Revista Eletrônica Novo Enfoque, ano 2013, v. 17, n. 17, p. 100 –105 A IMPORTÂNCIA DE AULAS EXPERIMENTAIS NOS CONTEÚDOS DE GEOCIÊNCIAS ABORDADOS NA DISCIPLINA DE BIOLOGIA DO ENSINO BÁSICO FIRMINO, Andressa Raiane de Souza1 BEZERRA, Hannah Priscilla Alves¹ SANTOS, Maria do Carmo Pereira¹ RODRIGUES, Ana Paula de Castro2 RANGEL, Jane3 Resumo Este trabalho teve como objetivo descrever a importância das aulas experimentais na abordagem de conteúdos geocientíficos na disciplina de Biologia no Ensino Médio. Este estudo foi realizado no Colégio de Aplicação Dr. Paulo Gissoni, Realengo-RJ, aplicando-se questionários a 4 professores e 439 alunos do 1º ao 3º ano do Ensino Médio. Todos os professores afirmaram contextualizar os temas geocientíficos e correlacionar com a realidade em suas aulas. Caracterizaram o grau de interesse de médio a baixo dos alunos para estes temas. Não utilizam com frequência outros recursos didáticos em sala além de aulas expositivas e quando utilizados destacam-se vídeos e data-show. A maior parte dos alunos não sabia o que significava geociências, mas demonstrou interesse em temas como “universo” e “impactos ambientais”. Acreditam aprender mais com aulas dinâmicas usando experimentos e data-show. Palavras-chave: Geociências. Biologia. Ensino. Aulas Experimentais Introdução Entre todas as áreas do conhecimento científico, a das ciências da Terra, ou, simplesmente, Geociências, é a que talvez mais se insira e influencie no cotidiano das pessoas. A consideração do homem como agente biogeológico é algo extremamente importante do ponto de vista educacional, segundo Silva et al (2011), pois enfatiza as questões correlatas à Geologia e à Biologia nas interações com o ambiente. Carneiro et al (2004) demonstrou que estes conhecimentos estão restritos nas disciplinas de Ciências, Biologia e Geografia no ensino básico, no qual são pouco trabalhadas de forma experimental, impossibilitando uma relação de fácil 1 Acadêmicos Bolsistas PIBIC&T/UCB (Vigência: Out./2012 a Out./2013). Grupo de Pesquisa Popularização das geociências nas escolas de ensino básico. da Universidade Castelo Branco. Curso de Ciências Biológicas da Universidade Castelo Branco (UCB), Campus Realengo, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. 2 Co-Orientador. Grupo de Pesquisa Doutora Ana Paula Rodrigues. Curso de Ciências Biológicas da Universidade Castelo Branco (UCB), Campus Realengo, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. 3 Orientador. Grupo de Pesquisa doutora Jane Rangel. Curso de Ciências Biológicas da Universidade Castelo Branco (UCB), Campus Realengo, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. aprendizagem e a assimilação entre a teoria e a realidade visível e palpável representada em sala. Neste contexto, o presente estudo teve como objetivo descrever a importância de aulas experimentais no ensino-aprendizagem dos conteúdos de geociências abordados na disciplina de Biologia, no Ensino Médio, para a formação crítica de novos cidadãos. Procedimentos Metodológicos O presente estudo foi de caráter experimental, utilizando questionários com perguntas abertas e fechadas, realizados com o corpo docente (professores de Biologia/Geografia) e discente do Ensino Médio do Colégio Dr. Paulo Gissoni, situado na Avenida Santa Cruz, 1631, no bairro de Realengo, Zona Oeste do município do Rio de Janeiro-RJ. Estes questionários foram aplicados no primeiro semestre de 2013, com aprovação dos diretores da instituição, com o objetivo de identificar o panorama geral sobre a importância das geociências no Ensino Médio e o uso de aulas experimentais no processo de ensino e aprendizagem. Para o tratamento dos dados, foi utilizado o software SPSS versão 19.0 para a realização de testes de hipótese. Os gráficos foram confeccionados utilizando-se o software Excel, do Pacote Office 2007. Análise de dados Foram entrevistados todos os professores de Geografia e Biologia que lecionavam para o Ensino Médio na presente instituição, compondo o quadro de quatro profissionais, sendo dois de Geografia e dois de Biologia. A experiência de trabalho em turmas de Ensino Médio pelos professores entrevistados foi de 12,2±11,4 anos em