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BARBOSA, Maria Cristina Mesquisa. A Formação do
Administrador de Empresa na Sociedade Global: Perspectivas
e Contradições do Ensino de Filosofia e Ética. Dissertação de
Mestrado. FE/UNICAMP/PAIDÉIA.
Marcelo Donizete da Silva
Revista de Educação
Doutorando em Educação - UNICAMP
Professor de Filosofia do Ensino Médio Estadual Paulista
e-mail: [email protected]
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“Como possibilitar, através da
reflexão filosófica, condições para que
o aprendiz da Administração de
Empresas se aposse da concretude da
sua ciência, diretamente ligada ao
mundo da produção e do trabalho e
através desta posse, estabeleça os
fundamentos de uma ação política
emancipatória?”
(M. Cristina Mesquita Barbosa)
O ponto essencial desta reflexão tem
como norte a investigação da problemática do
Ensino de Filosofia e da Ética na formação deste
futuro profissional da área de Administração de
Empresas. A autora, Maria Cristina Mesquita
Barbosa Professora licenciada em Filosofia no
ano de 1969 pela Faculdade de Guaxupé-MG,
defende neste trabalho (ao qual lhe valeu o título
de Mestre em Educação pela Faculdade de
Educação da UNICAMP) de maneira instigante,
algumas proposições oriundas dos problemas
concretos de constituição do curso de
Administração de Empresa na realidade
educacional da sociedade brasileira.
Essa discussão será atravessada por
vários contextos que comporão o objeto de sua
pergunta, ao qual discute a formação do
Administrador. Estes contextos, no conjunto da
obra, entrelaçam entre si para dar a dimensão
da problemática apontada pela autora, que são
os contextos históricos, políticos, econômicos,
filosóficos, éticos e educacionais; e, a partir da
leitura destes contextos, na realidade do ensino,
como se deu, nos (des)caminhos desta
constituição, à entrada da Filosofia e da Ética na
grade curricular do curso.
A origem do curso de Administração de
Empresas no Brasil tem no seu horizonte
estrutural as vertentes do pensamento norteamericano. No entanto, essa vertente para ser
constituída como curso real, passou pelos vários
entraves de organização da realidade política do
País. Por outro lado, o que possibilitou a gênese
da Administração, tanto nas sociedades:
americana e européia; fora a realidade das
Guerras, principalmente do século XX, e o termo
aqui é mais amplo por não pensar apenas na
corrida armamentista, mas, também na disputa
pelos espaços mercantis (a livre concorrência).
As guerras do século XX, como comenta a
autora, “tiveram uma particularidade e por isto
também foram chamadas de Guerras totais ou
Guerras de massa: pelo número de pessoas que
envolveram, pelos armamentos utilizados que
exigiram um, desvio de toda economia para a
sua produção e pelo uso e destruição de
quantidade inconcebível de outros produtos
durante a luta”. Isto é, pela economia de guerra
se propagou a ideologia do consumo dos bens
produzidos pela indústria.
“Ao longo da História, comenta, as
principais contradições do caráter mercantil do
capitalismo tendem permanecer inalteradas.”
Nesta leitura histórica do desenvolvimento
capitalista três conjunções de modelo de
desenvolvimento serão importantes para os
desdobramentos de organização do processo
produtivo:
• Um paradigma Industrial; forma de
organização do trabalho.
• Um regime de acumulação; uma
estrutura macroeconômica.
• Um modo de regulação; normas
implícitas e de regras institucionais.
Pelos viéses apresentados, o conceito de
Administração passou a ser ferramenta
fundamental, a chave interpretativa, para se
pensar o desenvolvimento, tanto econômico
como tecnológico, das indústrias, analisados nas
vertentes do taylorismo, fordismo e
americanismo. “Para a origem dos cursos de
Administração de Empresas, tem destaque
especial o modelo de industrialização, pois nele
se materializa a proposta taylorista de uma
Administração Científica, concluída por Ford, no
início do século XX e motivo para o
desenvolvimento dos referidos cursos nos EUA
e, por conseguinte, em todos os países onde o
modelo de desenvolvimento fordista se implantou
ou tentou implantar, dentre eles o Brasil.”
Essa leitura taylorista de expansão do
desenvolvimento industrial, tem como papel
importante a figura do funcionário gestor cuja
função é Administrar o todo do processo
produtivo. Henry Ford, dá continuidade ao
processo desta leitura, porém, ao aprofundar a
temática iniciada por Taylor, e percebe que a
evolução do processo administrativo se daria a
partir da acumulação do Capital. Ou seja, a
Administração da produção tem como viés
importante a racionalização do processo
produtivo, que está diretamente ligado a
organização da mecânica da produção: enquanto
em Taylor a administração está ligada
diretamente à Pessoa, em Ford esta faz parte da
máquina.
Evidentemente essas duas vertentes do
desenvolvimento industrial e do próprio
capitalismo, corroboraram para a organização
do pensamento americano de desenvolvimento
econômico. “O fordismo, como modelo de
industrialização, teve um sucesso tal que
engendrou ganhos de produtividade aparente
sem precedentes na história mundial. (...) Os
EUA tornaram-se hegemônicos com esse
modelo de desenvolvimento.” Do ponto de vista
de acumulação do capital, esse modelo também
contribuiu, efetivamente, para a organização e
materialização do curso de Administração de
Empresas nas universidades norte americanas,
que passaram a ministrar seus cursos nesta área
específica.
