UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE - UNESC CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO DE RECURSOS NATURAIS. MICHELE MEZARI OLIVEIRA COMPOSIÇÃO E ESTRUTURA DE UM REMANESCENTE FLORESTAL DE ENTORNO A ÁREA DEGRADADA PELA EXTRAÇÃO DE ARGILA: SUBSÍDIO PARA RECURAÇÃO AMBIENTAL. CRICIÚMA, NOVEMBRO DE 2008 UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE - UNESC CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO DE RECURSOS NATURAIS. MICHELE MEZARI OLIVEIRA COMPOSIÇÃO E ESTRUTURA DE UM REMANESCENTE FLORESTAL DE ENTORNO A ÁREA DEGRADADA PELA EXTRAÇÃO DE ARGILA: SUBSÍDIO PARA RECURAÇÃO AMBIENTAL. Monografia apresentada à Diretoria de Pósgraduação da Universidade do Extremo Sul Catarinense- UNESC, para a obtenção do título de especialista em Gestão de Recursos Naturais. Orientador: Prof.( MSc). Rafael Martins CRICIÚMA, NOVEMBRO DE 2008 Aos meus pais, Antonio e Margarete pelo apoio e todos os sacrifícios e esforços dedicados. AGRADECIMENTOS A Deus, único capaz de dar força para seguirmos nos momentos mais difíceis. A minha família, pelo apoio e amor dedicado. Ao meu orientador, Prof. MSc. Rafael Martins, pelos conhecimentos transmitidos, paciência e competência. A todos que direta ou indiretamente contribuíram para a realização deste trabalho. RESUMO Realizou-se um levantamento fitossociológico em remanescente florestal de entorno a área degradada pela extração de argila no município de Morro da Fumaça, SC. O remanescente estudado ocupa uma área total de três hectares formados por Floresta Ombrófila Densa Submontana. Aplicou-se o método de quadrantes e considerou-se os parâmetros fitossociológicos de densidade, freqüência, dominância e valor de importância. Foram amostrados 200 indivíduos, sendo 48 espécies pertencentes a 28 famílias e 45 gêneros. As famílias com maiores números de espécies foram Lauraceae (12,5%), Myrtaceae (8,3%) Anonnaceae, Euphorbiaceae e Leguminosae (6,2%). As espécies que apresentaram maiores FR foram: Euterpe edulis (19,16%) Alchorneoides e Jacaranda puberula (8,98 %). O remanescente florestal estudado não pode ser considerado uma área bem preservada, já que foi isolado do restante da vegetação original pelo desmatamento causado pela mineração de argila. O presente estudo não pretende sugerir modelos de recuperação, já que cada área tem suas características, mas sugere-se o uso de técnicas com o objetivo de utilizar técnicas que venham auxiliar na colonização da área por novas espécies e na inter-relação entre as mesmas. Palavras-chave: Floresta Ombrófila Densa; Fitossociologia; Recuperação de áreas degradadas. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO................................................................................................................. 7 2 OBJETIVOS ................................................................................................................... 12 2.1 Geral .......................................................................................................................... 12 2.2 Específicos ................................................................................................................. 12 3 MATERIAL E MÉTODOS ............................................................................................ 13 3.1 Área de estudo............................................................................................................ 13 3.2 Metodologia ............................................................................................................... 15 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO..................................................................................... 18 4.1 Composição Florística ................................................................................................ 18 4.2 Estrutura Fitossociológica .......................................................................................... 28 4.3 Aplicação do presente estudo na recuperação das áreas degradadas ............................ 32 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................... 37 7 REFERÊNCIAS .............................................................................................................. 39 7 1 INTRODUÇÃO No decorrer de sua evolução, o homem caminha em busca de novas tecnologias, novas alternativas para melhorar sua qualidade de vida. Mas por estas ações, infelizmente, os recursos naturais vêm sendo gravemente degradados e com poucas alternativas de recuperação. Com a evolução tecnológica e industrial e a busca incessante pelo consumo, com todo esse aumento populacional aliado à má distribuição de riqueza, tem transformado o homem numa ameaça aos demais seres do planeta, pois para garantir nossa sobrevivência estamos dizimando toda a biosfera. A necessidade de conscientização da humanidade pela preservação dos recursos naturais, como forma de garantir a sobrevivência das espécies vivas, inclusive a nossa é uma questão prioritária. Por isso, é crescente o número de trabalhos científicos em busca de respostas e possíveis soluções para os problemas ambientais. Muitos acreditam na incompatibilidade entre desenvolvimento e preservação do meio ambiente. Porém o desenvolvimento pode ser sustentável, ou seja, capaz de suprir as necessidades atuais sem o comprometimento das necessidades das futuras gerações. Uma sociedade sustentável é aquela que não coloca em risco o ar, a água, a terra, a flora e a fauna, dos quais nossa vida depende. Desenvolvimento sustentável refere-se, assim, à melhoria da qualidade de vida humana, respeitando-se ao mesmo tempo os limites da capacidade de provisão dos ecossistemas nos quais vivemos. (BEAZLEY, 1993). Para Gadotti (2000) a educação para um futuro sustentável é mais ampla do que uma educação ambiental ou escolar. A sensibilização e a formação ético-política de setores cada vez maiores da opinião pública são essenciais para deslanchar um processo mais sólido e criar as condições sociais mais propícias que possibilitem a sustentabilidade social e 8 econômica. A informação generalizada e a mudança de valores estão na base desse movimento. A implantação do conceito de desenvolvimento sustentável esbarra no conhecimento dos tomadores de decisão (governos e instituições) em relação á realidade. (VIANA, 1999) Para o mesmo autor, seria