Texto de apoio ao curso de Especialização Atividade física adaptada e saúde Prof. Dr. Luzimar Teixeira APRENDIZAGEM MOTORA E DESENVOLVIMENTO MOTOR NA SÍNDROME DE DOWN 1. Introdução A Síndrome de Down recebe este nome pois em 1866 John Langdon Down, um médico inglês, foi o primeiro a descrever as características de uma criança com a síndrome. Quase cem anos depois, em 1959, um médico francês chamado Jerome Lejèume, ao estudar as células de uma pessoa com a síndrome, identificou que esta possuía um cromossomo a mais no autossomo 21. Assim a Síndrome de Down também passou a ser chamada de trissomia do 21. Hoje se sabe que além da trissomia simples há ainda duas outras alterações genéticas que são responsáveis por causar a Síndrome: a translocação (quando o cromossomo 21 extra apresenta-se aderido a outro cromossomo, geralmente o 14) e o mosaicismo (quando a pessoa possui tanto células normais quanto células trissômicas). Cerca de 95% dos casos diagnosticados são causados pela trissomia simples, 3% pela translocação e apenas 2% pelo mosaicismo. Essas alterações genéticas são responsáveis por inúmeras modificações no desenvolvimento e na maturação do organismo da pessoa com Síndrome de Down. Sabe-se que já no estágio fetal a criança começa a apresentar alterações no desenvolvimento do sistema nervoso central. Assim, observa-se que a Síndrome causa alterações de crescimento e estruturação das redes neurais; atraso na mielinização dos neurônios no córtex cerebral causando a diminuição da velocidade de transmissão dos impulsos nervosos; cérebro se torna pequeno em relação ao normal; o corpo caloso é mais estreito; existência de áreas com menor volume (córtex frontal, áreas límbicas, cerebelo e hipocampo); menor população neural e assimetrias entre os dois hemisférios cerebrais. Acredita-se, mas ainda há controvérsias, que essas características do sistema nervoso levam à deficiência no desenvolvimento motor e mental da pessoa com Síndrome de Down. As alterações genéticas também são responsáveis por dar características físicas próprias da pessoa com a Síndrome. São elas: cabeça menor com a parte posterior levemente achatada; boca pequena com língua protusa (maior que o normal) e hipotônica; olhos com pálpebras estreitas e levemente oblíquas; narinas arrebitadas por falta de desenvolvimento dos ossos nasais; pescoço curto; mãos curtas e largas; quinto dedo da mão bem curto, curvado para dentro e formado por apenas uma articulação; dedos dos pés curtos e há um espaço entre o primeiro e o segundo dedo; hipotonia muscular; tamanho reduzido do fêmur e úmero; baixa estatura; dismorfismo da face e ombros; entre outros. 2. Fatores gerais relacionados à Educação Física Como será visto desta parte do trabalho em diante, a Síndrome de Down traz grandes conseqüências para o aparelho locomotor, o que gera dificuldades na realização de atividades físicas (mesmo que sejam atividades rotineiras). Dessa maneira, compreender os mecanismos que levam os portadores da Síndrome de Down a esses déficits permite que a intervenção profissional possa ser executada de maneira especifica na tentativa de minimizar essas perdas. Tentando abordar a Síndrome de Down através da Educação Física, alguns fatores ganham maior importância para que uma intervenção seja eficientemente executada. Aqui serão descritos alguns desses fatores, como: preparação do movimento, tempo de reação, fenômeno disto-proximal, desenvolvimento de habilidades, controle motor, padrões do andar e do correr, além dos problemas oftalmológicos. 