a aula de arte-educação como espaço de reflexão cultural

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3º COLÓQUIO DO GRUPO DE ESTUDOS LITERÁRIOS CONTEMPORÂNEOS:
UM COSMOPOLITISMO NOS TRÓPICOS
e
100 ANOS DE AFRÂNIO COUTINHO (1911-2011): A CRÍTICA LITERÁRIA NO BRASIL
A AULA DE ARTE-EDUCAÇÃO COMO ESPAÇO DE REFLEXÃO
CULTURAL
Wilson Sousa Oliveira 1
1 EDUCAÇÃO ARTÍSTICA E ARTE-EDUCAÇÃO: BREVE HISTÓRICO
A disciplina Arte-educação passou a ser incorporada ao rol de conteúdos
programáticos para o Ensino Fundamental e Médio no Brasil, a partir da Lei 9394/96.
A disciplina que hoje recebe tal nome, se constitui num desdobramento da tão
conhecida Educação Artística implantada a partir da Lei 5692/71. Havia um momento
de crise para com essa disciplina. Desconfiava-se de que ela não correspondia aos
anseios de um trabalho em arte que provocasse a reflexão e as discussões de questões
que envolvessem arte e cultura no país, pois se inseria à grade curricular de forma a
preencher espaços entre as demais disciplinas. Com isso, a Educação Artística não se
constituía como uma disciplina, mas sim, encarada como uma “atividade educativa.”
Fica evidente assim, a descaracterização e a consequente despotencialização a que era
submetida uma disciplina com tanta força. O seu potencial era renegado. Essa primeira
percepção da força, vitalidade e desempenhos que poderiam fazer desencadear com uma
nova disciplina voltada para o campo das artes no Brasil, foi logo percebido “a partir de
Congressos Nacionais e Internacionais sobre Arte e Educação, organizados pelas
universidades e pela Organização Nacional dos Arte-educadores do Brasil – FAEB
(criada em 1987).” (BRASIL, PCN,2000,p.47).
Formam-se nesses espaços elos que começam a ganhar força as discussões sobre
a importância, funções que pode ter a Arte e descobre-se o potencial que essa disciplina
pode proporcionar no que diz respeito às produções dos alunos, criatividade e
aguçamento do senso crítico. Percebe-se claramente que o movimento de criação da
disciplina não se deu de forma isolada pensada a partir de movimento político
partidarista ou algo de cima para baixo. Ao contrário, quem provoca no país a discussão
Mestrado Pós-Crítica. Mestrando em Crítica Cultural pela Universidade do Estado da Bahia – UNEB –
Campus de Alagoinhas, Bahia. Bolsista CAPES. Linha de Pesquisa: Margens da Literatura. Orientador:
Profº Drº- Osmar Moreira Santos. E-mail:[email protected]
1
ISBN 978-85-7395-210-0
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são grupos e entidades ligadas à área das artes, preocupadas com as discussões que
envolvessem as manifestações culturais diversas no Brasil. Segundo Ana Mae Barbosa,
Fora das universidades um movimento bastante ativo (Movimento
Escolinhas de Arte) tentava desenvolver, desde 1948, a auto-expressão
da criança e do adolescente através do ensino das artes. Em 1971 o
"Movimento Escolinhas de Arte" estava difundido por todo o país
com 32 Escolinhas, a maioria delas particulares, oferecendo cursos de
artes para crianças e adolescentes e cursos de arte-educação para
professores e artistas.(BARBOSA, 1989,p.01)
Reitera ainda Ana Mae: “Naquele período não tínhamos cursos de arte-educação
nas universidades, apenas cursos para preparar professores de desenho, principalmente
desenho geométrico.” (BARBOSA, 1989,p.01). Assim, é nesse contexto e nessa
intenção que se tenta revitalizar no Brasil o ensino através da arte. “Em grupo, lutou-se
para que a Arte se tornasse presente nos currículos das escolas de Educação Básica no
Brasil e fizesse parte da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996 –
Artigo 26,parágrafo 2 (BRASIL, PCN,2000,p.47).
É com essa formatação que, enfim, a disciplina Arte-educação é introduzida nas
escolas a partir dos anos 90.
