TCC_Jucemara Gervasio 1112

Propaganda
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ
CENTRO DE EDUCAÇÃO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
CURSO DE PSICOLOGIA
A RELAÇÃO ENTRE AS EMOÇÕES E O FUNCIONAMENTO DO
SISTEMA IMUNOLÓGICO.
JUCEMARA GERVASIO
Itajaí, (SC) 2009
1
JUCEMARA GERVASIO
A RELAÇÃO ENTRE AS EMOÇÕES E O FUNCIONAMENTO DO
SISTEMA IMUNOLÓGICO.
Monografia apresentada como requisito
parcial para obtenção do título de Bacharel
em Psicologia da Universidade do Vale do
Itajaí.
Orientador: Prof. Dr. Eduardo José Legal.
Itajaí SC, 2009.
2
Dedicatória
Dedico este trabalho à minha sobrinha Caroline,
que trouxe alegria e esperança para minha vida.
3
AGRADECIMENTOS
A toda minha família que, com muito carinho e dedicação, não mediram esforços para que
eu chegasse até esta etapa de minha vida.
Ao professor e orientador Eduardo José Legal por seu apoio e incentivo que tornaram
possível a conclusão desta monografia.
4
SUMARIO
RESUMO ................................................................................................................ 6
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................7
2 EMBASAMENTO TEÓRICO ............................................................................. 11
2.1 As relações entre saúde, doença e comportamento ................................... 11
2.2 Sistema Imunológico ................................................................................... 14
2.2.1 Células do sistema imune ........................................................................ 16
2.2.2 Fisiologia do sistema imune ..................................................................... 19
2.2.2.1 Fases da resposta imunológica .............................................................. 20
2.3 As relações entre sistema imune, endócrino e nervoso ............................... 22
3 ASPECTOS METODOLÓGICOS ...................................................................... 25
4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ................................ 27
4.1 Stress .......................................................................................................... 27
4.2 Depressão ................................................................................................... 33
4.3 Ansiedade ................................................................................................... 36
4.4 Emoções positivas ...................................................................................... 38
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................. 40
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................. 42
7 APÊNDICES ..................................................................................................... 45
7.1 Apêndice 1 .................................................................................................... 45
7.2 Apêndice 2 ......................................................................................................50
5
A RELAÇÃO ENTRE AS EMOÇÕES E O FUNCIONAMENTO DO
SISTEMA IMUNOLÓGICO.
Orientador: Eduardo José Legal.
Defesa: Novembro de 2009.
Resumo:
Emoções e sistema imune foram os dois eixos norteadores desta pesquisa. Este trabalho teve por
intuito investigar na literatura especializada a relação existente entre as emoções (e sua mediação
pelo sistema nervoso) e as respostas neurofisiológicas que são desencadeadas em todo o
organismo através desta experiência, com foco principal apontado para sua influência no
funcionamento do sistema imune. Em razão da grande importância da relação entre estes dois
sistemas, a psiconeuroimunologia tornou-se uma área crescente da pesquisa em neurociências e
tem apontado a influência das emoções no surgimento, manutenção ou imunidade e melhora das
doenças. O estudo caracteriza-se como uma revisão bibliográfica, baseado no levantamento da
literatura especializada, a qual foi buscada em bases de dados, bibliotecas universitárias e
particulares, livros, artigos, teses, dissertações e monografias produzidas no Brasil sobre o tema.
Após a recuperação, seleção, leitura e análise dos estudos foram apresentadas as principais
descobertas, teorias e hipóteses desta relação (emoções x sistema imune). Os resultados obtidos
confirmaram a relação entre as emoções e o funcionamento do sistema imunológico, o que nos
levou a concluir o quanto é importante para o profissional psicólogo se apropriar deste
conhecimento para incrementar suas práticas tanto no nível de tratamento e prevenção, quanto de
promoção da saúde.
PALAVRAS-CHAVE:
Emoções; Sistema Imune; Psiconeuroimunologia
SUB-ÁREA DE CONCENTRAÇÃO (CNPQ):
Membros da Banca
______________________________________
Prof. Dr. Telmo José Mezadri
______________________________________
Prof. Dr. Márcia Ghisi Mezadri
___________________________________
Prof. Dr. Eduardo José Legal (Orientador)
6
1 INTRODUÇÃO
Não há um consenso sobre o que são as emoções. Como relata Ledoux
(1996), elas podem ser interpretadas como reações físicas que se desenvolveram
com finalidades de adaptação durante nossa história evolutiva; podem também ser
considerados estados mentais decorrentes das respostas corporais processadas
pelo cérebro; ou ainda, que sejam reações neuroquímicas e o que realmente é
importante se processam no interior do cérebro, sendo as reações físicas apenas
sua manifestação.
Psicólogos e filósofos discutem a mais de um século sobre o significado
específico do termo emoção, que pode manifestar-se como sendo um sentimento,
que implica em pensamentos distintos, estados psicológicos e biológicos e que
resultam em diferentes ações (GOLEMAN; 1995).
Todas as emoções são, em essência, impulsos para agir, planos
instantâneos para lidar com a vida que a evolução nos infundiu. A própria
raiz da palavra emoção é movere, “mover” em latim, mais o prefixo “e”,
para denotar “afastar-se”, indicando que uma tendência está implícita em
toda emoção (p. 20).
Contudo, de modo geral, podemos afirmar que as emoções são padrões de
respostas fisiológicas e de comportamentos específicos da espécie, em resposta a
um evento (situação) que a desencadeia. A resposta emocional pode ser dividida
didaticamente em três componentes: comportamental, autonômico e hormonal
(CARLSON, 2002).
O componente comportamental consiste nas ações musculares apropriadas
à situação que estamos vivenciando (afastamento ou aproximação). A excitação
ou relaxamento de órgãos dos sentidos, vísceras e músculos são modulados pelo
sistema nervoso autônomo, que é o componente autonômico. Por fim, os vários
hormônios que são liberados pelas glândulas e que atuam sobre o tecido
muscular, cérebro e outros órgãos compõem a resposta hormonal das emoções.
7
De fato, ao expressarmos uma emoção, apresentamos alterações
fisiológicas na freqüência cardíaca, na pressão sangüínea e nas secreções
hormonais, além de reações faciais (expressões) que comunicam nosso estado
motivacional para os outros (CARLSON, 2002; KOLB; WISHAW, 2002; LEGAL,
1996).
Podemos atribuir três grandes utilidades para as emoções: a primeira delas
seria a sobrevivência do indivíduo em um caso de vida ou morte, em que as
emoções geram comportamentos para lutar ou fugir; a segunda envolve os
comportamentos emocionais adequados para a reprodução e a garantia da
sobrevivência da espécie; e finalmente, a expressão emocional como forma de
comunicação social, que adquiriu grande importância para os seres humanos, pois
seu repertório comportamental, que abrange as necessidades atuais da espécie,
ultrapassa o estreito vínculo com as atividades de sobrevivência (LENT, 2002).
Apesar de algumas diferenças (RUSSELL, 1991,1995 apud MYERS, 1999),
culturas e linguagens partilham muitas semelhanças na maneira como
categorizam emoções – raiva, medo e assim por diante. Os indicadores
fisiológicos da emoção também cruzam as fronteiras culturais (LEVENSON et al.,
1992 e MESQUITA; FRIJDA, 1992 apud MYERS, 1999). Em diferentes culturas
podemos observar expressões faciais universais para as emoções básicas, a
diferença está em como e quanto essas emoções são expressas.
As ações desencadeadas pelas emoções são mais facilmente observadas
em crianças e animais, porém os adultos “civilizados” normalmente apresentam
reações divorciadas dos impulsos provocados por determinadas emoções
(LEDOUX, 1996).
Em ação, as emoções tornam-se importantes fatores de motivação para
atitudes futuras, pois irão definir o rumo de cada ação e dar a partida nas
realizações de longo prazo. Mas nossas emoções também podem nos trazer
problemas. A saúde mental está intrinsecamente ligada ao quanto e ao que
fazemos para nos sentirmos bem emocionalmente (higiene emocional) e, em sua
maioria, os problemas emocionais acabam refletindo o colapso da organização
8
emocional, que pode ter conseqüências tanto úteis quanto patológicas (LEDOUX,
1996).
Sobre a dimensão psicológica, Ballone (2001 apud ALVES et al., 2005)
comenta que as motivações causadas pelas emoções têm origem impulsiva, e
controlam as condutas humanas. Nesse sentido, são consideradas, de um ponto
de vista geral, como provindas de substratos biológicos causando influências
sobre a saúde e a doença através de suas propriedades psicofisiológicas.
Emoções estas que podem ter vários sentidos para o corpo e são classificadas a
priori, como sendo agradáveis ou desagradáveis. Entre elas podemos citar a
alegria, medo, ansiedade, raiva, etc.
O único elemento comum entre as diferentes emoções é o reforço, isto é,
um estímulo positivo (prazeroso) ou negativo (desagradável) que resulta na
motivação por prolongar ou interromper a experiência emocional (LENT, 2004).
Algumas emoções como a raiva e a melancolia (ambas presentes no
estresse) podem estar associadas a vários transtornos de ordem psicofisiológicas,
como por exemplo, hipertensão e transtornos cardiovasculares (TENNANT, 2001;
WILLIAMS et al., 2000), cefaléias, asma, síndrome pré-menstrual, doenças
dermatológicas, transtornos digestivos e de alimentação, debilidade do sistema
imunológico e tantos outros distúrbios (BALLONE, 2001 apud ALVES et al., 2005).
É importante observar que ao reprimirmos as emoções podemos causar danos
profundos aos tecidos, uma vez que a repressão contínua das mesmas gera
desequilíbrio homeostático, que eleva o estresse até que todo o sistema esteja
comprometido, tanto física quanto psiquicamente (BALLONE; PEREIRA NETO;
ORTOLANI, 2001).
Os estímulos disparadores das emoções estão relacionados às respostas
autonômicas e comportamentais que ocorrem logo no início de uma emoção e
recebem o nome de respostas emocionais imediatas. Quando as respostas
emocionais
tornam-se
crônicas,
seja
porque
os
estímulos
disparadores
permanecem ou porque o indivíduo apresenta um distúrbio afetivo, ocorrem as
respostas prolongadas, geralmente mantidas com o envolvimento de hormônios e
do sistema imunitário, causando também ansiedade e estresse (LENT, 2004).
9
Segundo Ballone, Pereira Neto e Ortolani (2002, p.205),
[...] o estresse, seja ele de natureza física, psicológica ou social, é um
termo que compreende um conjunto de reações fisiológicas, as quais,
quando exageradas em intensidade e duração, acabam por causar
desequilíbrio no organismo, freqüentemente com efeitos danosos.
