Kiambe Kiatunda

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1
“A criança gozará de proteção contra atos
que possam suscitar discriminação racial,
religiosa ou de qualquer outra natureza.
Criar-se-á num ambiente de compreensão,
de tolerância, de amizade entre os povos,
de paz e de fraternidade universal e em
plena consciência de que seu esforço e
aptidão devem ser postos a serviço de
seus semelhantes”.
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(Declaração dos Direitos das Crianças Princípio 10, Assembléia das Nações
Unidas, 20 de novembro de 1959)
3
Non nonon no non no no o
Non nonon no non no
Non nonon no non no no o
Non nonon no non no
Non nonon no non no no o
Non nonon no non no
Non nonon no non no no o
Non nonon no non no
Non nonon no non no no o
Non nonon no non no
Non nonon no non no no o
Non nonon no non no
Non nonon no non no no o
Non nonon no non no
Non nonon no non no no o
Non nonon no non no
Non nonon no non no no o
Non nonon no non no
Non nonon no non no no o
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Non nonon no non no
Non nonon no non no no o
4
Pedimos
licença aos
mais velhos...
...aos mais novos,
e aos que virão.
Ô Dona, Senhora Rezadeira,
Sinhá Dona, Senhora Curandeira
Sabe o segredo das plantas
Que faz saudável esta gente,
Com banho de erva santa,
Resina, casca e semente
Traz mistério nas palavras
Nas orações ancestrais
És minha flor no jardim
Dos seres elementais...
Martônio Holanda, Coco para Rezadeira
Viva toda a molecada
Viva Cosme e Damião
Viva toda esta saúde
Viva a grande perfeição
De ser, amar, crescer,
Multiplicar o grão...
“Pé de Moleque”,Chico
Nogueira
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Ficha Técnica
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A princípio, as ações previstas no projeto não
contemplavam um trabalho realizado diretamente
com as crianças; no entanto, durante a fase de
execução, percebemos que o objetivo do projeto
seria melhor alcançado a partir do aprofundamento
sobre o protagonismo das próprias crianças
quilombolas na atenção à saúde, o que nos fez optar
pela inclusão de uma atividade especificamente
dirigida a elas.
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O trabalho realizado com as crianças dialoga com
a importância ocupada pelas crianças na cultura
de origem africana, visível na comunidade de
Conceição das Crioulas através dos cuidados
dispensados pelos adultos e pela forma coletiva de
se ocupar das crianças. Em nenhum momento, a
presença das crianças nas atividades foi vista com
estranheza, impaciência ou pelos adultos. Elas eram
simplesmente integradas pelos pais, tios, avós;
ocupavam os colos disponíveis, participavam das
atividades possíveis à sua idade (desenhar, cantar).
6
Na mitologia iorubana, os ibêjis são orixás crianças,
reverenciados como representantes da renovação da
vida.
Num tempo muito antigo,
tudo transcorria normalmente
na aldeia. Todos faziam seu
trabalho, as lavouras davam bons frutos, os
animais procriavam, crianças nasciam fortes e
sadias. Mas, de repente, tudo começou a dar errado.
As lavouras ficaram inférteis, as fontes e correntes
de água secaram, tudo que era bicho de criação
definhou. Quase não havia mais o que comer e beber.
No desespero da difícil sobrevivência, as pessoas
se agrediam uma às outras, ninguém se entendia,
qualquer coisa virava uma guerra.
As pessoas começaram a morrer aos montes.
Instalada no povoado, a Morte vivia rondando todos,
especialmente os mais fracos, velhos e doentes.
Na aldeia, morria-se de todas as causas possíveis: de
doenças, de velhice e até mesmo ao nascer. Morriase afogado, por causa de acidentes, por maus tratos
e violência, e também de fome e sede. Mas também
se morria de tristeza, de saudade e de amor. A Morte
fazia o seu grande banquete. Havia luto em todas as
casas. Todas as famílias choravam.