“Para ajudar no enfrentamento e superação dos problemas, que
dificultam o ensino e aprendizagem de arte, foram organizados, a
partir de 1982, as associações de Arte-educadores em diversos estados
de nosso país, compostas por professores licenciados, educadores e
artistas atuando em artes plásticas, música, teatro e dança.” (
BARBOSA, 1989,p.02)
A necessidade de se ter uma disciplina que contextualizasse discussões diversas
que envolvessem linguagem, signos, expressões culturais e arte era crescente e foi se
revitalizando com as inquietações de artistas e educadores que compreenderam logo que
a educação por meio do campo da Arte tem em si o potencial enriquecedor de espalhar
novos olhares sobre o mundo. Então, “é na travessia dessas mútuas e múltiplas
influências entre reelaborações imaginativas de arte e experiências com as realidades
culturais em que vivem que os adolescentes, jovens e adultos da escola média vão
desvelando o sentido cultural da Arte e de seu conhecimento para suas vidas.” Nesse
sentido, cabe à escola revitalizar esse campo do conhecimento, rico por excelência,
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capaz de provocações diversas que está em constante processo de trocas com todas as
demais áreas do conhecimento humano.
2 A AULA DE ARTE-EDUCAÇÃO COMO ESPAÇO DE REFLEXÃO CULTURAL
Pensar em arte e cultura no Brasil, é imediatamente nos reportarmos à ideia de
um país marcadamente multicultural. Dessa forma, essa característica muito peculiar a
nós, tem nos estudos culturais nas escolas brasileiras, uma grandiosa e rica fonte que
por ela pode passar conhecimentos diversos, experiências múltiplas de vida, modos,
fazeres diversos, enfim, expressões de mundos tão múltiplos que se tornam uma breve
fotografia de como se compõe a malha cultural da nação. É inegável essa caracterização
ao observarmos o redor do nosso dia a dia: as cores do nosso povo são múltiplas:
cabelos, pele, tons, cores, vestimentas, músicas, danças, cantos, ritos, crenças,
crendices, falares, comidas, iguarias...Então, é nesse farfalhar de multiplicidades que se
insere e do qual emerge nosso estudante. Para as salas de aula toda essa carga de
representações são levadas. Nesse sentido, o papel da escola, entre tantos, pensando
numa educação de tom democrático que visa à dignidade do cidadão, cabe a ela o
respeito e o devido tratamento a toda essa caracterização que, sem dúvidas emerge dos
cantos mais recônditos de nossa formação social. Nossas salas estão multifacetadas de
representações culturais constantemente. Nosso olhar não pode ser tomado pelo espírito
da ingenuidade e querer conceber ou mesmo escamotear essa diversidade de valores.
Não se pode negar direitos de expressões a quaisquer povos, entidades ou tribos.
Pensando assim, não se deve fechar os olhos para as diversas manifestações culturais
que povoam uma nação como o Brasil.
Roberto Shwarz dá uma pista de por onde pode correr a implantação
dos estudos culturais no Brasil: o fito é juntar-se a uma conversação
teórica fluente que se desenvolve na academia em diversos lugares do
mundo, e adicionar nossas peculiaridades latino-americanas ao coro
pluralista que procura mapear um lugar de onde se possa falar em
cultura em um mundo globalizado. (CEVASCO, 2003, p. 174)
A esse respeito, o mundo globalizado quebrou definitivamente as fronteiras
contribuindo pra que as manifestações culturais se alarguem, pois os povos estão em
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constantes movimentos de ir e vim levando suas manifestações e ao mesmo tempo
entrando em contato com outras pluralidades culturais. Esse constante processo
contribui enormemente para o enriquecimento multicultural dos povos, das nações. Fazse lembrar aqui de identidades culturais, hibridismo e não mais pensar em purezas de
manifestações. Segundo Kuper (2006), “toda cultura é multicultural: ‘todas as culturas
são resultado de uma miscelânea, de empréstimos e misturas que ocorreram, embora em
ritmos diferentes, desde os primórdios da humanidade.’ Não há como negar a evolução
e as constantes trocas e intercambiações, desde há muito entre os povos. Decididamente,
falar em cultura, em manifestações artísticas é reportarmos a todo instante às questões
do multiculturalismo. Porém, seguindo a linha de pensamento de Kuper (2006),
pensemos num multiculturalismo não o de diferença que
É voltado para dentro, que atende aos próprios interesses e é inflado
de orgulho acerca da importância de determinada cultura e de sua
alegação de superioridade. Mas, o multiculturalismo crítico, que é
voltado para fora e está organizado de modo a desafiar os preconceitos
culturais da classe social dominante com o propósito de expor a parte
vulnerável do discurso hegemônico. (KUPER, 2006, p. 294).