Por serem as emoções negativas mais conhecidas que as positivas (LENT,
2004; MYERS, 1999), seus mecanismos neurais também se tornam mais
conhecidos. A amígdala, estrutura localizada no lobo temporal desempenha o
papel de principal estrutura controladora das emoções (negativas). Por meio de
suas conexões com o córtex e tálamo essa estrutura recebe informações
sensoriais e tem a função de filtrar e avaliar a natureza dessas emoções. Em
seguida, a amígdala comanda as regiões responsáveis pelos comportamentos e
ajustes fisiológicos adequados (no hipotálamo e no tronco encefálico).
As emoções positivas ainda não possuem uma base neural segura; por
serem pouco conhecidas suas definições encontram-se ainda no âmbito
experimental.
Em termos de definições operacionais, Kolb e Wishaw (2002) ressaltam que
primeiramente devemos especificar os tipos de comportamentos apresentados em
uma determinada emoção, para em seguida explorar o controle neural da mesma.
Diferentes comportamentos sugerem a influência de diferentes sistemas neurais.
O hipotálamo e estruturas associadas estão relacionados à resposta autônoma; a
amígdala e algumas regiões dos lobos frontais estão relacionadas aos
sentimentos; as cognições (pensamentos ou planos relacionados à experiência)
devem ser controladas no nível cortical.
A junção de todas estas peças pode lançar luz sobre o funcionamento das
emoções e sua complexa relação com os demais processos psicológicos básicos,
incluindo suas bases neurais. Este conhecimento, por sua vez, pode também
gerar novos recursos para que o psicólogo e o neuropsicólogo possam
desenvolver novas estratégias de intervenção nos mais diversos cenários de
atuação, além de permitir compreender a relação entre o comportamento
10
emocional e outros estados fisiológicos que acompanham as doenças de modo
geral.
Embora os estudos sobre a ligação entre os fatores psicológicos e as
doenças pareçam bastante adiantados, muitas respostas ainda não são
conhecidas (SARDÁ; LEGAL; JABLONSKI, 2004).
O levantamento das publicações realizadas recentemente dará uma noção
ainda mais ampliada do quanto às respostas emocionais crônicas mantidas com o
envolvimento de hormônios do sistema imunitário contribuem de maneira cada vez
mais evidente para o surgimento de doenças (LENT, 2004).
Esta pesquisa é relevante do ponto de vista social, porque através de seus
resultados será possível uma reflexão mais aprimorada acerca do processo
saúde/doença, com o intuito de repensar os aspectos psicossociais como o
controle do estresse, as estratégias de enfrentamento, o apoio social, e os hábitos
e estilos de vida que podem estar associados a este processo. Visando também a
redução do impacto econômico, social e pessoal das doenças.
Deste modo, o objetivo deste trabalho foi investigar na literatura
especializada as relações entre os estados emocionais e a função imunológica.
Para tanto, foram levantadas em bases de dados, bibliotecas universitárias e
particulares, livros, artigos, teses, dissertações e monografias versando sobre as
relações entre emoções e o funcionamento do sistema imune. Dentre estes
materiais encontrados foram selecionados aqueles que versavam especificamente
sobre definições operacionais de emoções, biologia das emoções e do
comportamento emocional, funcionamento e regulação do sistema imune,
relações entre estados emocionais e sistema imunológico. Sobre este material se
conduziu uma análise na tentativa de se identificar como se dão as relações entre
as emoções e a regulação do sistema imune.
11
2 EMBASAMENTO TEÓRICO
2.1 As relações entre saúde, doença e comportamento.
Desde os tempos de Hipócrates já existia uma crença de que os fatores
psicológicos influenciam a expressão dos sintomas físicos e de que podem afetar
o curso das doenças, sendo esta uma suposição básica na prática da medicina da
época (STOUDEMIRE; HALES, 2000).
Muitas denominações foram dadas à este campo de estudo. Inicialmente,
pelo início dos anos 30 do século XX, foi chamada de medicina psicossomática ou
ainda de medicina mente-corpo (STOUDEMIRE; HALES, 2000; STRAUB, 2005).
Estas denominações implicavam em um conhecimento predominantemente
médico, porém, na década de 70 e 80 o campo passa a ser denominado também
de psiconeuroendocrinoimunologia e psiconeuroimunologia (KIELCOLT-GLASER;
GLASER, 1997; SARDÁ, LEGAL; JABLONSKI, 2004).
A medicina psicossomática estuda a inter-relação entre os aspectos
psicológicos e fisiológicos do funcionamento normal e anormal do corpo. Suas
principais tendências derivam das três grandes áreas de teoria e da investigação
científica:
psicanálise,
psicofisiologia
e
psicobiologia
(LIPOWSKI
apud
STOUDEMIRE; HALES, 2000).
Atualmente considera-se que a relação entre fatores psicológicos e as
condições médicas é complexa e pode ser afetada globalmente por numerosas
variáveis biológicas e psicossociais. Deste modo, torna-se difícil pensar em uma
atividade ou comportamento que não influencie a saúde de alguma forma, de
maneira direta ou indireta, imediatamente ou a longo prazo, seja para melhor ou
para pior (STRAUB, 2005).
De acordo com Vasconcellos (2001), alinhada com este pensamento
encontra-se a perspectiva biopsicossocial, que ressalta as múltiplas influências
entre os contextos biológicos, psicológicos e sociais da saúde, e está
fundamentada na teoria sistêmica do comportamento. Nesta teoria, a saúde assim
12
como toda a natureza é melhor compreendida como uma hierarquia de sistemas,
em que cada uma deles é simultaneamente composto por subsistemas e por uma
parte de sistemas maiores e mais abrangentes, os quais, per se, são sistemas
vivos e como tal, exercem e recebem influência dos outros sistemas com os quais
interagem.
Aplicada ao ser humano, cada um de nós é um sistema, um corpo formado
por sistemas em interação, como o sistema endócrino, o cardiovascular, o nervoso
e o imunológico. Quando aplicada à saúde, essa abordagem destaca uma questão
fundamental: um sistema qualquer, em determinado nível, é afetado por sistemas
em outros níveis e também os afeta. Como exemplo, podemos citar o sistema
imunológico que enfraquecido afeta órgãos específicos no corpo de uma pessoa,
o que, por sua vez, afeta a saúde geral, e, dessa maneira, os relacionamentos
dessa pessoa com sua família e seus amigos (STRAUB, 2005).
A queda da defesa imunológica pode estar associada a quaisquer tipos de
ações estressantes. Exemplificando: a perda de emprego, eventos existenciais
decorrentes de situações de perda, sentimentos de rejeição, rupturas de
casamentos, baixa auto-estima, reprovação em concursos, ansiedade diante de
provas, dificuldade de adaptação e ainda outras condições existenciais nocivas.
Todos são eventos que poderão levar o indivíduo que as sofre a uma queda de
sua defesa imunológica, e desenvolver quaisquer doenças oriundas de tais
situações clínicas (MOREIRA, 2003).
Os eventos, independentes de sua origem psicológica ou emocional, ou
orgânica e física, irão desencadear, no organismo, as mesmas reações, os
mesmos fenômenos médicos de natureza funcional ou orgânica (MOREIRA, 2003;
PELLETIER, 1996). De acordo com o mesmo autor, fica evidente que as
agressões à personalidade, assim como as suas defesas, sejam elas somáticas
ou psíquicas, orgânicas ou emocionais, são, em essência, de mesma natureza.
Ainda de acordo com o mesmo autor, amor familiar, apoio psicossocial, elevada
auto-estima, fé religiosa e alegria de viver são consideradas estimulantes naturais
para o bom funcionamento do sistema imunológico, que servirá como defesa
contra eventos nocivos. Para indivíduos sem estas características os eventos
13
estressantes poderão representar situações de risco à manutenção da saúde.
Desta forma o mesmo estressor que acometeu a todos igualmente, pode causar
maiores prejuízos aos que estiverem mais vulneráveis aos seus efeitos.
O modo como as pessoas lidam com o estresse ou ainda o conjunto de
estratégias utilizadas para isso, são conhecidas tecnicamente como coping (ou
sua tradução, não tão bem adaptada: enfrentamento). Estas estratégias são
utilizadas pelas pessoas para adaptarem-se às circunstâncias adversas. Estas
estratégias podem ser classificadas em dois tipos, dependendo do foco de sua
ação. O coping focado na emoção, definido como um esforço para regular o
estado emocional que está associado ao estresse, e o coping focado no problema,
que se constitui em um esforço para atuar na situação que deu origem ao
estresse, com a intenção de mudá-la (ANTONIAZZI et al., 1998, LAZARUS;
FOLKMAN, 1984).
Variados esforços têm sido utilizados pelos indivíduos para lidar com
situações estressantes, crônicas ou agudas, se constituindo em objeto de estudo
da psicologia social, clínica e da personalidade e estão associados ao estudo das
diferenças individuais.
Estratégias negativas (aquelas que não permitem uma resolução eficaz de
uma situação) podem contribuir para a imunossupressão. Caño-Vindel (apud
BALLONE, PEREIRA NETO; ORTOLANI, 2002) indica que a repressão das
emoções negativas (evitar a demonstração da raiva e da tristeza, por exemplo)
pode provocar uma alta ativação do Sistema Nervoso Autônomo levando a um
padrão de reposta deficitária do sistema imunológico, semelhante aquele citado
para o estresse. Esta condição mantida por um longo tempo pode provocar
alterações no Sistema Imunológico tornando a pessoa vulnerável a enfermidades
infecciosas ou a doenças auto-imunes.
Do mesmo modo que os estados emocionais e as situações sociais nos
quais tais estados ocorrem modificam as respostas físicas, o contexto ecológico
também é uma variável importante, dado que determinadas circunstâncias
ambientais poderiam se dar em um ambiente, mas jamais, ou muito dificilmente,
em outros. Como aponta Angerami-Camon; Feijoo (2001) ambientes mais rurais
14
ou próximos de grandes centros urbanos podem interferir de modo diferente na
saúde das pessoas.
Há muitos indícios da existência das ligações diretas entre o sistema
nervoso central e o sistema imunológico, partes do organismo que por muito
tempo foram consideradas independentes. Porém existe ainda uma grande
controvérsia, com relação a esta influência da mente sobre o corpo e sobre a
natureza específica dessa ligação (PELLETIER, 1997). Algumas questões
incluindo os tipos precisos de fatores psicológicos e comportamentais, assim como
os tipos de indivíduos aptos a eles, os tipos específicos de doenças nas quais
esses efeitos são importantes e até que ponto, durante o curso da doença física
eles são os principais operantes, ainda estão sem resposta (STOUDEMIRE;
HALES, 2000).
