a apropriação da natureza e as inadequações

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REVISTA CIENTÍFICA ELETÔNICA DE PEDAGOGIA – ISSN: 1678-300X
Ano VIII – Número 16 – Julho de 2010 – Periódicos Semestral
A APROPRIAÇÃO DA NATUREZA E AS INADEQUAÇÕES AMBIENTAIS URBANAS SOB O ENFOQUE
GEOGRÁFICO.
SILVA, Odair Vieira da.
Docente dos Cursos de Pedagogia e Turismo da Faculdade de Ciências Humanas – FAHU/ACEG – Garça/SP
Bacharel e Licenciado em Geografia UNESP/FCT – Presidente Prudente/SP.
Pós-graduado em Ciências Humanas – Cidadania e Cultura – UNICAMP – Campinas/SP.
Pós-graduado em Legislação Ambiental e Turismo – ACEG/FAEF – Garça/SP.
e-mail: [email protected]
RESUMO
Constantemente, quando se aborda temas relacionados à questão ambiental, logo nos remetemos a
questões ou categorias de análise das ciências naturais. O mesmo ocorre quando nos remetemos à
pesquisa e análise das condições socioeconômicas das populações urbanas, recorremos aos vícios das
ciências humanas ou sociais. Essa prática provoca uma fragmentação, dos saberes relacionada às
condições socioeconômicas e sócio-ambientais destas populações. O presente artigo pretende discorrer
sobre os ecossistemas urbanos, bem como a estrutura e a dinâmica de ocupação dos espaços urbanos,
apresentando suas vulnerabilidades ambientais e socioeconômicas, sob a luz dos conhecimentos
geográficos. A ênfase se dará sobre a análise interdisciplinar unindo temas relacionados a questões físicas,
econômicas e sociais.
Palavras Chave: Geografia. Interdisciplinaridade. Meio Ambiente. Urbanização.
ABSTRACT
Constantly, when it is approached themes related to the environmental subject, soon we sent
ourselves to subjects or categories of analysis of the natural science. The same happens when we sent
ourselves to the research and analysis of the socioeconomic conditions of the urban populations, we fell
back upon the addictions of the humanities or social. That practice provokes the fragmentation, of the you
know related to the socioeconomic and partner-environmental conditions of the populations .The present
article, it intends to discourse on the urban ecosystems, the well the the structure and the dynamics of
occupation of the urban spaces, presenting their environmental vulnerabilities socioeconomic, under the light
of the geographical knowledge. The emphasis will feel on the interdisciplinary analysis uniting themes
related to subjects physical, economical and social.
Words Key: Geography. Interdisciplinary. Environment. Urbanization.
A Revista Científica Eletrônica do Curso de Bacharelado em Turismo é uma publicação semestral da Faculdade de Ciências
Humanas de Garça FAHU/FAEF e Editora FAEF, mantidas pela Associação Cultural e Educacional de Garça – ACEG. Rod.
Comandante João Ribeiro de Barros – KM1 – CEP: 17400-000 – Garça/SP – Tel.: (0XX14) 3407-8000 –www.revista.inf.br –
www.editorafaef.com.br – www.faef.br.
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1. INTRODUÇÃO
Os impactos ambientais são causados por elementos que devem ser entendidos de forma
integrada, pois se configuram em grande parte como resultados dos processos de industrialização
e urbanização, a partir da segunda metade do século XVIII. Processos esses intensificados com a
consolidação das sociedades moderna e pós-moderna, trazendo consigo as inadequações
através da apropriação desregrada do espaço natural, bem como no mau uso e ocupação dos
espaços urbanos.
No que tange a análise destas inadequações, percebemos uma fragmentação dos
métodos de pesquisa e categorias de análise, entre as ciências ditas humanas ou sociais e as
ciências naturais. Uma das proposições para se sanar essa pseudodicotomia, seria uma análise
interdisciplinar dos fenômenos relacionados ao ecossistema urbano.
