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APARTAMENTOS CONTEMPORÂNEOS: LEVANTAMENTO E ANÁLISE
DAS PROPOSTAS CONSTRUÍDAS EM UBERABA
BENEVENTE, Varlete Aparecida (Uniube) [email protected]
GUIMARÃES, Camila Ferreira (Uniube) [email protected]
RESUMO
O trabalho aqui apresentado está inserido no âmbito da pesquisa que visa a
catalogação e análise de plantas de apartamentos produzidos pela iniciativa privada
em Uberaba. Esse estudo objetiva comparar as soluções espaciais adotadas com o
modo de vida de seus ocupantes e analisa a totalidade dos empreendimentos
residenciais acima de cinco pavimentos, construídos e não construídos no período
de 2000 até 2010. A pesquisa consistiu no levantamento da memória dos projetos
dos empreendimentos em estudo, entrevistas com profissionais responsáveis e
registro fotográfico dos edifícios. A análise das peças gráficas ocorreu a partir de
procedimentos metodológicos propostos e aplicados pelo NOMADS.USP, Núcleo de
Estudos de Habitares Interativos da Universidade de São Paulo e tem por objetivo
contribuir para construção de um banco de dados local sobre o tema. As
informações obtidas aqui complementarão os dados gerais que estão em
desenvolvimento no NOMADS.USP e os dois grupos poderão compartilhar a
totalidade das informações. Em síntese, as leituras preliminares dos projetos de
apartamentos pretendem associar o modo de vida dos indivíduos e seus espaços
habitados. A observação das plantas dos apartamentos revela opções dimensionais,
programáticas, de relação entre espaços e a natureza desses espaços. Esses dados
poderão auxiliar o estudo da adequação dessas soluções com as alterações
comportamentais e tecnológicas em curso e que alteram os modos de vida,
auxiliando no estabelecimento de diretrizes projetuais que poderiam ser seguidas
em projetos novos para apartamentos.
Palavras-chave: apartamentos, mercado imobiliário, modos de vida.
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INTRODUÇÃO
A pesquisa em questão tem como proposta o estudo dos apartamentos
contemporâneos acima de cinco pavimentos construídos pela iniciativa privada na
cidade de Uberaba entre os anos 2000 a 2010 a partir da coleta e sistematização de
dados, configurando um banco de informações e imagens.
O estudo da relação dos espaços da habitação com o modo de vida dos seus
ocupantes é um fator substancial a ser considerado na arquitetura contemporânea,
haja visto que os espaços devem suprir as atuais necessidades da população.
A identificação da casa como espaço da privacidade e da intimidade individual
compartilhada
em
família
impulsiona
estudos
que
possam
auxiliar
no
desvendamento da natureza desse grupo e atualizar seus desejos.
Durante o processo de industrialização consolida-se o modelo moderno de
perfil familiar, nominado família nuclear, para essa família a casa é, essencialmente,
espaço privado, destinado a um número definido de pessoas, compartimentada em
cômodos para usos estanques e organizados em zonas funcionais, de serviços,
social e íntima (TRAMONTANO, 1998, p. 5). Essa configuração será uma espécie de
modelo, ...”próprio das intimidades burguesas”... “sutil mistura da racionalidade
funcional, um conforto bastante reduzido e nostalgia aristocrática” (PERROT, 1991,
p.310). Guerrand (1992) reforça o caráter racional dessa distribuição e confere a
cada uma das zonas, significados subjetivos que caracterizam cada um desses três
eixos.
Para Dudeque (2000) a casa, como espaço privado em oposição a vida
pública, como o lugar da intimidade e domesticidade vai se ajustar a esse modo de
vida e opõe-se a situação inicial, cuja origem é remetida a Idade Média, onde,
segundo Rybczynsk (1996), a situação de interdependência entre indivíduos, estreita
os limites entre público e privado.
No âmbito do comportamento e modos de vida, Ariès (1991) relaciona o
desejo crescente à privacidade a três fatores essenciais originados na idade média:
a influência do Estado sobre a condição social do indivíduo; a alfabetização e a
difusão da leitura silenciosa e individual e a formação de novas religiões que
permitiram ao homem poder refletir individualmente, criando-se assim uma nova
relação consigo próprio.
