CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DO PARANÁ CEFET-PR A APLICAÇÃO DO TOEIC EM SALA DE AULA: UMA ANÁLISE DOS SEUS EFEITOS RETROATIVOS CURITIBA DEZEMBRO DE 2004 BEATRIZ CRISTINA DE SOUZA MOTTA A APLICAÇÃO DO TOEIC EM SALA DE AULA: UMA ANÁLISE DOS SEUS EFEITOS RETROATIVOS Monografia apresentada como requisito parcial à conclusão do Curso de Especialização em Ensino de Línguas Estrangeiras Modernas do Centro Federal do Educação Tecnológica do Paraná. Orientadora: Profª Miriam Sester Retorta Curitiba/PR 2004 TERMO DE APROVAÇÃO BEATRIZ CRISTINA DE SOUZA MOTTA A APLICAÇÃO DO TOEIC EM SALA DE AULA: UMA ANÁLISE DOS SEUS EFEITOS RETROATIVOS Monografia aprovada como requisito parcial para obtenção do título de Especialista, pelo curso de Especialização em Ensino de Línguas Estrangeiras Modernas, do Centro Acadêmico de Línguas Estrangeiras Modernas – Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná, pela seguinte banca examinadora: Orientador: Profª. Miriam Sester Retorta Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná Profª. Carla Barsotti Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná Profª. Eliane Regina Costa Oliveira Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná Coordenadora: Profª. Carla Barsotti, MSc. Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná Curitiba 2005 SUMÁRIO LISTA DE ILUSTRAÇÕES......................................................................................a RESUMO.................................................................................................................. i ABSTRACT............................................................................................................. ii INTRODUÇÃO.........................................................................................................1 1.HISTÓRICO DAS ABORDAGENS DE ENSINO E SUAS AVALIAÇÕES.......6 1.1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................6 1.2 A ERA PRÉ-CIENTÍFICA – ANTERIOR AOS ANOS 40 ...............................7 1.3 A ERA PSICOMÉTRICA-ESTRUTURALISTA – DOS ANOS 40 AOS 60...9 1.4 A ERA PSICOLINGÜÍSTICA- SOCIOLINGÜÍSTICA – DOS ANOS 70......12 1.5 A TERRA PROMETIDA – FINAL DO SÉCULO XX ....................................14 1.6 SOBRE O EFEITO RETROATIVO ..................................................................16 2. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS .........................................................20 2.1 A ESCOLA E O UNIVERSO PESQUISADO ..................................................20 2.2. A ESTRUTURA DO TOEIC ............................................................................21 2.3 PROCEDIMENTO ............................................................................................25 3. DISCUSSÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS ...............................................28 3.1 ANÁLISE DE DADOS ......................................................................................28 3.2 DISCREPÂNCIAS E EFEITOS RETROATIVOS .............................................36 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS ...............................................................................43 REFERÊNCIAS........................................................................................................46 NOTAS......................................................................................................................49 ANEXOS..................................................................................................................51 RESUMO Os testes de proficiência são utilizados como uma forma de analisar as competências lingüísticas dos candidatos. A pesquisa teve como objetivo analisar dois grupos de alunos pré-avançados e seu desempenho em relação ao TOEIC, teste de proficiência voltado para a linguagem comercial. O presente trabalho foi desenvolvido na Phil Young´s English School de Curitiba, e foram analisados dois grupos com idades semelhantes mas com horários diferenciados de aula. impacto do exame na sua primeira fase, a diferença de desempenho na segunda fase, e o efeito retroativo benéfico em sala após a aplicação da primeira fase do teste foram investigados. A metodologia utilizada foi a pesquisa quantitativa e qualitativa, e com base na interpretação de dados, a autora discute as discrepâncias dos resultados obtidos e como as mudanças em sala de aula (efeito benéfico), partindo da figura do professor, provocaram um melhor desempenho de seus alunos. Os resultados indicam que é possível, a partir de um teste de proficiência, criar condições para que as atividades da sala de aula refletissem de uma maneira positiva no desempenho dos alunos partindo de tal exame. i ABSTRACT Proficiency tests are used as a way of analyzing examinees’ abilities in a second language. The objective of this study was to analyze two groups of pre-advanced students and their performance in relation to the TOEIC, proficiency test which language focus is business language. This work has been developed at Phil Young´s English School, in Curitiba, where two groups of similar age but different class schedule were analyzed.The impact of the test in its first phase, the difference in performance in its second stage, and the positive washback effect after the first phase of the test were investigated. The methodology used was the quantitative and qualitative ones, and based on the interpretation of data, the author discusses the discrepancies of the results obtained and how the classroom changes (positive washback effect) have provoked a better performance on the students beginning from the teacher’s attitude towards the students. The results show that it is possible to create conditions so that classroom activities reflect on a positive way the performance of the students from a proficiency test. ii Palavras- chave: TOEIC, efeitos retroativos, washback effect, testes de proficiência, Abordagem Comunicativa INTRODUÇÃO Em um momento em que o mercado de trabalho está se tornando cada vez mais competitivo, muitas pessoas sentem a necessidade de melhorar seu perfil profissional buscando aperfeiçoamento em diversas áreas. As empresas também estão ficando cada vez mais exigentes, os futuros funcionários que almejam um cargo de mais prestígio precisam ter o domínio de uma língua estrangeira. E para avaliar o desempenho dos candidatos em uma língua estrangeira, algumas dessas empresas utilizam os testes de proficiência. Testes de proficiência são testes que mostram a habilidade geral na língua-alvo, ou mostram o quão capaz uma pessoa é em uma área específica, por exemplo, a fala (Madsen, 1983). Estes testes também mostram se a pessoa está preparada para certos tipos de trabalho ou currículo escolar. Existem hoje no mercado testes de vários tipos e nomes. Testes de proficiência para ingresso numa determinada faculdade (TOEFL), para futuros diplomatas, para avaliar um aluno e seu grau de entendimento na língua estrangeira, para ingresso no mercado de trabalho (TOEIC), enfim, há testes para diversas as finalidades. O objetivo deste trabalho é o de estudar as competências que o TOEIC aborda e como tais competências são avaliadas. Após esta investigação 2 verificamos como o TOEIC pode propiciar um efeito retroativo em sala de aula. O TOEIC testa as competências lingüísticas nas habilidades de compreensão auditiva e compreensão de textos. É um teste que foi desenvolvido pelo Educational Testing Service ® (ETS®) em 1979, a pedido do Ministério da Indústria e Comércio Internacional do Japão para que organizações possam avaliar a proficiência em língua inglesa de seus funcionários. O que o leva a ser utilizado mundialmente no mercado de trabalho nos dias de hoje. Este estudo coloca o TOEIC dentro da abordagem comunicativa (AC), que, segundo Hymes (1991), “trata de ensinar o aluno a se comunicar em língua estrangeira (LE) e adquirir uma competência de comunicação”. A eficácia desta abordagem, visando sempre uma competência comunicativa, fica, na maioria das vezes, no entanto, restrita às atividades dentro da sala de aula, sendo pouco ou nada cobrada nos testes. Saber comunicar significa ser capaz de produzir enunciados lingüísticos de acordo com a intenção de comunicação. O essencial de uma competência de comunicação reside, portanto, nas relações entre diversos planos ou diversos componentes, como pedir permissão para sair do local, ou até mesmo a situação de comunicação, como o status social do interlocutor, para citarmos um exemplo. O erro, se vier a acontecer durante a conversa, é visto como um processo natural da 3 aprendizagem, através do qual o aprendiz mostra que ele testa continuamente as hipóteses que levanta sobre a língua (Germain, 1993). E é neste ponto que as críticas sobre a AC tomam força, pois o discurso