Hermenêutica Bíblica Que exatamente vem a ser hermenêutica? E

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Hermenêutica Bíblica
Que exatamente vem a ser hermenêutica? E
em que difere de exegese e exposição? A
palavra “hermenêutica” deriva do verbo grego
hermeneuo
e
do
substantivo
hermeneia
“explicar, interpretar, traduzir, falar com clareza”
(Mc 5.41; 15.22; Lc 24.27; Jo 1.38,42; At 9.36; 1
Co 12.10). Esses termos estão relacionados a
Hermes — o deus-mensageiro de pés alados
da mitologia grega. Cabia a ele transformar o que estava além do entendimento
humano em algo que a inteligência humana pudesse assimilar. Afirma-se que
foi ele quem descobriu a linguagem verbal e a escrita, tendo sido o deus da
literatura e da eloqüência, dentre outras coisas. Ele era o mensageiro ou
intérprete dos deuses e principalmente do pai, Zeus. Assim, o verbo
hermeneuo passou a significar o ato de levar alguém a compreender algo em
seu próprio idioma (“explicar”) ou em outra língua (“traduzir”). Em nossa língua,
o verbo “interpretar” às vezes é empregado com o sentido de “explicação”;
outras, com o sentido de “tradução”. Nas 19 vezes em que os termos
hermeneuo e hermeneia aparecem no Novo Testamento, o sentido quase
sempre é de tradução. O verbo diermeneuo é empregado em Lucas 24.27: “E,
começando por Moisés, discorrendo por todos os profetas, expunha-lhes o que
a seu respeito constava em todas as Escrituras”. Quando Jesus falou com
Simão, disse: “... tu serás chamado Cefas (que quer dizer Pedro)” (Jo 1.42). A
locução verbal “quer dizer” é tradução do grego hermeneuo. Em certo sentido,
uma tradução é uma explicação; é explicar numa língua o que foi expresso em
outra. Portanto, interpretar inclui esclarecer e tomar inteligível o que era
obscuro ou desconhecido.
A hermenêutica, como já foi dito, é a ciência e a arte de interpretar a
Bíblia. Outra definição de hermenêutica seria: ciência (princípios) e arte (tarefa)
de apurar o sentido do texto bíblico.
Imagem da versão em inglês King James, aberta em João 3.16. Imagem disponível
em http://www.publicdomainpictures.net 22/11/2011. A Bíblia é o único livro sagrado
para o cristão, por isso devemos saber interpretar e aplicá-lo na nossa vida.
I.
PORQUE A INTERPRETAÇÃO DA BÍBLIA É IMPORTANTE?
É essencial para a compreensão e para o ensino correto da Bíblia
Precisamos conhecer o significado da Bíblia a fim de podermos descobrir
sua mensagem para nossos dias. Devemos compreender seu sentido para a
época antes de percebermos seu significado para hoje. Se descartarmos a
hermenêutica (ciência e arte de interpretar a Bíblia), estaremos passando por
cima de uma etapa indispensável do estudo bíblico e deixando de nos
beneficiar dela. A primeira etapa, que é a observação, consiste na pergunta:
“Que diz o texto?”. A segunda etapa, a interpretação, indaga: “Que quer
dizer?”. A terceira, a aplicação, questiona: “Como se aplica a mim?”.
Talvez a interpretação seja, das três etapas, a mais difícil e a que mais
tempo consome. E, no entanto, quando o estudo bíblico é reduzido neste
aspecto, pode-se incorrer em erros graves e em resultados distorcidos. Certas
pessoas “adulteram a Palavra de Deus” intencionalmente (2 Co 4.2). Outras há
que até mesmo “deturpam” as Escrituras “para a própria destruição deles” (2
Pe 3.16). Outros, por sua vez, interpretam a Bíblia erroneamente sem o saber.
Por quê? Por não darem a devida atenção aos princípios em causa na
compreensão das Escrituras. Nos últimos anos, vemos um interesse crescente
pelo estudo bíblico informal. Muitos grupos pequenos reúnem-se em casas ou
nas igrejas para debater a Bíblia — o que quer dizer e como aplicar sua
mensagem. Será que os integrantes desses grupos sempre chegam ao mesmo
entendimento da passagem estudada? Não necessariamente. Alguém pode
afirmar: “Para mim, este versículo quer dizer isto”; já outro pode retrucar: “Para
mim, o sentido não é esse; é este aqui”. Estudar a Bíblia dessa forma, sem as
diretrizes apropriadas da hermenêutica, pode gerar confusão e interpretações
que se encontram até em inequívoco desacordo.
Será que Deus pretendia que a Bíblia fosse tratada dessa forma? Se
conseguirmos manipulá-la para extrairmos o sentido que desejamos, como
pode ser um guia confiável? O que não falta são interpretações divergentes de
inúmeras passagens. Por exemplo, uma pessoa lê João 10.28 — “Eu lhes dou
a vida eterna; jamais perecerão, eternamente, e ninguém as arrebatará da
minha mão” — e entende que esse versículo está ensinando a segurança
eterna. Já a explicação que outros oferecem sobre o mesmo versículo é que,
apesar de não se poder retirar um cristão das mãos de Deus, o próprio crente
pode fazê-lo se persistir no pecado. Alguns são de opinião que a declaração de
Paulo, em Colossenses 1.15, de que Cristo é “o primogênito de toda a criação”,
significa que ele foi criado. Outros, por sua vez, entendem por esse versículo
que, como acontece com o primogênito de toda família, ele é o Herdeiro.
Alguns cristãos praticam o chamado “falar em línguas” com base em 1
Coríntios de 12 a 14. Já outros lêem os mesmos capítulos e entendem que tal
prática limitava-se à era apostólica sem aplicar-se à atualidade. Naum 2.4 —
“Os carros passam furiosamente pelas ruas, e se cruzam velozes pelas
praças...” — já levou à conclusão de que se trata de uma profecia sobre o
trânsito intenso de automóveis em nossas cidades modernas. Agostinho de
Hipona, por exemplo, atribuiu um sentido “espiritual” à parábola do bom
samaritano (Luc 10.25-37), explicando que a hospedaria para onde o
samaritano levou o ferido simboliza a igreja e que as duas moedas de prata
dadas ao hospedeiro representam a ceia do Senhor e o batismo nas águas.
O líder mórmon Brigham Young quis dar razão ao fato de ter mais de 30
esposas lembrando que Abraão possuía mais de uma: Sara e Hagar. A prática
mórmon de batizar por causa de parentes mortos e de outras pessoas
fundamenta-se, afirmam eles, em 1 Coríntios 15.29. Há quem segure cobras
venenosas porque leu Marcos 16.18. A questão de as mulheres ensinarem ou
não os homens depende de como se interpretam 1 Coríntios 11.5; 14.34, 35 e
1 Timóteo 2.12. Alguns pregam que o reinado atual de Cristo nos céus indica
que ele não vai estabelecer um reinado de mil anos na terra após sua volta.
Para outros, a Bíblia ensina que Cristo, apesar de governar o universo
atualmente, haverá de manifestar seu reino no plano físico quando vier para
reinar como o Messias sobre a nação de Israel, no Milênio.
Todas essas — como tantas outras — são questões de interpretação.
Evidentemente, essa discrepância de concepções ressalta que nem todos os
leitores seguem os mesmos princípios para compreender a Bíblia.
A ausência de uma hermenêutica correta também é a causa dos enormes
desmandos e da difamação que sofre a Bíblia. Até mesmo alguns ateus tentam
defender seu posicionamento com Salmos 14.1: “Não há Deus”. E claro que
eles pularam a introdução de tais palavras: “Diz o insensato no seu coração:
Não há Deus”. Certas pessoas afirmam que é possível fazer a Bíblia dizer o
que se queira. No entanto, quantos desses mesmos indivíduos afirmam que é
possível fazer Shakespeare dizer o que se queira? Não resta dúvida de que as
pessoas podem fazer a Bíblia dizer o que querem ouvir, desde que descartem
os métodos normais para a compreensão de documentos escritos.
A interpretação bíblica é uma etapa essencial que sucede à observação
Ao ler a Bíblia, muitos saltam diretamente da observação para a aplicação,
passando por cima da etapa essencial da interpretação. Isto é um erro, pois a
interpretação é a seqüência lógica da observação. Ao observar o que a Bíblia
diz você está fazendo uma sondagem; ao interpretá-la, está fazendo uma
reflexão. Observar significa descobrir; interpretar significa digerir. A observação
consiste em descrever; a interpretação, em determinar o sentido. A primeira é
exploração; a segunda, explicação.
A observação é como um cirurgião abrindo uma região afetada. Ele verifica
um tumor, ou talvez uma hemorragia, um tecido com pigmentação anormal ou
uma obstrução. A averiguação suscita as perguntas: “Que significa isso? Como
pode ser explicado? Que tipo de tumor deve ser? Qual a causa da hemorragia?
Por que o tecido está com essa coloração? Por que está havendo esta
obstrução aqui?”.
Notando o que vemos no texto bíblico, devemos então manejá-lo corretamente
(2 Tm 2.15). A oração adjetiva “que maneja bem” é a tradução da palavra
grega orthotomounta, que é a combinação de “reto” (orho) com “cortar”
(tomeõ). Roy Zuck em seu livro Interpretação Bíblica explica:
Como Paulo fabricava tendas, é possível que estivesse empregando um termo
relacionado a seu oficio. Quando fazia as tendas, usava determinados moldes.
Naquela época, as tendas eram feitas de retalhos de peles de animais costurados
uns aos outros. Cada pedaço teria de ser cortado de tal forma que se encaixasse
bem com os outros. Paulo estava simplesmente dizendo: “Se os pedaços não forem
bem cortados, o todo ficará desconjuntado”. O mesmo ocorre com as Escrituras. Se
as diferentes partes não forem interpretadas corretamente, a mensagem como um
todo, resultará errônea. Tanto no estudo da Bíblia quanto na interpretação, o cristão
deve ser preciso. Deve ser minucioso e exato.
A interpretação da Bíblia é essencial para sua aplicação correta
A interpretação deve apoiar-se primeiramente na observação e, depois,
conduzir à aplicação. Ela é um meio que visa a um fim, não tem um fim em si
mesma. O objetivo do estudo da Bíblia não se limita a apurar o que ela diz e o
seu significado; inclui a aplicação dela à vida. Se não aplicarmos as Escrituras,
estaremos encurtando o processo como um todo e deixando incompleto o que
Deus deseja que façamos.
É bem verdade que a Bíblia nos fornece muitos fatos acerca de Deus, de
nós mesmos, do pecado, da salvação e do futuro, os quais precisamos
conhecer. Nela buscamos informação e entendimento, e é assim que deve ser.
