universidade federal do rio grande do norte centro de ciências exatas e da terra departamento de fı́sica teórica e experimental programa de pós-graduação em fı́sica EVOLUÇÃO DA ATIVIDADE CROMOSFÉRICA, ABUNDÂNCIA DE LÍTIO E ROTAÇÃO DAS ESTRELAS ANÁLOGAS E GÊMEAS SOLARES francys anthony da silva natal-rn 2013 francys anthony da silva EVOLUÇÃO DA ATIVIDADE CROMOSFÉRICA, ABUNDÂNCIA DE LÍTIO E ROTAÇÃO DAS ESTRELAS ANÁLOGAS E GÊMEAS SOLARES Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Fı́sica do Departamento de Fı́sica Teórica e Experimental da Universidade Federal do Rio Grande do Norte como requisito parcial para a obtenção do grau de mestre em Fı́sica. Orientador: Prof. Dr. José Dias do Nascimento Jr. natal-rn 2013 A Maria Anunciação Gomes da Silva e Júlia Maria Gomes Agradecimentos • À minha famı́lia, minha mãe Maria Anunciação, minha avó Júlia Maria e meu irmão Maurı́cio Bruno, pelo apoio, dedicação e confiança em mim, durante a busca dos meus objetivos. À minha companheira, Tayane Barbosa, por tudo que você tem feito por mim em todos esses anos, principalmente por me aturar (o que não é tarefa fácil). • Ao meu orientador, Dr. José Dias do Nascimento Jr., por sua orientação, paciência infinita e, sobretudo, pela confiança depositada em mim. • À todos os meus colegas do DFTE/UFRN, em especial, aos amigos de sala, Bruno Lustosa, Carlene Paula, Francisco César, Francisco Jânio, Heydson Henrique, Leonardo Linhares e Madson Rubem, pelos conselhos, ensinamentos, discussões, e principalmente pelos momentos hilários vividos. • Aos meus colegas (amigos) de grupo Jefferson Soares e Thacisyo Duarte que sempre estavam dispostos a me ajudar na resolução e assistência de problemas técnicos e cientı́ficos. • À todos os professores do PPGF-UFRN, em particular ao Dr. José Dias do Nascimento Jr., Dr. Dory Hélio Anselmo, Dr. Francisco George Brady, Dr. Luciano Rodrigues e Dr. Gandhi Mohan pelos conhecimentos transmitidos. • Aos funcionários do PPGF-UFRN. • Ao CNPq/CAPES pelo apoio finaceiro . i Na vida, aprendemos com o que vivemos. Abraham Lincoln Resumo O estudo das estrelas do tipo solar inclui também as conhecidas estrelas análogas e gêmeas. Estes objetos tem sido um dos principais objetos de pesquisa da astrofı́sica atual. A comparação direta da atividade solar com os ı́ndices de atividade cromosférica para um conjunto de estrelas muito semelhantes ao Sol (gêmeas e análogas) fornece uma ótima oportunidade de estudar a evolução da atividade estelar em escalas de tempo da ordem do tempo de vida de uma estrela na sequência principal. Neste trabalho trataremos das relações existentes entre a abundância de lı́tio, atividade cromosférica, emissão de raio-X e perı́odo de rotação em termos das idades estelares. Sondaremos a influência da evolução estelar nas propriedades globais das estrelas e nos aspectos ligados a sua atividade coronal, cromosférica e magnética. Nosso objetivo principal é de sondar a lei de decaimento de cada um destes parâmetros com base em uma amostra de estrelas bem relacionadas e classificadas como estrelas análogas e gêmeas solares. Palavras-chave: Gêmeas solares. Atividade. Abundância de lı́tio. iii Abstract The study of solar-type stars also includes the familiar solar analogs and twins. These objects have been one of the major research subjects in astrophysics nowadays. A direct comparison of solar activity with chromospheric activity indices for a set of stars very similar to the Sun (twins and analogs) provides an excellent opportunity to study the evolution of stellar activity on timescales of the order of the lifetime on the main sequence. This work deals with the relationship between the abundance of lithium, chromospheric activity, X-ray emission and rotation period in terms of stellar ages. We explore the influence of stellar evolution in the global properties of the stars and the aspects linked to its coronal, chromospheric and magnetic activity. Our main objective is to probe the law of decay of each of these parameters based on a sample of stars classified as well-connected as analogs stars and solar twins. Keywords: Solar Twins. Activity. Lithium Abundance iv Lista de Figuras 1.1 Diagrama HR . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1.2 Trânsito planetário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 7 2.1 Análise espectral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13 2.2 Efeito α-ω . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20 3.1 Comparação da temperatura efetiva . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24 3.2 Comparação da luminosidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26 3.3 Diagramas HR . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28 3.4 Comparação das massas estelares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30 4.1 Diagrama HR (Base completa) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33 4.2 Diagrama HR (análogas e gêmeas ) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34 4.3 A(Li) vs idade (Takeda et al. 2012) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37 4.4 A(Li) vs idade (do Nascimento et al. 2009) . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39 ′ 4.5 RHK vs idade (Takeda et al. 2012) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41 ′ 4.6 RHK vs idade (do Nascimento et al. 2009) . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42 4.7 LX vs idade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43 4.8 Velocidade angular (Ω) vs idade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45 4.9 Prot vs idade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47 4.10 Prot vs massa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48 4.11 Pcycle × Prot . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50 4.12 N o cycles × Prot . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51 4.13 Distribuição normalizada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53 4.14 Histogramas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55 4.15 Tendências evolutivas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56 4.16 Teste KS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57 v Lista de Tabelas 1.1 Parâmetros de Galeev et al. (2004) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6 2.1 Equações de estrutura interna e evolução estelar . . . . . . . . . . . . . . . 11 3.1 Coeficientes de Flower (1996) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22 3.2 Coeficientes de Casagrande (2010) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23 3.3 Correção Bolométrica (Flower 1996) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25 4.1 Resumo das estrelas gêmeas solares conhecidas . . . . . . . . . . . . . . . . 35 vi Sumário Agradecimentos i Resumo iii Abstract iv Lista de Figuras v Lista de Tabelas vi Sumário viii 1 Introdução 1 1.1 Diagrama Hertzprung-Russel . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1.2 Definindo e classificando as estrelas análogas e gêmeas . . . . . . . . . . . 1.3 A missão CoRoT . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 5 6 1.4 Plano de Trabalho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8 2 Fundamentação teórica 2.1 O código de Evolução Estelar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9 9 2.1.1 Fı́sica dos modelos evolutivos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12 2.2 A abundância de lı́tio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12 2.3 A rotação estelar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14 ′ 2.4 O ı́ndice de atividade cromosférica - RHK . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15 2.5 A emissão de raio-X . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17 2.6 O cálculo do número de Rossby . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18 3 Dados observacionais 21 3.1 Base de dados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21 3.2 Os parâmetros fundamentais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22 3.2.1 A determinação da temperatura efetiva . . . . . . . . . . . . . . . . 22 vii SUMÁRIO 3.2.2 O cálculo da luminosidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24 3.2.3 3.2.4 Análise quanto à precisão dos parâmetros . . . . . . . . . . . . . . . 26 Redeterminação das massas estelares . . . . . . . . . . . . . . . . . 29 4 Análise dos dados e obtenção dos resultados 32 4.1 A análise da amostra . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32 4.1.1 4.1.2 A abundância de lı́tio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36 ′ O ı́ndice de atividade cromosférica - RHK . . . . . . . . . . . . . . . 40 4.1.3 4.1.4 4.1.5 A emissão de raio-X das estrelas análogas e gêmeas solares . . . . . 43 Velocidade angular e a rotação das estrelas análogas e gêmeas . . . 44 Dı́namos estelares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49 4.2 Distribuição estatı́stica da amostra . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53 4.2.1 Distribuição normalizada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54 4.2.2 Teste Kolmogorov-Smirnov (KS ) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55 5 Conclusões e perspectivas 58 5.1 Conclusões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58 5.2 Perspectivas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59 Referências bibliográficas 61 Apêndice A 67 viii Capı́tulo 1 Introdução “Os poetas reclamam que a ciência retira a beleza das estrelas. Mas eu posso vê-las de noite no deserto, e senti-las. Vejo menos ou mais?” Richard Feynman O estudo das estrelas do tipo solar é de grande interesse para a astrofı́sica estelar bem como para o estudo particular da fı́sica solar. A comparação direta da atividade solar global com a atividade cromosférica de um conjunto de estrelas muito semelhantes ao Sol fornece uma oportunidade única para o estudo da evolução contextualizada da atividade solar em escalas de tempo da ordem da evolução na sequência principal1 . De uma maneira geral, podemos dizer que neste trabalho estudaremos as estrelas análogas e gêmeas solares tomando como referência as propriedades do Sol. As estrelas conhecidas como análogas e gêmeas solares e estrelas do tipo solar são de fato estrelas de pouca massa (0.8 ≤ M/M⊙ ≤ 1.2) e de tipo espectral tardio F, G e K. A maior parte destas estrelas tem massas e estado evolutivo similar ao Sol. Fisicamente esta classe de estrelas tem uma estrutura muito semelhante ao Sol e apresentam uma zona convectiva rasa e próxima à superfı́cie. Diferente das estrelas anãs do tipo espectral M, estas estrelas não são completamente convectivas. Tais estrelas apresentam diversas formas de atividade, causada por processos dinâmicos na sua atmosfera. É nesta classe de estrelas que se insere nosso estudo e, consequentemente, as estrelas de nossa base. Mais especificamente, podemos definir uma estrela análoga ou gêmea solar (Cayrel de Strobel et al., 1981 [9]) se tal objeto apresenta parâmetros fı́sicos fundamentais muito próximos 1 Caracteristicamente, escalas de tempo da ordem do tempo de vida na sequência principal, ou seja, 4.5 × 109 anos 1 CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO dos valores estabelecidos para o Sol. Tais parâmetros são: massa, temperatura efetiva, luminosidade, gravidade, velocidade de microturbulência, composição quı́mica e idade. Ainda não está claro se a rotação e a atividade magnética devem compor ou não esta lista de parâmetros comparativos. Na busca por estrelas cada vez mais semelhantes ao Sol, alguns autores (Meléndez & Ramı́rez, 2007 [40]; Pasquini et al., 2008 [49]; Takeda & Tajitsu, 2009 [74]) sugerem a utilização da abundância de lı́tio como um dos parâmetros essenciais na escolha das gêmeas solares. A abundância de lı́tio é reconhecida como uma poderosa ferramenta da astrofı́sica estelar, sobretudo na investigação da mistura interna das estrelas de pouca massa. O lı́tio é utilizado ainda para sondar os processos fı́sicos presentes na convecção e mistura que ocorrem na zona convectiva e abaixo da zona convectiva e pode também ser utilizado como parâmetro para avaliar a idade estelar (Rebolo, 1989 [56]; do Nascimento et al., 2009 [12]). São várias as justificativas para a utilização da abundância de lı́tio no estudo da evolução estelar, devido ao fato que ele é queimado a temperaturas muito baixas (aproximadamente 2.5 × 106 K). Os isótopos do lı́tio são destruı́dos por captura de prótons à baixas temperaturas, e desta forma nos permite explorar a fı́sica do interior estelar. Do ponto de vista evolutivo a destruição do lı́tio é bastante sensı́vel às condições fı́sicas do interior estelar e está também relacionada com parâmetros tais como a massa, idade e metalicidade (Duncan, 1981 [15]; Duncan and Jones, 1983 [16]; Cayrel et al., 1984 [8]; Rebolo et al., 1988 [58]). Inúmeras evidências observacionais indicam que existe uma dispersão na abundância de lı́tio entre estrelas que apresentam idade, metalicidade e massa muito semelhantes entre si (Soderblom et al., 1993a [70]; Boesgaard et al., 1998 [5]). Essa disperção propõe que talvez outra propriedade estelar possa ser responsável por tal comportamento. Observações indicam ainda que a rotação é uma das peças fundamentais na busca por uma explicação sobre a diminuição da quantidade de lı́tio nas estrelas. Reforçando esta idéia, alguns autores procuram por uma relação direta entre a rotação e a abundância de lı́tio em diversos objetos, tais como nas Hyades e Pleiades (Tschäpe e Rüdiger, 2001 [77]; Rebolo e Beckman, 1988 [57]). Devido a grande massa de dados observacionais disponı́veis hoje em dia, podemos utilizar um conjunto de estrelas análogas e gêmeas solares para testar definitivamente a fı́sica por trás da dispersão encontrada na abundância de lı́tio das estrelas de tipo espectral G com massas em torno de 1.0M⊙ . Agora, no que diz respeito a atividade estelar, sabemos que medidas de raio-X são utilizadas na astrofı́sica com o intuito de revelar informação a respeito dos interiores estelares. Particularmente, observações de raio-X pode ser um ótimo indicador da atividade 2 CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO coronal estelar. Assim como o lı́tio, seu fluxo também depende da rotação (Preibisch, 1997 [55]). Portanto, podemos esperar uma relação entre raio-X, rotação e idade. Juntamente a este parâmetro também podemos utilizar o fluxo de Ca ii que é um outro bom indicador da atividade cromosférica. Em resumo, neste trabalho iremos tratar as possı́veis relações existentes entre a abundância de lı́tio, atividade cromosférica, emissão de raio-X e perı́odo de rotação em função das idades das estrelas do tipo solar. A idéia fundamental é testar a influência da evolução estelar sob estes parâmetros para um grupo bem escolhido de estrelas genuinamente análogas e gêmeas solares. 