O uso do dicionário em sala de aula - Novas Práticas Fonte: Editora Ática / Abril Educação Fonte: Editora Ática / Abril Educação Dicionário, o que é isso? “Não sei se muita gente haverá reparado nisso — mas o Dicionário é um dos livros mais poéticos, se não mesmo o mais poético dos livros. O Dicionário tem dentro de si o Universo completo. Logo que uma noção humana toma forma de palavra — que é o que dá existência às noções — vai habitar o Dicionário. As noções velhas vão ficando, com seus sestros de gente antiga, suas rugas, seus vestidos fora de moda; as noções novas vão chegando, com suas petulâncias, seus arrebiques, às vezes, sua rusticidade, sua grosseria. E tudo se vai arrumando direitinho, não pela ordem de chegada, como os candidatos a lugares nos ônibus, mas pela ordem alfabética, como nas listas de pessoas importantes, quando não se quer magoar ninguém... O Dicionário responde a todas as curiosidades, e tem caminhos para todas as filosofias. Vemos as famílias de palavras, longas, acomodadas na sua semelhança, — e de repente os vizinhos tão diversos! Nem sempre elegantes, nem sempre decentes, — mas obedecendo à lei das letras, cabalística como a dos números... Dicionário explica a alma dos vocábulos: a sua hereditariedade e as suas mutações. E as surpresas de palavras que nunca se tinham visto nem ouvido! Raridades, horrores, maravilhas... Tudo isto num dicionário...” Cecília Meireles O dicionário O dicionário é um tipo de livro muito especial, porque nele está registrada uma grande quantidade de palavras da língua, palavras que usamos e que já não usamos mais, palavras que são usadas em algumas regiões do país e não em outras, palavras muito usuais e palavras muito raras. É muito interessante ver a surpresa de algumas crianças quando elas descobrem que no dicionário estão palavras que elas não podem ou não devem pronunciar — os palavrões, palavras relacionadas ao seu corpo, sua sexualidade etc. O dicionário é, então, uma espécie de registro histórico da língua, um tipo de arquivo, de memória da língua. Você sabe definir? Vergonha Raiva Saudade Suor Verdade Trabalho Cansaço Desejo E na aula? Assim como nós utilizamos o dicionário no nosso dia a dia, é interessante que a criança aprenda, na escola, a usar o dicionário — e o use cotidianamente: • para procurar o significado de palavras que ela não conhece; • para se certificar de que o significado de certa palavra é aquele que ela imaginava; • para verificar como se escreve uma palavra conhecida; • para conhecer novas palavras; • e até mesmo para fazer algum jogo lúdico e poético com as palavras. Ordem alfabética Consultar o dicionário exige o conhecimento de certas convenções. A ordem alfabética, por exemplo, é uma delas. Sem o domínio desta ordem, fica muito difícil encontrar uma palavra no dicionário. “A primeira chamada que ela fez foi assim: mandou cada um de nós escrever o nome de um outro aluno. O nome por inteiro. ‘Grande vantagem saber escrever seu próprio nome’— ela brincou. Depois embaralhou os nomes de todos nós e mandou que a gente arrumasse tudo direitinho na exata ordem do ABC. Fonte: www.shutterstock.com Gastamos quase a aula inteira só para descobrir que o nome de um colega nosso chamado Pedro da Silva Marins tinha que ficar na frente do nome de outro colega que — imaginem só! — chamava-se Pedro da Silva Martins. Em compensação ficamos craques em dicionários e catálogos.” Os nomes Há muitas possibilidades de atividades com os nomes das crianças, a fim de se chegar a um domínio da ordem alfabética. Você pode, por exemplo, confeccionar crachás, em vez de colar os nomes das crianças em um cartaz. Com crianças pequenas, esta estratégia pode ser interessante para que elas identifiquem as letras dos nomes dos amigos. • Lista pela ordem alfabética • Agenda de telefones • História do nome