No entanto, alguns estudos têm revelado não só a natureza destas ligações
como também os seus modos de atuação. É sobre estes estudos, da área de
medicina mente-corpo, medicina psicossomática, medicina comportamental e suas
derivações que este trabalho se fundamenta na tentativa de encontrar os nexos
causais entre fatores psicológicos e a saúde.
2.2 Sistema Imunológico
Este sistema tem a função de defender o corpo contra invasores. Os
micróbios (germes ou microrganismos), as células cancerosas e os tecidos ou
órgãos transplantados são interpretados pelo sistema imune como algo agressivo,
do qual o corpo deve ser defendido. Para isto o sistema imune precisa distinguir
entre células próprias e não próprias e, em seguida destruir, neutralizar ou eliminar
as que forem consideradas como não próprias que naturalmente não fazem parte
do organismo (KIECOLT-GLASER; GLASER, 1997).
O sistema imunológico é determinante à sobrevivência humana. Na
ausência de um sistema que funcione de maneira apropriada, mesmo as infecções
leves podem conter o hospedeiro e se mostrar fatais (PARHAM, 2001).
15
As células do sistema imune derivam originalmente da medula óssea; no
entanto, os linfócitos T migram da medula óssea para o timo, onde são
selecionados apenas aqueles que reconhecem moléculas que não são próprias
com alta afinidade. Ao viajarem pelo corpo, pequenos exércitos dessas células
ficam em alerta nos nódulos linfáticos e no baço, que possuem compartimentos
especializados para diferentes tipos de células do sistema imunológico
(BALESTIERI, 2006; PARHAM, 2001).
Todas estas células, após o aprendizado de suas funções na medula óssea
ou no timo, migram através dos vasos linfáticos para áreas especiais (linfonodos,
tonsilas, baço, fígado, pulmões e intestinos) de onde é possível recrutar, mobilizar
e deslocar linfócitos até zonas específicas como parte da resposta imune
(BALESTIERI, 2006).
Para determinar se as moléculas que são encontradas são próprias ou não,
o sistema imunológico utiliza inúmeras moléculas solúveis e receptores de
superfície celular e mantém o seu próprio sistema de circulação na forma de uma
rede de capilares, nódulos linfáticos (glândulas) e dutos que compõem o sistema
linfático (os vasos linfáticos) (DOAN, 2001; STRAUB, 2005).
O sistema linfático pode ser descrito como:
[...] uma rede de linfonodos conectados por vasos linfáticos. Os
linfonodos contêm uma malha de tecido em que linfócitos estão
intimamente unidos. Esta malha de linfócitos filtra, ataca e destrói
organismos
nocivos
que
causam
infecções.
Os
linfonodos
freqüentemente estão aglomerados em áreas onde os vasos
linfáticos se ramificam, como o pescoço, as axilas e virilhas
(MERCK,
2009,
http://www.msd-
brazil.com/msdbrazil/patients/manual_Merck/mm_sec16_167.html)
A linfa contém uma mistura de substancias que são absorvidas dos eptélios
e dos tecidos, a medida que passa pelos linfonodos, as células que apresentam
16
antígenos podem examinar os antígenos dos patógenos (causam doenças) que
possam ter entrado nos tecidos (ABBAS; LICHTMAN, 2007).
Outros órgãos e tecidos do corpo - timo, fígado, baço, apêndice, medula
óssea e pequenos aglomerados de tecido linfático (como as tonsilas na garganta e
as placas de Peyer no intestino delgado) também fazem parte do sistema linfático.
Essas estruturas também ajudam o corpo no combate às infecções (MERCK,
2009).
Figura 1. Sistema linfático
Fonte: http://www.manualmerck.net/?url=/artigos/%3Fid%3D193%26cn%3D1624
2.2.1 Células do sistema imune
As células do sistema imunológico são potentes e possuem funções
diferenciadas com um objetivo comum: eliminação de invasores. As principais são
os línfócitos, pequenos leucócitos que atacam de diversas formas as ameaças ao
organismo, assim como os monócitos, neutrófilos e células Natural Killers (células
17
assassinas naturais), que atuam no combate as infecções (KIECOLT-GLASER;
GLASER, 1997).
Figura 2. Leucócitos componentes do sistema imune.
Fonte: http://www.manualmerck.net/?url=/artigos/%3Fid%3D193%26cn%3D1624
Os linfócitos, por sua vez, são subcategorizados como linfócitos B, os quais
produzem anticorpos e linfócitos T, que ajudam o corpo a diferenciar entre o que
lhe é próprio do que não o é.
Os linfócitos B fazem parte da imunidade adquirida e são derivados de uma
célula-tronco (célula-mãe) da medula óssea onde amadurecem e passam a
produzir anticorpos específicos para diversos tipos de moléculas. Os anticorpos,
produzidos pelos linfócitos B ou células B, são pequenas proteínas membros da
família de proteínas chamadas imunoglobulinas que atacam bactérias, vírus e
outros invasores externos (chamados antígenos). Os mesmos se encaixam as
18
moléculas de antígenos que atacam como uma chave que se ajusta à fechadura,
sendo que, cada linfócito B produz apenas um tipo de anticorpo que ataca apenas
um tipo de antígeno. Por exemplo, um linfócito procura e destrói o vírus do
resfriado comum, enquanto outro ataca uma bactéria que causa pneumonia
(KIECOLT-GLASER; GLASER, 1997; ABBAS; LICHTMAN, 2007).
Os linfócitos T são formados quando as células-tronco migram da medula
óssea para o timo, onde eles dividem-se e amadurecem. Os linfócitos T aprendem
como diferenciar o que é próprio do organismo do que não o é no timo, porém
estes linfócitos não produzem anticorpos, sua função é entrar no sistema linfático,
e atuar como vigilante do sistema imune (KIECOLT-GLASER; GLASER, 1997).
De acordo com os autores citados acima, os vários grupos diferentes de
células – T possuem diferentes funções. As células T citotóxicas, junto com outras
células sanguíneas chamadas células citotóxicas naturais (NK- natural killer),
patrulham constantemente o organismo em busca de células perigosas. Quando
as encontram, essas células T associam-se às células invasoras e liberam
substâncias químicas microscópicas que as destroem.
As células Natural Killers assim como as células T e B linfocíticas, derivam
de um precursor da medula, mas até o momento pouco se sabe sobre como se
desenvolve. Sabe-se apenas que as necessidades para o desenvolvimento destas
células são nitidamente distintas das observadas para as células T e B. Acreditase que as células NK são responsáveis pela imunidade contra células infectadas
por vírus e tumores de surgimento espontâneo. O “natural” de seu nome se refere
a sua capacidade para destruir uma variedade de células-alvo assim que são
formadas, em vez de exigirem a maturação e o processo educativo que os
linfócitos B e T necessitam. As células assassinas naturais produzem ainda
algumas citocinas, substâncias mensageiras que regulam algumas das funções
dos linfócitos T, dos linfócitos B e dos macrófagos (BALESTIERI, 2006;
MOREIRA, 2003).
Passaremos a descrever algumas características de dois tipos de fagócitos
circulantes: os neutrófilos e os monócitos, tendo como referência Abbas; Lichtman
(2007):
19
Neutrófilos: é o primeiro grupo celular a responder á maioria das
infecções, particularmente ás infecções bacterianas e fúngicas. Eles ingerem os
microorganismos na circulação e entram rapidamente nos tecidos extravasculares
nos locais de infecção, onde também ingerem os patógenos, morrendo depois de
algumas horas.
Monócitos: são menos abundantes que os neutrófilos e também têm a
função de ingerir microorganismos no sangue e nos tecidos. Ao contrário dos
neutrófilos, os monócitos que entram nos tecidos extravasculares sobrevivem por
longos períodos, e se diferenciam em células chamadas macrófagos. Dependendo
do tecido os macrófagos recebem denominação diferente: histócitos no tecido
conjuntivo; células de Kupffer no fígado; células de micróglia no cérebro;
macrófagos alveolares nos alvéolos pulmonares; e osteoclastos nos ossos.
2.2.2 Fisiologia do sistema imune
O sistema imunológico tem como função fisiológica prevenir e erradicar as
infecções estabelecidas. Para isto utiliza-se de mecanismos de defesa que são
constituídos pela imunidade inata, responsável pela proteção inicial contra
infecções, e pela imunidade adquirida, que é aprendida e se desenvolve
posteriormente, apesar de ser mais tardia também é mais eficaz contra as
infecções (ABBAS; LICHTMAN, 2007).
Para explanar sobre imunidade inata e imunidade adquirida, iremos utilizar
como fonte a descrição dos autores citados acima:
Imunidade Inata: está sempre presente em indivíduos saudáveis, seus
mecanismos são responsáveis pela defesa inicial contra as infecções e pela
estimulação das respostas da imunidade adquirida contra os agentes infecciosos.
Alguns de seus mecanismos são utilizados para prevenir as infecções (por ex.,
barreiras epiteliais) e outros eliminam os microorganismos (p.ex., fagócitos,
células NK e o sistema do complemento).
20
O sistema do complemento atua para destruir substâncias estranhas, seja
diretamente ou em conjunto com outros componentes do sistema imune.
Com o passar do tempo houve uma evolução dos microorganismos
patogênicos para os seres humanos (capazes de causar doença) que se tornaram
mais resistentes aos mecanismos de defesa da imunidade inata. A defesa contra
esses agentes infecciosos é função da resposta imunológica adquirida.
Imunidade Adquirida: a imunidade adquirida é aprendida. Quando o
indivíduo nasce, seu sistema imunológico possui apenas a imunidade inata. Ao
iniciar o contato com o mundo exterior o sistema imunológico começa a formar seu
arquivo de memória e aprende a responder a cada novo antígeno que ele
encontra. Portanto, a imunidade adquirida é específica contra os antígenos
encontrados por um indivíduo durante a vida, por sua capacidade de aprender, de
adaptar-se e de lembrar-se de um antígeno encontrado anteriormente.
Neste sentido Parham (2001) cita a vacinação, que proporciona ao sistema
imune à experiência necessária para elaborar uma resposta protetora com pouco
risco para a saúde ou a vida.