1.1 Diagrama Hertzprung-Russel Um importante instrumento na astrofı́sica estelar é o diagrama HR (Ver figura 1.1). Este diagrama representa de uma maneira simples e eficiente a relação existente entre a luminosidade de uma estrela e sua temperatura efetiva, sendo esta última a medida da região mais externa e visı́vel de uma estrela: a fotosfera. Essa relação entre luminosidade e temperatura foi percebida de maneira independente pelo dinamarquês Ejnar Hertzsprung (1873-1967), em 1911, e pelo americano Henry Norris Russell (1877-1957), em 1913. Eles perceberam que estrelas que possuı́am a mesma temperatura, porém diferentes tamanhos, possuı́am também valores distintos de luminosidades. Este fato está nitidamente relacionado com o fluxo de energia emitido pela superfı́cie. Tal fluxo é descrito através da lei de Stefan-Boltzmann, 4 L = 4πσR2 Tef f, (1.1) onde R é o raio estelar e Tef f é sua temperatura efetiva e σ a constante de StefanBoltzmann (σ ≈ 5.67 × 10−5 erg cm−2 s−1 K −4 ). A partir do diagrama HR, os dois astrônomos passaram a classificar as estrelas em anãs (as de baixa luminosidade) e gigantes (estrelas com alta luminosidade), uma vez que estrelas de uma mesma classe espectral podem apresentar diferentes valores de luminosidade. Por definição, as estrelas anãs têm classe de luminosidade V, as estrelas gigantes classe de luminosidade II ou III. Esta interdependência fica clara quando é analisada em um diagrama HR. Um outro fato muito interessante mostrado por esta representação é que a maior parte das estrelas conhecidas localizam-se em uma faixa diagonal, chamada de sequência 3 CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO Figura 1.1: Diagrama HR mostrando a relação da luminosidade com a temperatura efetiva e o tipo espectral para diversos tipos de estrelas. Nesta representação a maioria das estrelas estão localizadas em uma região chamada sequência principal (faixa diagonal). Durante este estágio as estrelas estão fundindo hidrogênio em hélio no núcleo. Na parte superior do diagrama estão localizadas as estrelas mais massivas e mais brilhantes, as quais queimam hélio no núcleo e hidrogênio nas camadas acima do núcleo. Por fim, na parte inferior da figura localizam-se as estrelas que se encontram no estágio final da evolução, conhecidas como anãs brancas.2 principal. Durante aproximadamente 90% de sua vida, uma estrela queima hidrogênio no núcleo gerando energia pela fusão nuclear e convertendo todo o hidrogênio em hélio. Quando todo o hidrogênio é consumido no núcleo, a estrela começa o seu estágio evolutivo seguinte. As estrelas deixam a sequência principal e seguem com a geração de outros elementos quı́micos em seu interior. Nessa fase pós-sequência principal, a estrutura interna das estrelas passa por diversas mudanças que acabam influenciando sua luminosidade e temperatura efetiva. Essas alterações em seu interior geram outras fases do processo evolutivo de uma estrela. O principal parâmetro que determina o tempo de permanência de uma estrela na sequência principal, assim como também seu estágio final, é a sua massa. Estrelas alta2 Figura 1.1 - Fonte: https://www.mtholyoke.edu/courses/mdyar/ast100/HW/hr diagram big.jpg 4 CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO mente massivas, localizadas na parte superior do diagrama, consomem rapidamente (em alguns milhões de anos) o hidrogênio nuclear. Isto faz com que elas permaneçam pouco tempo na sequência principal. Por outro lado, estrelas de pouca massa ficam por muito mais tempo na sequência principal. O estágio final de uma estrela pode terminar de várias formas, muito embora cerca de 95% das estrelas tornem-se anãs brancas. A fase final de cada estrela é determinada, principalmente, por sua massa inicial, assim como também se a estrela fizer parte de um sistema binário ou múltiplo. Estrelas com massas entre 0.45M⊙ ≤ M ≤ 8M⊙ passarão de sua fase gigante para supergigante, e em seguida ejetarão suas camadas externas sob forma de nebulosa planetária e terminarão como uma anã branca. Já estrelas com massas entre 8M⊙ ≤ M ≤ 25M⊙ , após transformar-se em uma supergigante, ela liberará quase toda sua massa em uma explosão, chamada de supernova, e acabará como uma estrela de nêutrons. Por fim, a etapa mais crı́tica na evolução estelar, estrelas com massas superiores a 25M⊙ transformam-se em buracos negros após a explosão de uma supernova. 1.2 Definindo e classificando as estrelas análogas e gêmeas A busca por estrelas idênticas ao Sol teve seu inı́cio por volta dos anos 70 com o trabalho de Hardorp (1978) [26] e desde então estas estrelas vêm sendo cada vez mais objetos de estudos cientı́ficos de diversos grupos de pesquisa ao redor do mundo. Em 1981, Cayrel de Strobel e colaboradores definiram, com base em dados fotométricos, quais parâmetros seriam necessários para que uma estrela fosse classificada como uma gêmea solar. Dentro de uma margem de erro, uma estrela é classificada como gêmea ou análoga se possuir parâmetros semelhantes ao Sol: temperatura efetiva, massa, gravidade, metalicidade, idade, ı́ndice de cor, composição quı́mica, etc. Recentemente, Galeev et al. (2004) [22] definiu que a similaridade fotométrica não seria suficiente para determinar se uma estrela poderia ser considerada uma boa análoga solar. Por isso uma análise mais rigorosa se fez necessário, para distinguir-se estrelas gêmeas e análogas. A tabela 1.1 apresenta algumas caracterı́sticas necessárias na distinção entre análogas e gêmeas solares, conforme sugerido por Galeev et al. (2004). A estrela HD 146233, conhecida também como 18 Sco, proposta por Porto de Mello & da Silva (1997) [54], é reconhecida na literatura como sendo uma das estrelas mais semelhantes ao Sol. Esta estrela possui basicamente todos os parâmetros muito próximos aos valores solar. Em 2007, foi descoberta uma estrela ainda mais parecida com o Sol. A 5 CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO Parâmetro Análoga Gêmea Sol Tef f (K) 5200 - 6200 5720 - 5820 5770 log g(dex) 4.0 - 4.7 4.35 - 4.55 4.44 [F e/H](dex) ± 0.30 ± 0.05 0.00 Mbol (mag) 4.2 - 5.2 4.5 - 5.0 4.75 M ass(M⊙ ) 0.8 - 1.2 0.9 - 1.1 1.0 Age(Gyr) 0.5 - 10 4-5 4.5 Tabela 1.1: Parâmetros estelares segundo o estudo de Galeev et al. (2004) estrela HIP 56948 (Meléndez et al., 2012 [39]), também conhecida como HD 101364. Esta estrela está localizada na constelação do Dragão e encontra-se à 200 anos-luz da Terra. Mais a frente, na seção 4.1, apresentamos outros detalhes sobre estas e outras importantes gêmeas solares conhecidas nos dias de hoje. 1.3 A missão CoRoT Missões como Hipparcos (ESA), CoRoT (CNES) e Kepler (NASA) são as principais responsáveis pelo aumento do número de gêmeas solares. Dentre os dados utilizados nesta dissertação, fizemos uso de um grupo de estrelas observadas pelo satélite CoRoT e classificadas como análogas solares. A missão espacial CoRoT teve o objetivo de observar cerca de 120 mil estrelas cujo propósito principal era detectar planetas extrasolares semelhantes a Terra, além de estudar a sismologia estelar. Esse projeto começou a ser desenvolvido em 1994 por cientistas franceses do CNES3 em conjunto com a ESA4 , alguns paı́ses europeus (Alemanha, Aústria, Bélgica e Espanha) e o Brasil. O nome do satélite reúnem os principais objetivos da missão e significa ‘COnvection, ROtation and planetary Transit’. Após a descoberta do primeiro planeta extrasolar (Mayor & Queloz, 1995 [38]), esta missão tornou-se pioneira na busca direta por exoplanetas rochosos com dimensões e caracterı́sticas semelhantes a Terra. O CoRoT foi lançado por um foguete russo (Soyuz) em dezembro de 2006 do cosmódromo de Baikonur (Cazaquistão), base de lançamento de algumas das mais importantes 3 Centre National d’Études Spatiales - é uma agência governamental francesa, fundada em 1961, responsável pela polı́tica espacial do paı́s. 4 European Space Agency - é uma organização internacional, constituı́da por 20 paı́ses, dedicada a exploração espacial 6 CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO missões espaciais. O satélite possui aproximadamente 4m de comprimento e pesa cerca de 630kg. O CoRoT é mantido em uma órbita circular polar a 896km de altitude, e ainda é equipado por uma plataforma Proteus5 composto por um telescópio afocal de 27cm de diâmetro e 4-CCDs (charge-coupled device), sensor capaz de detectar pequenas variações na intensidade da luz das estrelas. A estratégia observacional do CoRoT foi de se manter “fixo”observando a mesma região do espaço durante cinco meses ininterruptos. Com isso é possı́vel detectar perı́odicas variações no brilho da estrela, caso um planeta ou uma mancha passe em frente a mesma (trânsito planetário). Essa obstrução da luz de uma estrela faz com que sua intensidade sofra mudanças regulares em sua curva de luz (figura 1.2). A detecção de curtos perı́odos de variação do brilho estelar garante a existência de planetas rochosos, visto que encontramse mais próximos da estrela-mãe. É possı́vel também Figura 1.2: Diminuição do bridescobrir o tamanho (raio) e perı́odo orbital desses lho de uma estrela devido a pas6 planetas. Através da sismologia estelar é possı́vel son- sagem de um planeta. dar a estrutura interna das estrelas estudando ondas acústicas que se propagam de seu interior até a superfı́cie. O CoRoT é capaz de detectar pequenas mudanças em seu brilho causadas pelos “tremores”de ondas acústicas produzidas em seu interior. A asterosismologia, um dos objetivos da missão CoRoT, tem como finalidade estudar os diversos modos de vibração estelar ocasionados pelas interações gravitacionais, força de Coriolis e pressão interna. A análise da frequência, amplitude e o tempo de vida desses modos de vibração podem fornecer os dados necessários para se determinar a estrutura interna da região convectiva e da região de transição entre as zonas radiativa e convectiva (tacoclina), assim como o perfil interno da rotação. O satélite CoRoT permaneceu em funcionamento por mais de 7 anos ajudando os cientistas a descobrirem cerca de 40 novos exoplanetas. A previsão da missão era de pelo menos 3 anos, mas acabou sendo extendida até 2013, quando parou de funcionar devido a uma pane no sistema de transmissão de dados, embora os outros sistemas ainda estejam em operação. 5 Plate-forme Reconfigurable pour l’Observation, les Télécommunications et les Usages Scientifiques: Plataforma reconfigurável para observação, telecomunicações e uso cientı́fico 6 Figura 1.2 - Fonte: http://www.brighthub.com/science/space/articles/102693 7 CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO 1.4 Plano de Trabalho A organização desse trabalho é feita da seguinte forma. No primeiro capı́tulo apresentamos a introdução ao problema e alguns princı́pios básicos a respeito do que será discutido. No capı́tulo 2 é apresentada a base de dados utilizada no presente trabalho. No terceiro capı́tulo serão discutidos parte da teoria e os princı́pios fı́sicos envolvidos neste estudo. No quarto capı́tulo serão expostos os resultados e discussões. Por último serão expostas as conclusões e perspectivas. 8 Capı́tulo 2 Fundamentação teórica e descrição dos parâmetros fı́sicos “Existem muitas hipóteses em ciência que estão erradas. Isso é perfeitamente aceitável, eles são a abertura para achar as que estão certas.” Carl Sagan Neste capı́tulo descreveremos algumas das grandezas fı́sicas utilizadas na nossa análise, assim como parâmetros fı́sicos evolutivos que utilizamos na fundamentação e construção dos nossos resultados. Começaremos com uma breve descrição do código evolutivo, o qual foi uma das principais ferramentas utilizadas na determinação do estado evolutivo de nossas estrelas. 