O rei enviou muitos emissários para falarem com a
Morte, que dava sempre a mesma resposta: não fazia
acordos. Ela estava apenas cumprindo seu papel:
destruir um por um, sem piedade. Afinal, a culpa
não era dela; alguém desgovernara o mundo. Se
houvesse alguém forte o suficiente para enfrentá-la,
que tentasse, só que seu fim seria ainda mais sofrido
e penoso.
Mas como também gostava de jogar, a Morte
mandou dizer ao rei que daria uma chance à aldeia.
Foram estas as suas palavras:
“Se alguém daqui me fizer agir contra minha vontade,
eu irei embora.”
Se a Morte fosse contrariada, o feitiço seria
quebrado, explicou a avó de Adetutu. Parecia que a
causa de tantas mortes era mesmo obra de feitiçaria.
Aos mensageiros do rei, a Morte disse ainda que
havia uma condição: quem desejasse enfrentá-la teria
de fazer isso sozinho.Esse era um detalhe importante
para o desencantamento funcionar.
Mas quem se atreveria a enfrentar a Morte? Os mais
bravos guerreiros estavam mortos ou ardiam em
febre em suas últimas horas de vida. Os mais astutos
diplomatas haviam muito tinham partido para outro
mundo.
Foi então que dois meninos, os gêmeos Taió e
Caiandê, resolveram pregar uma peça na Morte e
dar um basta aos seus ataques. Os Ibejis, nome
ioruba que significa gêmeos, pegaram seus tambores
mágicos, que tocavam como ninguém, e saíram a
procura da Morte.
Não foi difícil achá-la numa estrada próxima, por
onde ela perambulava em busca de mais vítima
Não tardou e a Morte foi chegando.
Numa curva do caminho, um dos irmãos soltou do
mato para a estrada a poucos passos da Morte.
Tocava o tambor mágico com ritmo e graça como
nunca tocara antes. Com determinação e prazer, lá foi
o menino estrada afora com o tambor. O outro gêmeo
permaneceu escondido, seguindo o irmão por dentro
do mato.
A Morte se encantou com o ritmo, ensaiou com
passos trôpegos uma dança desengonçada e foi atrás
do tambor, dançando sem parar.
Passou-se uma hora, passou-se outra e mais outra.
O menino não fazia pausa, e a Morte começou a se
cansar. O sol já ia alto, os dois seguiam pela estrada,
e o tambor batucando sem cessar. O dia deu lugar à
noite, e o tambor batucando sem cessar. E assim ia a
coisa, madrugada adentro. O menino tocava, a Morte
dançava. O menino na frente, ligeiro e folgazão,
a Morte atrás, em sua dança patética. Só que ela
estava exausta, não agüentava mais.
enganar a fome comendo as frutinhas silvestres que
restavam. Os gêmeos se revezavam, e o tambor não
parava um minuto sequer. Mas a Morte, coitada, não
tinha substituto, não podia descansar, mal conseguia
respirar. Nem suspeitava do ardil dos gêmeos.
E assim foi, por dias e dias. Por fim, não agüentando
mais, a Morte gritou.
“Pare com esse tambor maldito, e eu faço qualquer
coisa que me pedir.”
O menino virou para trás e disse:
“Pare de tocar, menino, vamos descansar um pouco”,
ela pediu mais de uma vez.
“Pois então vá embora e deixe minha aldeia em paz.”
Ele não parava.
O menino parou de tocar e ouviu a Morte se lamentar:
“Pare essa porcaria de tambor, moleque, ou vai me
pagar com a vida agora mesmo”, ela ameaçou mais
de uma vez.
“Ah! Que fracasso, o meu. Vencida por um pirralho.
Eu me odeio. Eu me odeio.”
Ele não parava.
“Pare que eu não suporto mais”, implorou a morte
repetidas vezes.
O menino não parava.
Taió e Caiandê eram gêmeos idênticos. Ninguém
sabia diferenciar um do outro, muito menos a Morte,
que sempre foi cega e burra. Pois bem, o moleque
que a Morte via tocando na estrada sem parar não
era sempre o mesmo. Enquanto um irmão tocava,
o outro seguia por dentro do mato, sem se deixar
ver. Passada uma hora, trocavam de posição, se
aproveitando de uma curva da estrada, com cuidado
para a Morte não perceber nada. No mato, o irmão
que descansava podia fazer suas necessidades,
beber a água depositada nas folhas dos arbustos e
“Aceito”, ela berrou, e depois vomitou na estrada.
