LIGAS METÁLICAS Os metais utilizados pela indústria raramente apresentam todas as características desejadas para uma aplicação específica. Caso seja muito quebradiço, ou muito mole, ou pouco resistente à oxidação, busca-se obter uma liga com outro elemento que resulte num material de maior resistência mecânica, duração ou outra qualidade desejável. Por apresentarem propriedades e características físicas mais satisfatórias que as de seus componentes, as ligas têm importância primordial na indústria metalúrgica. Liga é a substância resultante da mistura de dois ou mais elementos, entre os quais pelo menos um é metal. Na maior parte das vezes recorre-se à liga para dar aos metais determinadas propriedades mecânicas, térmicas, elétricas, magnéticas ou anticorrosivas. O procedimento mais freqüente na preparação de ligas consiste em fundir, em primeiro lugar, o metal cujo ponto de fusão é mais elevado, acrescentando-se em seguida os demais componentes. Também é possível inverter a ordem ou fundir os componentes simultaneamente. O método de fusão mais simples é o do cadinho, utilizado em pequenas fundições. Quando é necessário obter grandes quantidades de liga, usam-se fornos elétricos de diferentes tipos, como os de arco e de indução de baixa ou alta freqüência. A preparação de algumas ligas consiste no próprio processo de obtenção do metal, já que alguns minérios já contêm os elementos necessários à liga que se deseja obter. Um exemplo disso é o bronze (liga de cobre e estanho), primeira liga utilizada pelo homem, há mais de cinco milênios. Os homens primitivos fabricavam bronze pela simples fundição do minério de cobre, que já continha estanho. Classificação das ligas: Ao planejar a combinação de metais, entre si ou com outros elementos, considera-se com especial cuidado a variação das proporções, fator que influi decisivamente nas propriedades do material final. Certas misturas formam uma rede cristalina perfeita, com os átomos de diversos materiais dispostos em posições perfeitamente determinadas; em outros casos, os átomos se distribuem aleatoriamente. No estudo das características de uma liga são empregados gráficos ilustrativos da relação entre tempo e temperatura. Outro recurso útil à análise é o diagrama de fases, em que se apresentam a porcentagem dos componentes e a temperatura. A partir desses diagramas, que exibem as diversas fases ou formas de cristalização a que estão sujeitos os materiais, é possível classificar cinco tipos genéricos de ligas. Tipo I: ligas com solução sólida. As ligas metálicas do tipo I são miscíveis tanto no estado sólido quanto no líquido. Na elaboração das combinações de solução sólida, formam-se cristais que contêm todos os metais componentes da liga. Tipo II: ligas eutéticas. Chamam-se eutéticas as ligas que, em estado sólido, apresentam proporções inalteráveis e ponto de fusão constante e característico, também chamado eutético. Por manter constantes os pontos de fusão e solidificação, a liga eutética se comporta como um metal puro. Tipo III. No grupo III os metais são totalmente miscíveis em estado líquido, mas em estado sólido só se misturam parcialmente. Tipo IV. O grupo IV inclui as ligas de metais não miscíveis em estado líquido. Tipo V: ligas que formam compostos. Os metais do tipo V combinam-se para formar compostos denominados intermetálicos, principais endurecedores das ligas industriais. 1 Alguns, como os carbonetos de boro e de tungstênio, estão entre os materiais mais duros e resistentes que se conhecem. Principais ligas: As ligas dividem-se em dois grandes grupos: ferrosas e não-ferrosas. Entre as primeiras, mais importantes sob o ponto de vista do volume de produção e da diversidade de propriedades, figuram os diversos tipos de aço, enquanto as não-ferrosas se caracterizam por suas propriedades específicas, como leveza ou resistência à corrosão. Ligas à base de ferro - O aço comum é constituído de ferro e uma proporção de carbono, em geral inferior a 1,8%. A partir do aço comum se produzem materiais como o aço inoxidável, que contém níquel, titânio e cromo, e os aços especiais, com maiores concentrações desses e de outros elementos, de acordo com a aplicação a que se destinem. Outro tipo de ligas de ferro são as de ferro-níquel, com quarenta a cinqüenta por cento de níquel, que se caracterizam pelo coeficiente de dilatação muito baixo. Ligas à base de cobre - Entre as ligas de cobre se incluem algumas de uso muito freqüente, como o latão, formado de cobre e zinco, e o bronze, de cobre com um máximo de dez por cento de estanho. As ligas não-ferrosas à base de cobre ocupam o segundo lugar em volume de produção, depois das ligas de ferro. Ligas à base de alumínio - Também comuns, as ligas de alumínio podem ser usadas em fundição, caso das que contêm silício. Entre as ligas forjadas de alumínio, que contêm cerca de quatro por cento de cobre e 0,6% de magnésio, ou um por cento de silício e um por cento de magnésio, se inclui o