teórico é muito forte, mas carece de tecnologia, procedimentos e exercícios para uma prática na qual os alunos possam adquirir uma base para uma comunicação com menos erros. O que nos leva a imaginar o impacto desta abordagem em situações forçosamente reais, a começar com um teste de proficiência da língua inglesa (LI), que pode avaliar o desempenho do candidato através de exercícios em testes considerados diretos, nos quais a situação do teste simula as mais possíveis ocasiões de uso autêntico da língua e não itens isolados. Em contrapartida, temos os chamados testes indiretos, nos quais os examinandos são avaliados por componentes isolados da língua-alvo através de exercícios de múltipla-escolha, cloze para preencher lacunas e afins. Neste trabalho, usaremos o TOEIC por ser uma avaliação mais próxima da linguagem que os alunos irão usar após o término de seu curso na LI. O TOEIC assume o formato de um teste indireto pela forma que seus exercícios são montados, entretanto sua finalidade é a de se aproximar o mais possível do processo do discurso. O TOEIC é um meio de avaliar as habilidades de comunicação em um ambiente de trabalho no qual a língua inglesa é utilizada. A linguagem apresentada pelo TOEIC é mais voltada para o comércio, negócios e 4 assuntos co-relacionados, enquanto que os testes de proficiência até então aplicados normalmente pela escola refletem o que se chama de “inglês acadêmico”, ou seja, pouco dessa língua é utilizado nas atividades diárias. Já o teste estudado nesta investigação vem a ter sua função mais próxima da realidade dos alunos, que em pouco tempo estarão usando o conhecimento passado dentro da sala de aula no mercado de trabalho. De acordo com Weir (1990:12), “tests of communicative language ability should be as direct as possible (attempt to reflect ‘ the real life’ situations) and the tasks candidates have to perform should involve realistic discourse processing”.i A investigação se deu em Curitiba, Paraná, na Phil Young´s English School, no bairro do Cabral, no segundo semestre do ano de 2004. A escola, representada pelo seu diretor, Sr. Magdal Frigotto, gentilmente permitiu a utilização dos testes de proficiência nesta investigação. Cedeu, ainda, espaço durante as aulas para que a autora, enquanto pesquisadora, pudesse trabalhar com alunos de nível pré-avançado, que embora pertencentes ao mesmo nível, estudam em horários distintos: um grupo vespertino e outro noturno (ver Anexo 1). Para que pudéssemos verificar o desenvolvimento dos alunos na relação Abordagem Comunicativa/desempenho no TOEIC, dividimos este trabalho 3 capítulos. No 1°, tratamos do universo de material teórico e material prático do referido teste, conceitos, discussões e experiências do teste, seu 5 efeito retroativo positivo e negativo na sala de aula. No 2°, a metodologia empregada, instrumentos de coleta e procedimentos empregados, e a análise de dados. No 3°, as discrepâncias entre os resultados e fatores que podem interferir nos mesmos. As considerações finais da investigação projetaram novos estudos que podem vir a ser feitos baseados nos resultados obtidos neste trabalho. 6 1. Histórico das Abordagens de Ensino e suas Avaliações 1.1. INTRODUÇÃO Desde muito, lingüistas e estudiosos têm dado definições sobre diferentes abordagens de ensino de língua estrangeira, e, como veremos a seguir, tais abordagens, ou métodos, mudam de acordo com o momento histórico vivido. A definição de abordagem e método adotada neste trabalho será a mesma utilizada por Leffa (1988:211-236): “Abordagem é o termo mais abrangente e engloba os pressupostos teóricos acerca da língua e da aprendizagem. As abordagens variam na medida em que variam esses pressupostos. O pressuposto, por exemplo, de que a língua é uma resposta automática a um estímulo e de que a aprendizagem se dá pela automatização dessas respostas vai gerar uma determinada abordagem para o ensino de línguas – que será diferente da abordagem gerada pela crença de que a língua é uma atividade cognitiva e de que a aprendizagem se dá pela internalização das regras que geram essa atividade. O método tem uma abrangência mais restrita e pode estar contido dentro de uma abordagem. Não trata dos pressupostos teóricos da aprendizagem de línguas, mas de normas de aplicação desses pressupostos.” 7 Ainda, não podemos falar em abordagens de ensino sem falarmos dos testes a que cada uma delas corresponde. Segundo Spolsky (1976), há três tipos de estágios pelos quais a história dos testes tem passado. Em seu artigo ‘Language testing: art or science’, ele descreve tais estágios como: a era précientífica, a era psicométrica-estruturalista e a era psicolingüística- sociolinguistica. Iremos retratar cada uma das eras separadamente a seguir. 1.2 A Era Pré-Científica – anterior aos anos 40 Até meados do século XX não houve mudanças profundas na aprendizagem de língua estrangeira. Sua trajetória nos remete às conquistas do Império Romano e à influência da Grécia no aspecto cultural. Assim, as línguas latina e grega foram ensinadas em escolas até o século XVII. Observamos que até a primeira metade do século XX a abordagem predominante era a gramatical, com sua ênfase na escrita. Esse método ficou conhecido como Método Clássico, onde as habilidades primordiais eram as regras gramaticais, tradução de textos literários, exercícios de escrita e memorização do vocabulário. Todos os exercícios eram desprendidos de uma conexão em seus significados, sendo basicamente constituídos de frases soltas, com exceção à tradução dos textos literários. A parte oral da aprendizagem ficou totalmente negligenciada. Na medida em que o conhecimento de outras línguas passou a ser sinônimo de refinamento social, 8 a partir dos séculos XVII e XIX, o Método Clássico sofreu algumas alterações, passando a ser conhecido como Método da Gramática e da Tradução (MGT). As mudanças consistiam basicamente no ensino da segunda língua pela primeira. Toda a informação necessária para construir uma frase ou entender um texto era dada através de explicações na língua materna do aluno. As formas para a aprendizagem eram dadas através da memorização de uma lista de palavras, o conhecimento das regras gramaticais necessárias para a junção dessas palavras em frases e exercícios de tradução e versão. A ênfase continuava sendo na forma escrita da língua, pronúncia e entonação eram irrelevantes para a sala de aula. O livro-texto era o centro da aula, fazendo com que o professor não necessitasse ter o domínio oral da língua. O que o professor precisava era ter o domínio completo das regras gramaticais e suas exceções, e saber responder prontamente às dúvidas de terminologia gramatical levantadas pelos alunos. Em relação aos testes desta era, estes envolviam basicamente regras gramaticais e traduções, sendo assim, muito fáceis de serem corrigidos. Ainda hoje pode-se notar muitos destes testes sendo utilizados por instituições de línguas. O sucessor do MTG foi o tradicionalmente chamado Método Direto (MD), no qual já podíamos notar uma ênfase na parte oral, onde a língua estrangeira se aprendia utilizando a língua-alvo, a língua materna nunca deveria ser utilizada em sala de aula. O aluno deveria aprender a pensar através da língua. A oralidade estava presente, mas a escrita podia ser 9 introduzida nas primeiras aulas. Pequenos diálogos situacionais (no supermercado, no banco, por exemplo) e pequenos trechos de leitura eram o ponto de partida para a compreensão oral, escrita, auditiva e de leitura. Os exercícios deveriam ser integrados, levando o aluno a uma sistematização da língua a que ele estava sendo exposto. No entanto, esse método não teve um suporte didático para se manter, uma vez que as situações apresentadas em sala de aula ainda não teriam uma relação direta com as situações enfrentadas no cotidiano dos alunos. Os testes desse método eram, assim como os de seu antecessor, desprovidos de coerência, e faziam com que o professor, invariavelmente, acabasse por usar a não tão antiga fórmula do MGT. Há, ainda, nessa mesma fase, o Método da Leitura (ML), no qual seus defensores acreditavam que a habilidade da fala era apenas um objetivo secundário no ensino de línguas. Este deveria ser visto como um gosto pela cultura e literatura do povo estudado. Para isto, procurava-se expandir ao máximo o vocabulário dos alunos o mais rápido possível. A gramática restringiu-se ao necessário para a compreensão da leitura, e os exercícios mais usados para a prática da gramática foram basicamente os que empregavam a transformação de frases. 10 Embora a era pré-científica tenha durado muitos anos, sua estrutura estava para ser abalada com novos acontecimentos mundiais que iriam mudar o foco da aprendizagem de língua estrangeira. 