Mas a questão é o que fazer com essa informação e esse entendimento. A
interpretação é a etapa que nos transporta da leitura e da observação do texto
para a aplicação e a prática. O estudo bíblico é uma atividade intelectual por
meio da qual procuramos compreender o que Deus diz. Contudo, deve ir, além
disso, e incluir a disciplina espiritual, por meio da qual procuramos colocar em
prática o que lemos e compreendemos.
O verdadeiro objetivo do estudo da Bíblia é a assimilação íntima, não a
simples
percepção
mental.
Somente
assim
o
crente
pode
crescer
espiritualmente. A maturidade espiritual, que nos torna mais semelhantes a
Cristo, não decorre apenas de um conhecimento mais amplo da Bíblia. Resulta
de um conhecimento mais amplo da Bíblia e de sua aplicação às nossas
necessidades espirituais. Paulo visava a esse objetivo para que pudesse
incentivar e ensinar outros a se tornarem maduros em Cristo (Cl 1.28). Pedro
também escreveu que devemos desejar “ardentemente [...] o genuíno leite
espiritual, para que por ele [nos] seja dado crescimento para [nossa] salvação”
(1 Pe 2.2). Paulo escreveu que “o saber ensoberbece” (1 Co 8.1). Jesus disse
aos líderes judeus de sua época: “Examinais as Escrituras...” (Jo 5.39); mas
logo acrescentou que todo aquele estudo era inútil, porque eles se recusavam
a chegar a ele para terem vida (v. 40).
Uma passagem clássica sobre a inspiração das Escrituras é 2 Timóteo
3.16. Entretanto, quase todo esse versículo e o seguinte falam da utilidade das
Escrituras. Elas devem ser usadas “para o ensino, para a repreensão, para a
correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja
perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra”.
Uma coisa é lermos 2 Timóteo 1.9, prestando atenção ao fato de que Deus
“nos chamou com santa vocação”, e compreendermos que santidade é uma
vida de pureza e piedade, concretizada pela obra santificadora do Espírito
Santo. Outra coisa, no entanto, é lidarmos com o pecado em nossas vidas a
ponto de realmente levarmos uma vida santa. Uma coisa é estudarmos o que
as Escrituras asseveram sobre a volta de Cristo, em passagens tais como 1
Tessalonicenses 4.13-18 e 1 Coríntios 15.51-56. Mas outra é nos apoiarmos
nesses fatos e transcendê-los a ponto de amar sua aparição (2 Tm 4.8), ou
seja, ansiar e aguardar com expectativa por sua vinda, continuando firmes na
obra do Senhor (1 Co 15.58).
Assim sendo, a interpretação bíblica, como a segunda etapa do estudo da
Bíblia, é absolutamente essencial. A interpretação é fundamental à aplicação.
Se nossa interpretação não for correta, podemos acabar aplicando a Bíblia da
forma errada. A forma como você interpreta diversas passagens afeta
diretamente seu comportamento e também o de outras pessoas. Por exemplo,
se um pastor entende em determinadas passagens ser permitido que uma
pessoa divorciada se case novamente, então isso influenciará sua orientação
sobre o assunto aos divorciados. Se um pastor entende que 1 Coríntios 11.315 ensina que as mulheres devem usar chapéu na igreja, então sua
interpretação influenciará os ensinamentos que ele passa à congregação.
As questões de ser o aborto correto ou errado, de como descobrir a
vontade de Deus, de como levar uma vida dotada de sentido, de como ser um
marido, uma esposa, um pai ou uma mãe eficiente, de como reagir ao
sofrimento — tudo isso depende da hermenêutica e da forma como se
interpretam diversas passagens, estando-lhes intimamente ligado. Segundo
disse determinado autor: “A interpretação da Bíblia é uma das questões mais
importantes que os cristãos enfrentam hoje. Dela resulta o que cremos, como
vivemos como nos relacionamos e o que temos a oferecer ao mundo”.
O Desafio da Interpretação Bíblica
Temos, portanto, a responsabilidade de procurar conhecer a verdade
conforme exposta na Palavra de Deus, isto é imprescindível para nossa própria
vida espiritual e para ajudarmos eficazmente os outros. Quando transmitimos a
Palavra de Deus, seja em aconselhamentos individuais, seja ensinando na
escola dominical ou num grupo de estudo bíblico, seja pregando, o
conhecimento que passamos, com base no nosso entendimento das
Escrituras, sem dúvida alguma influenciará outras pessoas. Suas vidas estão
em nossas mãos.
Quando a Bíblia não é interpretada corretamente, a teologia de um
indivíduo ou de toda uma igreja pode ser desorientada ou superficial, e seu
ministério, desequilibrado.
O processo de entendimento da Bíblia dura a vida toda. Ao estudar a Palavra,
você se pergunta: “Que quer dizer isso? Esse conceito está certo? Por que
está ou por que não está? E essa interpretação? É válida?”. Ao ouvir sermões
e mestres, você sempre esbarra na seguinte indagação: “O que ele está
dizendo sobre a Bíblia é certo?”.
Quando discute a Bíblia com outras
pessoas, você enfrenta a dúvida sobre qual dentre várias concepções melhor
reflete o significado do texto em questão. A tentativa de descobrir o verdadeiro
sentido de uma passagem é um desafio intelectual e espiritual fascinante. E,
quando você compartilhar a Palavra de Deus, as pessoas vão perguntar-lhe:
“Que quer dizer esse versículo? Como devemos entender essa passagem?”.
Em virtude do vasto conteúdo da Bíblia e da diversidade literária que nela se
contém, a hermenêutica é um campo de estudos que encerra inúmeros
problemas e questões.
Por exemplo, como saber se uma passagem foi escrita apenas para o
público-alvo original ou se também se destina às gerações subseqüentes?
Uma passagem pode ter mais de um significado? Nesse caso, como descobrilos? Será que alguns dos autores da Bíblia escreveram coisas acima de seu
entendimento? A Bíblia é mais do que um livro humano? Se for também um
livro divino, como isso influencia nossa interpretação de passagens diversas?
De que forma devemos interpretar os diferentes provérbios das Escrituras?
Eles têm aplicação universal? Se acreditarmos em interpretação literal, como
ela influi em nossa compreensão das figuras de linguagem? Se a Bíblia contém
figuras de linguagem, então toda ela deve ser interpretada num sentido
“espiritual” ou místico? Como entender as profecias? Visto que existem
interpretações divergentes das profecias bíblicas, como vamos saber qual mais
provavelmente é a correta? Por que o Novo Testamento faz citações do Antigo
que aparentemente revelam um sentido diferente do que se lê neste? Como
passar da interpretação à aplicação?
Os problemas da interpretação bíblica
Um dos maiores motivos por que a Bíblia é um livro difícil de entender é o
fato de ser antigo. Os cinco primeiros livros do Antigo Testamento foram
escritos por Moisés em 1400 a.C., aproximadamente. Apocalipse — o último
livro da Bíblia — foi escrito pelo apóstolo João por volta de 90 d.C. Portanto,
alguns dos livros foram escritos há mais ou menos 3400 anos, sendo que o
último deles há cerca de 1900 anos. Isto mostra que, na hermenêutica,
precisamos tentar transpor vários abismos que se apresentam pelo fato de
termos em mãos um livro tão antigo.
O abismo do tempo (Cronológico)
Devido à gigantesca lacuna temporal, um abismo enorme separa-nos dos
autores e dos primeiros leitores da Bíblia. Como não estávamos lá, não
podemos conversar com os autores e com os primeiros ouvintes e leitores para
descobrir de primeira mão o significado do que escreveram.
O abismo do espaço (geográfico)
Atualmente, a maior parte dos leitores da Bíblia vive a milhares de quilômetros
de distância dos países onde se deram os fatos bíblicos. Foi no Oriente Médio,
no Egito e nas nações mediterrâneas meridionais da Europa de hoje que as
personagens bíblicas viveram e peregrinaram. A área estende-se desde a
Babilônia, no que é hoje o Iraque, até Roma (e talvez a Espanha, se é que
Paulo foi até lá). Essa distância geográfica deixa-nos em desvantagem.
O abismo dos costumes (cultural)
Existem grandes diferenças entre a maneira de agir e de pensar dos ocidentais
e a das personagens das terras bíblicas. Portanto, é importante conhecer as
culturas e os costumes dos povos dos tempos bíblicos. Muitas vezes, a falta de
conhecimento de tais costumes gera interpretações errôneas. Por essa razão,
dedicamos um capítulo inteiro deste livro a essa questão.
O abismo do idioma (lingüístico)
Além dos abismos temporal, espacial e cultural existe ainda enorme lacuna
entre nossa forma de falar e de escrever e a dos povos bíblicos. Os idiomas em
que a Bíblia foi escrita - hebraico, aramaico e grego - têm singularidades
estranhas à nossa língua. Por exemplo, no hebraico e no aramaico dos
manuscritos originais do Antigo Testamento só havia consoantes. As vogais
estavam subentendidas e, portanto, não eram escritas (embora os massoretas
as tenham acrescentado séculos mais tarde, por volta de 900 d.C.). Além
disso, tanto o hebraico quanto o aramaico são lidos da direita para a esquerda,
e não da esquerda para a direita. Ademais, não havia separação entre as
palavras. As palavras escritas nessas três línguas bíblicas emendavam-se
umas às outras.
Poderíamos
exemplificar
isso
em
português
da
seguinte
forma:
HCTMDVSCRP. Lendo da direita para a esquerda, o hebreu logo perceberia
quatro palavras, que em português seriam: PRCSV D M TCH. Não é muito
difícil deduzir o significado da frase: “Precisava de um tacho”. Por outro lado, as
letras TCH também poderiam ser interpretadas como tocha ou tacha, além de
tacho. Então, como é que um leitor saberia qual a palavra pretendida?
Normalmente, podia-se depreender o significado pelo contexto. Se nas frases
anteriores ou posteriores houvesse uma referência a tacho, tudo indica que a
frase em questão também se referisse a um tacho. Mas às vezes o contexto
não dá nenhuma indicação, e, assim, torna-se um problema de interpretação
saber qual era realmente a palavra em questão.
Outra dificuldade imposta pelo abismo lingüístico é o fato de que as
línguas bíblicas originais continham expressões incomuns ou de sentido
obscuro, difíceis de compreender em nosso idioma. Além do mais, certas
palavras só aparecem uma vez na Bíblia inteira, tornando impossível qualquer
comparação com seu uso em outro contexto, o que nos ajudaria a entender
seu significado.
