qual a origem da história da fé? - SOL

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QUAL É A ORIGEM DA HISTÓRIA DA FÉ para o judaísmo, cristianismo,
islamismo, hinduísmo e budismo?
João Oliveira Souza, Mestre em Educação pela UFG.
Professor do colegiado de teologia da UCG
A crença religiosa é parte da especificidade do ser humano. Toda pessoa tem
uma crença, ainda que implícita ou inconsciente. A crença num ser sagrado nos leva a
viver uma experiência religiosa com este sagrado. Os que a vivem descrevem-na como
encontro: encontro com Deus, isto é, com o absoluto, com a fonte de valores
reconhecidos, com o “ser mais”. Este(a) sagrado(a) é ao mesmo tempo presente e
ausente, imanente e transcendente. Imanente, quer dizer, está no ser humano;
transcendente, o que está acima do ser humano, é inatingível. Esta dimensão da crença,
que leva o ser humano a viver a experiência religiosa com o(a) sagrado(a) está presente
em todas as religiões.
O judaísmo, o cristianismo e o islamismo são tradições chamadas, geralmente,
de “as grandes religiões”. Ao defini-las assim – o que, às vezes, pode ser motivo de
controvérsia – não se quer ter aqui nenhuma conotação valorativa ou numérica. Quer-se
com isso mostrar o fato de que estas tradições religiosas são, certamente, as que mais
influenciaram e continuam influenciando a humanidade. “E esta influência é muito
ampla, pois se dá não só em termos religiosos, mas também em termos éticos, políticos,
econômicos, sociais, de organização familiar, etc” (SCHERER, 2005, p.11). As três
primeiras tradições religiosas são monoteístas, conhecidas também por religiões
abraâmicas e proféticas, nascidas da mesma cultura semita.
O budismo e o hinduísmo tiveram sua origem na cultura hindu. O hinduísmo
apresenta-se como um movimento religioso, tipicamente hindu, que só se explica dentro
da realidade geográfica, histórica e mística da Índia e, por isso mesmo, não oferece uma
perspectiva universalista. O que chamamos de budismo é um movimento religioso que
gira em torno da figura e dos ensinamentos de Siddharta-Gautama, chamado de Buddha
(o iluminado).
Este estudo busca informar sobre algumas experiências das tradições religiosas
destas cinco religiões ao responder à questão, que dá titulo a este trabalho. Tem o
objetivo de, contribuir para o conhecimento geral destas grandes e importantes tradições
religiosas, nos cursos de graduação da Universidade Católica de Goiás, por meio das
aulas de teologia.
a) - Judaísmo
Tudo começa com Abraão, chefe de um clã semita. Por revelação divina,
mudou-se de Ur para de Haram, cidade situada na alta Mesopotâmia. De lá advertido
por outra “revelação divina”, dirigiu-se para o sul (Gênesis 12), para a terra habitada
pelos cananeus, outro povo semita que se dedicava à agricultura e possuía cidades na
região que hoje se chama de Palestina. O clã de Abraão, dedicado ao pastoreio,
prosperou rapidamente. Entretanto, a divindade, que lhe falara em Haram, continuava a
manifestar-se, prometendo-lhe uma grande descendência e a posse de toda a região de
Canã (Gênesis 15). Surgiu assim a Aliança de Javé com o povo de Israel. Abraão teve
vários filhos. Um desses, chamado Isaque, nascido de Sara, foi o abençoado por Deus
para ser o portador da sua promessa. Deste nasceu Jacó, apelidado de Israel, cujos filhos
tiveram que buscar refúgio no Egito. Os 12 filhos de Jacó formaram as 12 tribos de
Israel.
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No ano 1312 a.C. surgiu Moisés, ele é movido por uma experiência religiosa,
na qual a divindade protetora de Israel se deixa chamar de Javé (Iahweh=Aquele que é).
