células perivasculares migram da parede dos vasos sanguíneos contidos nos canais Haversianos para a superfície do túnel de reabsorção óssea, com objetivo de produzir [novo] tecido ósseo lamelar durante o processo natural de remodelação. Um pequeno resumo sobre os mecanismos de reparação peri-implantar As várias definições publicadas para “osseointegração” atestam para o fato de que um único termo não consegue abranger a cascata de eventos biológicos que resulta na ancoragem de um implante inanimado (normalmente metálico) no tecido ósseo vivo. O processo de osseointegração pode ser subdividido em três fases distintas, mas que se sobrepõem em algum momento: 1) osteocondução, 2) formação óssea e 3) remodelação óssea.8,9 Osteocondução O processo de osteocondução foi definido como sendo o recrutamento e a migração de células osteogênicas para a superfície de um implante.8 Como mencionado acima, esse mesmo fenômeno ocorre durante o processo natural de remodelação óssea, quando uma população de células perivasculares [osteogênicas] migra dos vasos sanguíneos neoformados para a superfície óssea deixada pelos osteoclastos. A diferença entre remodelação óssea e reparação peri-implantar é a presença do coágulo sanguíneo. Dessa forma, em ambos os casos, a angiogênese precede a osteogênese, uma vez que sem angiogênese, as células osteogênicas não seriam levadas para os sítios de reparo ou remodelação. À medida que as células perivasculares [osteogênicas] migram para a superfície do implante durante o processo de osteocondução, elas se diferenciam para tornarem-se secretoriamente ativas e depositar matriz óssea diretamente sobre a superfície do implante. É importante ressaltar que são necessários vários dias até que as células osteogênicas atinjam a superfície do implante, e durante esse processo, essa superfície sofre várias modificações em nível molecular, através da adsorção de proteínas do soro sanguíneo e da atividade de uma infinidade de células do sangue. Dessa forma, a composição química da superfície do implante torna-se radicalmente diferente daquela de quando o implante foi empacotado, esterilizado e recebido pelo clínico antes da cirurgia. Formação e adesão óssea O tecido ósseo é composto por uma matriz extracelular mineralizada de colágeno e contém osteócitos em sua estrutura. No entanto, os osteoblastos, antes de sua completa diferenciação, elaboram uma matriz extracelular mineralizada que não contém colágeno. Essa matriz foi chamada de “linha cementante” (em in168 FIGURA 2 Células perivasculares são recrutadas como precursores osteogênicos para migrar até a superfície do implante, onde elas irão diferenciar em osteoblastos secretoriamente ativos durante o processo de osteogênese de contato. A primeira matriz óssea depositada na superfície do implante é a linha cementante (azul), seguida pelo colágeno (rosa), que irá então mineralizar (verde). Assim, osteoblastos maduros ficam separados da superfície do implante pela linha cementante, osso mineralizado e a camada de tecido osteoide glês: “cement line”) por von Ebner em 1875. A linha cementante (mineralizada e sem colágeno) ocupa a interface que está constantemente sendo criada entre o osso “antigo” (reabsorvido) e o tecido ósseo neoformado, no processo natural de remodelação óssea que ocorre durante a vida de um individuo. As células osteogênicas que formam a linha cementante inicialmente secretam proteínas não colagenosas no espaço extracelular. Essas proteínas, antes de serem mineralizadas, espalham-se por irregularidades e retenções presentes na superfície sobre a qual elas foram depositadas8 [de forma semelhante, na odontologia, ao vazamento de gesso (antes da presa) em um molde de alginato]. As fibras colágenas ficam aderidas à essa linha cementante que forma uma interface entre o osso “antigo” e o osso neoformado, como von Ebner havia suposto. A mesma condição ocorre na superfície de um implante que apresenta retenções em sua topografia, e uma vez mineralizada, a linha cementante ficará fortemente aderida a essa superfície. Esse fenômeno é conhecido como adesão óssea, ou em inglês: “bone bonding”.10,11 No entanto, é importante destacar que essa interface “verdadeira”, que ocorre entre a linha cementante e o tecido ósseo reabsorvido (no processo de remodelação óssea) ou a superfície do implante, acontece em uma escala nanométrica e não é suficiente para aguentar carga funcional. De fato, as linhas cementantes do tecido ósseo foram consideradas interfaces “fracas”12 e a resistência à carga biomecânica têm sido atribuída à estrutura tridimensional complexa do colágeno mineralizado, tanto em escala micrométrica quanto em relação à arquitetura do tecido ósseo.13,14 Ancoragem óssea Enquanto a osseointegração pode ser descrita como sendo a ancoragem funcional de um implante no tecido ósseo, precisamos definir o termo “ancoragem”. Funcionalmente, ancoragem representa a resistência de um implante endo-ósseo contra remoção. Pode- REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):166-71 Vanessa C. Medes.indd 168 24/05/16 11:00 Implantodontia -se imaginar que espaços vazios de qualquer tamanho e forma na superfície do implante, que permitam a deposição de tecido ósseo em seu interior, irão oferecer algum tipo de resistência à remoção do implante (utilizando-se força de tração ou de tensão). Se, de forma hipotética, um implante possuir grandes poros em sua superfície, que possibilitariam o crescimento ósseo em seu interior, a resistência contra a remoção desse implante (ancoragem) seria maior do que a resistência contra a remoção de um implante sem os mesmos poros. Para que esse primeiro implante seja removido, o tecido ósseo tenderá a fraturar próximo a um plano localizado na região mais externa desses poros, ao invés de separar na interface direta osso/ implante. Isso acontece sem que o tecido ósseo precise estar aderido (“bonded”) à superfície do implante. Nesse contexto, podemos ressaltar a observação de Brånemark, em 1983, que menciona: “Esforços para remover os implantes levaram a fraturas no tecido ósseo dos maxilares, per se, e não na interface”.15 Portanto, “ancoragem” pode ser diferenciada de “adesão” (“bonding”), uma vez que adesão refere-se à interface direta entre o tecido ósseo e a superfície do implante (em escala nanométrica). Em resumo, a adesão óssea (“bone bonding”) ocorre apenas na interface “verdadeira” do osso com a superfície do implante, enquanto a ancoragem óssea, sob carga funcional, é determinada pelas características topográficas da superfície do implante em maior escala (micrométrica e supra-micrométrica), as quais delimitam a interface “funcional” (Figura 3). FIGURA 3 A interface “verdadeira” entre o osso e o implante encontra-se no mesmo nível da linha cementante (em escala nanométrica) - linha amarela, mas a interface “funcional” (linha preta) está localizada na porção extrema dos maiores traços topográficos da superfície de um implante O papel do desenho da superfície do implante Durante as últimas três décadas, ficou claro que o desenho da superfície do implante pode provocar um grande impacto no processo de reparação peri-implantar e na ancoragem óssea funcional. Sabemos que esse desenho, representado por características topográficas em escala nano ou micrométrica, possui um papel significante nos estágios iniciais da reparação peri-implantar. O trabalho de Buser et al.16 trouxe uma contribuição significativa à literatura e os autores concluíram que “Superfícies de implantes rugosas geralmente demonstraram um aumento na deposição ós- sea em comparação com superfícies polidas ou menos complexas”. No entanto, é importante ressaltar também o trabalho de Wong et al.17 que demonstrou “que medidas percentuais da cobertura de implantes são indicadores menos sensíveis relacionados à osseointegração do que os testes mecânicos.” Dessa forma, a utilização de um teste funcional para a avaliação da osseointegração de um implante endo-ósseo é considerada mais importante do que a quantidade limitada de dados que se pode obter medindo o contato entre o tecido ósseo e o implante (em inglês: “bone/implant contact” – BIC) em cortes histológicos. Essa foi uma conclusão importante do trabalho desses autores, pois está relacionada de uma forma muito próxima com a realidade clínica, onde apenas métodos físicos (análise da frequência de ressonância, torque reverso, ou manipulação digital) podem ser empregados para a avaliação da osseointegração. Essa ênfase inicial na rugosidade das superfícies de implante resultou na publicação de vários estudos que caracterizaram as superfícies através de métodos que geram parâmetros matemáticos comparativos de rugosidade. Apesar de se entender facilmente a influência da rugosidade da superfície de um implante na força necessária para rompê-lo do tecido ósseo18, esses parâmetros de rugosidade não oferecem qualquer esclarecimento sobre os mecanismos biológicos relacionados à ancoragem óssea. No entanto, o desenho da topografia da superfície de um implante tem uma importância clara e presente, pois quase todos os fabricantes, e muitos outros que utilizam implantes metálicos, modificam suas superfícies com a intenção de acelerar a reparação peri-implantar e melhorar a ancoragem óssea. Restauração da homeostasia A nossa nova abordagem considera o processo de reparação peri-implantar endo-ósseo como sendo o restabelecimento de um novo equilíbrio tecidual, ou homeostasia. A literatura confirma que existe uma grande quantidade de informação disponível no campo das ciências naturais relacionada à restauração da homeostasia. Alguns exemplos podem ser tão variados como a restauração dos estoques de peixes em locais onde a pesca foi proibida19, ou a recuperação da massa óssea de astronautas após o retorno às condições gravitacionais da Terra.20 Esses exemplos de restauração da homeostasia podem ser modelados matematicamente através de uma abordagem comum, e são descritos pelas curvas assintóticas que se aproximam das isotermas de Langmuir.21 No entanto, detalhes matemáticos não são importantes aqui, pois gostaríamos apenas de ilustrar um princípio geral (veja as funções relevantes na legenda da Figura 4). Então, em essência, um aumento na medida de uma variável levará a um crescimento exponencial até que um platô, ou limite, seja atingido. Uma analogia para ilustrar esse conceito poderia ser feita com a utilização de um barril cheio de água salgada, como mostrado na Figura 4A. A homeostasia seria uma condição em que ambas as torneiras estariam simultaneamente fornecendo água salgada e esvaziando o barril na mesma proporção. Agora, imagine que a torneira que fornecia a água salgada, passe então a fornecer água doce. Após certo período de tempo, o barril estará recebendo apenas água doce e um novo equilíbrio será alcançado quando as duas torneiras estiverem simultaneamente fornecendo água doce REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):166-71 Vanessa C. Medes.indd 169 169 24/05/16 11:00 MENDES VC; DAVIES JE FIGURA 4 Inicialmente o barril está cheio de água salgada (azul). Então, a torneira de cima começa a fornecer água doce (branco) enquanto a torneira de baixo remove a água salgada. Num determinado momento, o barril estará cheio de água doce e um novo equilíbrio será alcançado. Esse novo equilíbrio é mostrado no gráfico como sendo C. O tempo necessário para atingir C é determinado pela proporção (quantidade) em que as torneiras estarão abertas. A constante de tempo Tau é uma medida do tempo que demora para que C seja alcançado, e esse valor diminui se C for atingido rapidamente. A mudança na quantidade de água doce no barril em qualquer período de tempo pode ser medida pela curva criada a partir de dados experimentais e usando-se a seguinte equação: F=C(1-e^((-x)⁄τ)) FIGURA 5 A osseointegração representa a obtenção da homeostasia, ou equilíbrio na ancoragem óssea. Como mostrado na Figura 4, com o passar do tempo o valor de C será atingido independente da quantidade de tempo que isso levará. No entanto, o tempo necessário para atingir C, é medido pela constante “Tau”, que diminui à medida que a taxa de osseointegração aumenta. Tau é uma função do desenho topográfico da superfície do implante e foi demonstrado experimentalmente que seu valor diminui (representando uma alta taxa de osseointegração) em implantes com superfícies nanotopográficas e esvaziando o barril na mesma proporção. A mudança (aumento) na quantidade de água doce dentro do barril, através do tempo, é representada pelas curvas no gráfico da Figura 4B. No entanto, a taxa de fornecimento de água doce para que o platô da curva seja atingido, irá depender inteiramente da proporção (quantidade) que as torneiras estiverem abertas – o tempo poderá ser longo ou curto. Além disso, a quantidade de tempo que leva para que ocorra essa mudança de água salgada para a água doce, chamada de constante do tempo – que convencionalmente recebe a letra grega Tau “τ” – é definida como sendo o 170 tempo necessário para que o valor medido aumente até atingir 63.2% do [platô] máximo. Dessa forma, “τ” irá depender da quantidade em que as torneiras estiverem abertas (assumindo-se que ambas as torneiras estejam abertas ou fechadas na mesma proporção). Essa mesma constante de tempo é utilizada em muitos outros fenômenos biológicos e os exemplos variam desde a farmacocinética, onde “τ” representa a taxa média de retenção de uma droga22, até a neurociência, onde “τ” é a constante que representa o aumento do potencial de ação de um neurônio.23 REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):166-71 Vanessa C. Medes.indd 170 24/05/16 11:00 Implantodontia Demonstramos recentemente que essa mesma relação pode ser aplicada à osseointegração.24 Como mencionado acima, não existem dúvidas de que a osseointegração representa a restauração da homeostasia, ou em outras palavras, à medida em que a reparação óssea progride, o equilíbrio é alcançado. Investigamos o desenvolvimento desse equilíbrio através de testes mecânicos para avaliar a ancoragem de implantes no tecido ósseo em função do tempo. O aumento da ancoragem através do tempo seguiu uma curva exponencial e alcançou um platô (Figura 5), da mesma forma que foi descrito na Figura 4. Espera-se que a altura desse platô (“C” – força necessária para romper o modelo) seja modificada pelo tipo de tecido ósseo e sua microarquitetura, e dessa forma, irá variar em implantes testados em osso imaturo de animais, ou em osso lamelar humano – ou até mesmo entre o osso lamelar e trabecular. No entanto, o que surgiu desse trabalho experimental foi que a constante de tempo “τ” não depende da metodologia do teste, mas do desenho da topografia da superfície do implante. Mais especificamente, quando comparamos um implante contendo uma topografia de superfície nanotexturizada com outro que possui uma topografia de superfície microtexturizada, “τnano” foi significantemente menor do que “τmicro” (veja τn and τm na Figura 5), indicando que a superfície com nanotopografia provocou um aumento significante na taxa de osseointegração em comparação com a superfície microtopográfica. O mais importante, no entanto, e que está de acordo com dados clínicos publicados, é que com o passar do tempo, ambas as superfícies adquirem o mesmo equilíbrio e platô. Dois parâmetros críticos: “C” e “τ” surgem através dessa nova abordagem experimental e do preparo das curvas assintóticas (utilizando a equação descrita na Figura 4). Ao mesmo tempo em que um valor alto de “C” representa uma ancoragem robusta entre o implante e o tecido ósseo, quanto mais baixo o valor de “τ”, mais rápido essa ancoragem será obtida. Assim, enquanto esses dois parâmetros são importantes, o valor de Tau é o que representa a taxa de osseointegração de um implante. Considerando que esse parâmetro, calculado a partir de dados experimentais, fornece informação imediata sobre o potencial de osseointegração da superfície de um implante, e considerando também que “τ” é uma função do desenho da superfície do implante, o Tau surge como o primeiro parâmetro matemático que poderá ser utilizado para comprar o potencial de osseointegração de superfícies de implantes com diferentes desenhos topográficos. CONCLUSÃO De forma geral, atualmente já se conhece bastante sobre a biologia básica relacionada à osseointegração. Esse entendimento surgiu quase que inteiramente a partir do conhecimento sobre o processo de remodelação óssea natural e sobre a complexidade da interface formada entre o osso remanescente (reabsolvido por osteoclastos) e o osso neoformado. Esse conhecimento fundamenta o entendimento sobre a importância do desenho topográfico da superfície de implante no processo de osseointegração e, em particular, como a osseointegração pode ocorrer em todos os tipos de tecido ósseo, uma vez utilizada a superfície de implante mais apropriada para cada caso. Os aspectos mais importantes da osseointegração acontecem antes da formação óssea, ou em escalas métricas inacessíveis até mesmo às técnicas radiográficas mais modernas. Dessa forma, o entendimento da biologia óssea básica da osseointegração fornece não apenas a oportunidade para uma análise racional sobre a escolha de desenhos específicos de superfícies de implantes mais adequadas para os pacientes, mas também nos permite começar a entender os problemas que possam surgir após a colocação de um implante no tecido ósseo. REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. Kuzyk PRT, Schemitsch EH, Davies JE. 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Medes.indd 171 171 24/05/16 11:00 Artigo original (convidado) TELLO G; CARVALHO P; COSTA VS; ABANTO J; OLIVEIRA LB; BÖNECKER M A saúde bucal de crianças menores de 5 anos de idade no município de Diadema Recebido em: mar/2016 Aprovado em: abr/2016 Oral health status of children under 5 years-old in Diadema Gustavo Tello - Doutor em Odontopediatria pela Fousp - Professor pesquisador da Faculdade de Odontologia da Universidade Central do Equador RESUMO O objetivo desse trabalho foi avaliar a prevalência, gravidade e os fatores associados à cárie dentária (CD), lesão dentária traumática (LDT) e desgaste dentário erosivo (DDEr) em crianças menores de 5 anos de idade no município de Diadema, São Paulo. Cirurgiões-Dentistas treinados e calibrados examinaram o total de 1215 crianças de 1, 2, 3 e 4 anos de idade para CD e LDT e 839 crianças de 3 e 4 anos de idade para DDEr nas 19 Unidades Básicas de Saúde, durante a campanha de Multivacinação Infantil, em 2012. Utilizou-se os índices de Knutson, ceo-d e ceo-s para CD, os critérios modificados de Andreasen para LDT e o índice de O´Brien modificado para DDEr. Foram realizadas análises descritivas e regressões de Poisson (IC 95%). As prevalências encontradas levando em consideração o total da amostra examinada foram: CD (20,3%), LDT (20,1%) e DDEr (51,3%). Os fatores associados para CD foram a idade da criança e ter dois ou mais filhos na família; para LDT a idade e a presença de mordida aberta anterior e/ou sobressaliência acentuada; para DDEr consumir refrigerante e suco mais de 3 vezes ao dia, deixar a bebida na boca ou beber na mamadeira e relato de refluxo gastroesofágico. No município de Diadema, a prevalência de CD é baixa; LDT é moderada, sendo fratura de esmalte a mais frequente; DDEr é alta, no entanto a maioria das lesões acometem somente o esmalte. Patrícia de Carvalho - Mestre em Odontopediatria pela Fousp - Professora da graduação das Faculdades Metropolitanas Unidas Vanessa Silva da Costa - Graduada em Odontologia pela Fousp - Cirurgiã-Dentista Jenny Abanto - Pós-doutora em Odontopediatria pela Fousp - Professora da Fundecto-Fousp e Fapes Luciana Butini Oliveira - Pós-doutora em Odontopediatria pela Fousp - Professora da graduação e pós-graduação da Faculdade São Leopoldo Mandic Marcelo Bönecker - Professor titular da disciplina de Odontopediatria da Fousp CEP/Fousp nº15605 04/2012 Autor de correspondência: Marcelo Bönecker – Fousp Av. Professor Lineu Prestes, 2227 Cidade Universitária - São Paulo – SP 05508-000 Brasil [email protected] 172 Descritores: epidemiologia; doenças da boca; dente decíduo; pré-escolar ABSTRACT This study aimed to assess the prevalence, severity and associated factors of Dental Caries (DC), Traumatic Dental Injury (TDI) and Erosive Tooth Wear (ETW) in children under 5 years-old in the municipality of Diadema, São Paulo. Trained and calibrated dentists examined a total of 1215 children aged 1-4 years-old for DC and TDI, and 839 children aged 3 and 4 years-old for ETW in 19 Primary Health Centres during the National Children’s Vaccination in 2012. For the assessment of DC the Knutson, dmf-t and dmf-s indexes were used, a modified Andreasen criteria was used for TDI and a modified version of the O’Brien index for ETW. Descriptive analysis and Poisson regression (CI 95%) were used. The prevalence of DC, TDI, ETW was 20.3%, 20.1% and 51.3% respectively. The Factors associated with DC were age and having more than one child in the family, for TDI the factors were age and presence of anterior open bite and/or increased overjet and for ETW, the factors were drinking soft drink or juice more than 3 times a day, keeping it in the mouth without swallowing or using baby’s bottle, report of gastroesophageal reflux. In Diadema, the prevalence and severity of DC lesions is low; LDT is moderate enamel fracture being the most common; DDEr is high, however most lesions only affect the enamel. Descriptors: epidemiology; mouth diseases; tooth, deciduous; child, preschool RELEVÂNCIA CLÍNICA Conhecer os principais problemas de saúde bucal que acometem crianças menores de 5 anos e os fatores de risco associados a esses problemas. REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):172-80 Jenny Abanto e Marcelo Bönecker.indd 172 20/05/16 18:32 Odontopediatria INTRODUÇÃO Estudos epidemiológicos brasileiros evidenciam que os principais problemas de saúde bucal em crianças menores de 5 anos de idade são as lesões de cárie dentária (CD) e as lesões dentárias traumáticas (LDT).1 Em relação às lesões de CD, os indicadores de saúde bucal traduzem dados epidemiológicos que retratam desigualdades na prevalência e na gravidade da doença em crianças menores de 5 anos de idade.2 Dados da Pesquisa Nacional de Saúde Bucal realizado no ano de 2010, também mostraram desigualdades da prevalência e gravidade da CD entre as regiões brasileiras, sendo observado em crianças de 5 anos de idade uma prevalência de 53,4% e o ceo-d médio de 2,43.3 Percentuais de crianças livres de cárie são sempre inferiores nas regiões centro-oeste, norte e nordeste quando comparados às regiões sul e sudeste. Mundialmente, a prevalência de LDTs em crianças pré-escolares varia de 6,2% a 62,1%.4,5 Uma recente revisão sistemática com meta-análise evidenciou que a prevalência agregada de traumatismo em dentes decíduos no mundo é de 23%.6 No Brasil, não existem dados nacionais sobre LDT em crianças pré-escolares. Os estudos epidemiológicos publicados referentes às crianças pré-escolares brasileiras mostram uma prevalência de LDT que varia de 9,4% a 62,1%.5,7 O desgaste dentário erosivo (DDEr) tem despertado interesse na Odontopediatria, pois são poucas as pesquisas epidemiológicas no mundo que descrevem a prevalência em crianças pré-escolares, e esta varia de 0,6% a 78,8%.8,9 Além disso, a prevalência e gravidade de DDEr em populações de pouca idade parece estar aumentando10, o que faz com que o assunto seja de maior interesse aos Cirurgiões-Dentistas e pesquisadores na área. Por caracterizar um processo cumulativo, ao longo dos anos, o DDEr pode acarretar hipersensibilidade e perdas severas de esmalte e dentina que demandem reabilitações extensas e de custo elevado.11 Apesar de não existirem dados nacionais sobre a prevalência de DDEr. Os estudos epidemiológicos publicados referentes às crianças pré-escolares brasileiras mostram uma prevalência de DDEr que varia de 0,6% a 51,6%.8,12 A literatura ainda necessita de mais dados para demonstrar a relação entre fatores de ordem social, econômica e ambiental e a prevalência de alguns problemas de saúde bucal em crianças menores de 5 anos de idade. Se por um lado, essa relação já está bem estabelecida em relação às lesões de CD, por outro, o assunto é ainda controverso em relação às LDT e pouco conhecida em relação às lesões de DDEr. A influência desses parâmetros pode ser marcante na prevalência de problemas de saúde bucal de uma comunidade, podendo afetar a saúde durante o ciclo de vida dos indivíduos, determinando vulnerabilidade, exposição ou efeitos psicológicos e interagindo com outros fatores referentes ao indivíduo. O presente estudo teve como objetivo avaliar as doenças cárie dentária (CD), lesão dentária traumática (LDT) e desgaste dentário erosivo (DDEr) em relação à prevalência, gravidade e fatores associados em crianças menores de 5 anos de idade no município de Diadema, São Paulo. MATERIAIS E MÉTODOS Esta pesquisa compreendeu em um estudo observacional do tipo transversal, que teve aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo (CAAE: 02218812.0.0000.0075). Amostra A amostra populacional foi composta por 1215 crianças de 1, 2, 3 e 4 anos de idade, as quais foram avaliadas para CD e LDT e 839 crianças de 3 e 4 anos de idade avaliadas para DDEr, moradoras do município de Diadema – SP, que participaram da campanha nacional de Multivacinação Infantil em 16 de junho de 2012 nas 19 Unidades Básicas de Saúde (UBS). Coleta de dados Todos os dados foram coletados em um único dia em todas as 19 Unidades Básicas de Saúde (UBS) que pertencem ao município. Em cada uma das UBS foram utilizados os consultórios odontológicos, e havia uma equipe composta por dois Cirurgiões-Dentistas examinadores, um Auxiliar de Saúde Bucal (ASB) que auxiliava na anotação das condições clínicas no odontograma da ficha e dois agentes comunitários de saúde (ACS) que convidavam os acompanhantes das crianças para participarem da pesquisa, explicavam os objetivos e a metodologia do estudo, pediam aos responsáveis para assinarem o TCLE e preenchiam os questionários das fichas clínicas das crianças. Os Cirurgiões-Dentistas examinadores foram treinados para o diagnóstico dos problemas de saúde bucal estudados. Como em cada UBS havia dois Cirurgiões-Dentistas examinadores, um