Então a Morte se virou e foi embora para longe do
povoado.
Tocando e dançando, os gêmeos
foram levar a boa-nova à aldeia, onde foram
recebidos com festas de agradecimento.
Muitas homenagens foram feitas aos valentes Ibejis.
E em pouco tempo a vida normal voltou a reina no
povoado, a saúde retornou às casas, e a alegria
reapareceu nas ruas.
Mais tarde, quando chegou a hora de Taió e Caiandê
morrerem, a Morte não veio buscá-los. E assim os
gêmeos, os Ibejis, foram transformados em orixás,
e desde então as crianças têm no Céu alguém para
zelar por elas.
Fonte: Contos e Lendas Afro-brasileiros: a Criação do Mundo,
Reginaldo Prandi – Cia. Das Letras, pág.118-129.
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Apresentação
Kiambe Kiatunda (energia vital) – Crianças em
harmonia com a natureza, a ancestralidade e a
saúde é um produto das Oficinas realizadas com as
crianças da Comunidade Quilombola de Conceição
das Crioulas, em Salgueiro, Pernambuco, durante
a execução do projeto Promovendo Direitos das
Crianças Quilombolas e suas Famílias.
7
A metodologia desenvolvida para o trabalho com as
crianças visa atender a uma demanda evidenciada na
consulta à comunidade, durante a primeira oficina
realizada, a Oficina de Identificação de Perfil:
Como preservar os nossos conhecimentos
tradicionais em promoção da saúde?
8
A partir desta constatação, desenvolvemos uma
metodologia que visa contribuir para a potencialização
deste conhecimento, buscando tanto a sua
preservação para as futuras gerações
quanto o desenvolvimento deste saber, à
medida que ele passe a constituir um
elemento valorizado pelas crianças
– atuais depositárias do futuro
do conhecimento tradicional da
comunidade.
Conscientes que o conhecimento
tradicional tem suas raízes no
saber trazido pelos ancestrais
africanos e repassado de geração
em geração, a metodologia
desenvolvida encontra
sua referência nos Valores
Civilizatórios Afro Brasileiros:
Circularidade – utilização da
roda como elemento agregador,
presente nas dinâmicas e
brincadeiras;
“Ao destacarmos a expressão valores
civilizatórios afrobrasileiros, temos
a intenção de destacar a África, na sua
diversidade, e que os africanos e africa nas
trazidos ou vindos para o Brasil e seus e
suas descendentes brasileiras implantaram,
marcaram, instituíram valores civilizatórios
neste país de dimensões continentais, que é
o Brasil. Valores inscritos na nossa memória,
no nosso modo de ser, na nossa música, na
nossa literatura, na nossa ciência, arquitetura,
gastronomia, religião, na nossa pele, no
nosso coração. A África e seus descendentes
imprimiram e imprimem no Brasil valores
civilizatórios ou seja, princípios e normas
que corporificam um conjunto de aspectos
e características existenciais, espirituais,
intelectuais e materiais, objetivas e subjetivas,
que se constituíram e se constituem num
processo histórico, social e cultural. E apesar
do racismo, das injustiças e desigualdades
sociais, essa população afrodescendente
sempre afirmou a vida e, conseqüentemente,
constitui o/s modo/os de sermos brasileiros e
brasileiras”.
Azoilda Loretto da Trindade,
Valores Civilizatórios Afro-Brasileiros na Educação Infantil
Religiosidade – explicitada
no respeito à vida (não
relacionado às religiões);
Corporeidade – respeito e
diálogo com o corpo, através
do movimento;
Musicalidade – utilização da
música como recurso ampliador e
condutor da sensibilidade;
Cooperativismo/comunitarismo – elemento valorizado nas
brincadeiras e nos trabalhos;
Ancestralidade – trazendo o conhecimento tradicional, aprendido dos
mais velhos, como centralidade do trabalho desenvolvido;
Memória – buscando avivar a africanidade, como instrumento de
fortalecimento individual e coletivo contra o racismo;
Ludicidade – utilizando os jogos e brincadeiras como instrumentos de
aprendizado;
Energia vital (Axé) – incentivando a vontade de viver e aprender;
Oralidade – utilizando a fala como principal forma de transmissão de
conhecimentos, presente na contação de historias, nas músicas e na
valorização do uso da palavra pelas crianças.