2.1 O código de Evolução Estelar A modelagem matemática de uma estrela é assunto fundamental para o avanço do conhecimento da Astronomia e Astrofı́sica. A base dos cálculos de evolução estelar é a sustentação do equilı́brio hidrostático pelo qual a pressão do gás é contrabalanceada pela gravidade. Além de considerar que a estrela é um objeto que possui simetria esférica sem rotação e desprovida de campos magnéticos. Estas são as condições fı́sicas conhecidas como modelo padrão de evolução estelar. Para determinarmos a estrutura interna de uma estrela, quatro parâmetros básicos são essenciais: massa, raio, luminosidade e sua composição quı́mica. Agregando o fato de que uma estrela mantém-se estável – mesmo 9 CAPÍTULO 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA estrelas variáveis apresentam essa estabilidade – por longos perı́odos de tempo. Desta forma é possı́vel caracterizar sua constituição interna. Através dessas equações é possı́vel saber não só como a energia é levada desde o núcleo até as regiões mais externas, mas também sua temperatura, pressão e densidade em diferentes regiões da estrela. Na tabela 2.1 apresentaremos as principais equações de estrutura e evolução estelar, e descreveremos brevemente cada uma delas aqui. Para maiores detalhes recomendamos R. Kippenhahn e A. Weigert. ⋄ Conservação da massa: Por esta equação teremos informação de como a massa da estrela varia em função do raio e da densidade. Esta consideração é fundamental para as condições seguintes. ⋄ Equilı́brio hidrostático: Esta equação representa a condição de equilı́brio entre a força gravitacional e a força de pressão exercida pelo gás. Quando essas duas forças não são equivalentes as estrelas passam por diversas mudanças internas em sua estrutura. É o equilı́brio hidrostático que dita principalmente como a estrela evolui ao longo de sua vida. ⋄ Conservação da energia: Um fato incontestável é que uma estrela está constantemente perdendo energia e para que esta mesma estrela mantenha-se brilhando ativamente é preciso uma fonte de energia que compense essa perda. A fonte responsável em fornecer essa energia são as reações nucleares. Na região central de uma estrela a temperatura é extremamente alta a ponto de iniciar a fusão nuclear dos elementos quı́micos e, desta forma, é possı́vel constatar que uma estrela possui energia suficiente para manter-se brilhando por longos perı́odos, embora uma parte desta energia seja ainda perdida pelos neutrinos produzidos nas reações. ⋄ Transporte de energia: A troca de energia térmica em uma estrela pode acontecer por convecção ou irradiação. O que irá determinar o mecanismo de transporte é o gradiente de temperatura. Se a condição de equilı́brio radiativo é estável a pertubações, não ocorrerá transporte por convecção, apenas por radiação. No entanto, se o equilı́brio é instável o transporte de energia acontecerá por convecção. Na equação do transporte de energia representada na tabela 2.1, o ∇ indica que tipo de processo que será responsável pela transmissão da energia. Este termo representa a razão entre d ln T /d ln P . Para o caso em que o transporte de energia em determinada região da estrela acontecer devido a radiação, substituiremos o gradiente de temperatura ∇ pelo gradiente radiativo (∇rad ), conforme a equação a seguir: 10 CAPÍTULO 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ∂r ∂m 1 4πr2 ̺ Eq. da conservação da massa ∂P ∂m Gm = − 4πr 4 Eq. do equilı́brio hidrostático ∂l ∂m = ε − ευ Eq. da conservação da energia ∂T ∂m ∂Xi ∂t = mi ̺ = = −GmT 4πr4 P ∇ ! X X rik rji − j Eq. do transporte de energia Eq. da composição quı́mica k Tabela 2.1: Equações de estrutura interna e evolução estelar ∇rad = κlP 3 , 16πacG mT 4 (2.1) onde κ representa o coeficiente de absorção, a corresponde a constante da densidade de radiação e c é o módulo da velocidade da luz. No caso em que a energia seja transportada por convecção, temos duas situações distintas. No interior profundo o ∇ = ∇ad e deverá ser substituı́do por: ∇ad ≡ P dT T dP s = Pδ . T ̺cP (2.2) Enquanto que para o envoltório convectivo podemos utilizar uma solução simplificada pela teoria do comprimento de mistura (MLT)1 . ⋄ Composição quı́mica: A composição quı́mica estelar é de fundamental importância para a evolução estelar, pois influencia diretamente às equações de estrutura, afetando assim as propriedades básicas estelares. Esta informação torna-se um dos principais parâmetros de entrada nos códigos numéricos. Nesta equação temos a variação da composição quı́mica com o tempo. As taxas de reações r fornecem a frequência que ocorrem as reações nucleares. 1 Método matemático que descreve como acontece a transferência de energia e momento em um fluido turbulento, de forma que ela fornece um parâmetro de comprimento o qual uma porção de um determinado fluido mantém as caracterı́ticas originais antes de dissipá-las no meio. 11 CAPÍTULO 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1.1 Fı́sica dos modelos evolutivos Nesta seção faremos uma breve descrição dos ingredientes fı́sicos utilizados nos modelos estelares. Para obter mais informações sobre a fı́sica interna do código, ver Hui-Bon-Hoa (2008) [27]. Os modelos evolutivos utilizados nesse trabalho foram calculados com o código evolutivo Toulouse-Geneva (TGEC). As equações de estado utilizadas são de OPAL2001 (Rogers & Nayfonov, 2002 [59]) e as opacidades radiativas propostas por Iglesias & Rogers (1996) [29]. As reações nucleares são fornecidas por Angulo et al. (1999) [1] com compilação quı́mica descrita no NACRE e calculadas a partir das cadeias pp e do ciclo CNO de acordo com Bahcall & Pinsonneault (1992) [2]. O transporte convectivo é tratado pela teoria de comprimento de mistura (MLT) conforme Böhm-Vitense (1958) [6] e com αp = l/Hp , onde l é o comprimento de mistura e Hp é a escala de pressão. A difusão molecular é calculada com base nos coeficientes de Paquete et al. (1986) [47]. Nossa grade de modelos contém traçados evolutivos de diferentes valores de massa combrindo o intervalo 0.875M⊙ ≤ M ≤ 1.1M⊙ e calculados para metalicidade solar [F e/H] = 0. Estes modelos foram utilizados na construção dos diagramas evolutivos e no estudo da evolução de alguns parâmetros fı́sicos. 2.2 A abundância de lı́tio A composição quı́mica de uma estrela na sequência principal pode ser utilizada como um parâmetro indicador da sua idade. Estrelas velhas, classificadas como de População II, não possuem grandes quantidades de metais, embora apresentem elementos mais leves como o lı́tio e berı́lio que foram deixados no meio interestelar após a morte das primeiras estrelas (População III). Conforme vão surgindo novas gerações de estrelas, estas vão ficando mais ricas em metais. Portanto, estrelas mais novas (População I) possuem em geral um valor mais alto de metalicidade2 devido a poluição do meio interestelar por gerações anteriores. A abundância de lı́tio nas estrelas de 1M⊙ pode ser usada como um bom indicador da idade estelar. Para estrelas de tipo espectral F, G e K a diminuição da abundância de lı́tio, A(Li), é um fenômeno muito bem conhecido. A análise de estrelas jovens com ótimas medidas de lı́tio (estrelas T Tauri, NGC 2264 e a nebulosa de Órion) sugere que estrelas formadas na mesma época apresentam a mesma 2 Termo utilizado para determinar a proporção de elementos quı́micos mais pesados que o hidrogênio e hélio 12 CAPÍTULO 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Figura 2.1: Região em torno de λ(6707.8Å) da linha do Li i. Os cı́rculos abertos representam o espectro solar sobreposto na lua, enquanto que os espectros das estrelas são mostrados por uma linha vermelha. Abaixo de cada painel é mostrado o resı́duo entre o espectro solar e o espectro estelar. Figura obtida de do Nascimento et al. (2013). quantidade de lı́tio do meio onde nasceram e que este valor não muda significativamente em ∼ 5Myr, ou seja, estas observações parecem indicar que as estrelas começam sua evolução com mesma quantidade de Li. Outro aspecto importante a abundância dos elementos quı́micos e, principalmente, a abundância de lı́tio são importantes para se determinar se uma estrela pode ser classificada como uma gêmea solar. Neste sentido, uma estrela deve apresentar, além de todos os parâmetros similares aos valores encontrados para o Sol, um valor de abundância de lı́tio aproximadamente semelhante ao valor solar (A⊙ Li ≈ 1.1) (Pasquini et al., 1994 [51]; Favata et al., 1996 [20]; Galeev et al., 2004). Encontrar uma estrela de mesmo tipo espectral G e de mesma idade e que possua uma abundância de lı́tio próxima ao valor do Sol não é tarefa fácil, já que o Sol apresenta um valor muito baixo. Explicar esse comportamento da baixa abundância de Li no Sol é um dos grandes problemas na astrofı́sica atual, já que a profundidade máxima alcançada pela base da zona convectiva não atinge camadas cujas temperaturas sejam altas o suficiente para destruir o lı́tio. A causa para este comportamento em estrelas do tipo solar exige uma fı́sica complexa e ainda não completamente compreendida, além de necessitar de medidas precisas de quantidades básicas como tem- 13 CAPÍTULO 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA peratura e composição quı́mica. A determinação da abundância de lı́tio de uma estrela é feita geralmente a partir da análise espectral na linha Li i 6707.8Å (ver figura 2.1). Essa abundância é diretamente proporcional à profundidade da largura equivalente da linha e pode ser definida da seguinte maneira: A(Li) = log ǫLi = log(nLi /nH ) + 12, (2.3) onde nLi e nH são os números de densidades do lı́tio em relação ao hidrogênio, respectivamente. Em comparação com a abundância meteorı́tica (log ǫLi,met = 3.26), a abundância fotosférica solar é cerca de 160 vezes menor. 2.3 A rotação estelar A rotação é uma propriedade que pode influenciar toda a trajetória evolutiva estelar, desde a formação até a sua morte, além de ser responsável por diversos fenômenos dinâmicos. Dentre muitos efeitos, podemos citar: corrente de circulação meridional, perda de massa, evolução de momento angular, magnetismo entre outros. A compreensão detalhada da rotação nas estrelas torna-se imprescindı́vel para o entendimento das abundâncias e de vários fenômenos, principalmente a atividade cromosférica e a formação do campo magnético estelar. A rotação afeta tanto a atmosfera estelar como também seu interior. Acredita-se também que a turbulência causada na região de transição entre zona radiativa e o envoltório convectivo é a principal responsável pelo surgimento do campo magnético nas estrelas. Desta maneira, a rotação é um parâmetro fundamental e está relacionada ao mecanismo do dı́namo estelar e que pode ser quantificado através do número de Rossby3 . A velocidade rotacional estelar pode ser determinada geralmente de três formas distintas e bem fundamentadas. A primeira delas foi proposta por Smith e Gray (1976) [67] e utiliza observações alta resolução das linhas espectrais para determinação da velocidade de turbulência e de rotação, através da análise de Fourier. A segunda técnica foi sugerida por Baranne et al. (1979) [3] e utiliza uma função de correlação cruzada entre o espectro da estrela e uma máscara, no caso do espectrógrafo CORAVEL4 (COrrelation RAdial 3 O número de Rossby é a relação entre o perı́odo de rotação e o tempo de convecção. Mais detalhes na seção 3.5 4 Espectrômetro especializado na determinação de velocidades radiais estelares com alta resolução e precisão. O primeiro instrumento está em funcionamento desde 1977, no telescópio suı́ço de 1m no Observatório de Haute-Provence. Um segundo CORAVEL foi instalado no foco Cassegrain do telescópio dinamarquês em La Silla 14 CAPÍTULO 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA VELocity), que transmite somente a luz contida no centro das linhas de absorção, de modo que uma função gaussiana se ajuste aos pontos do perfil de correlação, e a medida da largura a meia altura da gaussiana determina a velocidade de rotação. Por fim, o terceiro método é determinado de forma direta através do perı́odo de rotação, através da observação da atividade magnética estelar, ou através de curvas de luz fotométricas. Tomando como exemplo o Sol, hoje sabemos que esta estrela possui também uma rotação diferencial, isso quer dizer que o perı́odo de rotação do Sol não é o mesmo para diferentes latitudes e profundidades. O seu perı́odo de rotação é menor no equador e aumenta gradativamente indo em direção aos pólos. O perı́odo de rotação do Sol é de aproximadamente 25 dias no equador e 36 dias nos pólos. 2.4 ′ O ı́ndice de atividade cromosférica - RHK A compreensão e a previsão dos ciclos de atividades estelar continua sendo uma área de intenso esforço teórico e observacional na astrofı́sica atual e um dos principais objetivos desta área é entender a fı́sica que controla esse mecanismo. Em particular, a atividade cromosférica determina a quantidade de energia global emitida pela cromosfera estelar. A cromosfera é uma região caracterizada principalmente por uma inversão do gradiente de temperatura. Ela está situada entre a fotosfera e a corona. O principal indicador dessa atividade em estrelas de tipo espectral tardio é a emissão dos elementos centrais das linhas de absorção H e K do Ca ii. Em 1954, O. C. Wilson notou que o fluxo da emissão Ca ii variava em sincronia com a magnitude absoluta das estrelas de maneira não-linear. Um estudo mais abragente deste comportamento foi feito por Wilson e Bappu (1957) [80]. Ao final das últimas décadas do século XX o estudo sobre a atividade cromosférica teve enorme progresso em virtude das inúmeras observações realizadas por Frans Middelkoop e Cornelis Zwaan, utilizando o fluxo de cálcio como indicador dessa atividade. Estes autores mostraram que a atividade cromosférica está relacionada diretamente com a eficiência do dı́namo. A consolidação dessa hipótese veio com Rutten (1987a) [60], verificando que existe um fluxo mı́nimo de Ca ii em função de (B − V ). Dessa forma, uma estrela não poderia apresentar um valor de fluxo de Ca ii que fosse menor que seu valor mı́nimo Fmin (Ca ii). Embora existam inúmeros trabalhos que comprovem uma forte ligação entre rotação e atividade cromosférica, por exemplo Strassmeier et al. (1994) [72], Gunn et al. (1998) [25], 15 CAPÍTULO 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Pasquini et al. (2000) [50], do Nascimento et al. (2003) [11], é bem verdade que estamos longe de uma explicação definitiva sobre quais os efeitos controladores da atividade estelar e qual a sua relação com as propriedades estelares e ainda sua dependência com a idade e massa. Neste trabalho, para quantificar a atividade cromosférica, utilizaremos o fluxo de Ca ii das linhas H & K, através do ı́ndice S estabelecido pelo observatório de Mt. Wilson5 (OMW). O programa desenvolvido pelo OMW surgiu com o intuito de descobrir se existiam outras estrelas análogas solares que apresentassem mesmo ciclo de atividade que o Sol. Paralelamente criava-se uma base teórica para compreender os mecanismos responsáveis pelos ciclos magnéticos de estrelas do tipo solar. O ı́ndice de fluxo S é definido da forma: S=α H +K , R+V (2.4) onde H, K, R e V representam o fluxo total em cada faixa. Isto significa medir o número de contagem de fótons que passa em cada uma das respectivas janelas. O α é uma constante de calibração que geralmente possui valor de 2.3 ou 2.4 conforme Duncan et al. (1991) [17]. Para o Ca ii H & K, as linhas estão centradas em 3933 Å (K) e 3968 Å (H). Para a faixa do contı́nuo, as linhas estão centradas em 3901 Å na banda V , enquanto a banda R está centrada em 4001 Å. ′ A conversão do ı́ndice S em RHK O ı́ndice S fornece um fluxo que contêm contribuições das componentes cromosférica e fotosférica. Dessa forma é preciso restringir e separar a medida fotosférica do fluxo total. Para realizar esse procedimento utilizaremos o método introduzido por Noyes et al. (1984) [44], definido da seguinte maneira: ′ RHK = RHK + Rphot (B − V ), (2.5) ′ onde RHK representa o fluxo total e RHK representa a componente cromosférica. Para remover o termo de cor do ı́ndice S, Middelkoop (1982) [41] desenvolveu um método para 5 Localizado em Mount Wilson, um pico de 1742m em San Gabriel Mountains, LA, Califórnia. O observatório contém dois telescópios importantes: telescópio Hale (1.5 m), construı́do em 1908, e o telescópio Hooker (2.5 m), concluı́do em 1917. 