BIOLOGIA DOS FUNGOS Durante muito tempo, os fungos foram considerados como vegetais e, somente a partir de 1969, passaram a ser classificados em um reino a parte Fungi. Os fungos são ubíquos,encontrando-se em vegetais, em animais, em detritos e em abundancia no solo, participando ativamente do ciclo dos elementos na natureza. A dispersão dos fungos na natureza é feita por várias vias: animais, homem, insetos, água e,principalmente, pelo ar atmosférico, através dos ventos. Os fungos são seres vivos eucarióticos com um só núcleo, como as leveduras, ou multinucleados, como os fungos filamentosos ou bolores e os cogumelos (fungos macroscópicos). ESTRUTURA DA CÉLULA FUNGICA Todas as células fúngicas são eucarióticas, isto é, possuem núcleo com membrana nuclear. Parede. É uma estrutura rígida que protege a célula de choques osmóticos. Membrana citoplasmática. Atua como uma barreira semipermeável, no transporte ativo e passivo dos materiais, para dentro e para fora da célula, sendo constituída de uma porção hidrofóbica e de uma porção hidrofílica. Basicamente esta estrutura consiste em lipídios e proteínas. Núcleo. Contem o genoma fungico e está agrupado em cromossomos lineares, compostos de dupla fita de DNA arrumados em hélice. Contem também as histonas que são proteínas básicas, associadas ao DNA cromossomal. Ribossomos. São os sítios da síntese protéica, compostos por RNA e proteínas e ocorrem dentro do citoplasma da célula. Mitocôndria. Sítio da fosforilação oxidativa, sendo composta por membrana de fosfolipides. Possui membrana interna achatada (crista) e contém seu DNA e ribossomos próprios. Retículo endoplasmático. É uma membrana em forma de rede que se encontra distribuída por toda célula fungica. Está ligada á membrana nuclear, mas não a membrana citoplasmática. Aparelho de Golgi. Esta estrutura (dictiossoma) é uma agregação interna de membranas, que está envolvida no armazenamento de substâncias que serão desprezadas pela célula fúngica. Os vacúolos estão relacionados com o armazenamento de substâncias de reserva para a célula, tais como glicogênio e lipídios. Lomassomos. São corpúsculos que ocorrem dentro do periplasma (espaço entre a membrana celular e a membrana citoplasmática) da célula fúngica, com função ainda não conhecida. MORFOLOGIA E REPRODUÇÃO Os fungos podem se desenvolver em meios de cultivo especiais formando colônias de dois tipos: leveduriformes e filamentosas. As colônias leveduriformes são, de maneira geral, pastosas ou cremosas e caracterizam o grupo das leveduras. As colônias filamentosas, que caracterizam os bolores, podem ser algodonosas, aveludadas ou pulverulentas, com os mais variados tipos de pigmentação. As leveduras são microorganismos unicelulares, a própria célula cumprindo as funções vegetativas e reprodutivas. Os bolores são constituídos, fundamentalmente, por elementos multicelulares em forma de tubo – as hifas que podem ser contínuas, nãoseptadas ou cenocíticas e septadas. Ao conjunto de hifas dá-se o nome de micélio. O micélio que se desenvolve no interior do substrato, funcionando também como elemento de sustentação e de absorção de nutrientes, é chamado micélio vegetativo. NUTRIÇÃO CRESCIMENTO E METABOLISMO Os fungos são microorganismos eucarióticos que se encontram amplamente distribuídos no solo, na água, em alimentos, nos vegetais, em detritos em geral, em animais e no homem, sendo em sua maioria aeróbios obrigatórios, com exceção de certas leveduras fermentadoras anaeróbias facultativas, que podem se desenvolver em ambiente com oxigênio reduzido ou mesmo na ausência deste elemento. Os fungos absorvem oxigênio e desprendem anidrido carbônico durante seu metabolismo oxidativo. Na respiração, ocorre a oxidação da glicose, processo essencial para a obtenção de energia. Algumas leveduras, como Saccharomyces cerevisiae, fazem o processo de fermentação alcoólica de grande importância industrial na fabricação de bebidas e na panificação. Devido á ausência de clorofila, os fungos, para se nutrirem, necessitam de substâncias orgânicas que eles próprios são incapazes de elaborar, sendo obrigados a viver em estado de saprofitismo, parasitismo e simbiose. As saprófitas utilizam substâncias orgânicas inertes, muitas delas em decomposição. Os parasitas se desenvolvem em outros organismos vivos, os hospedeiros, e se nutrem de substâncias existentes em suas células vivas. Os simbiontes se associam com outros organismos, prestando mutua ajuda em suas funções. Os fungos, como todos os seres vivos, necessitam de água para o seu desenvolvimento. Algumas espécies são halofílicas e se desenvolvem em ambientes com alta concentração de sal. A maioria dos fungos tolera uma ampla variação na concentração de íons de hidrogênio e, de modo geral, um pH em torno de 5,6 é ótimo para o desenvolvimento dos mesmos. Os fungos filamentosos podem crescer em ampla faixa de pH variando de 1,5 a 11. As leveduras não toleram pH alcalino. A pigmentação dos cultivos, muitas vezes, esta relacionada com o pH do substrato. TAXONOMIA DOS FUNGOS A classificação dos representantes do reino Fungi é feita principalmente pelas características morfológicas. O nome de um fungo é dado por um binômio, composto por um nome genérico seguido do nome da espécie. CARACTERÍSTICA GERAIS DAS MICOSES EPIDEMIOLOGIA DAS MICOSES O reservatório habitual dos fungos que infectam o homem pode ser o próprio homem, animais ou um sítio na natureza, onde o fungo se desenvolve como saprófita. 1- Micoses superficiais de localização nas camadas da pele ou dos pêlos. 2- Micoses cutâneas ou dermatomicoses, localizadas na pele, pêlo ou unhas e mucosas em maior extensão. 3- Micoses subcutâneas encontradas na pele e tecidos subcutâneos. 4- Micoses sistêmicas ou profunda atingindo, principalmente, órgãos internos e vísceras, podendo abranger muitos tecidos e órgãos diferentes. MECANISMOS DE DEFESA DO HOSPEDEIRO Os mecanismos de defesa do hospedeiro contra a infecção por fungo pode ser especifico e inespecifico. Inespecifico. Os mecanismos que defendem o hospedeiro contra infecções fúngicas podem compreender as defesas locais, como a pele e as membranas das mucosas e o sistema inflamatório não-específico. Específicos. O sistema imune especifico consiste em macrófagos, linfócitos, células do plasma e seus produtos, como as linfocinas e anticorpos. O sistema imune responde especificamente aos sítios antigênicos. A resposta imune se caracteriza pela produção de anticorpos específicos que reagem contra os antígenos do fungo invasivo. PATOGENICIDADE DOS FUNGOS Alguns estudos têm demonstrado que os fungos patogênicos secretam várias enzimas hidrolíticas como proteinases, lípases e fosfolipases, que podem ser encontradas no meio de cultivo. Estas enzimas hidrolíticas extracelulares são importantes na patogenicidade dos fungos, causando danos à célula do hospedeiro. Proteinases ácida de Candida albicans tem sido extensivamente investigada como fator de virulência, assim como a fosfolipase. Entretanto pouco se conhece sobre outras enzimas como condroitinsulfatase e hialuronidase nas demais espécies do gênero Candida e em outros fungos patogênicos. DIAGNÓSTICO MICROBIOLÓGICO O diagnóstico m microbiológico das micoses é feito pela verificação do fungo no material clínico, em preparação microscópica, exame histopatológico e em cultivos complementados por provas indiretas, como testes intradérmicos, pesquisa de anticorpos séricos e de antígenos circulantes. Na grande maioria dos casos clínicos, o método mais empregado é o da microscopia direta. AGENTES ANTIFÚNGICOS As drogas antimicrobianas utilizadas no tratamento das infecções bacteriana não agem sobre o hospedeiro ou causam apenas alterações