2.1 Preparação do Movimento: A preparação do movimento corresponde ao processamento de informação no sistema nervoso central com o intuito de gerar um movimento. Sabe-se que indivíduos com Síndrome de Down possuem grandes dificuldades para controlar seus movimentos, e que um dos fatores relacionados a essa dificuldade corresponde à preparação do movimento. Existem dois modelos que tentam explicar o por quê dessa dificuldade encontrada por pessoas com Síndrome de Down. De acordo com os sistemas de ação, os indivíduos com SD possuem dificuldades de controle motor por falharem em detectar as propriedades dinâmicas representadas no ciclo percepção-ação, ou seja, essas dificuldades se devem basicamente à deficiência encontrada por essa população para perceber as informações do ambiente. Mas segundo os sistemas motores, o déficit que os indivíduos com SD possuem na preparação de movimentos é resultado de retardo mental (informações sensoriais, memória, cognição e programação motora) e de alterações estruturais no SNC, tornando então essa limitação como um fator físico (as alterações no SNC geram esse déficit). 2.2 Tempo de Reação: O tempo de reação, que corresponde ao tempo entre um estímulo e a resposta do indivíduo, é um fator importantíssimo para a realização de atividades físicas realizadas em ambientes abertos, ou seja, ambientes com incertezas de eventos. Sabe-se que tempos de reação maiores estão associados a indivíduos com retardo mental. No entanto, indivíduos com Síndrome de Down possuem esse tempo de reação maior que indivíduos com outros retardos 1 mentais em níveis equivalentes, o que mostra que esse déficit maior realmente está ligado à deficiência em questão. Não se sabe ao certo se isso se deve a uma baixa capacidade desses indivíduos de se utilizarem das informações disponíveis, ou se são mais lentos devido a limitações no sistema neuro-muscular. Mas estudos que visam a diminuição do tempo de reação utilizando feedback mostram que o feedback visual parece ser mais eficiente que o feedback verbal, o que é uma informação importantíssima para os educadores físicos que trabalham com indivíduos com Síndrome de Down. 2.3 Fenômeno Disto-Proximal: Empiricamente, tarefas de “alcançar” são efetuadas de maneira próximo-distal, ou seja, a ordem de ativação dos músculos relacionados à tarefa se dá primeiramente no músculo mais proximal (tronco), e os demais músculos se ativam seqüencialmente até que os músculos mais distais se ativam (extremidades dos membros). Isso permite um maior controle do movimento, resultando em maior precisão, já que os músculos mais relacionados ao ajuste fino de movimento são justamente os que se localizam mais distalmente. Ao analisar a eletromiografia em tarefas de alcançar para indivíduos com Síndrome de Down, observa-se que esses indivíduos apresentam um padrão reverso de ativação muscular, ou seja, disto-proximal. Como a ativação por último do músculo distal se dá para ajustar o movimento enquanto este é efetuado, indivíduos com Síndrome de Down apresentam uma enorme dificuldade para realizar esse ajuste, pois têm de fazê-lo com os músculos mais proximais (que não têm mecânica e fisiologicamente essa função). Ainda não há uma explicação para esse fenômeno, mas sabe-se que ele não depende nem da complexidade da tarefa nem de haver ou não feedback visual. Além disso esse padrão de ativação muscular não se altera com o treinamento, o que faz dele apenas algo a ser levado em conta em uma intervenção profissional. 2.4 Desenvolvimento de Habilidades em Crianças com Síndrome de Down: O desenvolvimento motor em crianças com SD está sempre atrasado em relação a crianças que se desenvolvem normalmente com a mesma idade cronológica, o que faz com que o nível de habilidade desses indivíduos esteja sempre com desempenhos piores que crianças com a mesma idade e sem nenhuma deficiência. Além disso, no geral, essa população apresenta padrões motores qualitativamente diferentes dos apresentados por crianças sem deficiências. 2 Com relação ao desenvolvimento motor das posturas, o indivíduo com Síndrome de Down também é muito prejudicado, o que provavelmente se deve à hipotonia muscular e hiperflexibilidade articular dessa população, além das deficiências visuais e vestibulares que a Síndrome de Down gera. Dessa maneira, a intervenção profissional torna-se importantíssima desde os primeiros anos de vida, para que se tente aproximar o desenvolvimento de uma criança com Síndrome de Down do de crianças sem nenhuma deficiência, facilitando assim a vida social desses indivíduos. 