16 CAPÍTULO 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA corrigı́-lo como função do (B − V ). Logo, temos: ′ RHK = Ccf (B − V ) · S − Rphot (B − V ), (2.6) onde Ccf (B − V ) é um fator de conversão que transforma o fluxo dos canais R e V para o contı́nuo, e Rphot é a contribuição fotosférica. Essas medidas são determinadas da seguinte forma: log Ccf = 0.25(B − V )3 − 1.33(B − V )2 + 0.43(B − V ) + 0.24, (2.7) log Rphot = −4.898 + 1.918(B − V )2 − 2.893(B − V )3 . (2.8) Feita a conversão, como mostra a equação a cima, o único parâmetro envolvido na determinação do fluxo cromosférico é o ı́ndice de cor (B − V ) da estrela. 2.5 A emissão de raio-X Um outro parâmetro de interesse neste estudo é a emissão de raio-X. Neste contexto, a missão ROSAT6 , uma das mais bem sucedidas missões espaciais, surgiu de uma cooperação entre o Instituto Max Planck e o DLR7 da Alemanha, a agência americana NASA e o Conselho de Pesquisa de Ciência e Engenharia britânico (SERC) com intuito de mapear o céu através de fontes de raio-X. O satélite foi lançado em 1990 a bordo de um foguete Delta II e permaneceu em funcionamento por aproximadamente nove anos em uma órbita elı́ptica de 570km de altura da superfı́cie terrestre. Na busca de fontes de raio-X, como buracos negros e estrelas de nêutrons, o satélite ROSAT (Pfeffermann et al., 1987 [52]) era composto por um telescópio de raio-X, dois PSPC (Position Sensitive Proportional Counters), um detector de alta resolução (HRI) e um telescópio alternativo para medidas no extremo violeta: a câmera WFC (Wide Field Camera). Uma descoberta importante oriunda deste mapeamento da emissão de raio-X foi que estrelas da sequência principal, cuja fina zona convectiva fica próxima a superfı́cie, apresentam a mesma formação coronal (Schimitt et al., (1995) [65]). A análise estelar através de raio-X é uma ferramenta fundamental no estudo da atividade coronal. Nessa região encontramos temperaturas superiores a 106 K as quais são altas o suficiente para dar 6 Abreviação de Röntgensatellit. Em alemão, a palavra Röntgenstrahlen significa raio-X, uma devida homenagem ao fı́sico Wilhelm Röntgen 7 Deutsches Zentrum für Luft und Raumfahrt - Centro aeroespacial Alemão 17 CAPÍTULO 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA inı́cio a emissão de raio-X pelos átomos. Esse processo é fruto de uma rápida aceleração ou desacelaração de cargas elétricas, conhecido como Bremsstrahlung 8. Neste contexto, Maggio et al. (1990) [37] apontou que o fluxo de raio-X apresenta uma dependência com parâmetros estelares fundamentais tais como, temperatura, rotação, perı́odo orbital e idade. Com base nos catálogos ROSAT All-Sky Bright Source (Voges et al., 1999 [78]) e ROSAT All-Sky Survey Faint Source (Voges et al., 2000 [79]), nós calculamos o fluxo de raio-X para todas as estrelas de nossa amostra que possuem observações ROSAT. Para isso convertermos as taxas de contagem de fótons do satélite em fluxo de raio-X na Terra a partir da aplicação de um fator de conversão de energia, fX = ECF · CR, (2.9) onde ECF é o fator de conversão de energia e CR é a taxa de contagem de fótons. O fator de conversão de energia, de acordo com Schmitt et al. (1995), é dado por (5.30·8.31)×10−12 ergs contagens−1 cm−2 . O cálculo da luminosidade de raio-X, LX , foi assim determinado da seguinte forma: LX = 4πd2 fX , (2.10) onde d representa a distância da estrela até a Terra. Esta distância pode ser determinada para estrelas brilhantes a partir da paralaxe trigonométrica, que é fornecida pelo satélite Hipparcos (ESA). 2.6 O cálculo do número de Rossby Um outro parâmetro relevante na nossa análise é o número de Rossby. Este parâmetro é uma grandeza fı́sica adimensional introduzida pelo meteorologista sueco Carl Gustaf Arvid Rossby (1898-1957) para explicar o movimento do fluido de ar na atmosfera. Quando introduzimos esse conceito ao estudo da dinâmica estelar torna-se um parâmetro fundamental para se determinar o quanto a rotação interfere no processo de convecção, em outras palavras, podemos avaliar quantitativamente a eficiência do dı́namo na tentativa de explicar como é produzido e amplificado o campo magnético nas estrelas. O campo magnético estelar possui duas componentes distintas: o campo magnético poloidal (na direção dos pólos) e o campo toroidal (paralelo às linhas de latitude). A interação entre esses dois campo é o principal fator para que o mecanismo do dı́namo 8 Palavra de origem alemã que apresenta os seguites radicais: Bremsen = frear e Strahlung = radiação. 18 CAPÍTULO 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA estelar seja autossuficiente. A rotação estelar, assim como a convecção, é o principal agente dessa interação. Na figura 2.2 temos a representação esquemática do mecanismo de dı́namo estelar, denominado efeito α-ω. Além do mais, o número de Rossby é um excelente indicador para a determinação do fluxo de Ca ii das estrelas e com ele podemos comprovar a eficiência do dı́namo estelar. A relação entre atividade cromosférica e o número de Rossby (Ro) mostra uma incontestável dependência linear, ao passo que relacionando-a com o perı́odo de rotação tem-se uma grande dispersão; o que impossibilita ou dificulta sua determinação através deste parâmetro (Noyes, 1984 [43]). Uma das maneiras de representar o número de Rossby é através da razão entre dois tempos caracterı́sticos, o perı́odo de rotação e o tempo de convecção (τc ). Desta forma, podemos calculá-lo da seguinte forma: Ro = Prot τc (2.11) Utilizando-se a relação descrita por Durney & Latour (1978) [18], podemos explicitar a relação existente entre rotação e convecção pela seguinte equação: Ro = vc , (l/R)vr (2.12) onde vc é a velocidade de convecção, vr é a velocidade de rotação, l é a profundidade da zona convectiva e R é o raio estelar. Por essa equação (2.12) vemos que, quanto maior a velocidade de rotação, menor será o número de Rossby e isto nos dá uma idéia quantitativa da eficiência do dı́namo estelar. Para calcular o tempo caracterı́stico de convecção, τc , utilizaremos uma relação empı́rica obtida por Noyes et al. (1984) [43], relacionando o ı́ndice de cor (B-V) para estrelas e o log τc , dado pelas seguintes expressões: log τc = onde x = 1 − (B − V ). 2 3 1.362 − 0.166x + 0.025x − 5.323x , se x > 0 1.362 − 0.14x (2.13) , se x < 0 Sabendo que log τc é o tempo de giro da zona convectiva local, podemos parametrizá-lo 19 CAPÍTULO 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Figura 2.2: Ilustração do dı́namo α-ω. A representação do efeito ômega é mostrado nas figuras a-d, onde um campo poloidal inicial é convertido em um campo magnético toroidal. O efeito alfa está demonstrado nas figuras d-f. Neste caso, um campo magnético toroidal é transformado em um campo poloidal, devido ao fluxo ascendente de matéria que arrasta as linhas do campo magnético. Figura obtida de Love (1999). com o número de dı́namo (ND ) para determinar a eficiência do dı́namo. Esse parâmetro representa a relação entre a geração do campo magnético e os termos de difusão na zona convectiva. De acordo com Parker (1979) [48] e descrito por Noyes et al. (1984), o número do dı́namo pode ser espresso como: ND = αΩ′ d4 /η 2 , (2.14) no qual α = hv (∇ × v )i · τc (chamado de efeito-α), Ω′ representa a magnitude de rotação diferencial, d é a escala de altura da zona convectiva e η é a difusidade magnética. Assumindo que α tem ordem de grandeza Ωd e η ∼ d2 /τc , e considerando Ω′ ∼ Ω/d, temos uma estimativa do número do dı́namo ND ≈ (Ωτc ) = Ro−2 (2.15) Dessa forma, podemos supor que a atividade magnética diminui com o aumento do número de Rossby. Neste trabalho por razões de simplicidade utilizaremos somente Ro. 20 Capı́tulo 3 Dados observacionais “A ciência, como um todo, não é nada mais do que um refinamento do pensar diário.” Albert Einstein Neste capı́tulo descreveremos algumas caracterı́sticas referentes aos dados observacionais utilizados, bem como descreveremos detalhes sobre a determinação dos principais parâmetros fundamentais utilizados nesta análise. 3.1 Base de dados A base de dados utilizada neste trabalho provém principalmente do artigo de Takeda et al. (2012) [75]. Tais dados foram obtidos com o espectrógrafo óptico HDS (High Dispersion Spectrograph), instalado no telescópio Subaru do Observatório Nacional Astronômico do Japão, situado no Mauna Kea, Hawaii. A segunda fonte utilizada foi o artigo de Lovis et al. (2011) [35] cujos dados foram observados com o espectrógrafo de alta precisão HARPS que está localizado no telescópio de 3.6m do ESO1 (Europe Southern Observatory) no observatório de La Silla, extremo sul do deserto do Atacama, cerca de 600 km ao norte de Santiago do Chile. Nossa base de trabalho é composta por 118 estrelas análogas solares proveniente inicialmente da base de Takeda et al. (2012) e adicionada a 146 estrelas do artigo de Lovis et 1 ESO é uma organização pesquisa intergovernamental criada em 1962 para proporcionar o avanço em pesquisas astronômicas e apoiada por quinze paı́ses. 21 CAPÍTULO 3. DADOS OBSERVACIONAIS Coefficient Supergiants Main-sequence stars Subgiants, Giants a b c d e f g h 4.012559732366214 -1.055043117465989 2.133394538571825 -2.459769794654992 1.349423943497744 -0.283942579112032 ... ... 3.979145106714099 -0.654992268598245 1.740690042385095 -4.608815154057166 6.792599779944473 -5.396909891322525 2.192970376522490 -0.359495739295671 Tabela 3.1: Coeficientes da calibração proposta por Flower (1996) al. (2011) escolhidas a partir de uma análise do estado evolutivo baseado em posições no diagrama HR, juntamente com outros parâmetros complementares descrito na dissertação de mestrado de Jefferson da Costa (2009) [10]. Os parâmetros magnitude visual aparente V , paralaxe π e ı́ndice de cor (B − V ) foram todos extraı́dos do catálogo HIPPARCOS – HIgh Precision PARallax COllecting Satellite – (ESA 1997) [19], através da ferramenta de busca VizieR (http://vizier.u-strasbg.fr/). 3.2 Os parâmetros fundamentais Aqui apresentaremos alguns dos parâmetros fundamentais utilizados neste trabalho. Mostraremos, também, como cada um deles foi determinado e faremos uma breve comparação no intuito de explorar a precisão dos mesmos. 3.2.1 A determinação da temperatura efetiva A temperatura efetiva é um dos principais parâmetros que se pode obter de uma estrela. Uma análise precisa deste parâmetro pode ser crucial para determinar, por exemplo, a abundância quı́mica de seus elementos. Ao longo dos anos, diversos trabalhos tentam encontrar uma calibração definitiva e universal para determinar a temperatura estelar. Hoje existem inúmeras técnicas para realizar este tipo de análise. Alguns métodos que podemos destacar são: calibrações baseadas nas linhas Hα e Hβ do átomo de hidrogênio, a análise das linhas de ferro ionizado, e as calibrações fotométricas. Para determinar o valor da temperatura efetiva de nossas estrelas utilizamos duas 22 CAPÍTULO 3. DADOS OBSERVACIONAIS Colour B−V V − RC (R − I)C V − IC V −J V −H V − KS J − KS (B − V )T VT − J VT − H VT − KS b−y a0 a1 a2 a3 a4 a5 0.5665 0.4386 0.3296 0.4033 0.4669 0.5251 0.5057 0.6393 0.5839 0.4525 0.5286 0.4892 0.5796 0.4809 1.4614 1.9716 0.8171 0.3849 0.2553 0.2600 0.6104 0.4000 0.3797 0.2354 0.2634 0.4812 -0.0060 -0.7014 -1.0225 -0.1987 -0.0350 -0.0119 -0.0146 0.0920 -0.0067 -0.0357 -0.0073 -0.0165 0.5747 -0.0613 -0.0807 -0.0298 -0.0409 -0.0140 -0.0187 -0.0131 -0.0330 -0.0282 -0.0082 -0.0182 -0.0121 -0.0633 -0.0042 0.0142 0.0329 0.0319 0.0225 0.0410 0.0288 0.0291 -0.0346 0.0123 0.0401 0.0249 0.0042 -0.0055 -0.0015 0.0035 0.0012 0.0011 0.0025 0.0016 0.0020 -0.0087 -0.0009 0.0021 -0.0001 -0.0055 Tabela 3.2: Coeficientes da relação cor-temperatura-metalicidade proposta por Casagrande et al. (2010) propostas fotométricas distintas. Primeiramente, utilizamos o ı́ndice de cor (B − V ), juntamente com a relação de calibração proposta por Flower (1996) [21], conforme a lei de potência a seguir: log Tef f = a + b(B − V ) + c(B − V )2 + . . . , (3.1) nesta equação os coeficientes estão descritos na tabela 3.1 e foram corrigidos por Torres (2010) [76]. A segunda proposta para o cálculo da temperatura efetiva provém da análise de Casagrande et al. (2010) [7]. Nesta análise é apresentada uma investigação da temperatura com base no método IRFM (InfraRed Flux Method). Os autores propõem uma relação que leva em consideração o ı́ndice de cor e a metalicidade estelar, de acordo com a seguinte equação: θef f = a0 + a1 X + a2 X 2 + a3 X[F e/H] + a4 [F e/H] + a5 [F e/H]2 (3.2) na qual, θef f = 5040/Tef f , X representa o ı́ndice de cor e ai (i = 1, . . . , 5) são os coeficientes do ajuste obtido iterativamente em seu trabalho. Os coeficientes do ajuste polinomial estão descritos na tabela 3.2. 