De modo geral, pode-se dividir as reações imunológicas em duas
categorias amplas: imunidade não-específica e imunidade específica. As defesas
imunológicas não-específicas defendem o corpo contra qualquer antígeno,
incluindo algum que nunca tenha sido encontrado. As defesas imunológicas
específicas ocorrem somente quando o antígeno já foi encontrado anteriormente,
gerando um tipo de memória imunológica para o intruso (STRAUB, 2005).
2.2.2.1 Fases da resposta imunológica
As fases da resposta imunológica serão explicadas a partir de sua
seqüência segundo os autores Abbas; Andrew (2007): reconhecimento do
antígeno, ativação do linfócito, eliminação do antígeno, declínio e memória.
21
Reconhecimento do antígeno: nesta fase, linfócitos virgens, específicos
para cada antígeno, localizam e reconhecem os antígenos do patógeno. Esta
ativação requer pelo menos dois tipos de sinais. Inicialmente, a ligação do
antígeno aos receptores de antígenos dos linfócitos (conhecida como sinal 1) para
iniciar todas as respostas imunológicas. E o sinal conhecido coletivamente como
(sinal 2), que são fornecidos pelos microorganismos e pela resposta imunológica
inata aos patógenos,
necessários para a ativação dos linfócitos na resposta
imunológica primária. Isto garante que as respostas do sistema imunológico
adquirido sejam desencadeadas pelos patógenos e não por antígenos nãoinfecciosos inofensivos.
Ativação do linfócito: na fase de ativação, os clones de linfócitos que
encontraram os antígenos passam por divisões celulares rápidas, gerando uma
grande prole; esse processo é chamado de expansão clonal. Ao se diferenciarem,
alguns linfócitos, passam de células virgens para células conhecidas como
linfócitos efetores, produzindo substâncias que eliminam os antígenos. Como
exemplo, podemos citar os linfócitos B que se diferenciam em células efetoras
secretando anticorpos, enquanto alguns linfócitos T se diferenciam em células que
destroem células do hospedeiro infectadas.
As células conhecidas como efetoras, juntamente com os seus produtos,
eliminam o patógeno, geralmente com o auxílio dos componentes do sistema
imunológico inato; essa fase na qual ocorre a eliminação do antígeno é chamada
de fase efetora da resposta imunológica.
Declínio e memória: assim que a infecção é eliminada, o estímulo para a
ativação dos linfócitos é suspenso, em seguida a maioria das células que foram
ativadas pelos antígenos também é eliminada, através de um processo regulado
de morte celular, chamado de apoptose. As células mortas são rapidamente
retiradas pelos fagócitos sem desencadear uma reação danosa.
Após o término da resposta imunológica, as células que permanecem são
os linfócitos de memória, que podem sobreviver em um estado de repouso por
22
meses ou anos e são capazes de responder rapidamente a um novo encontro com
o mesmo patógeno.
Figura 2: Fases da resposta imunológica.
Fonte: http://www.lia.ufsc.br/Introdu_bio.ppt
2.3 As relações entre sistema imune, endócrino e nervoso.
No início da década de 1970 começaram a ser acumuladas evidências
sobre o fluxo de informações entre o sistema imune e o eixo hipotálamo-hipófiseadrenal, que exerce a função de governar as reações do corpo diante de
mudanças metabólicas e do estresse ambiental. Fundamentado nesses resultados
desenvolveu-se a psiconeuroendocrinologia, área que têm como objetivo estudar
como as emoções (alegria, raiva, medo) podem vir a modificar a produção de
hormônios e neurotransmissores e interferir na resposta imune a agentes
infecciosos, tumores e ainda no desenvolvimento de doenças auto-imunes
(BALESTIERI, 2006).
A concepção do sistema imunológico, notadamente a partir dos anos
oitenta, deixou de ser considerado como um sistema fisiológico autônomo de
funcionamento exclusivamente químico, destinado a reconhecer o que é e não é
23
do próprio organismo, passando a ser reconhecido como um sistema que interage
com outros sistemas sendo sensível à regulação dos sistemas nervoso e
endócrino (MAIA, 2002).
Demonstrou-se que os órgãos do sistema imunológico, conhecidos também
como órgãos linfóides, por produzirem linfócitos, contêm redes de células
nervosas, que servem como um caminho até o cérebro e o sistema nervoso
central, e que influenciam a imunidade (KIECOLT-GLASER; GLASER, 1997).
O impulso inicial para o estudo das relações entre o sistema imune e o
sistema nervoso central (SNC) advém de trabalhos clínicos relacionados a
estados físicos e psicológicos de humanos, tais como períodos que antecedem as
provas, problemas em família, luto e desemprego, estão intimamente ligados à
atividade de neutrófilos e macrófagos, e, entre outros, à redução na atividade de
células natural killer (NK) e na resposta de linfócitos a mitógenos (VISMARI et al.,
2008).
A relação entre o sistema nervoso central (SNC), o endócrino (SE) e o
imune (SI) foi demonstrada com o seguinte experimento: ratos imunizados com
hemácias de carneiros apresentaram, de forma simultânea o aumento máximo no
número de linfócitos B no baço (SI), pico de produção de cortisol sérico (SE) e
aumento na ativação dos neurônios no núcleo ventromedial do hipotálamo (SNC)
(BALESTIERI, 2006). Neste caso, uma resposta imune foi seguida de ativação
nervosa e endócrina.
A função exercida pelo sistema imune é semelhante à dos sistemas
nervoso e endócrino, porém sua atuação ocorre em um nível mais sutil. Pois suas
células não são fixas, exercem suas funções circulando pelas mucosas e tecidos
internos, identificando a entrada de moléculas e microorganismos estranhos e
possíveis alterações em células próprias (BALESTIERI, 2006).
As interações entre o sistema nervoso central, endócrino e imune
provavelmente ocorrem a partir do sistema límbico, por se tratar do local em que
as informações do córtex cerebral e do hipotálamo interagem e um dos locais de
controle das emoções. Estudos realizados a partir de dados neurológicos indicam
que embora o sistema límbico seja o responsável pelo impulso emocional, a
24
maneira como expressamos as emoções são reguladas por regiões situadas no
córtex pré-frontal. Sendo que, cada lado do córtex pré-frontal processa um
conjunto diferente de reações emocionais, por exemplo, as emoções que nos
fazem ter medo ou repulsa são reguladas pelo lado direito do córtex, e
sentimentos como a felicidade, pelo esquerdo. (BALESTIERI, 2006).
A autora supra-citada, menciona estudos que revelaram uma diferença em
relação a atividade cerebral. Pessoas com a região anterior esquerda mais ativada
demonstraram atitudes mais positivas a respeito de sua vida, em geral ou em
resposta a desafios, ao contrário daquelas com maior atividade do hemisfério
direito
exibem
respostas
mais
negativas.
Com
base
em
seus
eletroencefalogramas, fez-se uma avaliação da atividade das células NK, e podese constatar que pessoas com maior atividade no hemisfério esquerdo
apresentaram maior atividade das células NK, sugerindo que as atitudes positivas
em resposta a desafios são importantes para melhorar a resposta celular.
A partir destes dados podemos confirmar a interação entre os sistemas:
endócrino, nervoso e imunológico, e ainda a necessidade de novas pesquisas que
ampliem o conhecimento entre os aspectos comportamentais e a resposta imune.
25
3 ASPECTOS METODOLÓGICOS
Neste trabalho utilizamos à metodologia de pesquisa bibliográfica para
atingir os objetivos propostos. Foram recuperados, selecionados, lidos e
analisados estudos referentes à temática pesquisada encontrada em livros, bases
de dados (on-line), artigos, monografias e teses já publicadas. As obras foram
buscadas em livros na Biblioteca Setorial da UNIVALI, em bases de dados
científicas como o SCIELO na internet, artigos e monografias disponíveis na
universidade e on-line. As palavras chaves utilizadas para a recuperação foram:
emoções, sistema imunológico, psiconeuroimunologia. Utilizou-se como ponto de
corte temporal as publicações entre 1990 e 2008, dado que o estabelecimento
desta temática no campo das neurociências recebeu um grande suporte neste
período temporal por conta da década do cérebro (1990-2000) onde se
concentram a maior parte das descobertas mais importantes.
A identificação e a fase de reconhecimento do assunto basearam-se no
levantamento das obras já publicadas, livros e periódicos verificando o índice das
mesmas e as obras contidas neste material.
Depois do levantamento bibliográfico e da identificação das obras, buscouse a localização do material bibliográfico. Por tratar-se de um estudo realizado na
UNIVALI esta foi a principal biblioteca pesquisada. A compilação é a reunião deste
material contido nos livros, revistas e publicações que foram encontrados.
O fichamento foi utilizado, então, para condensar os dados obtidos na
pesquisa, contendo o autor, ano da obra, cidade, editora e edição. Também foram
utilizadas tabelas contendo o nome do autor, o ano de publicação, as principais
descobertas e a sustentação atual das mesmas. Foram também levantadas as
teorias e hipóteses desta relação (emoções x sistema imune), bem como os
centros de pesquisa e pesquisadores (ou grupo de) mais produtivos e importantes
na área, no Brasil.
A análise e interpretação dos dados foi dividida em quatro fases, conforme
proposto por Lakatos e Marconi (1991). A primeira, a crítica do material
26
bibliográfico interno (interpretação e valor interno do conteúdo) e externa (texto,
autenticidade e proveniência). A segunda fase consistiu na decomposição dos
elementos essenciais e sua classificação. Na terceira fase, as informações foram
reunidas por semelhança de conteúdo permitindo agrupamento e classificação. A
quarta fase, a análise crítica do material encontrado, foi realizada assim que a
seleção do material (fases 1 a 3) foram completadas.
27
4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Como proposto nos objetivos desta monografia, os resultados da pesquisa
bibliográfica empreendida serão apresentados de acordo com os temas
levantados.
As pesquisas que visam estudar as relações entre emoções e o
funcionamento do sistema imunológico se concentram em três processos
patológicos nos quais os aspectos emocionais são determinantes das suas
manifestações: estresse, depressão e ansiedade. Classicamente, estas três
condições sempre foram foco de estudo na área dado seu alto impacto sobre as
funções imunes e endócrinas. Contudo, uma nova linha de trabalho focando as
emoções positivas (alegria, otimismo, etc) tem demonstrado sua relação com o
funcionamento adequado dos vários sistemas corporais, apontado uma nova
perspectiva de trabalho para os profissionais de saúde, principalmente para os da
Psicologia.
Na revisão realizada para este trabalho mantemos a tendência da literatura
especializada e começamos enfocando a influência das emoções negativas sobre
o sistema imune e depois, ao final, sobre as emoções positivas e suas
descobertas, no que diz respeito à mesma função.