mais oportuno mudar para um novo paradigma o “envolvimento sustentável”, que seria o conjunto de políticas e ações direcionadas para fortalecer o envolvimento das sociedades com os ecossistemas locais, fortalecendo e ampliando laços sociais, econômicos, culturais, espirituais e ecológicos, com objetivo da busca da sustentabilidade em todas as dimensões citadas. (VIANA, 1999). Na prática, na maioria das vezes o desenvolvimento sustentável não funciona, pois, segundo Simões et al. (2003) faltam conhecimento técnico-científicos que embasem as práticas sustentáveis, sendo que, quando existentes, são de difícil acesso aos interessados, pois se encontram restritos ao meio acadêmico. Encontrar por exemplo o equilíbrio entre conservação e desenvolvimento da Mata Atlântica brasileira num domínio onde vivem 60% da população brasileira é um desafio muito grande. (BRASIL, 2000) Com mais de seis mil espécies endêmicas de plantas e reduzida de sua extensão original a menos de 8%, a expressão Mata Atlântica desde o descobrimento do Brasil, designou a exuberante floresta que recobria uma extensa faixa litorânea do Rio Grande do Norte até o Rio Grande do Sul. Inicialmente a Mata Atlântica recobria, aproximadamente, 1,1 milhões de metros quadrados, 12% do território nacional, com uma biodiversidade impressionante (SATO, 1995) Fatores como a grande variação latitudinal, variação de altitudes, contatos temporários com a floresta amazônica durante os períodos interglaciais, além a presença de 9 muitos ecossistemas associados: campos de altitude, mangues, brejos, restinga e outros fazem da floresta atlântica, um dos ecossistemas de maior diversidade biológica do planeta. (ALMEIDA, 2000) A Mata atlântica, de acordo com o Decreto Federal 750/1993, abrange as seguintes formações florestais e ecossistemas associados: floresta ombrófila densa atlântica, floresta ombrófila mista, floresta ombrófila aberta, floresta estacional semidecidual e brejos orográficos no Nordeste. Essas florestas apresentam fisionomias e diversidade bastante variáveis, ainda assim mantêm grande unidade florística. No entanto existe uma grande preocupação com a Mata Atlântica e com alguns de seus aspectos geográficos atuais, o tamanho diminuto e a fragmentação cada vez maior de suas áreas remanescentes. A fragmentação de hábitat, que é o processo de redução e isolamento da vegetação natural, tem conseqüências sobre a estrutura e os processos das comunidades vegetais. Além da evidente redução na área original dos habitats, estudos relatam extinções locais, alteração na abundância e composição de espécies que levam a alteração, ou mesmo a perda, dos processos naturais das comunidades. (SCARIOT et al., 2003) Com referência à biodiversidade na área de domínio da Floresta Atlântica, podese notar que, baseado nos atuais níveis de degradação desse ecossistema, sua biodiversidade já está comprometida, onde certamente muitas espécies já foram extintas antes mesmo de serem descritas pela ciência (ALMEIDA, 2000). Atualmente, o bioma Mata Atlântica vêm sendo explorados de forma irracional pelo homem. A mineração é uma destas atividades antrópicas que causam grande dano ambiental, pelas alterações que provoca na superfície terrestre e pela fragmentação de ecossistemas florestais. 10 Para Sánchez (2006) “degradação ambiental pode ser conceituada como qualquer alteração adversa dos processos, funções ou componentes ambientais, ou como uma alteração adversa da qualidade ambiental. Degradação de uma área, de acordo com IBAMA (1990), ocorre quando a vegetação nativa e a fauna forem destruídas, removidas ou expulsas: a camada fértil do solo for perdida, removida ou enterrada; e a qualidade e regime de vazão do sistema hídrico forem alterados. A degradação ambiental ocorre quando há perda de adaptação ás características físicas, químicas e biológicas e é inviabilizado o desenvolvimento sócio-econômico. O DECRETO Nº 97.632/1989 em seu artigo 2º conceitua degradação como “os processos resultantes dos danos ao meio ambiente, pelos quais se perdem ou se reduzem algumas de suas propriedades, tais como, a qualidade ou capacidade reprodutiva dos recursos ambientais”. O processo minerador proporciona uma desconfiguração do terreno e uma completa alteração da paisagem. Estas alterações causam impactos topográficos, vegetativos, hídricos, entre outros na área de influência direta da mineração. Na região de Morro da Fumaça, a mineração de argila é o grande causador de problemas ambientais, já que este minério é muito utilizado pelas indústrias cerâmicas para fabricação de tijolos e telhas, em seu trabalho Cardozo (2006) destaca que “as atividades desenvolvidas pelas indústrias de cerâmica vermelha e de revestimento, localizadas em Morro da Fumaça, são consideradas potencialmente poluentes em relação à extração de argila e ao uso inadequado dos recursos florestais. Faz-se necessário um trabalho de preservação e reabilitação desses recursos.”. Na maioria das vezes a área impactada pela extração de argila não é recuperada, causando riscos à população pelo abandono, pois se tornam normalmente grandes cavas 11 alagadas, além de outros prejuízos ao ambiente como: alteração do perfil hídrico, comprometimento da vegetação ciliar, assoreamento e aceleração de processo erosivo, etc. Em planos de recuperação e manejo ambiental são avaliados os remanescentes de vegetação mais próximos ao local da pesquisa. Este remanescente de vegetação de entorno de uma área degradada é de suma importância ser avaliado e estudado, pois mostra quais espécies vegetais existiam na área antes da degradação. Antes de definir o sistema que será adotado para o reflorestamento, deve-se proceder à avaliação dos fatores de degradação e do potencial auto-regenerativo das áreas, obtido pelo histórico de uso e proximidade da fonte de propágulos. (RODRIGUES; GANDOLFI, 2002) Para Araújo et al. (2005) uma investigação do local compreende a revisão das informações existentes sobre os fatores climáticos, topográficos, botânicos e outros, que provavelmente afetariam a revegetação. Uma análise do local deve incluir informações sobre microclima, solo, topografia e vegetação de entorno. O mesmo autor diz que a principal vantagem de se utilizarem espécies nativas é que elas estão disponíveis localmente e devem estar adaptadas às condições climáticas e outras do local. Mas para que, a