23 CAPÍTULO 3. DADOS OBSERVACIONAIS Figura 3.1: Comparação entre a temperatura efetiva determinada neste trabalho através das calibrações propostas por Flower (1996) e Casagrande et al. (2010), em relação aos valores calculados no artigo de Sousa et al. (2008). Na figura (A) temos a comparação entre os valores de temperatura determinados por Sousa et al. (2008) e Flower (1996) e na figura (B) temos a comparação entre os valores de temperatura determinados por Sousa et al. (2008) e Casagrande et al. (2010). Vemos que o painel inferior apresenta menor dispersão. 3.2.2 O cálculo da luminosidade A determinação da luminosidade para nossas estrelas segue alguns passos canônicos, sendo o primeiro deles a combinação da magnitude aparente V com as medidas de paralaxes π, de forma a obtermos a magnitude visual absoluta, conforme a equação abaixo: MV = V + 5 − 5 log(dpc ) − AV , (3.3) sabendo que dpc = 1000/π, e representa a distância da estrela em relação à Terra e o valor da paralaxe é fornecida pelo satélite HIPPARCOS. AV representa o grau de avermelha- 24 CAPÍTULO 3. DADOS OBSERVACIONAIS Coefficient log Tef f < 3.7 3.7 < log Tef f < 3.9 log Tef f > 3.9 a b c d e f -0.190537291496456E+05 0.155144866764412E+05 -0.421278819301717E+04 0.381476328422343E+03 ... ... -0.370510203809015E+05 0.385672629965804E+05 -0.150651486316025E+05 0.261724637119416E+04 -0.170623810323864E+03 ... -0.118115450538963E+06 0.137145973583929E+06 -0.636233812100225E+05 0.147412923562646E+05 -0.170587278406872E+04 0.788731721804990E+02 Tabela 3.3: Correção Bolométrica (Flower 1996) mento2 estelar. No caso destas estrelas com distâncias entre 3.6 < dpc < 47.3 temos um avermelhamento em torno de aproximadamente zero. Em seguida é calculada a magnitude bolométrica das estrelas através da correção bolométrica. Isso significa determinar a energia total emitida por uma estrela a partir de uma varredura de todo o espectro eletromagnético. Sinteticamente podemos dizer que a magnitude bolométrica é descrita por Mbol = MV + BC, (3.4) sendo BC a medida de correção bolométrica. E para calculá-la utilizamos a correlação com log Tef f proposta por Flower (1996), que é determinada pela equação: BC = a + b log Tef f + c(log Tef f )2 + . . . (3.5) onde os coeficientes dessa série de potência estão representados na tabela 3.3. Por fim, convertemos a magnitude bolométrica em magnitude estelar através da equação: log(L/L⊙ ) = 4.72 − Mbol , 2.5 (3.6) na qual o parâmetro L⊙ representa a luminosidade solar e o valor de 4.72 representa a magnitude bolométrica do Sol. 2 Extinção da radiação eletromagnética emitida pela estrela ao passar pelo meio interestelar devido aos fenômenos de absorção e espalhamento. 25 CAPÍTULO 3. DADOS OBSERVACIONAIS Figura 3.2: Comparação da luminosidade determinada da nesse trabalho em relação aos valores calculados no artigo de Sousa et al. (2008). 3.2.3 Análise quanto à precisão dos parâmetros Após a determinação da temperatura efetiva e luminosidade estelar, decidimos compará-las com valores disponı́veis na literatura e então definir quais parâmetros seriam utilizados na análise. Após uma busca detalhada na literatura encontramos vários objetos que pertencem mutuamente a base de Sousa et al. (2008) [71] cujo trabalho é intitulado Spectroscopic parameters for 451 stars in the HARPS GTO planet search program e que trata basicamente de várias estrelas presente na nossa amostra. Por meio do programa de busca de planetas extrasolares do ESO, Sousa e colaboradores apresentam minuciosas medidas de temperatura efetiva, gravidade superficial e metalicidade para estrelas FGK da vizinhança solar com distâncias inferiores a 56 parsecs3 através do espectrógrafo de alta resolução HARPS. A análise espectroscópica foi feita a 3 Unidade de comprimento usada para representar distâncias estelares. 1pc = 3.085 × 1016 m 26 CAPÍTULO 3. DADOS OBSERVACIONAIS partir das linhas de Fe i e Fe ii, tomando como base os modelos de atmosfera estelar (Kurucz et al., 1984 [33]; Kurucz, 1993 [32]). O principal objetivo desse trabalho é tratar da correlação metalicidade-planeta para estrelas hospedeiras de planetas cuja massa é da ordem que a apresentada por Netuno. Nesse trabalho, os autores também apresentam uma calibração da temperatura efetiva como função de B − V e [F e/H], válida especificamente para os seguintes intervalos: 4500K < Tef f < 6400K, −0.85 < [F e/H] < 0.40, e 0.51 < B − V < 1.20. O ajuste final utilizado por Sousa et al. (2008) é expresso da seguinte forma: Tef f = 9114 − 6827(B − V ) + 2638(B − V )2 + 368[F e/H]. (3.7) Desta forma, resolvemos comparar os resultados da temperatura efetiva e luminosidade obtidos por Sousa et al. (2008) com os valores obtidos no nosso estudo (ver figura 3.1 e 3.2) que é baseado em diversas calibrações como descrito. Analisando a figura 3.1(A) notamos um maior espalhamento nos valores de temperatura efetiva determinados por Sousa et al. (2008) e os valores calculados neste trabalho com o uso da relação de Flower (1996). Apresentando um desvio pradrão médio da ordem de ∆T = 111K. Enquanto que na figura 3.1(B) vemos uma menor dispersão entre os valores de temperatura determinados por Sousa et al. (2008) e os valores calculados neste trabalho com o auxı́lio da calibração proposta por Casagrande et al. (2010). Para este caso o desvio padrão médio ficou em torno de ∆T = 68K. Este resultado corrobora para a excelente precisão da calibração de Casagrande et al. (2010). Notamos ainda um leve desvio do polinômio para as estrelas mais frias. Já na figura 3.2, vemos que os valores de luminosidade de ambos os trabalhos são muito compatı́veis. Estes resultados estão presentes nos diagramas HR da figura 3.3. Nestes diagramas representamos também os traçados evolutivos (Girardi et al., 2000 [23]) para estrelas de 0.8M⊙ , 1.0M⊙ , 1.2M⊙ e 1.5M⊙ . A figura 3.3(A) foi construı́da a partir dos valores de luminosidade determinada através do cálculo descrito acima e a temperatura efetiva é decorrente da calibração de Flower (1996). Na figura 3.3(B), os valores de temperatura utilizados foram determinados pelo ajuste proposto por Casagrande et al. (2010) e a luminosidade é resultado da correção bolométrica descrita na seção anterior. No último diagrama (figura 3.3(C)) os dados utilizados são proveniente do artigo de Sousa et al. (2008). Se compararmos os diagramas, notaremos uma ligeira diferença na definição da sequência 27 CAPÍTULO 3. DADOS OBSERVACIONAIS Figura 3.3: Comparação entre os diagramas HR. A figura 3.3(A) foi construı́da a partir dos valores de temperatura efetiva decorrente da calibração de Flower (1996). Na figura 3.3(B), os valores de temperatura utilizados foram determinados pelo ajuste proposto por Casagrande et al. (2010). Em ambos os casos, a luminosidade é determinada através do cálculo da correção bolométrica. Na figura 3.3(C) foram utilizados os dados de Sousa et al. (2008). Traços evolutivos de Girardi et al. (2000) 28 CAPÍTULO 3. DADOS OBSERVACIONAIS principal (SP). Essa discrepância é devido a determinação grosseira da temperatura efetiva proveniente de calibração puramente fotométrica (erro sistemático no fator BC) calculada com base na calibração de Flower (figura 3.3(A)). Ao passo que na figura 3.3(B) a sequência principal apresenta-se melhor ajustada, pois os valores obtidos pela calibração absoluta de Casagrande fornece uma maior precisão para o cálculo da temperatura efetiva, embora a SP apresente um pequeno alargamento. No entanto, o diagrama HR da figura 3.3(C) construı́do a partir dos dados provenientes de Sousa et al. (2008) apresenta uma SP melhor delineada, fruto da excelente determinação das temperaturas baseadas em alta resolução espectroscópica dos parâmetros estelares. Portanto, visto este comportamento, utilizaremos a partir deste momento os valores de temperatura e luminosidade de Sousa et al. (2008) na nossa análise, pois a sequência principal parece melhor definida devido a uma maior precisão na Tef f . 3.2.4 Redeterminação das massas estelares A massa estelar é um parâmetro fundamental e é determinante em vários aspectos. Nas estrelas, muitos parâmetros são dependentes da massa, tais como: abundância de lı́tio, rotação, profundidade da zona convectiva e ainda o estágio final de evolução, etc. Este parâmetro é um observável muito difı́cil de se determinar e somente com a análise de sistemas binários essa medida pode ser feita com grande precisão por um método direto. As massas estelares calculadas por Sousa et al. (2008) foram estimadas por interpolação4 de isócronas teóricas descritas nos trabalhos de Schaller et al. (1992a) [63] e Schaerer et al. (1993a,b) [61, 62], usando as medidas de magnitude absoluta (MV ) calculadas a partir da paralaxe e magnitude visual (V ) do catálogo Hipparcos (ESA 1997) e a correção bolométrica proposta por Flower (1996) e a temperatura efetiva decorrente da análise espectroscópica realizada no trabalho. Em Takeda et al. (2007) as massas estelares foram determinada analisando-se a posição das estrelas em um diagrama HR teórico com os traçados evolutivos propostos por Girardi et al. (2000) cujos valores de massa variam de 0.8M⊙ a 1.7M⊙ com passo de 0.1M⊙ . Os traçados teóricos utilizados foram calculados com “overshooting”5 para diferentes valores de metalicidades (z = 0.008, z = 0.019 e z = 0.030). A partir de traçados evolutivos calculados com o código evolutivo TGEC (Toulouse4 Método matemático que possibilita a construção de um novo conjunto de dados derivado de um conjunto de dados discreto de pontos. 5 Termo utilizado para designar o fenômeno que ocorre na base da zona convectiva misturando elementos quı́micos e dissipando calor devido a inércia do movimento de uma célula convectiva 29 CAPÍTULO 3. DADOS OBSERVACIONAIS Figura 3.4: Comparação das massas estelares determinadas por Sousa et al. (2008) e Takeda et al. (2007) em relação aos valores determinados neste trabalho. Geneva Evolution Code) para um intervalo denso de cobertura das massas, nós redeterminamos as massas de todas as estrelas análogas e gêmeas da nossa amostra. Na figura 4.2 estão representados nossa base final de dados e os traços evolutivos utilizados em nossa análise cujos valores de massa variam entre 0.875M⊙ e 1.1M⊙ , igualmente espaçados com intervalos de massa de ∆M = 0.025M⊙ . Calculamos cuidadosamente a massa das estrelas com base em sua posição no diagrama HR, juntamente com o auxı́lio dos traçados evolutivos mais densos do que os utilizados por Takeda et al. (2007). Estes modelos nos permitem redeterminar valores mais precisos das massas. Na figura 3.4 relacionamos as massas estelares determinadas por Sousa et al. (2008) e Takeda et al. (2007) com os valores determinados neste trabalho. O que podemos notar é que nossos valores de massas, comparados aos de Takeda et al. (2007) e Sousa et al. (2008), apresentam uma leve variação para as estrelas analisadas (0.82M⊙ ≤ M ≤ 30 CAPÍTULO 3. DADOS OBSERVACIONAIS 1.15M⊙ ). 31 Capı́tulo 4 Análise dos dados e obtenção dos resultados “A ciência nunca resolve um problema sem criar pelo menos outros dez.” George Bernard Shaw Neste capı́tulo são apresentados os principais resultados obtidos nesse trabalho. Analisaremos diversos parâmetros da nossa amostra tais como, abundância de lı́tio, atividade cromosférica, perı́odo de rotação e emissão de raio-X. Daremos ênfase nas relações de dependência temporal destes parâmetros. Esta ampla análise de vários parâmetros juntamente com a qualidade das idades utilizadas são o diferencial deste trabalho. 4.1 A análise da amostra Como dito anteriormente, a principal ferramenta para o estudo da evolução estelar é o diagrama HR. Esse diagrama pode ser construı́do de diversas formas distintas, dependendo da combinação dos parâmetros estelares, tais como: tipo espectral, magnitude, ı́ndice de cor, luminosidade, temperatura e entre outros. Em nosso diagrama HR optamos por dois parâmetros fundamentais: a luminosidade estelar em função da temperatura efetiva. Hoje sabemos que ao longo de sua vida, uma estrela passa por diferentes estágios evolutivos e isto se deve ao fato de que à medida que seu combustı́vel interno vai sendo consumido, fruto das reações nucleares, a estrela apresenta variações em sua composição quı́mica e, consequentemente, variações em sua luminosidade e temperatura. Tais variações dependem fortemente da massa inicial. Por isto, a massa estelar torna-se condição fundamental na fı́sica dos modelos numéricos evolutivos. Por exemplo, para uma estrela cuja massa seja da ordem da massa do Sol (1.0 M⊙ ), sua trajetória será: Sequência Prin32 CAPÍTULO 4. ANÁLISE DOS DADOS E OBTENÇÃO DOS RESULTADOS Figura 4.1: Diagrama HR com todas as estrelas de nossa base de dados. Os cı́rculos fechados representam as estrelas da sequência principal (Lovis et al., 2011). Os triângulos invertidos representam as estrelas subgigantes (Lovis et al., 2011). Os cı́rculos abertos representam as estrelas da sequência principal (Takeda et al., 2012). O retângulo limita a região de nossa análise. Traços evolutivos de Girardi et al. (2000) e do Nascimento et al. (2009) respectivamente representados por traços contı́nuos em preto e tracejados em azul. cipal → Gigante Vermelha → Gigante Amarela → Nebulosa Planetária → Anã Branca. Esta é a sequência evolutiva da maioria das estrelas de nossa amostra. Nossa base total é composta por 422 estrelas de baixa massa, onde 304 são provenientes do artigo de Lovis et al. (2011) - “The HARPS search for southern extra-solar planets. Magnetic activity cycles in solar-type stars: statistics and impact on precise radial velocities” - e 118 estrelas da base de Takeda et al. (2012) presente no artigo “Detection of Low-Level Activities in Solar-Analog Stars from the Emission Strengths of Ca ii 3934 Line”. 