Outro problema que agrava esse abismo lingüístico é a transmissão dos
manuscritos originais até a atualidade. Quando os escribas os copiavam, vez
por outra cometiam erros. Às vezes um escriba lia um manuscrito para outro
escriba. O copista anotava a palavra correspondente ao som que lhe chegava
aos ouvidos. A frase “A sessão será aqui” pode ser escrita “A seção será aqui”.
Podia acontecer de um copista trocar uma letra por outra de escrita muito
semelhante. As letras d e r do alfabeto hebraico são parecidas (embora não
idênticas), assim como o w e o y. Às vezes uma palavra era repetida; outras
vezes, saltada. Se um manuscrito contivesse alguns erros dessa natureza, eles
poderiam ser reproduzidos pelo próximo copista, que estaria, assim, passando
aquele texto talvez a várias “gerações” de manuscritos. Em outras ocasiões,
porém, o escriba, corrigia a palavra, ou letra que lhe parecia estar errada. O
processo de tentar descobrir quais textos são os originais, é chamado de crítica
textual. Entretanto, essas variações não afetam as principais doutrinas das
Escrituras, tampouco influenciam a doutrina da inerrância dos textos bíblicos,
relativa aos manuscritos originais, não às cópias.
O abismo da escrita (literário)
Existem diferenças entre os estilos e as formas de escrita dos tempos
bíblicos e os do mundo ocidental moderno. Dificilmente nos expressamos com
provérbios ou parábolas, no entanto grande parte da Bíblia foi escrita em
linguagem proverbial ou parabólica. Além disso, o fato de os livros bíblicos
terem sido escritos por cerca de 40 autores humanos pode representar um
problema para os intérpretes da Bíblia. Por exemplo: o autor de um dos
evangelhos afirmou que havia um anjo no túmulo vazio de Jesus, ao passo que
outro fez menção de dois anjos. A linguagem figurada, que era usada com
freqüência, às vezes dificulta nossa compreensão. Vejamos por essas
declarações de Jesus: “Eu sou a porta” e “Eu sou o Pastor”. Evidentemente, ele
não quis dizer que era literalmente feito de madeira com dobradiças, nem que
possuía ovelhas de verdade e as apascentava no campo. Cabe ao intérprete
tentar apurar o que Jesus de fato quis dizer com tais afirmações.
O abismo espiritual (sobrenatural)
É importante ressaltar também que existe um abismo entre a maneira de
Deus agir e a nossa. O fato de a Bíblia ser um livro sobre Deus coloca-a numa
posição sem-par. Deus, que é infinito, não pode ser plenamente compreendido
pelo que é finito. A Bíblia relata os milagres de Deus e suas predições sobre o
futuro. Ela também fala de verdades difíceis de ser assimiladas, tais como a
Trindade, as duas naturezas de Cristo, a soberania de Deus e a vontade
humana. Todos estes fatores, somados a outros, agravam a dificuldade que
temos de entender plenamente todo o conteúdo das Escrituras.
Visto que Deus é o Autor divino da Bíblia, ela é um documento
absolutamente singular. É única no gênero. Não constitui simplesmente um
livro que retrata os pensamentos do homem acerca de Deus, embora os
exponha. Ela expõe também os pensamentos de Deus acerca de si mesmo e
do homem. A Bíblia relata o que Deus fez e informa o que ele é e deseja.
Também um livro raro no sentido de que foi escrito por Deus e pelo homem.
Autores humanos escreveram-na sob a orientação do Espírito Santo (2 Pe
1.21). Esta dupla autoria gera dificuldades. Como Deus pôde usar pessoas
com personalidades diferentes para registrar as Escrituras e, ao mesmo tempo,
o resultado final ser obra do Espírito Santo? Como esse fato influía na
personalidade e no estilo literário de cada autor?
Esses seis abismos representam problemas graves quando se tenta
compreender a Bíblia. Até mesmo o etíope de Atos 8 deparou com várias
delas, incluindo a cronológica, a geográfica, a lingüística e a sobrenatural. Se
por um lado a maior parte da Bíblia é simples e fácil de entender, por outro é
inegável que existem trechos mais difíceis. O próprio Pedro relatou: “... como
igualmente o nosso amado irmão Paulo vos escreveu [...] há certas cousas
dificeis de entender...” (2 Pe 3.15, 16). Existem versículos da Bíblia que
continuam sendo um mistério até para os mais hábeis intérpretes.
II.
PRINCIPIOS DE INTERPRETAÇÃO
Platão foi o primeiro filósofo a usar o termo “Hermenêutica” mais
abrangente, estendendo para além dos escritos sagrados. É também uma
ciência porque tem normas ou regras, que podem ser classificadas num
sistema ordenado.
Arte porque é flexível. Divide-se em:
Hermenêutica Geral e Hermenêutica Especial.
Hermenêutica Geral - é o estudo das regras que regem a interpretação do
texto bíblico inteiro. Inclui as análises histórico-cultural, léxico-sintética,
contextual e teológico.
Hermenêutica Especial - é o estudo das regras que se aplicam a gêneros
específicos, como parábolas, alegorias, tipos e profecia.
Em síntese, Hermenêutica teológica é um estudo onde o homem procura
entender o pensamento divino através dos seus escritos.
A Hermenêutica determina as diferenças entre autor e o leitor; é a arte de
transpor o leitor para dentro do tempo do autor.
A razão da Necessidade da Hermenêutica.
1- Em decorrência da queda do homem, o pecado apagou a luz divina que nele
havia, bloqueando a capacidade original que ele possuía de reter a revelação
divina consigo.
2- Apesar das diferenças sociais, culturais, políticas e idiomáticas entre
os homens, fatos que os distinguem e distanciam uns dos outros, a Bíblia
Sagrada não pode e não deve ser interpretada ao bel-prazer de quem quer que
seja, tenha a pessoa a desculpa que tiver.
Exegese - é a aplicação dos princípios da Hermenêutica para
chegar-se a um entendimento correto do texto.
O prefixo “ex” = “fora de”, “para fora”, ou “de”, refere-se à idéia de que o
intérprete está tentando derivar seu entendimento do texto, em vez de ler o seu
significado “no” texto.
Teologia Bíblica - é o estudo da revelação divina no Antigo e no Novo
Testamento.
Teologia Sistemática- organiza os dados bíblicos de uma maneira lógica
antes que histórica; dá respostas para as perguntas profundas (vida no além,
ministério dos anjos...). Ambas se completam.
O estudo da Hermenêutica é de suma importância para todos os que lidam
com a palavra de Deus.
Importância desse Estudo.
1 - Somente o estudo inteligente das Escrituras Sagradas suprirá o material
indispensável à base e alimentação da sua fé e conteúdo da sua teologia e
mensagens.
2 - Cada sermão pregado deve ter a sadia exegese bíblica como fundamento.
3 - Instruindo os jovens da Igreja, ou quando em visitas aos membros, os
ministros são solicitados a interpretar passagens das Escrituras. Em tais casos
um razoável conhecimento das leis de interpretação do texto sagrado é
importante.
4 - Constituiu-se de responsabilidade do ministro cristão não apenas crer na
verdade, mas também defendê-la da alta crítica e do ataque das seitas
heréticas.
A importância desse estudo no contexto local.
Crer, somente, na Bíblia Sagrada, não é suficiente, Deus exige que a
conheçamos adequadamente. Na busca desse conhecimento, há primeiro o
auxílio do Espírito Santo, e depois, da Hermenêutica.
Não devemos nos mostrar indiferentes diante do fato do Brasil, até a bem
pouco tempo aparentemente fora do liberalismo teológico, está hoje às voltas
com os mais estranhos tipos de teologia, interpretando a Bíblia como bem
interessa aos interesses do grupo.
Deve pesar sobre os nossos ombros, além do cultivo da vida cheia do
Espírito Santo, a responsabilidade de nos apossarmos de todos os meios
legítimos que nos propiciem melhor e maior conhecimento da palavra de Deus.
Só assim estamos preparados para responder os ataques das heresias do
tempo presente, e habilitados a construir para que os filhos de Deus sejam
conservados, sadios na fé e a prosseguirem na promoção dos interesses do
reino de Deus.
A Bíblia torna-se a Palavra de Deus quando os indivíduos a lêem e as
palavras adquirem para eles significado pessoal, existencial.
No Estudo da Bíblia a tarefa do interprete é determinar tão intimamente
quanto possível o que Deus queria dizer em determinada passagem, e não o
que ela significa para mim.
É útil distinguir entre interpretação e aplicação. Dizer que um texto tem
uma interpretação válida, não quer dizer que o que está escrito tem uma só
aplicação.
Por ex.: Romanos 8 “Nada poderá nos separar do amor de Deus” têm um
significado, mas terá diferentes aplicações, dependendo da situação que a
pessoa está enfrentando. A exegese aí é um problema decisivo para o estudo
da Hermenêutica.
A segunda controvérsia é a questão do duplo autor. Os autores humanos
trabalharam juntos. Donald Hagner analisa: “A natureza da inspiração divina é
tal que os próprios autores das Escrituras muitas vezes não estiveram
conscientes do mais pleno significado e da aplicação final do que escreveram.”
A interpretação pode ser Literal, Figurativa e simbólica.
As expressões Literais e Figurativas, de modo geral se referem a
acontecimentos históricos reais.
Se todas as palavras são, em algum sentido, símbolos, como determinar
quando devem ser entendidas literalmente, ou simbolicamente?
A princípio é mais fácil formular do que aplicar; contudo, como
demonstraremos
em
capítulos
posteriores,
o
contexto
e
a
sintaxe
proporcionaram importantes pistas para a intenção e, portanto, para o
significado.
Fatores espirituais no processo perceptivo
Uma escola de pensamentos sustenta que se duas pessoas de igual
preparo intelectual (pessoas instruídas nas línguas originais, história e cultura)
fazem hermenêutica, ambas serão de igual modo bons intérpretes.
A posição da segunda escola de pensamentos é de que a própria Bíblia
ensina que o compromisso espiritual, ou sua ausência, influencia a capacidade
de perceber a verdade espiritual.
O estado emocional também tem influência no uso da hermenêutica; a
cegueira espiritual e o entendimento aborrecido obstem a capacidade do
individuo de discernir a verdade, e isso independe do conhecimento que se
tenha e da aplicação dos princípios hermenêuticos. Esse problema é muito
importante e deve ser encarado, e para tanto, tem que conhecer o significado
pleno do ensino bíblico.
Questão da Inerrância
Debatido por dois grupos de Evangélicos: os conservadores e os liberais.