1.3. A Era Psicométrica-Estruturalista – dos anos 40 aos 60 O mundo se deparou com a Segunda Guerra Mundial, e isso fez com que novos caminhos tomassem forma no que diz respeito ao aprendizado de uma língua estrangeira. Os governos investiram em programas de ensino/aprendizagem. Em particular, os Estados Unidos teve seus militares dentro de salas de aula para que desenvolvessem suas capacidades de comunicação orais e de audição em cursos intensivos de línguas, para que pudessem se comunicar com os aliados e entender os inimigos. O método então escolhido foi o MD, e ficou popularizado como “The Army Specialized Training Program” (ASTP), ou simplesmente, o Método do Exército. Sua principal característica era a atividade oral, a conversação, e para isso nenhum esforço foi poupado: lingüistas e informantes nativos contratados, turmas reduzidas ao número ideal de alunos, e um programa superintensivo de aprendizagem, com nove horas de aulas diárias num espaço limitado de tempo. 11 O método utilizado pelo exército foi refinado e passou a ser chamado de Método Audiolingual (MA), termo utilizado pela primeira vez pelo professor Nelson Brooks, da Universidade de Yale, no seu livro Language and Langue learning: theory and practice, de 1964. O princípio do MA era ensinar as habilidades lingüísticas na seguinte ordem: ouvir, falar, ler, e por último, escrever. Este método atingiu seu ápice nos anos 60, nos Estados Unidos. Acreditava-se que no audiolingualismo, não se aprendia errando. Acreditavase que quem errava acabava aprendendo com os próprios erros. Para isso, o ensino era feito em pequenos passos, com a aprendizagem gradual das estruturas, as quais eram apresentadas uma a uma. Estas estruturas deveriam ser praticadas até a automatização, com exercícios de repetição. No entanto, o que ocorreu foi a desmotivação por parte dos alunos pela incapacidade do método de levar os mesmos a estágios mais avançados devido às dificuldades de trazer uma expressão mais espontânea à língua. No entanto, grandes mudanças ocorreram durante este período no que se refere aos testes. Os testes aplicados até então eram basicamente de exercícios de tradução, mas com o MA, a transformação do formato dos testes foi uma nova acepção até então não questionada. Os testes passaram a ter exercícios de respostas fechadas (múltipla-escolha, por exemplo) e assim depositavam maior objetividade na correção, aumentando sua confiabilidade. Estes testes eram chamados de ‘discrete-point objective tests’ii. É aí que surgem os testes de itens isolados onde fragmentos da língua passaram a ser avaliados. O que 12 ocorre com este tipo de teste é que a linguagem pode ser fragmentada em unidades a fim de ser analisada, ensinada e testada. Testes que avaliam partes de linguagem são facilmente quantificáveis e as notas obtidas através desses testes são confiáveis, uma vez que as questões são objetivas. Mas tais testes apresentavam falhas quanto à integração aprendizagem/avaliação, como bem menciona Oller (1986:212) “Discrete point analysis necessarily breaks the elements of language apart and tries to teach them (or test them) separately with little or no attention to the way those elements interact in a larger context of communication. What makes it ineffective as a basis for teaching or testing languages is that crucial properties of language are lost when its elements are separated. The fact is that in any system where the parts interact to produce properties and qualities organizational constraints themselves become crucial properties of the system, which simply cannot be found in the part separately.”iii Assim, as idéias da era psicométrica-estruturalista começaram a ser deixadas para trás, já que a língua precisava de uma integração, e a competência lingüística que todos queriam alcançar não poderia ser fragmentada para ser aprendida. Estava na hora do surgimento de outro tipo de abordagem. 1.4 A Era Psicolingüística-Sociolingüística – dos anos 70 13 Começava aqui uma série de estudos sobre as melhores formas de ensinar uma segunda língua. Lingüistas renomados, como Chomsky, Hymes, Halliday, Canale, Canale & Swain, Savignon, para citarmos alguns, começaram a definir o que seria conhecido como competência comunicativa. Para Chomsky (1966), a língua era adquirida a partir da competência subjacente do aprendiz. Foi ele quem apresentou pela primeira vez a concepção de competência e desempenho. Competência, para Chomsky, refere-se ao conhecimento da gramática, e desempenho ao seu uso de fato. Já para Hymes (1967), a concepção lançada por Chomsky não se adequava ao que realmente acontecia ao se adquirir uma segunda língua, já que expressar e fazer-se compreender não necessitavam estar ligadas à gramática da língua estudada, salvo casos nos quais as regras de uso se fazem necessárias num determinado contexto para que se possa entender o que está sendo dito. Halliday (1970) afirmava que a língua era usada para funções sociais, como ordenar, pedir, concordar, etc. A partir de Canale (1980), e Canale & Swain (1983), o conceito de competência comunicativa se formula. Dentro deste conceito há sub-competências, que são a gramatical, a estratégica e a sociolingüística. A primeira dizia respeito às regras propriamente ditas, a segunda às estratégias utilizadas pelos falantes para suprir o não domínio da língua, e a terceira às regras socioculturais da língua, ou seja, o contexto social no qual a língua está sendo utilizada. Savignon (1983:22), completa o conceito de competência comunicativa afirmando que é 14 a “habilidade de funcionar num quadro verdadeiramente comunicativo”. Tais conceitos fizeram com que os testes de línguas sofressem uma modificação, e considerando as novas visões de competência comunicativa, profissionais na área de ensino procuraram repensar suas metodologias e seus procedimentos. Surgiram assim, os testes integradores, que podiam avaliar a capacidade de unir as habilidades de uma forma mais próxima ao uso lingüístico real (Oller, 1979). No entanto, Weir (1990:5-6), afirma que estes tipos de testes nos dizem algo a respeito da competência lingüística do candidato, e não sobre a habilidade de desempenho do mesmo. Os testes integradores ainda não alcançariam a perfeição, dando espaço para que novos caminhos fossem trilhados. É o início da Abordagem Comunicativa 1.5 A Terra Prometida – final do século XX A história da Abordagem Comunicativa (AC) surgiu de uma necessidade de interação numa língua estrangeira. O foco no sentido e no significado era a intenção dessa nova abordagem, que começou na Europa nos anos 80, onde os lingüistas enfatizavam o estudo do discurso. Tal estudo propunha não apenas a análise do texto oral e escrito, como também as circunstâncias em que o texto era produzido e interpretado. Em sala de aula, 15 pôde-se dizer que o estudo tratava de ensinar o aluno a se comunicar em língua estrangeira e adquirir uma competência de comunicação (Hymes, 1991). Hoje, a Abordagem Comunicativa trabalha não somente com a oralidade, mas também com a parte gramatical. No entanto, há uma quebra de tradição quanto ao ensino da gramática como era entendido até então, com suas regras ditadas e impostas pelo professor, intermináveis exercícios de repetição e afins. A gramática de base na AC é a gramática das idéias, da organização do sentido, onde as atividades gramaticais estão a serviço da comunicação. Aquela gramática de exercícios formais e repetitivos foi substituída por um novo conceito, onde os alunos são levados a descobrir por si só as regras de funcionamento da língua. Hipóteses, reflexão e uma liberdade de pensamento maior são fatores que exigem do aluno uma participação mais ativa no processo de aprendizagem. Sendo assim, a importância da produção dos próprios alunos os ajuda a vencer seus bloqueios de produção. Entretanto, a AC não descarta a possibilidade de criar na sala momentos de explicitação de regras e de prática rotinizante dos subsistemas gramaticais, como o dos pronomes, as terminações de verbos, etc. (Almeida Filho, 1993). Segundo Martins-Cestaro (1997), “a aprendizagem é centrada no aluno, não só em termos de conteúdo como também de técnicas usadas em sala de 16 aula”. O trabalho em grupo, as dramatizações, a leitura de textos autênticos, o professor como facilitador da matéria, e acima de tudo, uma atmosfera de afetividade na sala de aula são as técnicas mais aplicadas numa aula onde a AC é utilizada. Os testes simulam o que o aprendiz sabe numa situação do dia-a-dia, de maneira que suas habilidades correspondam à vida real. Estes testes oferecem a vantagem de mostrar a tarefa por desempenho partindo do objetivo daquela avaliação (exame de proficiência, diagnóstico ou de rendimento) (Morrow, 1979:150/51). O conteúdo da avaliação também é considerado, há uma preocupação em perceber a língua. A evolução no campo de avaliações veio a criar os testes por desempenho, que segundo o modelo de Communicative Language Teaching, ou ensino comunicativo, desenvolvido por David Nunan (1991:279) “tentam relacionar o que se aprende em sala de aula com atividades que ocorrem fora dela”. Hoje, os testes integradores definidos por Oller assumem outro significado dentro da AC, pois são testes que simulam tarefas que os candidatos terão que desenvolver em situações futuras. A Abordagem Comunicativa sabe também ser crítica de suas antecessoras, questionando a falta de objetivos no ensino de língua estrangeira até então trabalhados em sala de aula. Esta abordagem defende que os cursos devem ser planejados de acordo com o interesse e necessidade dos alunos. Realmente o que se vê hoje são inúmeros cursos 17 baseados com o que se convencionou a chamar em inglês de ESP, English for Specific Purposes, ou seja, Inglês para Objetivos Específicos. Mas verificase que, além desses cursos, muitas escolas conseguiram trazer a AC para dentro delas sem que se faça uso da ESP. Aplicam a AC seguindo seu método, sempre com o acompanhamento de um livro-texto, que corresponde com as expectativas ditadas pela abordagem em questão. Isso pode gerar um efeito retroativo em se tratando de testes de proficiência. 