2.5 Controle motor e aprendizagem motora na Síndrome de Down: Como resultado de diversos fatores, os indivíduos com Síndrome de Down apresentam movimentos com pouca precisão (pouca eficiência), movimentos mais lentos (quando comparados com indivíduos sem deficiências), menor capacidade de adaptar uma tarefa a novas situações (ex: respostas posturais), apresentam estranhas seqüências de movimentos de diferentes partes do braço e da mão durante a execução de habilidades, possuem um menor controle da força empregada em uma tarefa e a aprendizagem de tarefas baseadas em instruções verbais acontece com menor eficiência. 2.6 Padrões do Andar e do Correr: Com relação ao andar, estudos mostram que existem apenas pequenas diferenças angulares nas articulações, no ciclo do andar, para crianças com Síndrome de Down, adultos com Síndrome de Down e adultos sem deficiências. No entanto, o padrão coordenativo não possui consideráveis diferenças entre esses três grupos, ou seja, os aspectos gerais do padrão de movimento são o mesmo (movimento pendular das pernas, por exemplo). Os padrões do correr em crianças e adultos com Síndrome de Down também são muito próximos dos padrões de indivíduos sem deficiências. Mas crianças com Síndrome de Down apresentam, no correr, uma fase de duplo apoio com duração mínima de 33ms, não tendo uma fase de vôo bem definida. Isso obviamente prejudica o correr desses indivíduos, apesar de o padrão dos movimentos continuar sem grandes alterações. Um outro fator importante no correr é que indivíduos com Síndrome de Down possuem variações angulares na corrida muito parecidas com as observadas no andar, prejudicando também essa habilidade em adultos (já que normalmente as variações angulares no correr são maiores que as no andar). 2.7 Problemas Oftalmológicos: 3 Não há nenhum problema oftalmológico específico associado à Síndrome de Down, mas no entanto a incidência desses problemas nessa população é muito maior que na população sem deficiências. Sendo a visão o principal sentido utilizado para interagir com o ambiente, esses déficits visuais apresentados por pessoas com Síndrome de Down representam mais um dos fatores ligados aos déficits motores dessa mesma população, tendo grande importância na prescrição de atividades físicas. Os problemas apresentados pelos indivíduos com Síndrome de Down devem ser diagnosticados o quanto antes, para evitar a perda da função das células do córtex visual primário, o que leva à ambliopia. Isso ocorre pois, durante o desenvolvimento do SNC após o nascimento, o fator responsável pelo aprimoramento da função das células do córtex visual primário (área do cérebro responsável pela visão) é a estimulação da retina. Assim, problemas oftalmológicos que impeçam essa devida estimulação, levam a pessoa a não desenvolver o córtex visual primário de maneira ideal, gerando uma deficiência visual que não pode ser corrigida posteriormente. Outro fator importante é o desenvolvimento da clareza da visão. Ele ocorre através da estimulação da retina (ou seja, o simples fato de enxergar), e se dá principalmente nos primeiros 6 meses de vida, se concretizando até os 6 anos de idade. No entanto, nos indivíduos com Síndrome de Down, o desenvolvimento principal ocorre até os dois anos, mas o desenvolvimento final não ocorre, fazendo com que esses indivíduos possuam uma clareza visual menor que a normal. Evidências sugerem que isso se deve a diferenças estruturais no córtex visual primário, além de sensibilidades reduzidas no circuito neural responsável pela visão. Isso pode ainda ser agravado por problemas refratários não corrigidos , como erros refratários e estrabismo (não permitindo assim uma estimulação adequada da retina). Problemas refratários são muito comuns em indivíduos com Síndrome de Down, e podem ser: • Miopia (foco anterior à retina); • Hipermetropia (foco posterior à retina); • Astigmatismo (dois planos focais simultâneos); • Quando o foco ocorre corretamente, o olho é considerado emetrópico. Indivíduos normais nascem com astigmatismo e hipermetropia, que tendem a se corrigir sob controle neural ativo até os 6 meses de vida. Indivíduos com SD ou não apresentam essa correção, ou corrigem além do necessário, transformando a hipermetropia em miopia. Esse é um dos processos explica a grande incidência de indivíduos com erros refratários na população com Síndrome de Down. Além disso, indivíduos com Síndrome de Down possuem grande incidência de estrabismo. 