leves. Entretanto, os fármacos utilizados nas infecções fúngicas podem também ser tóxicos para as células do hospedeiro, devido a semelhança entre célula fúngica e célula humana. No tratamento das micoses devem ser cuidadosamente considerados os seguintes aspectos: tipo de micose e seu agente etiológico, estado geral do paciente e o arsenal antimicótico, que é relativamente limitado. As drogas antifúngicas podem ser divididas em duas categorias: drogas que afetam a membrana celular e drogas que atuam intracelularmente, interrompendo processos celulares vitais, como síntese de RNA, DNA ou proteínas. MICOSES SUPERFICIAIS As micoses superficiais, também denominadas dermatomicoses saprofitárias, são produzidas por um grupo de fungos, cuja relação com o hospedeiro está no limite entre saprofitismo e parasitismo, provocando alterações principalmente de ordem estética. PITIRÍASE VERSICOLOR É micose superficial, geralmente assintomática, caracterizada por lesões hipo ou hiper-pigmentadas, daí seu nome de versicolor, de consistência furfurácea, de bordos delimitados, localizadas no tórax, abdome, pescoço, face e, com menos freqüência, nos membros, axilas, virilhas e coxas. Seu agente etiológico é Malassezia furfur, um fungo lipofilico e lipodependente. A pitiríase versicolor é prevalente em zonas tropicais e subtropicais, ocorrendo principalmente em adolescentes e adultos. É conhecida também como micose de praia, pois quando o individuo se expõe ao sol, as manchas preexistentes são reveladas. Através de determinados fatores não alucidados, como predisposição genética, estado nutricional, acumulo de glicogênio extracelular, o fungo interfere na produção de melanina. Malassezia furfur parece fazer parte da microbiota normal da pele, na sua fase leveduriforme e, por mecanismos ainda desconhecidos, passaria a forma filamentosa, tornado-se patogênica. O couro cabeludo e outras áreas cobertas de pêlo seriam o reservatório do fungo, o que explicaria as freqüentes recidivas da micose. A pitiríase versicolor tem sido relacionada também a dermatite seborréica. O diagnóstico é feito pelo exame microscópico do material raspado da lesão, prevviamente clarificado com KOH a 20%, acrescido de tinta azul permanente (Parker), na proporção de 2:1. O tratamento pode ser feito através de aplicações tópicas de hipossulfito de sódio a 40% ou pelo uso oral de imidazólicos. É aconselhável o uso de shampoos á base de sulfeto de selênio para eliminar a Malassezia furfur do couro cabeludo. “TINEA NIGRA” (TINHA NEGRA) É infecção assintomática de localização preferencial nas palmas das mãos ou na planta dos pés. Pode também ocorrer em outras áreas da pele. Clinicamente, manifesta-se pelo aparecimento de mancha escura, marrom ou negra, de aspecto fuliginoso. O tratamento é feito com iodo e agentes ceratinofilicos. PIEDRAS São infecções fúngicas que se caracterizam pela presença de nódulos irregulares, aderentes ao pêlo e, geralmente visíveis a olho nu. São reconhecidos dois tipos de piedra: a piedra branca e a piedra negra. Distintas quanto a sua etiologia, morfologia em parasitismo e saprofitismo, e distribuição geográfica. A piedra branca é caracterizada pela presença de nódulos claros, pouco aderentes ao pêlo, localizados principalmente nos pêlos escrotais e pubianos, raramente nos pêlos da barba, bigode, axilas e cabelos. Para diagnóstico em geral, é suficiente a observação microscópica dos pêlos parasitados. O tratamento é feito com álcool sublimado 1/2.000 e corte dos pêlos. A piedra negra é encontrada principalmente em regiões tropicais e subtropicais, sendo endêmica na Amazônia onde é denominada tirana. Os nódulos são de cor escura, muito duros, aderentes aos pêlos e localizam-se somente nos cabelos. O diagnóstico pode ser firmado pelo exame microscópico do cabelo parasitado, colocado entre a lâmina e a lamínula, clarificado por KOH a 20%. O fungo é sensível á ciclo-heximida. MICOSES CUTÂNEAS As micoses cutâneas, também denominadas dermatomicoses, são produzidas por um grupo definido de fungos, os dermatófitos, que vivem a custa da queratina da pele, pêlo, unhas por espécies do gênero Candida e outros fungos que podem atacar a pele, pêlo, unhas e mucosas. DERMATOFITOSES Os dermatófitos transformam o material queratinofílico em material nutritivo, utilizando-o também para sua implantaçãono hospedeiro. Por outro lado, produzem elastases, que lhe permitem agir sobre a elastina, o que também auxiliaria na sua instalação. No pêlo, os dermatófitos atacam a camada superficial, avançando até o folículo piloso. O pêlo perde o brilho, torna-se quebradiço, podendo aparecer zonas de tonsura. Na pele, os dermatófitos causam, geralmente, lesões descamativas, circulares, com bordos eritematosos, microvesiculosas,de propagação radial, com tendência a cura central. Na unha, a infecção inicia-se pela borda livre, podendo atingir a superfície e área subungueal. As unhas tornam-se branco-amareladas, porosas e quebradiças. As dermatofitoses recebem também o nome de tinhas seguidas do nome do sítio atingido como: tinha do couro cabeludo, tinha da barba, tinha do corpo, tinha da unha, tinha dos pés etc., conforme sua localização. Os mecanismos de transmissão não são completamente conhecido. Dados epidemiológicos sugerem que a transmissão pode também ser feita pelo contato do individuo com ambientes contaminados, como pisos de banheiro, bordas de piscinas etc., ou por meio de objetos de uso pessoal, como pentes, escovas, navalhas, toalhas, onde o fungo estaria em estado latente. O homem e os animais podem, ser portadores assintomáticos e, nesses casos, o dermatófito age como agente oportunista. DIAGNÓSTICO O diagnóstico é geralmente dado pelo exame microscópico direto do material colhido, após clarificação por KOH, 10% a 20%, acrescido de tinta Parker, azul ou preta, permanente. TRATAMENTO Entre as drogas mais recentes para uso tópico citam-se os derivados imidazólicos, como o miconazol. DERMATOMICOSES POR LEVEDURAS Leveduras do gênero Candida, em especial Candida albicans, podem determinar lesões na pele, unhas e mucosas de indivíduos que apresentam fatores predisponentes intrínsecos e extrínsecos ao hospedeiro. As lesões por Candida albicans são mais freqüentes nas unhas e nos espaços interdigitais das mãos e dobra submamária. Na pele, as lesões são úmidas, esbranquiçadas ou avermelhadas, de bordos descamativos: a unha apresenta-se sem brilho, espessada, endurecida, com coloração muitas vezes escura. A lesão, que se estende freqüentemente ao redor do leito ungueal (paroníquia), é comum. Lesões esbranquiçadas aderentes ás mucosas, com base vermelha úmida após a sua remoção, podem ser verificadas. EPIDEMIOLOGIA A micose é de distribuição universal. Ás vezes considerada micose ocupacional, outras vezes, o que é mais freqüente, micose oportunística. TRATAMENTO Fatores predisponentes devem ser corrigidos, antes do uso de qualquer droga. Composto de iodo, violeta de genciana, nistatina e derivados imidazólicos são as drogas mais comumente utilizadas. MICOSES SUBCUTÂNEAS Os agentes de micoses subcutâneas vivem em estado saprofítico no solo, nos vegetais e nos animais de vida livre, sendo parasitas acidentais do homem e dos animais, que se infectam por ocasião de um traumatismo na pele, com material contaminado. Em geral, a micose se localiza na pele e tecido subcutâneo, próximo ao ponto de inoculação, sendo rara sua disseminação. MICOSES SISTÊMICAS As micoses sistêmicas apresentam uma série de características comuns. Tem distribuição geográfica limitada, ocorrendo principalmente nas Américas, exceto a criptococose, que é cosmopolita. Os agentes etiológicos são encontrados no solo e em dejetos