média, variando de 2 a 24 anos. Todos os professores possuíam graduação na área em que lecionam. As maiores dificuldades encontradas na prática de ensino são turmas numerosas, falta de interesse dos alunos, conversas fora de hora e a falta de equipamentos para manuseio e laboratório de Ciências para as aulas práticas, pois o único existente pertence aos cursos de graduação, no qual dependem da disponibilidade de uso. Sobre dificuldades na aprendizagem de temas relacionados a geociências, os professores relataram como possíveis interferentes: (i) falta de estímulo por parte do docente que leciona disciplinas ligadas a Geociências (por exemplo, Geografia); (ii) necessidade de leitura para a compreensão dos temas; (iii) excesso de novas nomenclaturas e termos científicos; (iv) falta de conhecimento prévio de outros conceitos pelos alunos ou até mesmo a falta de interesse. Dos temas citados no questionário, pode-se observar que o tema com maior dificuldade de aprendizagem segundo os docentes foi os mapas temáticos. Além dos mapas temáticos, os professores também citaram dificuldades na aprendizagem do ciclo das rochas, do clima, das bacias hidrográficas, dos biomas e rios. Os professores apontaram que há um médio (42%) a 101 baixo (36%) interesse por parte dos alunos nos temas geocientíficos, entretanto 20% dos temas foram relatados como de alto interesse e menos de 2% não seriam interessantes (Ilustração 1). Ilustração 1. Percentual de interesse dos alunos, segundo os professores, nos conteúdos de Geociências. Em relação às práticas de ensino, todos os professores relataram que fazem relação dos conteúdos de Geociências com os fatos da realidade dos alunos, procuram discutir a função social, ética ou econômica destes temas frequentemente (75%). A maioria dos professores relata que raramente (75%) ministra suas aulas utilizando outros recursos didáticos além da aula expositiva, sendo os mais utilizados em ordem decrescente: vídeos, data-show, maquetes, experimentos, jogos/dinâmicas em grupo, mapas, aulas de campo, laboratório de ciências, jogos on-line e laboratório de informática. Sobre possíveis causas da baixa ou não utilização de outros recursos didáticos, um professor relatou falta de tempo, os outros se abstiveram. Foram entrevistados 439 alunos do Ensino Médio: 152 alunos do primeiro ano (13 a 18 anos); 150 do segundo ano (15 a 18 anos); e 137 do terceiro ano (15 a 20 anos). Mais da metade dos alunos de cada turma (59% do primeiro ano, 53% do segundo ano e 58% do terceiro ano) afirma não saber o que é geociências ou não tem ideia do significado desta palavra. Entretanto, a maior parte dos alunos (72% primeiro ano, 65% segundo ano e 83% terceiro ano) respondeu sim à pergunta: “A Geociências é a ciência que estuda a Terra, sua formação, seus fenômenos naturais e impactos ambientais.você acha importante aprender estes assuntos?”. O nível de interesse dos alunos por cada tema apresentado no questionário está apresentado na Ilustração 2. A maior parte dos alunos do (97%) primeiro ano, (90%) segundo ano e (91%) terceiro ano assinalou que existem laboratórios disponíveis para uso na instituição de ensino. 102 Os estudantes acreditam que aprenderiam melhor se o professor utilizasse mais experimentos (43% primeiro ano, 32% segundo ano e 45% terceiro ano), aulas com datashow/vídeos (38% primeiro ano, 36% segundo ano e 29% terceiro ano) e dinâmicas/jogos em grupo (24% primeiro ano, 28% segundo ano e 44 % terceiro ano). Poucos sinalizaram maquetes (17% primeiro ano, 7% segundo ano e 9% terceiro ano) e uso de mapas (9% primeiro ano, 8% segundo ano e 13% terceiro ano) como recurso pedagógico importante para o aprendizado. Ilustração 2: Assuntos relacionados a Geociências ministrados na disciplina de Ciências/Biologia e Geografia que mais atraem o interesse dos alunos, segundo os mesmos. 