dos examinadores foi treinado para avaliar CD, LDT e maloclusões, e o outro examinador foi treinado para avaliar somente as lesões de DDEr. O treinamento para CD, LDT maloclusão e DDEr foi realizado por meio de aulas teóricas. A calibração de CD e DDer foi realizada usando dentes do banco de dentes da Fousp, sendo que a calibração de LDT foi realizada com imagens clínicas de todas as lesões que compõem o critério de diagnóstico. Os dentes e as imagens utilizados nas calibrações foram selecionados de modo que todos os graus de acometimento das respectivas lesões estavam representados. A seleção dos examinadores foi feita de acordo com os resultados de concordância (Kappa intraexaminador e interexaminador) obtidos após exercício de calibração para o diagnóstico de CD (0,82/0,85), LDT (0,90/0,89) e DDEr – profundidade da lesão (0,85/0,82) e DDEr- área da lesão (0,79/0,73). A coleta de dados e o exame clínico foram realizados antes da criança ser vacinada, a fim de se evitar a manipulação da cavidade bucal da criança após receber a vacina em gotas. As crianças foram selecionadas de maneira sistemática na fila de vacinação, sendo que a quinta criança era convidada a participar. Nos casos de não autorização para a realização do exame ou criança que mostrava sinais de conduta não cooperadora, a criança seguinte na fila era convidada e assim sucessivamente. Com o intuito de não induzir viés de seleção, foi tomado cuidado de não examinar irmãos ou crianças que residiam no mesmo domicílio. Todos os examinadores de DDEr foram instruídos para reali- REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):172-80 Jenny Abanto e Marcelo Bönecker.indd 173 173 20/05/16 18:32 TELLO G; CARVALHO P; COSTA VS; ABANTO J; OLIVEIRA LB; BÖNECKER M zar primeiramente o exame clínico e, somente depois, preencher o questionário sobre hábitos alimentares normalmente relacionados a DDEr. Além disso, eles também foram orientados para anotar a presença ou ausência de placa bacteriana visível antes de realizar a limpeza desta com gaze para o exame clínico. A presença de placa bacteriana foi verificada, sem o uso de evidenciadores13 nas superfícies vestibulares de incisivos superiores. Na ausência destes dentes, foi considerado os incisivos laterais superiores, ou incisivos centrais inferiores. Critérios para diagnóstico de cárie dentária (CD) Os critérios utilizados para diagnosticar as lesões de cárie nos dentes e superfícies dentárias foram àqueles recomendados pela WHO (1997)14 e adaptados por Pinto (2000)15. Para descrever a prevalência de crianças afetadas pela doença, utilizou-se o índice de Knutson (1944)16 a partir do qual se obtiveram dois grupos: crianças que têm ou tiveram alguma experiência de cárie (ceo-d > 0) e as que nunca tiveram (ceo-d = 0). A gravidade da experiência de CD em dentes decíduos foi mensurada utilizando-se os índices ceo-d e ceo-s, descrito por Gruebbel (1944).17 Critérios para diagnóstico de lesões dentárias traumáticas (LDT) As anotações sobre a presença ou ausência de LDT foram feitas de acordo com os critérios estabelecidos pela versão modificada da classificação de Andreasen e Andreasen (2007)18: fratura de coroa em esmalte, fratura de coroa em esmalte e dentina, fratura de coroa envolvendo a polpa, e ausência de dente devido a trauma. Dados referentes à alteração de cor nos elementos dentais, considerando mudança na cor da coroa dentária para tons escuros em comparação aos outros dentes e presença de fístula sem sinais de cárie dentária também foram observados e anotados. Critérios para diagnóstico de maloclusão Estes dados foram anotados de acordo classificação de Foster e Hamilton (1969).19 Nos casos de mordida aberta anterior e sobressaliência acentuada, as mesmas foram medidas com uma régua milimetrada como auxílio de diagnóstico. Critérios para diagnóstico do desgaste dentário erosivo (DDEr) O índice utilizado para avaliação de lesões erosivas é baseado no índice de O’Brien modificado (1994)20 levando em consideração a profundidade e área da lesão. Os critérios para profundidade são: lesão envolvendo apenas esmalte, lesão envolvendo esmalte e dentina, lesão com proximidade pulpar. Os critérios para área são: lesão acometendo até 1/3 de superfície, lesão acometendo até 2/3 de superfície e lesão acometendo mais de 2/3 de superfície. Organização dos dados e análise dos resultados Todos os dados coletados foram inseridos em uma planilha do programa Microsoft Excel. A fim de correlacionar cada um dos problemas de saúde bucal 174 estudados com as variáveis relacionadas à criança, aos fatores socioeconômicos e aos hábitos da criança, foi realizada a análise de regressão uni e multivariada de Poisson com variância robusta e com um nível de significância de 5%. RESULTADOS Prevalência e Gravidade A prevalência de CD na população estudada foi de 20,3% e ocorreu um aumento no número de crianças que apresentavam ceo-d > 1 de acordo com a idade. A gravidade da cárie dentária na população estudada apresenta valores de ceo-d e ceo-s médio de 0,7 e 1,2 respectivamente. Houve um aumento do ceo-d e ceo-s de acordo com a idade (Tabela 1). A prevalência de LDT na população estudada foi de 20,1% e também foi observado aumento no número de crianças que apresentavam algum tipo de LDT de acordo com a idade (Tabela 2). O tipo de LDT mais frequente foi fratura de esmalte (Quadro 1). A prevalência de DDEr na população estudada foi de 51,3% e ocorreu aumento no número de crianças que apresentavam DDEr de acordo com a idade (Tabela 2). Observou-se que um aumento da gravidade das lesões de DDEr de acordo com a idade e a lesão mais frequente é aquela que acomete o esmalte (Quadro 2). Fatores associados A seguir são descritos os resultados das associações entre as condições clínicas e condições socioeconômicas obtidos nos modelos finais ajustados: Em relação a CD, foi encontrada associação entre a prevalência e o aumento da idade da criança (RP 1,87; p < 0,001), e uma única variável socioeconômica estava associada à presença de cárie: número de filhos na família (RP 1,77; p <0,001) (Quadro 3). Houve associação entre a maior prevalência de LDT e o aumento da idade da criança (RP 2,23; p < 0,001 e RP 2,48; p< 0,001, para os 3 e 4 anos de idade, respectivamente). A prevalência de LDT também foi associada à presença de mordida aberta anterior e sobressaliência acentuada (RP 1,73; p <0,001) (Quadro 4). As variáveis estudadas que tiveram associações ao DDEr foram as relacionadas aos hábitos alimentares. Crianças que bebiam refrigerantes uma e mais de três vezes ao dia (RP 1,41; p 0,023 e RP 1,34; p 0,017, respectivamente), aquelas que bebiam suco independentemente da frequência, porém com maior probabilidade de DDEr para aquelas com consumo maior a três vezes ao dia (RP 1,60; p = 0,001). Crianças que bebiam os líquidos deixando-os na boca ou utilizavam a mamadeira apresentavam maior prevalência de DDEr (RP 1,51; p <0,001). Houve associação positiva entre a prevalência de DDEr e crianças que relataram possuir refluxo gastroesofágico (RP 1,67; p <0,001). Apenas uma variável socioeconômica relacionada a crianças que moravam só com o pai esteve associada a maior prevalência de DDEr (RP 1,58; p 0,015) (Quadro 5). DISCUSSÃO Os resultados da pesquisa Nacional de Saúde Bucal em crianças de 5 anos de idade 3 relatam prevalência de CD de 53,4% e ceo-d médio de 2,43, que são maiores que os resultados do presente estudo. Em Diadema, crianças de 4 anos de idade, faixa etária mais próxima à REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):172-80 Jenny Abanto e Marcelo Bönecker.indd 174 20/05/16 18:32 Odontopediatria TABELA 1 Distribuição do número e porcentagem de crianças quanto à prevalência e gravidade de cárie dentária (CD) de acordo com a faixa etária, Diadema-SP, 2012 IDADE PREVALÊNCIA SEM CD (em anos) GRAVIDADE COM CD TOTAL ceo-d ceo-s 100 0,1 0,2 0,5 100 0,3 0,5 0,9 1,5 100 0,9 1,5 118 1,5 2,6 100 1,5 2,6 247 0,7 1,2 100 0,7 1,2 N° % N° % N° % 1 280 96,9 9 0,1 0,2 2 273 88,6 35 0,3 3 223 72,4 85 4 192 61,9 TOTAL 968 79,7 ceo-d= dentes cariados, com exodontia indicada e obturados ceo-s= superfícies cariadas, com exodontia indicada e obturadas TABELA 2 Distribuição do número e porcentagem de crianças quanto à prevalência de LDT e DDEr de acordo com a faixa etária, Diadema-SP, 2012 LDT SEM LDT IDADE DDEr COM LDT TOTAL Sem DDEr (em anos) N° % N° % N° % 1 259 89,6 30 10,4 289 100 2 259 84,1 49 15,9 308 100 3 229 74,3 79 25,7 308 4 223 71,9 87 28,1 TOTAL 970 79,9 245 20,1 COM DDEr TOTAL N° % N° % N° % 100 216 51,8 201 48,2 417 100 310 100 193 45,7 229 54,3 422 100 1215 100 409 48,7 430 51,3 839 100 QUADRO 1 Distribuição do número e porcentagem do tipo de LDT nas crianças examinadas do total da amostra, Diadema-SP, 2012 Dentes acometidos TIPO DE LDT Nº % 9 3,2 Fratura de esmalte 202 72,7 Fratura de dentina 22 7,9 Fratura envolvendo a polpa 2 0,7 Alteração de cor 39 14,0 Fístula 4 1,5 TOTAL 278 100 Avulsão REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):172-80 Jenny Abanto e Marcelo Bönecker.indd 175 175 20/05/16 18:32 TELLO G; CARVALHO P; COSTA VS; ABANTO J; OLIVEIRA LB; BÖNECKER M QUADRO 2 Distribuição da gravidade do desgaste dentário erosivo (DDEr) nas crianças examinadas de acordo com a faixa etária, Diadema-SP, 2012 Idade (anos) Profundidade da lesão de DDEr N % Em esmalte 170 84,6 Em dentina 29 14,4 Com proximidade pulpar 2 1,0 Em esmalte 188 82,1 Em dentina 30 13,1 Com proximidade pulpar 11 4,8 Em esmalte 358 83,3 Em dentina 59 13,7 Com proximidade pulpar 13 3,0 3 4 TOTAL empregada no SBBrasil, apresentaram prevalência de CD de 38,1% e ceo-d de 1,5. Este fato pode ser explicado porque o município de Diadema apresentou melhorias nas condições econômicas da população, tendo um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) considerado alto (0,757)21, água fluoretada com 0,7 ppm F desde 1988 (Bönecker et al., 2010) e programas municipais de atenção à saúde bucal de crianças. O aumento da experiência de CD com a idade tem sido descrito em muitos estudos em diferentes países, mas isso não significa que as crianças com mais idade são mais vulneráveis. Na verdade, a experiência de CD é cumulativa e a ocorrência também depende do tempo de exposição.1,22 A partir dessa informação, pode-se inferir que os programas educativos destinados para prevenir a CD devem começar no primeiro ano de vida, a fim de manter a saúde bucal. Talvez o fato de apenas uma variável socioeconômica estar associada à prevalência de cárie se deve ao fato, de que a população de Diadema é relativamente homogênea em relação às condições socioeconômicas, pois se trata de um município onde a quase totalidade das famílias são compostas por trabalhadores da indústria. Outro fator que contribui para esse achado é o fato que Diadema possuir alto IDH. De acordo com os resultados encontrados, observa-se que do total de 1215 pré-escolares examinados, 245 crianças (20,1%) apresentaram algum tipo de LDT. Ao analisar a prevalência de LDT em estudos epidemiológicos realizados em diferentes regiões do Brasil observam-se também resultados divergentes. Comparando os dados de prevalência deste estudo, com os trabalhos encontrados na literatura nacional podemos observar prevalência maior5,23, ou prevalência similar24 e até mesmo prevalência menor.25 Vale destacar que dentre os estudos que encontraram uma prevalência menor, a maioria avaliou somente crianças menores de 36 meses de idade com exceção do estudo conduzido por Ferreira et al. (2009).25 Em relação à gravidade das LDT, existe um consenso na literatura nacional e internacional que o tipo de LDT mais frequente é a fratura coronária que acomete só o esmalte, e esse resultado é similar aos nossos achados.7,23-25 176 Em relação aos fatores associados às LDT no presente estudo foram a idade da criança e a presença de maloclusão do tipo mordida aberta anterior e sobressaliência acentuada. Embora a maioria dos estudos reportados na literatura tenha mostrado que a ocorrência de LDT aumenta de acordo com o aumento da idade, devido ao efeito cumulativo das LDTs25,26, há alguns estudos que não mostraram esta associação.23-24 Em relação à associação da LDT e presença de maloclusão do tipo mordida aberta anterior e sobressalência acentuada, a maioria dos estudos mostram uma associação da ocorrência de LDT com a presença de mordida aberta anterior7,23 e também com a presença de sobressalência acentuada.26 Assim, a presença de uma dessas condições clínicas é considerada um fator de risco para desenvolver LDT, como também foi observado no presente estudo. Não foi encontrada associação da experiência de LDT com as variáveis socioeconômicas estudadas, o que foi confirmado em recente revisão sistemática com meta-análises que conclui que os indicadores socioeconômicos não estão associados com LDT na dentição decídua.27 Um problema de saúde bucal que tem chamado a atenção na Odontopediatria nos últimos anos é o DDEr. Há poucos estudos na literatura odontológica que avaliaram a prevalência de DDEr em crianças menores de 5 anos de idade. A maioria dos estudos epidemiológicos sobre DDEr na dentição decídua encontrados na literatura internacional utilizaram amostras de conveniência o que torna o presente estudo único, pois a amostra é representativa da população. A comparação direta dos resultados obtidos na população de pré-escolares do município de Diadema com outros trabalhos publicados na literatura é dificultada pela utilização de diferentes critérios de diagnóstico e classificações do DDEr, além da diversidade de faixas etárias avaliadas nos diversos estudos.28 De acordo com os resultados obtidos, observa-se que do total de 839 pré-escolares examinados, 430 crianças (51,3%) apresentaram algum tipo de DDEr. Na literatura nacional e internacional são encontrados poucos trabalhos que abordam a prevalência de DDEr, e esta varia de 0,6% a 78,8%.8,9 Ao analisar a prevalência de DDEr em pré-escolares no REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):172-80 Jenny Abanto e Marcelo Bönecker.indd 176 20/05/16 18:32 Odontopediatria QUADRO 3 Análises univariada e multivariada da Regressão de Poisson das variáveis associadas à cárie dentária Variáveis Independentes Univariada Multivariada RP (IC 95%) p 1,03 (0,82- 1,29) 0,803 RP (IC 95%) p 1,87 (1,67 –2,10) < 0,001 Gênero Feminino Masculino Idade 1 ano 2 anos 3,28 (1,66- 6,51) 0,001 3 anos 7,98 (4,22- 15,06) <0,001 4 anos 11,19 (5,99- 20,90) <0,001* 1,05 (0,84- 1,32) 0,657 1,15 (0,91- 1,44) 0,238 1,14 (0,87- 1,48) 0,346 0,74 (0,58- 0,95) 0,017* - - 0,78 (0,60- 1,00) 0,053* - - 0,52 (0,26-1,05) 0,068* - - 0,75 (0,59- 0,96) 0,024* - - 1,77 (1,39- 2,26) < 0,001 Biofilme dentário Não Sim Idade da mãe < 30 anos > 30 anos Idade do pai < 30 anos > 30 anos Escolaridade da mãe < 8 anos de estudo > 8 anos de estudo Escolaridade do pai < 8 anos de estudo > 8 anos de estudo Aglomeração domiciliar Até 1 pessoa por cômodo > 1 pessoa por cômodo Renda familiar Até 2 salários mínimos > 2 salários mínimos Número de Filhos 1 filho > a 1 filho 2,09 (1,63- 2,68) < 0,001* RP: Razão de Prevalência; IC: Intervalo de confiança; MAA: Mordida aberta anterior; SA: Sobressaliência acentuada. * Valores de p significantes para entrar no modelo multivariado. REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):172-80 Jenny Abanto e Marcelo Bönecker.indd 177 177 20/05/16 18:32 TELLO G; CARVALHO P; COSTA VS; ABANTO J; OLIVEIRA LB; BÖNECKER M QUADRO 4 Análises uni e multivariada da Regressão de Poisson das variáveis associadas à LDT Variáveis Independentes Univariada Multivariada RP (IC 95%) p RP (IC 95%) p 1,24 (0,99 - 1,56) 0,053* 1,23 (0,99 - 1,54) 0,059 Características da criança Feminino Masculino Idade 1 ano 2 anos 1,53 (1,00 - 2,34) 0,049* 1,34 (0,88 - 2,06) 0,176 3 anos 2,47 (1,67 - 3,64) <0,001* 2,23 (1,51 - 3,30) <0,001 4 anos 2,67 (1,82 - 3,92) <0,001* 2,48 (1,69 - 3,63) <0,001 1,28 (0,99 - 1,65) 0,06* - - 1,81 (1,45 - 2,26) <0,001* 1,73 (1,38 - 2,16) <0,001 Cárie Dentária Não Sim Maloclusão (MAA e SA) Não Sim Socioeconômicas Estrutura Famíliar Mora com mãe e pai Mora só com a mãe 1,13 (0,84 - 1,52) 0,425 Mora só com o pai 0,90 (0,25 -3,16) 0,864 Mora com outros familiares 0,56 (0,30 - 1,05) 0,072 0,94 (0,72 - 1,22) 0,639 0,93 (0,71 - 1,20) 0,572 0,97 (0,77 - 1,23) 0,831 1,11 (0,85 - 1,44) 0,452 - - 1,10 (0,87 - 1,39) 0,424 - - 1,24 (0,99 - 1,57) 0,063* - - 1,07 (0,85 - 1,34) 0,586 Escolaridade do mãe < 8 anos de estudo > 8 anos de estudo Escolaridade do pai < 8 anos de estudo > 8 anos de estudo Idade da mãe < 30 anos > 30 anos Idade do pai < 30 anos > 30 anos Número de filhos 1 >2 Aglomeração domiciliar Até 1 pessoa por cômodo > 2 pessoa por cômodo Renda familiar Mais de 2 Salários mínimos Mais de 2 Salários mínimos RP: Razão de Prevalência; IC: Intervalo de confiança; * Valores de p significantes para entrar no modelo multivariado. 178 REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):172-80 Jenny Abanto e Marcelo Bönecker.indd 178 20/05/16 18:32 Odontopediatria QUADRO 5 Análises univariada e multivariada da Regressão de Poisson das variáveis associadas ao DDEr Variáveis Independentes Univariada Multivariada RP (IC 95%) p RP (IC 95%) p 1,01 (0,79 - 1,31) 0,914 1,23 (1,09 -1,38) 0,001* - - 1,23 (1,06 - 1,44) 0,008* 1,16 (0,99 - 1,37) 0,066 Características da criança Feminino Masculino Idade 3 anos 4 anos Cárie Dentária Não Sim Consumo de refrigerante Não 1 vez ao dia 1,39 (1,15 - 1,67) 0,001 1,36 (1,11 -1,68) 0,003 2 vezes ao dia 1,34 (1,03 - 1,73) 0,026 1,18 (0,87 - 1,61) 0,284 Mais de 3 vezes ao dia 1,51 (1,21 - 1,88) <0,001* 1,34 (1,05 - 1,71) 0,017 1 vez ao dia 1,31 (1,05 - 1,63) 0,019 1,41 (1,05 - 1,90) 0,023 2 vezes ao dia 1,41 (1,14 - 1,74) 0,001 1,39 (1,03 -1,87) 0,031 Mais de 3 vezes ao dia 1,51 (1,22 - 1,88) <0,001* 1,60 (1,20 - 2,14) 0,001 Deixa na boca ou com mamadeira 1,39 (1,18 - 1,63) <0,001* 1,51 (1,25 - 1,81) <0,001 Usa canudo 1,18 (0,96 - 1,45) 0,107* 1,20 (0,97 - 1,49) 0,094 1,62 (1,39 - 1,90) <0,001* 1,67 (1,37 - 2,05) <0,001 1,04 (0,87 - 1,24) 0,650 0,97 (0,78 - 1,20) 0,791 Mora só com o pai 1,72 (1,31 - 2,27) <0,001* 1,58 (1,09 - 2,27) 0,015 Mora com outros familiares 0,93 (0,72 - 1,20) 0,582 0,99 (0,76 - 1,29) 0,950 0,95 (0,81 - 1,11) 0,503 1,05 (0,88 - 1,25) 0,556 1,05 (0,89 - 1,25) 0,534 1,08 (0,93 - 1,26) 0,318 1,09 (0,94 - 1,26) 0,248 Consumo de suco Não Método de beber Normal (engole logo) Reporta refluxo gastroesofágico Não Sim Socioeconômicas Estrutura Familiar Mora com mãe e pai Mora só com a mãe Escolaridade da mãe < 8 anos de estudo > 8 anos de estudo Escolaridade do pai < 8 anos de estudo > 8 anos de estudo Renda Familiar Até 2 Salários mínimos Mais de 2 Salários mínimos Aglomeração domiciliar 1 pessoa por cômodo > 2 pessoas por cômodo Número de Filhos Um Dois ou mais REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):172-80 Jenny Abanto e Marcelo Bönecker.indd 179 179 20/05/16 18:32 TELLO G; CARVALHO P; COSTA VS; ABANTO J; OLIVEIRA LB; BÖNECKER M Brasil, pode-se observar que há poucos estudos e estes mostram resultados divergentes.8,9 O estudo realizado por Moimaz et al. (2013)8 reportou uma prevalência de DDEr menor (0,6%) quando comparada à encontrada por Murakami et al. (2011)12 no município de Diadema (51,6%). Um dos motivos que pode explicar a divergência nas prevalências encontradas é a utilização de diferentes índices para diagnosticar o desgaste dentário produzido pela erosão (DDEr) em crianças pré-escolares, sendo que no estudo conduzido por Moimaz et al. (2013)8 foi utilizado o índice TWI que avalia todos os tipos de desgaste dentários, enquanto Murakami et al. (2011) 12 utilizaram o índice de O’Brien modificado. Ao relatar a gravidade das lesões de DDEr, existe um consenso na literatura que a maioria das lesões afetam apenas o esmalte, como os resultados encontrados no presente estudo.12,29 Os principais fatores associados à experiência de DDEr em crianças de Diadema estão relacionados a presença de ácidos de origem extrínseca e intrínseca. Dentre os ácidos de origem extrínseca, o consumo frequente de refrigerantes, quando mais de três vezes ao dia10,12,29, assim, como também o consumo frequente de sucos, quando mais de três vezes ao dia29, foram associados à presença de DDEr, não tendo resultados comparáveis na literatura. A presença do ácido de origem intrínseca foi relatada em crianças que possuem refluxo gastroesofágico. Sabe-se que a presença desse distúrbio possui forte associação com a presença de DDEr.30 Não foi encontrada associação estatisticamente significante entre DDEr e a condição socioeconômica no presente estudo. No Brasil, estudo sobre a prevalência de DDEr em crianças, também não verificou uma associação com a condição socioeconômica.12 Cabe salientar que existem poucos trabalhos na literatura nacional e internacional considerando a associação entre o DDEr e condições socioeconômicas. CONCLUSÕES A prevalência e gravidade das lesões de CD em crianças menores de 5 anos no município de Diadema é baixa; a prevalência de LDT é moderada sendo fratura de esmalte a mais frequente; a prevalência de DDEr é alta, no entanto a maioria das lesões acometem somente o esmalte. Os fatores associados a CD foram a idade da criança; a LDT foram a idade da criança e a presença de mordida aberta anterior e/ ou sobressaliência acentuada e o DDEr foram a presença de ácidos de origem intrínseca e extrínseca. APLICAÇÃO CLÍNICA Contribuir nas estratégias de promoção de saúde bucal às crianças menores de 5 anos e, mais especificamente, na população estudada no município de Diadema às crianças e mães/responsáveis que participaram do estudo. AGRADECIMENTOS Este estudo foi financiado pela Fapesp, 2011/18412-8. O artigo é baseado em uma tese submetida à Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo (Fousp), como parte dos requisitos para obtenção do título de doutor em Ciências Odontológicas, área de Odontopediatria. Nossos agradecimentos às pesquisadoras Gabriela Bonini e Christiana Murakami e às equipes de saúde bu­cal do município de Diadema. REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. Bönecker M, Ardenghi TM, Oliveira LB, Sheiham A, Marcenes W. Trends in dental caries in 1- to 4-year-old children in a Brazilian city between 1997 and 2008. Int J Paediatr Dent. 2010; 20(2): 125-31. Sankeshwari RM, Ankola AV, Tangade PS, Hebbal MI. Association of socioeconomic status and dietary habits with early childhood caries among 3- to 5-year old children of Belgaum city. Eur Arch Paediatr Dent. 2013; 14(3):147-53. SB Brasil 2010. Pesquisa Nacional de Saúde Bucal. Resultados Principais. Brasilia-DF. Edit Ministério da Saúde, 2012. 