4.1 Stress
De acordo com González (2001) existem duas vias importantes pelas quais
esta fundamentada a ação do stress. A primeira age sobre o hipotálamo e, em
grande parte, sua ação está regulada pelos estímulos nervosos que procedem do
córtex cerebral, a formação reticular e o sistema límbico. Os estímulos nervosos
alcançam certas células neuroendócrinas que agem como transdutoras para
transformar os sinais nervosos em mensagens hormonais (SELYE, 1976 apud
GONZÁLEZ, 2001). O fator liberador de corticotropina (atualmente denominado de
28
hormônio liberador de corticotropina - CRH) provoca uma descarga de hormônio
adrenocorticotrópico (ACTH) desde a hipófise, que alcança o córtex adrenal. Esta
glândula que produz a liberação de corticóides. Estes, por sua vez, facilitam a
glicólise que oferece energia necessária para a realização das adaptações
exigidas, além de possibilitar outras respostas adaptativas reguladas por enzimas,
assim como também imunológicas. Esta cadeia de eventos é regulada por
mecanismos de retroalimentação.
A outra via importante é a mediada pelas catecolaminas as que, liberadas
pela influência de descargas de acetilcolina nas terminações nervosas
autonômicas e na medula adrenal, agem sobre a pressão sanguínea, sobre o
metabolismo e sobre o sistema nervoso propriamente dito.
Ainda de acordo com o autor citado acima, a comunicação intercelular pode
ser endócrina (por hormônios gerais), paracrina (por hormônios locais) e neuronal
(mediante substâncias químicas denominadas neurotransmissores). Sendo que as
principais substâncias que agem como neurotransmissores são: a dopamina, a
noradrenalina, a serotonina, a acetilcolina, a glicina e o ácido gama-aminobutírico
(GABA).
A excitação fisiológica desencadeada pelo stress pode ser medida através
de mudanças na freqüência cardíaca, pressão sanguínea, velocidade de
respiração, ou resposta galvânica da pele, que é uma medida da eletricidade da
pele em resposta ao aumento da sudorese (STRAUB, 2005).
Um dos modelos para se entender o stress implica em dividi-lo em fases. O
mais conhecido é do de Hans Selye que dividiu a resposta do organismo ao stress
em três fases: alarme, resistência e exaustão. No Brasil, a pesquisadora Marilda
N. E. Lipp acrescentou um fase a mais entre a resistência e exaustão, chamandoa de quase-exaustão. Este é conhecido como modelo quadrifásico do stress
(LIPP, 2003). Suas fases são descritas da seguinte forma:
Fase de alerta: Inicia-se o processo auto-regulatório com um desafio ou ameaça
percebida, ativando o mecanismo de luta ou fuga segundo Cannon (1939 apud
Lipp, 2003) dando início a produção de noradrenalina pelo sistema nervoso
29
simpático e adrenalina pela medula da supra-renal. Em seguida as células do
córtex das supra-renais descarregam seus grânulos de secreção hormonal na
corrente sanguínea, com isso ocorre o gasto das reservas de hormônio das
glândulas. Nessa fase, pode-se observar a dilatação do córtex da supra-renal e o
sangue se torna mais concentrado. As mudanças hormonais que resultam dessa
fase, contribuem para que haja aumento da motivação, entusiasmo e energia, o
que pode, desde que não excessivo, gerar maior produtividade no ser humano,
conforme Lipp e Malagris(1995 apud LIPP, 2003).
Fase de Resistência: Este estágio caracteriza-se pelo aumento na capacidade de
resistência acima do normal, o córtex das supra-renais acumula grande
quantidade de grânulos de secreção hormonal segregados e, com isso, o sangue
se apresenta diluído. Frente a isso Lipp e Malagris (1995 apud LIPP, 2003)
afirmam que, nesta fase, há sempre uma busca pelo equilíbrio, acarretando uma
grande utilização de energia, o que pode com frequencia gerar uma sensação de
desgaste generalizado sem causa aparente e dificuldades com a memória, dentre
outras conseqüências.
Fase de Quase-Exaustão: As defesas do organismo começam a ceder e ele já
não consegue resistir às tensões e restabelecer a homeostase interior.
Normalmente a pessoa começa a sentir que oscila entre momentos de bem-estar
e tranqüilidade e momentos de desconforto, cansaço e ansiedade. Algumas
doenças começam a surgir nesta fase demonstrando que a resistência já não esta
tão eficaz.
Fase de Exaustão: Quando o stress alcança este estágio, há uma quebra total da
resistência e alguns sintomas são semelhantes ao da fase de alarme, porém sua
magnitude é maior. Há um aumento das estruturas linfáticas, exaustão psicológica
em forma de depressão e exaustão física, ocasionando o aparecimento de
doenças, podendo ocorrer a morte como resultado final. Quando o stress é
prolongado, afeta diretamente o sistema imunológico reduzindo a resistência da
30
pessoa e tornando-a vulnerável ao desenvolvimento de infecções e doenças
contagiosas.
Algumas
doenças
que
permaneciam
latentes
podem
ser
desencadeadas em conseqüência da queda do sistema imunológico. Úlceras,
hipertensão arterial, diabete, problemas dermatológicos, alergias, impotência
sexual, e obesidade podem surgir.
O stress afeta quase todos os sistemas do corpo, e por isso é considerado
um dos problemas de saúde que mais atinge a civilização moderna (GONZÁLEZ,
2001; STRAUB, 2005), pois não altera apenas a fisiologia do organismo, mas
também as disposições motivacionais do mesmo, alterando seus comportamentos
(SARDÁ; LEGAL; JABLONSKI, 2004; STRAUB, 2005).
A união do funcionamento destes sistemas envolvidos no stress (nervoso,
endócrino
e
comportamental)
permitiu
o
desenvolvimento
de
ciências
multidisciplinares que estudam as relações entre os mesmos, como a
psiconeuroendocrinologia e neuroendocrinologia (GONZÁLEZ, 2001)
De acordo com o autor supra-citado, os hormônios têm entre outras ações,
a regulação da resposta imune e mediação das ações entre os sistemas imune e
endócrino. Isto tem permitido a adoção de um novo termo e ao mesmo tempo o
nome
de
um
ramo
de
estudo
das
neurociências
chamado
Psiconeuroendocrinoimunologia ou Psiconeuroimunologia.
Figura 3: A reação de estresse e suas vias de ação no organismo.
Fonte: http://www.lia.ufsc.br/Introdu_bio.ppt
de
31
Pesquisas
realizadas
na
área
de
Psiconeuroendocrinologia
estão
fornecendo evidências mecanicistas sobre as maneiras como os estressores - e
as emoções negativas que eles geram - podem ser traduzidas em alterações
fisiológicas. Para isto têm utilizado modelos animais e humanos, com o intuito de
saber como o sistema imunológico se comunica bidirecionalmente com os
sistemas nervoso central e sistema endócrino e como essas interações geram
impacto sobre a saúde (KIECOLT-GLASER; GLASER, 2005).
A principal conseqüência da reação do stress sobre o sistema imune é
descrita por Gonzalez (2001) como sendo:
[...] a imuno-supressão. Os glicocorticóides liberados sob stress
são os mediadores principais dessa imunossupressão. Este efeito
se produz já que estes hormônios podem inibir a maturação dos
linfócitos durante seu desenvolvimento, tirá-los da corrente
sanguínea e até destruí-los. Outro dos efeitos dos glicocorticóides
sobre a supressão linfocitária manifesta-se inibindo a liberação de
citokinas ou diminuindo o número de seus receptores (p.89).
Há uma comunicação simultânea entre vida psicossocial e os sistemas
nervoso e endócrino. Sendo que, para os fins da pesquisa do stress, os mesmos
formam uma unidade indivisível que só é analisada isoladamente com propósitos
didáticos ou de controle metodológico (Idem).
Dentro dessa perspectiva Epstein (1984 apud AZAMBUJA, 1992) explica
que a mente, influenciada por fatores psicológicos, afeta o sistema endócrino, o
sistema nervoso simpático e o parassimpático, o fluxo sangüíneo, a contratura
muscular e a eficácia da resposta imunológica, tudo ligado a alterações no
hipotálamo, substância reticular, sistema límbico e núcleo caudado. Deste modo,
conclui que existe estreita relação entre corpo e mente, sendo as vias de
integração tão numerosas que seria surpreendente encontrar qualquer aspecto
físico ou psicológico sem antecedentes ou consequências em todo o corpo como
unidade holística.
González (2001) demonstra através de estudos a ação do stress sobre o
sistema imune. Dentre eles, estão os de Glaser e Kielcolt-Glaser, que
32
constataram, em candidatos a exame, que o nível de anticorpos, o número de
células citotóxicas naturais (células NK) e de linfócitos no sangue, diminuía antes
da prova.
Keller, que verificou a queda da defesa orgânica que resultou em
aumento de mortalidade e de morbidade, em homens cujas esposas faleceram de
câncer de mama, o que o levou a concluir que as células imunológicas devem
tomar conhecimento de estados de solidão e de tristeza por sinais químicos.
Felten e Felten, especializados em feixes nervosos, que comprovaram a
existência de feixes que estimulam os linfócitos durante sua maturação nos
gânglios linfáticos, no timo, na medula e no baço e que liberam seus mediadores
químicos, principalmente noradrenalina, a uma distância de seis milionésimos de
milímetro dos linfócitos e macrófagos. E que ao serem bloqueados esses feixes
nervosos contribuíram para a queda da resposta imunológica em 80%.
Bartrop et al (1977apud Azambuja, 1992) realizaram uma pesquisa com
26 mulheres duas semanas antes e seis semanas depois do falecimento de seus
maridos. Durante este período foram observados o número e a função de linfócitos
T e B e as concentrações hormonais. O resultado foi uma diminuição da resposta
celular à estimulação pela fito-hemaglutinina (estimulante de proliferação
linfocitária) e pela concanavalina A (indutora de divisão celular em linfócitos) na
segunda ocasião. Esta foi considerada a primeira demonstração prospectiva de
que o stress psicológico intenso pode produzir uma anormalidade mensurável na
função imunológica.
Em uma outra pesquisa Godbout; Glaser (2006) constataram que o stress
crônico pode aumentar a produção periférica de citocinas pró-inflamatórias, como
interleucina (IL) -6. Níveis séricos elevados de IL-6 podem ser associadas a riscos
para várias condições, como doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2, as
complicações de saúde mental, e alguns cânceres.