As inadequações oriundas da falta de planejamento de uso e ocupação do espaço urbano,
além de gerarem os evidentes impactos ecológicos e econômicos, geram também os impactos
sociais e psicológicos. É neste sentido, que nos propusemos a analisar essas inadequações
buscando uma visão interdisciplinar entre a aspectos sociais e físicos, através da análise
geográfica.
2. ESTRUTURA ESPACIAL E DINÂMICA URBANA: UMA ABORDAGEM GEOGRÁFICA.
Em termos gerais, os estudos entre homem e natureza ou cidade e meio ambiente ou
entre sociedade e natureza na produção do espaço urbano e na apropriação da natureza têm se
mostrado abstrusos, com abordagens variando com a visão de mundo do analista. Deste modo, a
visão de sociedade e natureza tem derivado para as áreas das ciências naturais ou para as áreas
das ciências humanas ou sociais, predominando uma fragmentação.
Esse paradoxo entre as ciências da natureza e ciências humanas evidencia a grande
disjunção entre ciências da natureza ou ciências da terra e as ciências do homem, as ciências
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humanas. O estatuto social e histórico das ciências naturais, bem como o espírito de cultura que
produzem as ciências naturais é delas excluído. Por outro lado, as ciências humanas não pensam
os homens como seres vivos biologicamente constituídos. Ainda, as ciências antropossociais
adquirem os vícios da especialização, sem nenhuma de suas vantagens. Os conceitos de
indivíduo, de sociedade, que recobrem várias disciplinas, estão dilacerados entre elas, sem poder
ser reconstituídos pelas tentativas interdisciplinares. Configura-se uma epistemologia da
complexidade, uma interdisciplinaridade. (MORIN, 1987).
Por outro lado, a interdisciplinaridade na relação entre sociedade e natureza tem sido
apontada por alguns como um caminho que apresenta maiores possibilidades para as ciências
humanas se articularem com outros campos disciplinares, no entanto corremos o risco de se
naturalizar os objetos sobre os quais se exercita. (MORAES, 1994).
Assim a complexidade entre sociedade e natureza de acordo com Souza (1994), fica
demonstrada pelo fato da:
Ciência natural não ter nenhum meio de se conceber como realidade social: a
ciência antropossocial não tem nenhum meio de se conceber no seu enraizamento
biofísico. Isso significa, em última instância, que a ciência não controla sua própria
estrutura de pensamento. (SOUZA, 1994, p. 31).
Dessa maneira,
a questão essencial da metodologia geográfica – o método cientifico se fundou sobre
uma disjunção entre o sujeito e objeto. O sujeito foi enviado ao campo da filosofia moral.
Como equacionar esses problemas da geografia que implica, permanentemente o
conhecimento dessa relação paradoxal entre sujeito e objeto?. (Ibid, p.32).
A partir das propostas das geografias modernistas dos anos oitenta, tem-se uma nova
ótica nos estudos entre sociedade e natureza, ou seja, a questão ambiental ligada à questão
social. Assim Souza (1994), ainda caracteriza as geografias modernistas como:
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Antiempirismo, valorizando a atividade conceitual e a promoção de uma atividade
nomotética que denomina a argumentação, à custa da crítica das ideologias científicas.
São as geografias que se querem integrantes das ciências sociais. Elas se pretendem
utilizáveis e o foram, especialmente na atividade militante e de transformação do mundo;
a referência ao espaço os mobiliza e se transforma num ponto comum. É ele quem vai
permitir repensar a mudança de paradigma que poderia considerar as práticas e
implicações da geografia contemporânea.(Ibid, p. 33).
Deste modo,
O paradigma da geografia contemporânea repousa, sobre a representação do
espaço-sistema, um conjunto em interação: dependência de formas, de
disposições e de dimensões. Trata-se de uma geografia da interação espacial:
geografia mais da situação que do sítio. Este a cada dia é mais sítio social. A
geografia da relação horizontal e vertical – espaço mundo/tempo espaço. (Ibidem,
p. 33).