3°ANO 2° ANO 1° ANO 64% 45% 53% 47% 37% 28% 45% 32% 34% s ta i en vo 39% ct os pa Im C ic lo el e io m as B R io s 16% 11% 11% 9% 7% 14% 14% R 10% am bi 16% s M ap a U U m át ic qu o ím ic os 29% 16% 6% 5% 12% 11% 14% 7% eo 7% 7% 5% 14% lim a 34% 13% te 35% 8% 9% 13% ni ve rs o so do P s ol la ne o ta Te rr P a ai C sa ic g lo en da s s ro ch V as B ul ac ca ia n s is hi m do o gr áf ic as V eg et aç ão 5% 9% 5% 40% bi og 9% 57% 30% C 31% Discussão de Resultados As dificuldades retratadas pelos professores foram encontradas também no trabalho de Rios e colaboradores (2011), no qual relataram como obstáculos a falta de interesse pelo assunto, a interferência de má estrutura física da escola e a falta de interesse dos colegas atrapalhando a compreensão do conteúdo. Gonçalves et al (2005) mostraram que apenas os professores de Biologia e Geografia tornam-se mais interessados em relacionar temas geocientíficos em suas aulas com a realidade. Destaca também o fato de que os professores possuem conhecimento desta deficiência na abordagem de assuntos geocientíficos no ensino. Enquanto ao grau de interesse dos alunos por assuntos geocientíficos, na visão dos professores é médio, e destacou-se o interesse por assuntos relacionados a impactos ambientais, de menor interesse mapas temáticos e paisagens vegetais, existindo, então, uma maior dificuldade em sala para trabalhar esses assuntos. Os considerados mais fáceis e mais atrativos no estudo de Rios et al (2011) foram Solos, Relevos e Vegetação. A falta de interesse por outros 103 assuntos pode estar relacionado à maneira como são abordados e à falta de novos recursos didáticos. O levantamento feito com os discentes, para saber os assuntos geocientíficos que mais interessavam os mesmos, se difere dos professores, demonstrando que a percepção dos professores em relação ao interesse dos alunos não está totalmente correta. Além disto, o interesse muda em relação ao ano do Ensino Médio, onde foi encontrada diferença significativa de interesse do segundo ano para o tema planeta Terra e vulcanismo em relação ao terceiro ano (ANOVA; p<0,05). O primeiro ano apresentou maior interesse em ciclos biogeoquímicos em relação ao terceiro ano (ANOVA; p<0,05). Os discentes em questão afirmam ter mais interesse e consideram aprender mais, nas aulas onde são utilizadas experimentação e aulas com data-show, com uma pequena diferença nos interesses do terceiro ano, sendo maior para dinâmicas/jogos em grupos em relação ao primeiro ano (ANOVA; p<0,001) e ao segundo ano (ANOVA; p<0,010), destacando também os itens de menos interesse, como uso de mapas e o interesse pelo uso de maquetes um pouco maior no primeiro ano em relação ao segundo ano (ANOVA; p<0,05). Considerações Finais A falta de conceitos e ideias formada sobre a geociências pelos discentes pode ser justificada pela dispersão dos temas em diferentes disciplinas. A aplicação de novas tecnologias de ensino se faz necessária para que conteúdos transdisciplinares sejam mais prazerosos, como apontado pelo próprio corpo discente entrevistado. Entretanto, faz-se necessário o estímulo do corpo docente para o uso destas ferramentas no ensino básico, pois a maioria dos professores não utiliza de forma frequente outras práticas pedagógicas além da aula expositiva. O baixo interesse demonstrado pelos estudantes no uso de mapas pode sugerir falta de conhecimento em relação à importância deste para a contextualização do espaço. Estudos posteriores são necessários para compreender melhor o cenário do ensino das geociências no país. 104 Referências CARNEIRO, C. D. R.; TOLEDO, M. C. M.; ALMEIDA, F. F.M. Dez motivos para a inclusão de temas de Geologia na Educação Básica. Revista Brasileira Geociências, v. 34, n. 4, p. 553560. 2004. GONÇALVES, P.W.; SICCA, N. A. L. O que os professores pensam sobre geociências e Educação Ambiental? (levantamento exploratório de concepções de professores de ribeirão preto, SP). Revista do Instituto de Geociências - USP, v. 3, p. 97-106. 2005 RIOS, Irialinne Queiroz; CHAVES, Joselisa Maria. “Exercício pedagógico e ensino de Geociências nas escolas de Feira de Santana-BA: Análise do uso da música como ferramenta didática”. In: XV SEMINÁRIO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA, 2011, Bahia. Anais... Feira de Santana. 2011. SILVA, F. K. M.; HORNINK, G. Quando a Biologia Encontra a Geologia: possibilidades interdisciplinares entre áreas. ALEXANDRIA Revista de Educação em Ciência e Tecnologia, Santa Catarina, v.4, n.1, p.117- 132. 2011. 105