1.6 Sobre o Efeito Retroativo De acordo com Retorta1 , o efeito retroativo “é definido pela literatura em educação e em lingüística aplicada como sendo a influência que um exame, seja ele de rendimento2 ou externo3, exerce sobre o ensino e a aprendizagem.” Ainda, sobre o efeito retroativo, Brown (2004:29) afirma que: “The challenge to teachers is to create classroom tests that serve as learning devices through which washback is achieved. Students’ incorrect responses can become windows of insight into further work. Their correct 1 Retorta, M. Efeito Retroativo do Vestibular da Universidade Federal do Paraná no ensino de língua estrangeira no Ensino Médio do Paraná: uma investigação em escolas públicas, particulares e cursos prévestibulares. Tese de doutorado a ser publicada, Unicamp, SãoPaulo. 2 De acordo com Retorta, “exames de rendimento são instrumentos que têm a função de diagnosticar o que o aluno aprendeu ou deixou de aprender em sala de aula. O elaborador deste tipo de exame deveria utilizar tal instrumento para apontar e corrigir falhas no ensino/aprendizagem que o precedeu.” 3 Ainda conforme Retorta, “exames externos são instrumentos de avaliação que ocorrem fora da instituição do aluno tais como exame de entrada, como o vestibular, proficiência de uma língua, e que têm por objetivo selecionar e classificar para vagas em instituições de ensino superior (...); ou ainda de proficiência lingüística comunicativa.” 18 responses need to be praised, especially when they represent accomplishments in a student’s inter-language. Teachers can suggest strategies for success as part of their “coaching” role. Washback enhances a number of basic principles of language acquisition: intrinsic motivation, autonomy, self-confidence, language ego, interlanguage, and strategic investment, among others.”iv O efeito retroativo, que no passado, já foi visto como “fenômeno determinista por um grupo de especialistas” ( Retorta, 2005:3), pode ser hoje estudado como positivo ou negativo, considerando fatores externos à situação isolada dos testes que podem interferir no rendimento dos alunos. O efeito retroativo positivo acontece quando das ocasiões em que o ensino pode ser impróprio, mas as avaliações são capazes de exercer uma influência benéfica. Hughes (1989:1-2), nos mostra um exemplo de efeito retroativo positivo: “I was once involved in the development of an English language test for an English medium university in a nonEnglish-speaking country. The test was to be administered at the end of an intensive year of English study there and would be used to determine which students would be allowed to go on to their undergraduate courses (taught in English) and which would have to leave the university. A test was devised which was based directly on an analysis of the English language needs of first year undergraduate students, and which included tasks as similar as possible to those which they would have to perform as undergraduates. The introduction of this test, in place of one which had been entirely multiple choice, had an immediate effect on teaching: the syllabus was redesigned, new books were chosen, classes were conducted differently. The result of these changes was that by the end of their year’s training, in circumstances made particularly difficult by greatly increased numbers and limited resources, the students reached a much higher standard in English than had ever been achieved in the university’s history.”v 19 Em contrapartida há o efeito negativo sobre o qual Hughes (op.cit p. 01) afirma: “If the test content and testing techniques are at variance with the objectives of the course, then there is likely to be harmful backwash. An instance of this would be where students are following an English course which is meant to train them in the language skills (including writing) necessary for university study in an English-speaking country, but where the language test which they have to take in order to be admitted to a university does not test those skills directly”vi Não podemos esperar que as avaliações sigam as aulas, mas podemos, sim, considerar um efeito retroativo grande dentro da sala de aula se levarmos em consideração o que esperamos de nossos alunos. Para tal, o professor/pesquisador fez as seguintes indagações que serviram de guia para suas aulas: • Meus alunos precisam melhorar suas habilidades orais? Escritas? De compreensão auditiva? De leitura? • Estou interessado(a) em resultados finais para saber se meus alunos foram aprovados por nota ou se eles têm a competência lingüística para seguirem em frente? • Estou aberto(a) a perceber as influências externas às quais meus alunos estão expostos, e, conseqüentemente, as trazem para a sala de aula, e por que não?, aos resultados dos testes? 20 Estas perguntas podem servir para a reflexão de profissionais na área de ensino/aprendizagem de uma segunda língua no sentido de buscarem um efeito retroativo positivo para a sala de aula. Neste trabalho, o efeito retroativo fica sobre algumas atividades, basicamente restritas às técnicas utilizadas pelo professor durante as aulas do semestre regular. Já em relação ao TOEIC, o efeito retroativo parece ser positivo, como iremos observar no capítulo 3. No capítulo seguinte trataremos da investigação da competência comunicativa, qual a expectativa de verificar a Abordagem Comunicativa em relação ao exame TOEIC e explicaremos os procedimentos adotados. 2. Procedimentos Metodológicos No capítulo anterior falamos sobre as diferentes eras de abordagens, suas características e seus testes, e tratamos da definição do fenômeno efeito retroativo e como sua influência pode se refletir em sala de aula a partir de atividades propostas pelo professor durante as aulas do semestre regular. Aqui, veremos como o teste foi aplicado nas suas duas fases e os procedimentos que o professor adotou em relação ao exame. 21 2.1. A Escola e o Universo Pesquisado A Phil Young´s é um curso livre de língua inglesa, que oferece 12 (doze) semestres regulares, nos quais os alunos são encorajados a adquirir uma competência comunicativa passando por testes escritos formais e avaliação oral não-formal em sala a cada semestre. No semestre que estava em andamento quando do início deste trabalho, os alunos previamente selecionados teriam que ser expostos a uma simulação de um teste de proficiência ao final do semestre, um pré-requisito da escola para alunos cursando o 7° semestre. Este teste de proficiência não influencia diretamente a produção dos alunos para com o semestre que estão cursando, mas é uma referência de rendimento para o seguinte. Com isso, os professores que trabalham com o nível avançado podem ter uma idéia mais clara do rendimento dos alunos no semestre anterior e trabalhar em cima de áreas deficitárias. Como este trabalho de análise do TOEIC foi feito pela primeira vez na escola, e dividido em duas fases, a primeira já no início do semestre, o professor das duas turmas analisadas pôde, no decorrer do semestre, verificar os efeitos do teste em relação às aulas. Este efeito recebe o nome de retroativo, ou washback effect, em inglês. 