res
valo
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A pergunta formulada pelas lideranças e adultos
da comunidadde evidencia a tensão causada pelo
confronto entre a necessidade de acesso a políticas
públicas de saúde que incluam o atendimento
médico de qualidade e a presença de equipamentos
sanitários no território e a necessidade de
preservação da identidade quilombola, presente
nos conhecimentos tradicionais de promoção de
saúde herdados dos mais velhos e identificados nos
saberes das/os parteiras/os e benzedeiras/os.
A participação voluntária e significativa das crianças
de Conceição das Crioulas nas atividades iniciais
do projeto mostrou que as elas já detêm uma parte
significativa deste conhecimento pela vivência
prática, uma vez que são as crianças os principais
destinatários dos cuidados tradicionais em
promoção da saúde através da utilização das ervas e
das rezas.
civ
iliza
tórios afro
brasileiros
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Metodologia
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Auto-identificação e auto-referenciamento
quanto à família e à comunidade
Família - Através de desenhos, pedimos às crianças que representassem a si mesmas e às suas
famílias, que nos contassem sobre a comunidade de
Conceição das Crioulas. Os desenhos mostram que
as crianças identificam-se de forma positiva como
membros de uma família extensa (que inclui tios,
tias, avós, primos e primas). A unidade familiar e
de objetivos aparece sob a form a das mãos dadas,
homens, mulheres e crianças que caminham numa
mesma direção. O amor entre as pessoas aparece
simbolizado na forma do coração.
Percebe-se uma forte ligação com a natureza, com
a terra, representado pelas nuvens, sol, plantas e
paisagens como referencia ao ambiente que no entorno de seu lar. Os desenhos demonstram uma forte
relação entre vida e natureza. São desenhos alegres,
coloridos, demonstrando o bem estar com a família e
com o lugar em que vivem.
Comunidade - Os desenhos sobre a comunidade
revelam uma percepção afinada com os eixos centrais de mobilização da luta quilombola, centrando-se
na consciência do território como um pertencimento
comum. A comunidade de Conceição das Crioulas é
representada pelas crianças a partir de componentes
característicos da região como: paisagem com a natureza presente; estradas que ligam um canto a outro
da comunidade; numerosas habitações próximas
umas das outras e a valorização da cultura local.
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Percebe-se o componente histórico presente nestas
produções, demonstrando que o passado está vivo e
presente em suas vidas. Como também está presente
o sonho da comunidade no futuro.
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Pesquisa e classificação (taxonomia) de plantas medicinais utilizadas na comunidade
valorizando o conhecimento das crianças sobre as
plantas e seu uso.
Os desenhos e a taxonomia das plantas utilizadas
para curar e para benzer demonstram um vasto
conhecimento das crianças de ambos os sexos,
independente da idade, sobre sintomas, manipulação
e uso. Apresentam um grande número de plantas
disponíveis na região, muitas delas podendo ser utilizada para tratar vários sintomas. Tal conhecimento
revela a presença do uso das plantas tradicionais na
cultura familiar.
Família
“A criança precisa de amor e compreensão para o pleno e harmonioso desenvolvimento
da sua personalidade. Na medida do possível, deverá crescer com os cuidados e sob a
responsabilidade dos seus pais e, em qualquer caso, num ambiente de afecto e segurança
moral e material; salvo em circunstâncias excepcionais, a criança de tenra idade não deve
ser separada da sua mãe. A sociedade e as autoridades públicas têm o dever de cuidar
especialmente das crianças sem família e das que careçam de meios de subsistência. Para a
manutenção dos filhos de famílias numerosas é conveniente a atribuição de subsídios estatais
ou outra assistência”.