recuperação da área degradada seja eficiente será necessário também o aproveitamento da capacidade que a própria natureza possui de se restabelecer através da sucessão ecológica, onde se considera a área degradada como ponte partida para o restabelecimento de novas espécies. (REIS et al., 1999) Neste sentido o mesmo autor citado sugere que, através da sucessão ecológica deverá ser previsto e provocado o aparecimento de diferentes espécies, da flora e da fauna, devendo se considerar as etapas sucessionais e reconhecendo em quais estágios, os diferentes grupos ecológicos de espécies ficarão inseridos. (REIS et al., 1999) 12 2 OBJETIVOS 2.1 Geral Estudar a vegetação remanescente de entorno de uma área degradada pela extração de argila no bairro São Simão, município de Morro da Fumaça, como subsídio para proposta de recuperação da mesma área. 2.2 Específicos Determinar a composição florística e a estrutura fitossociológica de um remanescente de entorno a uma área degradada pela extração de argila. Classificar as espécies amostradas quanto aos seus aspectos sucessionais, síndromes de polinização e de dispersão. Propor subsídios a recuperação da área degradada pela extração de argila com base no estudo da vegetação remanescente. 13 3 MATERIAL E MÉTODOS 3.1 Área de estudo A área do presente estudo está localizada no bairro São Simão, município de Morro da Fumaça, sul do estado de Santa Catarina (Fig. 1). A área, degradada pela extração de argila (Fig 2) tem uma extensão de dois hectares e o entorno desta área ocupa área total de três hectares, cobertos por Floresta Ombrófila Densa Submontana. Figura 1: Mapa espacial de localização da área degradada pela extração de argila no início de seu processo. (Disponível em Google Earth, acesso em outubro de 2008) 14 Figura 2: Vista da área, ressaltando a região degradada pela extração de argila. Conforme contato com a proprietária do terreno Edite da Soller Mezari, a partir da década de 30 seus pais passaram a cultivar na área arroz e feijão. O cultivo continuou até meados da década de 80. Anos após a Sra. Edite arrendou a terra para extração de argila para um amigo, proprietário de uma cerâmica de tijolos próximo ao local. A extração iniciou no ano de 1990 e a degradação da área persistiu durante 12 anos. A mineração terminou seus trabalhos há 05 anos e deixou marcas, a área simplesmente foi deixada plana, cercados por paredões de argila, mas de forma geral em desconformação com o restante dos 06 hectares pertencentes a Sra Edite. A altura da extração é de aproximadamente 03 metros em alguns pontos e atualmente a área encontra-se tomada por gramíneas e espinheiros, espécies invasoras de locais degradados e também por espécies de Bambu. 15 No entorno da área citada existe um remanescente de vegetação nativa, sendo que este poderá auxiliar no projeto para a revegetação da área a ser recuperada. Também próximo a área degradada existe uma área residencial. Na região de Criciúma, principalmente no município de Morro da Fumaça a utilização da argila para produção de telhas e tijolos tem grande importância no contexto econômico. Entretanto essa atividade provoca a degradação do solo causando graves problemas ambientais pelo uso intenso desses recursos. As atividades desenvolvidas pelas indústrias de cerâmica vermelha, localizadas na região de Criciúma e Morro da Fumaça, são consideradas potencialmente poluentes em relação à extração de argila e ao uso inadequado dos recursos florestais. As extensas áreas degradadas por esta atividade na região de Criciúma e Morro da Fumaça /SC representam um problema ambiental e econômico de valor que requer o apontamento de possíveis soluções, sendo esta necessidade, a motivadora da realização deste trabalho. As conseqüências ambientais destas atividades incluem a destruição de terras agrícolas e florestas, alterações e assoreamento nos cursos d água, erosão do solo, dispersão e destruição da fauna que habitava aquele ecossistema. As áreas mineradas tornam-se impróprias para o plantio e para qualquer tipo de utilização, inclusive para a habitação. Os passivos ambientais aumentam em função do uso progressivo de novas áreas para extração pelos proprietários das indústrias cerâmicas que precisam utilizar outras áreas assim que os recursos se esgotam. 3.2 Metodologia Para o estudo florístico e fitossociológico foi aplicado o método de quadrantes (point-centered quarter method), de acordo com Cottam e Curtis (1956). Foram alocados 50 16 pontos de amostragem e utilizou-se a distância de 10m entre um ponto e outro e medidos os diâmetros dos caules a 1,30 m do solo (DAP) maiores ou iguais a 5 cm e estimada a altura das árvores. Para os indivíduos com caules ramificados, foi considerada a presença de pelo menos uma ramificação com o critério mínimo de inclusão. A suficiência amostral foi determinada pela curva espécie-área (MUELLERDOMBOIS; ELLENBERG, 1974), que correlaciona o aumento do número de espécies com o aumento do número de pontos amostrais. As técnicas de coleta e processamento do material botânico seguiram as recomendações de Fidalgo e Bononi (1984). As identificações foram realizadas com auxílio da bibliografia especializada, principalmente da Flora Ilustrada Catarinense (REITZ 19651989; REIS 1989-2004) e consultas a herbários regionais como: Herbário Pe. Dr. Raulino Reitz da UNESC (CRI) de Criciúma, SC; do Departamento de Botânica da UFSC (FLOR) de Florianópolis, SC e do Departamento de Botânica da UFRGS (ICN) de Porto Alegre, RS, além de consultas a diversos especialistas. No estudo florístico, a apresentação das famílias seguiu-se as propostas de Tryon e Tryon (1982) para Pteridophyta e APG II (2003) para Magnoliophyta. O material botânico coletado, após identificado, encontra-se depositado no acervo do Herbário Pe. Dr. Raulino Reitz (CRI), da Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC), Criciúma, SC. Foram calculados os parâmetros fitossociológicos de freqüência (F), densidade (D) e dominância (Do), absolutas (A) e relativas (R), valores de importância (VI) conforme Mueller-Dombois e Ellenberg (1974) e Matteucci e Colma (1982). As espécies amostradas foram enquadradas em categorias sucessionais (grupos ecológicos) segundo Budowski (1965, 1970), que identifica quatro grupos de espécies arbóreas: Pioneiras, Secundárias Iniciais, Secundárias Tardias e Climácicas. 