Além do stress psicológico, outra grande fonte de alterações no sistema
imune e endócrino está associada aos transtornos do afeto, especificamente a
depressão e também a ansiedade.
33
4.2 Depressão
A definição de depressão como apresentada pela Organização Mundial de
Saúde (1993), via Classificação Internacional de Doenças (CID - 10), implica que
devam estar presentes em graus variados de intensidade, nos episódios típicos,
humor deprimido, perda de interesse e prazer nas atividades, energia diminuída
levando a uma fadiga aumentada e atividade diminuída.
A tristeza agrega uma resposta às situações de perda, derrota ou outros
desapontamentos, sendo que, as situações de perda, por exemplo, podem causar
danos cognitivos, comportamentais e fisiológicos, tornando-se um forte preditor da
afetação da função de supressão linfocitária (ANGELOTTI, 2001; Bartrop et al.,
1977 apud GONZALEZ,2001).
Acredita-se que eventos estressores vivenciados na infância, possam
contribuir para o aumento do risco de depressão na vida adulta. A base biológica
para essa vulnerabilidade parece ser mediada pela resposta aumentada dos
neurônios que produzem o CRH (hormônio liberador de corticotropina),
desenvolvendo uma hiper-reatividade do eixo HHA (hipotálamo-hipófise-adrenais),
cuja conseqüência, além do aumento do cortisol, pode ser observada sobre o
sistema imune (GONZALEZ, 2001).
Pode-se observar que os quadros depressivos encontram-se associados à
presença de fatores biopsicossociais que influenciam sua etiologia, curso e
prognóstico. Neste contexto, descreve-se o envolvimento do sistema imune. Como
um sistema que pode influenciar as características dos diferentes quadros
depressivos ou ser influenciado ou modulado por eles em função desta linguagem
bidirecional (FRAGUAS, 2001).
Vismari et al.(2008), comenta sobre as conexões existentes entre o eixo
hipotálamo-hipófise-adrenais (HHA) e as estruturas do sistema límbico, como o
hipocampo e a amígdala. Sabe-se que no decorrer de situações de estresse
crônico, assim como na depressão maior, ocorre também maior liberação de CRH
e mais estimulação de estruturas do locus coeruleus, com ativação do sistema
nervoso simpático. Em situações como esta, são liberadas catecolaminas que
34
modulam uma série de atividades das células imunes, tais como proliferação de
linfócitos e produção de citocinas e anticorpos. Nessas condições foram relatadas
ainda a estimulação do núcleo dorsal da rafe com aumento do turnover de
serotonina no hipotálamo, ambos já relacionados a alguns dos sintomas de
ansiedade.
De acordo com Fraguas (2001), existem várias perspectivas pelas quais
podemos compreender a associação entre cérebro, comportamento, sistema
imune e depressão. A influência que o sistema imunológico exerce sobre o
cérebro, da depressão na função imunológica relacionada com saúde e doença e
também o uso de células desse sistema como marcadores periféricos das
alterações do sistema nervoso central na depressão. As novas técnicas de
pesquisa e o imenso conhecimento do sistema neuroimune-endócrino alcançado
nos últimos anos, passaram a dar suporte científico em nível molecular aos
resultados.
Em um estudo realizado em pacientes com depressão maior Vismari et al,
(2008), pode-se observar um aumento no número de leucócitos sangüíneos
periféricos, incremento da razão CD4+/CD8+, elevação na concentração
plasmática de proteínas de fase aguda, como a haptoglobina e a proteína C
reativa, queda na resposta celular a mitógenos, redução do número de linfócitos e
da atividade de células NK, alteração na expressão de antígenos, além de um
aumento nos níveis sangüíneos de citocinas pró-inflamatórias e seus receptores,
tais como IL-6 e IL-23,6. Diante disto, tem-se sugerido que o aumento na
produção de citocinas pró-inflamatórias e um desequilíbrio na resposta Th1/Th2
poderiam desempenhar um papel relevante na fisiopatologia da depressão.
Teorias distintas têm implicado a depressão como um fenômeno
psiconeuroimunológico. Incluindo modelos ligados ao sistema imunoinflamatório,
passando pela hipótese citocinérgica da depressão, até a chamada teoria
macrofágica. Todas baseadas na idéia de que o aumento na produção de
citocinas pró-inflamatórias observado na depressão, levanta a hipótese de que a
depressão seria um tipo de comportamento doentio (VISMARI et al., 2008).
35
De fato, achados significantes de imunossupressão tem sido relacionados
aos quadros depressivos. Por exemplo, o padrão de linfócitos circulantes mostrouse diferente entre os sexos quando pesquisado em pacientes com depressão
maior e distimia. As células NK circulantes foram achadas em maior número em
pacientes do sexo masculino em depressão típica (sintomas afetivos referidos e
relatados pelo paciente que está ciente de sua condição clínica) do que em
depressão atípica (apresenta-se sem que a pessoa se perceba deprimida). Foram
achadas também menos células NK em pacientes com depressão maior do que
nos distimicos (FRAGUAS, 2001).
Há também evidências de uma taxa aumentada de apoptose (morte celular
programada) em leucócitos periféricos de pacientes com depressão maior quando
comparados aos controles, confirmando o envolvimento do sistema nervoso
central nos mecanismos imune. Por influenciar diretamente no número e na
qualidade das células imunes disponíveis, uma função alterada deste processo de
apoptose pode expor o organismo, a diversas patologias. (FRAGUAS, 2001).
O aparecimento de doenças cardíacas, infecções parasitárias ou alguma
outra doença física. Pode ser facilitada, através das modificações que
acompanham os estados depressivos (MOREIRA, 2003).
Em um estudo de revisão Weisse (1992 apud Moreira, 2003), concluiu que
alterações linfocitárias estão sempre presentes em pacientes deprimidos,
principalmente nos mais velhos e que, comparados aos bipolares, os pacientes
unipolares são sempre mais atingidos pelas alterações imunológicas.
Há evidências crescentes de que a depressão pode estimular diretamente a
produção de citocinas pró-inflamatórias que, por sua vez, influenciam em
condições associadas com o envelhecimento, incluindo doenças cardiovasculares,
osteoporose, artrite, diabetes tipo 2, alguns tipos de câncer, doença periodontal,
fragilidade e declínio funcional. (KIECOLT-GLASER; GLASER, 2002).
Spiegel e cols (1989 apud Moreira, 2003) constataram que mulheres com
câncer metastático de pulmão, prolongaram duas vezes mais o tempo de vida por
teram participado de terapias de grupo onde podiam expressar seus sentimentos,
apoiando-se umas as outras.
36
Estudos recentes demonstram que, em pessoas que se permitem sentir e
expressar suas mágoas, tristezas e aflições, as respostas proliferativas
imunológicas aumentam, enquanto que nas que reprimem os sentimentos,
observou-se uma diminuição desta resposta (MOREIRA, 2003).
4.3 Ansiedade
Anterior ao pensamento da ansiedade como sendo patológica, deve-se
considerar a ansiedade normal como um processo biológico necessário à
sobrevivência do ser humano. Este potencial ansioso manteve-se sempre
fisiologicamente presente agregando a si o sentimento do medo (BALLONE et al,
2002).
A ansiedade apresenta-se como um sinal de alerta que adverte sobre a
necessidade de adaptação iminente, dando capacidade a pessoa para medidas
eficientes de enfrentamento. A ansiedade passou a ser considera a causa de
distúrbios desde que o ser humano colocou-a, não a serviço de sua sobrevivência,
como fazia antes e continuam fazendo os animais, e sim a serviço de sua
existência, como um leque de exigências quantitativas e qualitativas desta
existência (BALLONE et al, 2002).
Spielberger (1985 apud BAPTISTA, 2005) classificou as manifestações
desencadeadas pela ansiedade em dois conjuntos sintomáticos: a ansiedadeestado (reações episódicas e situacionais) e ansiedade-traço (quando é um modo
habitual e consistente de reação). A ansiedade pode incluir ainda a tristeza, a
vergonha e a culpa, assim como, pode ser composta por cólera, curiosidade,
interesse ou excitação.
De acordo com Moreira (2003), se processos neurológicos regulam os
comportamentos imunitários, há uma via pela qual fatores psicológicos, como a
ansiedade, causam impacto imunitário. Por exemplo, a ansiedade que envolve
exames acadêmicos, torna-se um estímulo agressivo a vigilância imunológica e
37
em alguns casos provoca privação de sono, que, por sua vez, aumenta o impacto
agressivo às defesas imunitárias.
Farber et al.(1987 apud AZAMBUJA, 1992) realizaram uma pesquisa com
2144 pacientes, encontraram em 40% deles referências de instalação da psoríase
em épocas de tensão e 37°% de exacerbação em situaç ões de ansiedade.
Até o presente, foi explanado sobre os efeitos das emoções negativas
(depressão, ansiedade) e da pressão (stress) sobre o organismo. Contudo, a
intenção neste trabalho não foi apenas mostrar como os sentimentos negativos
afetam a imunidade, mas também entender como estes mecanismos podem ser
revertidos, ou mais, como promover o funcionamento otimizado do sistema imune.
Destacamos a seguir, o que se tem descoberto no campo das emoções positivas
(otimismo, felicidade, resiliência) e como estas podem afetar de modo favorável à
imunidade biológica.
4.4 Emoções positivas
O principal desafio encontrado pelos profissionais que trabalham com bemestar e qualidade de vida tem sido, sem dúvida nenhuma, mudar o comportamento
das pessoas na sua relação com a saúde e estilo de vida, reduzindo os
comportamentos e os fatores psicossociais que interferem no equilíbrio
biopsicossocial, antes que esses se transformem em doença (OGATA; SIMURRO,
2008).
A OMS define saúde como “um completo estado de bem-estar físico,
mental e social, e não simplesmente como a ausência de doenças ou
enfermidades”. De acordo com esta definição, ter saúde compreende um estado
positivo e de equilíbrio multidimensional do ser humano que envolve a dimensão
física, emocional e social (Idem).
Nosso estado emocional pode ser determinante fundamental para nossa
saúde física e integral como já discutimos nos tópicos sobre stress, depressão e
ansiedade.
38
A associação entre saúde física e felicidade também já foi bastante testada
e, a esse respeito, Salovey et al. (2000) publicaram uma revisão, na qual
concluem que muito mais se sabe acerca de como estados psicológicos negativos
afetam a saúde física (especialmente fragilizando o sistema imunológico) do que
como estados positivos podem protegê-la. Ainda assim, argumentam que
substituir emoções negativas por emoções positivas pode ter efeitos terapêuticos
e preventivos.