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REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):172-80 Jenny Abanto e Marcelo Bönecker.indd 180 20/05/16 18:32 Endodontia Artigo original (convidado) Avaliação do sistema WaveOne Gold e ProTaper Retratamento para remoção de guta-percha clínico Recebido em: mar/2016 Aprovado em: abr/2016 Evaluation of WaveOne Gold system and ProTaper Retreatment for gutta-percha removal Sergio Luiz Pinheiro - Doutorado Professor Doutor da Faculdade de Odontologia e do programa de mestrado em Ciências da Vida da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC) de Campinas, Brasil RESUMO Objetivo: avaliar ex vivo a quantidade de guta-percha remanescente no retratamento de canal de dentes pré-molares inferiores com único canal utilizando o sistema WaveOne Gold em comparação com o sistema de retratamento ProTaper R. Materiais e métodos: foram selecionados 52 pré-molares inferiores humanos extraídos, distribuídos aleatoriamente em 2 grupos (n=26), em função das técnicas de retratamento: sistema WaveOne Gold (grupo 1) e sistema de retratamento ProTaper R (grupo 2). Após os canais radiculares serem instrumentados e obturados com guta-percha, foram submetidos à desobturação e ao procedimento de retratamento. Os dentes foram seccionados confeccionando uma canaleta nas faces proximais dos dentes obtendo-se duas hemi-secções radiculares, expondo, portanto, a luz do canal preparado. Todas as amostras foram codificadas e fotografadas por máquina Cânon A640 acoplada ao microscópio Zeiss, com aumento de 5 vezes. As fotos foram transportadas para o programa de software Image Tool 3.0. Foi feita medição das áreas de remanescentes de material obturador no interior do canal e a medição da área total do interior do canal através das imagens da secção no computador. As medidas foram comparadas em relação a cada sistema utilizando o programa BioEstat 4.0 (teste de Mann-Whitney). Resultados: A menor porcentagem de material obturador remanescente ocorreu no sistema ProTaper R com diferenças significantes em relação ao sistema WaveOne Gold (p<0.01). Conclusão: o sistema ProTaper R foi mais eficaz na remoção de guta-percha em comparação com o sistema WaveOne Gold, entretanto nenhum dos sistemas removeram totalmente o material obturador do canal. Howard M. Fogel - Mestrado - Professor da Faculdade de Odontologia da Universidade de Manitoba, Canadá Marina Pellegrini Cicotti - Aluna de graduação da Faculdade de Odontologia da PUC-Campinas e Bolsista de Iniciação Científica - Fapic/Reitoria, Brasil Michael Baptista Rodillo - Aluno de graduação da Faculdade de Odontologia da Universidade de Manitoba, Canadá Carlos Eduardo da Silveira Bueno Doutorado - Professor da Faculdade de Odontologia da PUC-Campinas, Brasil Rodrigo Sanches Cunha - Doutorado - Professor da Faculdade de Odontologia da Universidade de Manitoba, Canadá Autor de correspondência: Sérgio Luiz Pinheiro – PUC-Campinas Rua Raul Gasparaini, 525 - Residencial Jardim das Palmeiras Panorama - Vinhedo - SP 13280-000 Descritores: retratamento; guta-percha; endodontia ABSTRACT Objective: This ex vivo research study aims to evaluate ex vivo the amount of remaining gutta -percha during canal retreatment of lower premolars single-rooted using WaveOne Gold system compared with Protaper R system. Materials and methods: 52 mandibular premolars were selected and randomly divided into 2 groups (n = 26), according to the retreatment techniques, which are: WaveOne Gold system (group 1) and ProTaper R system (group 2). After the root canals were instrumented and filled with gutta-percha, they underwent removal procedure. After retreatment procedure, the teeth were sectioned in the proximal surfaces resulting in two hemi-sections exposing the interior of the root canal. All samples were coded and photographed by A640 Canon machine attached to the microscope Zeiss with zoom in 5 times, and the photos were transported to the Image Tool 3.0. software. The evaluation was done by measurement of areas of remaining filling material and the total area of the interior of root canal through the images on the computer. The measurements were compared for each system using BioEstat 4.0 program and Mann-Whitney test. Results: The smallest percentage of remaining gutta-percha occurred in ProTaper Retreatment system with significant differences from the WaveOne Gold system (p <0.01).Conclusion: ProTaper R system was more effective in removing gutta-percha compared with WaveOne Gold system. However none of the both systems completely removed the filling material. Descriptors: retreatment; gutta-percha; endodontics REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):181-6 Sergio Luiz Pinheiro.indd 181 181 23/05/16 15:34 PINHEIRO SL; FOGEL HM; CICOTTI MP; RODILLO MB; BUENO CES; CUNHA RS RELEVÂNCIA CLÍNICA Apresentar e discutir alternativas para remoção da guta-percha em situações clínicas que necessitem de retratamento endodôntico. INTRODUÇÃO Recentemente, a Endodontia vem apresentando constantes avanços tecnológicos e científicos. Porém, devido a fatores anatômicos e biológicos ainda nos deparamos com o insucesso do tratamento endodôntico. Quando isso acontece, a primeira opção é realizar o retratamento endodôntico não cirúrgico por ser um método mais conservador e com uma alta taxa de sucesso.1 O retratamento endodôntico consiste basicamente em refazer o acesso atingindo o comprimento real de trabalho removendo o material obturador para se ter acesso ao forma apical, a reinstrumentação para limpeza e reobturação do sistema de canais radiculares, com o objetivo de superar as falhas do tratamento anterior.2 O sucesso do retratamento depende principalmente da máxima remoção do material obturador durante a limpeza dos canais radiculares.3,4 O remanescente de material obturador deve ser removido, pois este pode conter bactérias responsáveis por inflamação e/ou dor periapical2, além disso, pode enfraquecer a qualidade da vedação da nova obturação. A vedação é importante para preservar a desinfecção adquirida pela limpeza e modelagem do canal e reparar tecidos periapicais.5 Deve ser dada atenção especial à técnica empregada para a remoção desses materiais, tanto quanto a seleção dos instrumentos para evitar novos acidentes. Atualmente, são utilizadas diversas técnicas para remover os resíduos do material obturador como limas manuais, calor, solventes e insertos ultrassônicos.6,7 Porém, segundo a literatura, nenhuma das técnicas de retratamento utilizadas em estudos anteriores foi capaz de remover completamente o remanescente de material obturador do canal radicular.5,8,9,10,11,12 Por isso, desenvolveram-se novos sistemas de instrumentação a fim de aprimorar a remoção de remanescentes, como ProTaper D, D-Race entre outros. Assim, a desobturação de canais radiculares tornou-se, além de mais eficiente, um procedimento mais rápido e menos cansativo para o profissional e paciente devido ao menor tempo empregado para se chegar ao comprimento desejado no interior do canal radicular poupando esforços manuais. ProTaper Retratamento é um sistema de níquel-titânio desenvolvido especialmente para a desobturação, sendo composto por três instrumentos, um para cada terço, usados sequencialmente. A primeira lima D1 (30.08) é utilizada para desobturar o terço coronário com ponta ativa para facilitar a entrada no material obturador; D2 (25.08) atua no terço médio, tem sua ponta arredondada e inativa para respeitar a patência do canal; D3 (20.07) possui as mesmas características da anterior, porém esta é mais longa afim de atingir o comprimento de trabalho total.5,13,14 Recentemente, foi introduzido o sistema reciprocante WaveOne Gold, que tem novas características para uma lima de NiTi. Este sistema tem uma secção transversal em forma de paralelogramo que opera continuamente mudando sua direção de rotação 182 durante a preparação do canal, tendo seu movimento maior no sentido anti-horário e menor no sentido horário, isto faz com que haja mudança entre 2 pontos e 1 ponto de contato com a parede do canal, facilitando a tração da guta-percha. Devido a fabricação com um tratamento térmico Gold-Wire, esse sistema possui maior força e flexibilidade reduzindo o risco de fratura. Apesar da eficácia do sistema essencialmente desenvolvido para retratamento (ProTaper R) os sistemas convencionais também podem demonstrar bons resultados na remoção eficaz do material obturador e são fabricados com a liga mais resistente, M-Wire.5,9,15 Em vista desse fato torna-se interessante estudar esses novos sistemas não idealizados especificamente para a desobturação de canais radiculares e comparar com um sistema mais consagrado para tal finalidade. A hipótese nula do objetivo deste trabalho é não haver diferença significante na desobturação de canais radiculares entre o sistema não idealizado para essa manobra terapêutica comparado com o sistema utilizado para o retratamento endodôntico. MATERIAIS E MÉTODOS O presente trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da PUC-Campinas (Protocolo 1.199.558). Foram selecionados 52 pré-molares inferiores unirradiculares naturais seguindo os seguintes critérios de inclusão: dentes hígidos; com raiz completamente formada; ausência de tratamento endodôntico prévio; ausência de trincas ou fraturas examinadas por lupa (Nalu, São Paulo, Brasil) com aumento de 10X e angulação moderada da raiz segundo Schneider,16 (1971). Os critérios de exclusão foram: dentes com lesão de cárie; com canal obliterado ou calcificado; dentes restaurados; presença de trincas e fraturas. Os dentes foram conservados em água oxigenada (Farmax, Divinopolis, MG, Brasil) por três dias para facilitar a sua limpeza externa e foram cuidadosamente raspados com curetas periodontais para remover qualquer sujidade na superfície externa. Em seguida, os espécimes foram armazenados em soro fisiológico (Laboratório Farmacêutico Arboreto Ltda., Juiz de Fora, MG, Brasil) em 100% de umidade até serem manipulados. Preparo dos dentes Foi realizada a remoção de todas as coroas das amostras com o uso de disco diamantado (Fava, São Paulo, Brasil) para padronizar o comprimento da raiz em 15 mm. Após a localização do orifício do canal, uma lima # 10 tipo K (Dentsply Maillefer, Ballaigues, Suiça) foi introduzida no canal até ser visível no ápice. Dessa medida, foi subtraído 1mm para obtenção do comprimento de trabalho. Instrumentação do canal A instrumentação do canal foi realizada por um único operador com uso do sistema rotatório de NiTi ProTaper (Dentsply Maillefer, Ballaigues, Suiça) de acordo com a técnica descrita pelo fabricante. Todos os canais foram primeiramente explorados com limas manuais n˚10 e 15 tipo K para conhecer a anatomia do canal. Utilização inicial do instrumento S1 (300 rpm; 3 N/cm2) até encontrar pequena resistência. O terço cervical e médio do ca- REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):181-6 Sergio Luiz Pinheiro.indd 182 23/05/16 15:34 Endodontia nal foram alargados com instrumento Protaper SX (300 rpm; 3 N/ cm2) em movimento rotatório. A instrumentação do terço médio e apical foi realizada com a utilização do instrumento S1 e S2 (300 rpm; 3 N/cm2) até atingir pequena resistência e o refinamento do canal com instrumento F1 e F2 (300 rpm; 2 N cm2) até atingir o CT (comprimento de trabalho).5 A irrigação durante o preparo foi realizada com seringa descartável de 5ml (BD, São Caetano do Sul, SP, Brasil) acoplada a agulha hipodérmica (BD Plastipak, Curitiba, PR, Brasil) utilizando solução irrigadora de NaOCl 2,5% (Biodinâmica Ltda, Ibiporã, Brasil). Três mL da solução foi utilizada a cada troca de instrumento perfazendo o volume total de irrigação de 24 mL. Após a completa instrumentação do canal foi feita irrigação com 1 mL de EDTA 17% (Biodinâmica Ltda., Ibiporã, Brasil) (PUI) durante 1 minuto para remoção do smear layer e irrigação final com 5 mL de NaOCl 2,5% durante 3 minutos, aspiração com cânula sugadora durante toda a irrigação. Após a instrumentação, foi realizada a secagem do canal com cone de papel absorvente. Padronização do Cimento O cimento obturador utilizado foi o AH Plus (Dentsply Maillefer, Ballaigues, Suiça). Com o objetivo de padronizar a qualidade e a consistência do cimento, ele foi misturado em partes iguais (1:1) da Pasta A e Pasta B em bloco de mistura, utilizando espátula de metal segundo as recomendações do fabricante. Obturação do canal A obturação dos canais radiculares foi realizada com cones de guta-percha F2 (Dentsply Maillefer, Ballaigues, Suiça) e cimento AH Plus (Dentsply Maillefer, Ballaigues, Suiça) através da técnica de onda contínua de condensação utilizando o revolver de guta-percha (B&L). O acesso foi selado com cimento de ionômero de vidro (CIV) (SS White, São Cristovão, RJ, Brasil) e os dentes foram estocados em 100% de umidade, em temperatura ambiente por 30 dias, para permitir a presa total do cimento. Técnica de Desobturação O CIV foi removido de todas as amostras com ponta diamantada (KgSorensen Ind. E Com. Ltda, Barueri, SP, Brasil) em alta rotação n°1014. As 52 unidades experimentais foram escolhidas aleatoriamente e distribuídas de forma randomizada (Random.org) em 2 grupos de 26 dentes cada, em função das técnicas de retratamento, sendo elas: sistema WaveOne Gold (Grupo 1) e o sistema de retratamento ProTaper R (Grupo 2). GRUPO I – a desobturação foi realizada com o uso do instrumento Primary (25.07) do sistema WaveOne Gold, em movimento reciprocante no “mode” “WaveOne All”. GRUPO II – a desobturação foi realizada com o uso de instrumento D2 (25.08) do sistema ProTaper Retratamento, em movimento rotatório e 400 rpm, 4 N/cm2. Os procedimentos de desobturação foram realizados pelo mesmo operador. O instrumento rotatório, bem como o reciprocante foram utilizados em quatro canais e descartados. A irri- gação entre um instrumento e outro foi realizada com seringa plástica descartável de 5 mL (BD, São Caetano do Sul, SP, Brasil) e agulha utilizando NaOCl 2,5%, perfazendo um total de 20 mL. Irrigação com 5 mL de EDTA 17% (Biodinâmica Ltda, Ibiporã, Brasil) (PUI) por três minutos foi utilizada para remoção de smear layer, seguido de irrigação final com NaOCl 2,5% (Biodinâmica Ltda, Ibiporã, Brasil). Após desobturação, foi realizada a aspiração dos canais radiculares com cânula de aspiração e secagem final com pontas de papel. O retratamento endodôntico foi considerado completo pela utilização de dois métodos: visual; ausência de material obturador aderido ao instrumento utilizado ou no canal após atingir toda a extensão do comprimento de trabalho; e pela observação por meio do microscópio Zeiss com 5 vezes de aumento (Zeiss, Alemanha). Preparo do Espécime para Avaliação Após os procedimentos de retratamento, os dentes foram seccionados confeccionando uma canaleta nas faces proximais dos dentes com disco diamantado (Fava, São Paulo, Brasil) e separados com o auxílio de uma espátula Le Cron nº 5 (SS White Ltda., RJ, Brasil), obtendo-se duas hemi-secções radiculares, expondo a luz do canal preparado. Todas as amostras foram codificadas e fotografadas por uma máquina Cânon A640 (Canon, USA), acoplada ao microscópio Zeiss (Zeiss, Alemanha) com 5 vezes de aumento. As fotos foram transportadas para o programa de software Image Tool 3.0. A avaliação do remanescente de material obturador foi feita de forma cega por um endodontista pela medição das áreas de remanescentes de material obturador no interior do canal e a medição da área total do interior do canal através das imagens da secção no computador. A medição dessas áreas foi obtida em pixels quadrados, que foram individualmente submetidos a uma regra de três, onde a área do canal correspondia a 100% e a área remanescente de material obturador a X. Os resultados foram obtidos em porcentagem e comparados para avaliar a eficácia dos grupos durante a desobturação dos canais radiculares. Análise Estatística As medidas foram comparadas utilizando o programa BioEstat 4.0. Foi feita o teste de normalidade (D’Agostino) e foi possível observar que a amostra apresentou comportamento não paramétrico. Dessa forma, foi feita a análise descritiva e o teste de Mann-Whiteney para comparação entre os 2 sistemas. RESULTADOS As áreas de guta-percha remanescente após a utilização dos dois sistemas estão expressas na tabela 1. A menor porcentagem de guta-percha remanescente ocorreu no sistema ProTaper R (Figura 1) com diferenças significantes em relação ao sistema WaveOne Gold (Figura 2) (p<0.01) (Gráfico 1). Em relação ao tempo dispendido para a desobturação, o sistema ProTaper Retratamento foi mais rápido na remoção da guta percha em relação ao sistema WaveOne Gold (p<0.0001) (Tabela 2 e Gráfico 2). REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):181-6 Sergio Luiz Pinheiro.indd 183 183 23/05/16 15:34 PINHEIRO SL; FOGEL HM; CICOTTI MP; RODILLO MB; BUENO CES; CUNHA RS TABELA 1 Medianas, desvios interquartílicos, médias aritméticas, desvios padrão e análise estatística de Mann-Whitney da porcentagem de desobturação entre os sistemas ProTaper Retratamento WaveOne Gold MD(DI) 1.54 (4.26)A 10.39 (15.29)B MA (DP) 2.75 (3.68)A 14.51 (12.21)B p 0.0000 MD: medianas; DI: desvios interquartílicos; MA: médias aritméticas; DP: desvios padrão; Letras diferentes no sentido horizontal; p<0.01. FIGURA 1 Guta-percha remanescente com uso do sistema ProTaper Retratamento FIGURA 2 Guta-percha remanescente com uso do sistema WaveOne Gold GRÁFICO 1 Medianas (MD) e médias aritméticas (MA) da porcentagem de desobturação entre os sistemas GRÁFICO 2 Medianas (MD) e médias aritméticas (MA) do tempo de desobturação em segundos entre os sistemas ProTaper Retratamento e WaveOne Gold 14.51 16 167 164.46 180 160 14 10.39 12 140 120 10 97 96.26 100 8 80 6 1.54 4 60 1.54 WaveOne Gold 40 2 20 0 ProTaper Retratamento WaveOne Gold 0 ProTaper Retratamento TABELA 2 Medianas, desvios interquartílicos, médias aritméticas, desvios padrão e análise estatística de Mann-Whitney do tempo de desobturação em segundos entre os sistemas ProTaper Retratamento e WaveOne Gold ProTaper Retratamento WaveOne Gold MD(DI) 97.00 (36.50)A 167.00 (16.50)B MA (DP) 96.26 (23.45)A 164.46 (17.80)B p <0.0001 MD: medianas; DI: desvios interquartílicos; MA: médias aritméticas; DP: desvios padrão; Letras diferentes no sentido horizontal; p<0.0001. 184 REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):181-6 Sergio Luiz Pinheiro.indd 184 23/05/16 15:34 Endodontia DISCUSSÃO O sucesso do retratamento endodôntico está diretamente relacionado com a desinfecção dos canais radiculares, por conseguinte devemos ter como objetivo remover a maior quantidade possível de material obturador, durante sua limpeza.3,4,17 Sua eficácia é muito importante para desinfecção e para redução de bactérias responsáveis pela inflamação ou dor periapical no canal radicular2,18 além disso, pode influenciar negativamente na qualidade da vedação da nova obturação.10 A metodologia deste estudo foi baseada a partir do modelo descrito por Rios et al.5 (2014). Foram utilizados dentes uniradiculares pela facilidade de simular um tratamento endodôntico o mais real possível.5,18 Todos os dentes foram radiografados para confirmar a existência de um único canal e padronização da curvatura. As coroas foram removidas para padronizar ao máximo o tamanho do comprimento de trabalho e a quantidade de material obturador dentro do canal de acordo com Rios et al.5 (2014) e Surakanti et al.18 (2014). Dessa forma, também se eliminou a influência de algumas variáveis como anatomia da coroa e o acesso do canal, resultando em um estudo mais confiável.5,19 A instrumentação inicial dos canais foi realizada por um único operador com o sistema ProTaper Universal afim de que todas as amostras tivessem máxima padronização em relação ao volume de ampliação do canal radicular (Rios et al., 2014).5,10 Depois da obturação dos sistemas de canais radiculares, as amostras foram armazenadas em água destilada, em temperatura ambiente por 30 dias, para permitir a presa total do cimento assim como simular o mais perto de uma situação clínica.5,13 A remoção do material obturador foi considerada completa de acordo com os seguintes fatores: ausência de material aderido a lima ou nas paredes do canal e após atingir toda a extensão do comprimento de trabalho.5,8 A ausência de material remanescente também foi avaliado visualmente e microscopicamente.5,8 No presente estudo, a quantidade de guta-percha remanescente foi analisada seccionando as raízes longitudinalmente em duas metades com uso de um disco diamantado dupla face e auxílio de uma espátula Le Cron nº 5.5, 17 Este método deve ser realizado com cuidado para não deslocar a guta-percha, por isso a utilização do instrumento de corte e manual tornando o estudo mais preciso. 5,20 Nos trabalhos Bueno et al.20 (2006) e Tasdemir et al.21 (2008), as amostras foram fotografadas, ampliadas e medidas por um software da mesma forma descrita neste estudo. A desvantagem dessa técnica é que imagens observadas de uma única direção não mostram a espessura e volume do remanescente. 20 Não teve amostras perdidas durante a clivagem. Cada vez mais, tem sido propostas diferentes técnicas de retratamento, com instrumentos manuais, rotatórios, reciprocantes, com ou sem solvente.5,8,17 A forma convencional de remover guta percha com instrumentos manuais, com ou sem solventes demandam mais tempo principalmente quando o material está muito bem condensado.5,10,17 Portanto, com a in- tenção de tornar o procedimento mais rápido e menos cansativo, foi escolhido utilizar sistemas rotatórios e reciprocante.10 Segundo Takahashi et al.17 (2009) e Rios et al.5 (2014), solventes são usados para facilitar o processo de retratamento endodôntico, porém devem ser utilizados com cuidado devido ao seu potencial citotóxico e formação de camada amolecida de guta-percha aderida as paredes do canal e dentro dos túbulos dentinários.9 Fruchi et al.9 (2014) relataram que o uso de solventes deve ser considerado somente em casos com dificuldades de alcançar o comprimento de trabalho, como em canais curvos, o que não é o caso deste estudo. Além disso, segundo Ma et al.10 (2012), os grupos que não utilizaram solventes levaram menos tempo para atingir remoção satisfatória de guta percha do que nos grupos que foram utilizado solventes. Sendo assim, no presente estudo, não foi utilizado nenhum tipo de solvente, somente as limas ProTaper Retratamento (D2) e WaveOne Gold (Primary). O objetivo do estudo foi avaliar a eficácia dos sistemas sem auxílio de solvente. De acordo com o estudo de Takahashi et al.17 (2009), o uso do microscópio é essencial para o sucesso do tratamento endodôntico em casos simples e complexos. Durante o retratamento, o microscópio facilita a detecção de material obturador remanescente que pode ser responsável pelo insucesso do retratamento.17 Portanto, todas as amostras foram analisadas e fotografadas com o uso de microscópio com aumento de 5 vezes e transportadas para programa de software Image Tool 3.0. Os resultados deste trabalho demonstraram que a menor porcentagem de guta-percha remanescente ocorreu no sistema ProTaper Retratamento (2.75%) com diferenças significantes em relação ao sistema WaveOne Gold (14.51%). Os resultados favoráveis do sistema ProTaper Retratamento estão de acordo com o estudo de Rios et al.5 (2014), Takahashi et al.17 (2009) e Giuliani et al.13 (2008) que relataram que o sistema ProTaper Retratamento é capaz de remover grandes quantidades de guta-percha através das espirais em volta do instrumento. Apesar do instrumento D2 (ProTaper Retratamento) não ter a ponta ativa, o sistema de retratamento tem secção triangular convexa10 com um ângulo de corte negativo e ausência de superfície radial que permite ação de corte maior.5 O sistema reciprocante WaveOne Gold possui secção transversal de paralelogramo otimizado para melhorar a capacidade de corte, essa forma permite que apenas uma ou duas bordas cortantes entre em contato com a parede do canal minimizando o efeito de “enroscamento”. Os instrumentos deste sistema passam por várias fases de aquecimento após sua fabricação, que tem a cor dourada como resultado da oxidação do instrumento e proporciona considerável aumento na resistência e flexibilidade. Embora seja um instrumento promissor para instrumentação de canais radiculares, este instrumento demonstrou-se desfavorável para a remoção de guta percha em relação ao sistema rotatório. Uma possível explicação para o presente desempenho do sistema WaveOne Gold para remoção de guta-percha seria sua ponta semiativa o que daria menor penetrabilidade à guta-per- REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):181-6 Sergio Luiz Pinheiro.indd 185 185 23/05/16 15:34 PINHEIRO SL; FOGEL HM; CICOTTI MP; RODILLO MB; BUENO CES; CUNHA RS cha, assim como sua extrema flexibilidade, 80% maior que nos demais instrumentos NiTi22, o que reduziria a firmeza necessária na remoção do material condensado. Além disso, o ângulo helicoidal e a forma de paralelogramo podem ser responsáveis pela menor capacidade de tracionar a guta-percha. É importante ressaltar que os dois instrumentos utilizados neste estudo (Primary e D2) foram escolhidos de forma que seus tamanhos estivessem o mais padronizado possível, contudo, possuem tapers variados entre si. O instrumento D2 do sistema ProTaper R possui taper constante de .08 e WaveOne Gold um taper constante de .07 nos 3mm apicais e variável até o D16, considerando a instrumentação inicial realizada com o sistema ProTaper Universal de tamanho 25.08, pode-se argumentar que o sistema de desobtura teve um melhor desempenho pelo fato de possuir taper igual ao instrumento usado inicialmente. Não houve fratura inicial de instrumentos em nosso estudo. Isto pode estar relacionado com a anatomia favorável com curvatura moderada usada no estudo, e a utilização de materiais mais resistentes e flexíveis pode ter contribuído pela falta de fraturas. Mais estudos comparando rotatório e reciprocante devem ser feitos especialmente avaliando fraturas e deformações, principalmente em canais curvos. Em relação ao tempo de trabalho, o achado no presente estudo esta de acordo com o estudo Fruchi et al.9 (2014). O instrumento rotatório demonstrou uma remoção de remanescente mais rápida que o instrumento reciprocante em canais retos obturados com guta-percha e cimento AH plus. CONCLUSÃO - Conclui-se que os dois instrumentos não removeram totalmente o material obturador do canal. - O sistema rotatório ProTaper Retratamento demonstrou resultados mais eficientes na remoção de guta-percha do que o sistema reciprocante WaveOne Gold. Mais estudos são necessários para avaliar a eficácia desses sistemas. APLICAÇÃO CLÍNICA O sistema ProTaper Retratamento é uma opção ecifiente e viável para o clínico utilizar para remoção de guta-percha nos casos de retratamento endodôntico. AGRADECIMENTOS A Fapic-Reitoria da PUC de Campinas pela bolsa de Iniciação Científica. REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. Saad, AY.; Al-Hadlaq, SM.; Al-Katheeri, NH. Efficacy of Two Rotary NiTi Instruments in the Removal of Gutta-Percha During Root Canal Retreatment. Journal of Endodontics 2007;33(1):38-4. 