17 Para definição das síndromes de polinização e de dispersão, seguiram-se os princípios de Faegri e Van der Pijl (1979) e Van der Pijl (1972), respectivamente. 18 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO 4.1 Composição Florística Foram amostrados 200 indivíduos, pertencentes 28 famílias, 45 gêneros, totalizando 48 espécies (Tab. 1). Tabela 1: Relação das espécies de pteridófitas e de angiospermas com DAP ≥ 5cm amostradas no levantamento florístico-fitossociológico com indicação dos Grupos Ecológicos (G.E.) e Estratégias de Polinização (Poli) e Dispersão (Disper), em uma área de Floresta Ombrófila Densa Submontana no município de Morro da fumaça, SC, onde: Pio = pioneira, Sin = secundária inicial, Sta = secundária tardia, Cli= climácica; Ane = anemófila, Zoof = zoófila e Auto = autocoria, Zoo = zoocoria e Ane = anemocoria. Estratégia Família/ Nome científico G.E. Poli Disper Annonaceae Guatteria australis A.St.-Hil. Sta Zoof Zoo Rollinia sericea R.E.Fr. Sta Zoof Zoo Rollinia rugulosa Schl. Sta Zoof Zoo Pio Zoof Zoo Euterpe edulis Mart. Cli Zoof Zoo Syagrus romanzoffiana (Cham.) Glassman Sta Zoof Zoo Pio Zoof Ane Pio Zoof Ane Sta Zoof Zoo Pio Zoof Ane Apocynaceae Taberneomontana catharinensis A.DC. Arecaceae Asteraceae Vernonia discolor (Spreng.) Less. Bignoniaceae Jacaranda puberula Cham. Chrysobalanaceae Hirtella hebeclada Moric. ex DC. Clethraceae Clethra scabra Pers. Cunnoniaceae 19 Lamanonia ternata Vell. Pio Zoof Ane Cli - - Cli Zoof Zoo Alchornea tripinervia (Spreng.) Müll.Arg Sin Zoof Zoo Pera glabrata (Schott) Poepp. ex Baill. Sta Anemo Zoo Sebastiana comersoniana seeds. Sin Zoof Zoo Ocotea puberula Rich.) Nees. Sta Zoof Zoo Nectandra lanceolata Nees et Mart. ex Nees. Sta Zoof Zoo Endlicheria paniculata (Spreng.) J.F.Macbr. Sta Zoof Zoo Nectandra membranacea (Sw.) Griseb. Sta Zoof Zoo Aiouea saligna Meisn. Sta Zoof Zoo Persea venosa Nees & Mart. ex Nees Sta Zoof Zoo Piptadenia gonoacantha (Mart.) Macbr. Pio Zoof Auto Inga striata Benth. Sin Zoof Zoo Mimosa bimucronata (DC.) Kuntze. Pio Zoof Auto Sin Zoof Zoo Pio Zoof Zoo Cabralea canjerana (Vell.) Mart. Sta Zoof Zoo Cedrela fissilis Vell. Sta Zoof Zoo Cyatheaceae Cyathea delgadii Stern. Elaeocarpaceae Sloanea guianensis (Aubl.) Benth. Euphorbiaceae Lauraceae Leguminosae Malvaceae Pseudobombax grandiflorus (Cav.) A.Robyns Melastomataceae Miconia cabucu Hoehne Meliaceae Monimiaceae 20 Mollinedia schottiana (Spreng.) Perkins Cli Zoof Zoo Maclura tinctoria (L.) D.Don ex Steud Sin Zoof Zoo Ficus luschnatiana (Miq.) Miq. Sta Zoof Zoo Sta Zoof Zoo Myrcia splendens (Sw.) DC. Sin Zoof Zoo Psidium cattleianum Sabine Sta Zoof Zoo Campomanesia guaviroba (DC.) Kiaersk. Sta Zoof Zoo Myrcia spectabilis DC. Sta Zoof Zoo Sin Zoof Zoo Sin Zoof Zoo Sta Zoof Ane Sta Zoof Ane Zanthoxylum rhoifolium Lam. Pio Zoof Auto Esenbeckia grandiflora Mart. Pio Zoof Auto Casearia sylvestris Sw. Sin Zoof Zoo Xylosma cf. pseudosalzmanii Sleumer Sin Zoof Zoo Sin Zoof Zoo Moraceae Myristicaceae Virola bicuhyba (Schott) Warb. Myrtaceae Nyctaginaceae Guapira opposita (Vell.) Reitz Phyllantaceae Hyeronima alchorneoides Fr. All. Proteaceae Roupala brasiliensis Klotzsch Rubiaceae Bathysa australis (A.St.-Hil.) Hook.F. Rutaceae Salicaceae Sapindaceae Matayba juglandifolia Radlk. Urticaceae 21 Cecropia glaziovii Snethl. Pio Zoof Zoo Coussapoa microcarpa (Schott) Rizzini Sta Anemo Zoo As famílias com maiores números de espécies foram Lauraceae (12,5%), Myrtaceae (8,3%) Anonnaceae, Euphorbiaceae e Leguminosae (6,2%) (Fig. 3). Em levantamentos florísticos realizados em florestas de Mata Atlântica na região sul, por Martins (2005) e Santos (2003) também é marcante a presença dessas famílias, o que leva a concluir a similaridade entre as áreas. Figura 3: Distribuição do número total de espécies amostradas por família no levantamento do remanescente florestal de entorno a área degradada no município de Morro da Fumaça, SC. Mantovani (1993) ressalta que em áreas de Floresta Atlântica bem preservadas do Estado de São Paulo, Myrtaceae, Rubiaceae, Lauraceae e Euphorbiaceae são as famílias predominantes na ordem que seguem. No presente estudo estas famílias se encontram entre as seis mais representadas em número de espécies, o que caracteriza, em termos de riqueza florística, o aspecto preservado da área estudada. Com base no exposto acima, pode-se considerar o fragmento estudado como em bom estado de conservação, mas não próximo de condições originais características da 22 floresta ombrófila densa. O remanescente como é um fragmento florestal sofre o efeito de borda, este efeito causa perda de espécies, invasão de espécies exóticas, uma vez que esses locais tornam-se mais iluminados, secos e quentes e muitas delas não suportam tais condições. Além destes problemas, também é uma conseqüência da fragmentação: a erosão do solo, perda da qualidade de recursos hídricos, alteração na distribuição das espécies, dificuldades das espécies de manterem populações viáveis mínimas e inclusão de algumas espécies no vórtice a extinção. Segundo a Resolução 04/94 do CONAMA (BRASIL, 1994) e considerando suas definições, pode-se dizer que o remanescente estudado encontra-se em estágio médio de regeneração, por apresentar diversidade biológica significativa, características florísticas semelhantes e serrapilheira presente. Apesar de apresentar algumas espécies típicas de Floresta Ombrófila Densa Submontana, o remanescente apresenta em seu entorno espécies exóticas como o eucalipto. Salientando, que próximo a área ainda existe uma plantação de Pinus sp. e isto pode gerar problemas, afinal esta espécie é exótica e estas em geral criam problemas em algum momento no futuro, como, suscetibilidade a insetos ou doenças, a exclusão de outra vegetação desejável, inibição do ciclo de nutrientes, exclusões da fauna, uso excessivo de água, etc. No presente estudo de acordo com a classificação de Budowski (1965, 1970) as espécies foram agrupadas como pioneiras, secundárias iniciais, secundárias tardias e climácicas (Fig. 4) 23 8% 23% 46% 23% Climácicas Sec. Tardia Sec. Inicial Pioneira Figura 4: Caracterização das espécies amostradas no levantamento fitossociológico em Siderópolis, de acordo com suas categorias sucessionais. O enquadramento de espécies em grupos ecológicos (categorias sucessionais) é um subsídio que diversos autores desenvolveram para melhor entender o