Em revisão realizada por Reblin e Uchino (2008), apontam que o suporte
social e emocional competente (efetivo) tem sido associado com melhoras na
qualidade de vida de pacientes crônicos e, isto por sua vez, tem implicações sobre
suas respostas imunes. Os mesmos autores apontam uma gama diversa de
estudos que tem encontrado uma relação bastante significativa entre a qualidade
e quantidade de redes de suporte social e a diminuição do risco de morbidade e
mortalidade para várias doenças como diabetes, cardiopatias, artrite, enfisema e
hipertensão. Pessoas que apresentam melhor e maior suporte social têm menor
risco de morbidade (apresentação da doença), mesmo quando os dados são
estatisticamente corrigidos pelo status prévio de saúde das amostras. O
isolamento social, por sua vez, é considerado o principal fator de risco para todas
as causas de mortalidade (HOUSE; LANDIS; UMBERSON, 1988 apud REBLIN;
UCHINO, 2008).
Confirmando os dados de Reblin e Uchino (2008), Strine et al. (2008)
demonstraram que pessoas que consideravam seu suporte social e emocional
como pouco ou inexistente apresentaram risco aumentado para doenças,
insatisfação com a vida, sintomas de stress, depressão, ansiedade, problemas
com sono e dor. Também tinham mais chances de demonstrar comportamentos
não saudáveis como fumar, consumir bebidas alcoólicas excessivamente,
obesidade e sedentarismo.
Como apontam Solovey et al. (2000), Reblin e Uchino (2008) e Strine et al.
(2008), ainda não se conhece como estes fatores positivos se relacionam ao
funcionamento fisiológico e controle comportamental. Vários estudos apontados
demonstram relações com componentes do sistema imune como as citocinas e
39
interleucinas (IL-6 e IL-8) (LOUCKS et al., 2006; MARSLAND et al., 2007 apud
REBLIN; UCHINO, 2008), bem como com o engajamento e motivação para
manter comportamentos saudáveis (REBLIN; UCHINO, 2008; SOLOVEY et al.,
2000).
De modo geral, podemos destacar que o fluxo de informações entre o
sistema imune, o nervoso e o autônomo ocorre principalmente no eixo hipotálamohipófise-adrenal (HHA). Desta forma, as interações entre estes sistemas devem
ser reguladas primariamente pelo sistema límbico, local em que as informações do
córtex cerebral e do hipotálamo interagem e um dos principais locais de controle
das emoções e dos comportamentos de manutenção básica do organismo
(comportamento alimentar, sexual, motivação, etc).
Desta forma, alterações tanto fisiológicas quanto comportamentais parecem
se refletir diretamente umas sobre as outras. Contudo, suas relações mais íntimas
ainda carecem de maiores investigações, dada a complexidade destes sistemas e
de suas múltiplas determinações.
40
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O que se apresentou neste trabalho é o fruto de uma reflexão acerca da
relação entre emoções e o funcionamento do sistema imunológico, documentada
a partir dos estudos mencionados ao longo de um corte temporal de
aproximadamente 10 anos. De comum acordo, não há divergências quanto a
possibilidade das emoções afetarem o funcionamento do sistema imune. Dúvidas
existem sobre os mecanismos protetivos, as emoções positivas e o estilo de vida
saudável, associado a melhora no funcionamento dos sistemas endócrino e
imune. As pesquisas ainda se encontram na sua “infância”, parafraseando Solovey
et al. (2000), e por isso pouco se sabe sobre a sua fisiologia.
Apesar dos resultados bastante robustos, as pesquisas relacionadas a este
tema possuem amostras e métodos bastante diferentes, e com controle de
variáveis limitado, dado que os estudos foram realizados em humanos, com
afecções ou ainda, geralmente, estudantes universitários. Contudo, é fundamental
levar em consideração que se trata de um vasto campo de investigações em que
ainda há muito por ser descoberto.
Acreditamos na importância da psicologia e do profissional psicólogo estar
se apropriando deste conhecimento para auxiliar na condução e no planejamento
de suas intervenções, bem como, na prevenção e promoção da saúde.
Destacamos ainda a interdisciplinaridade e a integralidade como fatores
primordiais frente ao objetivo de se alcançar uma melhor qualidade de vida, diante
da constatação de que os processos de adoecimento não constituem apenas o
fator médico-biológico, que sua amplitude abrange a história de vida do indivíduo,
da família e da sociedade como um todo.
Do mesmo modo nos reportamos as emoções positivas, em especial as
pesquisas realizadas na área da Psicologia Positiva com o objetivo de desenvolver
políticas de promoção de saúde mental, apoiados na concepção de que com o
estudo das características humanas positivas, a ciência aprenderá a prevenir
doenças físicas e mentais.
41
Gostaríamos de mencionar o trabalho realizado pelos Terapeutas da
Alegria e de um antigo projeto coordenado pela professora Dra. Josiane da silva
Delvan da Silva (criando um espaço lúdico para crianças no Hospital Universitário
Pequeno Anjo) como sendo algumas das poucas intervenções realizadas neste
âmbito e que produziu e produz resultados importantes seja na vida do paciente,
como no próprio ambiente de trabalho, dado ser um local classicamente
estressante pela natureza de sua atividade.
Ao término deste trabalho, podemos dizer que o seu desenvolvimento foi
extremamente desafiador e enriquecedor, por se tratar de um assunto pouco
explorado durante a graduação, ainda que o adoecimento físico, de acordo com os
dados obtidos, possa estar intimamente relacionado ao sofrimento psíquico.
Sabemos que são inúmeros os conteúdos a serem abordados durante a
graduação, porém nossa sugestão não é de que o conhecimento acerca das
doenças seja tão aprofundado como na área médica, mas o necessário para que
os futuros psicólogos possam atuar, por exemplo, em uma equipe interdiciplinar,
dando a sua contribuição a partir de um conhecimento técnico biológico prévio
(principalmente nas áreas básicas: imunologia, histologia, bioquímica) a ser
adquirido na graduação.
42
6 REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABBAS, A. K.; LICHMAN, A. H. Imunologia Básica: funções e distúrbios do
sistema imunológico. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007.
ALVES A. C. J.; MACHADO J. L.;MUSSIO L. L. F.; CUNHA M. S.; SOUZA T. C. E
de; Psicologia e Psicossomática: Uma introdução ao estudo das manifestações
psicossomáticas. – in RedPsi, Internet. Disponível em:
http://www.redepsi.com.br/portal. Acesso em: 23/09/07.
ANGELOTI, G. Tratamento cognitivo-comportamental da depressão. In
ANGERAMI-CAMON, V. A (Org). Depressão e psicossomática. São Paulo:
Thomson, 2001.
ANGERAMI-CAMON, Valdemar Augusto; FEIJOO, Ana Maria Lopez Calvo de.
Depressão e psicossomática. São Paulo: Thomson, 2001.
ANTONIAZZI, A. S.; DELL’AGLIO, D. D.; BANDEIRA, D.R. O conceito de coping:
uma revisão teórica. Estud. Psicol. 3(2) , 1998, p. 273-294.
AZAMBUJA, R. D. A conexão psiconeuroimunológica em dermatologia.
Disponível em: http://www.anaisdedermatologia.org.br/public/artigo.aspx?id=931 .
Acesso em: 04/10/09.
BALESTIERI, Filomena Maria Perrella. Imunologia. Barueri, SP: Manole, 2006.
BALLONE, G.J.; PEREIRA NETO, E.; ORTOLANI, I. V. Da emoção à lesão. Um
guia de medicina psicossomática. São Paulo: Manole, 2002.
BAPTISTA, A.; CARVALHO, M.; LORY, F. O Medo, a Ansiedade e as suas
Perturbações. Disponível em:
http://cae.ulusofona.pt/artigos/Psicol%20Barata%20Art.pdf. Acesso em: 04/10/09.
CARLSON, N. R. Fisiologia do comportamento. 7ª ed. São Paulo: Manole,
2002.
FERRAZ, B. R.; TAVARES, H. ; ZILBERMAN, M. L. Felicidade: uma revisão. Rev.
Psiq. Clín. vol.34 no.5 São Paulo, 2007.
FRAGUAS JUNIOR R. Alterações Imunológicas. In: FIGUEIRO, J. A. B.;
FRAGUAS JUNIOR, R. Depressões em medicina interna e em outras
condições medicas: depressões secundarias. São Paulo, SP: Atheneu, 2001.
GOLEMAN. D. Inteligência Emocional: a teoria revolucionária que redefine o que
é ser. Rio de Janeiro: Objetiva, 1995, p. 20.
43
GONZÁLEZ, M. A. A. Stress: Temas de Psiconeuroendocrinologia. 2ª ed. São
Paulo: Robe, 2001.
KIELCOLT-GLASER J. J. K.; GLASER R. Mente e Imunidade. In: GOLEMAN, D.;
GURIN, J. (Org.) Equilíbrio mente e corpo: Como usar sua mente para uma saúde
melhor. 3.ed. Rio de Janeiro. Objetiva, 1997. cap. 3, p. 33-54.
KIECOLT-GLASER, J. K.; GLASER, R. Depression and immune function: central
pathways to morbidity and mortality. Psychosom. 53 (4), 2002, p. 873-6.
KOLB, B.; WHISHAW, I.Q. Neurociência do comportamento. São Paulo:
Manole, 2002.
LAKATOS, Eva M.; MARCONI, Marina de A. Fundamentos de metodologia
científica. São Paulo: Atlas, 1991.
LEDOUX. J. O cérebro emocional. Rio de Janeiro: Objetiva, 1996.
LEGAL, E.J. Expressões faciais de emoções: desenvolvimento da percepção de
assimetrias. São Paulo. Dissertação de Mestrado apresentada ao Instituto de
Psicologia da USP. São Paulo, 1996.
LENT, R. Cem bilhões de neurônios: conceitos fundamentais de neurociência.
São Paulo: Atheneu, 2004.
LIPP, M.E.N. O modelo Quadrfásico do Stress. In: LIPP, M. E. N. (Org)
Mecanismos Neuropsicofisiológicos do Stress: Teoria e Aplicações
Clínicas.São Paulo: Casa do Psicólogo, 2003. cap. 1, p. 17-22.
MAIA, da C. A. Emoções e Sistema Imunológico: Um Olhar Sobre a
Psiconeuroimunologia.
MERCK. Manual MERCK. Sessão 16 - Distúrbio do sistema Imune. Capítulo 167 Biologia do Sistema Imune. Disponível em: http://www.msdbrazil.com/msdbrazil/patients/manual_Merck/mm_sec16_167.html. Acesso
em: 01/06/2009.