33 CAPÍTULO 4. ANÁLISE DOS DADOS E OBTENÇÃO DOS RESULTADOS Figura 4.2: Diagrama HR com as estrelas de nossa base final de dados. As cruzes representam as estrelas da sequência principal (Lovis et al., 2011). Os cı́rculos abertos representam as estrelas da sequência principal (Takeda et al., 2012). Os cı́rculos fechados representam as gêmeas solares propostas por Takeda et al. (2007). Os quadrados representam as gêmeas solares mais notáveis encontradas na literatura, conforme a tabela 4.1. Na figura também estão representados os traçados evolutivos para 0.875M⊙ , 0.9M⊙ , 0.925M⊙ , 0.95M⊙ , 0.975M⊙ , 1.0M⊙ , 1.025M⊙ , 1.05M⊙ , 1.075M⊙ e 1.1M⊙ que foram calculados com o código Toulouse-Geneve (do Nascimento et al., 2009), utilizando o valor de metalicidade solar [Fe/H] = 0. A linha verde representa [Fe/H]=-0.2 e em vermelho [Fe/H]=0.2 determinadas para 1.0M⊙ . Na figura 4.1 apresentamos toda a base de dados em um diagrama HR. Nesta figura estão representados os traçados evolutivos de Girardi et al. (2000) (linhas contı́nuas) para 0.8M⊙ , 1.0M⊙ , 1.2M⊙ e 1.5M⊙ , assim como os traços evolutivos calculados a partir do código TGEC (linhas tracejadas) com base nos coeficientes de Paquete et al. (1986) para o cálculo da difusão. Esses traços surgem de modelos computacionais que preveem o comportamento das principais propriedades fı́sicas e estruturais da estrela ao longo de sua evolução. Analisando a figura 4.1 observamos que ambos os traçados evolutivos descrevem 34 CAPÍTULO 4. ANÁLISE DOS DADOS E OBTENÇÃO DOS RESULTADOS ID HIP Tef f log g [F e/H] M ass Age A(Li) (K) (dex) (dex) (M⊙ ) (Gyr) (dex) Sol − − 5777 4.44 0.00 1.00 4.5 1.07 G1 HD 101364 56948 5795♭ 4.46♭ 0.02♭ 1.012♭ 3.52♭ 1.3♭ G2 HD 98618 55459 5812⋆ 4.36⋆ 0.07⋆ 1.02† 3.81† 1.58⋆ G3 HD 71227 41526 5801⋆ 4.27⋆ −0.02⋆ 1.00† 2.64† 2.03⋆ G4 HD 12264 9349 5788⋆ 4.35⋆ 0.01⋆ 1.01† 2.52† 2.06⋆ G5 HD 56202 35185 5793⋆ 4.19⋆ 0.00⋆ 1.02† 0.67† 2.71⋆ G6 HD 75767 43557 5805⋆ 4.42⋆ −0.06⋆ 0.98† 4.18† 1.50⋆ G7 HD 146233 79672 5768⋆ 4.40⋆ 0.040⋆ 1.01† 3.3† 1.63⋆ G8 CoRoT Sol 1 − 5822♯ 4.31♯ 0.09♯ 1.03♯ 6.7♯ 0.85♯ G9 HD 197027 102152 5723∗ 4.35∗ −0.013∗ 1.03∗ 8.2∗ 0.48∗ Tabela 4.1: Resumo das estrelas gêmeas solares conhecidas. de forma quantitativa os parâmetros na análise evolutiva. Ambos os traços evolutivos são calibrados para um modelo de 1M⊙ apresentarem luminosidade e temperatura do Sol na idade no Sol. No entanto, quantitativamente, os traços têm comportamentos diferenciados em alguns pontos da evolução. Nesta figura os cı́rculos fechados e os triângulos invertidos são, respectivamente, estrelas da sequência principal e estrelas subgigantes proveniente do artigo de Lovis, enquanto os cı́rculos abertos são estrelas da sequência proveniente do artigo de Takeda. As estrelas que se encontram na região limitada pelo retângulo tracejado serão nosso alvo principal e estarão no centro da análise de nosso trabalho, pois apresentam a prı́ncipio grande similaridades com o Sol. No diagrama da figura 4.2 apresentamos somente estrelas que pertencem a região de parâmetros mais próximos dos valores solar. Esta região apresenta um total de 275 estrelas, sendo 157 do artigo de Lovis et al.(2011) e 118 provenientes do artigo de Takeda et al. (2012), limitadas por um intervalo de luminosidade que varia entre 1 † do Nascimento et al. 2009 ♭ Meléndez et al. 2012 ⋆ Takeda et al. 2012 ♯ do Nascimento et al. 2013 ∗ Monroe et al. 2013 35 CAPÍTULO 4. ANÁLISE DOS DADOS E OBTENÇÃO DOS RESULTADOS −0.2 ≤ log(L/L⊙ ) ≤ 0.3 e temperatura efetiva variando entre 3.73 ≤ log(Tef f ) ≤ 3.79. As cruzes representam as estrelas do Lovis, os cı́rculos abertos e os cı́rculos fechados são as estrelas análogas solares propostas por Takeda et al. (2007) [73]. Neste artigo de 2007, Takeda e colaboradores selecionaram 26 estrelas (cı́rculos fechados) que apresentavam alta semelhança com o Sol. Os critérios de seleção dessas estrelas, tomando como base o Sol, foram baseados em quatro condições: |∆Tef f | < 60 K, |∆ log g| < 0.15, |∆vt | < 0.1 km s−1 e |∆[F e/H]| < 0.1. Os traçados evolutivos para 0.875M⊙ , 0.9M⊙ , 0.925M⊙ , 0.95M⊙ , 0.975M⊙ , 1.0M⊙ , 1.025M⊙ , 1.05M⊙ , 1.075M⊙ e 1.1M⊙ foram determinados a partir do código Toulouse-Geneve (do Nascimento et al., 2009 [12]), utilizando o valor de metalicidade solar [Fe/H] = 0. Nessa mesma figura estão representadas também as estrelas gêmeas identificadas por G1, G2, G3, G4, G5, G6 e G7, onde seis delas fazem parte da base de Takeda et al. (2012). Estas estrelas são reconhecidas no meio cientı́fico como as estrelas mais parecidas com o Sol. Recentemente, do Nascimento et al. (2013) [13] anunciaram uma nova gêmea solar (CoRoT 102684698) cerca de 2 bilhões de anos mais velhas que nossa estrela-mãe e que apresenta um valor na sua abundância de lı́tio bem abaixo quando comparado ao valor encontrado no Sol. A tabela 4.1 apresenta alguns parâmetros fı́sicos fundamentais para estas estrelas (Duarte, 2012 [14]). Na busca por resultados mais compatı́veis com o Sol, restringimos ainda mais nossa base de dados para um intervalo de metalicidade entre −0.2 ≤ [F e/H] ≤ 0.2. Isso nos dará mais confiabilidade na análise dos parâmetros estudados a seguir e diminuindo, assim, a dispersão nos resultados. Com esta restrição, passamos a ter 102 estrelas remanescente da base do Takeda e apenas 86 estrelas proveniente da base do Lovis. 4.1.1 A abundância de lı́tio Conforme já podemos concluir com tudo o que já foi apresentado, o lı́tio desempenha um papel importantı́ssimo do ponto de vista da evolução estelar. Este elemento serve como base para comprovação das teorias sobre a origem do Universo, galáxias e das próprias estrelas. Vários fenômenos que agem na superfı́cie estelar e em seu interior provocam variações substanciais na abundância do lı́tio. Por esse e outros motivos, o litio é amplamente estudado em aglomerados abertos que possuem metalicidade próxima ao valor solar. O estudo da abundância do lı́tio nas estrelas gêmeas e análogas serve como um indicador de idade (do Nascimento et al., 2009), do mesmo modo que o carbono 14 é utilizado para datações geológicas. Assim como também sugere a profundidade da camada convec36 CAPÍTULO 4. ANÁLISE DOS DADOS E OBTENÇÃO DOS RESULTADOS Figura 4.3: Abundância de Lı́tio, A(Li), como função da idade. As cruzes representam as estrelas de Lovis et al. (2011). Os cı́rculos abertos e os cı́rculos fechados são respectivamente, as estrelas análogas solares e gêmeas propostas por Takeda et al. (2007). Idades baseadas nos valores calculados por Takeda et al. (2012). Os quadrados representam as gêmeas solares indicadas na tabela 4.1. A linha tracejada indica a idade solar, cerca de 4.5 bilhões de anos. Na parte superior do gráfico apresentamos as idades indicadas em Gyr. tiva, uma vez que o lı́tio é destruı́do quando a base da zona convectiva atinge camadas mais internas (Iben 1965 [28]). Diversos estudos propõem, como já foi mencionado, que há uma forte relação entre o lı́tio e a rotação estelar. Estrelas com alta rotação tendem a apresentar uma menor depleção na abundância de lı́tio (Tschäpe e Rüdiger, 2001; Rebolo e Beckman, 1988). Durante a fase da sequência principal a difusão microscópica contribui na diminuição da abundância, visto que o lı́tio é levado para camada mais profundas onde a temperatura é alta o suficiente para queimá-lo. De todos os parâmetros que são utilizados na comparação para encontrar estrelas pa- 37 CAPÍTULO 4. ANÁLISE DOS DADOS E OBTENÇÃO DOS RESULTADOS recidas com o Sol, o lı́tio é o responsável pelo “ajuste fino”, pois o Sol é escasso em lı́tio quando comparado à outras estrelas análogas. Somente uma pequena fração das estrelas gêmeas conhecidas apresentam um valor de abundância de Li similar ao Sol. Esse fato traz à tona algumas questões como: Seria o Sol uma estrela anômala? Dentre as estrelas gêmeas conhecidas na atualidade, somente a estrela HIP 56948 apresenta uma baixa abundância de lı́tio (ver tabela. 4.1). Em um trabalho mais recente, com o auxı́lio do telescópio Subaru e o satélite CoRoT, do Nascimento et al. (2013) [13] descobriram mais uma gêmea solar que também apresenta um baixo valor na abundância de lı́tio e cerca de 2 Gyr mais velha que o Sol. Ainda em 2013, Monroe et al. (2013) apresentaram mais uma estrela gêmea HD 127027 com baixa abundância de lı́tio. Nas figuras que seguem mostraremos a abundância de lı́tio, A(Li), como função da idade. Uma pesquisa feita na literatura revelou a abundância de lı́tio das estrelas provenientes da base de Lovis et al. (2011), já que este parâmetro não fazia parte de seu trabalho (No Apêndice A apresentamos as referências desta análise). A figura 4.3 foi construı́da com valores de idade obtidos por Takeda et al. (2012) e na figura 4.4 utilizamos valores de idade obtidos por do Nascimento et al. (2009), baseado em uma grade de modelos mais densa. A diferença entre as duas figuras é notável, fato que discutiremos mais adiante. Observando a figura 4.3, construı́da com os dados de Takeda et al. (2012), enxergamos uma dispersão muito grande, evidenciando uma imprecisão na determinação das idades. Enquanto na figura 4.4, construı́da a partir dos dados de do Nascimento et al. (2009), nota-se uma clara tendência de diminuição gradativa da abundância de lı́tio e que acompanha a trajetória evolutiva (linha azul) prevista pelo código evolutivo TGEC. Estrelas mais velhas demonstram uma maior depleção de lı́tio, como já era de se esperar, e previsto por Pinsonneault et al. (1989) [53] em seu modelos evolutivos. Essa tendência fica mais evidente se nos restringirmos apenas às gêmeas solares. Essa divergência entre as figuras 4.3 e 4.4 mostra claramente que as idades obtidas por do Nascimento et al. (2009) são fisicamente mais robustas que as determinadas por Takeda et al. (2012). Analisando a evolução das estrelas análogas (cı́rculos fechados) e das gêmeas solares (quadrados) percebe-se uma disposição na sua distribuição que sugere uma trajetória evolutiva que acompanha uma suposta evolução temporal da abundância de lı́tio. Outro ponto marcante o qual podemos destacar é que o Sol não apresenta uma anormalidade em relação a abundância de lı́tio, quando comparado com estrelas as quais apresentam basicamente mesma massa, idade e metalicidade, como se pensava até pouco tempo atrás. O fator determinante para tal afirmação possivelmente era a falta de dados com alta resolução espectroscópica e alto sinal-ruı́do (S/N) para a detecção de outras estrelas com valores semelhantes ao Sol. Podemos observar na figura 4.4 que estrelas mais jovens têm 38 CAPÍTULO 4. ANÁLISE DOS DADOS E OBTENÇÃO DOS RESULTADOS Figura 4.4: Abundância de Lı́tio, A(Li), como função da idade. As cruzes representam as estrelas do Lovis et al. (2011), os cı́rculos abertos e os cı́rculos fechados são respectivamente, as estrelas análogas solares e gêmeas propostas por Takeda et al. (2007). Idades baseadas nos valores calculados por do Nascimento et al. (2009). Os quadrados representam as gêmeas solares indicadas na tabela 4.1. Na parte superior do gráfico apresentamos as idades indicadas em Gyr. As linhas tracejadas representam modelos de evolução da abundância de lı́tio previstas a partir do TGEC para 1.0M⊙ . A linha em verde representa [Fe/H]=-0.2, em azul temos [Fe/H]=0.0 e em vermelho [Fe/H]=0.2. sistematicamente maiores valores de abundância do que estrelas mais velhas. A quantidade de lı́tio no interior das estrelas tende a diminuir à medida que elas vão envelhecendo. Sendo assim, podemos comprovar a capacidade do lı́tio como um indicador de idade estelar. 