processo de sucessão que ocorre nas florestas tropicais, essa visão resulta do estudo da dinâmica de clareiras (BUDOWSKI, 1965; WHITMORE, 1978; DENSLOW, 1980; HARTSHORN, 1980; BROKAW, 1985; MARTINEZ-RAMOS, 1985; GÓMEZ-POMPA et al. 1988; BROKAW; SCHEINER 1989). Caracterizando as espécies de acordo com seus grupos ecológicos, 54% das espécies se enquadram dentro dos estádios avançados da sucessão (secundárias tardias e climácicas), enquanto 46% dos estádios iniciais (pioneiras e secundárias iniciais), o que também caracteriza o estádio médio de regeneração da vegetação. As espécies do início da sucessão (pioneiras e secundárias iniciais) desempenham alto valor ecológico na comunidade durante o processo sucessional, pelo fato de se desenvolverem em clareiras, e em áreas degradadas, apresentarem rápido crescimento, curto ciclo de vida, produzirem muitas sementes dispersas por agentes generalistas e formarem o banco de sementes com viabilidade por longo período (GÓMEZ-POMPA, VASQUEZ- 24 YANES, 1981; WHITMORE, 1978). A retirada dessas espécies impede o avanço do processo sucessional, impossibilitando que espécies não pioneiras (secundárias tardias e climácicas) se instalem, para formar a estrutura definitiva da floresta (KAGEYAMA; SANTARELI 1994; KAGEYAMA, GANDARA 2000). Reis (1993) aponta para a estagnação de grande parte das formações secundárias de Santa Catarina e condiciona essa estagnação, muitas vezes, à ausência de fontes de propágulos provenientes de formações primárias, que mantenham o processo sucessional, sendo que a ausência dessas áreas dificulta o avanço da sucessão florestal. A fauna associada à vegetação pode ser considerada componente chave para a manutenção do processo dinâmico-sucessional nas formações florestais secundárias, dentre essas interações destacam-se a polinização e a dispersão. A Figura 5 apresenta as espécies agrupadas de acordo com suas síndromes de polinização. 4% 2% 94% Anemofilia Zoofilia Pteridófita Figura 5: Distribuição das espécies amostradas no levantamento fitossociológico em fragmento florestal no município de Morro da fumaça, SC, de acordo com suas síndromes de polinização. 25 A polinização é um dos mecanismos mais importantes na manutenção e promoção da biodiversidade, haja vista que a maioria das plantas dependem dos agentes polinizadores para sua reprodução sexuada e, em contrapartida, os recursos florais constituem as principais fontes de alimento para diversos grupos de animais (ALVES-DOS-SANTOS, 2003). No presente estudo os animais são responsáveis pela polinização de 94% das espécies, enquanto o vento é responsável pela polinização de 4%, 2% corresponde a pteridófita amostrada que não se enquadra neste contexto. Um fator preponderante relacionado à polinização é a fragmentação de hábitats que nossas formações florestais vêm sofrendo nas últimas décadas, estendendo seus efeitos sobre os polinizadores e coseqüentemente sobre as plantas, sendo objeto de estudo de diversos autores, que buscam estabelecer a susceptibilidade dos polinizadores e das plantas com o quadro de fragmentação existente hoje (MAWDSLEY et al,. 1998; DONALDSON et al., 2002; ASHWORTH et al., 2004) Allen-Wardell et al. (1998) demonstram que as populações de muitas plantas nativas e seus polinizadores estão diminuindo devido ao aumento da fragmentação florestal e de áreas degradadas e prevêem que cerca de 20.000 espécies de plantas dentro das próximas décadas terão declínio em suas populações devido à relação de interdependência com seus polinizadores. Além da polinização, a dispersão é outra importante interação entre fauna e flora. A dispersão de sementes constitui mais um dos mecanismos essenciais para a dinâmica da floresta, conseqüentemente influenciando na regeneração natural das populações (ZAMBONIM, 2001; TABARELLI; PERES, 2002). No presente estudo foram encontradas 77% de espécies zoocóricas, 8% autocóricas e 13% anemocóricas (Fig. 6). 26 2% 13% 8% 77% Anemocoria Autocoria Zoocoria Pteridófita Figura 6: Distribuição das espécies amostradas no levantamento fitossociológico em fragmento florestal no município de Morro da fumaça, SC, de acordo com suas síndromes de dispersão. Howe e Smallwood (1982) salientam que cerca de 50 a 90% das espécies arbóreas nas florestas tropicais são dispersas por animais e essa depêndencia é decorrente de várias características atrativas como a morfologia, cor e odor dos frutos. Opler et al. (1980) relacionam as síndromes de dispersão com a classificação sucessional, onde nas espécies pioneiras predominam a anemocoria e a autocoria, enquanto nos estádios mais tardios predominam a zoocoria. Budowski (1965), analisando os estádios sucessionais das florestas tropicais, verificou a participação dos animais no processo de dispersão de sementes desde os estádios pioneiros até os mais avançados. A diferença está nos estádios avançados (com mais de 100 anos) onde há a participação de animais de maior porte como mamíferos e roedores, além da autocoria ser também mais freqüente. O processo de dispersão representa a ligação entre a última fase reprodutiva da planta com a primeira fase de recrutamento da população. Sem a dispersão das sementes, a 27 progênie estaria fadada à extinção e a regeneração se tornaria impossível, sendo que em alguns casos, espécies de plantas que perderam seus dispersores estariam ameaçadas de extinção local (CHAPMAN; CHAPMAN, 1995; GALETTI et al. 2003). Segundo Silva (2003), comparada com a polinização, a dispersão apresenta uma dinâmica muito mais complexa, pois não existe adaptações morfológicas evidentes que indiquem alto grau de co-evolução entre os agentes dispersores (vertebrados na sua maioria) e as plantas dispersas (angiospermas com frutos carnosos ou sementes ariladas). O referido autor ressalta ainda que o processo de dispersão tem início com a retirada do diásporo da planta, mas que não existem garantias de que a semente será depositada num local adequado. Ainda não são conhecidos em detalhes os mecanismos de dispersão de sementes por animais, não se conhecendo também benefícios imediatos nesse mutualismo tão freqüente na natureza. Tomando o contexto de fragmentação dos ecossistemas florestais, a dispersão de sementes constitui importante forma para recuperação e manutenção desses remanescentes. A dispersão das sementes está estreitamente relacionada aos processos de recuperação