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REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):181-6 Sergio Luiz Pinheiro.indd 186 23/05/16 15:34 Relato de caso clínico (convidado) Dentística Infiltrante resinoso vs Microabrasão no manejo de lesões de mancha branca: relato de caso Recebido em: mar/2016 Aprovado em: abr/2016 Resin infiltration vs microabrasion in white-spot lesions treatment: case report Giselle Rodrigues de Sant’anna - RESUMO Objetivo: Apresentar caso clínico de tratamento estético das lesões de mancha branca após tratamento ortodôntico nos dentes superiores anteriores através de duas técnicas minimamente invasivas usando o sistema de infiltração de resina e microabrasão. Relato de caso: Paciente com 18 anos de idade apresentava lesões de manchas brancas inativas nos dentes 11, 12, 13, 21, 22, 23. O sistema de infiltrante de resina Icon® (DMG, Hamburgo, Alemanha) foi utilizado nos dentes 11, 12, 13, enquanto os dentes 21, 22, 23 foram submetidos à microabrasão com Whiteness RM (FGM, Joinville, Santa Catarina, Brasil). Ambos os protocolos foram utilizados de acordo com as recomendações do fabricante. Nos dentes 21 e 22, o produto para microabrasão foi aplicado com espátula que acompanha o kit, enquanto que no dente 23 utilizou-se o mesmo produto aplicado com taça de borracha em baixa rotação, todos os procedimentos executados por um único operador. A microabrasão com taça de borracha proporcionou uma superfície mais lisa e homogênea. Ambos os produtos tiveram resultados satisfatórios na resolução estética das lesões de mancha branca após um ano de acompanhamento. Conclusão: Os dois produtos apresentam bom desempenho e resolutividade para os problemas estéticos de lesões de manchas brancas inativas, entretanto deve-se levar em conta o tempo clínico, toxicidade, a atividade da lesão e a possibilidade de desgaste da estrutura dentária. Mestre em Odontopediatria e doutora em Engenharia Biomédica - Cirurgiã-Dentista do Serviço de Odontopediatria da Secretaria de Saúde do Município de Barueri Iolanda Macedo Silva - Cirurgiã- Dentista Ramonike Lopes Lima - Doutoranda em Odontopediatria na Universidade Cruzeiro do Sul Wanessa Christine Souza-Zaroni Doutorado em Dentística - Professora adjunta na Universidade Cruzeiro do Sul Mariana Ferreira Leite - Doutorado em Materiais Dentários - Professora da União Metropolitana para o Desenvolvimento da Educação e Cultura - Faculdade de Ciências Agrárias e da Saúde - Unime Mohammad Samiei - MSD - Professor de Endodontia da Tabriz University of Medical Sciences, Tabriz, Iran Termo de consentimento livre e esclarecido assinado pelo paciente e enviado à Revista Autor de correspondência: Giselle Rodrigues de Sant’Anna Rua Saturnino dos Santos, 106 Vila Firmiano Pinto - São Paulo – SP Brasil 04124-150 [email protected] Descritores: cárie dentária; esmalte dentário; microabrasão do esmalte; estética dentária; ortodontia ABSTRACT Objective: To present a case report of aesthetic treatment of post orthodontic white-spot lesions in the anterior superior teeth through two minimally invasive techniques using resin infiltration system or microabrasion. Case report: Patient 17 years of age had inactive white-spots lesions on teeth 11, 12, 13, 21, 22, 23. The teeth 11, 12, 13 received the resin infiltrating system Icon® (DMG, Hamburg, Germany) while the teeth 21, 22, 23 were submitted to microabrasion with Whiteness RM (FGM, Joinville, Santa Catarina, Brazil). Both protocols were used according to manufacturer’s recommendations. In the teeth 21 and 22, the product of the microabrasion was applied with a spatula that accompanied the kit, while the tooth 23 received the same product applied with a rubber cup at low speed turbine, all by a single operator. The microabrasion with rubber cup occasioned a more smooth and homogeneous surface. Both products had satisfactory results in aesthetic resolution of the white-spots lesions, for a 1-year follow-up. Conclusion: Although both products are able to resolve aesthetic problems of inactive white-spots lesions, it should be taken into account the clinical time, toxicity, the activity of the lesion and the possibility of wear of the tooth structure. Descriptors: dental caries; dental enamel; enamel microabrasion; orthodontics REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):187-91 Giselle Sant'anna.indd 187 187 23/05/16 15:35 SANT’ANNA GR; SILVA IM; LIMA RL; SOUZA-ZARONI WC; LEITE MF; SAMIEI M RELEVÂNCIA CLÍNICA Apresentar alternativas de abordagens minimamente invasivas para proporcionar estética do sorriso em casos de lesões de manchas brancas de cárie após tratamento ortodôntico com o uso de técnicas consagradas e novas abordagens com novos materiais. INTRODUÇÃO O tratamento ortodôntico é fator de risco para o desenvolvimento de cárie dentária e doença periodontal, uma vez que dificulta a higiene e age como um retentor adicional de biofilme dental, o que favorece a adesão e colonização por microrganismos durante um longo período.1 Após a remoção dos aparelhos ortodônticos, áreas de desmineralização do esmalte e cavitação em torno de braquetes e as bandas são frequentemente encontradas, bem como a inflamação dos tecidos periodontais.1 A prevalência de lesões de manchas brancas decorrentes de tratamento ortodôntico é relativamente elevada e afeta entre 40% a 60% dos pacientes.2 Mesmo após a remineralização dental, manchas brancas inativas podem comprometer a estética do sorriso, especialmente em dentes anteriores. Lesões de manchas brancas são os primeiros sinais de desmineralização do esmalte com o aspecto histológico definido por camadas distintas denominadas zona transclucente (mais próxima da junção amelodentinária), zona escura, corpo de lesão, e zona superficial (camada exterior de esmalte). O corpo de lesão é uma área desmineralizada confinada a alguns micrometros a partir da superfície exterior, que proporciona a aparência branca e opaca, devido a um aumento da porosidade. Apesar do desenvolvimento de novas tecnologias para a detecção precoce de lesões de cárie dentária, as manchas brancas podem levar ao desenvolvimento de lesões cavitadas na superfície do esmalte.3 A primeira opção no tratamento de mancha branca é a remineralização através de tratamentos tópicos com terapia com fluoretos e outros produtos, tais como o fosfopeptídio de caseína-fosfato de cálcio amorfo (CPP-ACP). Embora a remineralização de lesões de manchas brancas possa ser obtida através da terapia com flúor, clinicamente tem sido demonstrado que as lesões não desaparecem, a menos que sejam removidas mecanicamente por abrasão ou por mascaramento por infiltração de resina de baixa viscosidade ou com clareamento dental ou tratadas com procedimentos restauradores invasivos.2-4 A microabrasão do esmalte foi desenvolvida como um método eficiente para remoção de descoloração na superfície de esmalte, utilizando ácido clorídrico a 18% e pedra-pomes; outros protocolos também sugerem o uso de ácido fosfórico a 37%.5 Esta técnica é indicada para o tratamento estético de alterações de cor limitadas à camada mais superficial do esmalte como as lesões brancas de fluorose, desmineralização após tratamento ortodôntico, hipoplasia do esmalte resultante de trauma dental ou infecção idiopática.6,7 A microabrasão tem a vantagem de ser simples, tendo um baixo custo operacional, proporcionar um aspecto saudável clínica e esteticamente ao esmalte imediatamente após o tratamento, além de ser uma técnica conservadora.8,9 Com base no conceito de odontologia minimamente invasiva, 188 que preserva a estrutura do dente, o tratamento de lesões de cárie dentária microinvasivo por infiltração com materiais resinosos vem sendo recomendado.10,11 A infiltração em lesões de cárie dentária é uma alternativa para superfícies não cavitadas remineralizadas ou não, que objetiva tratar lesões precoces, sem a necessidade de preparo cavitário, protegendo, fortalecendo e preservando os tecidos saudáveis em torno das áreas afetadas.12 Considerando a necessidade de uso de protocolos minimamente invasivos no manejo de alterações cromáticas resultantes de tratamento ortodôntico, este estudo tem como objetivo avaliar a eficácia da microabrasão dental e a infiltração com resina, bem como técnicas de aplicação diferentes, com finalidade estética em lesões de manchas brancas inativas, com um ano de acompanhamento. RELATO DE CASO Paciente do sexo feminino, 18 anos de idade, foi atendida no serviço de Odontopediatria, com queixas estéticas em dentes anteriores superiores, após tratamento ortodôntico. No exame clínico, lesões de manchas brancas inativas foram detectadas nos elementos 11, 12, 13, 21, 22 e 23 (Figura 1). No planejamento, optou-se por realizar a infiltração de resina nos dentes 11, 12 e 13 e a microabrasão nos dentes 21, 22 e 23. Os elementos dentários comprometidos esteticamente não mostraram alterações pulpares ou periodontais. Paciente e responsáveis foram informados sobre as técnicas a serem utilizadas; e concordaram com o tratamento assinando termo de consentimento livre e esclarecido. A infiltração de resina com Icon® (DMG, Hamburgo, Alemanha) foi indicada nos elementos 11, 12, 13 e microabrasão usando Whiteness RM (FGM, Joinville, Santa Catarina, Brasil) foi indicada nos elementos 21 22, 23. O procedimento foi realizado com isolamento absoluto nos dentes 13 a 24 (Figura 2). A técnica para a infiltração com Icon® (DMG Hamburgo, Alemanha) foi realizada como se segue: 1. profilaxia profissional com escova Robson e pedra-pomes; 2. condicionamento da superfície do esmalte com Icon® Etch (ácido clorídrico a 15%) durante 2 minutos; 3. lavagem dos dentes durante 30 segundos; 4. secagem com ar durante 30 segundos; aplicação do Dry-Icon® (99% etanol) durante 30 segundos, a fim de desidratar a estrutura e manter os espaços abertos para infiltração do produto; 5. secagem com seringa triplice durante 30 segundos; 6. aplicação do infiltrante Icon® (dimetacrilato de trietileno-glicol - TEGDMA), durante 3 minutos, seguido de fotopolimerização durante 40 segundos; 7. reaplicação do infiltrante Icon® por 1 minuto, seguido de fotopolimerização por 40 segundos. O uso do produto seguiu as recomendações do fabricante. A aplicação de Icon® não reduziu completamente as lesões de manchas brancas, mas o aspecto final apresentou-se satisfatório, com homogeneidade e brilho à superfície, o que mitigou os efeitos desagradáveis apresentados inicialmente (Figuras 3 e 4). A técnica de microabrasão sobre os dentes 21, 22, 23, (Grupo 2) foi realizada com Whitness RM® (FGM, Joinville, SC, Brasil) (Fi- REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):187-91 Giselle Sant'anna.indd 188 23/05/16 15:35 Dentística guras 5 e 6) e a sua aplicação procedeu-se como se segue: 1. após a profilaxia com escova Robson e pedra-pomes, o produto Whiteness RM® foi aplicado sobre os dentes 21 e 22 com espátula que acompanha o kit, fazendo movimentos de atrito durante 10 segundos em cada elemento (Figuras 5 e 6); 2. lavagem abundante da região, para verificar a necessidade de reaplicação do produto e umidificação do elemento dental; 3. aplicação do produto, utilizando a mesma espátula que acompanha o kit, novamente com movimentos de fricção, por 10 segundos por elemento dental. O protocolo totalizou 10 aplicações em cada elemento na mesma sessão. O mesmo produto foi utilizado no dente 23, no entanto, outra técnica de aplicação foi realizada. Enquanto os dentes 21 e 22 receberam a aplicação do produto usando a espátula do kit, o dente 23 recebeu 10 aplicações com taça de borracha em baixa velocidade, com os mesmos movimentos por até 10 segundos, todos realizados por um único operador (Figura 7). Todos os dentes foram polidos com disco de acabamento Soflex® 3M ESPE Dental (St. Paul, MN, EUA), em baixa velocidade. A paciente recebeu orientações para controle do biofilme e foi recomendado o uso de produtos de higiene bucal com flúor. A paciente foi acompanhada regularmente durante um período de um ano. De acordo com a figura 8, o dente que recebeu microabrasão (21) não apresenta qualquer alteração cromática após um ano, enquanto que os tratados com a infiltração de mancha branca apresentavam sinais quase imperceptíveis após um ano de tratamento, o que demonstra neste caso a estabilidade em ambas as técnicas. DISCUSSÃO Abordagens minimamente invasivas para o manejo de lesões de manchas brancas estão a ganhar importância na Odontologia atual, objetivando resultados satisfatórios para os pacientes que têm alterações cromáticas superficiais no esmalte através de tratamentos sem queixas de dor, anestesia ou preparos cavitários.3-12 A paciente do estudo apresentado tinha como queixa principal insatisfação com a estética do sorriso devido às lesões de manchas brancas nos dentes anteriores após a remoção dos aparelhos ortodônticos, diagnosticadas como lesões incipientes inativas de cárie dentária, que foram mitigadas com aplicação de técnicas conservadoras como a microabrasão e infiltração de resina. Durante o tratamento ortodôntico, os profissionais têm uma excelente oportunidade para promover a educação, prevenção e controle em saúde bucal das doenças biofilme dependentes para os pacientes, uma vez que os acompanha regularmente durante um período prolongado de tempo, especialmente aqueles que se encontram em uma idade apropriada para o aprendizado e formação do hábito.2 Mesmo com monitorização frequente, lesões iniciais de cárie podem aparecer após o tratamento ortodôntico, exigindo, portanto, uma solução estética. A técnica de microabrasão pode ser uma opção para a melhoria estética para pacientes com diagnóstico de lesões de manchas brancas inativas uma vez que proporciona aspecto clínico de saúde e aparência estética após o procedimento.9 Além disso, em casos de fluorose, os dentes apresentam superfície mais mineralizada após microabrasão, o que consequentemente, os torna mais resistentes à demineralização.12 Quando realizada de forma comedida, a microabrasão promove uma superfície lisa proporcionando menor adesão de Streptococcus mutans.13 Infiltrante resinoso para cárie é uma opção de tratamento inovador para lesões de mancha branca, uma vez que preenche, fortalece e estabiliza o esmalte desmineralizado sem qualquer preparo ou danos à estrutura do dente saudável.11-15 Icon® DMG é uma resina fotopolimerizável de baixa viscosidade cuja composição é de dimetacrilato de trietilenoglicol (TEGDMA), que penetra no interior da lesão por forças capilares e cria uma barreira de difusão não apenas na superfície da lesão, mas em profundidade. Além disso, a aplicação do infiltrante resinoso promove valores de resistência de união semelhantes ao do esmalte sadio16 e evita infiltração e desenvolvimento de lesões de cárie secundárias ao redor restaurações com compósitos.17 O infiltrante resinoso tem mostrado eficácia na inibição da progressão da cárie na primeira infância e de lesões proximais em crianças, adolescentes e jovens adultos.18,19 Além da aplicação em lesões de manchas brancas, o produto também pode ser aplicado para minimizar os efeitos de fluorose e reduzir a fragilidade dos dentes com defeitos de esmalte, tais como hipoplasia e amelogênese imperfeita. Considerando que a infiltração com resina aumenta a resistência dos dentes, mais estudos precisam ser desenvolvidos sobre a sua ação em diferentes condições clínicas de tecido desmineralizado. Comparando as duas técnicas realizadas no estudo, ambas demostraram resultados estéticos satisfatórios, reduzindo o impacto da mancha branca no esmalte dental. Apesar de a microabrasão ser uma técnica simples e barata, tem algumas desvantagens, tais como aumento do tempo clínico necessário para execução (10 aplicações), toxicidade dos produtos utilizados, remoção de tecido é contraindicado em casos de lesões de manchas brancas ativas.8 A resina infiltrante é muito mais dispendiosa em termos econômicos, mas é uma técnica mais rápida para ser executada e pode ser aplicada em superfícies com lesões incipientes ativas, o que expande as suas indicações, tanto como para o controle da cárie dental como a reabilitação estética. A microabrasão pode ser feita com o auxílio de espátulas de madeira ou plástico, taça de borracha e pedra-pomes ou borrachas abrasivas em baixa velocidade.9 Neste estudo, foram observados os melhores resultados, após a aplicação do produto com a taça de borracha em baixa velocidade, por exercer uma pressão adicional sobre a superfície do esmalte, apresenta mais conforto para o operador que necessita de menos força para realizar o procedimento, evitando lesões por esforços repetitivos. O dente 23 obteve melhores resultados com superfície mais lisa e uniforme. Apesar de a microabrasão promover resultado estético mais satisfatório (superfície lisa e cor mais homogênea) do que a infiltração com agentes resinosos é importante considerar cuidado ao aplicar esta técnica, devido ao uso de ácido na formulação, desgaste mecânico mínimo e remoção da estrutura do dente. Em contraste, a infiltração de lesões de mancha branca REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):187-91 Giselle Sant'anna.indd 189 189 23/05/16 15:35 SANT’ANNA GR; SILVA IM; LIMA RL; SOUZA-ZARONI WC; LEITE MF; SAMIEI M FIGURA 1 Vista inicial frontal dos dentes 13-23 com lesões de manchas brancas pós-tratamento ortodôntico FIGURA 4 Dente com lesão de mancha branca após o tratamento com infiltrante resinoso Icon® FIGURA 2 Isolamento absoluto dos dentes para tratamento estético minimamente invasivo FIGURA 5 Dente 21 com lesão de mancha branca após tratamento ortodôntico antes da microabrasão com Whiteness RM® FIGURA 3 Dente com lesão de mancha branca após tratamento ortodôntico antes do infiltrante resinoso Icon® FIGURA 6 Dente 21 com lesão de mancha branca em procedimento de microabrasão com Whiteness RM® e espátula 190 REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):187-91 Giselle Sant'anna.indd 190 23/05/16 15:36 Dentística FIGURA 7 Microabrasão do dente 23. Aplicação do produto Whiteness RM® com taça de borracha em baixa rotação FIGURA 8 Microabrasão com o produto Whiteness RM® no dente 21 e infiltrante resinoso com o produto Icon® no dente 11: um ano de acompanhamento pode ser uma alternativa viável para casos de pacientes com fatores de risco para o desenvolvimento de cárie, como pacientes usando aparelhos ortodônticos, para melhorar a resistência sem desgastar os tecidos mineralizados. APLICAÇÃO CLÍNICA A pressão externa, através da mídia e dos padrões de beleza, acaba mobilizando o indivíduo em sua percepção de si e, concomitantemente, na sua autoestima. A infiltração de lesões de mancha branca pode ser uma alternativa viável de tratamento estético para casos de pacientes com lesões ativas de cárie, o que não é indicado para microabrasão do esmalte. Ambas as técnicas oferecem possibilidade de melhora estética e de qualidade de vida, uma vez que a beleza e suas implicações na representação de si têm grande efeito no comportamento e nas relações dos indivíduos. CONCLUSÃO O uso de infiltrante Icon® e microabrasão com Whiteness RM® foi eficaz em relação ao tratamento estético de lesões de manchas brancas, enquanto que a técnica de microabrasão proporcionou mudanças de cor quase imperceptíveis, mesmo um ano após o procedimento. REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. Ireland AJ, Soro V, Sprague SV, et al. The effects of different orthodontic appliances upon microbial communities. Orthod Craniofac Res 2014;17(2):115-23. Heymann GC, Grauer D. A contemporary review of white spot lesions in orthodontics. J Esthet Restor Dent. 2013;25(2):85-95. Van der Veen MH. Detecting Short-Term Changes in the Activity of Caries Lesions with the Aid of New Technologies. Curr Oral Health Rep 2015;2(2):102-109. Mehta R, Nandlal B, Prashanth S. 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Alterações de comportamento podem ser observadas em 24,7% dos indivíduos portadores dessas desarmonias. Aqui são discutidos os fatores envolvidos e relatados dois casos de duas crianças: uma portadora de severa classe II de Angle em dentição mista, e a outra portadora de severa classe III em dentição temporária. O restabelecimento da harmonia facial gerou alterações significativas no comportamento. ca da organização Biofokus, Turquia Sule Simsek - Odontopediatra Aluna da Organização Biofokus, Turquia Patricia Valério – PhD - Professora da Organização Biofokus, Turquia - Pesquisadora e professora do Wilma Simões European Institute (WSEI), Portugal Autor de correspondência: Patricia Valério Avenida Cristiano, 1630/901 CEP 31170-024, Cidade Nova Belo Horizonte, MG Brasil [email protected] Descritores: autoimagem; imagem corporal; maloclusão; tratamento precoce ABSTRACT Disharmonies of the craniofacial complex have a profound impact on the psychosocial health of children and adolescents. Psichological changes can be observed in 24.7% of patients presenting these alterations. Here we discussed the factors involved reporting two cases of two children: One patient with severe Angle class II in mixed dentition and the other showing severe class III in temporary dentition. The reestablishment of facial harmony generated significant changes in psychosocial behavior. Descriptors: self-image; body image; malocclusion; early treatment RELEVÂNCIA CLÍNICA Compreender a importância das intervenções precoces no tratamento das desarmonias faciais propicia aos pacientes crianças e adolescentes uma melhor qualidade de vida não só no aspecto funcional, mas principalmente no aspecto psicossocial. Orientar adequadamente os pais faz com que a percepção dos mesmos em relação às maloclusões mude sensivelmente. 192 REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):192-7 Patricia Valério.indd 192 23/05/16 15:37 Saúde Coletiva INTRODUÇÃO Existe muita controvérsia com relação ao impacto das maloclusões e seu tratamento na qualidade de vida do indivíduo. Com relação à saúde psicossocial, as alterações na estética facial, interferem diretamente na autoestima, atratividade percebida pelo paciente e pelo grupo social e julgamento de potencial de inteligência, ou seja, a atratividade estética gera na sociedade um preconceito sobre a personalidade e capacidade do indivíduo.1 67,5% da população adulta apresenta grau significativo de assimetria facial.2 O impacto dessas assimetrias no indivíduo com a personalidade adulta pode já estar diminuído, no entanto, duas revisões sistemáticas recentes mostraram um alto grau de impacto físico, social e psicológico das assimetrias, em crianças e adolescentes.3,4 Sabemos que a maioria dos adolescentes (53,2%) brasileiros precisa de correção de maloclusões. Numa análise multivariada, essa prevalência é maior para o sexo feminino. Também é sabido que a prevalência é menor nas macrorregiões nordeste e centro-oeste, quando comparadas com a região sudeste. A alta prevalência de necessidade de tratamento entre adolescentes no Brasil constitui um grande desafio para as políticas de saúde pública5, levando à necessidade de se buscar possibilidade de intervenções precoces, mais baratas e efetivas, para diminuir essa alta prevalência. As intervenções precoces se sustentam no fato de que as alterações de crescimento facial são 56% morfológicas e 44% funcionais, sendo que 61% do total das alterações se devem a fatores adquiridos e apenas 39% a fatores congênitos. Desses congênitos, apenas 15% são hereditários.6 Portanto, o controle dos fatores predisponentes não hereditários, o mais precocemente possível, tende a diminuir sensivelmente a prevalência de alterações do crescimento e desenvolvimento do sistema estomatognático. Um estudo sobre padrão epidemiológico das maloclusões graves em adolescentes de 12-15 anos no Brasil, mostrou que os indivíduos que tiveram acesso a tratamentos preventivos em fases precoces do desenvolvimento, tiveram drástica redução na gravidade das maloclusões.7 Cabe aqui A B relembrar que diminuir a gravidade significa diminuir o impacto social, considerando que a simetria facial é um dos mais relevantes pontos na avaliação subjetiva de beleza, junto com padrão corporal e cabelo.8 Sabe-se que as mudanças corporais trazem distorções na autoimagem e que cada época tem seus padrões de beleza, mas talvez eles nunca tenham sido tão rígidos quanto agora, promovendo enorme distância entre o corpo idealizado e o corpo vivido, empobrecendo os adolescentes psiquicamente9, influenciando inclusive no desenvolvimento da sexualidade. A sexualidade é, sobretudo, um elemento estruturador da identidade do adolescente. E essa função estruturante é, em grande parte, realizada através da representação mental de sua imagem corporal, sendo a estética do sorriso um relevante componente dessa representação.10 Posto isso, fica claro que é extremamente relevante que se busque o mais precocemente possível, estabelecer uma condição de saude bucal que diminua na adolescência os problemas com a autoimagem e entender que existem recursos terapêuticos na Odontologia que oferecem essa possibilidade de intervenção precoce. Para enfatizar a relevância da intervenção precoce no tratamento das maloclusões para minimizar as alterações comportamentais em adolescentes, relacionado à autoestima alterada, passaremos a relatar dois casos de crianças que apresentavam adaptações no padrão de comportamento para lidar com a estética facial deficiente. Enfatizaremos a eficiência da abordagem terapêutica precoce e a mudança no padrão de comportamento, observado na adolescência. RELATOS DE CASOS CLÍNICOS Caso 1 Paciente D Y U, leucoderma, 9 anos e 6 meses de idade. Portador de classe II de Angle severa, associada à mordida profunda e sobressaliência acentuada. A projeção vestibular dos incisivos superiores impedia o paciente de fechar os lábios corretamente, gerando o aspecto “dentuço” tradicional. Nas figuras 1A, B e C podemos observar esse aspecto. Durante a anamnese, a família C FIGURA 1 - A, B e C Paciente DYU. A - Aspecto facial do paciente em foto sorrindo, antes do tratamento. Verifica-se que os incisivos apresentam-se muito proclinados, impedindo o fechamento correto dos lábios. B - Vista intraoral frente C - Vista intraoral semilateral REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):192-7 Patricia Valério.indd 193 193 23/05/16 15:37 YESILBEK B; SIMSEK S; VALÉRIO P A C B D FIGURA 2 - A, B, C e D Paciente DYU. A e B - Visão intraoral do primeiro aparelho ortopédico usado. Pistas planas compostas. Para efeito fotográfico aparelho foi desconectado, tirando o arco dorsal de dentro do tubo telescópico. C e D - Dois aparelhos usados ao longo do tratamento relatou que não havia por parte do mesmo, nenhuma queixa com relação à função ou à estética e que a preocupação era dos pais que percebiam uma alteração estética grande. Ao serem inquiridos quanto ao comportamento social do paciente, os mesmos relataram que era uma criança extremamente “bagunceira”, que o rendimento escolar não era bom devido a esse comportamento. Que estava sempre fazendo “graça” para os colegas, muitas vezes levando a professora a tirá-lo de sala. Os pais relataram não saber se na escola ele sofria algum tipo de “bulling”. O paciente foi inquirido se ele tinha alguma colocação a fazer com relação a seus dentes, ou seja, qual era a percepção do mesmo a respeito dos dentes. O mesmo respondeu que os dentes eram feios. Ao ser indagado se ele gostaria de usar um aparelho para melhorar o aspecto, o mesmo respondeu positivamente e disse que seguiria as orientações. Foi então iniciado o tratamento usando-se aparelho ortopédico funcional. Nas figuras 2A, B, C e D podemos verificar a aparatologia adotada. Pistas planas composta com acessórios 194 adequados a cada fase foram usadas com razoável regularidade, por volta de 16 horas/dia. Após 30 meses de tratamento o paciente apresentava uma estética facial adequada (Figuras 3A, B e C), uma oclusão em processo de amadurecimento fisiológico e o uso do aparelho foi mantido apenas noturno. A família foi novamente inquirida com relação ao comportamento social do paciente. Foi relatado que houve uma sensível melhora no rendimento escolar. O paciente adotou um estilo mais “sério” e passou a fazer amizades sem ter que se “exibir”. Ao ser inquirido sobre seus dentes, o mesmo relatou que eles ficaram “bonitos”. Caso 2 Paciente Y E C, 6 anos e 6 meses, portador de mordida cruzada anterior severa, associada à mordida profunda. A sobressaliência negativa alterava sensivelmente o selamento labial, fazendo com que o lábio inferior fosse completamente coberto pelo inferior, conforme podemos verificar nas figuras 4A, B e REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):192-7 Patricia Valério.indd 194 23/05/16 15:38 Saúde Coletiva C. O paciente forçava a posição de eversão do lábio inferior ao mesmo tempo em que arqueava a sobrancelha, fazendo com que sua fisionomia adotasse um padrão “engraçado” e gerasse nos pais certa aprovação e risos. Ao serem inquiridos sobre o comportamento social do filho, relataram que na escola era muito popular, que todos os coleguinhas o achavam “divertido”, que não gostava muito de