Moisés convenceu o Faraó, de permitir que o povo israelita fosse ao deserto oferecer
sacrifícios ao seu Deus. Segue-se o episódio da passagem do “mar vermelho” (atual
canal de Suez), que marca a libertação definitiva de Israel do poder egípcio. “Desde
então o Deus de Israel, o povo de Israel e a terra de Israel constituem uma única
unidade de salvação. (SCHERER, 2005, p. 15). A tradição religiosa de Israel tem uma
história longa, depois dos Juízes, veio a dinastia de Davi. A devoção à Javé vacilava e
então vieram os profetas lutando pela pureza do culto a Javé. A fé judaica repousa na
palavra de Deus conservada na Torá.
b) - Cristianismo
É a religião de todos aqueles que crêem que Jesus é Filho de Deus, que ele
morreu e ressuscitou e que veio anunciar aos homens a Boa Nova da salvação. A fé
cristã se estabelece nas palavras, nos ensinamentos, no gesto e na vida de Jesus Cristo,
cuja história é contada pelos evangelistas Mateus, Marcos, Lucas e João. Na Judéia,
durante o domínio romano, no governo de Tibério, surgiu um profeta, Jesus de Nazaré,
que durante três anos pregou ao povo judeu o advento do “Reino de Deus”.
Como os profetas de Israel, Jesus também condenou a hipocrisia das classes
dominantes, principalmente a dos fariseus, que representavam o partido nacionalista e a
dos saduceus, que representavam o pensamento conservador do alto clero e pactuavam
com os romanos com fins interesseiros. De outro lado, Jesus misturava-se aos pobres,
acolhia os pecadores, a todos pregando a misericórdia e o perdão de Deus. A grande
novidade da sua pregação estava no anuncio do “Reino de Deus” como realidade
presente e já atuante. Jesus de Nazaré valorizou ao máximo a realidade humana, pois
nela se dá a manifestação da misericórdia divina.
Além disso, ao dar a si mesmo o nome expressivo de Filho em relação a Deus,
e a Deus o nome carinhoso de Pai (Abbá, em hebraico), insinuava uma íntima ligação
com Deus. Tal ligação o credenciava a apresentar-se como a autêntica revelação dos
desígnios de salvação divinos para toda a humanidade. Também a expressão “filho do
homem”, insinuava a sua missão de realizar, em si mesmo, as esperanças de um
messianismo escatológico, tal como encontramos em Daniel (Dn 7,13), bem como o de
“servo de Javé” do profeta Isaias (Is 53) que toma sobre si o resgate dos pecados da
humanidade. Acusado de subversão foi apresentado ao governador romano Poncio
Pilatos e condenado à morte de cruz. Os discípulos, porém, continuaram a pregação de
Jesus, acreditando que ele teria ressuscitado e subido aos céus. Consolidava assim a
experiência com o sagrado, uma segunda Aliança de Deus com a humanidade.
c) – Islamismo
Das religiões monoteístas, o islamismo é uma das que demonstrou maior
dinamismo social e cultural, pois arrancou do deserto uma civilização poderosa. Ainda
hoje manifesta um poder ideológico muito grande na luta contra o materialismo ateu. O
termo islam significa “submissão”. É um significado profundo. Percebe-se aí algo
essencial: o ser humano deve se entregar a Deus e se submeter a Sua vontade em todas
as áreas da vida. Trata-se da condição para ser muçulmano, palavra árabe que tem a
mesma raiz que islã.
O fundador do Islã foi Maomé (570-632). Considerado profeta, nasceu em
Meca, na Arábia, no final do séc. VI. Filho de uma das principais famílias da cidade,
Maomé ficou órfão ainda criança. Seu tio, Abu Talib, cuidou dele. Mais tarde Maomé
foi trabalhar como condutor de camelos para Khadidja, uma rica viúva que, tornou-se
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sua esposa. Khadidja foi a primeira a seguir Maomé, quando ele lhe falava das
revelações que tinha; ela exerceu bastante influência no desenvolvimento religioso do
marido. Maomé nunca teve outra esposa.