de animais, sendo as vias aéreas superiores a sua principal porta de entrada. MICOSES OPORTUNÍSTICAS E OUTRAS MICOSES Micoses oportunísticas são infecções cosmopolitas causadas por fungos de baixa virulência, que convivem pacificamente com o hospedeiro, mas, ao encontrar condições favoráveis, como distúrbios do sistema imunodefensivo, desenvolvem seu poder patogênico, invadindo os tecidos. Atingem indivíduos de ambos os sexos, de todas as faixas etárias e raças. Os fatores que predispõem às micoses oportunísticas podem ser classificados em: fatores intrínsecos ou próprios do hospedeiro, como neoplasias, diabetes, hemopatias diversas, síndrome da imunodeficiência adquirida (Aids) e todas as doenças que alteram a imunidade celular, velhice, gravidez, premeturidade, entre outros; fatores extrínsecos, como antibióticoterapia, corticoidoterapia, antiblásticos, cirurgia de transplantes e ambientes hospitalares contaminados. ALERGIA A FUNGOS ETIOLOGIA E PATOLOGIA Aproximadamente 300 espécies de fungos já foram descritas como alergizantes. A alergia a fungos manifesta-se, principalmente, com sintomas clínicos de asma brônquica e rinite. EPIDEMIOLOGIA Os fungos vivem principalmente no solo, nos vegetais e na água, espalhando-se amplamente na natureza, em conseqüência principalmente da grande produção de elementos de disseminação, os propágulos. As vias de dispersão mais comuns desses propágulos são: ar atmosférico, água, insetos e animais. FUNGOS TÓXICOS MICOTOXINAS, MICOTOXICOSES E MICETISMOS Micotoxinas são metabólitos tóxicos produzidos por fungos microscópicos, os bolores. Micotoxicoses são intoxicações resultantes da ingestão de alimentos contaminados com micotoxinas. Os micetismos são intoxicações ou envenenamentos causados pela ingestão de fungos macroscópicos, conhecidos como cogumelos. As principais espécies fúngicas produtoras de toxinas pertencem aos gêneros: Aspergillus, Penicillium, Fusarium, Claviceps, Pithomyces, Myrothecium, Stachybotrys, Phoma e Alternaria. O desenvolvimento dos fungos toxigênicos e a produção de micotoxinas são dependentes de diversos fatores dos quais temperatura, umidade e o tipo de substrato são os mais importantes. Dependendo dos teores de micotoxinas ingeridas ou injetadas, quatro tipos básicos de toxicidade são verificados: aguda, crônica, mutagênica e teratogênica. O efeito agudo mais freqüente é a deterioração das funções hepática e renal, fatal em alguns casos. Entretanto, algumas micotoxinas agem primariamente, interferindo na síntese protéica, produzindo dermonecrose e imunodeficiência extrema. Outras são neurotóxicas e, em baixas concentrações, podem ocasionar tremor nos animais. O efeito crônico de muitas micotoxinas é a indução de câncer, principalmente no fígado. Algumas interferem na replicação do DNA e,conseqüentemente, podem produzir efeitos mutagênicos e teratogênicos. As micotoxinas, no passado, foram responsáveis por grandes epidemias de intoxicações no homem e nos animais. A mais importante delas, o ergotismo, levou a óbito grande números de pessoas na Europa, no último milênio. A moléstia foi associada ao consumo de pão preparado com farinha de centeio e outros grãos de cereais contaminados com Claviceps purpúrea e Claviceps paspali. Alem dos efeitos hemorragicos e carcinogênicos conhecidos, sabe-se que nas aves, por exemplo, as aflatoxinas provocam hipoglicemia, hipotermia e diminuição de gordura corpórea. Estudos epidemiológicos desenvolvidos em alguns países têm demonstrado uma associação entre incidência de câncer hepático humano e aflatoxina B1 ingerida nos alimentos. VÍRUS – VIRÓIDES – VIRUSÓIDES E PRIONS A virologia teve seu inicio no final do século XIX, com o reconhecimento da existência de agentes infecciosos capazes de passar através de filtros que retinham bactérias, sendo portanto, menores do que estas. Com a evolução de conhecimentos teóricos e científicos verificou-se que nem todos os agentes filtráveis podiam ser classificados como vírus, uma vez que estes, alem de seu reduzido tamanho, são parasitas intracelulares obrigatórios, apresentam uma organização e composição estruturais características, alem de um processo único de replicação. Existem diferenças fundamentais entre os vírus e as células vivas. Enquanto o genoma celular é constituído por DNA e RNA, no genoma viral só se encontra um dos dois ácidos nucléicos: a célula forma-se por divisão binária de elementos preexistentes, ao passo que o vírus finaliza seu processo de multiplicação por organização de constituintes sintetizados: o vírus não possui, ao contrario da célula, sistema enzimático próprio. Estas diferenças, e o fato dos vírus poderem ser cristalizados, sem perder o poder infeccioso, permitem-nos, numa analise simplista, considerar os vírus como microorganismos de grande simplicidade ou moléculas de grande complexidade. Mais recentemente foram descobertos outros três elementos responsáveis por doenças em plantas, animais e seres humanos, de constituição ainda mais simples: os viróides, compostos apenas por RNA; os virusóides, constituídos por uma molécula de RNA envolta por uma estrutura protéica; e os prions, que são de natureza protéica. MORFOLOGIA VIRAL Cada partícula viral ou virion é constituída por uma cerne de ácido nucléico recoberto por um invólucro protéico denominado cápside: o conjunto ácido nucléico/ invólucro protéico constitui a nucleocápside. A cápside é formada por múltiplas subunidades morfológicas denominadas capsômeros. Esta organização em capsômeros resulta da estrutura terciária irregular das proteínas e da morfologia regular da maioria dos vírus. VIRÓIDES A principal característica que distingue os viróides dos vírus é a presença de RNA de fita simples como único componente, sem possuir, aparentemente, a capacidade de codificar qualquer proteína. A transmissão dos viróides em alguns aspectos é semelhante a do vírus, como nos casos em que ocorre a inoculação mecânica, ou a propagação através de sementes de pólen; em outros, porém, é completamente diferente na medida em que insetos e nemátodos, que são da maior importância na disseminação de vírus, tem importância mínima ou não foram confirmados como participando na transmissão natural da maioria dos viróides. VIRUSÓIDES Existe um segundo grupo de elementos constituídos de RNA, de fita simples, associado a doenças de plantas, que difere dos viróides por duas características básicas: sua multiplicação depende da presença de um vírus auxiliar e seu genoma esta encapsidado em uma estrutura protéica codificada por aquele. “PRIONS” A definição operacional de prions é a de pequenas partículas infecciosas de natureza protéica, que resistem a inativação por processos que alteram os ácidos nucléicos. Com tal definição não está caracterizada uma composição química definida. Os ácidos nucléicos não parecem estar presentes, todavia ainda não foi descartada a possibilidade de, no interior do prion, existir um oligonucleotideo. MULTIPLICAÇÃO VIRAL A multiplicação viral, que ocorre no interior de uma célula suscetível, evolui de acordo com as seguintes etapas: Adsorção, penetração, desnudação, transcrição, tradução, replicação, maturação, montagem e liberação. Adsorção: nesta fase, as partículas virais colidem casualmente, com a superfície celular, resultando em aproximadamente uma adsorção a cada 103 colisões. Para que o processo seja eficiente é necessário que o pH, a concentração iônica do meio e a temperatura sejam adequadas. A ligação do vírus com a célula é feita por intermédio de determinadas estruturas existentes na superfície da partícula viral. Nos vírus com envoltório, estas estruturas se apresentam, em geral, sob a forma de espículas e, nos