atividades de concentração e era muito “espoleta”. Quando perguntados sobre o motivo da consulta, relataram que além deles próprios estarem observando uma forma “esquisita” de mastigar, como ele ficava em período integral na escola e fazia várias refeições lá, a coordenadora da escola relatou que durante a mastigação os coleguinhas riam dele e ele adotava o comportamento de exacerbar o movimento de ”jogar o queixo pra frente” para que as crianças rissem mais e estava gerando transtorno durante as refeições. Ao ser inquirido sobre o motivo dele estar naquela consulta, o mesmo relatou que era porque os pais queriam. Após extensa discussão com a família e esclarecimento das alterações observadas, foi comentado que era necessário iniciar um tratamento, sabendo-se que seria longo, mas extremamente importante. Nas figuras 5A, B, C e D podemos ver algumas etapas do tratamento, que consistiu inicialmente em aplicação de pistas diretas planas nos dentes posteriores, em seguida iniciou-se o uso de aparelho ortopédico do tipo SN3 com arco de progenia e acessórios adequados a cada fase e pistas diretas planas nos dentes anteriores. Nas figuras 6A, B e C podemos ver o paciente aos oito anos. Podemos perceber uma significativa mudança no padrão da estética facial e dental. Socialmente, o paciente deixou de adotar o comportamento de “bobo da corte”. Está mais sereno e convive normalmente com os colegas. Mastiga normalmente para o padrão da idade. Paciente e pais estão cientes que é necessário dar continuidade ao tratamento. DISCUSSÃO Incansáveis investigações permeiam o fato de que os sujeitos portadores de alterações estéticas faciais enfrentam muitas barreiras para atingir um desenvolvimento psicológico satisfatório. Estas barreiras associadas ao desejo de ter um rosto perfeito, e atraente repercutirão negativamente sobre a autoimagem e, consequentemente sobre a autoestima.11,12 A satisfação da necessidade de autoestima leva o indivíduo a sentir-se confiante (no seu valor, força, capacidade e adequação) mais útil e necessário ao mundo. A não satisfação produz no indivíduo um sentimento de inferioridade, fraqueza e impotência. A persistência desses sentimentos desencadeará fracassos na sua trajetória ou processos patológicos variados de comportamento.13 Nos dois casos relatados aqui, parece notória a adoção de um comportamento desviante que mascare o incômodo psíquico gerado pelas alterações estéticas. Existe uma tendência natural de se pensar na infância como um período feliz, livre de preocupações ou de responsabilidades, mas as pesquisas têm mostrado que as crianças também sofrem com as pressões de padrões sociais.14 É comum serem observadas condutas adaptativas como resposta afetiva A B C FIGURA 3 - A, B e C Paciente DYU. A - Aspecto facial do paciente, 30 meses após o início do tratamento. B e C - Visão do aspecto intraoral do paciente, após 30 meses de tratamento REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):192-7 Patricia Valério.indd 195 195 23/05/16 15:38 YESILBEK B; SIMSEK S; VALÉRIO P A B C FIGURA 4 - A, B e C Paciente YEC. A - Aspecto facial do paciente em foto sorrindo, antes do tratamento. Verifica-se severa alteração de postura labial com encobrimento total do lábio superior pelo inferior. Observar a tendência de arquear a sobrancelha adquirida pelo paciente para parecer “divertido”. B - Visão intraoral no inicio de tratamento. C - Posição manipulada o mais posterior possível A B C FIGURA 5 - A, B, C e D Paciente YEC. A, B, C e D - Sequência de intervenções realizadas no paciente. Pistas diretas planas posteriores, SN3 com arco de progenia e escudos vestibulares superiores, o mesmo aparelho associado a pistas diretas planas anteriores nos incisivos centrais e pistas diretas planas nos quatro incisivos superiores A B C FIGURA 6 - A, B e C Paciente YEC. A - Aspecto facial do paciente, dois anos após o início do tratamento. Observar significativa melhora na postura labial. B e C - Aspecto intraoral mostrando presença de overjet positivo 196 REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):192-7 Patricia Valério.indd 196 23/05/16 15:38 Saúde Coletiva a pressões do cotidiano.15 O arquétipo “bobo da corte” não quer se esconder no grupo, ele quer ser aceito como realmente é e por isso adota o estereótipo, como pudemos verificar nos dois casos relatados, apesar de diferentes idades e diferentes desarmonias. Ambos não se encaixavam no padrão estético social. Em torno de 15% dos pacientes portadores de alterações dentofaciais apresentam alterações psicológicas tais como transtorno obsessivo compulsivo, ideação paranoica etc. e esse valor sobe para 24,7% se considerarmos pequenas desordens psiquiátricas. Isso faz a necessidade de tratamento das desordens dentofaciais ocorrerem o mais precocemente possível.16 Em ambos os casos relatados, o restabelecimento da estética facial trouxe um retorno ao padrão de comportamento social adequado a idade. Naturalmente, alguém poderia questionar que o amadurecimento natural desses pacientes poderia ter trazido essa diferença de comportamento independentemente da questão estética. No entanto, desarmonias dentofaciais têm sido largamente reportadas como causadoras de “bulling”, baixa aceitação social e consequente estresse psicossocial.17,18 Os dentes superiores anteriorizados levam a um desconforto com a estética muito precoce e são causa de chacota entre crianças e adolescentes. Esse fato leva a uma aceitação muito boa de qualquer tratamento proposto, por parte do paciente.17 No caso do paciente DYU, foi exatamente o que ocorreu, havendo total adesão do mesmo ao uso da aparatologia proposta. Dentes “feios” são a quarta causa mais frequente de “bulling” entre crianças e adolescentes, estando atrás apenas de peso, altura e tipo de cabelo.19 No caso do paciente YEC, pela tenra idade, talvez não houvesse uma consciência de um desvio do padrão de normalidade, mas no inconsciente coletivo existem conceitos estéticos que geram reação inconsciente aos desvios desse padrão. Pacientes classe III de Angle são relatados como tendo o menor nível de satisfação com sua aparência facial. 20 Intervir precocemente impede que a maloclusão se agrave e evita que a criança se torne um adolescente mais propenso a desordens de autoestima. 21 De acordo com uma recente revisão de literatura, a tendência atual da ciência é recomendar intervenções precoces em maloclusão, para evitar problemas sociais e psicológicos. 22 Os dois casos relatados aqui demonstram claramente que restabelecer uma estética facial adequada tem um profundo impacto no comportamento psicossocial do paciente. Existe um grande problema para o tratamento precoce que é a percepção mascarada dos pais da aparência dos filhos. A fantasia de alguns pais de que suas crianças são sempre perfeitas, muitas vezes levam a uma demora no diagnóstico e estabelecimento de alguma intervenção.23 CONCLUSÃO Existe possibilidade de se intervir precocemente usando aparatologia otpédica funcional e corrigir desarmonias faciais que são geradoras de alterações de comportamento psicossocial em crianças e adolescentes. APLICAÇÃO CLÍNICA Recursos ortopédicos funcionais tais como “pista diretas planas” e aparatologia específica são de grande valia na interceptação e tratamento das maloclusões geradoras de desarmonias faciais que podem levar a alterações na autoestima de crianças e adolescentes. REFERÊNCIAS 1. Zhang M, McGrath C, Hägg U. The impact of malocclusion and its treatment on quality of life: a literature review. Int J Paediatr Dent. 2006 Nov;16(6):381-7. Review. PubMed PMID: 17014535. 2. Bhateja NK, Fida M, Shaikh A. Frequency of dentofacial asymmetries: across-sectional study on orthodontic patients. 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REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):192-7 Patricia Valério.indd 197 197 23/05/16 15:38 Relato caso clínicoCF; (convidado) JUNIOR de HM; BELTRÃO FURLANI JC; KASSARDJIAN F; MUGAYAR LR; GENOVESE WJ Enxerto ósseo em bloco autógeno na maxila: relato de caso clínico Recebido em: mar/2016 Aprovado em: abr/2016 Autogenous block bone graft in the upper jaw: report of case Hid Miguel Junior - Doutor - Coor- RESUMO A instalação de implantes em áreas com perda óssea pode estar associada a uma relação coroa-implante desfavorável, resultado estético insatisfatório e dificuldades de higienização, prejudicando o prognóstico do tratamento. O enxerto ósseo possibilita a instalação de implantes em uma posição tridimensional favorável. Alguns métodos têm sido estudados e propostos para a reconstrução do osso alveolar perdido: enxertos ósseos autógenos, homógenos, substitutos ósseos alógenos, xenógenos e aloplásticos. Ainda existe a regeneração óssea guiada, distração osteogênica, fatores de crescimento e as combinações destas referidas metodologias. Dentre os materiais disponíveis, o osso autógeno é tido como primeira opção para a reconstrução óssea, tido como padrão ouro em enxertia óssea, pois fornece as condições mais favoráveis de reparo pós-cirúrgico, por apresentar as propriedades de osteocondução, osteoindução e osteogênese, auxiliando na correção de defeitos de espessura, desde que haja um bom suprimento vascular no local. Neste trabalho é demonstrada uma técnica de enxertia óssea em bloco autógeno, através da realização de um caso clínico, para a reconstrução de maxila atrófica, visando o aumento do volume ósseo disponível para a instalação de implantes dentais. denador dos cursos de especialização e atualização em Implantodontia da EAP APCD e da Universidade Cruzeiro do Sul Carlos Fernando Beltrão - Mestre - Professor assistente dos cursos de especialização e atualização em Implantodontia da EAP APCD e da Universidade Cruzeiro do Sul José Camilo Furlani - Mestre Professor assistente dos cursos de especialização e atualização em Implantodontia da EAP APCD e da Universidade Cruzeiro do Sul Descritores: enxerto ósseo; enxerto autógeno; aumento ósseo; transplante ósseo Fernando Kassardjian - Especialista Assistente dos cursos de especialização e atualização em Implantodontia da EAP APCD e da Universidade Cruzeiro do Sul Leda Regina Mugayar - Associate professor of department de Pediatric Dentistry of University of Florida, coordinator of the Infant Oral Health Walter João Genovese - Livre docente em Semiologia pela Fousp Professor responsável pela disciplina de Laser em Odontologia da Universidade Cruzeiro do Sul Autor de correspondência: Hid Miguel Junior EAP APCD Rua Voluntários da Pátria, 547 Santana - São Paulo - SP 02011-000 Brasil [email protected] 198 ABSTRACT The installation of implants in areas of bone loss may be associated with an unfavorable ratio crown-implant, unsatisfactory aesthetic result and cleaning difficulties, impairing treatment prognosis. The bone graft allows the installation of implants in a favorable three-dimensional position. Some methods have been studied and proposed for the reconstruction of lost alveolar bone: autogenous bone grafts, homogeneous bone, allogenic, xenogenous and alloplastic bone substitutes. There is still the guided bone regeneration, distraction osteogenesis, growth factors and combinations of these referred methodologies. Among the materials available, the autogenous bone is considered as the first option for bone reconstruction, considered the gold standard in bone grafting because it provides the most favorable conditions for post-surgical repair, presenting the properties of osteoconductive, osteoinductive and osteogenesis, helping the correction of the defects of thickness, since there is a good blood supply in the area. This work shows a bone grafting technique in autogenous block by performing a case for the reconstruction of atrophic maxilla, in order to increase bone volume available for the installation of dental implants. Descriptors: bone graft; autogenous graft; bone augmentation; bone transplant RELEVÂNCIA CLÍNICA Esse artigo é importante do ponto de vista clínico, uma vez que é necessário o volume ósseo suficiente para a instalação de implantes, resultando num melhor posicionamento dos mesmos, o que implica diretamente na confecção da futura prótese sobre implantes. REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):198-203 Hid Miguel Jr.indd 198 23/05/16 15:39 Implantodontia INTRODUÇÃO Reabsorção do osso alveolar é um problema clínico comum que pode ser um processo fisiológico ou patológico. A perda dentária provoca a reabsorção do osso alveolar e a consequência é a alteração da morfologia do rebordo. Esta alteração ocorre porque o processo alveolar tem a função de dar sustentação aos dentes, perdida esta função sua tendência é reabsorver gradativamente. O desaparecimento gradual do processo alveolar envolve a redução de tamanho sagital e/ou vertical dos maxilares, levando assim, a uma discrepância das relações intermaxilares e à anormalidade funcional que faz incompetentes as duas arcadas dentárias.1 A reposição de um elemento dental perdido pela instalação de implantes ossointegráveis de titânio é uma alternativa moderna que viabiliza a reabilitação funcional e estética do paciente parcial ou totalmente edêntulo. No entanto, pacientes com uma quantidade óssea insuficiente remanescente fizeram parte, por muito tempo, de um grupo para o qual a reabilitação com implantes era um procedimento tecnicamente inviável. Atualmente, técnicas de cirurgia avançada propiciam uma adequada reconstrução óssea dessas áreas deficientes.2 Os implantes dentários requerem osso suficiente para ser devidamente estabilizado. Para alguns pacientes, o tratamento com implantes não seria uma opção sem antes ter um aumento ósseo horizontal ou vertical. A demanda por melhores resultados estéticos nos tratamentos envolvendo implantes osteointegrados levou à busca de parâmetros que permitissem maior previsibilidade da estética peri-implantar.3 Há uma variedade de materiais, técnicas cirúrgicas e sítios doadores disponíveis para o aumento ósseo, cada um com características próprias, vantagens e desvantagens, possibilitando uma larga combinação de planos de tratamentos, que varia com cada caso.4 A necessidade de correção de pequenos ou grandes defeitos ósseos para colocação de implantes e posterior reabilitação tornou-se rotineira na prática da implantodontia. As técnicas de enxerto ósseo e de reconstrução parcial ou total do rebordo alveolar da maxila e da mandíbula são avaliadas de acordo com a quantidade e o volume de perda óssea, do planejamento cirúrgico/ protético e das condições gerais do paciente.5 O objetivo desse trabalho é o relato de um caso clínico, visando demonstrar o aumento do volume ósseo em uma maxila atrófica, obtido através de enxerto ósseo autógeno. RELATO DO CASO CLÍNICO O paciente GVS de 53 anos, edêntulo total superior e inferior, compareceu ao curso de Especialização em Implantodontia da Universidade Cruzeiro do Sul com a seguinte queixa: não conseguir utilizar e não fazer uso de próteses totais removíveis. Após ser realizado o exame clínico, tomográfico e laboratorial, verificou-se que o paciente era ASA-1 (condição sem doença sistêmica pré-existente e favorável ao tratamento) e necessitava de reconstrução óssea da arcada superior, onde apresentava uma pequena espessura óssea na região anterior da maxila e pneumatização dos seios maxilares bilaterais (Figuras 1 e 2). A cirurgia proposta foi o levantamento de seio bilateral com enxerto xenógeno bovino para preenchimento do seio maxilar e na região anterior para ganho de espessura óssea enxerto em bloco autógeno removido do ramo mandibular. O paciente foi medicado com Amoxicilina 875mg + 125mg de clavulanato de potássico de 12 x 12 horas durante 10 dias; Dexametasona 4mg (dose única) 1h antes da cirurgia e Ibuprofeno 600mg (um envelope a cada 8h, durante três dias). Iniciamos a cirurgia removendo o osso da região do ramo mandibular onde se realizou uma incisão sob a linha oblíqua externa após descolamento total do retalho, expondo a região do ramo mandibular, utilizando-se do planejamento tomográfico prévio em que devemos observar o posicionamento do nervo alveolar inferior e o volume ósseo presente na área do ramo mandibular (Figuras 3 e 4). Na sequência, a região é demarcada utilizando-se a broca esférica número 2 em todo seu comprimento (Figura 5). As marcações foram unidas utilizando-se a broca 701-L. Depois foram feitas duas osteotomias verticais com a broca de Linderman nas aproximais do bloco, delimitando assim sua altura. Para fragilizar a base do bloco utilizamos uma bloca esférica longa, número 8, lateralmente, fazendo uma canaleta unindo as osteotomias verticais. Em seguida, com o auxílio de alavancas de Pott clivamos o bloco ósseo que foi armazenado em recipiente estéril (Figuras 6 e 7). As margens ósseas são arredondadas com uma broca esférica de corte cruzado e o osso particulado coletado. Por fim, reposicionamos o retalho com o fio de Vycril 5-0, fazendo ponto simples (Figura 8). Após a remoção do osso do ramo mandibular, iniciamos a incisão superior da maxila com duas relaxantes verticais posicionadas na região próxima a tuberosidade da maxila, e uma incisão principal na crista do rebordo deslocada para palatina, unindo as relaxantes. Foi levantado um retalho de espessura total expondo todo o corpo da maxila (Figura 9). Primeiramente, realizou-se a abertura dos seios maxilares bilaterais, deslocamento da membrana sinusal e preenchimento com xenógeno bovino (Figura 10). Na região anterior, o bloco ósseo removido do ramo mandibular foi dividido e formatado em duas partes. Realizou-se a descorticalização da área anterior com broca esférica número 2. O bloco foi fixado através da técnica Leg Screw (onde se realizada um perfuração prévia no bloco e este é estabilizado pela cabeça do parafuso) e posicionado com o auxílio de uma pinça Arnold (Figura 11). Foram utilizados dois parafusos de 1,6 x 10 mm, um para cada bloco. Caso necessário, seria utilizado um segundo parafuso para dar mais estabilidade ao bloco. Os GAPS (espaços) devem ser preenchidos com osso particulado (Figura 12). Em seguida, é colocada uma membrana de colágeno reabsorvível para selamento da área enxertada (Figura 13), o retalho deve ser reposicionado sem que haja tensão, finalizando com sutura a da área. Passado o período de cinco meses, nova tomografia foi feita para o planejamento da instalação dos implantes (Figuras 14, 15 e 16). REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):198-203 Hid Miguel Jr.indd 199 199 23/05/16 15:39 JUNIOR HM; BELTRÃO CF; FURLANI JC; KASSARDJIAN F; MUGAYAR LR; GENOVESE WJ FIGURA 1 Visão panorâmica da tomografia da maxila FIGURA 2 Cortes parassagitais das regiões posterior e anterior FIGURA 4 Área doadora no ramo mandibular FIGURA 5 Demarcação do comprimento do enxerto ósseo FIGURA 6 Fratura e remoção do enxerto ósseo FIGURA 3 Corte parassagital da região do ramo mandibular 200 FIGURA 7 Ramo mandibular removido REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):198-203 Hid Miguel Jr.indd 200 23/05/16 15:39 Implantodontia FIGURA 8 Sutura da área doadora FIGURA 10 Acesso e descolamento da membrana do seio maxilar FIGURA 9 Incisão e descolamento do retalho da maxila FIGURA 11 Bloco ósseo posicionado Podemos notar pela tomografia o ganho em espessura da região anterior e em altura na região posterior, o que possibilitou a instalação de seis implantes superiores de 4,1mm x 10mm de altura num posicionamento ideal para reabilitação protética (Figuras 17 e 18). Após dois meses da instalação dos implantes superiores, foi realizada a cirurgia na mandíbula para instalação de quatro implantes. Decorridos dois meses para cicatrização, o paciente foi reabilitado com duas próteses tipo Protocolo Branemark (Figuras 19 e 20). com capacidade de neoformação óssea, fatores de crescimento e um arcabouço ósseo idêntico, no que concerne ao aspecto imunológico. Para um bom resultado deve-se levar em conta, sendo as principais dela, a quantidade óssea remanescente no leito receptor e o que se deseja de ganho em altura de papila e espessura para diminuir a concavidade vestibular no leito receptor.10,11 Enxertos autógenos intrabucais baseiam-se no volume ósseo desejado, volume ósseo disponível e o espaço da área a ser reconstruída. Além disso, anestesia local, menor morbidade do paciente quando comparada a enxerto extrabucal, fácil acesso cirúrgico, devido ser a área do Cirurgião-Dentista, proximidade do local doador e receptor, reduz tempo operatório e menor custo.9,10,11 As incisões para exposição cirúrgica do local receptor normalmente são feitas dentro do tecido inserido, distantes do defeito ósseo, facilitam o fechamento e mantém o suprimento sanguíneo do retalho. A cobertura total do retalho do enxerto e o fechamento da ferida sem tensões são essenciais para uma incorporação correta.7 O tecido mole deve ser manipulado de tal forma que possa recobrir toda a área que aumentou de volume sem áreas de tensão, podendo ser realizado incisões de alívio ou a liberação de tecido junto à base do retalho com a finalidade de obter uma boa sutura para assim evitar a possibilidade de deiscências. Se não houver gengiva inserida, não dá para obter ganho ósseo.12 Perfurações do osso com uma broca esférica pequena, criando pontos de sangramento, aumenta a disponibilidade das DISCUSSÃO Para uma relação coroa-implante favorável, previamente ou durante a instalação de implantes, a reconstrução óssea é frequentemente requerida para aumento do rebordo alveolar obtendo resultados funcionais duradouros e com excelência estética, podendo ser obtida através de algumas técnicas cirúrgicas, tais como: enxerto ósseo, regeneração óssea guiada, enxerto interposicionais, distração osteogênica e tela de titânio.6,7,8 O uso de enxerto autógeno traz grandes vantagens, tais como: o transplante de células vivas com capacidade osteogênica; ausência de resposta imunológica; menor grau de inflamação e de infecção quando comparado aos outros substitutos ósseos; reparação mais rápida do tecido ósseo; não existe risco de transmissão de doenças e por fim e é de fácil obtenção.5,9 A grande vantagem do enxerto autógeno é a previsibilidade do tratamento, já que essa técnica fornece ao leito receptor células REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):198-203 Hid Miguel Jr.indd 201 201 23/05/16 15:39 JUNIOR HM; BELTRÃO CF; FURLANI JC; KASSARDJIAN F; MUGAYAR LR; GENOVESE WJ FIGURA 12 Bloco ósseo fixado e preenchimento dos gaps com osso particulado FIGURA 16 Planejamento tridimensional dos implantes na tomografia FIGURA 13 Selamento com membrana de colágeno FIGURA 14 Visão panorâmica da tomografia pós enxerto ósseo FIGURA 15 Cortes parassagitais das regiões posterior e anterior após enxerto 202 FIGURA 17 Guia cirúrgico com implantes posicionados FIGURA 18 Implantes posicionados. Detalhe: blocos ósseos antes da remoção dos parafusos de fixação de enxertos REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):198-203 Hid Miguel Jr.indd 202 23/05/16 15:39 Implantodontia FIGURA 19 Guia multifuncional posicionada. Detalhe: posicionamento dos implantes células osteogênicas, impulsiona a revascularização, aumenta o fenômeno de aceleração regional e melhora união do enxerto. O local do enxerto é remodelado para melhorar o contato enxerto ósseo/receptor.13,14,15 A utilização de membrana de colágeno reabsorvível sobre o enxerto diminui sua reabsorção.2,13 As taxas de sobrevivência e de sucesso de implantes instalados em rebordos com osso aumentado são semelhantes aos colocados em osso nativo ou intocado.14,15 Por enquanto, o transplante autógeno continua a ser o padrão ouro, mas isso deve ser reexaminado quando evidências mais confiáveis sobre o resultado dos procedimentos com FIGURA 20 Próteses tipo Protocolo Branemark instaladas aloenxertos estiverem disponíveis.3 CONCLUSÃO Este trabalho demonstrou a possibilidade do ganho de volume ósseo para a futura instalação de implantes, em um paciente com a maxila atrófica, utilizando-se do próprio osso do paciente. Talvez a única limitação dessa metodologia seja a quantidade de tecido ósseo doador intra-oral disponível. A técnica utilizada neste caso mostrou-se eficiente e segura, podendo ser reproduzida por um profissional bem treinado. O autotransplante é considerado “padrão ouro” para o transplante e, vários estudos têm demonstrado eficácia para o mesmo, pois ele é osteogênico, osteocondutor. REFERÊNCIAS 1. Tonelli, P; Duvina, M; Barbato, L; Biondi, E; Nuti, N; Brancato, L; Delle Rose, G. Bone regeneration in dentistry. Clinical cases in mineral and bone metabolism, v. 8, n. 3, p. 24, 2011. 2. Mazzonetto, R; Netto, H. D; Nascimento, F. F. Enxertos Ósseos em Implantodontia. In: Kluppel, L .E. Técnica cirúrgica para remoção de enxertos autógenos intrabucais. Nova Odessa: Napoleão; 2012. Cap. 8, p. 272-309. 3. Schlee, M; Dehner, J. F; Baukloh, K; Happe, A; Seitz, O; Sader, R. Esthetic outcome of implant-based reconstructions in augmented bone: comparison of autologous and allogeneic bone block grafting with the pink esthetic score (PES). Head & face medicine, v. 10, n. 1, p. 21, 2014. 4. 