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A junção do trabalho e da vida familiar no interior da moradia e da extensa
composição familiar se mantém até a consolidação da Revolução Industrial inglesa
nos séculos XVIII e XIX e será a transferência do trabalho para fora das casas que
acelerará a definição do caráter privado da habitação (VILLA, 2002, p 13).
O curioso é que o desenvolvimento tecnológico, sobretudo da informatização
mais acessível e eficiente dos últimos anos, aliado ao reconhecimento do impacto
negativo sobre a qualidade do trabalho, causado pelo estresse vindo da situação
urbana e condições de vida leva ao retorno do trabalho para casa
O caso brasileiro não difere do contexto apresentado para o mundo todo e
segundo Pinho (2005), nas últimas décadas, novas tendências comportamentais
vêm sendo observadas com clareza em todo o mundo ocidentalizado. Algumas
razões desse fenômeno são elencadas pela demógrafa Berquó:
[...] a queda acentuada da fecundidade, o aumento da longevidade, a crescente
inserção da mulher no mercado de trabalho, a liberdade sexual, a fragilidade cada
vez maior das uniões, o individualismo acentuado, etc, são tendências que vêm
atuando no sentido de alterar o tamanho, a estrutura e a função da família.
(BERQUÓ, 1989, p.1)
Junto às alterações comportamentais ocorreram também, mudanças radicais
nas relações entre pais, mães e filhos, tendo como resultado o surgimento de novos
formatos familiares – jovens vivendo sós, casais sem filhos, casais não casados
oficialmente, entre outros. Até a família nuclear, formada por pai, mãe e filhos,
padrão dominante no Brasil, também mudou, já que dos filhos agora se espera,
principalmente, sucesso profissional. Toledo (1998) aponta que a tendência futura
da sociedade é de ser composta por solteiros, descasados e viúvos.
A família brasileira da virada do século não é única, mas múltipla.
Transformações sociais e culturais que se processaram nas últimas décadas
reacomodaram as maneiras como as pessoas costumam se agrupar sob o mesmo
teto. A fórmula tradicional, de pais e filhos morando na mesma casa, embora ainda
não seja majoritária, deixou de ser um modelo único. Cada vez mais a família é uma
instituição multifacetada, que assume organizações diferentes (OLIVEIRA, 1996, p.
55).
Para esse trabalho, interessa diretamente entender como essas mudanças da
composição e das relações familiares se refletem no uso dos espaços. Segundo
Starck (2000), as relações das atividades realizadas dentro dos cômodos da
habitação sofreram grandes transformações, os espaços, na visão contemporânea,
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são flexíveis e abrigam diversas funções. A sala já não é apenas um espaço para
assistir televisão, é nela que acontecem os encontros familiares, as refeições, enfim
são inúmeras as atividades atribuídas a um único cômodo.
Mesmo com todas estas mudanças, quando se analisa a produção imobiliária
para habitação no Brasil, percebe-se na grande maioria das unidades habitacionais
oferecidas a manutenção da organização dos espaços e distribuição do programa
seguindo o modelo da tripartição burguesa do século XIX, independentemente de
classe social (ZANETTI, 2008, p. 4).
Aproximando mais ainda a escala contextual, nas últimas décadas, Uberaba,
assim como o restante do país, também sofreu inúmeras transformações urbanas e
sociais entre as quais se destacam o crescimento econômico acelerado, presente
em praticamente todos os setores de atividades, acompanhado pela mudança de
vida e de hábitos da classe média (PREFEITURA MUNICIPAL DE UBERABA,
2007).
Quanto à produção imobiliária voltada a construção de moradia, a situação
encontrada em Uberaba, parece espelho do quadro nacional. Os modelos de
apartamentos oferecidos pelo mercado imobiliário da cidade, bem como na grande
maioria das demais modalidades de habitação, não considera as necessidades
cotidianas relacionadas aos novos modos de vida. Segundo Certeau (1996, p. 31)”o
cotidiano é aquilo que nos é dado cada dia (ou que nos cabe em partilha)”. [...]
Dentro desse contexto, a pesquisa em questão pretende auxiliar na análise de
propostas espaciais de apartamentos e na ampliação do universo teórico sobre o
tema. A ênfase é dada para análise de edifícios construídos na última década na
cidade de Uberaba, e de apartamentos exemplares habitados há um ano e que
apresentam
possíveis
soluções
internas,
consideradas
nos
documentos
promocionais de venda dos imóveis, como inovadoras.