vírus sem envoltório, correspondem a pontos da superfície viral, que podem estar relacionados a um polipeptídeo ou grupos de polipeptídeos estruturais. Penetração: os mecanismos de penetração que atendem as necessidades do processo de multiplicação viral são, em geral, a invaginação da membrana celular em volta da partícula viral, a fusão do invólucro viral com a própria membrana celular, ou a simples penetração viral, através da membrana celular, sendo todos eles dependentes de temperaturas próximas a 37ºC. Desnudação: nesta fase o envoltório protéico da partícula viral é removido pela ação de enzimas celulares existentes nos lisossomos , com liberação do ácido nucléico viral. Os lisossomos possuem, também, enzimas capazes de destruir o ácido nucléico, o que pode explicar a desproporção de partículas não infectantes e partículas infectantes. A eficiência do processo de denudação depende de dois fatores fundamentais: pH ácido, da ordem de 5 a 6, e presença de proteínas virais às quais o ácido nucléico deve continuar associado. Transcrição: nesta fase, caracterizada péla síntese de RNAm, os mecanismos celulares biossintéticos são utilizados pela partícula viral, processando-se a síntese viral do núcleo da célula infectada, no citoplasma ou em ambos, sempre empregando a energia celular, moléculas precursoras dos constituintes virais e algumas das enzimas presentes na célula. Tradução: uma vez sintetizado, o RNAm liga-se aos ribossomos celulares, codificando a síntese das proteínas virais, que podem ser de dois tipos: proteínas estruturais, que formam a partícula viral, e as proteínas não-estruturais, que são enzimas que participam do processo da multiplicação viral, especificamente na síntese do ácido nucléico, e não são incorporadas à partícula viral. Replicação: o termo replicação aplica-se ao processo segundo o qual o genoma viral dá origem a novos genomas que são acoplados à proteína viral. Em geral, a replicação tem início algum tempo após a transcrição, prolongando-se por todo o ciclo de multiplicação viral. Maturação, montagem e liberação: na discussão dos processos de maturação e liberação viral levamos em conta a localização intracelular da replicação e a estrutura morfológica da partícula viral, isto é, se a nucleocápside possui ou não envoltório. Os vírus, cujo genoma é DNA de fita dupla e não possuem envoltório, sintetizam os precursores das proteínas estruturais no citoplasma, completando a maturação no núcleo da célula. PATOGÊNESE DA INFECÇÃO VIRAL: Os mecanismos pelos quais os vírus são capazes de ocasionar doença não podem se analisados sem considerar as alternativas de defesa do hospedeiro infectado, imunológicas ou não. Fases de ataque ao hospedeiro: As diversas fases de ataque ao hospedeiro por um agente viral podem ser enumeradas do seguinte modo: Fase de penetração, fase de disseminação, período de incubação e fase de manifestação dos sintomas. Fase de penetração: são cinco as portas de entrada dos vírus em um hospedeiro: a pele, a árvore respiratória, o tubo digestivo, o trato geniturinário ao conjuntiva. Em quaisquer dos casos podem ou não ocorrer lesões locais, e a infecção pode ou não manter-se localizada; a disseminação pode ser feita pelas vias linfáticas, sanguínea ou nervosa. Pele: a introdução de partículas virais através da pele ocorre, em geral, após picada de insetos (febre amarela), mordedura de animais (raiva), injeções (hepatites virais) e transfusões (hepatites virais e citomegalia). Em determinadas circunstâncias, pequenas soluções de continuidade da pele permitem a penetração de partículas virais, com produção de lesões locais (verrugas) ou mesmo quadore generalizados (varíola). Árvore respiratória: em seu contato constante com o ambiente exterior no processo de respiração, desempenha talvez o mais importante papel na fase de penetração dos vírus em um hospedeiro. Tubo digestivo: Existem vírus cuja multiplicação se faz no nível da mucosa intestinal, como os enterovirus, adenovírus, vírus da hepatite A e B e os vírus causadores de diarréias, e que necessitam de ser acidorresistentes, a fim de poderem ultrapassar o ambiente ácido do estômago e o duodeno. Trato geniturinário: pode ser o ponto de entrada de alguns vírus, tanto no homem como na mulher, durante o ato sexual. Conjuntiva: em determinadas circunstâncias, adenovirus, vírus da herpes e certos tipos de enterovírus podem ocasionar lesões na conjuntiva, de maior ou menor gravidade. Todas as vias de infecção mencionadas utilizadas pelos vírus na fase de penetração no hospedeiro caracterizam a chamada transmissão horizontal. Existe ainda a transmissão vertical, em que a partícula viral infecciosa passa ao feto pela placenta. Fase de disseminação: Dá-se o nome de viremia à presença de vírus na corrente sanguínea, sendo esta principal via de disseminação sistêmica dos vírus. Fase de incubação: Chama-se período de incubação de uma doença infecciosa o período compreendido entre o inicio da infecção, isto é, o momento em que o agente infeccioso penetra no hospedeiro, e o momento em que os primeiros sintomas se tornam aparentes. Fase de manifestação dos sintomas: À disseminação do agente viral segue-se sua fixação em órgãos específicos, como fígado (hepatites virais), glândulas salivares (caxumba), sistema nervoso central (poliomielite) e outros. Mecanismo de defesa do hospedeiro: A resistência às infecções ocasionadas por vírus mantém-se operacionalmente ativa graças ao mecanismo de imunidade humoral e imunidade mediada por células e aos chamados mecanismos não-específicos que constituem o que pode designar por resistência não-imunológica. DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DAS INFECÇÕES VIRAIS: Existem diferentes métodos de estudo dos vírus. Tais métodos podem ser classificados do seguinte modo: - Método para estudo da ação dos vírus sobre culturas celulares. - Métodos para estudo de partículas virais purificadas. - Métodos que permitem o estudo morfológico de partículas virais. - Métodos que se destinam ao estudo dos componentes virais – proteínas e ácidos nucléicos. QUIMIOTERAPIA ANTIVIRAL: A quimioterapia antiviral ainda não tem sido tão bem-sucedida quanto as medidas de saneamento e os processos de imunização, no controle das viroses. Duas situações peculiares dificultam esta terapia: em primeiro lugar, a íntima associação da multiplicação viral com a celular; em segundo, o longo lapso de tempo que ocorre desde a implantação intracelular dos vírus e o aparecimento dos primeiros sintomas. A relação íntima com o processo de multiplicação celular restringe o uso dos inibidores da multiplicação viral a substâncias que, em dose virustática, não interfiram com o processo de biossíntese celular. Já o segundo obstáculo é mais difícil de transpor, uma vez que, quando surgem os sintomas clínicos, a multiplicação viral encontra-se, em geral, na sua fase final. Mecanismo de ação de alguns compostos antivirais: Ação Droga antiviral Inibição da penetração Amantadina Inibição da transcrição Ribavirina Rifampicina Inibição da tradução Ribavirina metisazona Inibição da replicação Idoxuridina Citarabina Vidarabina Trifluorotimidina Ribavirina Aciclovir AZT VIRUS E TUMORES: É mais do que sabido que cada vírus pode ocasionar uma enorme variedade de efeitos, dependendo de múltiplos fatores, como dose e virulência, presença ou não de anticorpos ou outros elementos inibidores, capacidade de sofrerem mutações adaptando-se a novos hospedeiros, presença de agentes químicos estranhos e a própria estrutura genética do hospedeiro. Além disso, a ação do vírus é perfeitamente compatível com a ação de fatores externos ao ambiente físico do organismo, tal como