Segundo o mesmo Kuper, esse multiculturalismo crítico é fortemente
influenciado pelos estudos culturais, e nesse contexto, a questão multicultural acaba por
abarcar “questões políticas de representação, sexualidade e gênero, raça e ideias sobre
diferença.” Militar pelo campo do multiculturalismo é andar de mãos dadas com as
relações estabelecidas a partir operações com as diferenças. O heterogêneo é o
substancial. É mola de sustentação do multiculturalismo. As produções culturais estão
assim repletas dessas diferenciações. Lynn Mario(2004), comentando Bhabha vai dizer
que “ no projeto pós-colonial, em oposição ao conceito dominante de cultura como algo
estático, substantivo e essencialista, a cultura passa a ser vista como algo híbrido,
produtivo, dinâmico, aberto em constante transformação.” (MARIO,2004,p.125). Não
há como conceber uma hegemonia dominante de manifestações culturais que opere
como única, absoluta, pura. Ao contrário, o que se mais percebe são os constantes
processos de misturas presentes na formação dos diversos povos, nações que colocam
em dúvida a existência de formas purificadas de expressões artísticas e culturais ao
redor do mundo. Como reforço dessa noção constante de marcas de impurezas em se
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falando em termos de culturas, Durval Muniz retrata bem ao dizer que “Na verdade
nunca temos cultura: temos trajetórias culturais, fluxos culturais, relações culturais,
redes culturais, conexões culturais, conflitos, lutas culturais.” (MUNIZ,2007,p.17). Tal
colocação permite-nos concluir que conexões, trajetórias, fluxos são atos que fatalmente
proporcionam uma constante ebulição a ponto de deixar povos e manifestações em
constante processo de intercambiações culturais. É nesse sentido que pesquisadores e
programas voltados para a área da pesquisa em cultura devem afinar seus sentidos e,
seja na área da literatura, cultura ou mesmo antropologia, perceberem que a
contemporaneidade traz laços que se devem antenar com todos esses movimentos
culturais e seus variantes.
A confluência de objetos de estudos verificada em várias áreas do
conhecimento e a crescente diluição de fronteiras disciplinares
permitem a relativização de saberes particularizados e fechados em
uma única direção. Os estudos contemporâneos situados no campo das
ciências humanas colocam-nos diante desse conflito, incitando-nos a
não só nos interessarmos pela especificidade disciplinar como
ampliarmos o olhar frente aos cruzamentos e afinidades
transdisciplinares.(SOUZA, 2002,p.23)
O multiculturalismo reinante no país, não nos permite mais trilhar por um
caminho em que se ignore as diversas e múltiplas manifestações culturais de diversos
grupos, comunidades, povos, cantos, cantigas, danças e questões folclóricas que
envolvem uma série de ícones representativos.
Como exemplo, pode-se citar as danças e as manifestações populares,
nas quais o movimento/corpo/ritmo/forma é integrada à construção
educativa do sujeito. As danças e manifestações populares fornecem
elementos para aulas com grande ludicidade, alegria e prazer. (SEC –
BAHIA,2005, p. 126).
O olhar que a escola deve estender às manifestações artísticas deve passar pela
visão que se deve ter de arte e a sua importância grandiosa para a promoção do homem
como cidadão e sujeito de si. Essa visão de arte, sobretudo, além de valorizar o homem
com toda sua carga de manifestações que lhes são próprias, cria no âmbito da educação
formal, novos olhares, desperta novas atenções sobre a questão do ensino e
convivências com as diversidades.
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O estudo da Arte deve proporcionar à comunidade escolar, como um
todo, a oportunidade de ser um construtor de cultura, respeitando-se as
diferenças de gênero, de etnia, de classe social ou qualquer outra
referência cultural e estética, percebendo-as como forma de dar
significado ao mundo.” (SEC – BAHIA,2005, p. 127)
Além disso, começa-se assim a atribuir funções múltiplas para o campo da Arte,
pois “devemos reunir o máximo esforço para suprir os recursos necessários, tanto
materiais quanto didático-pedagógicos, para que o ensino da Arte cumpra
verdadeiramente sua missão de formar e educar.” Assim, ao campo de ensino e estudo
da Arte se incorpora novos paradigmas.
