PROPOSTA DE IMPLANTAÇÃO DA “ENFERMEIRA DE LIGAÇÃO

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PROPOSTA DE IMPLANTAÇÃO DA “ENFERMEIRA DE LIGAÇÃO” NO HC/UFPR
Elizabeth Bernardino1
Maria Luíza Hexsel Segui2
O Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (HC/UFPR) é um hospital
público, de ensino e de nível terciário/quaternário que foi inserido à rede do Sistema
Único de Saúde (SUS) pela portaria Interministerial nº 1006/MEC/MS de 27 de maio de
2004 que reorienta e reformula a política para os hospitais de ensino do Ministério da
Educação (MEC). O convênio 15545 celebrado entre a UFPR através do HC/UFPR e o
Município de Curitiba integrou o hospital à rede regionalizada e hierarquizada de
estabelecimentos de saúde que constituem o SUS/Curitiba, de modo a caracterizá-lo
como um pólo de atendimento em saúde garantindo atenção integral, humanizada e de
qualidade, em ação conjunta entre as partes, conforme o Plano de Trabalho 2004/2005.
A integralidade da atenção preconizada pelo SUS, e utilizada pelo hospital como eixo
de gestão, é um argumento que fundamenta o redesenho de equipamentos
integradores que promovam a atenção à saúde e evitem as internações e/ou as rehospitalizações, as quais impactam, significativamente, nos custos da saúde e no
sistema produtivo, de uma maneira geral. No sentido de contribuir com uma nova
estratégia que integre os serviços e promova a integralidade da atenção, o presente
estudo propõe-se a analisar a viabilidade da implantação da “enfermeira de ligação” no
HC/UFPR como uma forma de superar a desarticulação entre o nível de atenção básica
e hospitalar em saúde. A proposta da “enfermeira de ligação” tem inspiração no modelo
canadense iniciado em Montreal, nos anos 60, o qual era, a princípio, uma extensão
dos serviços hospitalares a domicílio, e que progrediu após a necessidade de redução
do tempo de permanência do paciente nas instituições hospitalares. Segundo este
modelo,
1
a função da “enfermeira de ligação” é a identificação da clientela a ser
Doutora em Enfermagem. Professora Adjunta do Curso de Enfermagem da Universidade Tuiuti do Paraná.
Enfermeira do HC/UFPR.
2
Enfermeira. Coordenadora Geral de Enfermagem do HC/UFPR. Hospital de Clínicas da UFPR, rua General
Carneiro, centro. Fone 41 [email protected]
assistida/cuidada e o estabelecimento de um sistema de ligação com os organismos
externos, ou em rede. Também possui um papel de ligação junto aos serviços do
hospital e equipe multiprofissional, além da elaboração, divulgação e atualização dos
protocolos e métodos de cuidados. O modelo canadense continuou e foi aperfeiçoado
e, representa, atualmente, o primeiro recurso para assegurar a continuidade dos
cuidados necessários no fornecimento de condições que garantam a maior autonomia
possível aos indivíduos. Esta pesquisa se caracteriza como uma pesquisa exploratória
cujo cenário são as unidades de internação do HC/UFPR com aproximadamente 600
leitos, localizado na cidade de Curitiba-Pr. Foram excluídos a Unidade de Terapia
Intensiva Neonatal e o Alojamento Conjunto porque possuem um sistema próprio de
acompanhamento pós-alta. O projeto atende as normas da Resolução 196 do Conselho
Nacional de Saúde no que concerne aos aspectos de sigilo dos dados, anonimato dos
participantes e divulgação dos resultados apenas para fins científicos e foi apresentado
e aprovado pelo Comitê de Ética do HC/UFPR prevendo 5 fases. A primeira fase
objetiva identificar os casos de alta hospitalar que requeiram continuidade de cuidados
pela rede de atenção básica; a segunda propõe mapear os serviços onde estes casos
são mais relevantes; a terceira é avaliar os benefícios para os pacientes (uma amostra
de 10 pacientes), a quarta é propor um fluxo de encaminhamento e a quinta e a
elaboração protocolos conjuntos (hospital e rede) de atendimento de enfermagem para
os casos identificados como mais relevantes. A coleta de dados se deu pelo