2.2 A Estrutura do TOEIC 22 Segundo Hughes (1989:10), a respeito de testes de proficiência, “The function of these tests is to show whether candidates have reached a certain standard with respect to certain specified abilities”vii Este trabalho investiga a relação entre os resultados apresentados pelo TOEIC e a competência comunicativa para alunos pré-avançados de duas turmas da Escola de Inglês Phil Young´s que participaram da investigação. Sendo assim, é uma proposta inovadora para a instituição analisada, onde tal avaliação está sendo feita pela primeira vez. A expectativa é a de verificar a eficiência da AC utilizada pela escola para um teste de proficiência como o TOEIC. Os alunos que participaram deste trabalho mostraram-se curiosos a respeito de uma nova forma de avaliação das suas habilidades na língua e após o aval da direção e coordenação da escola, e da menção da nova forma de avaliação em sala, o teste foi feito, então, em 2 (duas) fases distintas. Na primeira fase do trabalho, a expectativa do professor de um alto rendimento dos alunos pelo professor não foi levada em consideração, já que este era o primeiro momento em que os alunos teriam contato com a prova. Ao iniciar o estudo, verificou-se que a disparidade entre a parte de compreensão auditiva e de texto durante as aulas era significativa. Esperava-se que tal disparidade não se refletisse nos testes a serem aplicados, uma vez que, mesmo sem utilizar anteriormente 23 muito material extra de apoio anteriormente, os alunos tiveram, durante 7 (sete) semestres, um contato até então considerado satisfatório em relação à compreensão de textos nas aulas. No entanto esperava-se que pudesse haver surpresas no que diz respeito à utilização dessa nova forma de avaliação. O total de horas disponíveis dentro da sala de aula a contar da data de aplicação da primeira fase do teste até o final do semestre é de 50 horas, que não estavam dispostas somente para a execução de tarefas relacionadas à melhoria do rendimento no teste, mas sim utilizadas dentro da carga horária do semestre regular do curso de inglês, no qual os alunos ainda estavam adquirindo conhecimento sobre a língua. Os alunos que participaram deste estudo são alunos do 8° semestre, considerados pré-avançados. No nível em que estavam estudando havia uma simulação de teste de proficiência no final do semestre. O que o professor fez foi, com a autorização da escola, substituir o referido teste por outro, também de proficiência (TOEIC). Os alunos selecionados estudaram no mesmo nível, mas em horários distintos, um vespertino e outro noturno. Dentro da carga horária semestral disponível do professor, as únicas possibilidades de fazer o experimento foram com essas turmas, já que eram considerados grupos pré-avançados. 24 O tempo disponível para a aplicação do teste em si é de 120 minutos. Em se tratando de uma aula normal com duração de 2h e 30 min., e sendo o teste uma simulação, o professor dividiu o tempo total em duas partes: a primeira, que correspondia à parte de compreensão auditiva, leva 45 minutos. Depois desta parte, o professor deu 10 minutos de intervalo aos alunos. Passado este tempo, os alunos iniciaram a segunda parte do teste, que correspondia à parte de compreensão de gramática e leitura, que levou 75 minutos. Sendo a aula de 2 horas e 30 minutos, ainda restaram 20 minutos para que a correção fosse feita em sala, através de gabarito. A primeira fase do estudo foi aplicada com o semestre já em andamento, com grupos de quarta e quinta-feiras, dias em que as turmas noturnas e vespertinas, respectivamente, tinham aula. A escolha da data foi aleatória, propiciando ao professor um prazo curto do início do semestre para a data do teste apenas para que o professor pudesse se adaptar melhor às turmas. Além da disponibilidade dos alunos, o professor contou com o apoio da coordenação e da direção da escola, que lhe cederam a oportunidade de inovar e assim, dar à escola também outro parâmetro de avaliação. Por ser esta a primeira vez que os alunos faziam o teste, o professor necessitou explicar aos mesmos como as perguntas eram formuladas, e como eles deveriam responder às mesmas. A parte de compreensão auditiva apresentou 100 (cem) questões, subdivididas em 4 (quatro) segmentos. 25 Todos os segmentos foram acompanhados pelos alunos através de uma fita cassete que acompanhava o teste e que continha as conversações dos exercícios. O teste era em formato de gabarito, e os alunos não deveriam marcar nada na apostila, nas na folha-resposta. A primeira parte da compreensão auditiva teve um total de 20 (vinte) exercícios, acompanhados por fotos (ver anexo 2). Estes exercícios eram formados de 4 (quatro) pequenos diálogos que os alunos deveriam interpretar pelas fotos apresentadas e marcar a resposta correspondente, seja ela a); b); c); ou d), na folha-resposta que acompanhava o teste. O segundo segmento teve um total de 30 (trinta) exercícios que já não apresentavam nenhum indicativo por fotos para auxiliar e/ou guiar o aluno, mas sim uma pergunta seguida por 3 (três) alternativas de resposta dadas apenas no áudio (anexo 3). O terceiro segmento também teve um total de 30 (trinta) exercícios. Neste segmento os alunos ouviram um diálogo mais longo na fita cassete e tinham a pergunta correspondente ao diálogo com 4 (quatro) alternativas de respostas descritas, todas, desta vez, na apostila (anexo 4). A quarta e última parte da compreensão auditiva consistia em 20 (vinte) questões, nas quais as conversas eram um pouco mais longas que o segmento anterior, mas os alunos ainda tinham as perguntas e respostas descritas na apostila. 2.3 Procedimento 26 Depois de tomadas as devidas providências para a realização do teste, que incluíram a organização das carteiras, a iluminação correta da sala de aula, a temperatura da sala e o volume do áudio, os alunos entraram na sala para fazer o teste, receberam as instruções sobre como agir durante o teste simulado e como responder às questões. Eles receberam também a estimativa de tempo (2 horas para um total de 200 perguntas, sendo subdivididas em 2 partes: a primeira, com um total de 100 questões de compreensão auditiva e a segunda com 100 questões de gramática e compreensão de texto). Ao fim do teste, o professor recolheu as apostilas juntamente com as folhas-respostas e iniciou a correção em sala através da máscara gabarito. Antes mesmo de ver o formato do teste, os alunos mostraram-se excitados com a possibilidade de “medir” seu grau de conhecimento na língua inglesa e ao mesmo tempo nervosos em ver o resultado. É importante mencionar que nenhum material extra foi utilizado no decorrer do estudo para que os alunos viessem a ter uma performance melhor de uma fase para outra do teste. O que foi utilizado referiu-se somente ao conhecimento passado através do professor com o auxílio do livro-texto (os alunos utilizam o livro New Interchange, vol. 3, por Jack C. Richards) durante o semestre. Nenhum outro material extra correspondente ao TOEIC estava sendo verificado, justamente para tornar a abordagem empregada pela escola válida para o estudo. A possibilidade de os alunos não obterem êxito em seu semestre 27 regular em conseqüência da preparação para as duas fases do teste foi detalhe importante. A instituição, juntamente com o professor, preocupou-se em saber o quão confortável os alunos se sentiriam ao longo da carga horária caso tal hipótese viesse a se tornar real. Afastadas quaisquer possibilidades de acúmulo de tarefas em função do estudo, o trabalho teve sua continuidade. Na primeira fase do estudo o número de alunos em cada grupo era: • Vespertino: 13 alunos, todos adolescentes; • Noturno: inicialmente constituído de 8 alunos, entre adolescentes e jovens adultos. A escolha de alunos com idades semelhantes, mas em horários diferentes foi proposital, em função da curiosidade em saber o quão efetiva a Abordagem Comunicativa seria para pessoas que, embora estudando a mesma matéria, tivessem um desempenho diferente em relação às atividades em sala de aula e avaliações semestrais regulares na instituição participante. A escolha do TOEIC foi, assim, válida, principalmente por se tratar de um teste neutro para a escola, na qual nenhuma instrução em relação à parte gramatical, ou auditiva, ou de compreensão de texto foi inserida durante o semestre regular de aulas. Sendo assim, pôde-se refletir a partir dos resultados obtidos na primeira fase do trabalho melhor em quão abrangente era a competência comunicativa utilizada em sala da aula. Mostrou, ainda, de 28 uma forma mais realista, a capacidade dos alunos em compreender a língua inglesa utilizada tanto em sala de aula como fora dela. No capítulo 3, veremos a relação entre os resultados parciais e seu efeito retroativo a partir dos dados obtidos. 3. Discussão e Análise dos Resultados No capítulo anterior, discorremos sobre a competência comunicativa e o reflexo da eficiência da Abordagem Comunicativa para candidatos que se 29 preparam para o teste de proficiência TOEIC. Mostraremos aqui os dados obtidos a partir dos resultados das duas fases do exame e o efeito retroativo positivo em sala verificado após a aplicação da primeira fase do trabalho. 