Dessa forma, a Arte, integrada ao currículo escolar, deixa de ser mero
exercício de espontaneísmo e se insere na realidade cultural,
assumindo um fazer artístico contextualizado com seu tempo
histórico-social e seu espaço político-geográfico, numa perspectiva de
incentivar a formação de um ser humano crítico, sensível e consciente
de sua cidadania. (SEC – BAHIA,2005, p. 127)
Claro que, em certo momento, a escola precisa de iniciativas que quebrem ou
rompam com certas visões até antiquadas sobre a questão do ensino da disciplina Arteeducação. “[...] A arte-educação é epistemologia da arte e, portanto, é a investigação dos
modos como se aprende arte na escola de 1° grau, 2° grau, na universidade e na
intimidade dos ateliers.” (LEÃO, 1991, p. 02). Nessa visão, o campo de estudo e ensino
da Arte se expande,
Devido à natureza plural que a Arte tem, é possível conceber o seu
ensino a partir de qualquer uma de suas linguagens, tais como a
música, as artes visuais, a dança ou o teatro, entre outras, como forma
de Expressão pessoal! Existe todo um conteúdo mais amplo a ser
conhecido e analisado pelo estudante e que compõe a história da arte e
da cultura universal ou das civilizações. (SEC – BAHIA, 2005, p.
128).
Imagina-se, então, uma disciplina na escola em que consegue travar relações
com todos os campos do conhecimento. Assim é que é a Arte-educação. Ela não se
constitui como um campo isolado, uma ilha dentro da grade curricular entre as demais
disciplinas. “Diretores de escola, coordenadores e professores devem estar preparados
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para entender a arte como ramo do conhecimento em mesmo pé de igualdade que as
outras disciplinas dos currículos escolares.” (LEÃO, 199, p. 03). Essa valorização da
disciplina Arte-educação nas escolas deve partir justamente de uma nova e mais ampla
concepção do ensino dela nas escolas, que vai aí está inserido qualquer coisa pensado
acerca da finalidade, objetivos e funções da Arte para a vida dos estudantes, da escola e,
enfim, da comunidade em que ela se encontra inserida.
A atual legislação educacional brasileira reconhece a importância da
arte na formação e desenvolvimento de crianças e jovens. Ela visa a
destacar os aspectos essenciais da criação e percepção estética dos
alunos e o modo de tratar a apropriação de conteúdos imprescindíveis
para a cultura do cidadão contemporâneo. As oportunidades de
aprendizagem de arte mobilizam a expressão e a comunicação pessoal
e ampliam a formação do estudante como cidadão, principalmente por
intensificar as relações dos indivíduos tanto com seu mundo interior
como com o exterior. (ZANIN,p.03).
E a esse respeito a Professora Lúcia Gouvêa Pimentel vai dizer que “O estudo
desse campo supõe considerá-lo tão importante quanto cada um dos outros campos do
conhecimento humano, não sendo ferramenta para outras áreas, mas co-agente da
construção de saberes em sua abrangência possível.” (PIMENTEL, p.156).
Arte-educação é força viva que leva à reflexão, oportuniza à comunidade escolar
as diversas formas de se expressar; a aula de Arte torna-se, nesse sentido, como um
espaço democrático que por ela pode fazer transitar todos os elos que compõem a malha
cultural de um lugar, uma região, um estado. A escola jamais poderá ignorar esses
aspectos.
A concepção de arte no espaço implica numa expansão do conceito de
cultura, ou seja, toda e qualquer produção e as maneiras de conceber e
organizar a vida social são levadas em consideração. Cada grupo
inserido nestes processos configura-se pelos seus valores e sentidos, e
são atores na construção e transmissão dos mesmos. (LEÃO, 199, p.