ocorre nas infecções virais latentes, ativadas por substanciais químicas ou por radiações que, por si só, são capazes de induzir o desenvolvimento de tumores malignos. VIROSES DA PELE E MUCOSAS: As viroses cutâneas podem classificar-se, de acordo com o tipo de lesão que ocasiona, em viroses cujas lesões são do tipo eritematoso e maculopapular e viroses em que as lesões da pele são do tipo vesiculopustular. SARAMPO: O agente etiológico pertence ao gênero Morbillivirus. Existe um só tipo sorológico e a imunidade que determina é, em geral, duradoura; indivíduos imunológicamente deficientes podem sofrer reinfecções. A porta de entrada da infecção é as vias respiratórias, em cujo epitélio se dá a multiplicação viral, com subseqüente disseminação hematogênica. As lesões cutâneas e de mucosas podem resultar da presença de vírus ou de complexos vírus/anticorpo, sendo característica das mesmas a proliferação do endotélio capilar e a exsudação eventual de hemácias; são típicas as células epiteliais gigantes multinucleadas e as infiltrações da submucosa bucal por células gigantes monucleadas. A necrose do epitélio das vias respiratórias pode facilitar a implantação e multiplicação bacteriana secundária, com complicações como pneumonia e broncopneumonia. A otite média é bastante freqüente. O período de incubação do sarampo é de 8 a 12 dias e o período de maior contagiosidade se estende desde 4 a 5 dias antes do aparecimento das lesões cutâneas até 3 a 4 dias após, fazendo-se a transmissão de individuo a indivíduo, principalmente pela inalação de gotículas de saliva infectada. RUBÉOLA: O agente etiológico da rubéola pertence ao gênero Rubivirus. Quando se estuda a patogênese da rubéola é necessário considerar, separadamente, as duas formas da doença: rubéola pós-natal e rubéola congênita. Na 1º, a transmissão do agente etiológico faz-se pelas vias respiratórias superiores, na mucosa das quais se processa a multiplicação viral, seguida de disseminação hematogênica e aparecimento das lesões cutâneas. Estas parecem ser o resultado da ação de complexos antígeno/anticorpo. O vírus pode persistir na faringe por mais de 1 semana, e, depois do desenvolvimento das lesões cutâneas, seu isolamento a partir do sangue é muito raro. A rubéola congênita é uma infecção transmitida por via transplacentária, no primeiro trimestre da gravidez, que pode ocasionar mal-formações congênitas e aborto. VARICELA E HERPES-ZOSTER: O agente etiológico dos dois quadros, varicela e Herpes-Zoster, pertence a família Herpesviridae, gênero Varicellovirus. A principal porta de entrada do vírus é a árvore respiratória sendo raros os casos em que a penetração do vírus se faz pela conjuntiva ou pele. Depois da multiplicação local do vírus, ocorre a disseminação hematogênica e linfática, com posterior aparecimento das lesões cutâneas. As lesões na pele surgem em surtos sucessivos, o que é um reflexo de viremia cíclica, característica da varicela. O período de incubação da varicela é bastante longo, de cerca de 14 a 16 dias, havendo casos em que pode prolongar-se até 23 dias. É uma doença benigna que atinge principalmente crianças, conferindo uma imunidade duradoura. O Herpes-Zoster é uma doença esporádica, que atinge principalmente adultos, caracterizada pelo desenvolvimento de lesões cutâneas muito dolorosas, do tipo das encontradas na varicela. Estas lesões tem, em geral distribuição unilateral, ao longo dos filetes nervosos sensitivos que inervam a pele. A patogênese da doença não é perfeitamente conhecida, mas existem dados que falam a favor de uma infecção latente, permanecendo o vírus da varicela-zoster acantonado, por longo tempo, nos filetes nervosos sensitivos, depois da infecção primária da infância a varicela. HERPES SIMPLES: O vírus do herpes simples pertence ao gênero Simplexvirus. A porta de entrada do vírus é a mucosa a nasofaríge conjuntiva e órgãos genitais, ou a pele, quando existem soluções de continuidade. Depois de multiplicar-se no local de entrada, o vírus dissemina-se por via hematogênica ou neurogênica, dando origem aos quadros de infecção primária, que atingem preferencialmente as crianças. Em torno de 90% dos indivíduos infectados as infecções são inaparentes. As manifestações clínicas da infecção primária são a gengivoestomatite herpética, ceratoconjuntivite herpética, o eczema variceliforme de Kaposi e a meningoencefalite herpética. VARÍOLA: O agente etiológico da varíola pertence ao gênero Orthopoxvirus. A varíola, antes de sua erradicação, era considerada uma das doenças de maior contagiosidade, sendo muito freqüentes as epidemias, sempre que um caso de doença ocorria numa comunidade de suscetíveis. A porta de entrada do vírus são as vias respiratórias superiores, ocorrendo a multiplicação do tecido linfóide local durante o período de incubação da doença, quando os pacientes não são infectantes. Logo que surge o exantema, aparecem as lesões de exantema na mucosa bucal e da nasofaringe entre o quarto e o sétimo dia de doença, momento dm que o vírus se elimina pela saliva, tornando-se o paciente infectante. A viremia primária ocorre no momento em que se inicia o período febril, persistindo por dois a três dias. EXANTEMA SÚBITO: O agente etiológico pertence a família Herpesviridae, não tendo sido classificado ainda em gênero dentro desta família. É conhecido como herpesvírus humano 6 (HHV-6). A infecção primária com HHV-6 ocorre comumente na infância, causando o exantema súbito, também chamado roséola infantum, ou quarta doença. A criança apresenta febre alta por alguns dias e, em seguida, aparece o exantema, que coincide com a cessação da febre. O HHV-6 está normalmente presente na saliva da maioria dos adultos, o que pode explicar a transmissão horizontal do vírus, principalmente da mãe para o filho. Não há prevenção os terapia para a doença. PAPILOMA: O agente etiológico pertence ao gênero Papillomavirus. Foram identificados 58 tipos de vírus do papiloma humano (HPV), distribuídos em dois grupos: HPV cutâneo (33 tipos) e HPV de mucosa (25 tipos). Os vírus que infectam mucosa são localizados, em geral, no trato genital, causando os condilomas reconhecidos como uma doença sexualmente transmissível que ocorre com maior freqüência em adultos jovens e em populações promíscuas sexualmente. O Papiloma humano (HPV) infecta o epitélio superficial da pele em membranas mucosas, produzindo tumores epiteliais (verrugas) em geral benignos, que regridem espontaneamente. Alguns dos vírus que infectam humanos tem um potencial oncogênico: no trato genital, os HPV tipos 16, 18, 31 e 33 e em tumores de pele, HPV tipo 5 ou 8. VIROSES RESPIRATÓRIAS: O epitélio ciliado da árvore respiratória, cuja atividade mantém constante o fluxo das secreções elaboradas pelas células produtoras de muco, sofre alterações quando da implantação de uma série de diferentes vírus. Estas alterações, geradoras de uma sintomatologia local, podem ainda levar a formação de uma espécie de microambiente, favorável a implantação secundária de bactérias patogênicas, com conseqüências de gravidade viral. Com capacidade reacional da mucosa respiratória é limitada diferentes viroses, com ou sem complicação bacteriana podem apresentar idêntica sintomatologia. INFLUENZA: Os vírus da influenza pertencem ao gênero Influenzavirus. Estes vírus são passíveis de mudanças genéticas e por isso são classificados em A, B e C. O tipo A sofre mudanças consideráveis, já o tipo B as mudanças são discretas; e o tipo C é muito estável. As lesões primarias da influenza ocorrem no nível do epitélio ciliado das vias respiratórias, nos segmentos superior e médio, com inflamação e descamação, se que as lesões atinjam a camada basal. No