Na época de Maomé, em muitos lugares, a transição da sociedade beduína
nômade para uma sociedade urbana mais fixa ia causando a extinção da religião
tradicional. Em decorrência disso, aumentou a influência das duas grandes religiões, o
judaísmo e o cristianismo. Maomé foi influenciado pelo monoteísmo e pela noção de
fim do mundo acompanhado do Juízo Final. “Em sua busca espiritual, recebeu a
primeira revelação aos 40 anos, enquanto meditava em uma caverna. Considerou-se
como enviado do Deus único, passando a ensinar na tradição dos profetas bíblicos,
combatendo os abusos religiosos e sociais” (SCHERER, 2005, p. 17).
d) – Hinduísmo
O termo “hinduísmo” é dos ocidentais. Com esse nome designam uma religião
identificada com a Índia - o lugar em que ela nasceu e é praticada. O hinduísmo é o
encontro de muitas tradições religiosas. Nascido há cinco mil anos, o hinduísmo
articula-se em diferentes correntes, que não se opõem entre si, mas coexistem por
afinidade de seus princípios inspiradores. Seus seguidores o chamam de Religião
Eterna, porque dele não se conhece nenhum fundador humano. Seus estudiosos o
definem como “religião sem começo e sem idade”
Em sua estrutura fundamental, o hinduísmo pode ser considerado um conjunto
infinitamente variado de elementos filosóficos e religiosos, uma soma de mitos e ritos
que expressam um sentimento profundo da divindade e, finalmente, uma série de
costumes sociais que mudam conforme as castas e as regiões do subcontinente indiano.
Houve por muito tempo uma organização social na Índia, a qual os brâmanes
diziam ser estabelecida pelos próprios deuses, dividida em quatro castas: dos sacerdotes
ou brâmanes, dos dirigentes, dos agricultores e comerciantes, dos artesãos. Os
chamados párias estão fora das castas. O sistema de castas atribuía a cada grupo
responsabilidades, tarefas e privilégios. Abolidas oficialmente pela Constituição Indiana
de 1950, e diante da pressão da modernidade, as castas tendem a desaparecer. Mas
continuam ainda consolidadas na mentalidade das pessoas.
e) – Budismo
Nasceu na Índia, por volta do séc. VI a.C, como reação contra a religião
dominante, o Hinduísmo. Para seu fundador, a vida humana apresentava problemas
profundos, que não encontravam respostas satisfatórias numa religião em que
prevaleciam os ritos e os sacrifícios de animais. Buda, então, encarnou a ânsia de uma
mística mais íntima, abrindo caminho para muitos outros que estavam na mesma busca.
O príncipe Sidarta Gautama (560-480 a.C), aos 29 anos, abandonou o palácio,
mulher e filho para viver como asceta errante. O problema do sofrimento humano
atormentava o seu espírito e ele tornou-se monge brâmane. Não tendo encontrado
respostas, abandona os monges e percorre seu próprio caminho através do jejum e da
penitência, meditação e oração. Um dia, meditando sobre o destino humano e resistindo
às tentações do demônio, chegou à descoberta da plena verdade. Era a iluminação que
buscara por tantos anos. Nesse dia, ele se tornou Buda, que significa, em sânscrito,
“iluminado”.
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Roteiro de trabalho:
1º) Cada aluno procure fazer um exercício de memória, recordando-se de alguma
experiência religiosa. Para isso, procure lembrar-se de:
- Quando fez a experiência de levantar um questionamento à sua fé (ex. creio ou não?)
- Quando a fé lhe iluminou claramente uma ação concreta? Como você percebeu isso?
2º) A partir disso tente elencar por escrito algumas perguntas básicas que lhe surgem
diante das experiências de fé narradas no texto e da sua própria fé.
3º) O(a) professor(a) poderá recolher as folhas dos alunos que quiserem entregá-las e
eventualmente abrir em aula um espaço para a partilha do que foi escrito.
Bibliografia:
- GAARDER, Jostein (Org.) O livro das Religiões. Tradução Isa Mara Lando.São
Paulo: Cia das Letras, 2000.
- LIBÂNIO, João Batista e MURAD, Afonso. Introdução à teologia – perfil, enfoques,
tarefas. São Paulo. Edições Loyola, 1996.
- SCHERER, Burkhard (Org.). As grandes religiões: temas centrais comparados.
Tradução de Carlos Almeida Pereira. Apresentação e adaptação da edição brasileira
Volney J. Berkenbrock. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 2005.
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