Conservadores- Crêem que a Bíblia é sem erro.
Liberais- Não tem erro quando fala das questões de salvação e da fé cristã,
mas pode ter erro nos fatos históricos e outros.
Considerar a Bíblia sem erro é importante para a Hermenêutica.
Jesus e a Bíblia
Cristo foi uniforme no trato das narrativas históricas do VT como registros
fiéis do fato. Ex: Abel, Noé, Abraão... Sodoma e Gomorra, o maná, Jonas e o
peixe...
Muitas vezes Jesus escolheu como base do seu ensino as mesmas histórias
que a maioria dos críticos modernos considera inaceitáveis.
Jesus usou com regularidade as Escrituras Hebraicas (VT), como competente
tribunal de apelação das suas controvérsias com os escribas e fariseus.
Jesus ensinou que nada passaria da Lei até que tudo se cumprisse e que as
Escrituras não podem falhar. Finalmente, Jesus usou as Escrituras para refutar
cada uma das tentações de Satanás
III.
HISTÓRIA DA INTERPRETAÇÃO BÍBLICA
Ao desenvolvermos todos esses tópicos, vamos estudar a história
através de uma visão panorâmica para compreendermos a maneira como os
estudiosos pretenderam interpretar a Bíblia, usando do método alegórico ou
literal.
Exegese judaica
Os judeus palestinos (escribas) devotam o mais profundo respeito à Bíblia
de sua época, (o VT) como a infalível palavra de Deus. Consideram sagradas
até as letras, e os seus copistas tinham o hábito de contá-las a fim de evitar
qualquer omissão no ato de transcrição.
Dividia-se em: Lei, Profetas e Historia. A lei era tida na mais alta estima. O
ponto negativo da hermenêutica dos judeus palestinos é que ela exaltava a Lei
Oral.
Era classificada em: Literal, Midráshica, pesher e alegórica.
Havia certa diferenciação entre judeus, segundo a região onde se
radicavam: Judeus palestinos; Judeus caraítas; Judeus espanhóis; Judeus
alexandrinos; Judeus cabalistas.
Judeus palestinos- Exaltavam a Lei Oral.
Judeus caraítas- Seita fundada por Amanben-David, 800 a . C.
Historicamente, são descendentes espirituais dos saduceus. É um protesto
contra o rabinismo. “Caraítas” significa “filhos da leitura”, desprezavam a
tradição oral e o resultado foi o texto Massorético. Sua exegese era mais
completa do que a dos judeus palestinos e alexandrinos.
Judeus Alexandrinos - interpretavam a Bíblia pela filosofia Alexandrina,
no Egito. Quando encontravam alguma coisa que discordava de sua filosofia,
no VT, recorriam às alegorias. Filo explicava que quando havia ambigüidade,
ou palavras supérfluas, e outras, se recorriam ao método alegórico.
Judeus cabalistas - admitiam que mesmo os versículos, as palavras, as
letras, as vogais, e até mesmo os acentos das Palavras da Lei, foram
entregues a Moisés, e que “o número de letras, cada letra, a transposição e
substituição, tinham poder especial e sobrenatural.
Judeus espanhóis- quando a exegese da Igreja Cristã estava decadente,
e o conhecimento do hebraico estava quase nulo, alguns judeus instruídos da
Península Perinaica, restauraram o interesse por uma hermenêutica bíblica
sadia.
Interpretação Literal- referida como Peshat, servia de base para outras
interpretações, e não era registrada.
Interpretação Midráshica- pelo Rabino Hilel, a.C. é o elaborador que
acentuava a comparação de idéias, palavras ou frases, em situações
particulares ou no contexto.
Interpretação Pesher- copiou as práticas midráshicas, mas incluía a
escatologia; usavam a frase “este é aquela”, explicando que o acontecimento
“daquela profecia”.
Exegese Alegórica- o verdadeiro sentido faz sob o significado literal da
Escritura.
É um estudo desenvolvido para reduzir a tensão entre o muito religioso e
sua herança filosófica.
O uso que os apóstolos fizeram do VT
Os apóstolos seguiram Cristo também nisso, sempre o citavam ao
pregarem, a fim de darem ênfase à verdade que estavam evidenciando. Ao
citarem o VT quando pregavam, os apóstolos mostravam o cumprimento das
Escrituras.
Exegese Patrística (100-600 d.C.)
A despeito da prática apostólica, uma escola de Interpretação Alegórica
dominou a Igreja nos séculos que se sucederam, mas com um propósito bom:
o desejo de entender o VT como documento cristão. Contudo, o método
alegórico praticado pelos pais da Igreja, muitas vezes negligenciou por
completo o entendimento de um texto, e desenvolveu especulações que o
próprio autor tinha em mente, conforme expresso por suas próprias palavras e
sintaxe, não permaneceu nenhum princípio regulador que governasse a
exegese.
Clemente de Alexandria- (Escola de Alexandria – 150-215). Em sua
opinião, o sentido literal da Escritura, poderia originar apenas uma fé
elementar,
enquanto
o
sentido
alegórico
conduziria
ao
verdadeiro
conhecimento. Ele desenvolveu a teoria de que cinco sentidos estão ligados à
Escritura: histórico, doutrinal, profético, filosófico e místico.
Orígenes - sucessor de Clemente pormenorizou a teoria da Interpretação
Alegórica pontificada por seu mestre. Achava ele que assim como homem se
constitui de três partes: corpo, alma e espírito, da mesma forma a Escritura
possui três sentidos:
O corpo é o sentido literal, a alma é o sentido moral e o espírito é o sentido
alegórico ou místico, só que desprezou o sentido literal, raramente se referia ao
sentido moral e empregou constantemente a alegoria.
Agostinho- (Escola de Antioquia- 350-430) Foi um alegórico em excesso,
cria que a Escritura tinha um sentido quádruplo: histórico, etiológico, analógico
e alegórico.
A escola de Antioquia foi fundada por Doroteu e Lúcio; alguns acham que foi
Diódoro, bispo de Tarso. Dessa escola foram Teodoro e Crisóstomo, que
divergiam grandemente do seu mestre; a exegese de Teodoro era intelectual e
dogmática; a de Crisóstomo, espiritual e prática.
Escola Ocidental - Hilário, Ambrosio, Jerônimo e Agostinho.
Exegese medieval
Interpretação totalmente amarrada à tradição e tudo devia adaptar-se à
Doutrina da igreja. Levaram o “letrismo” ao ridículo, com o misticismo judaico
dando sentido sobrenatural a cada letra. A interpretação voltou com Nicolau de
Lyra, e muito influenciou a Lutero e sem ela não teria começado a reforma.
Exegeses da reforma
No séc.XVI predominava profunda ignorância, alguns doutores em teologia
nunca haviam lido a Bíblia toda.
Lutero- (1483-1546) Rejeitou o método alegórico (escória, sujeira) e
acreditava na fé e na iluminação do Espírito para interpretar a Bíblia. Seu
princípio cristológico capacitou-o, de fato, a demonstrar a unidade da Escritura
sem apelação para a interpretação mística do texto do VT. Na sua exegese,
Lutero mostrou a diferença entre a Lei e o Evangelho.
Calvino- (1509-15) O maior exegeta da Reforma, e também acreditou na
iluminação espiritual para uma interpretação certa da Bíblia, mas superou a
Lutero em harmonizar sua exegese com sua teoria.
Exegese de Pós Reforma (1550-1800)
Confessionalismo - o período das grandes controvérsias doutrinárias. O
protestantismo até aqui coeso, começou a se dividir em varias facções,
enquanto que a exegese se tornou serva da dogmática, se degenerando em
menor busca de textos-provas. Estudava-se a Escritura apenas buscando
apoio às declarações de fé das confissões da época.
A maior contribuição para a Hermenêutica da época, não é encontrada nas
tendências da Igreja, mas na literatura dos movimentos contra a mesma, dentre
as quais se destacam a literatura dos Soncinianos, de Concejus e dos
Pietistas.
Pietismo - surgiu como reação à exegese dogmática, mas não ficou imune
às criticas.
Racionalismo - filosofia que aceita a Razão como única autoridade que
determina as opções ao curso de ação de alguém. Surgiu empirismo, crença
de que só podemos possuir entendimento através dos cinco sentidos.
Hermenêutica Moderna (1800 até o presente)
Literalismo - negava-se o caráter sobrenatural da inspiração, aplicando-se
à Bíblia um naturalismo consumado.
Neo-ortodoxia- posição intermediária entre o liberalismo e a ortodoxia. Deus
se revela através da Palavra quando se consegue sentir a presença de Deus, e
se torna uma experiência existencial pessoal.
A nova Hermenêutica - criação européia a partir da Segunda Guerra
Mundial; segundo esta exegese, a linguagem não é realidade, mas apenas
uma interpretação pessoal da realidade.
A Hermenêutica no Cristianismo Ortodoxo.
A Hermenêutica no Período Histórico - Critico.
A mútua relação entre o humano e o divino.
IV.
A ESCOLA HISTÓRICA DE INTERPRETAÇÃO
A interpretação histórica da Bíblia alcançou seu apogeu na pessoa de
Semler. Ele salientou o fato de que os vários livros da Bíblia e o seu Cânon em
geral se originaram de modo histórico, e eram, portanto, historicamente
condicionados.
Partindo dos fatos de que os livros da Bíblia foram escritos por homens
provenientes dos mais variados e dos mais diferentes níveis da nação judaica,
concluiu que as Escrituras têm erros, cabendo ao estudante e intérprete
detectá-los.
Pela maneira com que Semler se deu a este tipo de estudo, dando a ele
exclusividade em detrimento de outros, em certo sentido tornou-se o pai do
chamado “Racionalismo Cristão”.
O porquê das Escrituras
É o único livro que transforma uma pessoa. Deus se tem revelado
através dos tempos por meio de suas obras, porém, na Palavra de Deus temos
uma revelação especial. É dupla esta revelação: Na Bíblia (a Palavra escrita);
Em Cristo (a Palavra viva).
A Necessidade do Estudo das Escrituras.
(1 Pe. 3:15; II Tm. 2:15; Is. 34:16 Sl. 119:130)
Por que devemos estudar as Escrituras?
-A Bíblia é o manual do crente na vida cristã e no trabalho do senhor;
-A Bíblia alimenta nossas almas;
-A é Bíblia é o instrumento que o Espírito Santo usa nas suas batalhas.
V.
ANÁLISE HISTÓRICO-CULTURAL E CONTEXTUAL
A completa técnica de interpretação de textos bíblicos e sua aplicação
dividem se em: Análise histórico-cultural; Análise léxico-sintática; Análise
teológica; Análise literária; Comparação com outros intérpretes; Aplicação.