quarto ou quinto dia de doença inicia-se a regeneração do epitélio, que se completam em cerca de 15 dias sem qualquer lesão residual. Nos casos graves o processo infeccioso estende-se ao segmento inferior, evoluindo para um quadro de pneumonia. As epidemias são, em geral, causadas pelo tipo A, havendo uma certa periodicidade no seu aparecimento que depende fundamentalmente, do surgimento de cepas mutantes com estrutura antigênica das cepas predominantes em períodos anteriores. Os tipos B e C de vírus de influenza são responsáveis por casos esporádicos da doença ou por pequenas epidemias localizadas. LARINGOTRAQUEOBRONQUITE E BRONQUIOLITE: A laringotraqueobronquite é um processo inflamatório da laringe e/ou da traquéia, que pode estender-se até os bronquíolos, dando origem a um quadro de bronquite. A etiologia de ambos os quadros pode estar relacionada a diversos vírus, como vírus da influenza e parainfluenza, adenovirus e vírus Coxsackie, mas é o vírus respiratório sincicial o principal responsável. Este vírus pertence à família Paramyxoviridae, subfamília Pneumovirinae, gênero Pneumovirus. A porta de entrada a infecção, é a via respiratória, podendo as lesões do epitélio ficar restritas à laringe ou traquéia, ou ampliar-se pelos bronquíolos. A laringotraqueobronquite pode apresentar aspectos alarmantes, consecutivos ao extenso edema com acúmulo de muco na laringe e traquéia e a espasmos da laringe, mas, em geral, regride rapidamente, sendo raras as complicações de bronquiolite e pneumonia. DOENÇA RESPIRATÓRIA AGUDA: Esta doença assemelha-se, clinicamente, ao quadro de influenza, apresentando-se, no entanto, com uma evolução mais rápida, de cerca de uma semana. Por vezes, este quadro surge com complicações gastrointestinais, principalmente em crianças e comprometimento freqüentemente unilateral da conjuntiva, caracterizado a chamada febre faringoconjutival. Dependendo da porta de entrada, a multiplicação inicial dos vírus pode se dar na mucosa da faringe, na conjuntiva ou no epitélio da mucosa intestinal. RESFRIADO COMUM: A designação de resfriado comum aplica-se a um quadro de rinite, sem febre e sem sintomas gerais. Numerosos vírus podem desencadear quadros de resfriado comum quando sua implantação se processa no segmento inicial das vias respiratórias, o que é fácil de compreender quando se conhecem as limitações do processo reacional da árvore respiratória. O resfriado comum é uma doença de distribuição universal, sendo mais freqüente em crianças. O contágio se faz pela inalação de gotículas de saliva contaminadas ou pelo contato com fomites contaminados. O conceito mais ou menos generalizado, de que acentuadas mudanças na temperatura, umidade e poluição poderiam aumentar a suscetibilidade à doença, não tem sido confirmado em várias experiências feitas com voluntários. GASTROENTERITES VIRAIS: Embora a muito se suspeitasse de que muitas gastroenterites infantis poderiam ter etiologia viral, as tentativas para se caracterizar o vírus, ou grupo de vírus responsável por estes quadros, foram sempre mal-sucedidas. Tal reação só pôde realmente ser modificada depois de generalizado o uso de técnicas de exame por microscopia eletrônica, quando passou a ser possível a visualização de partículas virais em fragmentos de mucosa duodenal ou nos próprios extratos fecais. Dentre a multiplicidade de partículas virais, visualizadas por microscopia eletrônica, as relacionáveis etiologicamente com quadros diarréicos agudos distribuem-se, do ponto de vista da sistemática, pelas famílias Reoviridae, Coranoviridae, Caliciviridae e Adenoviridae. GASTROENTERITE POR ROTAVÍRUS: Os rotavirus são membros da família Reoviridae, gênero Rotavirus. As lesões, ocasionadas pelos rotavirus, limitam-se às células do intestino delgado que se dispõe na parede lateral e topo das vilosidades intestinais, não sendo atingidas as células que formam as criptas de Lieberkuhn. A grande maioria das crinaças infectam-se durante o período compreendido entre os seis meses e os seis anos de idade. Em crianças menores de um ano com quadros de gastroenterite, cerca de 25% dos casos são positivos para rotavirus; esta porcentagem atinge valores de até 90% entre um a três anos, para decrescer a cerca de 30% para crianças de quatro a seis anos. O período de incubação da doença é de 24 a 48 horas, seguida de vômito por três dias e diarréia por três a oito dias. A febre e dores abdominais ocorrem freqüentemente. A excreção máxima do vírus ocorre entre o terceiro e quarto dia da doença, sendo possível encontrar mais de 109 partículas por grama de fezes. A distribuição estacional das infecções por rotavírus evidencia uma marcada preferência pelos meses de temperaturas médias mais baixas. A maioria dos relatos clínicos sobre quadors com implicação etiológica por rotavirus faz referência a casos autolimitantes com graus leves de desidratação. A amamentação ao peito ainda é uma das ações protetoras de melhor eficácia, pela imunidade que confere e pelo poder protetor de fatores inespecíficos do leite. Outra ação importante é o restabelecimento do equilíbrio hídrico. GASTROENTERITE OCASIONADA PELO VÍRUS NORWALK: O vírus Norwalk deve seu nome ao fato de ter sido isolado de um surto de gastroenterite em alunos e professores de uma escola primária de Norwalk, Ohio, surto este em que 50% dos professores e alunos e 35% dos contatos familiares adoeceram. Ao contrario da gastroenterite ocasionada por rotavirus, o quadro diarréico, causado pelo vírus Norwalk e outros vírus relacionados, tem uma curta duração, média de 12 a 60 horas, e ocorre com freqüência em ambiente familiar e escolas, atingindo indistintamente crianças e adultos. A diarréia é mais freqüente em adultos, enquanto uma alta proporção de crianças apresenta vômitos. O período médio de incubação é de 24-48 horas, e os sintomas são idênticos aos da gastroenterite por rotavirus (náuseas, vômitos, dores abdominais, diarréia e febre). O maior número de casos ocorrem nos meses de verão, contrariamente ao que sucede com as infecções por rotavirus. Não há tratamento específico, nem se dispõe de qualquer tipo de vacina. OUTRAS GASTROENTERITES DE ETIOLOGIA VIRAL: Além dos Rotavirus é dos vírus Norwalk, outros vírus tem sido relacionados com quadros de gastroenterite. Os Adenovírus entéricos, classificados na família Adenoviridae são, depois dos rotavirus, a causa mais freqüente de diarréia em crianças, com uma distribuição estacional nos meses de verão, ao contrário do que ocorre com as gastroenterites por rotavirus. Os Astrovirus podem causar 3% a 5% das admissões hospitalares por diarréia. A doença afeta principalmente crianças menores de sete anos de idade. A associação dos Coronavirus com quadros diarréicos em animais está perfeitamente definida, ao contrário do que sucede nas gastroenterites humanas, onde sua participação ainda não está estabelecida. VIROSES HEPÁTICAS: A designação de viroses hepáticas é utilizadas para caracterizar processos inflamatórios agudos do fígado provocados por diferentes vírus, tais como os vírus da família Herpeviridae, alguns tipos de vírus Coxsackie, em geral realcionados com quadros pré-natais, citomegalovirus e vírus da ribéola, relacionados com quadros neonatais, vírus de Epstein-Barr, vírus da caxumba e os vírus causadores de hepatites propriamente ditos. HEPATITE A: Esta forma de hepatite foi considerada, durante muito tempo, como manifestação secundária de uma infecção entérica. Atualmente sabe-se que o vírus se instala primariamente no fígado, utilizando o aparelho digestivo como via de entrada, sem causar lesão neste local. O vírus da hepatite A pertence ao gênero Hepatovírus, tendo sito anteriormente