3.1 Análise de dados Por estarmos falando de competência comunicativa, temos que ter em mente que os resultados obtidos nos testes de proficiência deste trabalho refletem, de alguma forma, efeitos retroativos, pois para cada atividade planejada pelo professor há uma expectativa de que seus alunos produzam o efeito desejado. Por exemplo, se o professor planeja um exercício onde seus alunos devem utilizar a fala na maior parte do tempo, o profissional espera que seus alunos possam, ao final da atividade, produzir um resultado mínimo esperado em relação à estrutura estudada. No teste em questão, o professor utilizou material extra que pôde ser adaptado ao livro-texto, já que o currículo da escola precisava ser cumprido. Acreditamos que seus efeitos tenham sido benéficos em relação à sala de aula, mas buscaremos através da análise dos resultados confirmar esta hipótese. Assim, mostramos a seguir o que foi alcançado. Na primeira fase do teste, aplicado aos grupos pré-avançados em agosto de 2004, os alunos vespertinos (correspondentes ao tarde na tabela) 30 tiveram um desempenho melhor na parte que diz respeito à compreensão auditiva do que os alunos do mesmo nível do no período noturno (noite), como pode ser observado no gráfico abaixo: fase 1 - agosto 2004 resultado parcial geral auditivo 400 300 200 100 0 325 tarde 282,5 noite figura 1 corresponde ao desempenho dos alunos referente à parte de compreensão auditiva do teste. Resultado geral parcial das duas turmas. Os valores correspondem a uma escala de 0 a 495, nota máxima do teste nesta seção Vários fatores podem ter sido os causadores desta diferença, uma vez que a abordagem do livro é feita da mesma maneira pelo professor para esses dois grupos. Vale esclarecer que o teste foi um tanto longo, e o rendimento dos alunos no período noturno é normalmente mais baixo nos testes do semestre regular do que o dos alunos de outros horários. Mais uma vez vale lembrar que os alunos não tiveram nenhum curso específico para a preparação do teste, e o fizeram somente levando consigo a bagagem lingüística adquirida durante o tempo em que têm estudado na escola (aproximadamente 3 anos). 31 O resultado obtido nesta primeira parte do teste na sua primeira fase foi, de uma certa forma, já o esperado pelo professor. Os alunos receberam, durante todos os semestres anteriores, uma carga de informações muito grande no que diz respeito à sua compreensão auditiva. Eles foram constantemente expostos à conversas e exercícios de compreensão auditiva, habilidades estas que foram parte do currículo do livro didático adotado pela instituição. É claro que muitas alternativas apresentadas na simulação do TOEIC não foram estruturas já estudadas pelos alunos, mas mesmo assim seu resultado final para a primeira fase do teste não foi insatisfatório. O mesmo não ocorreu com a segunda parte do teste, a de compreensão gramatical e de interpretação de textos. O rendimento das duas turmas apresentado na figura XXX foi abaixo do esperado, e muito abaixo do desempenho apresentado na primeira parte do teste, como podemos observar a seguir: 32 fase 1 - agosto 2004 resultado parcial geral gramatical 400 300 200 177,3 165 tarde noite 100 0 figura 2 corresponde ao desempenho dos alunos referente à parte de compreensão gramatical e de texto do teste. Resultado geral parcial das duas turmas. Os valores correspondem a uma escala de 0 a 495, nota máxima do teste nesta seção Os fatores que podem ter desencadeado estas discrepâncias não são o alvo deste trabalho, mas acreditamos que são fatos importantes para que outras pesquisas venham a ser feitas em relação às diferenças de resultado e seus efeitos em sala de aula. Depois da primeira fase do teste TOEIC, os alunos seguiram seu semestre regular, com atividades relacionadas somente ao livro-texto, expostos a conversações, aulas de vídeo e também a exercícios gramaticais referentes ao livro que estudam. Assim, o restante das horas disponível para a conclusão do semestre se seguiu até o final de novembro, quando então foi aplicada a segunda fase do TOEIC. Os mecanismos de procedimentos adotados foram exatamente os mesmos da primeira fase, já descritos anteriormente. No entanto, o que chamou a atenção do professor foi o 33 cansaço aparente nos alunos. A ansiedade de verificar se seu conhecimento na língua inglesa havia melhorado foi o que motivou os alunos a continuarem se submetendo à aplicação do teste. Fatores externos ao entendimento do professor não poderiam ser controlados, mas poderiam refletir no resultado final do trabalho. Mesmo assim a investigação prosseguiu e os resultados obtidos na segunda e última parte do teste foram os seguintes: em relação à compreensão auditiva, houve uma pequena alteração negativa no resultado total do grupo vespertino (afternoon) e também do grupo noturno (evening); quanto ao desempenho na parte gramatical e de compreensão de texto houve uma alteração positiva. Ainda, em relação à primeira fase do teste, houve uma alteração no número de alunos do grupo noturno, que passou de 8 (oito) para 10 (dez) alunos na segunda fase. Estes novos alunos, oriundos de transferências de outras turmas, não tiveram acesso à primeira fase do TOEIC, e receberam, individualmente, instruções de como proceder durante o teste. Ambos os grupos tiveram um rendimento menor do que na primeira fase do teste (verificar figuras 1 e 2), como podemos observar no gráfico a seguir: 34 fase 2 - novembro 2004 resultado parcial auditivo 400 300 200 100 0 320 273,5 tarde noite figura 3. Desempenho dos alunos na parte auditiva do TOEIC. Resultado parcial das duas turmas. Os valores correspondem a uma escala de 0 a 495, nota máxima do teste nesta seção Quanto à parte gramatical e de compreensão de texto, os resultados obtidos na segunda fase do teste também apresentam uma diferença em relação à primeira fase do teste, mas os resultados mostram uma melhora no rendimento por parte dos alunos conforme o gráfico a seguir: fase 2 - novembro 2004 resultado parcial gramatical 400 300 229,6 200 179,5 100 0 tarde noite figura 4. Desempenho dos alunos na parte gramatical e de compreensão de texto do TOEIC. Resultado parcial das duas turmas. Os valores correspondem a uma escala de 0 a 495, nota máxima do teste nesta seção 35 Esta melhora pode ter origem no fato de que os alunos foram expostos a mais informações a respeito de regras e exercícios gramaticais no decorrer do semestre, assim, puderam entender melhor o que era avaliado nos exercícios do teste. Os fatores que podem ter desencadeado estas discrepâncias são aqui citados de forma meramente especulativa. O que nos interessa é ver que a melhora na parte de compreensão de texto é significativa, levando-se em consideração que os alunos não foram expostos a atividades específicas relacionadas com o TOEIC. Se compararmos as duas turmas e as duas fases do teste separadamente, teremos uma idéia melhor da performance dos alunos: tarde - compreensão auditiva resultado final 400 325 320 300 200 100 0 figura 5. corresponde ao desempenho de compreensão auditiva do grupo vespertino nas duas fases do teste, a primeira em agosto (325 pontos) e a segunda em novembro de 2004 (320 pontos). Os valores correspondem a uma escala de 0 a 495, nota máxima do teste nesta seção 36 noite - compreensão auditiva resultado final 400 300 282,5 273,5 200 100 0 figura 6. corresponde ao desempenho de compreensão auditiva do grupo noturno nas duas fases do teste, a primeira em agosto (282,5 pontos) e a segunda em novembro de 2004 (273,5 pontos). Os valores correspondem a uma escala de 0 a 495, nota máxima do teste nesta seção A diferença visível também se encontra na parte de compreensão de texto: tarde - compreensão de textos resultado final 400 300 200 229,6 177,3 100 0 figura 7. corresponde ao desempenho de compreensão gramatical do grupo vespertino nas duas fases do teste, a primeira em agosto (177,3 pontos) e a segunda em novembro de 2004 (229,6 pontos) . Os valores correspondem a uma escala de 0 a 495, nota máxima do teste nesta seção 37 noite - compreensão de textos resultado final 400 300 200 165 179,5 100 0 figura 8. corresponde ao desempenho de compreensão gramatical do grupo noturno nas duas fases do teste, a primeira em agosto (165 pontos) e a segunda em novembro de 2004 (179,5 pontos). Os valores correspondem a uma escala de 0 a 495, nota máxima do teste nesta seção Com base nestes gráficos, discutiremos as possíveis discrepâncias a seguir. 3.2 DISCREPÂNCIAS E EFEITOS RETROATIVOS Observando os gráficos do capítulo anterior, podemos perceber que as diferenças em relação ao rendimento do grupo vespertino são bem maiores do que o noturno (fig. 5 a 8). Algumas influências clássicas já de conhecimento do meio acadêmico mostram que isso é um fenômeno natural. Alunos da turma vespertina vão para a escola regular no período matutino, têm um tempo relativamente longo para almoçar e são, na maioria, adolescentes com contato direto em livros, revistas e materiais didáticos. 