4 Outra característica oftalmológica marcante em indivíduos com Síndrome de Down é a capacidade pequena de focar objetos próximos partindo de um foco distante (ação chamada de acomodação), sendo que isso provavelmente se deve à dificuldade que o cerebelo encontra devido aos problemas estruturais associados à Síndrome de Down. Talvez por esse motivo ocorra a disfunção dos mecanismos naturais de correção dos erros refratários (após o nascimento). Resumindo, os problemas oftalmológicos encontrados em indivíduos com Síndrome de Down podem ser erros refratários, estrabismo, falta de clareza na visão e ambliopia, sendo que em sua maioria estão relacionados à estimulação indevida da retina na fase de desenvolvimento do sistema nervoso central. 3. Fatores específicos relacionados à Educação Física 3.1 Déficits Sensório-motores na Síndrome de Down: Implicações para a Performance Motora Uma observação casual de movimentos cotidianos de indivíduos com síndrome de Down (SD) nos dão a impressão de serem desajeitados (Frith & Frith, 1974). Vários estudos têm mostrado que movimentos de indivíduos com SD são lentos, menos fluentes, e mais variáveis de uma tentativa para a outra quando comparados com movimentos da população em geral. Evidências de lentidão e falta de fluência tem sido observadas em um simples movimento de flexão de cotovelo (Almeida, Corços, & Latash, 1994; Latash & Corços, 1991), assim como em tarefas que envolvem múltiplas articulações (Aruin & Almeida, 1997). A diferença na performance motora entre indivíduos neurologicamente normais e indivíduos com SD sugerem que indivíduos com SD poderiam ter um específico, e experimentalmente identificável, déficit sensório-motor. Exemplos incluem déficits no timing (Henderson, Morris, & Frith, 1981), déficits na programação motora (Frith & Frith, 1974), e déficits na habilidade para ajustar a taxa pela qual a força de preensão é gerada (Cole, Abbs, & Turner, 1988). Por outro lado, também tem sido discutido que não existem específicos déficits motores associados com a SD ou que eles não são realmente significantes em comparação com outros déficits observados. Por exemplo, Wang (1996) tem sugerido que habilidades referentes à memória verbal de curta duração estão diminuídas em indivíduos com SD quando comparadas com outros indivíduos com retardação mental. Contudo, habilidades visuais-motoras estão comparativamente bem preservadas. Latash e Anson (1996) têm discutido que o caminho pelo qual os movimentos de indivíduos com SD são executados é um reflexo de uma falha no processo de tomada de decisão e não necessariamente uma conseqüência de um déficit motor 5 primário. Especificamente eles propõem, “nossa suposição básica implica que o SNC de uma pessoa cujo componente de tomada de decisão do sistema para produção de movimentos tem alguma falha, podem preferir realizar movimentos facilitados (desajeitados) ou invés de correr o risco de uma total falência durante a performance motora” (p.66). O argumento deles sugere que embora padrões de movimento e de ativação muscular possam diferir dos padrões observados em indivíduos neurologicamente normais, eles têm ótimas adaptações dada a falha primária na tomada de decisão. 