de áreas degradadas e de regeneração natural, onde os dispersores atuam como catalisadores sucessionais, acelerando a recolonização da vegetação nativa (ROBINSON; HANDEL, 1993; WUNDERLE JR., 1997). Macclanahan e Wolfe (1993) caracterizam os dispersores como facilitadores ou aceleradores do processo de sucessão ecológica, salientando que em áreas fragmentadas e degradadas a ausência de fontes de propágulos de grandes distâncias pode reduzir a taxa de retorno da vegetação, acarretando a persistência de paisagens dominadas por baixa diversidade e por vegetação de estádio sucessional inicial. Esta fragmentação é responsável por muitas transformações físicas e biológicas ocorrentes nesses fragmentos, destacando a diminuição de hábitats e a insularização, 28 conseqüentemente as populações de espécies são reduzidas e padrões de dispersão e migração são interrompidos, resultando em uma progressiva erosão da diversidade biológica (TABARELLI et al., 1999). Em áreas mineradas, Parrota et al. (1997) destacam que a proximidade de remanescentes de florestas primárias ou em estádios avançados de regeneração à áreas fragmentadas e/ou degradadas, exercem papel fundamental na diversidade e abundância da regeneração natural. Padrões gerais sustentam a hipótese de que a ausência de potenciais fontes de propágulos pode ser fator limitante para a sucessão, conforme for a distância das áreas degradas em relação a florestas preservadas. Outro fator inerente à fragmentação de hábitats e a dispersão de sementes é o tamanho dos fragmentos, o que acarreta aumento no efeito de borda, que é responsável pela diminuição da umidade, aumento da concentração de luz e elevação da temperatura, afetando o recrutamento e sobrevivência de plântulas e/ou plantas, além da fragmentação estar relacionada como causa potencial do rompimento do mutualismo-chave que inclui a polinização e a dispersão de sementes (GALETTI et al., 2003). 4.2 Estrutura Fitossociológica A figura 7 representa o número cumulativo de espécies por área (unidades amostrais) para as espécies com DAP ≥ 5 cm amostradas no levantamento fitossociológico no município de Morro da Fumaça, SC. 29 Figura 7: Curva do número cumulativo de espécies por unidade amostral no levantamento fitossociológico, Morro da fumaça, SC. Analisado a figura 7 pode-se observar tendência à estabilização, podendo-se considerar a amostragem representativa da florística local. A tabela 2 apresenta as 48 espécies identificadas no levantamento fitossociológico, ordenados em ordem decrescente de valor de importância (VI), com uma densidade total por área de 1552 indivíduos.ha-1. Tabela 2: Espécies arbóreas amostradas no levantamento de 50 pontos pelo método de quadrantes com os respectivos valores dos parâmetros fitossociológicos considerados: DA (Densidade absoluta), DR (Densidade relativa), FA (Frequência absoluta), FR (Freqüência relativa), DoA (Dominância relativa), Dor (Dominância relativa) e VI (Valor de importância) DA DoA DR (%) FA (%) FR (%) DoR (%) VI (ind.ha¯ ¹) (m².ha¯ ¹) Espécie Euterpe edulis 442 28,50 64,00 19,16 28,51 11,42 59,08 Hyeronima alchorneoides 116 7,50 30,00 8,98 49,04 19,63 36,12 Jacaranda puberula 132 8,50 30,00 8,98 5,56 2,23 19,71 Alchornea tripinervia 62 4,00 16,00 4,79 24,17 9,68 18,47 Casearia sylvestris 85 5,50 20,00 5,99 7,74 3,10 14,59 Cyathea delgadii 93 6,00 16,00 4,79 5,55 2,22 13,01 Cabralea canjerana 62 4,00 14,00 4,19 11,18 4,48 12,67 Piptadenia gonoacantha 31 2,00 8,00 2,40 19,11 7,65 12,04 Miconia cabucu 23 1,50 6,00 1,80 16,72 6,69 9,99 30 Inga striata Matayba juglandifolia Virola bicuhyba Bathysa australis Guatteria australis Cecropia glaziovii Rollinia sericea Mollinedia schottiana Myrcia splendens Roupala brasiliensis Ocotea puberula Lamanonia ternata Maclura tinctoria Hirtella hebeclada Psidium cattleianum Syagrus romanzoffiana Ficus luschnatiana Clethra scabra Sloanea guianensis Cedrela fissilis Coussapoa microcarpa Nectandra lanceolata Endlicheria paniculata Pseudobombax grandiflorus Zanthoxylum rhoifolium Guapira opposita Campomanesia guaviroba Taberneomontana catharinensis Vernonia discolor Mimosa bimucronata Pera glabrata Xylosma pseudosalzmanii Myrcia spectabilis Rollinia rugulosa Nectandra membranacea Sebastiana comersoniana Esenbeckia grandiflora Aiouea saligna Persea venosa TOTAL 31 39 31 31 23 16 16 23 23 8 16 8 8 16 16 8 16 16 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 1552 2,00 2,50 2,00 2,00 1,50 1,00 1,00 1,50 1,50 0,50 1,00 0,50 0,50 1,00 1,00 0,50 1,00 1,00 0,50 0,50 0,50 0,50 0,50 0,50 0,50 0,50 0,50 0,50 0,50 0,50 0,50 0,50 0,50 0,50 0,50 0,50 0,50 0,50 0,50 100,00 8,00 10,00 8,00 8,00 6,00 4,00 4,00 6,00 6,00 2,00 4,00 2,00 2,00 4,00 4,00 2,00 4,00 4,00 2,00 2,00 2,00 2,00 2,00 2,00 2,00 2,00 2,00 2,00 2,00 2,00 2,00 2,00 2,00 2,00 2,00 2,00 2,00 2,00 2,00 334,00 2,40 2,99 2,40 2,40 1,80 1,20 1,20 1,80 1,80 0,60 1,20 0,60 0,60 1,20 1,20 0,60 1,20 1,20 0,60 0,60 0,60 0,60 0,60 0,60 0,60 0,60 0,60 0,60 0,60 0,60 0,60 0,60 0,60 0,60 0,60 0,60 0,60 0,60 0,60 100,00 7,22 4,46 5,82 2,34 4,83 6,98 5,39 1,75 0,94 5,95 3,02 5,07 4,30 1,29 1,04 3,71 0,88 0,58 2,62 2,50 2,05 0,92 0,88 0,88 0,88 0,83 0,79 0,70 0,55 0,49 0,48 0,38 0,35 0,32 0,27 0,27 0,18 0,16 0,12 249,78 2,89 1,78 2,33 0,94 1,93 2,79 2,16 0,70 0,38 2,38 1,21 2,03 1,72 0,52 0,42 1,48 0,35 0,23 1,05 1,00 0,82 0,37 0,35 0,35 0,35 0,33 0,32 0,28 0,22 0,20 0,19 0,15 0,14 0,13 0,11 0,11 0,07 0,06 0,05 100,00 7,29 7,28 6,73 5,33 5,23 4,99 4,36 4,00 3,67 3,48 3,41 3,13 2,82 2,72 2,61 2,58 2,55 2,43 2,15 2,10 1,92 1,47 1,45 1,45 1,45 1,43 1,42 1,38 1,32 1,30 1,29 1,25 1,24 1,23 1,21 1,21 1,17 1,16 1,15 300,00 31 Com relação à densidade das espécies amostradas no levantamento, Euterpe edulis detém o maior valor, com 442 indivíduos/hectare, diferindo entre outros estudos realizados em Santa Catarina, como o de Santos (2003) que estudou dois fragmentos florestais, no primeiro fragmento apresentou 234 indivíduos/hectare de Euterpe edulis e no segundo fragmento 56 indivíduos/hectare e o de Citadini-Zanette (1995) que encontrou 344 indivíduos/hectare. Comparando os trabalhos e o número relativamente alto do palmiteiro no presente estudo, entende-se este remanescente como bem preservado com relação a esta espécie. Klein (1990) ressalta a alta densidade de Euterpe edulis para as formações da floresta atlântica, perfazendo cerca de 30% a 