preenchimento de um formulário de alta, nos quais os enfermeiros chefes da unidade
identificaram os pacientes que necessitavam de acompanhamento pelas Unidades de
saúde da rede. Os enfermeiros selecionavam os pacientes cujos problemas (clínicos
(médicos), de enfermagem ou sociais) exigiam a continuidade de acompanhamento
pelas Unidades de saúde da rede básica. Esta coleta se deu nos meses de agosto e
setembro, caracterizando uma amostra intencional. A análise dos formulários permitiu
atender o primeiro e o segundo objetivos sendo que o terceiro e o quarto ainda estão
em andamento. Ressalta-se que nestes dois meses o hospital apresentou baixo índice
de internações devido a greve dos servidores prejudicando, mas não invalidando, a
coleta de dados. Com relação aos resultados da primeira fase, foram identificados 35
casos que teriam indicação de acompanhamento pós alta, sendo 12 de crianças e 23
de adultos. A amostra se mostrou heterogênea no que concerne a idade das crianças
pois esta variou
de 1 semana a 14 anos. A amostra dos adultos foi mais homogênea
na questão da idade pois 50% tinham mais de 60 anos e os demais variaram entre 18 a
59 anos. O perfil de necessidade de acompanhamento também se mostrou diferente.
No caso das crianças, os enfermeiros não apontaram problemas clínicos para justificar
o acompanhamento pós alta, mas os cuidados de enfermagem e os problemas sociais,
respectivamente. No que concerne aos cuidados de enfermagem ressalta-se os
cuidados com sondas, traqueostomia, gastrostomia, curativos e acompanhamento de
crescimento e desenvolvimento. Nos aspectos sociais a preocupação dos enfermeiros é
com as condições de higiene, dificuldade das mães (emocional, alcoolismo e
drogadição) em cuidar das crianças, maus tratos e condições financeiras das famílias
(algumas no conselho tutelar). O perfil de necessidades dos adultos aponta alguns
problemas
clínicos
como
hipertensão,
diabetes,
anorexia,
HIV
e
problemas
hematológicos. Os problemas de enfermagem mais comuns são os cuidados com
sondas e drenos, dietas, traqueostomia, jejunostomia, controle de peso e de glicemia,
alimentação
e
medicação
(sobretudo
com
os
idosos).
Na
questão
social,
aparentemente os problemas relatados dizem respeito mais aos aspectos de suporte
familiar para o cuidado em domicílio. Com relação a segunda etapa, as clínicas que
mais notificaram foram, para as crianças, a Cirurgia Pediátrica e a Pediatria clínica e, no
caso dos adultos, praticamente todas as clínicas notificaram, com exceção das UTIs,
que não costumam dar alta diretamente para os pacientes. Os resultados parciais
mostraram que há uma demanda de pacientes que precisam ser acompanhados pelas
unidades de saúde da rede básica e que é possível que a “enfermeira de ligação” possa
identificar estes pacientes e referenciá-los para que se dê uma continuidade dos
cuidados prestados no hospital. Atualmente, o projeto está na sua terceira fase e será
apresentado na reunião de contratualização do hospital com o município para análise
de viabilidade. Algumas dúvidas ainda persistem, principalmente no que concerne ao
estabelecimento
do
número
de
profissionais
necessários
e
ao
fluxo
de
encaminhamento. O modelo canadense preconiza 01 enfermeiro a cada 50 leitos.
Serão considerados naturalmente, além do perfil de cuidados, os recursos humanos
disponíveis para este fim. No que concerne aos aspectos metodológicos e
tecnológicos, as dificuldades poderão ser superadas a medida que os profissionais
adquirirem mais experiência neste tipo de atenção. É certo que os desafios serão
imensos mas os benefícios para os pacientes e para o sistema de saúde são muito
grandes além da oportunidade de trabalhar a integralidade dentro de uma perspectiva
mais realista.
Palavras-chave: enfermagem, integralidade, rede de atenção.
Área temática: Instrumento e inovação tecnológica no trabalho da enfermagem
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