3.2 Similaridades com indivíduos sem SD Controle da distância do movimento A partir de vários estudos podemos concluir que a capacidade de indivíduos com SD para modular a contração de músculos agonistas e antagonistas não está prejudicada. Melhora da performance motora com a prática Indivíduos com SD não têm a mesma estimulação ambiental e oportunidade de tomar parte em atividades físicas que indivíduos normais tem. Assim, parte da redução da performance que é observada em indivíduos com SD pode ser causada pela falta de experiência que eles tem: a tão chamada hipótese experiencial (Newell, 1989). Portanto, é importante saber que indivíduos com SD podem melhorar a sua performance motora quando lhes é dada a oportunidade para prática extensiva. Estudos têm mostrado que a performance pode ser dramaticamente melhorada em tarefas que requerem balanço e coordenação. 3.3 Diferenças em comparação com indivíduos sem SD Tempo de reação lento Têm sido relatados, em muitos estudos, que o tempo de reação e o tempo de reação de escolha é maior em indivíduos com SD quando comparado com indivíduos com outras formas de retardo mental. Alta incidência de coativação muscular Lentidão acentuada para movimentos longos Seqüência de movimentos Informação somato-sensorial Conclusões 6 Uma estratégia terapêutica que tem sido sugerida para melhorar a função motora de indivíduos com SD é a de aumentar o tônus muscular. A lógica por trás dessa abordagem é que um tônus “normal” é uma condição necessária para um normal controle de movimentos. Mas como tem sido demonstrado, indivíduos com SD podem ajustar o padrão de ativação muscular, e, nesse sentido, o sistema de controle motor deles é funcionalmente intacto. Em suma, segundo Blanche, Botticelli, & Hallway (1995) não há razões para recomendar nenhum treinamento baseado no aumento do tônus muscular para melhorar o controle de movimentos voluntários. Latash e Anson (1996) tem criticado abordagens que rotineiramente tentam normalizar o controle dos movimentos. Isto porque o mecanismo e prioridades de um controle motor normal são geralmente desconhecidos, eles tem sugerido uma abordagem “hands-off” e que mudanças adaptativas em padrões motores podem ser consideradas normais e , assim sendo, não precisam ser corrigidas. Problemas na Coordenação de Movimentos Naturais Quando nos deparamos com o movimento humano, por mais simples que seja ele tem alguns problemas básicos. Citarei elas: a primeira é a redundância motora, que significa que o nosso cérebro funciona de uma maneira otimizada, tentando solucionar os problemas impostos a ele da maneira mais cômoda possível, porém não se sabe exatamente como isso ocorre; o segundo se refere as variáveis centrais do SNC, relacionadas ao processamento de informações, que seriam os componentes responsáveis pela organização da tarefa; sistemas coordenados seria a capacidade que o sistema tem de agrupar grande números de componentes orgânicos e reduzi-los a poucos, ou seja, pegar muitos graus de liberdade e funcionalmente tornando-se um único ou poucos graus de liberdade; padrões estáveis de movimento seria a capacidade do sistema prever padrões e se comportar de acordo com esses padrões, e finalmente o mapeamento das estruturas fisiológicas, que permitem a adoção de diferentes caminhos para a obtenção de um mesmo objetivo. Sinergia e unidades estruturais Quando falamos de sinergia nos referimos no fato de um músculo interferir na ação de outros, e por isso conseguimos ter um controle preciso dos nossos movimentos. Já as unidades estruturais são um conjunto de componentes que fazem uma função, ou seja, adquirem funcionalidade. As unidades estruturais são controladas por um sistema hierarquicamente mais elevado, que faz com que ele adquira funcionalidade, sendo que essa unidade funcional permite aos seus componentes trabalharem da maneira que quiser, contanto que mantenha a meta estipulada, através do princípio da interação mínima, que seria quando o comportamento dos componentes se altera, porém sem excesso, inalterando o alcance a meta. As vantagens 7 estão principalmente na estabilidade que o sistema adquire perante a diferentes perturbações, e por outro lado, a desvantagem é que não é permitida