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REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):198-203 Hid Miguel Jr.indd 203 203 23/05/16 15:39 Revisão deM; literatura (convidado) DEL SANTO JACOB H; BÓSIO JA O desafio do tratamento ortodôntico do paciente com fenótipo facial hiperdivergente Recebido em: mar/2016 Aprovado em: abr/2016 The challenge of the orthodontic treatment of the hyperdivergent facial phenotype patient Marinho Del Santo - Mestre e Doutor - Ortodontista em São Paulo, Master of Science in Orthodontics, Baylor College of Dentistry, Dallas, Texas, USA RESUMO Objetivo: o artigo visa informar aos profissionais da área de Ortodontia os desafios de se diagnosticar e tratar pacientes que apresentem fenótipo facial hiperdivergente. Materiais e métodos: através de revisão sistemática da literatura, via PubMed e Google Acadêmico, identificou-se os melhores artigos, descritivos e experimentais, nas áreas relacionadas. Dessa seleção, 30 artigos foram revisados e discutidos. Resultados: embora a prevalência de fenótipos faciais hiperdivergentes na população dos EUA (por falta de dados referentes à população brasileira) seja bastante pequena, seu diagnóstico e tratamento são desafiadores. Os principais fatores causais envolvidos em seu desenvolvimento são: a) genéticos; b) epigenéticos e; c) ambientais. A postura mandibular tem um papel fundamental no estabelecimento deste tipo facial, e algumas características morfológicas são patognomônicas: a) excessiva altura facial anterior inferior; b) falta de altura facial posterior; c) ângulo goníaco aberto; d) rotação mandibular desfavorável; e) plano oclusal inclinado anteriormente para baixo; f) sínfise mentoniana aumentada e fina e; g) ossos corticais mais delgados, tanto na maxila como na mandíbula. Além disso, esses indivíduos apresentam funções respiratória e mastigatória deficientes. Em geral, apresentam mordida aberta anterior e possivelmente mordida cruzada posterior. Conclusão: o estabelecimento do fenótipo facial hiperdivergente é complexo e multifatorial. A ocorrência de fenômenos morfofuncionais severos sequenciais é difícil de ser controlada ou revertida e as possibilidades terapêuticas são, na melhor das hipóteses, limitadas e ainda experimentais. Helder Jacob - Mestre e Doutor – Professor do Department of Orthodontics, Baylor College of Dentistry, Dallas, Texas, USA José A. Bósio – Mestre - Associate Professor, Department of Orthodontics, Rutgers School of Dental Medicine, Newark, New Jersey, USA Autor de correspondência: Marinho Del Santo Av. Vereador José Diniz 3720, Conjunto 1204 CEP 04603-004, Campo Belo São Paulo, SP Brasil [email protected] Descritores: ortodontia; face; mandíbula ABSTRACT Goal: the goal of the paper is to inform orthodontic professionals about the challenges to diagnose and to treat patients presenting hyperdivergent facial phenotype. Materials and methods: a systematic review of the literature was conducted using PubMed and Google Academics, and the best descriptive and experimental studies in the related areas were identified. From the initial selection, 30 papers were revised and discussed. Results: although the prevalence of individuals presenting hyperdivergent facial phenotype in the USA population (since no Brazilian epidemiologic is available) is considerably low, diagnosis and treatment are challenging. The major causal factors involved in its development are: a) genetic; b) epigenetic and; c) environmental. The mandibular posture has a fundamental role in the establishment of such facial type, and some morphological features are pathognomonic: a) excessive inferior anterior facial height; b) lack of posterior facial height; c) increased goniac angle; d) unfavorable mandibular rotation; e) occlusal plane anteriorly tilted down; f) higher and thinner mandibular symphysis and; g) thinner maxillary and mandibular cortical bones. Furthermore, these individuals present respiratory and masticatory functions deficiences. In general, they present anterior open bite and possibly posterior cross bite. Conclusion: settling of the hyperdivergent facial phenotype is complex and multifactorial. The occurrence of sequential severe morphofunctional phenomena is hardly controlled or reverted, while therapeutic options are limited and still experimental. Descriptors: orthodontics; face; mandible 204 REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):204-9 Marinho Del Santo.indd 204 23/05/16 15:41 Ortodontia RELEVÂNCIA CLÍNICA O artigo visa informar aos profissionais da área de Ortodontia os desafios de se diagnosticar e tratar pacientes que apresentem fenótipo facial hiperdivergente. INTRODUÇÃO Cefalogramas são utilizados principalmente para se diagnosticar as relações ântero-posteriores dos maxilares, seja em relação à face ou ao crânio. A classificação de pacientes em Classes [I, II ou III] baseia-se principalmente na relação ântero-posterior dos maxilares, sem considerar a dimensão vertical. Essa nomenclatura é uma extensão da classificação de maloclusões de Angle, a mais antiga da profissão, que expressa a relação ântero-posterior entre os primeiros molares maxilares e mandibulares permanentes. A falta de detalhamento de características verticais que contribuem para a harmonia facial torna-se uma limitação importante. Sem o apropriado diagnóstico tridimensional, correções morfofuncionais nem sempre são adequadamente pretendidas e alcançadas. Ortodontistas (e outros profissionais da área odontológica) sabem reconhecer faces desarmônicas, porém não necessariamente identificam o principal problema e o quão grave ele é. Por muitas décadas, “escolas ortodônticas” pretenderam apenas mover dentes, visando a correção de maloclusões dentárias. Com avaliações simultâneas nas dimensões ântero-posterior, vertical e transversal, alcançou-se o correto e completo diagnóstico ortodôntico-facial. A inclusão de características faciais verticais foi essencial para esse avanço. O trabalho de Schudy1, na década de 1960, contribuiu de forma decisiva para que o componente vertical da maloclusão fosse considerado. Schudy foi precursor do conceito de que a harmonia facial de indivíduos que apresentavam displasias verticais, geralmente combinadas com displasias ântero-posteriores, estaria significativamente comprometida. Indivíduos com essas características faciais passaram a ser chamados de hiperdivergentes, fossem eles retrognatas (Classe II) ou prognatas (Classe III). E a rotação mandibular (horária ou anti-horária), apresentada contemporaneamente na Europa,2 está diretamente correlacionada a esse fenômeno. Conceitos fundamentais de crescimento dentoalveolar e de rotação mandibular foram apresentados por Björk e Skieller, também nos anos 1960.2 Após estudos com implantes, com precisa superimposição de cefalogramas coletados longitudinalmente, esses autores postularam que a rotação mandibular exerce um papel importante no estabelecimento do fenótipo facial, exatamente por influenciar diretamente a dimensão vertical da face. Embora esses fenômenos talvez não sejam bem entendidos pelos ortodontistas, estuda-los é fundamental para se compreender o fenótipo facial hiperdivergente. Indivíduos com fenótipo facial hiperdivergente apresentam características faciais peculiares. Verticalmente, apresentam: a) excessiva altura facial anterior inferior; b) falta de altura facial posterior (pela falta de altura dos processos alveolares posteriores inferiores e do ramo mandibular); c) ângulo goníaco aberto; d) rotação mandibular (horária em indivíduos retrognatas e anti- -horária em indivíduos prognatas); e) plano oclusal inclinado anteriormente para baixo; f) sínfise mentoniana aumentada e fina; g) ossos corticais delgados, tanto na maxila como na mandíbula e; h) incompetência labial. Transversalmente, as arcadas apresentam-se significativamente mais estreitas em pacientes hiperdivergentes, especialmente a maxilar, seja por sua própria anatomia como também por importantes alterações funcionais. A deficiência das funções respiratória e mastigatória provoca incorreto posicionamento da língua e falta de estímulo oclusal transversal dos molares inferiores nos molares superiores. Em simples palavras: durante o crescimento transversal normal da mandíbula, os molares inferiores “alargam” a arcada maxilar através da oclusão. Esse estímulo funciona como matriz funcional, naturalmente esperada, já que o crescimento e desenvolvimento da maxila e da mandíbula são totalmente integrados. As características faciais são consequências de alterações genéticas, epigenéticas e ambientais, com causas e consequências funcionais e estéticas. Funcionalmente, pode-se correlacionar as características faciais de indivíduos hiperdivergentes com a postura inadequada de cabeça e de mandíbula, com vias aéreas superiores alteradas (ou obstruídas) e com a potência muscular mastigatória diminuída.3 Esteticamente, a partir dos anos 1990, essas características passam a ser valorizadas, tanto pelos profissionais da área como por pessoas leigas.4,5 O objetivo deste trabalho é apresentar, ao clínico geral e ao ortodontista, os principais aspectos morfofuncionais de indivíduos com fenótipo facial hiperdivergente. Assumimos de antemão, todavia, que o assunto está longe de se esgotar. Tanto porque novos recursos tecnológicos, como tomografias e reproduções tridimensionais, passaram a ser aplicados em escala mercadológica, como também porque as soluções terapêuticas eficazes para esse tipo de displasia facial são ainda recentes e experimentais. MATERIAIS E MÉTODOS As bases de dados consultadas para essa revisão de literatura foram PubMed (http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed) e Google Acadêmico (http://scholar.google.com.br/?hl=pt-BR). Os artigos foram selecionados de acordo com sua relevância, sob os descritores indexados: orthodontics, facial growth, craniofacial growth, mandible, mandibular rotation, mandibular growth prediction e hyperdivergent facial phenotype. Como critérios de inclusão de artigos, utilizou-se (como padrão-ouro): revisões sistemáticas de literatura, ensaios clínicos randomizados, estudos observacionais (coorte e transversais), e/ ou os melhores estudos descritivos e experimentais disponíveis na literatura, nos idiomas inglês e português. Como critérios de exclusão de artigos, utilizou-se: relatos de casos clínicos, resumos de anais de congressos e cartas a editores. REVISÃO DE LITERATURA Dados da prevalência de importantes modificações morfofuncionais devem guiar nossos esforços clínicos e acadêmicos. Não existem dados epidemiológicos disponíveis a respeito da prevalência do fenótipo facial hiperdivergente na população brasileira. REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):204-9 Marinho Del Santo.indd 205 205 23/05/16 15:41 DEL SANTO M; JACOB H; BÓSIO JA Nos EUA, quando considerados todas as raças, idades e gêneros, a oclusão normal é prevalente em aproximadamente 30% na população. Aproximadamente 50-55% da população apresenta Classe I. Classe II é prevalente em aproximadamente 15% da população (em aproximadamente 23% das crianças, 15% dos adolescentes e 13% dos adultos). E Classe III é prevalente em aproximadamente 01% da população.6 Especificamente, indivíduos nos EUA que apresentam maloclusões extremas (Classe II ou Classe III), e para as quais o tratamento ortodôntico é limítrofe de uma intervenção cirúrgica, correspondem a 04% da população. Desses, a Classe II é muito mais prevalente do que a Classe III. E apenas 01% apresenta mordida aberta severa, característica que, potencialmente, está associada ao fenótipo facial hiperdivergente.6 Assim, sabe-se que indivíduos considerados hiperdivergentes são raros. Todavia, o grau de complexidade de suas características morfofuncionais e a falta de possibilidades terapêuticas eficazes são, na mesma proporção, desafiadores. O complexo fenótipo facial hiperdivergente é estabelecido precocemente e, se não houver intervenção terapêutica, permanece até a idade adulta. Características verticais como mordida aberta (ou mordida profunda) podem ser identificadas em indivíduos de 04 anos de idade.7 A inclinação aumentada do plano mandibular pode ser observada em indivíduos a partir de 06 anos de idade, e é confirmada quando esses mesmos indivíduos tiverem 15 anos de idade.8 Em concordância, displasias verticais (hiperdivergência ou hipodivergência) são mantidas em 75%-86% dos indivíduos, quando acompanhados dos 10 aos 15 anos de idade.9 Os atributos morfofuncionais que compõem o fenótipo facial hiperdivergente são patognomônicos. A desproporção entre a altura facial anterior e a altura facial posterior e o grau de divergência aumentado entre os planos horizontais da face, proposto por Sassouni,10 caracterizam tal desarmonia facial. Essa composição morfológica deve-se à falta de crescimento dentoalveolar na região posterior, especialmente na mandíbula, e à falta de crescimento em altura do ramo mandibular, combinados com rotação mandibular verdadeira no sentido horário. O côndilo mandibular, que apresenta certa flexibilidade adaptativa devida à sua cartilagem secundária, em pacientes hiperdivergentes retrognatas apresenta a direção de crescimento mais para cima e para trás. O ângulo goníaco, caracteristicamente aberto em pacientes hiperdivergentes, é resultado do deficiente crescimento em altura do ramo mandibular, do padrão de crescimento do côndilo mandibular e das alterações verticais do complexo dentoalveolar posterior, diretamente relacionados com a supraerupção dos molares superiores e falta de erupção dos molares inferiores (compare as Figuras 1A e 1B). Assim, torna-se evidente que o principal fator envolvido na constituição do fenótipo facial hiperdivergente é a alteração morfofuncional na mandíbula, cuja postura muscular é diretamente influenciada pelo padrão de respiração e mastigação desses indivíduos. Não há dúvida que o padrão de respiração e o desenvolvimento do fenótipo facial hiperdivergente estão correlacionados. No padrão de respiração normal (nasal), o ar inspirado é filtrado e aquecido, e a língua se mantém em contato com o palato, estimulando o cres206 FIGURA 1A Cefalograma de indivíduo normal FIGURA 1B Cefalograma de indivíduo com fenótipo facial hiperdivergente cimento transversal da maxila. Por outro lado, no padrão de respiração bucal, as vias aéreas superiores encontram-se parcialmente ou totalmente obstruídas, diminuindo a capacidade aeróbica. O indivíduo abre a boca para respirar e a língua posiciona-se para baixo. Os artigos de Linder-Aronson11, Kerr et al.12 e Arun et al.13 descrevem que quando o tecido adenoideano apresenta-se hipertrofiado há significativa obstrução da via aérea superior, com consequências evidentes para o desenvolvimento esquelético e dentário do indivíduo. Os mesmos fenômenos foram descritos por Behlfelt et al.14 quando as amígdalas estão hipertrofiadas, por Lowe et al.15 quando os indivíduos apresentam apnéia do sono e por Bresolin et al.16 quando os indivíduos avaliados apresentam rinite alérgica. Resolvendo-se os problemas respiratórios, a face, e principalmente REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):204-9 Marinho Del Santo.indd 206 23/05/16 15:41 Ortodontia Musculatura mastigatória mais fraca Vias aéreas superiores alteradas (ou obstruídas) Postura mandibular mais inferior Rotação mandibular horária (retrognata) ou prognatismo verdadeiro Discrepância vertical: altura facial anterior inferior (AFAI) aumentada Supraerupção de molares superiores e mordida aberta anterior Interposição lingual entre os incisivos Apinhamento superior e inferior Crescimento condilar mais para cima e para trás Ramo mandibular curto e ângulo goníaco aberto Maxila atrésica e (?) mordida cruzada posterior Fenótipo Facial Hiperdivergente DIAGRAMA 1 Correlações morfológicas e funcionais, e suas consequências estéticas a mandíbula, tende a retomar seu crescimento normal.17,18 A postura muscular mandibular, não menos relevante, é o segundo fator a ser considerado. Ela exerce um papel fundamental na modelagem morfofuncional da face. Para respirar pela boca, o indivíduo posiciona sua mandíbula para baixo, postura que é combinada ou não com a flexão da cabeça e do pescoço para cima. Concomitantemente, a língua é posicionada para baixo e a falta de sua pressão no palato contribui, em concordância com a falta de funcionalidade respiratória nasal, para severa constrição palatina (palato ogival). Os contatos oclusais em molares e a pressão mastigatória tornam-se significativamente mais fracos. Consequentemente, a musculatura do indivíduo hiperdivergente é menor e mais fraca,19,20,21 tanto em crianças,20 como em adultos.21 A menor demanda muscular e a postura “da boca aberta” alteram o crescimento vertical do complexo dentoalveolar na região de molares, aumentado na maxila e diminuído na mandíbula. Provavelmente a falta de estímulo oclusal permite maior crescimento dentoalveolar na região de molares superiores (extrusão dentária, como na ausência de dentes antagonistas), embora essa relação casual seja apenas uma hipótese. Consequentemente a mandíbula rotaciona no sentido horário e a mordida se abre na região anterior. O fulcrum desse padrão de rotação mandibular está nos dentes posteriores. Quando a rotação mandibular verdadeira é normal (anti-horária) o fulcrum de rotação está nos dentes anteriores, permitindo crescimento dentoalveolar vertical normal na região dos molares. A partir deste cenário morfofuncional (Diagrama 1) a língua interpõe-se entre os incisivos, para prover o vácuo necessário para a deglutição. Tal interposição torna-se um hábito parafuncional, perpetuando ou acentuando o desequilíbrio morfofuncional.22,23 Essas alterações implicam diretamente em perfis faciais esteticamente menos atraentes,24 como são os perfis convexos de pacientes retrognatas.25,26 É possível se tratar ortodonticamente pacientes com fenótipo facial hiperdivergente retrognata;27,28 entretanto, pacientes com fenótipo facial hiperdivergente prognata demandam intervenção cirúrgica ortognática combinada com tratamento ortodôntico. O estabelecimento do fenótipo facial hiperdivergente, como no exemplo clínico apresentado, uma garota de 15 anos de idade (Figuras 2A, 2B e 2C), segue uma sequência de eventos morfofuncionais severos, difícil de ser controlada ou revertida.29,30 A mordida torna-se aberta na parte anterior (Figuras 3A, 3B e 3C) e eventualmente cruzada na parte posterior. DISCUSSÃO Um modelo lógico, mesmo não totalmente comprovado por evidências científicas, descreve o estabelecimento do perfil facial hiperdivergente. Neste modelo acadêmico, o escopo genético está separado do escopo funcional. A herança genética sofre influências epigenéticas e ambientais. Indivíduos com tendência a apresentar uma face longa (dito padrão genético hiperdivergente), mesmo sem ser possível se REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):204-9 Marinho Del Santo.indd 207 207 23/05/16 15:41 DEL SANTO M; JACOB H; BÓSIO JA FIGURA 2A Exemplo de fenótipo facial hiperdivergente (vista lateral) 208 FIGURA 2B Exemplo de fenótipo facial hiperdivergente (vista frontal em repouso) FIGURA 2C Exemplo de fenótipo facial hiperdivergente (vista frontal sorrindo) FIGURA 3A Exemplo de mordida aberta anterior (vista lateral direita) FIGURA 3B Exemplo de mordida aberta anterior (vista frontal) FIGURA 3C Exemplo de mordida aberta anterior (vista lateral esquerda) mensurar se essa tendência é significativa ou não, apresentam características faciais marcantes. A expressão fenotípica das características faciais ocorre cedo, por volta de 4 anos de idade, quando as influências epigenéticas e ambientais ainda não incidiram por um período suficientemente longo e/ou de uma forma suficientemente intensa. A tendência fenotípica pode se perpetuar, ou se agravar, até a fase de adolescência e idade adulta, independentemente do contexto ambiental ao qual o indivíduo é submetido. O contexto funcional alterado leva a alterações morfológicas importantes, sem se excluir a possibilidade inversa, de que alterações morfológicas primárias provoquem alterações funcionais. Didaticamente as descrevemos como fenômenos distintos, mas elas são concomitantes e interdependentes. Esse artigo aborda apenas o padrão respiratório e mastigatório, sem considerar, por exemplo, a deglutição e a fonação. Assumindo-se que as duas principais alterações funcionais são a respi- REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):204-9 Marinho Del Santo.indd 208 23/05/16 15:42 Ortodontia ração bucal e a mastigação fraca e ineficiente, descrevemos suas consequentes alterações morfológicas e seus prejuízos estéticos. Estética é, muitas vezes, a queixa principal do/a paciente quando busca soluções terapêuticas. Neste caso, desarmonia estética é devida a: a) face fina e alongada; b) mandíbula “não-marcada”na parte posterior, em virtude do ângulo goníaco aberto e da falta de robustez da musculatura mastigatória (especialmente do músculo masseter); c) inadequada exposição gengival maxilar, frequentemente excessiva; d) arcadas, especialmente a superior, em forma de “V” ao invés de “U”; e) ausência de sorriso amplo e aberto; f) corredores bucais amplos (e escuros); g) projeção anterior dos incisivos superiores, com overjet (sobressaliência) aumentado; h) falta de contato interincisivos; i) frequente apinhamento, principalmente na arcada inferior; j) interposição lingual e; k) desarmonia entre “estética branca” (dentes) e “estética vermelha” (gengiva), já que a vestibularização dos incisivos superiores impede adequada reflexão de luz e seu “domínio estético” no quadro do sorriso. CONCLUSÃO A dimensão vertical é fundamental para a harmonia facial. Durante a fase de crescimento, a mandíbula sofre rotação, que determina sua projeção mentoniana, de acordo com o padrão de crescimento de cada indivíduo e o contexto funcional ao qual o indivíduo é submetido. A constituição morfológica de maxilares displásicos, como ma- xila estreita ou mandíbula retroposicionada, é diretamente influenciada por estímulos epigenéticos e ambientais. Essa flexibilidade biológica, certamente limitada e seletiva, é a faculdade tecidual que permite ações terapêuticas eficazes nas áreas de Ortodontia e Ortopedia Funcional dos Maxilares. Intervenções terapêuticas que, quando apropriadas, podem corrigir o binômio forma-função, do complexo dentoalveolar e de seu envelope neuromuscular. O tratamento de indivíduos com fenótipo facial hiperdivergente retrognata é provavelmente o desafio máximo da Ortodontia. E se a especialidade pretende alcançar êxito terapêutico nesses casos, o aprofundamento epistemológico em suas áreas primárias e conexas nunca será demasiado. APLICAÇÃO CLÍNICA Com as informações apresentadas, os profissionais podem eleger, baseando-se em evidências, o protocolo clínico (ou cirúrgico) mais apropriado para o tratamento de pacientes com fenótipo facial hiperdivergente. Bom conhecimento das premissas básicas e das limitações terapêuticas é fundamental para fazê-lo. AGRADECIMENTO Agradecemos ao Professor Doutor Peter H. Buschang (Professor Regent - Department of Orthodontics - Baylor College of Dentistry, Dallas, Texas, USA) pela sua inesgotável contribuição às nossas formações profissionais. REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. Schudy FF. Vertical growth versus anteroposterior growth as related to function and treatment. Angle Orthod 1964;34(2):75-93. Björk A, Skieller V. Normal and abnormal growth of the mandible. A synthesis of longitudinal cephalometric implant studies over a period of 25 years. Eur J Orthod 1983;5(1):1-46. Fields HW, Proffit WR, Nixon WL, Phillips C, Stanek E. 