03)
Sabe-se que a nova LDB (Lei 9394/96) é quem já vai impulsionar o sentido do
ensino de Arte nas escolas tentando já ali destacar o sentido do ensino de Arte nas
escolas por razões culturais:
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§ 2º. O ensino da arte constituirá componente curricular obrigatório,
nos diversos níveis da educação básica, de forma a promover o
desenvolvimento cultural dos alunos. (LDB, Art. 26)
Claro que essa obrigatoriedade ainda não se reverteu em importância. a Professora
Lúcia Gouvêa Pimentel ratifica esse posicionamento ao destacar que “Nesse novo
espaço que começou a ser assumido pela sociedade civil, é promulgada a Lei de
Diretrizes e Bases Nacional (LDB – Lei 9.394. de 20 de dezembro 1996), com uma
nova concepção de educação:”
A educação abrange os processos formativos que se
desenvolvem na vida familiar, na convivência humana,
no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos
Movimentos Sociais e organizações da sociedade civil e
nas manifestações culturais. (p.163)
Cabe que órgãos designados a cuidar da educação do país, secretarias, escolas,
educadores, comunidades, pais, alunos, se despertem para atitudes que revitalizem o
sentido e a grande importância para os aspectos de ensino de Arte nas escolas e que não
permita que as aulas sejam meros espaços a serem preenchidos demonstrando essa falta
de importância a esse campo tão rico do conhecimento.
Assim, é importante ressaltarmos que a presença da arte no currículo
tem como pressuposto oferecer oportunidade aos alunos de
desenvolver o pensamento artístico e estético, como mais um modo de
se relacionar com o mundo. Nem melhor, nem pior, mas tão
importante quanto os outros campos de conhecimento quando se
propõe a uma formação integral, complexa e sintonizada com as
questões da contemporaneidade. ( MACEDO, p.162)
Ultimamente, é crescente a preocupação de estudiosos, professores e
pesquisadores com os aspectos positivos que rondam a importância da disciplina Arteeducação nas escolas. Infelizmente essa nova forma de apreensão e de conceituação dos
novos parâmetros que envolvem o ensino de Arte nas escolas, sua relevância ainda não
contemplou a todos os envolvidos no processo de ensino. É nesse sentido que a aula de
Arte-educação ainda não se configura como potência. As más interpretações e as
incompreensões ainda são fortemente reinantes, embora pesquisadores dêem destaques,
conclamando todos para uma tomada de novas posturas, destacando esse campo do
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conhecimento, muitos ainda não se sentiram tocados.
“Por meio da Arte é possível desenvolver a percepção e a imaginação,
apreender a realidade do meio ambiente, desenvolver a capacidade
crítica, permitindo ao indivíduo analisar a realidade percebida e
desenvolver a criatividade de maneira a mudar a realidade que foi
analisada”. (BARBOSA, 2003, p.18)
Talvez ainda se demorará muito tempo para que tais relevâncias quanto ao
ensino de Arte nas escolas brasileiras assim configure. Temos ainda aulas marcadas
pelo forte improviso e marcante improviso. Carência de materiais didáticos, Professores
com outra formação lecionando para a disciplina, pequeno número de aulas, alunos
desmotivados etc...enfim, todo esse rol se constitui no agravante da descaracterização
que ronda a disciplina Arte-educação.
Arte, enquanto área de conhecimento, além de ser um modo de pensar,
de chegar a produções inusitadas e estéticas, de propor novas formas
de ver o mundo e de apresentá-las com registros diferenciados, é
também uma construção humana que envolve relações com os
contextos
cultural,
sócio-econômico,
histórico,
político
etc.(PIMENTEL, p.182)
Sabemos da tentativa de revitalizar nas escolas a competência e importância que
a disciplina Arte-educação deve ganhar. O PCN em Arte e outros documentos do
governo tem tentado dá outra configuração para os objetivos, sentidos e tem destacado
importâncias a respeito do ensino de Arte nas escolas. “conhecer Arte no Ensino Médio
significa os alunos apropriarem-se de saberes culturais e estéticos inseridos nas práticas
de produção e apreciação artísticas, fundamentais para a formação e o desempenho
social do cidadão.” (PCN – Arte, 2000,p.46)
A esse respeito, num artigo publicado há pouco tempo a Educadora Maura
22
Penna , refletindo acerca desse documento, chama-nos atenção percebendo uma outra
realidade ao dizer que:
2
Professora do Departamento de Artes da UFPB, lecionando no curso de Educação Artística e no
Mestrado em Educação. Coordenadora do Grupo Integrado de Pesquisa em Ensino das Artes. Graduada
em Música e em Educação Artística pela UNB. Mestre em Ciências Sociais pela UFPB. Doutora em
Lingüística pela UFPE.