classificado como “enterovirus humano 72”. A hepatite A transmite-se pela via fecal-oral, sendo os aliemtnos e as águas contaminados os principais veículos de transmissão durante epidemias. Nos ambientes familiar e institucional o contato pessoal íntimo pode facilitar o contágio. A transmissão por via parentérica, sob forma de transfusão ou uso de drogas, ainda que teoricamente possível não tem sido verificada. Já existem vacinas para hepatite A. HEPATITE B: Uma série de estudos epidemiológicos e estudos experimentais feitos com voluntários demonstrou ser esta forma de hepatite diferente da hepatite A, estando, em sua maioria, associada a transfusões sanguíneas, com o uso de seringas contaminadas e com transmissão sexual. O vírus da hepatite B pertence ao gênero Orthohepadnavirus. Este vírus é bastante resistente ao calor e a outros agentes físicos; o tratamento de plasma infectado pelo calor, a 60ºC, durante cinco horas, é insuficiente para inativar o vírus. A autoclavação durante 30 a 60 minutos e a ação do hipoclorito de sódio destroem o poder infectante do vírus. Além da transmissão através do sangue contaminado ou do uso de seringas contaminadas, a hepatite B pode transmitir-se por via sexual e, durante a gravidez, o vírus pode atravessar a barreira placentária, infectando o feto in útero. O período de incubação da doença pode variar de seis a 24 semanas, sendo de 12 a 14 semanas nos casos adquiridos após transfusão. A evolução dos quadros da hepatite B pode seguir dois cominhos diferentes: desenvolvimento de um quadro de hepatite crônica persistente, de natureza benigna e autolimitante, ou, em cerca de 3% dos casos, agravamento com um quadro de hepatite crônica ativa, que conduz, com freqüência, à cirrose e ao carcinoma hepatocelular. Já existem vacinas para hepatite B. HEPATITE C: O reconhecimento da existência do vírus da Hepatite C é recente. Com a constatação de grande número de casos de hepatite não-B, associada a transfusões, a viciados em drogas e hemofílicos, de alto grau de cronicidade, e a distribuição de períodos de incubação de sete a oito semanas, intermediários entre os períodos de incubação da infecção pelo vírus da Hepatite A e da Hepatite B. O vírus da hepatite C tem características genéticas e biológicas que permitem sua inclusão na família Flaviviridae, constituindo um gênero ainda não nomeado. A transmissão se dá primariamente através de sangue ou produtos derivados de sangue. Outra população que apresenta alto risco de adquirir infecção por este vírus são os pacientes que recebem produtos processados de sangue, como os hemofílicos. O maior grupo de risco ocorre entre os usuários de drogas injetáveis ilegais. A transmissão sexual e perinatal ainda não foram comprovadas. O período de incubação da hepatite C varia de quatro a treze semanas. A doença aguda é freqüentemente subclínica, mais quase 2/3 dos casos se tornam crônicos. Mesmo que a hepatite crônica do tipo C não seja clinicamente aparente, aproximadamente 20% dos casos progridem para cirrose hepática. A resposta imune para este vírus ainda não é bem definida. Ainda não existem vacinas para hepatite C, a forma de controle é mesmo a prevenção. HEPATITE E: Recentemente, foi descrito o agente etiológico da anteriormente chamada hepatite não-A e não-B de transmissão entérica, hoje reconhecida como hepatite E. Este vírus tem distribuição mundial, mas a doença é quase confinada a regiões onde a contaminação da água potável é comum. A maioria dos surtos de hepatite E ocorreram após chuvas fortes, contaminação de água de poço, inundações ou contaminação do sistema de captação de água por esgotos. A hepatite E é a principal causa de hepatite viral em jovens adultos que moram em regiões do mundo onde a contaminação fecal é comum. Afeta principalmente indivíduos entre 15 e 45 anos de idade. A transmissão pessoa a pessoa não é eficiente como para os vírus da hepatite A. O período de incubação é de aproximadamente seis semanas. O vírus se replica primariamente no fígado, e é excretado através do ducto biliar, no duodeno do intestino delgado. A hepatite E pode manifestar-se desde a forma de infecção subclínicas até infecções fulminantes. É uma doença freqüentemente benigna, mas difere das demais hepatites porque é associada a altas taxas de mortalidade em mulheres grávidas (20%). Ainda não existem vacinas para a prevenção de hepatite E. HEPATITE PELO AGENTE DELTA: Esta é uma forma grave de hepatite causada pela superinfecção de portadores crônicos de vírus de hepatite B ou co-infecção de pacientes com hepatite B pelo agente delta. Este agente pode estar etiológicamente relacionado com a febre negra de Labrea. A vacinação contra hepatite B tem efeitos profiláticos na hepatite pelo agente delta. O período de incubação é de três a sete semanas. Em casos de infecção simultânea pelo vírus da Hepatite B e Hepatite delta, os sintomas agudos em geral são seguidos por recuperação completa em 12 a 16 semanas. A infecção freqüentemente progride para infecção crônica. Em torno de 60% a 70% dos pacientes com hepatite D crônica desenvolvem cirrose. A hepatite fulminate é freqüente em casos de infecção pelo vírus delta, e é caracterizada por alta mortalidade. VIROSES LINFÁTICAS, GLANDULARES E LINFOCITÁRIAS: A glândula parótida e outras glândulas salivares, assim como os gânglios linfáticos e linfócitos, são, freqüentemente, sede de processos infecciosos de etiologia viral. CAXUMBA: O vírus da caxumba é um dos membros da família Paramyxoviridae, do g~enero Paramyxovirus. O homem é o único hospedeiro e reservatório natural do vírus da caxumba, no qual, freqüentemente, ocasiona infecções inaparentes. A porta de entrada do vírus da caxumba é a via respiratória, onde se processa a multiplicação inicial durante o período de incubação da doença, que se prolonga por 15 a 20 dias. Segue-se uma viremia com localização do vírus na glândula parótida. Outros órgãos podem ser atingidos, como testículos, próstata, ovário, fígado, baço, glândula tireóide e timo. Nos casos graves o vírus pode atingir o sistema nervoso central, causando encefalite. O vírus pode ser isolado da urina durante os primeiros 15 dias da doença e das secreções da orofaringe, desde cinco dias antes de se manifestarem os sintomas, até cindo dias após o aparecimento destes. Após o restabelecimento da infecção, desenvolve-se uma imunidade permanente. CITOMEGALIA: A infecção ocasionada pelo citomegalovírus pode ter manifestações clínicas diversas conforme a idade, as condições físicas do paciente e sua capacidade de resposta imunológica. É a infecção adquirida, pós-natal, a que apresenta manifestações clínicas evidentes, com comprometimento do fígado, baço, rins, pulmões e sistema hematopoético, sendo poupado o sistema nervoso central. Na infecção primária de uma mulher grávida, o citomegalovirus pode infectar o feto, via placenta, que pode resultar em manifestações clínicas imediatas, inclusive com comprometimento do sistema nervoso central, como o quadro clínico pode apresentar-se tardiamente. SÍNDROME DA IMUNODEFICIÊNCIA ADQUIRIDA (SIDA): As primeiras constatações da ocorrência da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (SIDA), vulgarmente conhecida em língua saxônica pela sigla AIDS (Acquired Immune Deficienty Syndrome), datam de 1981, nos Estados Unidos. Hoje esta síndrome já foi descrita em diversos países, podendo ser considerada uma das epidemias de maior gravidade dos últimos anos. As pesquisas feitas na França e nos Estados Unidos levaram à identificação, em 1983, de um retrovírus até então desconhecido, que passou a ser conhecido pela sigla HTLV III (Human T Cell Limphotropic Vírus). Foram descritos três tipos de