Estas relações substituem a dicotomia homem/natureza, ou seja, a análise naturalista é
substituída pela análise dialética da relação sociedade/natureza, que emerge da produção de
sistemas sociais que se mantêm, apropriando-se da natureza, organizando-se. Portanto são
essas visões que possibilitam o estudo da relação entre sociedade e natureza na geografia, com a
questão ambiental diretamente ligada à questão social.
Por outro lado, Christofoletti, (1994), ao tratar dos impactos no meio ambiente ocasionados
pela urbanização dos paises localizados na zona climática tropical ou intertropical, salienta na
área da geografia física quatro pontos envolvidos na abordagem desta temática, ou seja:
a) analisar as condições em áreas urbanizadas do mundo tropical, considerando
aspectos que envolvem o cenário de vida das populações humanas, como exemplo o
sanitário e bem-estar. Procura-se caracterizar as circunstancias que consubstanciam a
qualidade de vida da população, analisando-se e avaliando as diferenças que se
relacionam com a estrutura espacial e com a dinâmica urbana. Essa diferenciação
interliga-se com as condições das classes econômicas e também com os setores
espacialmente delineados com predominantes categorias de prestação de serviços (área
central, subúrbios, áreas industriais etc.). A relevância está ligada com a ecologia humana
e com a geografia urbana; b) analisar as características do meio ambiente urbano no
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mundo tropical, salientando os aspectos climáticos, topográficos, hidrológicos, as áreas
verdes, riscos ambientais envolvidos nas áreas urbanizadas e, mostrando as diferenças e
grau de alteração desse sistema urbano em relação às áreas rurais. Vincula-se, de modo
relevante, com a abordagem da geografia física de áreas urbanizadas e com o
delineamento do ecossistema urbano; c) analisar a vulnerabilidade das áreas urbanas do
mundo tropical em face dos azares naturais (terremotos, maremotos, ciclones e tufões,
enchentes, secas, erupções vulcânicas etc.), considerando-se a localização em áreas de
risco ambientais e freqüência desses eventos, assim como a magnitude das perdas
humanas e dos prejuízos materiais envolvidos em tais desastres naturais. Encaixa-se nos
estudos da dinâmica do meio ambiente, focalizando-se os eventos de alta magnitude e
baixa freqüência e vulnerabilidade da organização socioeconômica. Nos países do mundo
tropical observa-se uma maior vulnerabilidade na perda de vidas humanas e menores
cifras nos prejuízos materiais; d) analisar os impactos ambientais no meio ambiente
ocasionados pela urbanização no mundo tropical, considerando as transformações
provocadas nos ecossistemas e geossistemas, diretamente pela construção de áreas
urbanizadas e indiretamente pela sua ação de influencias e relações. (
CHRISTOFOLETTI, 1994, p. 129-130).
A citação acima, apesar de extensa, delimita o campo de atuação da geografia física em
termos de estudos sobre a cidade e o meio ambiente, sendo que, as linhas “a” e “b” podem ser
tratadas mais profundamente, em termos de questão ambiental ligada à questão social.
Dessa maneira, na relação urbanização meio ambiente, o desconhecimento da geografia
local e dos movimentos da natureza conjuntamente com a falta de um planejamento racional da
urbanização produz a degradação ambiental. Contribuem para este quadro: a impermeabilização
da maior parte da superfície das áreas urbanas; a implantação equivocada da malha urbana em
desrespeito às características topo-pedológicas locais; a solução centralizada para os esgotos
sanitários e para as águas pluviais; a elevação do albedo nas áreas construídas ou pavimentadas;
a operação de sistemas em regime de fluxo aberto, ou seja, lixo não reciclado, efluentes
industriais e esgotos não reaproveitados; a utilização de combustíveis não renováveis, poluentes e
esgotáveis; a utilização da atmosfera, das águas e do solo como destino de resíduos não tratados
e a insuficiência de vegetação entre outras características.