Análise histórico-cultural - é o que considera o ambiente histórico-cultural
do autor, a fim de entender suas alusões, referências e propósitos.
A “análise contextual”
Compara uma parte com o todo: “... para que o valor de vossa fé, uma
vez confirmado, muito mais precioso do que o ouro perecível, mesmo apurado
no fogo, redunde em louvor, gloria e honra na revelação de Jesus Cristo” (1Pe.
1:7).
Pedro dá muito valor ao ouro, que para ele era a coisa mais preciosa, se
fosse Paulo, rico e abastado, desde que nasceu não o levaria em tão alto valor.
Para determinar o Contexto Geral Histórico Cultural, são necessárias três
perguntas:
1ª) Qual é a situação histórico-geral com a qual se defrontam o autor e seus
leitores? Quais eram as situações políticas, econômicas e sociais? Quais eram
as principais ameaças e preocupações? Ex.: o que está acontecendo ao auto
de Lamentações? Está sofrendo de um colapso de nervos ou de uma reação
de angústia normal? Quais as implicações de Cantares de Salomão para uma
teologia de expressão sexual cristã?
2ª) Quais os costumes cujo conhecimento esclarecerá o significado de
determinadas ações? Por que Jesus deu ordens para preparar a páscoa à
noite?
b) Por que mandou seguir o homem com o cântaro?
3ª) Qual era o nível de comportamento espiritual da audiência? (Oséias).
Para determinar o Contexto Histórico-Cultural específico e a finalidade de um
livro, fazem-se, também, três perguntas:
1ª) Quem foi o autor? Qual era seu ambiente e sua experiência espiritual?
2ª) Para quem ele estava escrevendo? (crentes, incrédulos, apóstatas?)
3ª)Qual foi a finalidade do autor ao escrever este livro especial?
Ex.: Se o livro “Epístola aos Hebreus” não cita o destinatário, como foi
denominado? Pelos dados internos (textuais) e externos (históricos). Dados
internos: a epístola cita o VT de maneira que não teria nenhum sentido para o
povo pagão comum; mostra, ainda, o contraste da aliança mosaica com a
cristã, só podendo ser entendida por quem conhecesse a fé mosaica, ou
hebraica. Também quem o escreveu tinha pleno conhecimento da Lei e da
Escritura.
Depois de encontrarmos o contexto específico histórico-cultural em que
o livro foi escrito, devemos determinar a finalidade dele. O que fazemos de três
formas:
1ª) Observar a declaração explícita do autor na repetição de certas frases;
2ª) Observa a parte parentética (rotativa) de seu escrito (se o significado do
fato é incerto, a natureza da exortação muitas vezes será valiosa para a
compreensão de seu significado);
3ª) Observar os pontos omitidos ou os problemas enfocados, ex.: “fez o que
era mau (ou reto) perante o senhor”. O que fica subentendido que houve uma
história que não foi contada ou registrada.
É preciso que estejamos atentos para não interpretar nenhuma
passagem sem primeiro entender a intenção do autor ao escrever o livro que a
contém.
Desenvolver uma compreensão de Contexto Imediato
Como método de estudo bíblico, tomar texto para efeito de prova é
relegado a plano secundário porque erra neste passo importante: interpreta os
versículos sem dar a devida atenção ao contexto. Algumas perguntas ajudam a
entender:
a)- Quais os principais blocos de material e de que forma se encaixam no topo?
b)- Como a passagem que estamos considerando contribui para a corrente de
argumentação do autor?
c)- Qual era a perspectiva do autor? (qual a visão do futuro? As figuras de
linguagem?)
d)- está a passagem declarando verdade descritiva ou prescritiva?
e)- O que
constitui o núcleo de ensino da passagem e o que representa
apenas detalhe incidental? Finalmente, a quem se destina a passagem?
VI.
ANÁLISE LÉXICO-SINTÁTICA
Definições e Pressuposição
Análise léxico-sintática é o estudo do significado das palavras tomadas
isoladamente (lexicologia) e o modo como essas palavras se combinam
(sintaxe) a fim determinar com maior precisão e significado que o autor
pretendia lhes dar. A análise léxico-sintática reconhece quando um autor
tenciona que suas palavras sejam compreendidas de modo literal, quando de
modo figurativo e quando de modo simbólico. Está análise fundamenta-se na
premissa de que, embora as palavras possam assumir uma variedade de
significados diferentes, elas têm apenas um significado intencional em qualquer
texto dado.
Passos na Análise Léxico-Sintática
Para que este complexo se torne mais fácil de entender, foi subdividido
num processo de sete passos:
1º) Apontar a forma literária geral (poesia, prosa, história...)
2º) Investigar o desenvolvimento do tema do autor e mostrar como a passagem
em considerações se encaixa no texto (análise contextual).
3º) Apontar as divisões naturais do texto.
4º) Identificar os conectivos dentro dos parágrafos e sentenças (conjugações,
preposições, prenomes-relativos), evidenciar a relação entre dois ou mais
pensamentos.
5º) Determinar o significado isolado das palavras.
6º) Analisar a sintaxe.
7º) Colocar os resultados de sua análise-sintática em palavras que não tenham
conteúdo técnico, fáceis de ser entendidas, que transmitam claramente
o significado que o autor tinha em mente.
Forma literária geral
São três as formas literárias gerais: prosa, poesia e literatura
apocalíptica.
Na prosa predomina o uso literal; Na Poesia usa-se a linguagem
figurativa; Nos escritos apocalípticos as palavras têm sentido simbólico.
Desenvolvimento do tema - é importante porque o contexto é a melhor fonte
de dados.
VII.
RECURSOS LITERÁRIOS
Comparação e Contraste
Comparação- envolve a associação de duas ou mais coisas iguais ou
parecidas; ex.: como, tal como, igual a (I Sm. 13:5)
Contraste - Não consiste na palavra que o indica, mas na diferença das
qualidades acentuadas; ex.: Sl 1 = Mas, ou, de outra forma, entretanto...)
Repetição e Intercâmbio
Repetição - uso repetido de palavras, frases ou orações idênticas para dar
ênfase ao que se quer dizer (=ai daquele que...)
Intercâmbio - é um tipo especial de repetição no qual um padrão que se
alterna é repetido; ex.: 1 e 2 de Lucas encontramos o intercâmbio e a alteração
entre os anúncios do nascimento de João Batista e o de Jesus. O uso de
intercâmbio reforça o contraste ou comparação.
Gradação e Continuação
Gradação- o uso de termos mais ou menos iguais; ex.: Amós, 1:6 e 2:6.
Continuação- uma prolongada apresentação de um tema particular (vários
versículos com o mesmo pensamento); ex.: Jonas ele decidiu sair da presença
do senhor, foi a Jope, encontrou um navio que o conduziria à Espanha, pagou
sua passagem e subiu a bordo do atado navio.
Clímax e Ponto decisivo
Clímax - ponto critico de uma narrativa, o ponto de interesse máximo. Ex.:
Êxodo: depois da narrativa da saída do Egito, do recebimento da Lei, das
instruções, dos detalhes do tabernáculo, finalmente a nuvem de glória cobre a
congregação e a luz deslumbrante da presença do senhor enche o
tabernáculo. Este é o clímax do livro.
Ponto decisivo- está relacionado com o clímax, é o centro da discussão, o eixo
em torno do qual gira o assunto em pauta. O ponto decisivo de Gálatas é:
“Para a liberdade foi que Cristo nos libertou.”
Particularização- é a marcha do pensamento indo do geral para o particular.
Vai do todo para as suas partes; do geral para o específico; ex.: “Todos
pecaram, e destituídos estão da glória de Deus.” “Se fulano pecou, eu pequei”,
tudo volta ao específico.
Generalização- é o mandamento do pensamento indutivo, indo do exemplo
específico para o principal geral.
Causa e Substância
Da causa para o efeitoCausa → pecado; efeito → morte.
Causa → ganância; efeito → guerra.
Substância – é o inverso da causa. A palavra deste recurso é “porque” Se
digo: “meu corpo todo dói” alguém pergunta: por quê?
Respondo: porque andei muito a pé.
Instrumentação e Explanação
Instrumentação- envolve os meios, artifícios, ou instrumentos utilizados para
que algo aconteça; palavra-chave: “através de”; ex.: “ninguém vem ao Pai
senão por mim.”
Explanação- esclarece, analisa, explica; ex.: José foi para Nazaré porque era
descendente de Davi.
Obs.: Quando Maria foi saudada pelo anjo que anunciou o nascimento de
Jesus através dela, falou de sua prima Isabel que já estava no sexto mês de
gravidez Maria foi visitá-la e lá passou quase três meses, tempo suficiente para
uma gravidez começar a transparecer no corpo de uma mulher. Maria só voltou
depois que João nasceu.
Pontos a serem explicados: Quando Maria saudou a Isabel, estava no princípio
da gravidez, talvez três ou quatro dias, apenas, mas o bebê de Isabel “sentiu”
Jesus no ventre de Maria; Embora no princípio da gestação, um coágulo
sanguíneo, com poucas células, já existia Jesus, um ser completo.
Preparação e Sumarização
Harmonia- envolve unidade por acordo ou coerência. Numa passagem um
ponto deve concordar com os demais. As escrituras todas são um exemplo!
Principalmente- envolve uma idéia principal apoiada por idéias subordinadas.
Ex.: as parábolas de Jesus:
“O reino do céu é semelhante a uma rede que, lançada ao mar, recolhe peixes
de toda espécie. E, quando já cheia, os pescadores arrastaram-na para a praia
e, assentados, escolhem os bons para os cestos e os maus deitam fora”.
“Assim será a consumação dos séculos: sairão os anjos e separarão os maus
dentre os justos, e os lançarão na fornalha acesa; ali haverá choro e ranger de
dentes”.
O ponto principal: a separação dos bons e dos ímpios na consumação dos
séculos.
Radiação - Todas as coisas se dirigem para um ponto ou parte dele. Ex.: Sl
119- todos os versículos têm o mesmo ponto: a excelência da Lei de Deus.
VIII.
FIGURAS DO TEXTO BÍBLICO
Metáforas
É a figura em que se afirma que alguma coisa é que ela representa ou
simboliza, ou com que se compara. A metáfora só se distingue da símile por
lhe faltar o elemento de comparação que há neste.
Ex.: “Porque foi subindo “como” renovo, é uma símile, uma comparação em
que não há figura; “Eis que eu farei vir o meu “servo”, o “Renovo”, é metáfora.