Esse trabalho se justifica na medida em que não existem catalogação e
análise de plantas de apartamentos em Uberaba, assim como textos e gráficos
explicativos sobre os usos de seus espaços. Interessa-nos neste trabalho mapear e
produzir leituras preliminares destas propostas espaciais, procurando verificar
potencialidades e limitações que as mesmas teriam frente ao perfil comportamental
da população urbana uberabense. Tendo como resultados leituras preliminares de
plantas de apartamentos e um banco de dados, composto de projetos e discussões
sobre o tema focado no mercado imobiliário de Uberaba.
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Pretende-se com esta pesquisa contribuir para o entendimento da história da
evolução de habitações coletivas, comparando com trabalhos já desenvolvidos por
pesquisadores do NOMADS.USP – Núcleo de Estudos de Habitares Interativos da
Universidade de São Paulo, que desenvolve pesquisas sobre a temática do habitar
contemporâneo – em parceria com pesquisadores da UNIUBE.
LEVANTAMENTO E ANÁLISE DAS PROPOSTAS DE APARTAMENTOS EM
UBERABA
Para a estruturação e desenvolvimento da pesquisa os processos
metodológicos adotados foram organizados nas seguintes etapas de trabalho:
Etapa 1) Revisão bibliográfica, partindo da consulta de fontes selecionadas;
Etapa 2) Coleta de material relativo a produção de apartamentos nos anos,
entre 2000 a 2010, procurando plantas de apartamentos exemplares oferecidos pelo
mercado imobiliário da cidade;
Etapa 3) Sistematização inicial do material coletado na etapa 2.
Para essa sistematização foi usada como referência a metodologia usada
pelo grupo Nomads.usp, Núcleo de Estudos de Habitares Interativos da
Universidade de São Paulo, para compor seu banco de dados, que consiste em uma
planilha de Excel, que possuí quatro eixos de análise do edifício: caracterização do
edifício, áreas de uso coletivo, características e cômodos das unidades habitacionais
e equipamentos das unidades. Além dessa planilha compõe o banco de dados um
fichário com a localização do prédio e as peças gráficas coletadas;
Etapa 4) Banco de dados: a sistematização do material feita na etapa acima
já configura o banco de dados com as informações coletadas;
Etapa 5) Levantamento de técnicas de análise de apartamentos em uso
considerando o parecer dos moradores no processo, usando técnicas de análise pós
ocupação;
Etapa 6) Realização de leituras preliminares das plantas dos apartamentos;
Etapa 7) Complementação e atualização dos dados através de novos
levantamentos;
Etapa 8) Sistematização final do material coletado;
Etapa 9) Análise do material coletado;
Etapa 10) Organização geral dos resultados obtidos e conclusões;
Etapa 11) Disponibilização dos resultados obtidos.
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Após a estruturação e definição da metodologia, iniciou-se a revisão e
complementação bibliográfica que deram suporte e permitiram uma visão mais clara
do contexto histórico da pesquisa.
O material gráfico como as plantas dos edifícios foram coletados por meio do
contato direto com responsáveis pelos projetos, sites de venda e imobiliárias. Devido
à dificuldade de obter todas as plantas dos trinta e sete prédios que se enquadravam
nos critérios da pesquisa, em consequência da resistência na liberação desse
material pelos projetistas, foram coletadas as peças gráficas de dezessete prédios.
Dessa forma, a pesquisa organiza o total dos edifícios produzidos no período
estudado – 37, em dois grupos, a saber:
Grupo A – composto pelos 17 edifícios que a pesquisa obteve todos os dados
gráficos e técnicos estabelecidos como requisitos mínimos.
Grupo B - composto pelos 20 edifícios que a pesquisa ainda não conseguiu
obter algumas das informações, gráficas ou técnicas estabelecidas como
fundamentais para o trabalho.
Usou-se a metodologia de análise e armazenamento de dados do
NOMADS.USP, a planilha de Excel com os quatro eixos de análise citados. No eixo
de análise caracterização do edifício contém os dados técnicos da edificação; no
eixo áreas de uso coletivo são indicadas as presenças ou não de equipamentos
coletivo, os acessos (misto, social, serviço); o eixo referente as características e
cômodos das unidades habitacionais analisa a distribuição dos cômodos nas plantas
das unidades e como é feito o acesso aos apartamentos; o último eixo
de
equipamentos das unidades identifica os equipamentos como armários embutidos,
banheira, dutos de lixo, entre outros.