50% dos indivíduos do interior da floresta. No presente estudo ocupa 15,81% do componente arbóreo. O número relativamente pequeno de palmiteiro, em relação aos números citados anteriormente, é explicado pelas alterações que o remanescente estudado sofreu ao longo do tempo através da exploração de espécies com valor econômico, entre elas o palmiteiro. As demais espécies com maior valor de densidade foram: Jacaranda puberula com 132 indivíduos, Hyeronima alchorneoidei (116), Cyatea delgadii (93), Casearia sylvestris (85), Alchornea tripinervia e Cabralea canjerana com 62 indivíduos, Matayba juglandifolia (39), Piptadenia gonoacantha, Inga striata, Virola bicuhyba e Bathysa australis com 31 indivíduos. Quanto à freqüência de espécies, Euterpe edulis possui distribuição espacial mais ampla, acumulando 19,16% de freqüência relativa, seguida por Hyeronima alchorneoides, Jacaranda puberula cada espécie com 8,98%, Casearia sylvestris com 5,99% e Alchornea tripinervia e Alchornea tripinervia cada espécie com 4,79% e Cabralea canjerana com 4,19%. As demais espécies apresentaram valores menores que 2,99%, demonstrando que a 32 grande maioria das espécies aparecem com baixa freqüência, indicando distribuição agrupada dos indivíduos. O maior valor de dominância relativa (DR) foi obtido por Euterpe edulis com 28,50%, Jacaranda puberula com 8,50%, Hyeronima alchorneoides com 7,50%, Cyatea delgadii com 6,00%, Casearia sylvestris com 5,50%, Alchornea tripinervia e Cabralea canjerana ambas com 4,00%. As demais espécies apresentaram dominância relativa inferior a 2,00%. Com relação aos altos índices de valores de importância (VI), Euterpe edulis apresenta o maior índice com 59,08 % do valor de importância total, por apresentar os maiores valores de densidade e frequência, Hyeronima alchorneoides com 36,12%, Jacaranda puberula 19,71%, Alchornea tripinervia com 18,47%, Casearia sylvestris 14,59%, Cyathea delgadii 13,01%, Cabralea canjerana com 12,67%, Piptadenia gonoacantha 12,04%, Miconia cabucu com 9,99%. As demais espécies apresentaram valor de importância menor que 7,29%. A posição de destaque de Euterpe edulis em todos os parâmetros fitossociológicos, foi também evidenciada em outros estudos recentes, principalmente quanto aos altos valores de densidade Citadini-Zanette (1995), Santos (2003), Martins (2005) e Colonetti (2008). 4.3 Aplicação do presente estudo na recuperação das áreas degradadas Através do levantamento feito no remanescente florestal de entorno a área degradada, foram identificadas espécies que podem ser utilizadas na recuperação da área degradada pela extração de argila, já que o solo onde foi feito o levantamento das espécies é idêntico ao da área a ser recuperada e as espécies extintas provavelmente são as mesmas do 33 levantamento e se adaptarão mais facilmente. O presente estudo não pretende sugerir modelos de recuperação, já que cada área tem suas características. O parâmetro Valor de Importância tem sido utilizado para estabelecer o comportamento das espécies dentro de uma comunidade. Espécies que estão bem representadas dentro das comunidades, através de grande densidade, dominância e freqüência, representam aquelas que ecologicamente estão equilibradas. (REIS; KAGEYAMA, 2000). No presente estudo podemos citar algumas espécies dentro deste embasamento, tais como: Euterpe edulis por se destacar em todos os parâmetros citados, Jacaranda puberula e Hyeronima alchorneoides, por apresentar altos valores de dominância, densidade e freqüência. Contrariamente, espécies onde os valores de densidade, dominância e freqüência são muito baixos, devem segundo este ponto de vista, apresentar problemas de adaptação ao ambiente (REIS; KAGEYAMA, 2000), desta forma, podendo não contribuir no processo de recuperação de uma área. O conhecimento de grupos ecológicos, parte constituinte deste estudo, é fundamental para o entendimento dos processos de sucessão. A utilização de espécies pioneiras nas fases iniciais representa uma grande vantagem pela rápida colonização dessas espécies na área (REIS et al., 1999). Leitão Filho et al. (2002) ressalta a necessidade desse conhecimento ecológico na recuperação quando questiona: Quais espécies plantar? Quanto plantar de cada espécie? Como efetivar este plantio? Primeiramente conhecer as espécies que caracterizam a área, de modo a conhecer remanescentes florestais de entorno às áreas degradadas e as espécies que o compõem. Outro fator importante é em que proporção essas espécies aparecem na comunidade, sendo a fitossociologia ferramenta ideal no conhecimeto desse processo, buscando a compreensão das 34 associações de espécies na comunidade, as interações destas espécies entre si e com seu meio (MARTINS, 2004). A partir desses conhecimentos podem-se então traçar as diretrizes para a recuperação de determinada área, respeitando as relações entre os diferentes grupos ecológicos. A partir do conhecimento obtido da área, das espécies que a caracterizam, da proporção que as espécies aparecem na comunidade vegetal e das interações destas espécies entre si e com seu meio pode-se traçar diretrizes para a recuperação de determinada área, respeitando as relações entre diferentes grupos ecológicos. (MARTINS, 2005) De acordo com Reis et al. (2006) a seleção de espécies para processos de restauração deve primar pelas plantas que se caracterizam pela formação de cadeias alimentares complexas dentro dessas áreas. Estas cadeias, sempre que possível, devem ser implantadas de forma natural e espontânea, mas, no início do processo de restauração, sugerese ações no sentido de empregar técnicas que venham auxiliar sua colonização. Cardozo (2006) através de sua proposta para reabilitação de área degradada pela extração de argila e areia no município de Morro da Fumaça sugere que em o local minerado deve ser protegido com cercas e deixá-lo como área de regeneração espontânea. Contribuindo para o incremento da biodiversidade e para a aceleração na regeneração da mata, deve-se enriquecer a área através do plantio de arvores e outras espécies nativas. Para o presente estudo salienta-se a importância do remanescente florestal na regeneração espontânea da área através da dispersão de sementes, contribuindo com a recuperação. A regeneração natural pode ser entendida como um processo que funciona com três mecanismos: chuva de sementes, banco de sementes