Fonte: www.shutterstock.com • Significado dos nomes... Descobrir significados: Você sabe o que é: Ereutofobia? E niveal? Bacará? Fonte: www.shutterstock.com Que tal criarmos um dicionário da turma, com os nomes das crianças, relacionando-os em ordem alfabética? A turma poderia propor descrições de natureza física e afetiva sobre os colegas para compor as definições, por exemplo, incorporando etimologia, abreviações e outros conceitos importantes. Ainda Levar para a sala de aula mais de um exemplar de dicionário, de preferência um por grupo. Propor exercícios de observação, por meio dos quais podemos constatar alguns princípios de sua organização: ordem alfabética, verbos no infinitivo, adjetivos não flexionados. Há também algumas abreviaturas que, para um leitor pouco experiente, podem causar confusões ou mesmo desânimo. Por exemplo: s.m. (abreviatura de singular, masculino), Bras. gir. (Brasil, gíria). De início, é importante fixarmos essas noções, visando a um melhor aproveitamento de sua consulta. É importante também mostrar ao aluno que muitos dicionários trazem uma lista que explica as abreviações utilizadas. Outras atividades Jogo de adivinhação: Cada grupo consulta o dicionário e escolhe uma palavra de uso pouco frequente. Em seguida, registra no caderno uma definição extraída do dicionário e uma outra inventada pelo grupo. Então, um grupo lê as duas definições para o outro, que deve dizer qual a definição real e qual a inventada. Afinal, além de consolidar os conceitos trabalhados, os jogos podem tornar as aulas mais alegres e descontraídas. Jogo do começo O (a) professor(a) leva para a classe diversos textos — anúncios, jornais, cartazes e capas de revistas — e solicita aos alunos que encontrem as palavras que começam com a letra A. Os alunos copiam ou recortam e colam as palavras começadas por A, no caderno, e depois colocam em ordem alfabética. Em seguida, o(a) professor(a) pede para encontrarem palavras que começam com a letra M, por exemplo, e assim sucessivamente até completar todo o alfabeto. Fonte: www.shutterstock.com Campeonato de palavras ou caça-palavras O (a) professor(a) distribui diversos textos para os alunos, divididos em grupos, e solicita que eles circulem todas as palavras difíceis. Em seguida, cada grupo vai anotar os vários Fonte: www.shutterstock.com significados propostos para cada uma das palavras circuladas. Depois, os grupos voltam aos textos para discutir qual o significado que se aproxima do contexto em que a palavra foi utilizada. Se houver discordâncias, o problema será resolvido numa plenária maior, com a participação de toda a classe. A reescrita No momento dedicado ao aperfeiçoamento do texto, podemos dividir a turma em grupos e distribuir uma produção diferente para cada um. Um código acertado com a turma — um círculo, por exemplo — indicaria incorreção ortográfica nos textos analisados previamente pelo(a) professor(a). Os grupos teriam um tempo estipulado para conferir a ortografia das palavras circuladas no dicionário e reescrever os textos, focalizando o seu aprimoramento. Outra atividade interessante é refletirmos sobre os textos produzidos, levando-se em conta a adequação vocabular e a necessidade de evitarmos palavras iguais repetidas em um mesmo parágrafo. Então, mais uma vez, podemos recorrer a esse precioso livro. Exemplo da reescrita Aspecto gramatical: 18. Aqui tem um erro de ortografia. 19. Aqui tem um erro de acentuação gráfica. 20. Aqui tem um erro de pontuação. 21. Você não combinou singular/plural, feminino e masculino. Aspecto gramatical 18 18 18 “se poça” “cendo” “opitar” “imcapacidade” “entereces” “escarso” “proficionais” “solidariedários” “retrossesu” “maul” “velhisse” “fultilidaes” “individus” “cirurgir” “costante” “A vida não tem ensaios, Mas tem novas chances!” Elisa Lucinda Profa. Dila Lira