Metonímia
É o emprego do nome de uma coisa pelo de outra com quem tem certa
relação:
Do efeito pela causa: “Duas nações há no teu ventre”, os progenitores por sua
descendência.
Da causa pelo efeito: “Eles têm Moisés e os profetas”. Os autores por seus
escritos.
Do sujeito pelo atributo ou adjunto: “É como nos interpretou”. Os sonhadores
por seus sonhos.
Do atributo ou adjunto pelo sujeito: “Falem os dias, e a multidão dos anos
ensinam a sabedoria”. A idade por aqueles que o têm.
Sinédoque
È a substituição de uma idéia por outra que lhe é associada:
Do gênero pela espécie, do geral pelo particular – “Então saíam a ter com ele
Jerusalém, toda a Judéia e toda circunvizinhança do Jordão”.
Da espécie pelo gênero, o particular pelo geral- “O pão nosso de cada dia dános hoje”.
Do todo pela parte: “És pó e ao pó tornarás”.
Da parte para o todo: “no suor do rosto comerás o teu pão”.
Hipérbole
É a afirmação em que as palavras vão além da verdade literal das coisas,
exageros, ex.: “As cidades são grandes e fortificadas até aos céus.”
Ironia
É a expressão de um pensamento em palavras que, literalmente entendidas,
exprimiriam o pensamento oposto.
Usada por Deus: “Eis que o homem se tornou como um de nós, conhecendo o
bem e o mal”. “Clamai aos deuses que escolhestes, eles que vos livrem no
tempo do vosso aperto”.
Usada pelos homens ”Na verdade vós sois o povo, e convosco morrerá a
sabedoria”.
Prosopopéia
É a personificação de coisas ou de seres irracionais. Ex.: “Todos os meus
ossos dirão: Senhor, quem contigo se assemelha?”
Antropoformismo
Atribuem a Deus ações e faculdades humanas, e até órgãos e membros do
corpo humano. Ex.: “E o Senhor aspirou o suave cheiro, e disse consigo
mesmo...”
Enigma
É a enunciação de uma idéia em linguagem difícil de entender; não é do
domínio geral das Escrituras, só se tem conhecimento do de Sansão.
Alegoria
È a narrativa em que as pessoas representam idéias ou princípios. As
narrativas bíblicas são histórias verídicas e não alegóricas; temos, no entanto,
uma interessante aplicação alegórica, feita por Paulo, do incidente de Agar e
Sara e seus respectivos filhos.
Símbolo
É o emprego de algum objeto material para evocar idéia ou coisa espiritual ou
moral.
Tipo
É a representação de pessoa ou transação futura na esfera espiritual ou
religiosa, por meio de transação, pessoas ou coisas do mundo material que
tenham com elas certa correlação de analogia ou mesmo de contraste.
Parábola
É uma narrativa de acontecimento, real ou imaginário, em que tanto as
pessoas como as coisas e as ações, correspondem a verdades de ordem
espiritual e moral.
Agora estudaremos os cinco importantes elementos que compõem o texto
bíblico: Parábolas; profecías; tipos; símbolos e poesía.
Parábolas- Jesus para ensinar a seus discípulos e outros ouvintes; para
encobrir a verdade aos não receptivos à revelação de Cristo como Messias;
revelam verdades desconhecidas com base em verdades e fatos conhecidos.
Compreensão das parábolas- As parábolas nos Evangelhos estão relacionadas
com Cristo e o Seu Reino.
As parábolas devem ser estudadas à luz do lugar e da época a que se
relacionam;
Observe as explicações das parábolas dadas por Jesus; Compare os
ensinamentos apresentados na parábola, com todo o contexto da Escritura.
Profecias- inspirada declaração da vontade de Deus e os propósitos divinos.
Interpretação da profecia - As passagens proféticas podem ser interpretadas
literalmente como o são conhecidas passagens didáticas da Bíblia? Ezequiel é
muito mais difícil de interpretar do que Jesus, no seu Sermão da Montanha, por
causa da linguagem figurada. Quando uma profecia já se cumpriu, sua
interpretação está na própria Bíblia; p. ex.: Pedro no dia do pentecostes citou
um salmo profético (16.8-11) que se havia cumprido em Jesus.
Quando as profecias são interpretadas pela Bíblia:
Os profetas, muitas vezes, tinham de Deus a imagem mental dessas visões
futuras. Eles escreviam o que viam pelo Espírito, entretanto, é difícil entenderse nessas circunstâncias. O livro do Apocalipse é um exemplo, João teve a
visão e escreveu o que viu. Mas para nós é difícil formar um quadro exato das
coisas que ele viu. Podemos entender a mensagem geral do livro: o Senhor
está operando algo espantoso na terra, só os ímpios serão julgados, os justos
herdarão o reino, Jesus será o Rei dos reis e Senhor dos senhores.
O volume de material profético nas Escrituras requer anos de estudo
específicos para ser levantado. As profecias estão, também, nos Salmos, no
Apocalipse, nos Evangelhos e epístolas.
O elemento tempo, na profecia, geralmente é indefinido. A seqüência de
acontecimentos pode ser dada, mas o tempo do cumprimento e a duração de
tempo entre os acontecimentos, geralmente estão ocultos. Algumas profecias
têm a ver com o futuro próximo, outras com o futuro remoto.
Tipos- é uma classe de metáforas que não consiste meramente em palavras,
mas em fatos, pessoas ou objetos que designam fatos semelhantes, pessoas
ou objetos no povir.
Exemplos abusivos - muitos abusos têm sido cometidos na interpretação de
muitas coisas que parecem típicas no NT Como forma de ajuda para que se
evitem tais abusos, aconselhamos a fazer o seguinte:
Aceite como tipo, o que como tal, é aceito no Novo Testamento;
Recorde-se que o tipo é inferior ao seu correspondente real e que, por
conseguinte, todos os detalhes do tipo não têm à dita realidade;
Tenha presente que às vezes um tipo pode prefigurar coisas diferentes.
Lembre-se que os tipos, como as demais figuras, não foram dados para servir
de base e fundamento das doutrinas cristãs.
Exemplos de Tipos - são lições concretas de Deus; a maior parte dos tipos do
AT. Acha-se no Tabernáculo e nas peregrinações dos filhos de Israel no
deserto. Várias deles são explicadas na epístola dos hebreus. Jesus faz
menção à serpente de metal e a Jonas.
Símbolos - símbolo é uma espécie de tipo pelo qual se representa alguma
coisa ou algum ato, por meio de outra coisa ou fato conhecido, para servir de
semelhante ou representação. É muitas vezes diferente do tipo por não
prefigurar a coisa que representa. Ele simplesmente representa o objetivo.
Às vezes pode ter mais de um significado Ex.: Jesus é chamado de “Leão da
tribo de Judá”, enquanto que Pedro compara o Diabo, em sua fúria devoradora,
a um leão que ruge procurando a quem possa tragar. Note bem: o aspecto leão
que figura o Senhor Jesus Cristo, é apenas a natureza forte e real do animal.
Cristo é chamado de o “Leão da tribo de Judá”, a passo que o diabo vem
“como” leão.
IX.
CLASSES DE SÍMBOLOS
Objetos reais
O sangue – vida ou alma.
Vestido - mérito ou justiça real.
Linho fino - (justiça real)
Cobre - resistência ao fogo.
Ouro - Glória de Deus.
Óleo ou azeite - Espírito Santo
Incenso - orações.
Sal - influência preservadora.
Fermento- tendência corruptora.
Nomes
- Abrão - pai das alturas.
- Abraão - pai de multidões.
- Sarai - princesa minha
- Sara - princesa.
- Jacó - suplantador.
- Israel - príncipe de Deus.
- Egito - Mundo
- Belém - casa de pão.
- Calvário - sofrimento.
- Babel e Babilônia - confissão.
Números
Um - unidade, primazia.
Dois - relação, diferença, divisão.
Três- solidez.
Quatro- cessação, fraqueza, fracasso, provação, experiência, modificação,
criatura, terra, mundo.
Cinco - o fraco com o forte, Emanuel, Deus governando, capacidade...
Seis - limitação, domínio humano, manifestação do mal, disciplina.
Sete - plenitude, perfeição, repouso.
Oito - Novo começo, o novo em contraste com o velho.
Cores
Azul - perfeição celeste que sob a dispensação antiga, só podia ser
contemplada de longe.
Púrpura - cor dos mantos reais entre os gentios, e a do manto que por
escárnio, puseram sobre Jesus. É a cor da realeza.
Carmesim ou escarlate - Foi à cor distintiva do povo de Israel, pela qual Raab
se identificou com esse povo. Compara-se com o pecado mais tenaz, mas que
pode ser lavado com o sangue de Jesus.
Poesia
Aspectos da poesia hebraica:
Não possui rima, seu tamanho não é levado em conta, e pelo fato de estar
constituído em torno de um padrão de pensamento básico, o escritor tem
grande liberdade na estruturação de cada verso. Tem estilo de Paralelismo
literário de três tipos:
Paralelismo sinonímico- indica que a segunda linha do poema repete a
verdade da primeira, com palavras parecidas; p.ex.: “Ao senhor a terra... e o
Mundo e os que nele habitam”.
Paralelismo antitético- sugere contraste. A segunda linha do verso contrasta
com a primeira, p.ex.: “Pois o senhor conhece o caminho dos justos,mas o
caminho dos ímpios perecerá”.
Paralelismo sintético- a segunda linha acrescenta alguma coisa à primeira;
p.ex.: “A lei do Senhor é perfeita e restaura a alma”.
Na poesia hebraica predominam sentimentos, pensamentos e emoções.
X.
A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO POR MÉTODO
Método- é a maneira ordenada de fazer alguma coisa. É um procedimento
seguindo passo a passo, destinado a levar o estudante a uma conclusão.
Perigo do mau uso da Bíblia- isto se dá quando se despreza o estudo
sistemático e metódico. Não se deve ignorar o que a Bíblia diz sobre
determinado assunto para não se aplicar mal; não se deve ignorar o contexto
onde está o versículo; não se deve ler uma passagem e tentar dizer o que ela
não diz.
Princípios de estudo da Bíblia
Vá você mesmo diretamente ao texto (confira- confronte)
Faça anotações das conclusões dos seus estudos - não se deve confiar só na
Memória.
Estude constante e sistematicamente - Num mundo de obras inacabadas, onde
vamos situar aqueles que somente começam a estudar a Bíblia e não
prosseguem?
Transmita aos outros os resultados dos seus estudos.
Aplique o seu estudo à sua própria vida.