39 CAPÍTULO 4. ANÁLISE DOS DADOS E OBTENÇÃO DOS RESULTADOS 4.1.2 ′ O ı́ndice de atividade cromosférica - RHK O estudo da atividade magnética estelar é uma área com muitas questões em aberto. Entre muitas destas questões podemos destacar: Qual seria o verdadeiro mecanismo gerador do campo magnético das estrelas? Como o campo magnético interfere na evolução estelar? Por que as estrelas apresentam perı́odos com menor atividade? Inúmeras outras questões podem ser formuladas. Esse novo campo da astrofı́sica estelar é um dos que têm despertado maior interesse para a comunidade cientı́fica. Apesar de vários trabalhos mostrarem nos últimos anos uma estreita relação entre rotação e atividade cromosférica, ainda é preciso compreender melhor a dinâmica desse processo. De acordo com Noyes (1983) [42], a rotação das estrelas não é o único ente fı́sico responsável pela atividade magnética superficial, por isso é extremamente importante uma análise espectroscópica detalhada da atividade atmosférica estelar através do estudo das linhas de emissão de Ca ii de um grupo de estrelas bem selecionadas e com propriedades fı́sicas muito parecidas. Historicamente, após o anúncio feito por Eberhard e Schwarzchild, em 1913, comprovando a presença das linhas de absorção do Ca ii no espectro de várias estrelas, o fluxo de Ca ii H & K tornou-se um parâmetro importantı́ssimo para a compreensão da atividade cromosférica. Como visto anteriormente, a medida dessa emissão cromosférica, localizada ′ dentro das linhas de absorção do Ca ii, é feita a partir do ı́ndice S, e RHK representa o fluxo normalizado da emissão bolométrica estelar. Além de sua importância para a compreensão dos ciclos de atividade, fenômeno decorrente da evolução topológica de seus campos magnéticos, a atividade cromosférica vem sendo extensivamente usada também como um indicador de idade devido a sua diminuição a medida que a estrela vai ficando mais velha. Embora alguns autores, tendo como base o estudo de estrelas binárias, aglomerados abertos e dados da literatura, contestem a utilização do fluxo de Ca ii como indicador (Soderblom et al., 1991 [69]; Lachaume et al., 1999 [34]). Novos estudos sugerem que a transição entre intensa atividade cromosférica (ativa) e o perı́odo de baixa atividade (inativa) aconteça antes de 1.5 Gyr (Pace & Pasquini, 2004 [46]; Lyra & Porto de Mello, 2005 [36]). Desta forma, o fluxo de Ca ii pode ser usado como novo parâmetro indicador de idade até 1.5 Gyr. Nas figuras 4.5 e 4.6 estão representadas o fluxo de atividade cromosférica como função da idade. A tendência observada nestas figuras segue as mesmas caracterı́sticas gerais da análise da abundância de lı́tio. A figura 4.5 é construı́da com os dados de Takeda et al. 40 CAPÍTULO 4. ANÁLISE DOS DADOS E OBTENÇÃO DOS RESULTADOS ′ Figura 4.5: Índice de atividade cromosférica, RHK , como função da idade. As cruzes representam as estrelas de Lovis et al. (2011), os cı́rculos abertos e os cı́rculos fechados são respectivamente, as estrelas análogas solares e gêmeas propostas por Takeda et al. (2007). Idades baseadas nos valores calculados por Takeda et al. (2012). Os quadrados representam as gêmeas solares indicadas na tabela 4.1. A linha tracejada indica a idade solar, cerca de 4.5 bilhões de anos. Na parte superior do gráfico apresentamos as idades indicadas em Gyr. (2012) e apresenta uma dispersão muito grande, evidenciando uma possı́vel imprecisão na determinação das idades. Enquanto na figura 4.6, construı́da a partir dos dados de do Nascimento et al. (2009), nota-se a mesma tendência de diminuição gradativa com a idade. Na figura 4.6 nota-se que a atividade cromosférica tende a diminuir com a idade da mesma forma que a abundância de lı́tio. Verificamos a tendência das estrelas a seguir uma determinada trajetória evolutiva, apesar de apresentarem uma dispersão para idades avançadas. Um ponto importante a se destacar é que as estrelas do artigo de Takeda ′ et al. (2012) apresentam uma maior extensão de valores de log RHK , extendendo-se de 41 CAPÍTULO 4. ANÁLISE DOS DADOS E OBTENÇÃO DOS RESULTADOS ′ Figura 4.6: Índice de atividade cromosférica, RHK , como função da idade. As cruzes representam as estrelas de Lovis et al. (2011), os cı́rculos abertos e os cı́rculos fechados são respectivamente, as estrelas análogas solares e gêmeas propostas por Takeda et al. (2007). Idades baseadas nos valores calculados por do Nascimento et al. (2009). Os quadrados representam as gêmeas solares indicadas na tabela 4.1. Na parte superior do gráfico apresentamos as idades indicadas em Gyr. −4.18 até −5.43, enquanto as do artigo do Lovis et al. (2011), calculadas pelo fluxo da linhas H & K, são mais restritas e variam de −4.68 até −5.06. Essas últimas medidas de ′ log RHK ratificam os resultados apresentados por Pace (2013) [45], os quais afirmam que para idades além de 2 Gyr não há uma diminuição considerável na atividade cromosférica. Com o uso da emissão de Ca ii centrada na banda K (3934Å) é possı́vel detectar baixos nı́veis de atividade cromosférica, pois a energia emitida nesse comprimento de onda é cerca de duas vezes mais intensa que na banda H (3968Å). Portanto, com essa ferramenta podemos ampliar a aplicação da atividade cromosférica como um robusto indicador temporal para idades superiores a 2 Gyr. 42 CAPÍTULO 4. ANÁLISE DOS DADOS E OBTENÇÃO DOS RESULTADOS Figura 4.7: Luminosidade em raio-X como função da idade. As cruzes representam as estrelas de Lovis et al. (2011), os cı́rculos abertos e os cı́rculos fechados são respectivamente, as estrelas análogas solares e gêmeas propostas por Takeda et al. (2007). Idades baseadas nos valores calculados por do Nascimento et al. (2009). Os quadrados representam as gêmeas solares indicadas na tabela 4.1. Na parte superior do gráfico apresentamos as idades indicadas em Gyr. 4.1.3 A emissão de raio-X das estrelas análogas e gêmeas solares De forma geral, podemos dizer que a compreensão dos processos de aquecimento da alta atmosfera estelar foi impulsionada pelo desenvolvimento dos satélites especializados em raio-X que se tornaram cada vez mais poderosos. O grande conjunto de dados armazenados durante os vários anos de pesquisas foi determinante para se notar que a idade estelar é fator importante na emissão de raios-X. Hoje sabemos que estrelas mais jovens apresentam maior intensidade na emissão de raio-X que as estrelas mais velhas (Nelson, 2008). 43 CAPÍTULO 4. ANÁLISE DOS DADOS E OBTENÇÃO DOS RESULTADOS Sabendo que a reconexão magnética é a principal responsável pela produção de raiosX na alta atmosfera, a proposta do nosso trabalho tem como foco também o estudo da atividade coronal através da análise do fluxo de raio-X com base nos dados das missões ROSAT. A figura 4.7 apresenta o comportamento da luminosidade em raioX em função da idade estelar. As estrelas selecionadas possuem metalicidade entre −0.24 ≤ [F e/H] ≤ 0.24. Nesta figura está representada a luminosidade de raio-X para o Sol e seus picos de variação em suas condições máximas de atividade de acordo com Schmitt et al. (1997) [64]. Esta figura comprova os resultados obtidos nos trabalhos de Kunte et al. (1988) [31] e Jackson et al. (2012) [30], os quais indicam que para estrelas do tipo solar há uma tendência de diminuição na emissão do fluxo luminosidade bolométrica de raio-X com a idade estelar. Esta figura mostra um comportamento semelhante à tendência encontrada para a abundância de lı́tio e atividade cromosférica, embora a base de estrelas com esta medida seja restrita. 4.1.4 Velocidade angular e a rotação das estrelas análogas e gêmeas A rotação é parâmetro importantı́ssimo para descrever a formação e evolução de uma estrela. Para o estudo da rotação utilizamos as estrelas que possuem propriedades fı́sicas muito parecidas com o Sol. Como descrito por Soderblom (1982) [68], as relações exitentes entre a rotação e a atividade cromosférica e coronal, idade, depleção do Li e perda do momento angular podem ser peças fundamentais para uma melhor compreensão sobre a evolução de estrelas frias. Na figura 4.8 estão representados modelos evolutivos para a velocidade angular das estrelas e curvas de ajustes baseado em estrelas do projeto “Sun in time”(Guinan & Engle (2009) [24]). A linha em azul representa a tendência evolutiva calculada a partir do código de evolução TGEC; a linha em vermelho mostra o melhor ajuste para este grupo de análogas e gêmeas com base no resultado obtido por Skumanich (1972) [66]; a linha verde representa a tendência proposta por Guinan & Engle (2009) e a curva em preto apresenta o ajuste proposto neste trabalho com base nos dados de Guinan & Engle (2009). Como o perı́odo de rotação aumenta com a idade, isso implicará em uma diminuição na velocidade rotacional, conforme mostrado nas figuras 4.9 e 4.8 a velocidade angular das estrelas apresenta uma clara diminuição com a idade. 44 CAPÍTULO 4. ANÁLISE DOS DADOS E OBTENÇÃO DOS RESULTADOS Figura 4.8: log 1/Prot como função da idade. Esta figura apresenta uma tendência evolutiva para a velocidade angular das estrelas análogas e gêmeas. As cruzes representam as estrelas de Lovis et al. (2011), os cı́rculos abertos e os cı́rculos fechados são respectivamente, as estrelas análogas solares e gêmeas propostas por Takeda et al. (2007), e suas idades são baseadas nos valores calculados por do Nascimento et al. (2009). Os quadrados vermelhos representam as gêmeas solares 18Sco e CoRoT Sol 1. A rotação estelar foi por muito tempo o tema principal na astrofı́sica estelar e mesmo após décadas de estudo, inúmeras perguntas continuam sem respostas. A rotação é, sem dúvida, fator imprescindı́vel na trajetória evolutiva de uma estrela. A maneira como a rotação evolui em estrelas massivas (ou em estrelas de pouca massa) é um fenômeno não muito bem compreendido. A cada nova fase da evolução, a rotação desempenha um papel crucial na sustentação da estabilidade estelar, auxiliando a pressão interna a contrabalancear o colapso gravitacional. O efeito mais imediato provocado pela rotação, talvez seja, as mudanças no equilı́brio hidrostático devido ao movimento turbulento do gás em seu interior devido à aceleração centrı́fuga. Esses movimentos caóticos das porções internas de massa provoca um efeito bastante conhecido chamado de rotação diferencial . 45 CAPÍTULO 4. ANÁLISE DOS DADOS E OBTENÇÃO DOS RESULTADOS Este fenômeno acontece pelo fato das diferentes camadas se movimentarem com velocidade angulares diferentes. Perı́odo de Rotação × Idade Nesta seção abordaremos o comportamento do perı́odo de rotação em função da idade. Como dito anteriormente, assim como a massa e a metalicidade, a rotação é um dos parâmetros que mais influenciam à trajetória evolutiva de uma estrela. A rotação acaba sendo responsável por diversos processos no interior estelar, como por exemplo, os processos de mistura, atividade magnética, dentre outros. A rotação superficial de uma estrela pode ser determinada de duas formas distintas: a partir da análise de seu espectro eletromagnético, ou pela variação da intensidade da curvas de luz, devido a presença de manchas se deslocando pela fotosfera fruto da atividade magnética estelar. O perı́odo de rotação (Prot ) das estrelas pode ser determinado através da análise da sua curva de luz. Para melhores resultados de nossa análise, foi necessário uma pesquisa na literatura para as estrelas de Takeda et al. (2012) com perı́odos determinados (Ver referências no Apêndice A). Nota-se na figura 4.8 que o perı́odo de rotação cresce com a idade. Isso indica que estrelas mais jovem apresentam maiores velocidades rotacionais, consequentemente menores perı́odos de rotação. Da mesma forma que estrelas mais velhas possuem maiores perı́odos devido à velocidade de rotação ser menor. Esta figura mostra com muita clareza a tendência evolutiva do perı́odo de rotação das estrelas análogas e gêmeas solares com relação a idade. Tais resultados estão sendo confirmados com perı́odos rotacionais provenientes das missões CoRoT2 e Kepler 3. Na figura 4.9 continuamos a análise do (Prot × idade). Nesta figura representamos o ajuste que melhor descreve a evolução temporal do perı́odo de rotação. O aumento do perı́odo de rotação se dá conforme a equação 4.1. Nesta figura, é evidente a correlação entre o perı́odo de rotação e a idade estelar. Encontramos uma relação que descreve o comportamento desta dependência como sendo uma lei de potência da forma Prot ∝ t0.8 . Este resultado vai de encontro ao trabalho de Skumanich (1972), o qual propôe que a ligação entre a rotação e a idade é ∝ t0.5 . Prot = 7.62t0.82 , (4.1) 2 Missão espacial com intuito de observar mais de 120 mil estrelas, afim de descobrir planetas extrasolares pelo trânsito de planetas, assim como estudar a rotação e convecção pela sismologia estelar. 3 Projeto da agência espacial americana (NASA) que observará mais de 100 mil estrelas para detectar novos planetas extrasolares. 46 CAPÍTULO 4. ANÁLISE DOS DADOS E OBTENÇÃO DOS RESULTADOS Figura 4.9: Perı́odo de rotação (Prot ) como função da idade. As cruzes representam as estrelas de Lovis et al. (2011), os cı́rculos abertos e os cı́rculos fechados são respectivamente, as estrelas análogas solares e gêmeas propostas por Takeda et al. (2007), e suas idades são baseadas nos valores calculados por do Nascimento et al. (2009). Os quadrados vermelhos representam as gêmeas solares 18Sco e CoRoT Sol 1. O sol está representado com os perı́odos de rotação equatorial e polar. Na figura também estão representados os ajustes teóricos (linhas contı́nuas), além da lei de Skumanich (linha tracejada). Perı́odo de Rotação × Massa A massa estelar é outro parâmetro fundamental e de extrema importância na trajetória evolutiva de uma estrela e na sua estrutura interna. É através dela que podemos estimar quais as fases evolutivas que uma estrela seguirá em sua existência. A massa inicial é fator determinante em seu tempo de vida e principal parâmetro de entrada nos códigos evolutivos. A figura 4.10 relaciona o perı́odo de rotação como função da massa estelar. A figura 47 CAPÍTULO 4. ANÁLISE DOS DADOS E OBTENÇÃO DOS RESULTADOS Figura 4.10: Perı́odo de rotação (Prot ) como função da massa. A figura da esquerda é construı́da com os valores de massa calculados por do Sousa et al. (2008) e Takeda et al (2007). Na figura da direita estão plotadas as massas calculadas neste trabalho. As cruzes representam as estrelas de Lovis et al. (2011), os cı́rculos abertos e os cı́rculos fechados são respectivamente, as estrelas análogas solares e gêmeas propostas por Takeda et al. (2007). 4.10a foi construı́da com os valores de massa obtidos por Takeda et al. (2007) e Sousa et al. (2008). Podemos constatar que neste gráfico não há uma tendência evolutiva entre o perı́odo de rotação e a massa. Analisando essa figura 4.10b nota-se a forte dependência da rotação como função da massa. Estrelas mais massivas apresentam uma rotação maior, enquanto que estrela de menor massa apresentam maior perı́odo de rotação. Mesmo restringindo nossa base de dados para estrelas analógas solares, cujo intervalo de massa é muito pequeno, vemos a forte dependência da massa em sua rotação. Por tudo isto podemos concluir que os valores de massa calculados nesse trabalho são mais robustos que os valores de Takeda et al, (2007) e Sousa et al. (2008). 