Depois de todo material coletado e sistematizado nas planilhas de análise,
que compõem o banco de dados, foi realizada uma reflexão sobre a implantação
desses empreendimentos no cenário urbano, onde foi possível ter uma percepção
dos condicionantes urbanos que influenciaram a escolha dos locais para a
construção dos prédios, fatores relevantes como a localização próxima a área
central e avenidas importantes e proximidade a equipamentos urbanos, tais como,
shopping e universidades.
Foram feitas as leituras preliminares das peças gráficas das unidades
habitacionais, observando-se que todas as plantas coletadas mantêm a separação
dos ambientes internos por meio de zonas funcionais estanques, repetindo o modelo
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tripartido burguês do século XIX. Evidencia-se a falta de preocupação dos
empreendedores
e
projetistas
de
projetar
pensando
no
modo
de
vida
contemporâneo, reproduzindo assim, uma arquitetura que não corresponde às
necessidades do usuário e as transformações da sociedade.
CONCLUSÕES
A produção privada de espaços domésticos no Brasil vive um momento de
grande expansão motivado pelo fortalecimento de nossa estrutura econômica. Por
outro lado, pouco se estuda dessa produção. Esse trabalho se justificou por auxiliar
na análise da produção dessa arquitetura com o objetivo de servir de suporte para a
proposição de espaços atualizados ao comportamento e necessidades da sociedade
brasileira.
Os resultados obtidos, até o momento, confirmam estudos anteriores que
concluem que o que se constrói como espaço doméstico é cada vez menor e
permanece com usos confinados em ambientes estanques, organizados em zonas
funcionais formuladas para as casas burguesas francesas do século dezenove que
continua
sendo
comportamentais
reproduzido
e
novas
sem
reflexão,
possibilidades
opondo-se
oferecidas
às
pelo
transformações
desenvolvimento
tecnológico e popularização de equipamentos como televisores, aparelhos de som,
telefones, computadores (conectados à internet), o que confirma a tendência de
sobreposição de funções não planejadas no espaço doméstico.
Do ponto de vista de seu desenvolvimento, o trabalho encontrou alguma
resistência no acesso a documentos e plantas dos projetos. Os profissionais
responsáveis não possuem a cultura de avaliar e estudar, de maneira isenta sua
produção, com vistas no seu aprimoramento. As leis de mercado – no caso brasileiro
atual – super aquecido, e um consumidor pouco informado, liberam empresas e
profissionais a apresentarem propostas tidas como “venda certa” e não um produto
fruto de reflexões e estudos aprofundados. Esse entrave foi resolvido buscando
material de publicidade e ou documentos técnicos de aprovação de projetos em
arquivos públicos.
As planilhas únicas de leitura desenvolvidas, sobre as quais foram
organizados os dados obtidos, se transformaram em uma ferramenta importante de
visualização, na medida que proporcionam ao leitor um visão panorâmica geral do
conjunto dos dados obtidos, facilitando análises comparativas diretas, sem a
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necessidade de abrir e fechar arquivos, que no caso da arquitetura pode se tornar
moroso pelo tamanho dos arquivos de armazenamentos de imagens.
Análises das soluções espaciais adotadas (dimensões, distribuição dos
cômodos no espaço, soluções de fechamento ou aberturas de paredes, etc)
efetuadas até o momento, foram suficientes para entender e confirmar hipóteses já
comentadas. No entanto, a riqueza do material obtido, recomenda análises mais
profundas das plantas, a partir da ampliação dos eixos analíticos, bem como, da
comparação desse produto (apartamento) produzido em outras cidades, já que a
pesquisa revela que a grande maioria das empresas responsáveis são de outras
cidades ou mesmo de outros Estados do Brasil. Essa situação sugere a
continuidade e ampliação das reflexões.
A pesquisa evidencia a necessidade de atualização teórica e de referências
por parte dos profissionais que atuam no mercado imobiliário residencial no sentido
de atender as demandas provenientes das alterações comportamentais e de
desenvolvimento tecnológico naturais de qualquer sociedade.
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