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Case report Maria de Lourdes Ortiz Bravo - Cirurgiã- RESUMO A hemofilia é uma coagulopatia congênita autossômica recessiva ligada ao cromossomo X, isso é devido à deficiência do fator VIII (hemofilia A) ou do fator IX (hemofilia B) afetando apenas os homens. Os transtornos hemorrágicos constituem um dos problemas de maior interesse a serem considerados pelo cirurgião-dentista na prática odontológica. O tratamento odontológico de pacientes com hemofilia deve ser realizado sob cuidados especiais com uma equipe multidisciplinar, nos quais os profissionais da saúde devem ter experiência médica e apoio hematológico adequados. O Objetivo deste trabalho foi relatar a reabilitação odontológica de maneira multidisciplinar de um paciente pediátrico com diagnóstico de hemofilia B grave, a qual é tratada e controlada por médicos hematologos do Hospital Geral de Zona (HGZ). O diagnóstico odontológico foi de acúmulo de placa bacteriana nas superfícies dentais por má higiene bucal, lesões de cárie e hipoplasia de esmalte. Para reabilitação bucal foram realizadas extrações de alguns elementos dentais, profilaxia, flúor terapia, orientação e motivação de higiene bucal, remoção de tecido cariado com auxílio de ultrassom, restaurações com resina composta, ionômero de vidro e restaurações indiretas cerômeros. Concluiu-se que para um adequado manejo odontológico é imprescindível o conhecimento de diversas patologias sistêmicas como a hemofilia, o atendimento multidisciplinar, além do conhecimento de técnicas de mínima intervenção em Odontopediatria para assim poder oferecer ao paciente melhores alternativas de tratamento com a mínima invasão e resultados favoráveis. -Dentista - Residente na especialização em Odontopediatria, CUALTOS Universidade de Guadalajara, México Alba Lilia Brambila Montoya - Cirurgiã-Dentista - Residente na especialização em Odontopediatria, CUALTOS Universidade de Guadalajara, México Tonatiuh Ruiz Rivera - Mestre em Saúde Pública e Odontologia Preventiva - Professor associado de pós-graduação em Odontopediatria, CUCS e CUALTOS Universidade de Guadalajara, México Issac Murisi Pedroza Uribe - Especialista em Odontopediatria - Mestrando em Ciências Odontológicas com área de concentração em Odontopediatria, Fousp, Brasil Caleb Shitsuka - Doutor - Professor associado de Odontologia da FMU Carmem Celina Alonso Sánchez - Especialista em odontopediatria - Cordenadora da especialização em Odontopediatria, CUALTOS Universidade de Guadalajara, México Rubén Alberto Bayardo González Mestre em Odontopediatria - Professor associado de pós-graduação e graduação em Odontopediatria, CUALTOS Universidade de Guadalajara, México Autor de correspondência: Caleb Shitsuka Rua Amaral Gama, 349 Santana - São Paulo/SP 02018-001 Brasil [email protected] 210 Descritores: hemofilia B; hipoplasia do esmalte dentário; cárie dentária; reabilitação bucal ABSTRACT Hemophilia is an autosomal recessive congenital blood coagulation desorder to X chromosome, this is due to deficiency of factor VIII (hemophilia A) or factor IX (hemophilia B) affects only men. Bleeding disorders are one of the issues of greatest interest to be considered by the dentist in the dental practice. Dental treatment of patients with hemophilia should be done under special care by a multidisciplinary team in which health professionals must have medical experience and adequate hematologic support. The objective of this study was to report the dental rehabilitation in a multidisciplinary team to a pediatric patient with severe haemophilia B, which is treated and controlled by medical hematologists in Zone General Hospital (HGZ). The dental diagnosis was accumulation of plaque on dental surfaces by poor oral hygiene, dental caries and enamel hypoplasia. For oral rehabilitation extractions were performed in some dental elements, prophylaxis, fluoride therapy, guidance and motivation of oral hygiene, caries removal with ultrasound assistance restorations with composite resin, glass ionomer and indirect restorations with cerômics. It was concluded that for proper dental management is essential knowledge of various systemic diseases such as hemophilia, multidisciplinary care, in addition to knowledge of minimal intervention techniques in pediatric dentistry so as to offer the best treatment alternatives patient with minimal invasion and favorable results. Descriptors: hemophilia B; dental enamel hypoplasia; dental carie; rehabilitation REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):210-4 Caleb David Willy Moreira Shitsuka.indd 210 23/05/16 15:43 Odontopediatria RELEVÂNCIA CLÍNICA O Cirurgião-Dentista deve possuir competências básicas para lidar com pacientes que apresentam alterações com coagulopatias e conhecer os procedimentos simples para o controle da hemorragia, assim como diversas técnicas de tratamento conservador para o paciente com essas características. INTRODUÇÃO Os transtornos hemorrágicos constituem um dos problemas de maior interesse a serem considerados pelo cirurgião-dentista na sua prática diária.1 A hemofilia é uma doença congênita autossômica recessiva ligada ao cromossomo X2, isso é devido à deficiência do fator VIII (hemofilia A) ou do fator IX (hemofilia B) afetando apenas os homens.1 Sua freqüência é de aproximadamente de 1 a cada 10000 nascimentos e a sua escala mundial afeta cerca de 400000 indivíduos.3,4 A hemofilia é classificada em: • Grave (< 1% de fator) com hemorragia espontânea em articulações e músculos sem causa aparente. • Moderada (2-5% de fator) com sangramento menos severo, após traumas menores. • Leve (5-25% de fator) podendo não manifestar-se até idade adulta, secundário ao trauma ou cirurgia significativa.4 Devido à hemofilia ser o resultado de uma deficiência ou ausência de certos fatores de coagulação, o tratamento consiste em oferecer o fator ausente mediante sua administração intravenosa. A administração de inibidores deve ser realizada a cada seis meses pacientes pediátricos e uma vez por ano em adultos em um laboratório especializado, em caso de suspeita dessa doença, deve ser solicitado a administração de urgência.5 Os cuidados odontológicos de pacientes com hemofilia devem ser realizados com uma equipe multidisciplinar, com o apoio de profissionais da área da saúde com experiência médica visando o paciente integralmente. Os tratamentos com fator de coagulação por via intravenosa geralmente são necessários quando se requer uma técnica anestésica de bloqueio do nervo. Para a realização de técnicas anestésicas infiltrativas, não é necessário a utilização dos tratamentos com fatores de coagulação via intravenosa.6 Para oferecer a estes pacientes um tratamento seguro e menos invasivo, o cirurgião-dentista deve utilizar técnicas conservadoras e minimamente invasivas, assim com o inicio da Odontologia Minimamente Invasiva, surgiram técnicas e materiais que possibilitam uma Odontologia conservadora, respeitando a estrutura dental e a integridade física do paciente.7,8 Em 1994 foi introduzido o sistema de pontas CVDentus (Clorovale Diamantes Ind. e Com. Ltda., São Paulo, Brasil), que podem ser adaptadas ao ultrassom.7 O presente relato de caso teve o objetivo de apresentar alternativas de tratamento odontológico com uma equipe multidisciplinar baseado na Odontologia Minimamente Invasiva em pacientes hemofílicos. RELATO DE CASO CLÍNICO Paciente masculino de 10 anos de idade procurou atendimento odontológico na especialização em Odontopediatria do Centro Universitário dos Altos da Universidade de Guadalajara, relatando dor nos elementos dentários 75, 84 e 85. Durante a anamnese os responsáveis pelo menor, relataram que o mesmo apresentava hemofilia B grave, que estava sendo acompanhada pelo HGZ do Instituto Mexicano de Seguro Social. No exame clínico intraoral observou-se acúmulo de placa bacteriana, lesões de cárie nos elementos dentários 16, 26, 36, 46, 53, 54, 55, 63, 65, 75, 84, 85 e hipoplasia de esmalte generalizada (Figuras 1-3). Com o acompanhamento multidisciplinar, o médico hematólogo forneceu o protocolo adequado de administração do fator IX de coagulação, permitindo as exodontias dos elementos dentários 54, 63, 75, 84 e 85 (Figura 4), realizadas em uma única seção e utilizando como sal anestésico a articaína 2% com epinefrina 1:100000. Para a extração desses elementos dentários utilizou-se a técnica anestésica de bloqueio de nervo e infiltrativa, utilizando alavancas retas e fórceps para luxação e remoção dos elementos dentais. Realizou-se a hemostasia com gaze estéril não havendo complicações hemorrágicas. Na consulta posterior foi realizada orientação de higiene bucal, profilaxia, aplicação de flúor gel, restauração com resina composta pela técnica direta dos elementos 26, 53 e com ionômero de vidro (3M, Ketac N100) dos elementos 65 e 55. Para o tratamento dos elementos 16, 36 e 46 foram realizados isolamento absoluto com grampo atraumático (Kerr Dental), realizou-se a remoção do tecido cariado com o auxilio do ultrasom e ponta adaptada para remoção de dentina infectada, e posteriormente o protocolo restaurador com resina composta para os elementos 16 e 36 e do protocolo ionomérico do elemento 46 (Figuras 5-7). Após os procedimentos restauradores desses dentes, os mesmos foram preparados com brocas diamantadas com desgaste acima do margem gengival para realização das restaurações indiretas (Figura 8-10). Estes elementos foram moldados com silicona de condensação e foi feito o registro de mordida com o mesmo material. Com a obtenção dos modelos de trabalho, esses foram adaptados no articulador semi-ajustavel para a confecção das restaurações indiretas com cerômeros. As peças de cerômeros foram provadas e ajustadas em boca e por ultimo foram cimentadas com cimento resinoso dual BisCem (Bisco) (Figura 11-12). Feito a reabilitação bucal do paciente, foi indicado o controle periódico para a manutenção da saúde bucal do paciente. DISCUSSÃO Os pacientes hemofílicos necessitam uma atenção odontológica e multidisciplinar especial, pois carecem de alguns fatores para ter uma coagulação adequada.1 Nesse sentido é de extrema importância que os profissionais da saúde apresentem competências para lidar com essa doença congênita. Eles devem estar envolvidos com uma visão integral do paciente para oferecer o melhor tratamento disponível.9 Desde o inicio do tratamento relatado, uma equipe multidisciplinar, incluindo médico hematólogo e Cirurgiões-Dentistas, trabalharam em conjunto respeitando o protocolo de administração do fator IX de coagulação, pois alguns tratamentos radicais (exo- REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):210-4 Caleb David Willy Moreira Shitsuka.indd 211 211 23/05/16 15:43 BRAVO MLO; MONTOYA ALB; RIVERA TR; URIBE IMP; SHITSUKA C; SÁNCHEZ CCA; GONZÁLEZ RAB FIGURA 4 Exodontia dos dentes: 54, 63, 75, 84 e 85 FIGURA 1 Foto oclusal da arcada superior FIGURA 5 Mesa com materiais e instrumentos de trabalho FIGURA 2 Foto oclusal da arcada inferior FIGURA 3 Oclusão em relação centrica 212 FIGURA 6 Utilização de grampo atraumático e remoção de tecido cariado com ultrassom e ponta adaptada REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):210-4 Caleb David Willy Moreira Shitsuka.indd 212 23/05/16 15:43 Odontopediatria FIGURA 7 Inserção de resina composta com espátula de metal FIGURA 9 Elemento dentário 16 com o preparo para restauração indireta FIGURA 8 Preparo para restauração indireta com broca diamantada FIGURA 10 Elemento dentário 46 preparado para restauração indireta dontias) necessitaram de anestesia de bloqueio de nervo e provocaram sangramentos sendo necessário este controle para evitar possíveis complicações hemorrágicas severas.6 O tratamento odontopediátrico deve ser realizado de maneira rápida evitando o comprometimento psicológico e físico da criança.10 Neste relato de caso as extrações foram realizadas na mesma consulta pela disponibilidade da administração do fator de coagulação. Não existe evidencia que mostre uma associação entre a hemofilia e a presença de hipoplasia de esmalte, porém existe a possibilidade de que pacientes hemofílicos apresentem esse defeito do esmalte dentário. Uma vez formado o esmalte, não há remodelação do mesmo, o que significa que as alterações ocorridas em sua formação estarão guardadas permanentemente em sua estrutura.11 Trata-se de lesões de diferentes magnitudes, que ocasionalmente provocam aumento na sensibilidade, decorrentes principalmente das mudanças térmicas, ocasionando a procura pelo atendimento odontológico. Muitas vezes os defeitos de esmalte podem proporcionar um maior acúmulo de placa bacteriana, aumento o risco do desenvolvimento de lesões de cárie.12 Isso pode levar a necessidade de tratamentos restauradores. Devido à hipoplasia generalizada e a má condição de higiene bucal, o paciente foi considerado de alto risco da doença cárie apresentando múltiplas lesões de cárie dentária. Em virtude de possíveis complicações hematológicas, pa- REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):210-4 Caleb David Willy Moreira Shitsuka.indd 213 213 23/05/16 15:43 BRAVO MLO; MONTOYA ALB; RIVERA TR; URIBE IMP; SHITSUKA C; SÁNCHEZ CCA; GONZÁLEZ RAB FIGURA 11 Restauração indireta do dente 16 FIGURA 12 Restauração indireta do dente 46 cientes hemofílicos necessitam de tratamentos menos invasivos possíveis, assim a Odontologia Minimamente Invasiva surge como uma opção para o tratamento, utilizando técnicas e materiais que possibilitam uma Odontologia conservadora, respeitando a integridade física do paciente.7,8,13 Nesse sentido o tratamento foi realizado com essa filosofia, utilizando isolamento absoluto com grampos atraumáticos evitando a necessidade de aplicação anestésica. Também foi utilizado o ultrassom com ponta diamantada adaptável para a remoção do tecido cariado conservando a dentina afetada. Com a continuação restauradora dos elementos dentais. Existem dois diferentes tipos de restaurações: direta que se pode colocar o material diretamente na cavidade em uma única consulta e a restauração indireta são peças confeccionadas em laboratório e posteriormente cimentadas nos elementos dentais, o que pode gerar mais de uma consulta, mas necessários em casos de grande destruição da estrutura dentária.9 Baseado nessas informações, optou-se por pela utilização da técnica restauradora indireto os dentes com maior destruição coronária (16, 36 e 46) e outros com a técnica direta. CONCLUSÃO Para um adequado manejo odontológico é imprescindível o conhecimento das diversas patologias sistêmicas, como a hemofilia, pois diversas ocasiões os procedimentos odontológicos podem levar ao sangramento. É necessário o tratamento multidisciplinar para se obter um controle geral da saúde do paciente. A filosofia de mínima intervenção em Odontologia proporciona uma condição menos invasiva para pacientes hemofílicos. APLICAÇÃO CLÍNICA Este relato de caso proporciona informações básicas sobre o atendimento odontológico multidisciplinar do paciente hemofílico, desde o controle da hemostasia nos procedimentos cirúrgicos até os tratamentos restauradores minimamente invasivos. REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 214 Benito M, Benito M, Morón A, Bernardoni C, Pereira S, Bracho M, Rivera N. Manejo odontológico de pacientes con enfermedades hemorrágicas y terapia anticoagulante. Revisión bibliográfica. Acta Odontológica Venezolana, Vol. 42, No. 2. Caracas, 2004 Navarro-Monsoliu R; Querol Fuentes, F. Rehabilitación de los hematomas musculares en los pacientes hemofílicos. Rehabilitación Vol. 39, No. 2. Pags. 59-65. Madrid, 2005. Federación Mundial de Hemofilia. Directrices para el tratamiento de la Hemofilia 2005. Cameron A, Widmer R. Handbook of Pediatric Dentistry. 4ta. Edición. Elsevier, 2013. Alemandi S, Sol-Cruz M, Forzani L, Ramos-Vernieri MX. 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REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):210-4 Caleb David Willy Moreira Shitsuka.indd 214 23/05/16 15:43 Relato de caso clínico (convidado) Implantodontia Incisão vertical para remoção de osso autógeno da sínfise mentual - relato de dois casos clínicos Recebido em: mar/2016 Aprovado em: abr/2016 Vertical incision to autogenous bone removal from the mental symphysis - report of two clinical cases Cristiano Clausson Schroeder - RESUMO O presente artigo apresenta o relato de dois casos clínicos onde através de uma técnica alternativa de incisão vertical foram removidos tecidos ósseos da região de sínfise mentual para aumento de volume ósseo em outra região para posterior reabilitação com implante osseointegrado. No primeiro relato em um paciente de 40 anos foi removido osso autógeno em bloco da sínfise mentual com a técnica da incisão vertical para aumento vertical na região da pré-maxila associado com biomaterial e posteriormente instalados dois implantes cilíndricos na região dos 12 e 22. O segundo relato, em paciente com 72 anos, removeu osso particulado da região de sínfise mentual e procedeu-se a enxertia do seio maxilar através da técnica da janela lateral e ambas as áreas utilizaram a técnica da incisão vertical. Constatou-se em ambos os casos minimização de edemas e sintomatologia dolorosa pós-operatórias e nenhum paciente relatou parestesia na região doadora, algo comum em casos com a remoção pela técnica tradicional. Especialista, mestre e doutorando em Implantodontia na SLMandic Paulo Sergio Perri de Carvalho - Professor titular do departamento de Estomatologia da Faculdade de Odontologia de Bauru(FOB-USP) Diego Bechelli - Speaker y Fellow del International Team for Implantology (ITI) Pedro Silva Pacheco - Aluno de especialização em Implantodontia da APCD Regional São Caetano do Sul Renato Tiosso - Professor do curso de especialização em Implantodontia da EAP APCD SCS Antonio Francisco David - Doutor em Biopatologia Bucal pela Unesp Endereço para correspondência: Cristiano Clausson Schroeder Av Dom Pedro II, 1709 Bairro Campestre - Santo André - SP 09080-11 Brasil [email protected] ou Antonio Francisco David [email protected] Descritores: enxerto autógenos; implante dentário; transplante autólogo ABSTRACT This paper presents a report of two cases where using an alternative technique of vertical incision were removed bone tissue of the symphysis chin region to increase bone volume in another region for later rehabilitation with osseointegrated implant. The first report on a 40 year old patient was removed autogenous bone in the chin symphysis block with the vertical incision technique for vertical increase in pre maxilla associated with biomaterial and then installed two cylindrical implants in the region of 12 and 22. The second account in patients with 72 years removed particulate bone symphysis chin region and decided to graft the maxillary sinus through the lateral window technique and both areas have used the technique of vertical incision. It was found in both cases minimizing swelling and postoperative painful symptoms and no patients reported numbness in the donor area, something common in cases with removing the traditional technique. Descriptors: autogenous graft; dental implants, autologous transplants REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):215-20 Antonio Francisco David.indd 215 215 23/05/16 16:04 SCHROEDER CC; CARVALHO PSP; BECHELLI D; PACHECO PS; TIOSSO R; DAVID AF INTRODUÇÃO Os implantes dentários à base de titânio têm sido amplamente utilizados desde a descoberta da osseointegração, pois permitem soluções previsíveis e duradouras para uma variedade de tratamentos reabilitadores orofaciais.1 Áreas edêntulas geralmente apresentam complexidades para uma correta instalação e longevidade dos implantes devido ao pequeno remanescente ósseo2, e em geral para que os implantes sejam instalados em posição ideal necessitamos de técnicas regenerativas.3 O enxerto ósseo autógeno é considerado o biomaterial gold standard para técnicas regenerativas4 e é colhido a partir do próprio corpo do paciente sendo considerado ideal devido sua capacidade osteocondutiva, osteoindutora e osteogênica.5 Para reparação da maioria dos defeitos alveolares, enxertos ósseos da sínfise e ramo são os mais utilizados na Implantodontia.6 O uso da sínfise mandibular como uma área doadora para enxerto ósseo em cirurgia maxilofacial não é recente7,sendo utilizado para fins implantodônticos desde 19808. Enxertos em bloco incluem a calvária, mandíbula, osso zigomático que são de origem de osso intramembranoso tem a vantagem de diminuição da taxa de reabsorção óssea em comparação com osso de origem endocrondal (ilíaco), devido à sua estrutura cortical denso e sua microarquitetura.9,10 A desvantagem da sínfise mandibular como uma fonte do osso é a quantidade limitada de osso disponível e o fato de que, por vezes, a área doadora está próximo da área receptora.11 A morbidade pós-operatória mais comum associada com a coleta óssea da região de sínfise é a parestesia temporária, variando entre 10 a 50% dos casos, devido a grande incisão realizada e a proximidade do nervo mentual.12,13 Inicialmente, facilitando a comunicação entre os profissionais, Branemark descreveu uma classificação que quantificava o padrão ósseo nas áreas passíveis de implantação da cavidade bucal1. Outras classificações foram desenvolvidas, como por exemplo, a classificação Sueca de Cawood, que ainda mais sofisticada, além de quantificar o padrão ósseo da região em questão, também indica a melhor técnica cirúrgica e protética para reabilitar a região, de acordo com a classificação.14 Visando mensurar e compreender a reabsorção óssea, diversos trabalhos foram realizados. Na literatura observamos então com estes estudos, padrões de reabsorção óssea nos maxilares bem como determinadas velocidades de perda que sofrem variações de acordo com a região orofacial em questão.15 Já estabelecido um consenso sobre o tema, observamos que a perda óssea vertical do osso mandibular bem como a perda óssea horizontal do osso maxilar além da pneumatização dos seios paranasais16 são acontecimentos inexoráveis em pacientes que por algum motivo possuem ausências dentárias, sendo assim, tornam-se um fator de suma importância a ser estudado nos pacientes que necessitam de tratamento odontológico reabilitador.17 Técnicas regenerativas são utilizadas com frequência na Odontologia reabilitadora, sendo chave para o sucesso em diversos casos, dada a complexidade de muitos casos para uma correta instalação e longevidade dos implantes.3 Outro fato bem estabelecido é a utilização do osso autógeno como padrão ouro em aumentos ósseos, atrelado as suas propriedades físico-químicas que são totalmente satisfatórias.18 216 Difícil acesso, possibilidade de lesão de feixes vásculo-nervosos, sintomatologia dolorosa pós-operatória, aceitação do paciente são alguns dos principais fatores que ainda são levados em conta para a utilização ou não de osso autógeno em casos de reconstrução óssea. Diversos trabalhos comparam a utilização de enxertos autógenos provenientes de diferentes regiões e detalha alguns benefícios de determinadas regiões doadoras em relação a outras.19 Atualmente os principais sítios para obtenção de osso autógeno são crista ilíaca, calvária, sínfise/ramo mandibular e tíbia. Alguns autores apontam grau de morbidade, sintomatologia pós-operatória e capital ósseo necessário como parâmetros para selecionar a região mais adequada ao caso em questão.20 Baseando-se nos estudos, casos clínicos com longos follow ups, é evidente que a sínfise mandibular pode ser selecionada com segurança para diversos casos em que o reestabecimento de volume ósseo é necessário.21 A eficácia em relação à osseointegração dos implantes colocados nas áreas enxertadas foi avaliada em estudo longitudinal onde observou-se que de 98 implantes instalados, 97,96% obtiveram sucesso e ainda permaneciam em função.22 Enxertos ósseos são amplamente indicados em tratamentos com implantes osseointegráveis, nos quais a biomecânica do conjunto implante/conector/prótese requer quantidade de osso suficiente para um ótimo posicionamento, diâmetro, perfil de emergência dos mesmos, buscando a satisfação estético e funcional do paciente.23 A utilização de substitutos ósseos associada a osso autógeno se mostra uma alternativa muito interessante tendo em vista que com isso, a região doadora não necessariamente deve ser extensa e as propriedades do osso homólogo estabelecem uma relação de simbiose com o biomaterial.24 A técnica de eleição para obtenção dos enxertos intrabucais está muito mais relacionada com a habilidade do cirurgião e principalmente com as características do enxerto que o caso clínico necessita.25 Este artigo descreve dois casos clínicos utilizando a técnica modificada para remoção óssea da sínfise mandibular com uso incisão vertical. RELATOS DE CASOS CLÍNICOS Caso 1 Paciente do sexo feminino, não fumante, leucoderma, 40 anos de idade, parcialmente desdentada superior, apresentou-se à clínica particular com a queixa de mobilidade em sua prótese fixa superior e dor nos dentes suporte, e solicitando já na primeira consulta que em sua reabilitação fosse realizada com implantes dentários. Na anamnese e no exame clínico verificou-se que a paciente possuía boa condição sistêmica, sendo a mesma ASA I em sua avaliação física. Ao exame clínico, observa-se na região superior uma prótese fixa metalocerâmica de canino a canino e após remoção da mesma verificou-se uma grande destruição do tecido dentário em ambos caninos e na sondagem uma pequena bolsa periodontal palatina. No exame radiográfico detectou-se grande atrofia óssea na região anterior da maxila (Figuras 1), extravasamento de material obturador no dente 13 e retentor metálico muito volumoso no dente 23. O plano de tratamento apresentado e aceito pelo paciente foi a exodontia dos dentes 13 e 23, realização de enxertos ósseos na região anterior da maxila advindos da região da sínfise mentual REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):215-20 Antonio Francisco David.indd 216 23/05/16 16:04 Implantodontia obtidos através da técnica da incisão vertical, e em uma segunda etapa, após quatro meses, a instalação de uma prótese fixa de seis elementos suportada por quatro implantes. No pré-operatório foi administrada dois gramas de amoxicilina e 8 mg de dexametasona. Na área doadora de tecido ósseo foram infiltrados dois tubetes anestésicos (cloridrato de articaina 1:100.000). Uma incisão vertical foi realizada iniciando-se na região de fundo de sulco até 2 mm acima da união muco gengival (Figura 2).Foi realizado descolamento de espessura total, estendendo internamente para maior liberdade de movimentação das áreas adjacentes (Figura 3).Através do uso de uma broca trefina de 8 mm (Figura 4) realizou-se 2 osteotomia (Figura 5) com a remoção de 2 fragmentos ósseos finalizando com suturas simples com fio de nylon 5.0 na região (Figura 6). Foi realizado na área receptora incisão supra crestal de espessura total evidenciando a grande perda óssea na região da pré-maxila e remoção dos elementos 13 e 23, os fragmentos ósseos foram posicionados através de uma pinça porta enxerto e fixados com parafusos bicorticais de 1.6x10mm (Figura 7). Os espaços adjacentes foram complementados com hidroxiapatita sintética absorvível na forma de grânulos de 20 mesch associado com o antibiótico rifamicina liquida na forma de spray . Após seis meses de espera para incorporação óssea, com incisão e retalho conservadores com lamina 15C foi exposto o tecido ósseo onde se observou uma grande neo formação óssea (Figura 8) e foram instalados quatro implantes cilíndricos com dimensões de 3,75x 13mm de conexões hexagonais externa (Figura 9) e realizadas suturas simples com fio de seda 4.0. Em ambos pós-operatórios foram prescritos o anti-inflamatório Cetoprofeno 100 mg ao dia em dose única por 3 dias e o analgésico Codeína 30 mg associado a Paracetamol 500mg 4 vezes ao dia por 3 dias. Paciente relatou um grande conforto pós-operatório e clinicamente não foi observado nenhum grau de parestesia na região, nenhuma deiscência de sutura e consequentemente nenhuma formação de brida labial. Caso 2 Paciente do sexo masculino, não fumante, hipertenso, em bom estado geral melanoderma, 72 anos de idade apresentou-se a cli- nica privada com a queixa da ausência do elemento 26. No exame radiográfico detectou-se uma perda óssea alveolar concomitantemente a uma pneumatização do seio maxilar na região. O plano de tratamento apresentado e aceito pelo paciente para a reconstrução óssea na região foi a elevação do assoalho do seio maxilar com o uso da técnica da incisão vertical através de enxerto ósseo autógeno particulado advindo da região da sínfise mentual obtidos também através da técnica da incisão vertical. No pré-operatório foi administrado 2gramas de Amoxicilina e 8 mg de dexametasona. Seguindo a mesma técnica da incisão vertical descrita no caso anterior, na área doadora de tecido ósseo foram infiltrados dois tubetes anestésicos (cloridrato de articaína 1:100.000). Uma incisão vertical foi realizada iniciando-se na região de fundo de sulco até 2 mm acima da união muco gengival (Figura 10).Foi realizado descolamento de espessura total, estendendo internamente para maior liberdade de movimentação das áreas adjacentes (Figura 11). A remoção de osso particulado com uma broca coletora de osso (Figura 12) e a região suturada. Na área receptora foi realizada uma incisão vertical com lamina de bisturi nº15 (Figura 13) e um descolamento das áreas adjacentes para uma melhor visualização da região e procedeu-se a osteotomia da parede lateral do seio maxilar com broca de aprouch lateral minimamente invasiva (Figura 14) com a preservação e manutenção da integridade da membrana sinusal. Após descolamento da membrana sinusal com curetas de pequeno porte, associou-se o osso autógeno particulado com hidroxiapatita absorvível embebidos com o antibiótico rifamicina, procedeu-se o preenchimento da cavidade sinusal (Figura 15) e sobre a abertura óssea colocou-se uma membrana composta de colágeno impregnada com hidroxiapatita e finalizando com suturas simples com fio de seda 4.0 (Figura 16). DISCUSSÃO Diversas técnicas cirúrgicas têm sido relatadas para obtenção de enxerto ósseo para reabilitar rebordos atróficos quando não se tem tecido ósseo suficiente para ancoragem dos implantes osseointegrados.3-4, 5-8 Os enxertos ósseos autógenos, xenógenos e alógenos são as op- FIGURA 1 Imagens tomográficas das regiões 12 e 22, evidenciando grande perda óssea REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):215-20 Antonio Francisco David.indd 217 217 23/05/16 16:04 SCHROEDER CC; CARVALHO PSP; BECHELLI D; PACHECO PS; TIOSSO R; DAVID AF 218 FIGURA 2 Delimitação da incisão FIGURA 6 Suturas simples FIGURA 3 Exposição da área doadora FIGURA 7 Enxerto ósseo fixado com parafusos bicorticais de 1.6x10mm FIGURA 4 Uso de trefina de 8mm FIGURA 8 Incorporação do tecido ósseo FIGURA 5 Osteotomia da área doadora FIGURA 9 Implantes instalados nas regiões 12, 13, 22 e 23 REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):215-20 Antonio Francisco David.indd 218 23/05/16 16:04 Implantodontia FIGURA 10 Incisão vertical 2mm acima da linha de união muco gengival A FIGURA 11 Boa visualização do campo operatório B FIGURA 12 - A e B Osteotomia com broca coletora de osso particulado FIGURA 13 Incisão vertical FIGURA 14 Osteotomia com preservação membrana sinusal REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):215-20 Antonio Francisco David.indd 219 219 23/05/16 16:04 SCHROEDER CC; CARVALHO PSP; BECHELLI D; PACHECO PS; TIOSSO R; DAVID AF FIGURA 15 Material inserido na cavidade sinusal FIGURA 16 Suturas simples ções existentes para aumento de volume ósseo.17,22 Os enxertos autógenos são considerados ainda como o padrão ouro na Implantodontia6 onde apresentam as três principais características para formação óssea: a osseocondução, osseoindução e ósseo formação.2-18,25 O osso autógeno pode ser obtido de áreas intra e extraorais, sendo as áreas extraorais de difícil aceitação pelo paciente, grande morbidade pós-operatórias e altos custos.10 Da área intrabucal geralmente são retirados da sínfise mentual e da área retromolar sendo esta última região de difícil acesso e visualização e com grandes riscos para remoção devido a proximidade do nervo alveolar e artéria facial.12,13-23 A remoção de tecido ósseo da sínfise mentual se faz de uma forma simplificada devido a ser uma área anterior de fácil visualização12-19, e acesso cirúrgico sem grandes riscos de acidentes transoperatórios, sendo o maior problema a formação de bridas cirúrgicas e parestesia local.24 CONCLUSÃO A utilização da técnica de incisão vertical para remoção de osso da área da sínfise mentual mostrou-se eficiente para minimizar a parestesia mentual, evitar a formação de bridas cirúrgicas, melhorando assim a morbidade e sintomatologias pós-operatórias. 