48 CAPÍTULO 4. ANÁLISE DOS DADOS E OBTENÇÃO DOS RESULTADOS 4.1.5 Dı́namos estelares Apresentamos aqui uma análise dos dados e que podem ser utilizados no estudo do ciclo magnético estelar. O estudo do magnetismo estelar começou de forma despretensiosa em meados do século XVII com a contagem do número de manchas na superfı́cie do Sol. A partir desta datação foi possı́vel notar algumas caracterı́sticas deste fenômeno e como exemplo disto podemos citar: o perı́odo do ciclo de atividade, o surgimento duplo de manchas e a rotação diferencial. As manchas são causadas por intensos campos magnéticos que emergem na fotosfera de uma estrela formando regiões escuras (menor temperatura) devido ao contraste com partes vizinhas. Essas observações sistemáticas das manchas solares forneceram informações cruciais para embasar o magnetismo solar. A explicação mais aceitável sobre a origem do campo magnético das estrelas, assim como de outros corpos celestes, surgiu da suposição que esse campo poderia ser mantido pela indução de correntes elétricas no fluido em movimento, conhecida como teoria do dı́namo. As interações entre as componentes poloidal e toroidal do campo magnético são fundamentais para o funcionamento do dı́namo solar. O ente responsável por essa conexão é a rotação, por isso esse parâmetro tem influência direta na eficiência do dı́namo. De acordo com Böhm-Vitense (2007) [4], em estrelas de tipo solar o dı́namo estelar pode atuar em duas regiões distintas: na base da zona convectiva e próximo da superfı́cie, nesta última região é notada a rotação diferencial. Essa proposta deve explicar o porquê algumas estrelas da sua base de dados apresentam dois ciclos de atividade distintos, assim como esclarecer a relação entre a duração do ciclo de atividade e o perı́odo de rotação. Na figura 4.11 temos uma clara tendência de crescimento do perı́odo de atividade com o perı́odo de rotação. As estrelas (verdes a azuis) aparentam seguir duas sequências distintas; a ativa para estrelas mais jovens e a inativa para estrelas mais velhas. Por sua vez, o Sol surge entre as duas sequências, como sofresse influência de ambas as sequências. Segundo Böhm-Vitense (2007) o aparecimento dessas duas sequências pode está relacionado com o Vaughan-Preston gap. Esse fenômeno retrata uma discontinuidade do fluxo de atividade cromosférica para valores intermediários do ı́ndice S. A figura 4.11A foi retirada de Böhm-Vitense (2007) com o objetivo de fomentar novas propostas para o estudo da relação do ciclo de atividade com o perı́odo de rotação. Na figura 4.11B estão representadas as estrelas análogas e gêmeas solares de nossa base de dados, restritas por metalicidade −0.2 ≤ [F e/H] ≤ 0.2, enquanto que na figura 4.11C temos estrelas do tipo F, G e K com ciclo de atividade determinado por Lovis et al. (2011), onde não há restrição de massa e metalicidade. O que podemos notar é que com esses novos dados não temos 49 CAPÍTULO 4. ANÁLISE DOS DADOS E OBTENÇÃO DOS RESULTADOS Figura 4.11: Perı́odo do ciclo de atividade como função do perı́odo de rotação. Os asteriscos indicam estrelas inativas, os Xs representam estrelas ativas. Os triângulos indicam estrelas com um segundo ciclo de atividade, as letras H indicam estrelas do grupo Hyades e os quadrados mostram estrelas com B − V < 0.62. Os cı́rculos abertos são as estrelas de nossa base de dados e o quadrado vermelho representa 18Sco. Adaptado de Böhm-Vitense (2007). 50 CAPÍTULO 4. ANÁLISE DOS DADOS E OBTENÇÃO DOS RESULTADOS Figura 4.12: log Pcyc /Prot em função do perı́odo de rotação. Esta figura relaciona o logarı́timo do número de rotações por ciclo. Os asteriscos indicam estrelas inativas, os Xs representam estrelas ativas. Os triângulos indicam estrelas com um segundo ciclo de atividade, as letras H indicam estrelas do grupo Hyades e os quadrados mostram estrelas com B −V < 0.62. Os cı́rculos abertos são as estrelas de nossa base de dados e o quadrado vermelho representa 18Sco. Adaptado de Böhm-Vitense (2007). 51 CAPÍTULO 4. ANÁLISE DOS DADOS E OBTENÇÃO DOS RESULTADOS uma segregação em duas sequências distintas. Na figura 4.12 apresentamos ainda outra adaptação da figura do artigo de BöhmVitense (2007) com os novos dados. Nesta figura está representada a relação do número de rotações por ciclo, log(Pcyc /Prot ), em função do perı́odo de rotação . Com base nos dados provenientes de Böhm-Vitense (2007) (sı́mbolos verdes e azuis) percebemos um desmembramento para as estrelas da sequência ativa e inativa, além disso temos que para estrelas de uma mesma sequência o número de rotações por ciclo não varia muito, porém quando examinamos o número de rotação de sequências distintas vemos uma lacuna que separa uma sequência da outra. Conforme Böhm-Vitense esse fato pode estar relacionado com a atuação do dı́namo nas diferentes sequências. A figura 4.12A foi retirada de Böhm-Vitense (2007). A figura 4.12B apresenta estrelas de nossa base selecionadas com metalicidade entre −0.2 ≤ [F e/H] ≤ 0.2, enquanto que na figura 4.12C ampliamos os valores de massa e metalicidade da base de dados. Examinando estas últimas figuras, podemos atentar que ao inserir novos dados não fica muito clara a distinção em duas sequências, ou é provável que existam várias sequências e que o funcionamento do dı́namo esteja relacionado com outros parâmetros. 52 CAPÍTULO 4. ANÁLISE DOS DADOS E OBTENÇÃO DOS RESULTADOS Figura 4.13: Distribuição normalizada dos parâmetros analisados, apresentando uma sugestão de trajetória evolutiva para o Sol. 4.2 Distribuição estatı́stica da amostra Nesta seção nossa intenção foi de apresentar um estudo estatı́stico das distribuições dos parâmetros observacionais utilizados neste trabalho. Para fins de comparação iremos realizar uma normalização para comparar paralelamente a evolução temporal de cada um dos observáveis. 53 CAPÍTULO 4. ANÁLISE DOS DADOS E OBTENÇÃO DOS RESULTADOS 4.2.1 Distribuição normalizada Na figura 4.13 apresentamos o conjunto dos quatro observáveis normalizados em função da idade estelar (eixo relativo para cada grandeza). A simbologia é a mesma representada para as figuras anteriores. Os traços representam uma sugestão de decaimento de cada um dos parâmetros com a idade. Na figura 4.14 apresentaremos os histogramas para cada parâmetro. Na figura 4.15 compararemos as quatro curvas entre si. Analisando a figura 4.13, poderemos dizer que o comportamento decrescente da A(Li), ′ log RHK , e LX , juntamente com a tendência crescente do Prot são praticamente paralelos. As estrelas gêmeas solares apresentam comportamento coerente na evolução das quatro figuras. Analisando estatisticamente as distribuições para cada um dos parâmetros apresentados anteriormente verificaremos com base na figura 4.14 que não há um comportamento ′ universal dominante. Poderemos dizer que o fluxo log RHK , abundância de lı́tio e a perı́odo rotacional apresentam distribuições bimodais (com dois modos). Enquanto que LX tem caracterı́sticas de uma gaussiana. Na próxima seção apresentaremos os testes estatı́sticos realizados para verificar a intercorrelação entre os parâmetros. Na figura 4.15 apresentaremos as tendências evolutivas para cada um dos parâmetros observacionais estudado. Poderemos inferir que os quatro parâmetros apresentam traçados evolutivos muito semelhantes quando analisados no gráfico normalizado. 54 CAPÍTULO 4. ANÁLISE DOS DADOS E OBTENÇÃO DOS RESULTADOS Figura 4.14: Histogramas mostrando as distribuições dos parâmetros analisados neste trabalho. 4.2.2 Teste Kolmogorov-Smirnov (KS ) Um aspecto quantitativo deste trabalho diz respeito à análise estatı́stica da amostra utilizando também o teste Kolmogorov–Smirnov. Essa ferramenta nos auxilia a verificar o quanto cada um dos parâmetros analisados podem estar relacionados entre si. Neste caso analisamos cada um dos parâmetros com relação ao perı́odo de rotação, os quais são propostos em vários trabalhos como parâmetros controladores da abundância e da atividade estelar. Na figura 4.16, apresentaremos que o comportamento das distribuições KS para a abundância de lı́tio, fluxo de atividade cromosférica e luminosidade em raio-X decorrem da evolução da rotação. O diagrama (A) relaciona a abundância de lı́tio com o perı́odo 55 CAPÍTULO 4. ANÁLISE DOS DADOS E OBTENÇÃO DOS RESULTADOS Figura 4.15: Tendências evolutivas para cada um dos parâmetros analisados em um eixo de unidade relativa normalizada de rotação e mostra grande semelhança entre as duas distribuições cumulativas. O que nos leva a concluir que realmente a rotação estelar intefere na evolução da abundância, da mesma forma que a atividade cromosférica, diagrama (B), também apresentar grande similaridade com a distribuição KS do perı́odo de rotação. Nestes diagramas a distância, D, entre as distribuições é muito pequena, o que reforça a explicação para a correlação entre abundância, atividade e rotação. No entanto, o diagrama (C) que relaciona o fluxo em raio-X e perı́odo de rotação são muito diferentes. Esse resultado pode estar relacionado a dois fatores: o primeiro é que a rotação não deve interferir fisicamente na emissão de raio-X e plasma de alta energia, a outra interpretação é que nossa base de dados é insuficiente ainda para uma análise conclusiva desta correlação. 56 CAPÍTULO 4. ANÁLISE DOS DADOS E OBTENÇÃO DOS RESULTADOS Figura 4.16: Teste Kolmogorov–Smirnov dos parâmetros de nossa amostra. A linha sólida representa a distribuição para o perı́odo de rotação, enquanto a linha pontilhada representa a distribuição para o parâmetro a ser estudado. A maior distância entre as distribuições é indicada pela letra D e a probabilidade dessas duas distribuições serem parecidas é representada por P. 57 Capı́tulo 5 Conclusões e perspectivas “O aspecto mais triste da vida de hoje é que a ciência ganha em conhecimento mais rapidamente que a sociedade em sabedoria.” Isaac Asimov Neste capı́tulo iremos comentar nossos resultados e descrever nossas conclusões para o referente trabalho, além de apresentar algumas perspectivas sobre a continuidade da pesquisa. 5.1 Conclusões No presente trabalho expomos uma análise evolutiva de importantes parâmetros estelares (atividade cromosférica, abundância de lı́tio e rotação) para estrelas análogas e gêmeas solares. Revisitamos estudos anteriores que abordaram o comportamento do ciclo de atividade estelar com relação ao seu perı́odo de rotação. Nosso principal objetivo nesta dissertação foi de entender a evolução da rotação, da abundância de lı́tio e da atividade cromosférica das estrelas análogas e gêmeas solares. A seguir, os pricipais resultados obtidos nesta dissertação: Analisando os diagramas que relacionam a evolução da abundância de lı́tio e o fluxo ′ de Ca ii (RHK ) como função das idades estelares, confirmamos os resultados apresentados em diversos trabalhos e que anteriormente já foram citados. Um ponto importante 58 CAPÍTULO 5. CONCLUSÕES E PERSPECTIVAS nessa análise é que neste estudo utilizamos novos valores de idade e que corroboram uma evidente diminuição na abundância do lı́tio e da atividade cromosférica paralelas à diminuição da rotação. Outro fato importante é que, tanto para a abundância de lı́tio como para o fluxo de Ca ii das gêmeas solares apresentam um comportamento que segue uma possı́vel trajetória evolutiva solar. Com base nas distribuições estatı́stica da seção 4.2.1, podemos afirmar que existe uma forte relação entre rotação, abundância de lı́tio e atividade cromosférica. Os diagramas apresentam grandes semelhanças entre si e indicam que esses parâmetros são correlacionados. Testamos a relação histórica da evolução da rotação de estrelas de pouca massa a partir da lei empı́rica proposta por Skumanich. Entretanto, considerando os diagramas que relacionam o perı́odo de rotação (Prot ) em função da idade verificamos um notório aumento no perı́odo de rotação, porém que não é totalmente descrito por uma lei do tipo Skumanich após 1.5 Gyr. Os diagramas que relacionam a luminosidade em raio-X (LX ) em função da idade apresentam uma diminuição no fluxo semelhante à abundância de lı́tio e o fluxo de atividade cromosférica, embora nossa base de dados para esse parâmetro ainda seja restrita. Este trabalho mostra que a idade estelar é importante parâmetro no estudo da evolução da atividade e abundância quı́mica das estrelas análogas e gêmeas solares. A tendência apresentada em todos os diagramas indica que as idades calculadas por do Nascimento et al. (2009) são mais robustas e diferem dos valores de Takeda et al. (2012). Além disso, nossos dados lançam uma nova luz na análise da rotação em função do ciclo magnético como proposto por Böhm-Vitense (2007). 5.2 Perspectivas Uma das perspectivas de nosso trabalho é observar o comportamento da abundância de outros elementos quı́micos. Além de entender qual o papel da rotação na fı́sica que regula o comportamento da abundância de lı́tio e da atividade cromosférica das estrelas análogas e gêmeas solares. Procurar entender também qual é a fı́sica que governa a emissão de raioX no processo de evolução estelar. Outro ponto a ser explorado, é ampliar nossa pesquisa, no sentido de acrescentar medidas do campo magnético para estrelas gêmeas e análogas 59 CAPÍTULO 5. CONCLUSÕES E PERSPECTIVAS solares. Devemos destacar a utilização dos recentes dados obtidos pelas missões espaciais CoRoT e Kepler. Neste sentido um primeiro artigo encontra-se em fase de submissão. 60 Referências Bibliográficas [1] C. Angulo, M. Arnould, M. Rayet, P. Descouvemont, D. Baye, C. Leclercq-Willain, A. Coc, S. Barhoumi, P. Aguer, C. Rolfs, R. Kunz, J. W. Hammer, A. Mayer, T. Paradellis, S. Kossionides, C. Chronidou, K. Spyrou, S. degl’Innocenti, G. Fiorentini, B. Ricci, S. Zavatarelli, C. Providencia, H. Wolters, J. Soares, C. Grama, J. Rahighi, A. Shotter, and M. Lamehi Rachti. A compilation of charged-particle induced thermonuclear reaction rates. Nuclear Physics A, 656:3–183, August 1999. [2] J. N. Bahcall and M. H. Pinsonneault. Standard solar models, with and without helium diffusion, and the solar neutrino problem. 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