Como ressalta Callai (1993),
[...] os rios que corriam naturalmente, por exigência do crescimento
urbano/demográfico são desviados de seus cursos, canalizados e capeados; são,
também, depósitos de lixo e locais de concentração de poluição com sólidos,
insetos, odores etc. Ocorrem alterações hidrodinâmicas nas vertentes, enquanto a
impermeabilização de superfícies pelas massas de asfalto reduzem a infiltração da
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água do escoamento superficial. A vazão se concentra nos vales ou vai direto aos
córregos que, por sua vez, têm vertentes alteradas por construções e estradas,
por calçadas, por cultivos até os limites ou por falta de vegetação adequada nas
margens. Há mudanças no clima local e, quando ocorrem grandes enxurradas, a
vazão excepcional sempre traz conseqüências mais ou menos trágicas. (CALLAI,
1993, p. 51).
Assim,
[...] as cidades se aquecem, formando ilhas de calor, sofrem enchentes, erosão e
racionamentos de água e energia, tem o ar , o solo e as águas superficiais
poluídas pelos dejetos e resíduos e assistem ao esgotamento de seus recursos
naturais. O nível da qualidade de vida se reduz drasticamente, à medida em que
se consolida a implantação do tecido urbano convencional, com elevado impacto
ambiental. (SILVA; MAGALHÃES, 1993, p. 36).
As questões destacadas anteriormente, são ainda mais ofensivas, quando se trata da
expansão do perímetro urbano em áreas periféricas. Nestas, essas questões atuam
conjuntamente com assoreamentos, lançamentos de esgotos, deposição de lixo doméstico
próximo as nascentes, destruição da cobertura vegetal natural, aterramento de nascentes,
erosões e ravinamentos. Neste contexto, as relações entre urbanização e meio ambiente são mais
críticas.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
As bases físicas e materiais em que se assentam as cidades apresentam certas
características peculiares do lugar. No entanto, a organização social e econômica das sociedades
humanas para ocupação do espaço urbano é responsável pelas mudanças históricas nos
ambientes naturais, quando se apropriam destes espaços, transformando-os e alterando-os. A
apropriação da natureza pela cidade provoca desmatamentos ao longo dos rios, riachos e
nascentes, desvios do curso dos córregos, eliminam as áreas verdes pelas construções.
A artificialização do meio natural assume um caráter anti-social e anti-ambiental, na
medida em que provoca a dilapidação do meio ambiente e secundariza o bem estar do cidadão,
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pois as transformações realizadas na cidade, com a expansão do perímetro urbano e a falta de
infraestrutura básica, a sobrevivência do ser humano, tanto agridem a integridade social do
cidadão, como afetam os ecossistemas dessas áreas periféricas para onde os moradores de
menor poder aquisitivo são impelidos.
Nesta perspectiva, afirmamos a importância dos estudos sobre a temática ambiental de
maneira interdisciplinar, abordando aspectos das ciências naturais e sociais, com intuito de
minimizar os impactos ambientais e garantir a melhoria na qualidade de vida de todos os
cidadãos.
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CALLAI, H. C. A cidade e a (re) criação da relação homem-natureza. São Paulo: Revista
Ciência & Ambiente, 1993, p. 43-53.
CHRISTOFOLETTI, A, Impactos no meio ambiente ocasionados pela urbanização. In: SOUZA,
M.A. et alii. Natureza e sociedade de hoje : uma leitura geográfica. São Paulo: HUCITEC, 1994,
p. 127-139.
MORAES, A. C. R. Meio ambiente e ciências humanas. São Paulo: Hucitec, 1994.
MORIN, E. O método I – a natureza da natureza. Lisboa: Biblioteca Universitária, 1987.
SILVA, R. S; MAGALHÃES, H. Ecotécnicas urbanas. São Paulo: Revista Ciência & Ambiente,
1993, p. 33 - 42.
SOUZA, M. A. A. O ensino da geografia na virada do século. In: SOUZA, M. A. A. et ali. Natureza
e sociedade hoje: uma leitura geográfica. São Paulo: Hucitec, 1994, p. 29-35.
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