No
Brasil,
esse
modelo
desenvolvimentista do capitalismo passou por
vários percalços até chegar a sua maturidade: a
aristocracia rural, o dogmatismo religioso, o
autoritarismo político, a cultura elitista, enfim todas
as instituições que foram moldando às
características da sociedade brasileira,
contribuíram para esse “atraso” do
desenvolvimento econômico.
Na história do pensamento brasileiro, a
condição para se moldar uma nova característica
da estrutura social, e com ela a criação do curso
de Administração de Empresas, se deu a partir
dos anos 30 (período ao qual Carlos Nelson
Coutinho denominou de “Revolução Passiva”).
“O desenvolvimento se daria através de
“restaurações” que acolheram uma certa parcela
de exigências provenientes de baixo, tratandose de “restaurações progressivas”, ou
“revoluções-restaurações” ou “revoluções
passivas”.” O que apoiou em muito a organização
deste novo modelo estrutural, fora a ditadura
Vargas iniciada no ano de 1937 promovendo
uma acelerada industrialização no país, apoiada
também por uma fração industrial da burguesia
e das camadas militares1
“Como parte fundamental deste processo
de revolução passiva ou restauração progressiva
é que os cursos de Administração de Empresas
foram criados no país, confundindo-se com a
implantação, apogeu e declínio do Modelo
desenvolvimentista de industrialização substitutiva
de importações, padrão para este
desenvolvimento econômico e político social
vigente no Brasil de1930 a 1989.”
Sob a luz do desenvolvimento econômico
é que o curso de Administração de Empresas
no Brasil foi criado. Porém, desde a República
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Velha até a instauração do Estado Novo, as
discussões em tornos dos objetivos do curso,
com ressalvas, e a própria determinação legal,
se chega a um consenso de que tipo de escola e
qual tipo de educação, que se queria para a
formação deste profissional.
“Em 1941, criava-se a primeira escola de
administração no Brasil” a ESAN – Escola
Superior de Administração de Negócios, em São
Paulo. Esta escola fora criada pela iniciativa do
Padre Sabóia de Medeiros e as classes
empresariais paulista. O objetivo era a formação
e a capacitação das camadas mais simples da
população para o mercado de trabalho. “Em
1946 foi criada a Faculdade de Economia e
Administração da USP (FEA), com o objetivo
prático e bem definido: atender, através da
preparação de recursos humanos, as demandas
oriundas do acelerado desenvolvimento
econômico.”
No avanço do conhecimento de novas
técnicas administrativas, devido à demanda
urgente de profissionais para um mercado cada
vez mais exigente. As universidades brasileiras
selaram o acordo com as universidades norteamericanas assumindo, hermeticamente, o
modelo destas universidades. “Em 1948,
representante da FGV visitaram vinte e cinco
Universidades americanas que mantinham cursos
de administração pública, com o intuito de
conhecer diferentes formas de organização. Isto
favoreceu a realização de encontros entre seus
representantes e professores norte-americanos,
visando ao treinamento de especialistas em
administração pública.” Nesta ótica foi firmado
o acordo FGV e USAID.
A questão de fundo do tema, analisada
pela autora, é a configuração de ensino que seria
dado no curso. Uma vez que o objetivo central
da temática proposta no curso, era a de atender
as demandas emergenciais do mercado;
questões como a Ética e a Filosofia, no sentido
de se pensar a valoração do ser humano, como
ser capaz de construir sua concepção de mundo,
não foram contempladas nas primeiras grades
curriculares que compunham o curso.
Se a Filosofia é entendida como uma
concepção de mundo; os determinantes éticos e
a própria Ética atravessam, ou se entrelaçam,
nessa concepção, justamente para que o ser
humano venha construir a sua realidade Histórica.
Logo, a Filosofia se torna uma práxis
revolucionária que auxilia o homem na
organização do seu pensar. E a Ética, que é a
própria Conduta humana dentro de determinada
realidade Histórica, ou seja, é a que auxilia o
homem a produzir sua Cultura, determina não
só a constituição da vida como das relações
sociais que os homens estabelecem entre si.
Retomando a pergunta inicial, proposta
pela autora, no Curso de Administração de
Empresas, as disciplinas em questão são
fundamentais. É evidente que a profissão requer
habilidades práticas, porém pensar apenas no
pragmatismo, significa “matar” o pensamento
como forma de transformação dos problemas
concretos da realidade. Ao mostrar a trajetória
histórica de constituição do curso, a autora tem
uma preocupação importante, o que aparece
também em seu memorial, em apresentar a Ética
como questão central do seu tema. No entanto,
um pensar ético desvinculado de uma concepção
filosófica não transcende à crítica de uma
Realidade que hoje, está organizada pelas
contradições do próprio capital.
Notas
Cf. COUTINHO. Carlos Nelson As categorias de
Gramsci e a realidade brasileira in Gramsci: um
estudo sobre o seu pensamento político p. 134-5.
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