variabilidade na performance das unidades porque elas são baseadas na detecção e correção de erros. Cerebelo Sabe-se que o cerebelo exerce várias funções de suma importância para a vida, sendo um dispositivo de controle temporal, controlando algumas relações temporais do sistema com o meio; memória, responsável por alguns aspectos desta; predição, estando relacionado com o estabelecimento de padrões; coordenação dos componentes do sistema locomotor (músculos, ossos e articulações); e também está relacionado a atividades mentais. No portador de síndrome de down o peso de cerebelo é bem menor, indicando que o número de neurônios é menor ou o número de conexões é menor, ou ambos, ou seja, com isso ocorre modificação nas sinergias musculares, sendo que o controle é muito prejudicado, e também, como ele é fundamental na execução de tarefas, isso também está em déficit no down. Padrão de movimento na síndrome de down Primeiramente, devemos colocar que o desenvolvimento do SD é o mesmo de uma pessoa normal, porém ocorre mais lento cronologicamente. Com base nisso levantaremos alguns aspectos que interferem no padrão de movimento, muitas vezes dito “desajeitado”, do down. Primeiramente, eles tem um tempo de reação maior que o normal, ou seja, demoram mais para responder a estímulos, além de serem mais lentos em movimentos voluntários, por terem uma defasagem no processamento de informações decorrente das modificações orgânicas. Eles apresentam também hipotonia muscular e sinergias irregulares, ou seja, como seus músculos são encurtados, sua mobilidade já é naturalmente prejudicada, aliando a isso as sinergias irregulares, que fazem com que haja diferença na atividade muscular em diferentes direções, prejudicando a execução de movimentos corretos. Eles também apresentam grandes dificuldades na pré-programação motora, ou seja, no planejamento da resposta, e isso faz com que eles tenham, entre outros problemas, dificuldades na adaptação a perturbações posturais. Fato interessante é que, apesar de apresentar uma imensa variabilidade, o SD consegue obter uma precisão incrível. Efeito da prática em SD Quanto à prática no SD devemos considerar que eles buscam o padrão mais seguro para eles, sacrificando velocidade, eles necessitam de muito mais tempo para compreender a tarefa e confiar no ambiente, pois o sistema prioriza a segurança. Na aprendizagem motora 8 eles variam de maneira absurda seu padrão de movimento, porém sempre sendo precisos, como citado anteriormente. Um dos principais problemas na SD é que, devido ao baixo tempo de reação e organização de resposta, e falta de precisão nos movimentos, tarefas simples do dia-a-dia são perigosas para o SD. Com a prática continuada, após adquirir confiança na tarefa, o SD melhora a velocidade e alcançam bons padrões, além de ter uma boa transferência de aprendizagem, embora a literatura ainda não consiga elucidar como isso ocorra. Mudanças adaptativas no SNC normal e do SD Nas pessoas ditas normais, uma das principais características do SNC é que ele é uma fonte de flexibilidade e adaptabilidade, ou seja, consegue facilmente se adaptar a mudanças ambientais, pois o SNC organiza a resposta através de diferentes caminhos, sendo que os padrões de movimento seguem critérios impostos pelo SNC, de acordo com suas prioridades e capacidades do sistema, sendo que essas prioridades não são imutáveis e podem ser modificadas, através da pratica, fenômeno denominado plasticidade neural, sendo que o cerebelo e o hipotálamo são os principais responsáveis por essa plasticidade. No SD, o sistema também busca os movimentos ótimos, ou seja, o melhor que o sistema em questão pode oferecer, porém esse sistema é frágil, e por isso os movimentos parecem desajeitados. Isso ocorre porque o down apresenta retardo mental e sinergias inadequadas, fazendo com que tarefas simples levem muito tempo. Um dos fatores mais prejudicados está no fato de que ajustes necessários a determinados movimentos não são processados a tempo para