Estude pelo método sintético
O estudo bíblico pelo método sintético, aborda cada livro como uma unidade
inteira e procura entender o seu sentido como um todo. Você fará perguntas e
procurará responde-las seguindo os passos:
Ler - observar - tomar notas.
Descubra o tema central do livro lendo-o mais de uma vez; Desenvolva o tema
central do livro lendo-o mais de uma vez; Indique os temas, atmosfera e forma
literária do livro.
Estudo pelo Método temático
O estudo feito pelo método temático lida com um assunto específico; p.ex.: “O
tema principal da Bíblia é a redenção através do sangue de Cristo”.
Podemos usar como temas o que vemos e o que não vemos, ou seja, coisas
invisíveis quanto qualidades invisíveis (chuva, pedra, ar...). Encontramos o
tema à medida que vamos estudando a Palavra e vendo quantas vezes o
lemos no texto. Deve-se ter, também, às mãos, bons livros, Dicionários Bíblico,
Concordância Bíblica, e outras fontes.
A maturidade da pessoa, a espiritualidade, o equilíbrio, boa saúde, calma,
sossego interior, o discernimento interior, a ausência de preconceitos, a cultura
bíblica e a cultura acadêmica, são muito importantes neste estudo.
Estudos pelo método Biográfico
A Bíblia é cem por cento um livro especial e “sui-gêneris”, até a biografia de
santos homens, nela contida, não tem fim. A vida dos seus heróis não termina
com a morte, continua no céu. Os tipos biográficos:
Narrativa Simples- Toda Escritura contém utilidade para o ensino, e as
genealogias acrescentadas de biografias, encerram histórias verdadeiras e
edificantes; na narrativa se dá uma lista de fatos, para fins de registros.
Exposição Narrativa- a segunda razão pela qual o escritor da Bíblia inclui
informações biográficas, é para usar a narrativa como meio de ensinar uma
lição histórica; ex.: José do Egito, Isaque, Daniel...
Exposição de caráter - a terceira razão é poder ensinar a respeito do caráter
da pessoa.
Argumentação- para provar um ponto de vista.
XI.
PRINCÍPIOS DA INTERPRETAÇÃO BÍBLICA
Pressuposto ESSENCIAL
A Bíblia não pode ser interpretada de qualquer maneira. Estudem a Bíblia
partindo do pressuposto de que ela é a autoridade suprema em questões da
religião, fé e doutrina. Em assunto de religião, fé e doutrina; consciente ou
inconscientemente, o crente se submete à tradição, à razão, ou às Escrituras.
A autoridade de tradição- Sobre Maria, só se aceita o que a Bíblia
ensina, à medida que este ensino satisfaça o que tradicionalmente é aceito
pela Igreja católica; desse modo, a tradição e não a Bíblia, é o guia e juiz.
A autoridade da Razão - o racionalismo ocupou o centro das atenções.
Para o liberalismo e modernismo teológico; em tais casos a mente humana é
que é o guia supremo e juiz. Para o racionalismo teológico, o mais importante
não é que a Escritura diz sobre este ou aquele assunto, mas até que ponto a
mente humana aceita ou rejeita o que é dito.
A autoridade da Escritura - Independentemente do testemunho da
tradição ou da Razão, o crente verdadeiro tem na Bíblia e seu guia e juiz
infalível. Devemos dar prioridade a nossa fé na Bíblia, como única inspiração
divina e Palavra de Deus.
Regra Fundamental
Não se esqueça de que a Bíblia é a melhor intérprete de si mesma; a
Bíblia interpreta a Bíblia.
Os maiores inimigos da Bíblia não são os seus opositores que em épocas
de grandes perseguições rasgaram-na, mas grande número de seus
expositores sempre prontos a acharem na Bíblia, apoio para as suas idéias
absurdas. A má interpretação da Bíblia traz maldiçoes, doenças e mortes. O
diálogo da serpente com a mulher, no Éden, é um exemplo. O diabo é
oportunista.
Princípio da Iluminação
Dependa da fé salvadora e do Espírito Santo para a compreensão
interpretação da Escritura. O Espírito Santo ilumina o Cristão para interpretar
as escrituras. O testemunho que o Espírito Santo dá, é muito mais excelente do
que qualquer outra razão.
“Por que o pecador sujeita a vontade de Deus, tão claramente expressa
através da Escritura?” “Porque o coração deste povo está endurecido, de mau
grado ouviram com os seus ouvidos, e fecharam os olhos; para não suceder
que vejam com os olhos, ouçam com os ouvidos, entendam com o coração, se
convertam e sejam por mim curados.” MT 13:15
A Revelação Escriturística tem a primazia sobre a experiência
Interprete a experiência pessoal à luz da Escritura e não a Escritura à luz
da Experiência pessoal. A experiência pessoal não se transfere se constitui na
prova clara de que Deus faz em nós; ao contarmos nossas experiências
pessoais, estamos dando testemunho do poder de Deus em nossa vida.
Mesmo assim, as experiências pessoais não devem ser vir de tema para
sermões, devem ficar no lugar delas, questionáveis que são, e não podem se
comparar às Escrituras que permanecem para sempre.
Distingua entre exemplo e ordenanças nas Escrituras
Os exemplos bíblicos só têm autoridade prática quando comparadas por uma
ordem que as faça mandamento universal.
Não podemos tomar a vida dos personagens bíblicos como padrão; há os que
são mencionados como advertência e os que servem de exemplos a serem
seguidos.
Almeje o Alvo Principal do Conhecimento Bíblico
O principal propósito da Escritura é mudar nossas vidas, não multiplicar nossos
conhecimentos. Primeiro vem a transformação, depois o conhecimento.
Aprendemos com a experiência dos outros: “Ora, estas coisas se tornaram
exemplos para nós, a fim de que não cobicemos as coisas más, como eles
cobiçaram.” (1 Co. 10:6).
Aprendemos uma lição de duas maneiras: Através das experiências
pessoais; Através das experiências alheias.
Uma lição tem que ser entendida para depois aplicada, mas o
entendimento sem a prática é sem nenhum valor. O que é mesmo essencial
num teólogo é que o seu ensino seja um aspecto de sua vida, como membro
do corpo de cristo.
O Princípio do Sacerdócio Cristão
Todo cristão tem o direito e a responsabilidade, interpretar pessoalmente a
Escritura, seguindo princípios universalmente aceitos pela ortodoxia bíblica.
A Revelação Escriturística tem a Primazia sobre as Tradições
Apesar da importância da História da Igreja, ela não chega a ser decisiva
na fiel interpretação da Escritura. Muitas das doutrinas consideradas essenciais
pelos evangélicos são apenas implícitas nas Escrituras. Devemos à história da
Igreja sabermos que: No século II A Igreja liderou especialmente com
apologética e as idéias fundamentais do cotidiano; Nos séculos III e IV, com a
doutrina de Deus; No começo do século V, com o homem e o pecado; Desde o
século V até o século VII, com a pessoa de Cristo; Nos séculos XI e XVI, com a
expiação; E no século XVI, com a aplicação a redenção.
Ainda assim, a Igreja não determina o que a Bíblia ensina, antes é a Bíblia
quem determina o que a Igreja ensina.
XII.
PRINCÍPIOS GRAMATICAIS
 Regra Um: “A Escritura tem somente um sentido, e deve ser tomado
literalmente”. Nos nossos tempos estão havendo novas tendências na
interpretação bíblica, usam a forma de “contextualizar” adaptando as
palavras à realidade moderna.
 Regra Dois: “As palavras do texto bíblico devem ser interpretadas no
sentido que tenham no tempo do autor.”
Ex.: A parábola das dez virgens.
Deve-se, também, conhecer o sentido correto da palavra. ex.:
“chegando-se, tocou o esquife e...” Há, ainda, quatro regras a observar, sobre
as palavras: O uso que faz dela o autor; Sua relação com o conteúdo imediato;
ex.: a conversão do carcereiro sobre a palavra “salvo”: da situação em que se
encontrava, ou da própria alma? Segundo Russel Norman Chaplin, NT
interpretado, o carcereiro perguntava o que devia fazer para sair da situação
em que se encontrava e Paulo atende-o fazendo-o acreditar que o Senhor
Jesus resolveria o seu problema e assim entrou no tema da salvação de sua
alma. Em outras palavras em relação à palavra deve ser observado: Seu uso
correto na época em que foi escrita; Seu sentido etimológico.
 Regra Três - “As palavras do texto bíblico devem ser interpretadas em
relação a sua sentença e ao seu contexto.” Ex.: “A Mulher aprenda em
silêncio (...) não permito, porém, que a mulher ensine (...) nem use (...)
sobre o seu marido (...) Porque primeiro foi formado Adão, depois Eva. E
Adão não foi (...) Mas a mulher (...) Salvar-”se-á, porém, dando à luz
filhos...” (1 Tm. 2:11-15)
Vemos aqui duas palavras cuja interpretação está relacionada à
sentença e ao contexto. “Ensine” está relacionado ao marido e “salvar-se-á” ao
ato de a mulher dar à luz não que isto a salve ou anule o sacrifício de Cristo,
mas a torna mais sensível, mais dócil e meiga. Às mulheres não era dado o
direito de ler em voz alta na sinagoga, quando os meninos podiam-no fazer, e
até escravos; havia, até, rabinos que ensinavam a mulher como um ser sem
alma; em o Filho de Deus ter nascido de mulher, mudou o pensamento da
época, principalmente do rabino Paulo, que aceitava o sacrifício de Cristo
também pela mulher, embora não a liberasse totalmente. Imaginem isso em
nossos dias! E a Escola Dominical?
Considerações
preliminares
-
Os
Evangelhos
são
chamados
“sinópticos” pelo fato de registrarem eventos comuns sobre a vida, ministério,
crucificação, morte e ressurreição de Jesus, entretanto, foram escritos sob
prismas diferentes: em Lucas, como o filho do homem; em Marcos como servo;
em João é o Filho de Deus, este Evangelho não é sinóptico.
 Regra Quatro - “Quando um objeto inanimado é usado para descrever
um ser vivo, a proposição pode ser considerada figurada.” Ex.: Eu Sou o
pão da vida, a luz do Mundo, a porta, o caminho, a videira, etc,. Seria
absurdo interpretar literalmente. Ou ainda, “O justo florescerá como
palmeira, crescerá como o cedro do Líbano”. Salmo 92:12. A nossa
compreensão do mundo espiritual é analógica. O juízo é descrito como
fogo porque a dor da queimadura é mais intensa.