38 Estes mesmos alunos têm, ainda, o restante do dia para descansar suas mentes e se preparar mais eficazmente para os testes das suas respectivas escolas. Em contrapartida, os alunos que freqüentam o período noturno, na sua grande maioria trabalham o dia inteiro, e precisam de uma língua estrangeira porque estão à procura de uma posição melhor no mercado de trabalho. O tempo disponível que estes alunos que estudam à noite têm, para uma dedicação maior à língua-alvo, é muito reduzido. Há, ainda, o agravante da motivação. Embora os professores de língua estrangeira tentem ao máximo fazer com que o rendimento de seus alunos no período noturno dentro da sala de aula seja o melhor possível, fatores externos não permitem, muitas vezes, que esses alunos tenham o mesmo desenvolvimento em sala do que seus colegas do período vespertino. Problemas de origem familiar, de trabalho, ou simplesmente cansaço fazem com que os alunos enfrentem uma certa desmotivação em sala. Tais motivos podem ter causado as discrepâncias percebidas nos resultados obtidos nos testes. Mas se analisarmos os grupos separadamente veremos que há uma mudança significativa de resultados obtidos durante o semestre. Além da maior abrangência gramatical obtida através do livro-texto, 39 existe, ainda, o filtro afetivo4 (Krashen, 1988) que fez com que houvesse uma mudança de comportamento tanto do professor como dos alunos. A motivação por parte dos alunos, sua autoconfiança, o maior interesse nos pontos gramaticais do livro com intenção de melhorar seu desempenho na parte gramatical da prova, uma maior atenção nos exercícios de leitura, e em relação ao professor, uma determinação mais afinca para auxiliar seus alunos em suas dificuldades fizeram com que o desempenho das turmas fosse mais alto na segunda fase do teste. Com atitudes simples que puderam ser facilmente adaptadas aos exercícios do livro-texto, na maioria das vezes exercícios que envolviam leitura e compreensão gramatical, o professor pode ajudar seus alunos a descobrirem as melhores formas de otimizar resultados. Levando em consideração que a habilidade de compreensão auditiva dos alunos era, desde o início, muito maior do que sua habilidade de compreensão de textos, o professor tomou como princípio a hipótese de que se os seus alunos não fossem punidos pelos erros, mas levados a pensar sobre os mesmos e a tentarem desenvolver estratégias pessoais de compreensão na parte de leitura, seus resultados ao final do semestre seriam muito melhores. 4 A teoria do filtro afetivo diz que há um número de variáveis co-responsáveis pela aquisição de uma segunda língua. Entre essas variáveis encontramos motivação, auto-confiança e ansiedade. Segundo a teoria, alunos com tais características estão bem equipados para o aprendizado de uma segunda língua. Variantes contrárias a estas, tais como baixa motivação, baixa-estima e alto grau de ansiedade podem causar um bloqueio mental que impede a aquisição de outra língua. 40 No segundo capítulo, falamos das competências lingüísticas exigidas pelo exame TOEIC, e como tal exame provocou um efeito retroativo positivo em sala de aula. O exame provocou a mudança de vários aspectos dentro da sala de aula, dentre os quais: a motivação do professor, o enfoque da gramática, as técnicas de leitura dos textos apresentados pelo livro-texto. Como o trabalho foi dividido em duas partes distintas, o professor pôde, no espaço de tempo entre o primeiro e o segundo teste, trabalhar em sala com os alunos não as competências gramaticais isoladas do referido teste, mas sim o contexto que envolvia um rendimento melhor no aspecto geral da avaliação de línguas. Após a aplicação da primeira parte do teste, conversou-se com os alunos individualmente para fazê-los perceber as maneiras como cada um poderia vir a melhorar seu desempenho durante as aulas, não se preocupando com o resultado final dos testes do TOEIC aplicados às turmas. A avaliação foi feita desta forma para que fosse absolutamente informal, como sugere Brown (op.cit p. 29) “Another form of washback that occurs more in classroom assessment is the information that “washes back” to students in the form of useful diagnoses of strengths and weaknesses. Washback also includes the effects of an assessment on teaching and learning prior to the assessment itself, that is, on preparation for the assessment. Informal performance assessment is by nature more likely to have built-in washback effects because the teacher is usually providing interactive feedback. Formal tests can also have positive washback, but they provide no washback if the students receive a simple letter grade or a single overall numerical score.”viii 41 Desde o início deste trabalho falamos do TOEIC dentro da Abordagem Comunicativa. O TOEIC pode provocar um efeito retroativo negativo em sala de aula quando o professor trabalha o que se convencionou chamar de facilitadores para testes, ou “test-wiseness techniques”, especialmente se os exercícios do teste forem de múltipla-escolha. Para os grupos analisados neste trabalho, não se intencionava melhorar os resultados do teste já que não se podia deixar de lado o semestre regular no qual os alunos estavam matriculados. O professor não pôde optar por dar ênfase total e direta à preparação do teste. No entanto, a instituição na qual o estudo se fez preza por um alto padrão de desempenho dos alunos nas avaliações e com isso, as exigências da escola provocam uma certa pressão sobre os professores quanto ao resultado dos testes. Como foi afirmado por Schneider, “... administrators have been unwavering in one point: the use of [TOEIC] gain scores as a key element in program goal setting and evaluation……. It can be said there was pressure…. From administrators to get scores moving up”ix (Schneider 2001:35-36). É fator de conhecimento público que a instituição obtém ótimos resultados com seus alunos nos testes de proficiência internacionais oficiais, mas isso pode causar um efeito retroativo negativo na sala, causando uma pressão e certa angústia por parte do professor e dos alunos. Weir (op. cit p.16) diz que: “In case of proficiency tests, these tasks are seen as inherent to the nature of the communication situation for 42 which candidates care being assessed. Caution, however, demands that we wait until empirical evidence is available before making such confident statements concerning the identification of these tasks. It is only after examining if it is feasible to establish suitable objectives, through empirical research based on real people coping with real situations, that there would be any grounds for claiming to have selected a representative sample of operational tasks to assess performance ability.”x Os resultados obtidos nos testes nos mostram que as atividades que o professor decidiu preparar para as aulas foram bem sucedidas. Retirando textos de revistas na língua inglesa, o professor utilizou técnicas que variaram entre simples exercícios de compreensão com origem no próprio text, até atividades onde os alunos, a partir do primeiro parágrafo do original produziram seus próprios textos. Alguns exercícios para que os alunos achassem o sinônimo das palavras também foram utilizados para enriquecer o vocabulário das turmas. Na maioria dos cursos livres de inglês, os professores não dispõem de tempo para fazer um comentário construtivo a cada um de seus alunos, não havendo uma interação nos grupos (Brown, op.cit p. 29). Entretanto, como já mencionamos anteriormente, o professor conversou com os alunos individualmente, e o resultado foi um acesso aberto na relação professor-aluno. Neste trabalho, um feedback positivo, originado pelo professor para seus alunos, a respeito de seus desempenhos nos testes foi utilizado dentro da aula, e assim, uma segunda chance de ter uma clarificação de dúvidas foi criada, fazendo com que os alunos viessem a atingir uma meta apropriada a seus desempenhos futuros no semestre que estavam cursando. 43 O que pudemos observar é que, independente das dificuldades que alunos possam ter em relação a fatores não relacionados à aula, eles podem alcançar uma melhora na sua competência comunicativa. As atividades desenvolvidas e atitudes que foram tomadas dentro da sala fizeram com que o desempenho dos alunos durante as aulas e também na segunda fase do teste apresentasse uma diferença pequena, mas significativa, durante o semestre regular. 