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Implantes dentários contemporâneos. 2a ed. São Paulo: Santos; 2000. 20. Ma’amon A. Rawashdeh, Hani Telfah.British Journal of Oral and Maxillofacial Surgery, Volume 46, Issue 8, December 2008, Pages 665-670 21. Andre Montazem, David V. Valauri, Hugo St-Hilaire,and Daniel Buchbinder. J Oral Maxillofac Surg 58:1368-1371, 2000. 22. Raoni T. C. A., Lucas A. D. S., Mariana. L. F., Eduardo D. R., José S. P. S. , Adriano R. G. Enxertos ósseos autógenos intrabucais em implantodontia: estudo retrospectivo. Rev. Cir. Traumatol. Buco-Maxilo-Fac., Camaragibe v.14, n.4, p. 9-16, out./dez. 2014. 23. Fábio A. K., Edivaldo R. C., Geninho T., Ana C. M. M, Ivete A. M. S. “Enxertos ósseos autógenos de áreas doadoras intra-bucais e procedimentos clínicos integrados possibilitando reabilitação estética e funcional.” RGO, Porto Alegre, v. 54, n.4, p. 388-392, out./dez. 2006 24. Zijderveld SA1, van den Bergh JP, Cune MS, ten Bruggenkate CM, van Waas MA.“Pre-implantation surgery of the atrophied maxilla. A review of the literature”. Jul;104(7):25961. 1997. 25. Misia L. A. M. Enxertos autógenos intrabucais em implantodontia: Literature review. Revista Amazônia Science & Health. 2014 jul/set;2(3):32-37. REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):215-20 Antonio Francisco David.indd 220 23/05/16 16:04 Implantodontia REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):215-20 Antonio Francisco David.indd 221 221 23/05/16 16:04 Orientando o Paciente Orientando o Paciente Conceitos atuais sobre dor de dente em crianças pré-escolares Atual concepts of toothache in preschool children Observa-se: Lesões de cárie severa com presença de abscessos Ivonne Elena Vasquez Aillon - Mestranda em Odontopediatria na Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo (Fousp) Gustavo Tello Doutorando em Odontopediatria na Fousp Gabriela Oliveira Berti - Doutoranda em Odontopediatria na Fousp Evelyn Alvarez Vidigal - Doutoranda em Odontopediatria na Fousp Thais Cordeschi - Mestranda em Odontopediatria na Fousp Jenny Abanto Pós-Doutoranda em Odontopediatria na Fousp Recebido em: out/2015 Aprovado em: dez/2015 Autor de correspondência: Ivonne Elena Vasquez Aillon - Fousp Av. Professor Lineu Prestes, 2227 Cidade Universitária São Paulo – SP 05508-000 Brasil [email protected] 222 Resumo A dor é definida como uma sensação desagradável, ocorrendo como resultado de uma lesão ou doença. No entanto, a dor é uma sensação, que também inclui a percepção, e a interpretação subjetiva do desconforto. Sendo assim, trata-se de um fenômeno multidimensional que constitui um desafio para os profissionais de saúde, e em especial para os odontopediatras. Sabe-se que grande parte da população infantil somente procura atendimento odontológico quando experimentam dor e desconforto, e esse sintoma é geralmente provocado por lesões de cárie severas não tratadas, aquelas com envolvimento pulpar. Assim, o reconhecimento da dor de dente em crianças é visto como uma prioridade em Odontopediatria. Dados epidemiológicos indicam que crianças pré-escolares apresentam mais de 80% de lesões de cárie dentária não tratada, sendo estas o principal fator associado à dor em crianças e constituindo um problema comum em muitos países. Descritores: assistência odontológica para crianças; odontalgia; dor Abstract Pain is defined as an unpleasant sensation, occurring as a result of injury or disease. However, Pain is a sensation, which also includes the perception and subjective interpretation of discomfort. Thus, it is a multidimensional phenomenon being a challenge for health professionals, and especially for dentists. It is known that much of the child population only seeking dental care when they experience pain and discomfort, and this symptom is usually caused by severe untreated carious lesion, those with pulp involvement. Thus, recognition of dental pain in children is seen as a priority in pediatric dentistry. Epidemiological data indicate that preschool children have more than 80% of untreated caries lesions, being the main factor associated with dental pain in children and constituting a common problem in many countries. Descriptor: dental care for children; toothache; pain Observa-se: Lesões de cárie severa com grande destruição dentária 1) Como ocorre o processo de progressão da lesão de cárie que causa dor? Os estágios iniciais de lesão de cárie não apresentam sintomas, porém quando a lesão de cárie se desenvolve e atinge uma parte mais profunda do dente conhecida por dentina, que está perto da polpa (nervo) do dente, há o início dos sintomas de dor. Se a lesão de cárie profunda não for tratada, pode levar a processos infecciosos que também causam dor e desconforto e a necessidade de procedimentos mais complexos como tratamento pulpar e exodontias. 2) Que aspetos gerais são afetados por um episódio de dor de dente e desconforto? Dor de dente interfere com aspectos importantes do desenvolvimento da criança, tais como alimentação, aprendizagem, rendimento escolar, comportamento e atividades de lazer. Há estudos mostrando que a presença de dor de dente piora significativamente a qualidade de vida das crianças e a da sua família. Também, muitas crianças deixam de ir à escola por terem dor de dente, e em consequência, os pais faltam ao emprego para poder levar seus filhos ao Cirurgião-Dentista. 3) Como compreender os sinais de dor em crianças de pouca idade? A dificuldade de comunicação e o desenvolvimento cognitivo imaturo em crianças de pouca idade são as principais barreiras de comunicação entre elas e o odontopediatra, por isso novas ferramentas foram desenvolvidas para auxiliar o Cirurgião-Dentista a avaliar a experiência e intensidade da dor. Atualmente existem questionários e escalas com desenhos que podem ser úteis na mensuração da dor em pré-escolares. Exemplos destas ferramentas são a versão brasileira do Questionário de Desconforto Dental (DDQ) (relato dos pais) e a Escala de Dor de Wong-Baker (auto-relato da criança). REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):222-3 Orientando o Paciente .indd 222 24/05/16 10:58 AILLON IEV; TELLO G; BERTI GO; VIDIGAL EA; CORDESCHI T; ABANTO J 4) Quais são os sinais que a criança manifesta quando apresenta dor de dente? Pais ou responsáveis precisam estar atentos para perceber alterações na rotina ou no comportamento da criança com dor de dente. De acordo com o questionário DDQ, deve-se estar atento para detectar se a criança morde alimentos com os dentes de atrás ao invés de usar os dentes da frente, se a criança joga fora os alimentos logo depois de comer, se a criança chora durante as refeições quando tem que mastigar os alimentos ou se ela mastiga os alimentos somente de um lado da boca, ou ainda se a criança leva a mão ao rosto de repente enquanto come, ou se chora a noite enquanto dorme. A frequência dessas alterações de comportamento também deve ser avaliada, ou seja, é importante saber se ocorrem algumas vezes, muitas vezes ou nunca. 5) O que fazer quando uma criança apresenta dor de dente? O tratamento odontológico faz uma diferença significativa na melhora dos sintomas, limitações funcionais, aspectos psicológicos e sociais da vida da criança. Assim, os pais devem levar seus filhos para realizar o tratamento com um profissional especializado em Odontopediatria, o qual tomará decisões e medidas para o tratamento curativo e preventivo e abordará a criança de acordo com técnicas de abordagem comportamental apropriadas para esta faixa etária. É importante lembrar que a procura pelo odontopediatra não deve ocorrer somente quando há presença de dor. A educação sobre medidas de prevenção tais como a redução no consumo de açúcar e a higiene dentária com dentifrício fluoretado em concentração convencional são consideradas as melhores aliadas para obter e manter a saúde bucal e evitar dor e desconforto, protegendo o bem-estar dos pacientes infantis. REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. Abanto J, Paiva SM, Sheiham A, Tsakos G, Mendes FM, Cordeschi T, Vidigal EA, Bönecker M. Changes in preschool children’s OHRQoL after treatment of dental caries: responsiveness of the -ECO HIS. Int J Paediatr Dent 2015; doi: 10.1111/ipd.12192. [Epub ahead of print]. Acs G, Shulmann R, Ng M W, Chussid S. The effect of dental rehabilitation on the body weight of children with early childhood caries. Pediatr Dent 1999; 21: 109-113. Boeira GF, Correa MB, Peres KG, Peres MA, Santos IS, Matijasevich A et al. Caries is the main cause for dental pain in childhood: findings from a birth cohort. Caries Res 2012; 46(5):488-95. Bonecker M, Cleaton Jones P. 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Versloot J,Veerkamp JSJ, Hoogstraten J:Dental Disconfort Questionnaire:assesment of dental disconfort and/or pain in very Young children.Community Dent Oral Epidemiol 2006, 34:47-52. Von Bayer C, Uman I.S, Chambers CT, Gouthro A: Can we scrren Young children for their ability to provide accurate self-report of pain? Pain 2011, 152:1327-1333. REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):222-3 Orientando o Paciente .indd 223 223 24/05/16 10:58 224 REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):224 Normas de Publicação - 2015.indd 224 24/05/16 11:11 Normas Normas de Publicação Acesse o site da Revista da APCD (http://www.apcd.org.br/anexos/pagina-revista/normas_de_publicacao.pdf) e obtenha a versão atualizada das normas de publicação em formato “PDF” para uma consulta mais confortável. 1. MISSÃO A Revista da APCD é o órgão de divulgação científica da Associação Paulista de Cirurgiões-Dentistas. É publicada trimestralmente e destina-se à veiculação de originais nas seguintes categorias: artigo original; relato de caso(s) clínico(s); revisão sistemática de literatura; matéria especial de caráter jornalístico (“Matéria de capa”); informações sobre os Centros de Excelência (“Excelência em Odontologia“); informações gerais para o paciente (“Orientando o Paciente”). Respeitadas as categorias apresentadas acima, os originais submetidos devem estar de acordo com a linha editorial da Revista, eminentemente voltada aos clínicos e especialistas, devendo oferecer uma visão clínica integrada da Odontologia. A Revista da APCD aceita artigos de autores nacionais e internacionais, desde que estejam em inglês e português. Os artigos de revisão de literatura devem enfatizar assuntos de relevância clínica sobre tópicos atuais da Odontologia. A revisão deve ser baseada em uma análise crítica da literatura e pode incluir dados ou exemplos da experiência de pesquisas científicas ou clínicas dos autores. 2. NORMAS GERAIS 2.a. Os originais deverão ser submetidos por meio do site www.sgponline.com.br/apcd. 2.b. O conteúdo dos originais deve ser inédito. Não pode ter sido publicado anteriormente nem ser concomitantemente submetido à apreciação em outros periódicos, sejam eles nacionais ou internacionais. 2.c. Uma vez submetidos os originais, a Revista da APCD passa a deter os direitos autorais exclusivos sobre o seu conteúdo, podendo autorizar ou desautorizar a sua veiculação, total ou parcial, em qualquer outro meio de comunicação, resguardando-se a divulgação de sua autoria original. Para tanto, deverá ser anexado por meio do site o documento de transferência de direitos autorais contendo a assinatura de cada um dos autores, cujo modelo está reproduzido abaixo: Termo de Transferência de Direitos Autorais Eu (nós), autor(es) do trabalho intitulado [título do trabalho], o qual submeto(emos) à apreciação da Revista da APCD, declaro(amos) concordar, por meio deste suficiente instrumento, que os direitos autorais referentes ao citado trabalho tornem-se propriedade exclusiva da Revista da APCD desde a data de sua submissão, sendo vedada qualquer reprodução, total ou parcial, em qualquer outra parte ou meio de divulgação de qualquer natureza, sem que a prévia e necessária autorização seja solicitada e obtida junto à Revista da APCD. No caso de não-aceitação para publicação, essa transferência de direitos autorais será automaticamente revogada após a devolução definitiva do citado trabalho por parte da Revista da APCD, mediante o recebimento, por parte do autor, de ofício específico para esse fim. [Data/assinatura(s)] 2.d. A Revista da APCD reserva-se o direito de adequar o texto e as figuras recebidos segundo princípios de clareza e qualidade. 2.e. Os conceitos e as afirmações constantes nos originais são de inteira responsabilidade do(s) autor(es), não refletindo, necessariamente, a opinião da Revista da APCD, representada por meio de seu corpo editorial e comissão de avaliação. 3. FORMA DE APRESENTAÇÃO DE ORIGINAIS 3.a. Categorias de originais, elementos constituintes obrigatórios, ordem de apresentação e limites: Artigo original – Título; resumo; descritores; relevância clínica; introdução; materiais e métodos; resultados; discussão; conclusão; aplicação clínica; agradecimentos (se houver); referências; legendas; título, resumo (abstract) e descritores em inglês (descriptors). Limites: 20 páginas de texto, 2 tabelas e 16 figuras. Relato de caso(s) clínico(s) – Título; resumo; descritores; relevância clínica; introdução; relato do(s) caso(s) clínico(s), discussão; conclusão; aplicação clínica; agradecimentos (se houver); referências; legendas; título, resumo (abstract) e descritores em inglês (descriptors). Limites: 10 páginas de texto, 2 tabelas e 16 figuras. Revisão sistemática/integrativa de literatura Título; resumo; descritores; relevância clínica; introdução; revisão sistemática da literatura; materiais e métodos (por exemplo, como foram selecionados os artigos); discussão; conclusão; agradecimentos (se houver); referências; legendas; título, resumo e descritores em inglês (title, abstract and descriptors). Limites: 20 páginas de texto, 2 tabelas e 16 figuras. Orientando o paciente (só convidados) - Título em português e inglês; perguntas e respostas visando cobrir aspectos de gran­de relevância para o leigo, utilizando lingua­gem de fácil entendimento. No mínimo, 5 referências bibliográficas e, no máximo, 10. Limites: 2 páginas de texto e 2 figuras em TIFF ou JPEG, em resolução de 300 DPIs, sendo obrigatório, pelo menos, o envio de uma figura. Carta ao Editor - Espaço destinado exclusivamente à publicação da opinião dos leitores da Revista da APCD sobre seu conteúdo jornalístico e científico. É necessário especificar profissão e área de atuação; as críticas, principalmente direcionadas aos artigos, devem ter embasamento científico e mencionar o título do trabalho a que se refere. Limites: máximo de 900 caracteres (100 de título e 800 de texto). 3.b. Texto 3.b.1. Página de rosto: a página de rosto deverá conter o título; nome completo, titulação e afiliação acadêmica dos autores (no caso de diversas filiações, escolher apenas uma para citar); endereço completo contendo telefone, FAX e e-mail para contato do autor correspondente; especificação da categoria sob a qual os originais devem ser avaliados; especificação da área (ou áreas associadas) de enfoque do trabalho (ex.: Ortodontia, Periodontia/Dentística). 3.b.2. Título: máximo de 100 caracteres. Não pode conter nomes comerciais no título. 3.b.3. Resumo: máximo de 250 palavras. Deve ser composto seguindo a seguinte sequência: Objetivos, Materiais e Métodos, Resultados, Conclusão. 3.b.4. Relevância Clínica: descrição sucinta (de 2 a 4 linhas de texto) da relevância clínica do trabalho apresentado. 3.b.5. Descritores: máximo de cinco. Para a escolha de descritores indexados, consultar Descritores em Ciências da Saúde, obra publicada pela Bireme http://decs.bvs.br/. 3.b.6. Resumo, título e descritores em inglês: devem seguir as mesmas normas para os itens em português. Os autores devem buscar assessoria linguística profissional (revisores e/ ou tradutores certificados em língua inglesa) para correção destes itens. 3.b.7. Introdução: deve ser apresentada de forma sucinta (de uma a duas páginas de texto) com clareza enfocando o tópico estudado na pesquisa e o conhecimento atual pertinente ao assunto. O objetivo deve ser apresentado no final desta seção. REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):225-6 Normas de Publicação - 2015.indd 225 225 24/05/16 11:11 Normas 3.b.8. Materiais e Métodos: identificar os métodos, procedimentos, materiais e equipamentos (entre parênteses dar o nome do fabricante, cidade, estado e país de fabricação) e em detalhes suficientes para permitir que outros pesquisadores reproduzam o experimento. Indique os métodos estatísticos utilizados. Identificar com precisão todas as drogas e substâncias químicas utilizadas, incluindo nome genérico, dose e via de administração e citar no artigo o número do protocolo de aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP). 3.b.9. Resultados: devem ser apresentados em uma sequência lógica no texto com o mínimo possível de discussão, acompanhados de tabelas apropriadas. Relatar os resultados da análise estatística. Não utilizar referências nesta seção. 3.b.10. Discussão: deve explicar e interpretar os dados obtidos, relacionando-os ao conhecimento já existente e aos obtidos em outros estudos relevantes. Enfatizar os aspectos novos e importantes do estudo e as conclusões derivadas. Não repetir em detalhes dados já citados na seções de Introdução ou Resultados. Incluir implicações para pesquisas futuras. 3.b.11. Conclusão: deve ser pertinente aos objetivos propostos e justificados nos próprios resultados obtidos. A hipótese do trabalho deve ser respondida. 3.b.12. Aplicação Clínica: deve conter informações sobre em que o trabalho pode ajudar na prática clínica, com duas ou três conclusões de aplicação clínica; precisa, necessariamente, ser diferente das informações prestadas no item Relevância Clínica. 3.b.13. Agradecimentos: Especifique auxílios financeiros citando o nome da organização de apoio de fomento e o número do processo (Ex.: Este estudo foi financiado pela FAPESP, 04/075821). Mencionar se o artigo fez parte de Dissertação de Mestrado ou Tese de Doutorado (Ex.: Baseado em uma Tese submetida à Faculdade de Odontologia de Piracicaba – UNICAMP, como parte dos requisitos para obtenção do Título de Doutor em Clínica Odontológica, área de Dentística). Pessoas que tenham contribuído de maneira significativa para o estudo podem ser citadas. 3.b.14. Referências: máximo de 30. A exatidão das referências bibliográficas é de responsabilidade dos autores. IMPORTANTE: a utilização de referências atuais é de fundamental importância para o aceite do trabalho. As referências devem ser numeradas de acordo com a ordem de citação e apresentadas em sobrescrito no texto. Sua apresentação deve seguir a normatização do estilo Vancouver, conforme orientações fornecidas no site da Nation­al Library of Medicine: http://www. 226 nlm.nih.gov/bsd/uniform_requirements.html. Nas publicações com sete ou mais autores, citam-se os seis primeiros e, em seguida, a expressão latina et al. Deve-se evitar a citação de comunicações pessoais, trabalhos em andamento e não publicados. Exemplos: Livro Fejerskov O, Kidd E. Cárie dentária: a doença e seu tratamento clínico. 1ª. ed. São Paulo: Santos; 2005. Capítulo de Livro Papapanou PN. Epidemiology and natural history of periodontal disease. In: Lang NP, Karring T. Proceedings of the 1st European Workshop on Periodontology. 1st ed.London: Quintessence, 1994:23-41. Artigo de Periódico Iwata T, Yamato M, Zhang Z, Mukobata S, Washio K, Ando T, Feijen J, Okano T, Ishikawa I. Validation of human periodontal ligament-derived cells as a reliable source for cytotherapeutic use. J Clin Periodontol 2010;37(12):1088-99. Dissertações e Teses Antoniazzi JH. Analise “in vitro” da atividade antimicrobiana de algumas substâncias auxiliares da instrumentação no preparo químico-mecânico de canais radiculares de dentes humanos [Tese de Doutorado]. Ribeirão Preto: Faculdade de Farmácia e Odontologia de Ribeirão Preto; 1968. Consultas Digitais Tong, Josie (2002), “Citation Style Guides for Internet and Electronic Sources”. Página consultada em 10 de novembro de 2010, http://www.guides. library.ualberta.ca/citation_internet. 3.c. Tabelas Devem estar no final do texto ou em forma de figuras na resolução adequada. A legenda deve acompanhar a tabela. 3.d. Figuras – normas gerais As ilustrações (fotografias, gráficos, desenhos, quadros etc.), serão consideradas no texto como figuras e devem ser citadas no corpo do texto obrigatoriamente. As figuras devem possuir boa qualidade técnica e artística para permitir uma reprodução adequada. São aceitas apenas imagens digitalizadas que estejam em resolução mínima de 300 DPIs, em formato TIFF, com 6 cm de altura e 8 cm de largura. Não serão aceitas fotografias embutidas no arquivo de texto. Não serão aceitas imagens fotográficas agrupadas, fora de foco, com excesso de brilho, escuras demais ou com outro problema que dificulte a visualização do assunto de interesse ou a reprodução. Os limites máximos apresentados para imagens poderão ser ultrapassados em casos especiais desde que as imagens adicionais sejam necessárias à compreensão do assunto, sob condição de que os autores assumam possíveis custos devido à inclusão destas imagens. 4. ASPECTOS ÉTICOS 4.a. Estudos realizados in vivo ou que envolvam a utilização de materiais biológicos deverão estar de acordo com a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde e seus complementos, e ser acompanhado de aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) do estabelecimento onde foram realizados. 4.b. Na apresentação de imagens e texto devese evitar o uso de iniciais, nome e número de registro de pacientes. O paciente não poderá ser identificado ou estar reconhecível em fotografias. O termo de consentimento do paciente quanto ao uso de sua imagem e documentação odontológica é obrigatório e deve se referir especificamente à Revista da APCD. 4.c. Figuras e Tabelas já publicadas em outras revistas ou livros devem conter as respectivas referências e o consentimento por escrito do autor e dos editores. 5. ANÚNCIOS PUBLICITÁRIOS Devem estar em conformidade com as especificações contratadas com o setor comercial. A Revista da APCD exime-se de qualquer responsabilidade pelos serviços e/ou produtos anunciados, cujas condições de fornecimento e veiculação publicitária estão sujeitas ao Código de Defesa do Consumidor e ao CONAR - Conselho Nacional de Auto-Regulamentação Publicitária. 6. ETAPAS DE AVALIAÇÃO 6.a. Controle do cumprimento das normas de publicação pela Secretaria. 6.b. Avaliação dos originais pelo corpo editorial quanto à compatibilidade com a linha editorial da Revista. 6.c. O conteúdo científico dos originais é avaliado por no mínimo dois assessores ad hoc segundo os critérios: originalidade, relevância clínica e/ou científica, metodologia empregada e isenção na análise dos resultados. A comissão de avaliação emite um parecer sobre os originais, contendo uma das quatro possíveis avaliações: “desfavorável”, “sujeito a pequenas modificações”, “sujeito a grandes modificações” ou “favorável”. 6.d. Os originais com a avaliação “desfavorável” são devolvidos aos autores, revogando-se a transferência de direitos autorais. Os originais com avaliação “sujeitos a modificações” são remetidos aos autores, para que as modificações pertinentes sejam realizadas e posteriormente reavaliadas pelos assessores ad hoc. REV ASSOC PAUL CIR DENT 2016;70(2):225-6 Normas de Publicação - 2015.indd 226 24/05/16 11:11 Normas de Publicação - 2015.indd 227 24/05/16 11:11 Normas de Publicação - 2015.indd 228 24/05/16 11:11