duralumínio, liga endurecível por envelhecimento. Ligas de chumbo e estanho - A solda é a mais conhecida das ligas à base de estanho e contém quarenta a cinqüenta por cento desse metal. O chumbo duro, liga de chumbo com 10 a 13% de antimônio, se usa na fabricação de placas de bateria. Ligas de manganês - Chamam-se ligas de manganês aquelas que combinam esse metal com cobre e níquel e apresentam coeficiente de dilatação térmica inusitadamente alto. Ligas de metais preciosos - Entre as muitas ligas de metais preciosos que constituem o material básico da joalheria, podem-se mencionar a alpaca, de prata, cobre, níquel e zinco; a prata de lei, combinada com cobre; e as ligas de ouro, com diversos metais, que conferem ao metal resistência ao desgaste. O ouro puro tem 24 quilates, e as ligas, valores proporcionalmente inferiores. Aplicações. De aplicação em quase todos os campos, as ligas podem também ser classificadas em função de seu uso. Assim, as de antifricção destinam-se a suavizar o atrito entre peças de maquinaria, e as fusíveis -- entre elas as ligas Newton, Rose, Darcet e Wood, que contêm proporções variáveis de bismuto, chumbo, estanho e cádmio -- são empregadas como elementos térmicos de segurança. As ligas resistentes à corrosão e à oxidação são fundamentais para a construção naval, em que se usa muito a liga Monel, de níquel com pequena percentagem de cobre e ferro. As ligas magnéticas -- como o permalói e o ticonal, constituídos de ferro, níquel, cobalto e titânio -- mantêm suas propriedades permanentemente e representaram um grande avanço na comunicação por cabo submarino. Finalmente, as ligas refratárias, de grande resistência à corrosão, ao calor e a radiações, são utilizadas como material de construção em usinas nucleares e na indústria aeroespacial. 2 Alumínio Descoberto em 1825, o alumínio é produzido em quantidades maiores do que qualquer outro metal industrial, exceto o aço. Prateado, é resistente e leve, pouco suscetível à corrosão e reciclável. Embora seja o metal mais abundante na crosta terrestre, não é fácil extraí-lo, pois só ocorre na forma de compostos (substância formada por dois ou mais elementos químicos). A maior parte do alumínio que utilizamos vem de um minério (rocha ou mineral que ocorre na natureza e contém um elemento químico metálico) chamado bauxita. Bom condutor de calor, o alumínio não tem gosto nem cheiro, por isso é usado na forma de folhas na cozinha. O alumínio também costuma ser utilizado em aplicações que exigem economia de peso, como por exemplo, na estrutura do avião Concorde. Em contato com o ar reveste-se de uma fina camada de óxido, que preserva o resto do metal da oxidação, mesmo que esteja exposto à umidade. Sua resistência aumenta quando figura em ligas com pequenas porcentagens de cobre e manganês, sendo nesta forma aplicado na aeronáutica e no automobilismo. No comércio é encontrado em lingotes, folhas, tubos e fios, que são empregados na fabricação de diversas utilidades, tais como peças de automóveis, aviões, bicicletas, rádios, utensílios de cozinha, máquinas portáteis de furar e cortar, metros articulados, objetos artísticos, etc. Substitui o cobre nas linhas transmissoras de energia elétrica, quando há necessidade de condutores de pouco peso e maior tenacidade, e em muitas peças de aparelhos elétricos. É também componente de importantes ligas metálicas, como o "metal Delta", e de alguns tipos de bronze. Dos seus compostos, o óxido (coridon) é o mais duro dos metais, depois do diamante; o sulfato é usado nas indústrias de papel/no curtimento de peles e couros e como mordente; o cloreto é importante catalisador em química orgânica e na fabricação de óleos lubrificantes. A criolita foi o primeiro minério empregado para a sua obtenção, mas hoje, está de lado em virtude do descobrimento das minas de bauxita, que contém o metal em maiores proporções. A bauxita é encontrada em nosso país nos municípios de Ouro Preto, Mutuca e Poços de Caldas, todos do estado de Minas Gerais. Outras fontes, porém, tem sido descobertas, mormente, na região de Carajás, ao Nordeste do país, onde se espera montar uma das maiores fábricas do mundo do produto, com colaboração japonesa. São grandes produtores mundiais de alumínio a Alemanha, Estados Unidos, Canadá, Noruega, França e a ex-URSS. Cobre Origem O cobre, por ser encontrado em estado nativo, tornou-se conhecido desde os tempos mais remotos. O homem do Neolítico, no final da Idade da Pedra, encontrou no cobre um 3 substituto da pedra, empregando-o principalmente em armas e objetos. Sua metalurgia foi iniciada no ano 6000 a.C.. Alguns séculos mais tarde, surgiram as ligas de cobre com outros metais, notadamente como estanho, originando o bronze, marcando o período denominado Idade do Bronze. O período anterior é conhecido como a Idade do Cobre (ou Calcolítica). Obtenção O cobre nativo acha-se difundido na natureza sob a forma de filões, mas, usualmente, em quantidades pequenas. É