44 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Estamos vivendo um momento em que o mundo está cada vez mais globalizado, onde o mercado de trabalho é cada vez mais competitivo e as companhias fazem cada vez mais exigências de seus funcionários. Neste contexto, o domínio de uma segunda língua é fundamental. Pensando desta maneira, especialistas desenvolveram testes de proficiência para que candidatos pudessem mostrar suas habilidades na língua-alvo para fins acadêmicos e/ou profissionais. O TOEIC é um destes testes, um meio de avaliação da linguagem voltada para o comércio. Suas áreas testadas são a compreensão auditiva e a compreensão textual. O desafio do teste é, então, verificar se as competências comunicativas exigidas dos candidatos correspondem aos aspectos que são utilizados em uma abordagem de ensino específica, onde a 45 língua-alvo é ensinada para que o aluno se comunique e adquira uma competência de comunicação em uma língua estrangeira. Assim, este trabalho nos mostra os efeitos retroativos benéficos provocados pela aplicação do teste de proficiência em alunos de um curso livre de inglês, onde o teste foi feito em duas fases distintas. Este estudo foi feito de uma maneira preliminar, com dois grupos de alunos, e as conclusões não devem ser vistas como definitivas, mas como uma análise das mudanças visíveis no desempenho dos alunos graças ao efeito retroativo positivo dentro da sala de aula a partir do resultado da primeira fase do teste. As atividades das quais o professor desses alunos teve acesso são, integralmente, relacionadas com o livro-texto adotado pela instituição de ensino, já que o professor não pôde ter um semestre totalmente disponível apenas para o aperfeiçoamento de técnicas para o melhor desempenho no teste. No caso do TOEIC, o formato dos exercícios é de múltipla-escolha, mas o professor não teve a intenção de trabalhar dicas para um melhor desempenho de seus alunos. As atividades subseqüentes à primeira fase do teste foram as que sofreram alterações(exercícios de leitura), o professor conseguiu criar uma atmosfera de maior aproximação com os alunos dentro da sala de aula e tal mudança de atitude fez com que suas atividades fossem bem sucedidas. Houve um ‘feedback’ muito positivo por parte dos alunos, que 46 também corresponderam muito positivamente nas aulas após a primeira fase do exame. Sendo esta a primeira vez que tal estudo foi feito na instituição, a importância da análise de dados de uma fase a outra do teste é relevante. As diferenças são significativas para um estudo mais detalhado sobre o efeito benéfico causado após a primeira fase do teste. Quando Alderson e Wall (1993:117), afirmaram que “professores e alunos fazem coisas que não fariam necessariamente senão por causa do teste”xi podemos verificar, através dos resultados obtidos, que podemos concordar com tal afirmação. Entretanto, para alargar os horizontes de nossas reflexões, seria interessante fazer um estudo mais detalhado sobre como os testes de proficiência, sejam eles acadêmicos ou voltados para a área de negócios, podem propiciar um efeito retroativo positivo na sala de aula e quais as atividades mais indicadas para que tal efeito se realize. O TOEIC neste trabalho funcionou como um instrumento de avaliação válido para que futuros pesquisadores possam ter uma referência sobre efeitos retroativos dentro da sala de aula após a aplicação de um teste de proficiência. Embora muito pouco estudo individual tenha sido feito a respeito, acreditamos que esta é uma área fértil para ser explorada. As diferenças apresentadas nos resultados sugerem uma gama extensa de possíveis considerações que podem servir de ferramenta útil para estes estudos. 47 REFERÊNCIAS ALDERSON, J.C. e WALL, D. Does Washback Really Exist? Applied Linguistics. 1993,p.117 ALMEIDA FILHO, J. C. P de. Dimensões Comunicativas no Ensino de Línguas. Campinas, SP: Pontes, 1993 BROWN, H.D. Language Assessment: Principles and classroom practices. New York: Longman, 2004, p.29 48 CANALE, M. From Communictive Competence to Communicative Language Pedagogy. In: Richards in Schmitt (eds). 1983, p.4 CANALE, M e SWAIN,M. 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New Jersey: Prentice-Hall International, 1990, p.5-6 i Testes de proficiência da língua deveriam ser o mais diretos possíveis, e que as atividades que os candidatos desempenham devem envolver um processo realista no discurso. ii Formatos de testes objetivos com questões de itens isolados. iii A análise de itens isolados quebra necessariamente os elementos da língua e tenta ensinálos (ou testá-los) separadamente com pouca ou nenhuma atenção ao modo que aqueles elementos interagem num contexto maior de comunicação. O que os faz ineficientes como base para o ensino ou avaliação da língua é que propriedades cruciais da língua são perdidas quando os elementos são separados. O fato de que em qualquer sistema onde as partes interagem para produzir propriedades e qualidades organizacionais se restringem e não podem simplesmente ser achadas em partes separadas. iv O desafio para os professores é criar testes em sala de aula que sirvam de instrumentos de aprendizagem através dos quais o efeito retroativo seja atingido. As respostas incorretas dos alunos podem se tornar janelas de compreensão para trabalhos futuros. Suas respostas corretas precisam ser elogiadas, especialmente quando elas representam realizações numa interlíngua do aluno. Professores podem sugerir estratégias para o sucesso através de seu papel de “técnicos”. O efeito retroativo realça um número de princípios básicos da aquisição da língua: motivação intrínseca, autonomia, autoconfiança, o ego da língua, interlíngua, investimento estratégico, entre outras.” v Estive envolvido no desenvolvimento de um teste de língua inglesa para uma universidade média de um país cuja língua mãe era outra que não o inglês. O teste iria ser administrado ao final de um ano de estudos de inglês intensivo, e seria usado para determinar quais alunos seriam permitidos a continuar seus cursos e quais teriam que deixar a universidade. Um teste foi planejado o qual foi baseado diretamente na análise da língua inglesa necessária para os alunos do primeiro ano, que incluía tarefas tão similares quanto possíveis àquelas que os alunos teriam que fazer durante seu tempo dentro da universidade. A introdução deste teste, 52 no lugar do prévio, que consistia de questões de múltipla-escolha, teve um efeito imediato no ensino: o programa de aulas foi revisto, livros novos foram escolhidos, as aulas conduzidas de maneira diferente. O resultado destas mudanças foi tal que ao final do ano de treinamento, em circunstâncias particularmente difíceis pelo número limitado de recursos, os alunos alcançaram um standard muito mais alto em inglês do que já havia sido registrado na história da universidade. vi Se o conteúdo do teste e as técnicas empregadas estão em lados opostos aos objetivos do curso, então há um efeito retroativo negativo. Um exemplo disto estaria onde os alunos seguindo um curso de inglês que tem a finalidade de treiná-los nas habilidades da língua (incluindo a escrita) necessárias para estudos universitários em um país de língua inglesa, mas no qual o teste de língua que estes alunos têm que fazer para entrar na universidade não teste essas habilidades diretamente. vii A função desse tipo de teste é mostrar se os candidatos alcançam um certo standard no que diz respeito a certas habilidades específicas. viii Outra forma de efeito retroativo que ocorre mais em avaliações em sala de aula é a informação que “lava” o aluno na forma de diagnósticos úteis de áreas fortes e fracas. O efeito retroativo também inclui os efeitos de uma avaliação no ensino /aprendizagem antes da avaliação propriamente dita, ou seja, na preparação para a avaliação. A avaliação da performance informal é, por natureza, mais propícia a ter efeitos retroativos construtores porque o professor está normalmente providenciando um feedback interativo. Testes formais também podem tem efeito retroativo positivo, mas eles não provêm um efeito retroativo se os alunos recebem apenas uma letra como nota, ou uma nota com um simples número genérico. ix Administradores têm sido firmes em um ponto: o uso do aumento dos resultados do [TOEIC] como um elemento-chave no objetivo de avaliação do programa.... pode-se dizer que houve pressão.... dos administradores para que os resultados continuem indo para cima. x No caso de testes de proficiência, estas tarefas são vistas como inerentes à natureza da situação da comunicação na qual os candidatos estão sendo avaliados. Cautela, no entanto, exige que nós esperemos até que evidências empíricas estejam disponíveis antes de fazer afirmações no que diz respeito à identificação destas tarefas. Apenas depois de examinar se é viável estabelecer objetivos adequados, através de pesquisa empírica baseada em pessoas reais lidando com situações reais, que haverá algum campo para afirmarmos ter selecionado um exemplo melhor de tarefas operacionais para avaliar a habilidade de desempenho. xi Teachers and learners do things they would not necessarily otherwise do because of the test.