 Regra Cinco - “As principais partes e figuras de uma parábola
representam certas realidades. Considere essas principais partes e
figuras somente quando estiver tirando conclusão”. Exemplos de má
interpretação: dada por Agostinho, doutor da Igreja: Parábola do bom
samaritano:
Certo homem descia de Jerusalém para Jericó-(Adão)
Jerusalém (cidade celestial de Paz da qual Adão caiu)
Jericó (a lua, assim significa a imortalidade de Adão)
Salteadores (o diabo e seus amigos)
Roubaram-lhe, a saber, (sua imortalidade)
Causaram-lhe ferimentos (ao persuadi-lo a pecar)
Deixando-o semimorto (como homem, vivo, mas que morreu espiritualmente
está semimorto.)
O samaritano (guardador, logo se refere ao próprio Cristo).
O sacerdote e o levita (o sacerdócio é o ministério do Antigo Testamento).
Pensou-lhe os ferimentos (significa restringir o constrangimento do pecado).
Óleo (o consolo da boa esperança)
Vinho (a exortação para trabalhar com o espírito fervoroso).
Animal (a carne da encarnação de Cristo).
Hospedaria (a igreja)
Dia seguinte (dia da ressurreição)
Dois denários (a promessa desta vida e da do porvir)
Hospedeiro – (Paulo) (LOCKIER, TODAS AS PARÁBOLAS DA Bíblia)
Observe que má interpretação!
Para se interpretar uma parábola:
Determine o propósito da parábola;
Certifique-se de que explica as diferentes partes em harmonia com o fim
principal contido no ensino da parábola. Na parábola citada: havia uma
necessidade: Deviam satisfazer a necessidade;
- Houve satisfação da necessidade,
- Veio de uma fonte inesperada.
Use somente as principais fontes da parábola ao explicar a lição.
XIII.
PRINCÍPIOS HISTÓRICOS
 Regra Um - “Uma palavra nunca é compreendida completamente até
que se possa entendê-la como palavra viva, isto é, originada na alma do
autor”. Deve-se ir além do conhecimento do nome do autor; deve-se
conhecer o autor mesmo, seu caráter e temperamento, sua disposição e
habitual modo de pensar e penetrar no seu mundo estudando os seus
escritos diligentemente.
 Regra Dois - É impossível entender um autor e interpretar corretamente
suas palavras sem que ele seja visto à luz de suas circunstâncias
históricas.” Os escritos bíblicos estiveram sujeitos a circunstâncias
geográficas, políticas e religiosas.
Geográficas- O clima, o caráter das estações, os ventos, vales,
montanhas, produtos da terra...
Políticas-
História
nacional,
relação
com
outras
nações;
suas
instituições políticas.
Religiosa- Israel como berço das mais elevadas revelações divinas;
repreensões religiosas.
 Regra três - “Uma vez que as Escrituras se originaram de modo
histórico, elas devem ser interpretadas à luz da história.”
Muitos dos primeiros cristãos, por serem judeus, em grande parte
continuaram a viver segundo os costumes judaicos, freqüentando a sinagoga e
o templo em Jerusalém, oferecendo holocaustos e obedecendo aos rituais
dietéticos.
 Regra Quatro - “Embora a revelação de Deus nas Escrituras seja
progressiva, tanto no Antigo Testamento como no Novo, são partes
essenciais dessa revelação e formam uma unidade.”
Não se observar esta regra pode levar o estudante a tirar conclusões
precipitadas quanto a harmonia dos dois testamentos, como aconteceu com
Marcião, um herege da Igreja no século II, que ensinava que o Deus do Novo
testamento se opunha ao Deus do Antigo, mas em Cristo destruiu-se a
autoridade da lei judaica. Ora esse Jesus é o tema central dos dois
testamentos, a Bíblia é Cristocêntrica.
 Regra Cinco- “Os fatos ou acontecimentos históricos se tornam
simbólicos de verdades espirituais, somente se assim as Escrituras os
designarem.”
Símbolo é algo que se representa ou lembra alguma coisa por relação,
associação, convenção ou semelhança ocidental; especialmente um sinal
visível de uma coisa invisível.
Características de Símbolos Históricos:
Um símbolo deve parecer de fato com a coisa que representa; p.ex.:
Israelitas sem fé e desobedientes não entraram na Terra Prometida, assim
acontecerá espiritualmente.
Os símbolos não podem corresponder ao que prefiguram, em todos os
seus detalhes. Ex.: Muitos homens no Antigo Testamento são tipos de Cristo,
mas nenhum é igual a Cristo.
XIV.
PRINCÍPIOS TEOLÓGICOS
Regra um -“você precisa compreender gramaticamente a Bíblia, antes de
compreender teologicamente.”
Regra Dois - “Uma doutrina não pode ser considerada bíblica, a menos que
resuma e inclua tudo o que a Escritura diz sobre ela.”
O propósito desta regra é determinar a verdade doutrinária do texto
bíblico. É evidente que a Bíblia inteira é a Palavra de Deus, mas é importante
lembrar que nem tudo na Bíblia tem o mesmo valor, nem é útil da mesma
maneira.
Entretanto, a verdade doutrinária, é útil a nós de uma maneira peculiar,
pelo fato de exigir alguma coisa de nós de forma particular.
Há determinações na Bíblia que não são como mandamentos diretos,
mas devem ser considerados. Por exemplo: bebedice é condenada, embora
não seja um mandamento: 1Co. 5.11; 6.10; Ef.5.18.

ensinadas
Regra Três - “Quando parecer que duas doutrinas
na
Bíblia
são
contraditórias,
aceite
ambas
como
escriturísticas, crendo confiantemente que elas se explicarão dentro de
uma unidade mais elevada”. Ex.: A trindade divina. Não temos três
deuses, mas três pessoas plenas e distintas num só Deus. Um Deushomem, plenamente homem e plenamente Deus. De modo que as
coisas de Deus não são totalmente compreensíveis pelo limitado
homem.
 Regra Quatro - “Um ensinamento simplesmente implícito na Escritura
pode ser considerado bíblico quando uma comparação de passagens
correlatas o apóia.” Ex.: 1- Numa discussão de Jesus com os saduceus
sobre ressurreição, o mestre encontrou recursos para combater no AT.
(Mc. 12.26-27). Deus é Deus dos vivos; Deus é Deus de Abraão, de
Isaque. De Jacó, logo Abraão, Isaque e Jacó estão vivos.
Ex. 2- Quando Paulo ensina sobre a Ceia do Senhor à igreja, não
excluiu as mulheres. A igreja de Corinto recebeu instrução sobre a
comunhão; haviam mulheres que faziam parte da Igreja em Corinto, logo
as mulheres podem participar da Ceia.
XV.
MÉTODOS INADEQUADOS DE INTERPRETAÇÃO
1 - Método Supersticioso:- No tempo de Jesus os judeus procuravam
todos os possíveis sentidos escondidos do texto, como se o sentido óbvio não
tivesse a máxima importância. Apreciavam a interpretação mais original.
Também aceitavam a tradição oral, que tinha para eles tanta autoridade quanto
a Bíblia.
2 - Método Alegórico:- No tempo de Cristo existia o método alegórico
para interpretação dos mitos gregos. Diante dos escândalos do comportamento
indecoroso dos "deuses" nestes mitos, os filósofos achavam uma saída
honrosa assim evitando a censura pública, dizendo ser claro que tais coisas
nunca aconteceram, mas que foram relatadas para ensinar lições espirituais.
Eram alegorias escritas somente para ensinar.
3 - Método Dogmático:- A Reforma rejeitou a autoridade da tradição e
instituiu de novo o estudo da Bíblia. A hermenêutica exige que a Bíblia seja
interpretada por si, e não simplesmente à "luz" da nossa teologia, que não é
infalível, embora de que de modo geral seja bíblica.
4 - Método Racionalista:- Hoje em dias há muitos teólogos que dão uma
importância exagerada ao cérebro humano, ousando dizer que devemos
examinar a Bíblia para distinguir entre os erros e as partes inspirada. Tem um
preconceito contra milagres ou qualquer coisa que não pode ser provada pela
ciência; contra profecia, a ressurreição, o nascimento virginal, etc..
5 - Método Mitológico:- Nos últimos anos a teologia de Bultmam (um
existencialista) tem ganhado muito apoio entre os teólogos liberais. Afirma que
no tempo quando a Bíblia foi escrita, o homem tinha as suas idéias pouco
desenvolvidas sobre a ciência e a teologia; mais hoje em dia o homem não
aceita mais aquelas idéias. Temos então de apresentar-lhe as verdades em
"roupa nova", tirando os conceitos antigos já superados. Deste jeito o que importa é o que costumam chamar o "ensino essencial" da Bíblia, que não segue
a apresentação bíblica e às vezes se afasta muito da doutrina bíblica.
BIBLIOGRAFIA
HENRICHSEN, Walter A. Princípios de Interpretação da Bíblia. São Paulo:
Mundo Cristão, 1997.
LOCKYER, Hebert. Todas as parábolas da Bíblia, São Paulo: Vida
LUND, E. & NELSON, C. Hermenêutica. São Paulo: Vida,1987.
VIRKLER, Henry A. A Hermenêutica Avançada: Princípios e Processos de
Interpretação Bíblica. São Paulo: Vida, 2001.
ZUCK, Roy B. A Interpretação Bíblica: Meios de descobrir a Verdade da
Bíblia. São Paulo: Vida Nova, 1994.
AVALIAÇÃO
OBS: Prefira responder usando suas palavras (seu entendimento)
Digitalizar e entregar para correção
Nome do aluno (a) : ___________________________________
Núcleo de: ______________________________ Data: ___/___/___
1. O que é hermenêutica bíblica?
2. Em sua opinião, porque estudar a hermenêutica é importante?
3. Porque interpretar a Bíblia é um desafio?
4. Quais “abismos”
existem entre os povos bíblicos e os crentes da
atualidade?
5. O que é uma analise contextual?
6. O que é uma análise léxico-sintática?
7. Sobre as figuras do texto bíblico, responda:
O que é Metáfora? Cite um texto bíblico de exemplo.
O que é Metonímia? Cite um texto bíblico de exemplo.
O que é hipérbole? Cite um texto bíblico de exemplo.
O que é Alegoria? Cite um texto bíblico de exemplo.
O que é parábola? Cite um texto bíblico de exemplo.
8. O que vem a ser “Método”? Cite alguns exemplos de métodos no
estudo bíblico.
9. Cite 5 princípios de interpretação bíblica.
10. Cite (de forma sucinta) as 5 regras de interpretação baseadas nos
princípios gramáticas.
11. Cite (de forma sucinta) as 5 regras de interpretação baseadas nos
princípios históricos.
12. Cite (de forma sucinta)
princípios teológicos.
as 4 regras de interpretação baseadas nos
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