no solo e banco de plântulas e jovens, sendo que os três mecanismos funcionam de forma integrada, havendo diferenças nas respostas ecológicas entre as espécies, no que se refere às suas características biológicas reprodutivas e de sobrevivência. (NUNES, 2006) 35 Segundo a mesma autora, a regeneração natural tem um papel fundamental no aumento da diversidade, contribuindo com indivíduos novos das espécies já existentes, aumentando a abundância, e de espécies novas, aumentando a riqueza de espécies. A capacidade reprodutiva e a sobrevivência de muitas espécies vegetais dependem das relações co-evolutivas com espécies animais, incluindo dispersores de sementes, polinizadores, protetores contra predadores e outras interações naturais. A fauna deve ser considerada como um dos elementos componentes do ambiente, sendo um dos responsáveis pela sua configuração, não devendo, portanto, ser vista somente como um “habitante” deste ambiente. Além deste aspecto, a fauna tem papel fundamental na pedogênese e recuperação dos solos, seja na reciclagem de nutrientes ou no revolvimento de suas camadas (IBAMA, 1990). Algumas técnicas nucleadoras, contribuem com uma maior resiliência para a recuperação ambiental, tais como: transposição do solo, transposição da chuva de sementes, poleiros artificiais, transposição de galharia. A transposição do solo é uma forma de nucleação que propicia o transporte do banco de sementes, larvas de insetos, invertebrados e uma microbiota diversificada para os ambientes degradados. A transposição de chuva de sementes alimenta o banco de sementes local e inicia uma entrada mensal de material genético que no futuro poderá garantir os recursos de forma distribuída no tempo. O uso de poleiros artificiais ajuda a atrair a avifauna, principalmente do remanescente do entorno. A distribuição na área de troncos, pedaços de madeira e galhos em pilhas, bem como instalar estruturas para abrigo, nidificação, pouso e alimentação, fornecendo micro-habitats e abrigos para a fauna. 36 A transposição de galharia ou outras fontes de matéria orgânica disponível no remanescente florestal fornece abrigo e ambientes para a procriação na área a ser recuperada. A utilização de ações nucleadoras, capazes de proporcionar uma maior resiliência na sucessão secundária de áreas degradadas, representa um compromisso em reproduzir processos sucessionais primários e secundários iniciais Ainda de acordo com o mesmo autor, a definição de técnicas nucleadoras para uma determinada área deve primar pela utilização do maior número possível, pois estas irão se completar no sentido de formar mais rapidamente uma comunidade estabilizada. Quanto maior o número de ações nucleadoras maiores serão as chances de aumento do ritmo sucessional. A criação de corredores ecológicos entre fragmentos próximos e integrando o remanescente a área recuperada ajuda no aumento da diversidade de espécies. Na recomposição topográfica, a criação de ondulações e depressões, fornece diversidade do habitat. 37 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS A mineração, em todas as suas formas, seja de carvão, argila ou outros produtos explotados no sul catarinense, constitui ainda importante fonte de renda para a região carbonífera sul catarinense. No entanto há necessidade de discussão sobre a forma de explotação dos recursos minerais até recentemente praticada, uma vez que não se pode deixar de considerar o impacto ambiental causado por esta atividade. A região sul catarinense mostra-se atualmente comprometida em sua qualidade ambiental, sendo as atividades relacionadas à mineração responsáveis por passivo ambiental significativo existente hoje. O remanescente florestal estudado não pode ser considerado uma floresta primária, já que foi isolado do restante da vegetação original pelo desmatamento causado pela mineração de argila no município de Morro da fumaça, SC. Apresenta-se descaracterizada, sendo o remanescente florestal estudado o único em estádio mais avançado de regeneração, próximo a extensas áreas degradadas e urbanizadas, o que denota o isolamento da área estudada. A fragmentação tem grande conseqüência na sobrevivência de plantas e animais dependentes da vegetação florestal alterando também as interações ecológicas existentes dentro dos ecossistemas florestais. Esta fragmentação tem importante conseqüência na sobrevivência de plantas e animais dependentes da vegetação florestal. Para essas espécies, os fragmentos são mosaicos de hábitats, onde a presença ou não de recursos alimentares e sua abundância, podem formar uma colcha de retalhos, estando tais populações condicionadas a cada retalho do ambiente onde existem hábitats favoráveis e alimentação (CERQUEIRA et al,. 2003). 38 Mas para a recuperação de ambientes degradados, os fragmentos florestais são de suma importância já que estes possuem, ainda que de forma defasada, as espécies florestais que existiam na área de entorno antes da degradação. A caracterização sucessional é importante para subsidiar futuras decisões sobre estratégias de conservação, recuperação e manejo dos fragmentos florestais. Isto porque as espécies de cada categoria sucessional exigem diferentes condições ambientais para crescer, desenvolver-se e reproduzirem-se, aspectos que devem ser considerados quando do plantio dessas espécies no campo. (RODRIGUES; GANDOLFI, 1996) Considerando-se a grande biodiversidade e o potencial biológico, econômico e social da floresta atlântica, entende-se a necessidade de manter e manejar estes últimos fragmentos florestais, conservando a grande biodiversidade ainda existente (ALMEIDA, 1996) Nesse contexto, reporta-se para a necessidade urgente de preservação das áreas adjacentes à mineração de carvão, pois tais fragmentos florestais são responsáveis pela recuperação dessas áreas, principalmente quando em estádios avançados de regeneração, abrigando alta diversidade de espécies. 39 7 REFERÊNCIAS ALMEIDA, D.S. Recuperação ambiental da Mata Atlântica. Ilhéus: Editus, 2000. 130 p ARAUJO, G.H.S. et. al. Gestão Ambiental de áreas degradadas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil. 2005. 320 p. BITAR, O. Y. Avaliação da recuperação de áreas degradadas por mineração na região metropolitana de São Paulo. Tese (Doutorado engenharia mineral) Escola Politécnica da USP. 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