HTLV vírus, HTLV-1, HTLV-2 e HTLV-3, os dois promeiros dando origem à leucemia de células T ou a linfomas, e HTLV-3, considerado o agente etiológico da SIDA. Estudos subseqüentes vieram a demonstrar que a relação entre os vírus era mais discreta que o que se supunha, a começar pelo efeito que desencadeiam sobre os linfócitos T, para os quais todos estes vírus tem particular afinidade: enquanto os dois primeiros levam à imortalização das células infectadas, o vírus HTLV-3 ocasiona sua destruição. Em face desta e de outras diferenças, o vírus da Síndorme de imunodeficiência Adquirida (SIDA) passou a ser designado pela sigla HIV (Human Immunodeficiency Vírus), conhecendo-se hoje, pelo menos dois tipos HIV-1 e HIV-2. Vários fatores podem ter contribuído para o aumento mundial de casos de SIDA, dentre os quais pode salientar-se a radical mudança nos hábitos sexuais, a ampliação do número de usuários de drogas, e a autoperpetuação do agente etiológico, por força do aumento do número de vírus. A Organização Mundial de Saúde calcula que devam existir, mundialmente, cinco a dez milhões de indivíduos infectados, a maioria dos quais no continente africano. O diagnóstico de SIDA é clínico. O diagnóstico etiológico pode ser feito pelo isolamento do HIV do sangue, órgãos linfóides e secreções. Até o presente momento o tratamento dos casos de SIDA não tem tido bons resultados, não só por serem de difícil controle as múltiplas infecções contraídas pelos doentes, mas também porque o defeito imunológico primário persiste, mesmo que tenha havido sucesso no tratamento das infecções oportunistas. Recentemente tem sido utilizado, com algum sucesso, o AZT, um antiviral que bloqueia a ação da transcriptase reversa do vírus HIV. VÍROSES DO SISTEMA NERVOSO: A expressão viroses do sistema nervoso identifica os quadros neurológicos resultantes da invasão do cérebro, medula espinhal, ou membranas adjacentes, por vírus. Esta invasão processa-se por via hematogênica, livremente, ou em associação com células sanguíneas, e por via neural através dos nervos olfatório e preféicos. POLIOMIELITE: Até o presente século a poliomielite era uma doença de ocorrência infantil, daí o nome de paralisia infantil. A melhoria das condições sanitárias, no entanto, deslocou-se as faixas etárias suscetíveis para o grupo dos adultos jovens. Apesar da elevada eficiência da vacinação, a poliomielite ainda constitui um sério problema de Saúde Pública. O agente etiológico da poliomielite, Polivírus, pertence ao gênero Enterovírus. Os vírus da poliomielite têm como hospedeiro natural o homem e como habitat o intestino, multiplicando-se nas células da mucosa e sendo eliminado pelas fezes. A transmissão da doença é feita pela via fecal-oral, sendo a água o elemento de maior participação, que pelo seu consumo, quer pelo consumo de alimentos contaminados, principalmente verduras e mariscos, sendo o uso de piscinas igualmente importante. A elevada resistência dos poliovirus é um fator que favorece a transmissão: em água nãotratada a resistência média é de 160 dias, no solo de 120 dias e em mariscos, de cerca de 90 dias. MENINGITE ASSÉPTICA O termo asséptica refere-se a um tipo de meningite em que o liquor é límpido, ao contrario do que ocorre com o liquor purulento das meningites bacterianas. Depois do advento da vacinação antipoliomielitica, a participação dos poliovírus na gênese desta síndrome clinica passou a ser muito pouco freqüente: é do mesmo modo infrequênte a meningite asséptica, cuja etiologia esta relacionada com herpesvírus, vírus da hepatite, vírus da caxumba e vírus da coriomeningite linfocitária. A porta de entrada destes agentes etiológicos é a orofaringe, em cujo epitélio se multiplicam, disseminando-se pela mucosa do intestino delgado e atingindo o sistema nervoso central por via hematogênica. Os sintomas clínicos refletem um comprometimento meníngeo de rápida regressão e bom prognóstico. ENCEFALITES POR FLAVIVÍRUS E TOGAVÍRUS As designações genéricas de Flavivírus e Togavírus compreendem um grupo heterogêneo de vírus, com mais de 350 vírus diferentes não relacionados sorologicamente entre si, alguns dos quais são transmitidos ao homem pela picada de artrópodes, daí designação clássica de arbovírus, hoje em desuso. Apesar de alguns destes vírus ocasionarem no homem doenças graves, por vezes mortais, a grande maioria produz quadros subclínicos. Os artrópodes permanecem infectados durante todo o ciclo vital, podendo transmitir a doença a diversos hospedeiros. RAIVA A raiva é a forma letal de encefalite ocasionada por um vírus que atinge uma ampla gama de espécies animais, podendo ser transmitida ao homem pela mordida do animal infectado, mais freqüentemente o cão, mas não obrigatoriamente este animal. O vírus da raiva penetra no organismo através de feridas resultantes da mordedura do animal raivoso, ou por soluções de continuidade da pele contaminada com a saliva do animal infectado, considerando-se, ainda, como possível, a penetração pela mucosa, das vias respiratórias, após inalação de poeira contaminada e oral, nos animais carnívoros, que podem alimentar-se com carne de animais raivosos mortos. Antes da manifestação dos sintomas, o vírus da raiva atinge as glândulas salivares do animal raivoso, eliminando-se pela saliva durante um a três dias, o que contribui para facilitar a transmissão da doença. No homem, após um período de incubação médio de três meses, surgem os primeiros sintomas de náuseas, cefaléias e mal-estar geral, com diminuição de sensibilidade de mordedura. Aumento dos estímulos visuais e auditivos levam ao desencadeamento de crises convulsivas. Na fase pré-agônica, é comum uma aparente melhoria do paciente, abruptamente seguida de paralisia progressiva que se inicia nos membros inferiores, independentemente do local da mordedura. FEBRES HEMORRÁGICAS A expressão febres hemorrágicas engloba uma multiplicidade de infecções virais de caráter epidêmico transmitidas pela picada de artrópodes ou mordida de roedores. São quadros infecciosos de gravidade variável, algumas vezes fatais, em que os sintomas característicos são febre, hemorragias e perturbações neurológicas. A dengue, a febre amarela e a febre de Chikungunia têm como principal vetor o mosquito Aedes aegypti, enquanto a doença de Kyasanur, a febre hemorrágica de Omsk e a febre hemorrágica da Criméia-Congo tem como vetores diversas espécies de carrapatos. Já as febres hemorrágicas argentinas e bolivianas e a febre de Lassa são transmitidas pela urina de roedores dos gêneros Calomys e Mastomys. Nas doenças de Ebola e Marbourg todas as tentativas para identificar espécies reservatórios e vetores não tem sido bem sucedidas. Desconhece-se o modo de transmissão, sabendo-se, no entanto, que um contato íntimo entre os pacientes aumenta em cerca de cinco vezes o risco de contrair a doença, quando comparado com contatos casuais. VIROSES DO GLOBO OCULAR No curso de numerosas viroses cutâneas e sistêmicas, o globo ocular e tecidos associados podem ser atingidos, tal como sucede com as conjuntivites do sarampo e da rubéola, cerato-conjuntivites e ceratites nas infecções por vírus do herpes-simples e varicela-zoster e as coriorretinites da rubéola e infecções por citomegalovírus. Certos enterovírus, como o vírus Coxsackie A24 e o enterovírus 70, podem ocasionar quadros de conjuntivite. Entretanto, existem vírus capazes de ocasionar quadros locais, sem infecção generalizada, dentre os quais a ceratoconjuntivite epidêmica e a conjuntivite da doença de Newcastle são os exemplos mais marcantes. Referencia bibliográfica: TRABULSI, L. R., ALTERTHUM, F., GOMPERTEZ, O. F., CANDEIAS, J. A. N., Microbiologia, 3º edição, Atheneu, 2002.