MOREIRA, S. M. Psiconeuroimunologia. Rio de Janeiro: Medsi, 2003.
MYERS, D.G. Introdução à Psicologia Geral. 5ª ed. Rio de Janeiro: LTC, 1999.
OGATA, A. J.; SIMURRO, S. A. O que há na parte submersa do iceberg. Psique:
ciência e vida. 3 (8), São Paulo, 2008, p. 74-79.
44
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE - Classificação de Transtornos Mentais
e de Comportamento da CID-10: Descrições Clínicas e diretrizes Diagnosticas ,
Porto Alegre:Artes Médicas, 1993.
PARHAM, Peter. O sistema imune. Porto Alegre: ARTMED, 2001.
PELLETIER, (1997). Entre a mente e o corpo: estresse, emoções e saúde. In:
GOLEMAN, D.; GURIN, J. (Org.) Equilíbrio mente e corpo: Como usar sua mente
para uma saúde melhor. 3.ed. Rio de Janeiro. Campus. cap.2, p. 15-32.
REBLIN, M.; UCHINO, B.N. Social and emotional support and its implications for
health. Current Opinion in Psychiatry, 21(2), 2008, p.201-205.
SARDA, J.J.Jr.; LEGAL, E.J.; JABLONSKI, S.J.Jr. Estresse: conceitos, métodos,
medidas e possibilidades de intervenção. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2004.
TENNANT, C. Life stress and hypertension. Journal of Cardiovascular Risk, 8,
2001, p. 51–56
SOLOVEY, P.; ROTHMAN, A.J.; DETWEILER, J.B.; STEWARD, W.T. Emotional
states and physical health. American Psychologist, 55 (1), 2000, p. 110-121.
STRAUB, Richard O. Psicologia da saúde. Porto Alegre: Artmed, 2005.
STOUDEMIRE, A.; HALES, R. E. Fatores Psicológicos Afetando Condições
Médicas e DSM-IV: Visão Geral. In: STOUDEMIRE, A. (Org). Fatores
Psicológicos Afetando Condições Médicas. Porto Alegre. Artes Médicas Sul,
2000. cap.1, p. 17-18.
VASCONCELLOS, E. G.; Psiconeuroimunologia: uma história para o futruro. In:
ANGERAMI-CAMON, V. A (Org). Depressão e psicossomática. São Paulo:
Thomson, 2001.
VISMARI, L; ALVES, G. J.; PALERMO-NETO, J.; Depressão, antidepressivos e
sistema imune: um novo olhar sobre um velho problema. Rev. Psiq. Clín. 35(5),
2008, p.196-204.
WILLIAMS, J.E.; PATON, C.C.; SIEGLER, I.C.; EIGENBRODT, M.L.; NIETO, J.;
TYROLER, H.A. Anger proneness predicts coronary heart disease risk prospective
analysis from the Atherosclerosis Risk In Communities (ARIC) study. Circulation,
101, 2000, 2034-2039.
45
7 APÊNDICES
7.1 Apêndice 1
Fichamento: As relações entre saúde, doença e comportamento.
Autor
Ano
Straub,
Richard
2005
Título do trabalho e
capítulo utilizado
Psicologia da Saúde.
Comportamento e
saúde.
Principais idéias sobre a
relação entre estas variáveis
De acordo com o autor,
seria difícil conceber uma
atividade ou
comportamento que não
influencie a saúde de
alguma forma, ainda que
direta ou indiretamente,
imediatamente ou a longo
prazo, para melhor ou para
pior.
A perspectiva
biopsicossocial ressalta as
múltiplas influências entre
os contextos biológicos,
psicológicos e social da
saúde.
A mesma esta
fundamentada na teoria
sistêmica do
comportamento. Segundo
essa teoria, a saúde – de
fato toda a natureza- é
melhor compreendida como
uma hierarquia de sistemas,
na qual cada um deles é
simultaneamente composto
por subsistemas e por uma
parte de sistemas maiores e
mais abrangentes. Assim,
cada um de nós é um
sistema, um corpo formado
por sistemas em interação,
como o sistema endócrino,
o cardiovascular, o nervoso
e o imunológico.
Aplicada à saúde, essa
abordagem enfatiza uma
questão fundamental: o
Limitações dos
estudos
46
Ballone ,
Neto e
Ortolani.
2002
Da Emoção à Lesão.
O humor e as doenças.
Pág. 67.
sistema, em determinado
nível, é afetado por sistemas
em outros níveis e também
os afeta. Por exemplo, o
sistema imunológico
enfraquecido afeta órgãos
específicos no corpo de uma
pessoa, o que, por sua vez,
afeta a sua saúde biológica
geral, afetando, por sua vez,
os relacionamentos dessa
pessoa com sua família e
seus amigos. Conceituar a
saúde e a doença conforme
a abordagem sistêmica
permite que
compreendamos o indivíduo
de forma integral.
O estilo repressivo de
enfrentamento das emoções
negativas também é um
fator que pode introduzir
um certo grau de
imunossupressão (CanoVindel, 1999). Uma alta
ativação do Sistema
Nervoso Autônomo,
determinada pelo estilo pelo
estilo repressivo de
enfrentamento das emoções,
mantida por um longo
tempo pode provocar
alterações no Sistema
Imunológico que tornam a
pessoa vulnerável a
enfermidades infecciosas ou
à doenças auto-imunes.
Segundo Cano, as pessoas
com hipertensão essencial
têm níveis maiores de raiva
interna que os grupos
controle, sem hipertensão.
Os pacientes com asma, por
exemplo, apresentam níveis
maiores de raiva externa do
que as pessoas sem asma. A
raiva, neste caso, ajudaria a
47
manter níveis altos de
ativação fisiológica do SNC
(Cano-Vindel & Fernández
Rodriguéz, 1999). Cont.
Moreira,
Mario S.
2003
Psiconeuroimunologia
Devemos ter em mente que
quaisquer tipos de ações
stressantes- stress
psicossocial, perda de
emprego, eventos
existenciais decorrentes de
situações decorrentes de
perda, sentimentos de
rejeição, rupturas de
casamentos, baixa autoestima, reprovação em
concursos, ansiedade
expectante diante de provas,
dificuldades de adaptação e
todos os nóxios existenciais
nocivos- levarão o
indivíduo que os sofre a
uma queda de sua defesa
imunológica, podendo
sobrevir daí qualquer
doenças oriundas de tal
situação clínica.
Tanto os eventos de origens
psicológicas e emocional,
ou orgânica e física, vão
desencadear, no organismo,
as mesmas reações, os
mesmos fenômenos
médicos de natureza
funcional ou orgânica. Fica,
pois, evidente na síndrome
geral da adaptação (SGA),
que as agressões à
personalidade, bem, como
as suas defesas, quer sejam
somáticas ou psíquicas,
orgânicas ou emocionais,
são, em essência, de mesma
natureza.Pensamos que o
indivíduo que tem elevada
auto-estima, apoio
psicossocial, amor familiar,
48
Camon,
Valdemar,
A. A. Org.
2002
Psicologia da saúdeUm novo significado
para a prática clínica.
fé religiosa e alegria de
viver, naturalmente estará
estimulando o seu sistema
imunológico, que o
defenderá contra eventos
nocivos, os quais podem
representar situações de
grave stress para outros que
não estejam assim tão bem
protegidos, tornando-se
facilmente vulneráveis aos
efeitos do stressor que
acometeu a todos
igualmente.
A teoria sistêmica tem
difundido com grande
ênfase a necessidade da
compreensão da interação
de todos os sistemas
abertos, os quais, per se, são
sistemas vivos e, como tal,
exercem e recebem
influência dos outros
sistemas com os quais
interage. Na verdade numa
concepção sistêmica geral –
que se estende para muito
além das fronteiras da área
da saúde-diríamos que
todos os sistemas sem
exceção, não apenas estão
interligados e interagem
entre si, como também, e
em virtude dessa interação,
se encontram em
permanente mutação.
Se consideramos válido o
postulado que afirma que o
estado físico se altera em
conseqüência das emoções
e das circunstâncias sócias,
da mesma forma é
permitido afirmar que todos
esses estados são alterados
pelo contexto ecológico em
que o homem se encontra
inserido.
49
A saúde ou a doença
configura-se sempre de
maneira diferente e terá não
apenas uma etiologia, como
tb uma dinâmica totalmente
diversa, caso o indivíduo
viva na selva amazônica ou
no centro urbano com altos
índices de poluição, trânsito
e densidade populacional. O
mesmo pode ser afirmado
para e sobre as posturas,
crenças e práticas
espirituais, portanto a
respeito da
espiritualidade.Saúde e
doença têm sempre a ver
com tudo isso. E como essa
interação se influencia
mútua e reciprocamente, a
saúde e a enfermidade dos
sistemas extracorporais tb
dependem do tipo, forma e
qualidade dessa interação.
50
7.2 Apêndice 2
TERMO E CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Gostaria de convidá-lo (a) para participar de d) a aceitação não implica que você estará
uma pesquisa cujo objetivo é (descrever)..........
obrigado a participar, podendo interromper
.......... .......... .......... .......... .......... .......... ..........
sua participação a
..........
mesmo que já tenha iniciado, bastando,
Sua tarefa consistirá na participação em
uma
(entrevista,
observação,
qualquer
momento,
para tanto, comunicar aos pesquisadores;
questionário, e) você não terá direito a remuneração por sua
escala, etc.) .......... .......... .......... .......... ..........
.......... ..........
participação, ela é voluntária;
f) esta pesquisa é de cunho acadêmico e não
Quanto aos aspectos éticos, gostaria de
informar que:
visa uma intervenção imediata.
g) durante a participação, se tiver alguma
a) seus dados pessoais serão mantidos em
reclamação, do ponto de vista ético, você
sigilo, sendo garantido o seu anonimato;
poderá contatar com o responsável por esta
b) os resultados desta pesquisa serão utilizados
pesquisa.
somente com finalidade acadêmica podendo
vir
a
ser
publicado
em
revistas
especializadas, porém, como explicitado no
item
(a)
seus
dados
pessoais
serão
mantidos em anonimato;
c) não há respostas certas ou erradas, o que
importa é a sua opinião;
Pesquisador responsável: Profº. Dr. Rui
Ferreira
E-mail: [email protected]
Telefone: 341 7688
Curso de Psicologia da Universidade do
Vale do Itajaí – CCS
R: Uruguai, 448 – bloco 25b – Sala 401.
Download