que ocorra o feedback intrínseco, fazendo com que o SD não consiga se autocorrigir em “desastres” do dia-a-dia. Por diversos fatores já relatados, o SD leva mais tempo para executar movimentos. Um dos principais paradoxos do SD é que o sistema adquire uma grande estabilidade para resistir a perturbações, ou seja, uma vez conseguida a consistência na tarefa, é muito difícil modifica-la. Com o aumento da complexidade, a diferença na performance motora de SD e normais aumenta de maneira linear, ou seja, conforme mais a tarefa fica difícil, mais aumenta a diferença entre normais e SD. 9 Falta de organização sinérgica Mudanças de parâmetros freqüentes e inesperados Tarefas diárias se tornam desafios Preferência por caminhos seguros Tempo de reação longo Movimentos lentos Padrões de co-contração Movimento desajeitado 10 Caminhos para otimização em programas de educação física Em programas de educação física onde existem SD, uma das principais decisões a se tomar é qual caminho seguir: ensinar os padrões ditos “corretos” e normais ou tornar o melhor possível os padrões próprios através do processo adaptativo. Para tomar essa decisão, devemos considerar alguns argumentos, como o fato de não haver definição real de um padrão correto e que nosso conhecimento é muito limitado que não permite-nos saber como as pessoas devem ou não devem se mover. Além disso, devemos considerar que sem estímulo, qualquer sistema se acomoda, e isso não é diferente no SD, e também, com exploração contínua, estudos mostram que o SNC adquire maior conhecimento do que pode fazer para alcançar a meta. Com base nesses argumentos, acreditamos que a exploração parece ser a estratégia mais adequada, pois consegue preparar o SD para lidar melhor com as tarefas do dia-a-dia, que deixam de ser tão perigosas para eles. Progressão no desenvolvimento de SD. A seqüência do desenvolvimento motor é igual ao da pessoa normal, porém ocorre mais lentamente no SD, e eles apresentam em seu desenvolvimento grande variabilidade, porém todos tem idade cronológica maior que a mental, e sabe-se que o decréscimo motor e maior que o mental possivelmente devido à hipotonia dos músculos, sendo que esse decréscimo diminui com o aumento da idade. Sabe-se que algumas capacidades e habilidades são mais difíceis que outras para o SD, sendo que as de maior destaque são o equilíbrio, o tempo de reação e a força, que se desenvolvem mais lentas em relação às outras habilidades Intervenção Sabe-se que essa população merece cuidados especializados nos processos de intervenção, porém algumas coisas básicas que podemos fazer serão citadas. Estudos mostram que programas terapêuticos aceleram ganhos motores em crianças com SD, e que parentes parecem influenciar muito esse desenvolvimento, sendo que foi conduzido um estudo em que crianças que moravam em suas casas com suas famílias se desenvolvem com o dobro da rapidez que crianças que vivem em instituições, e por fim estudos mostram que programas envolvendo percepção manual tem produzido bons resultados. Conclusão de estudos envolvendo capacidades/habilidades motoras em SD 11 Os resultados de dois estudos nos mostram algumas diretrizes a seguir que serão citadas: a primeira é o fato de que é necessária instrução escolar para a melhora da qualidade do movimento; A segunda nos remete ao fato de que o desenvolvimento motor não é tão lento como pensamos e que os ganhos com o desenvolvimento motor não aumentam gradativamente com a idade. E também os estudos sugerem que, aos 16 anos, as habilidades fundamentais podem começar a ser combinadas, pois já terão estabilidade suficiente. Quanto às tarefas, constatamos que as motoras não dependem tanto da idade mental, sendo que as únicas que dependem dela são o tempo de resposta e o equilíbrio, e com certeza o equilíbrio é a tarefa mais complicada para o SD. E como sugestão eles alegam que como as crianças com SD podem realizar a habilidade do correr com êxito, devemos utilizá-la para reduzir a obesidade nata dos SD. 12