encontrado, comumente, nas zonas oxidadas dos depósitos de cobre, associado à cuprita Cu2O, à malaquita Cu2CO3(OH)2 e à azurita Cu3(CO3)2(OH)2. Também pode ser encontrada na calcopirita (CuFeS2), sulfeto duplo de ferro e cobre. A obtenção de cobre a partir da calcopirita é feita através das seguintes etapas: a) Trituração e concentração do minério por flotação Este processo consiste em juntar ao minério previamente triturado uma mistura de água e óleo. O óleo envolve os minerais metálicos e a água encharca as impurezas. Em seguida injeta-se uma corrente de ar que faz o óleo espumar na superfície, arrastando com ele os minerais metálicos, de modo que, ao se separar a espuma, têm-se os minerais concentrados. b) Ustulação do minério Ustulação é a queima de um minério qualquer que contenha enxofre. 2CuFeS2 + 5O2 2Cu + 2FeO + 4SO2 O cobre assim obtido apresenta pureza de 97 a 99%. Uma purificação maior é feita por eletrólise, podendo alcançar 99,99% de pureza (cobre eletrolítico). O mais importante depósito de cobre nativo conhecido no mundo encontra-se na península de Keweenaw, ao norte do Estado de Michigan (E.U.A.), na margem meridional do lado Superior. Ali o cobre ocorre em filões que cortam uma série de derrames magmáticos, em degraus, intercalados com conglomerados. O cobre serviu de cimento para unir o conglomerado, tendo penetrado, às vezes, de 30 a 50 cm nos matacões. Além do gigantesco depósito da península de Keweenaw, o cobre nativo é encontrado em New Jersey, na Bolívia (Corocora), no Arizona e na parte setentrional do México. No Brasil, o cobre nativo tem sido encontrado, esporadicamente, em rochas basálticas. Nos basaltos de Grajaú o cobre apresenta-se sob a forma de metal nativo e de sulfetos. No município de Viçosa do Ceará, na encosta da serra de Ibiapaba, ocorrem manchas de malaquita associada aos minerais cuprita, covelita e cobre metálico. O cobre, no Brasil, não provém de jazidas de cobre nativo. As ocorrências não têm interesse econômico, por serem esporádicas, sem qualquer regularidade e volume. É obtido de compostos diversos, que se distribuem pelos Estados e Territórios, formando concentrações que chegam a constituir reservas apreciáveis. As principais jazidas estão localizadas: no município de Jaguarari, na Bahia, onde se encontra a já conhecida mina de Caraíba; no município de Itapeva, em São Paulo, onde se localiza a mina de Santa Blandina; no município de Caçapava do Sul, no Rio Grande do Sul, onde está em operação a mina de Camaquã, que já teve vários períodos de trabalho intenso e outros de paralisação; nos limites dos municípios de Caçapava do Sul e Lavras, região onde se situa a mina de Seival; a mina Cerro dos Martins, situada a 22km da mina de Camaquã; as minas dos Andradas e da Primavera, ainda no Estado do Rio Grande do Sul. As jazidas Niquelândia, em Goiás, onde os minérios de níquel contém cobre na proporção de 0,2% a 1,7%, e as de Vazante, em Minas Gerais, onde os minérios de Zinco contêm cobre recuperável, poderão produzir quantidades de cobre que superam alguns dos depósitos conhecidos. Aplicações 4 Se na Antigüidade o cobre era empregado em armas e utensílios, à medida que se processou o desenvolvimento industrial, suas qualidades tornaram-no um material de aplicações diversificadas. É um ótimo condutor de calor e eletricidade (superado somente pela prata), tendo uso extenso - cerca de 55% da produção em fios elétricos (transmissão de energia, geradores, fios e cabos telegráficos, telefones, iluminação etc.). Além disso, é fácil de ser trabalhado e resistente às intempéries (usado por isso em coberturas para tetos). Seus sais são empregados na agricultura como fungicidas. As ligas como outros metais têm grande importância comercial (principalmente as feitas com o estanho e o zinco - originando o bronze e o latão, respectivamente), embora seja muito freqüente seu uso em forma pura. No Brasil o cobre é principalmente utilizado na fabricação de condutores elétricos (45%) e em ligas (30%). Características O cobre é um metal de coloração vermelha característica, dúctil e maleável, que se cristaliza no sistema isométrico (=cúbico), na classe hexaoctaédrica. Os cristais são usualmente malformados e em grupos ramificados e arborescentes. Apresenta-se em incrustações, na forma de escamas e em massas irregulares; por vezes, chega a formar fios. Sua dureza oscila entre 2½ e 3 e o peso específico entre 8,8 e 8,9. A fratura é serrilhada. As superfícies de fratura, que ficam expostas, perdem o brilho. O cobre metálico nativo, símbolo químico Cu, contém muitas vezes quantidades diminutas de prata, de bismuto, de mercúrio, de arsênio e de antimônio. Funde-se a 1.083ºC, sob a forma de um glóbulo. Dissolve-se prontamente no ácido nítrico, tomando a solução uma cor azul intensa ao juntar-se um excesso de hidróxido de amônio. Pode ser reconhecido por sua cor vermelha nas superfícies recentes, sua fratura serrilhada, sua alta densidade e sua maleabilidade. 5