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No entanto, há certamente um grande descompasso entre a realidade
das escolas e essa renovação pretendida pelas instâncias
regulamentadoras e pelos trabalhos acadêmicos, até porque os
Parâmetros são bastante recentes: os PCN para as 5a a 8a séries
completaram 2 anos de seu lançamento oficial no Palácio do Planalto
em outubro de 2000 – e não chegaram de imediato a todas as escolas
do país.(PENNA, p.01)
Porém, observa-se, claramente, que, com o passar dos anos, não muita coisa tem
mudado desde a divulgação dos parâmetros. É evidente que os efeitos e mudanças
esperadas e sugeridos por esses documentos ainda não se cristalizaram. Nota-se um
fosso enorme entre o sugerido e a realidade vivenciada pela maioria das escolas,
principalmente no que diz respeito no ensino de Arte. Logo, os próprios produtores do
PCN- Arte já demonstram no documento essa preocupação.
Observando a nossa história de ensino e aprendizagem de Arte na
Escola Média, nota-se um certo descaso de muitos educadores e
organizadores escolares, principalmente no que se referem à
compreensão da Arte como um conhecimento humano sensívelcognitivo, voltado para um fazer e apreciar artísticos e estéticos e
para uma reflexão sobre sua história e contextos na sociedade humana.
(PCN – Arte, 2000,p.46)
Acerca desse tema, o Professor Raimundo Matos, retomando as palavras de Ana
Mae Barbosa, destaca:
Eliminemos a designação arte-educação e passemos a falar
diretamente de ensino da arte e aprendizagem da arte sem
eufemismos, ensino que tem de ser conceitualmente revisto na escola
fundamental, nas universidades, nas escolas profissionalizantes, nos
museus, nos centros culturais a ser previsto nos projetos de politécnica
que se anunciam. Isso tem interferido na presença, com qualidade, da
disciplina Arte no mesmo patamar de igualdade com a s demais
disciplinas da educação escolar (1991: 6-7).
É notório como que o convite, os alertas, os chamativos e as freqüentes
tentativas de despertamento para a importância e relevância que esse campo do
conhecimento ganha a cada instante, a cada dia, em depoimentos, palavras, colocações
de pesquisadores, Professores e outros que já descobriram o valor do ensino de Arte nas
escolas. No entanto, percebemos como que muita coisa ainda se encontra adormecida,
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hibernando nos campos do desleixo, do descrédito e da falta de compromisso até, por
parte daqueles que deveriam zelar pelas manifestações artísticas e culturais e pela
formação humana do cidadão.
É sabido que há longas datas esse proceder-se se normatizou entre docentes e
discentes nas instituições de ensino pelo país inteiro, na comunidade em geral, pois
A maioria vivenciou, em sua trajetória escolar na educação básica, a
arte dentro da concepção, que já deveria estar superada, de aulas
simplesmente relaxantes e vinculadas quase que exclusivamente às
habilidades manuais, à artesania, ao fazer. Ou seja, os desvios na
compreensão do ensino de arte, não raramente confundido com
„atividades‟, também se relacionam com a nossa memória, com a
nossa experiência como alunos. .(PIMENTEL, p.182)
Conscientizados somos das complexidades que envolvem o ensino de Arte.
Creio que o ensino de arte nas escolas pode propiciar e fazer desencadear nos
educadores e educando mudanças múltiplas nas formas de ser e estar no mundo. A Arte
tem em si esse potencial de fazer, instigar, provocar formas outras de propiciar leituras a
ponto de provocar a sensação de que, a todo e qualquer momento, dois mais dois,
poderão ser cinco. E tem esse potencial de fazer deslocamentos, descentrar-se a todo
instante, além de perambular pelos campos de desmontamento e desmantelamento nas
concepções de signos, esvaziamento total, nesse constante processo de refazer-se. A
Professora Juliana Gouthier Macedo comentando um artigo da Professora Lúcia Govêa
Pimentel realça dizendo que
Também é sempre bom lembrar que a arte na escola não é para
descobrir talentos ou formar artistas. Se isto acontecer, ótimo. Mas,
muito mais, precisamos nos pautar em ampliar este conhecimento que
é um modo de ver o mundo, e como nos diz Ana Mae Barbosa, “arte
não tem certo e errado, tem o mais ou menos adequado, o mais ou
menos significativo, o mais ou menos inventivo” (PIMENTEL,
p.182).
É nesse contexto (e outros) que se instaura o ensino e a concepção de Arte. A
Arte que está em tudo, em todos, nas formas, no pensar, no fazer, no falar, nas relações
diversas, está nos campos, nos cantos, no batuque, nas cores, nas roupas, nas estrelas,
nos cabelos, nas universidades e nas mesas de bares, no supermercado, nos órgãos
3º Colóquio do Grupo de Estudos Literários Contemporâneos: um cosmopolitismo nos trópicos e 100 anos de Afrânio Coutinho : A
crítica literária no Brasil, 3., 2012, Feira de Santana. Anais. Feira de Santana: Uefs, 2012, p. 233-246.
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públicos, no rádio, na Tv, nas páginas de relacionamentos, no nosso dia a dia, nas
nossas mesas, nas prateleiras; está ainda no choro, na gargalhada, nos olhares, enfim...
mas querem ignorá-la nas escolas, nos espaços educativas, local mais propício para
discuti-la, para remoldurá-la e deixá-la fluir dando novos sentidos, ampliando novos
horizontes, provocando, (re)fazendo os jeitos, os homens, os atos, a vida...
3 CONCLUSÃO
Desde a implantação da disciplina Arte-educação no currículo das escolas
brasileiras nota-se um certo avanço no que diz respeito a tão importante campo do
conhecimento. Porém, ainda são geradas muitas expectativas de mudanças no tocante ao
que está por acontecer. Sabemos que a inserção de uma disciplina por intermédio de
uma lei, isso não se traduz em garantias de eficácia. Ainda, há muito por se fazer. As
limitações para se lidarem com a disciplina Arte-educação nas escolas são grandiosas.
Há muito por se vencer. O primeiro e grande desafio ainda é fazer valer, e despertar em
todos ligados à área da educação, o sentimento do valor, da função e da importância de
tão rica disciplina para formação do homem, do cidadão. É necessário urgência no
tratamento de diversos aspectos que envolvem a Arte-educação no Brasil. Por sua
riqueza, por sua abrangência, pelo raio de relações que ela pode travar com outras áreas
do conhecimento, ela se torna grandiosa para a humanidade. Nesse sentido, tal
disciplina tem a potência de reunir em si os diversos valores de marcas multiculturais
presentes na sociedade brasileira.
A compreensão de que a manifestação artística é multifacetada, não
possuindo valores hierárquicos condicionados ao seu caráter mais
erudito e popular, tem sido de grande importância para que se
vislumbre, para a arte-educação, novos caminhos mais afinados com
as realidades socioculturais das diferentes comunidades. (OSINSKI,
2002, p.115).
Essa é uma das grandes marcas do que pode abarcar a disciplina Arte-educação:
está presente, possibilitando que no interior das escolas todas as classes, todas as vozes
tenham vez. Assim, é imensurável o valor do espaço propiciado pelas aulas dessa
disciplina. Nela, pode-se fazer transitar todas as discussões inerentes às mais diversas
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manifestações culturais. Pelo viés da Arte, é possível fazer que outros mundos se
vislumbrem, que outras invenções são possíveis e que a vida pode, sim, ser
(re)inventada a cada dia, a cada instante.
RESUMO
O presente trabalho tem por pretensão analisar o ensino da disciplina Arte-educação,
instituída pela lei 9394/96, e discutir o seu espaço no contexto escolar, não como mera
disciplina em meio a tantas outras, mas como momento que oportuniza reflexões
múltiplas de diversas expressões culturais e artísticas, de caráter libertário. Pretende-se,
ainda, destacar a importância do ensino de arte nas escolas, por considerar que essa
disciplina ganha fundamental importância, quando propicia a reflexão sobre os fazeres e
expressões artísticas, contribui para a elevação do espírito criativo, instiga a imaginação
e, como arte, tem em si, a potência de poder (re)ssignificar o mundo, atribuir novos
valores e significados. Pretendo lançar mão das ideias de educadoras como Ana Mae
Barbosa e outros como suporte teórico para este trabalho. Barbosa (1991, p.03), afirma
que "como a matemática, a história e as ciências, a arte tem domínio, uma linguagem e
uma história. Se constitui, portanto, num campo de estudos específicos e não apenas em
meia atividade [...]”.
PALAVRAS-CHAVE: Arte. Cultura. Educação.
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