(Declaração dos Direitos das Crianças - Princípio 6º, Assembléia das Nações Unidas, 20 de novembro de 1959)
Incentivo à brincadeira
visando desenvolver espaços de diálogos entre
as famílias e lideranças da comunidade com suas
crianças, com a utilização de meios tradicionalmente
empregados na comunidade (contação de estórias,
passeios, brincadeiras) para repassar valores aos
mais novos.
O produto deste trabalho será apresentado a seguir,
nos desenhos e material produzido pelas crianças.
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O trabalho com as crianças se desenvolveu em três
partes:
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Patrícia, 8 anos
Thais, 12 anos
Micheli, 12 anos
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Michel, 3 anos
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Comunidade
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Girlene, 9 anos
(Convenção pelos Direitos das Crianças – Art. 30,
Assembléia Geral das Nações Unidas, em 20 de
novembro de 1989 - ratificada pelo Brasil em 20 de
setembro e 1990.)
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“Nos Estados em que existam minorias
étnicas, religiosas ou linguísticas ou pessoas
de origem indígena, nenhuma criança
indígena ou que pertença a uma dessas
minorias poderá ser privada do direito de,
conjuntamente com membros do seu grupo,
ter a sua própria vida cultural, professar e
praticar a sua própria religião ou utilizar a sua
própria língua.”.
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Mapa da Comunidade
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Valores naturais
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Sítio Paula
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Visão de futuro: preservação do açude, transporte escolar digno, escola digna.
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Uso das
plantas
tradicionais
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Promoção da saúde
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Mastruz
Alecrim
Rosmarinus officinalis
O que as crianças dizem
O que as crianças dizem
Serve para tosse
(Micheli Vivia)
Serve para verme (Cíntia)
Parecer Técnico
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Mastruz é o nome genérico, popular,
dado a um conjunto de plantas
diversas. O seu nome provém do latim
nasturtium (das palavras nasus, nariz
e torquere, torcer - fazendo referência
ao cheiro desagradável que exalam,
fazendo “torcer o nariz”).
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É um excelente vermicida, porém
não deve ser usado por gestantes
por ser abortivo. A planta tem toxicidade elevada, contra indicando
seu uso em crianças menores de
dois anos. Em crianças maiores
e adultos, não deve ser tomado
por mais de sete dias, e só deve
se repetir depois de três a quatro
semanas.
É um arbusto comum na região do
Mediterrâneo ocorrendo dos 0 a 1500
m de altitude, preferencialmente em
solos de origem calcária. Devido ao
seu aroma característico, os romanos
designavam-no como rosmarinus, que
em latim significa orvalho do mar.
Como qualquer outro nome vernáculo,
o nome alecrim é por vezes usado para
referir outras espécies, nomeadamente
o rosmaninho, que possui exactamente
o étimo rosmarinus. No entanto
estas espécies de plantas, alecrim
e rosmaninho, pertencem a dois
géneros distintos, Rosmarinus e
Lavandula, respectivamente, e as suas
morfologias denotam diferenças entre
as duas espécies, em particular, a
forma, coloração e inserção da flor.
É correta a indicação de uso
para problemas do aparelho
respiratório. O alecrim, além
de pertencer ao grupo das
aromáticas, tendo seus óleos
essenciais aplicação como
fluidificantes de secreções, é
uma planta com propriedades
tônicas, promovendo uma melhor
circulação das energias, trazendo
melhoras no estado geral do
indivíduo.
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Parecer Técnico
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Aroeira
Hortelã
Schinus terebinthifolia Raddi
Mentha spicata
O que as crianças dizem
O que as crianças dizem
Serve para dor de barriga
(Josilene)
serve para dor de ouvido
(Micheli Vivia)
Parecer Técnico
24
O seu uso em casos de
inflamação e infecção é
referendado por seu uma
planta riquíssima em taninos –
substância largamente pesquisada
em todo o mundo por suas
propriedades antiinflamatórias,
hemostáticas e cicatrizantes.
Também conhecida como hortelãdas-hortas, hortelã-comum, hortelãdas-cozinhas, hortelã-dos-temperos
ou simplesmente hortelã, é uma
planta herbácea perene, da família
Lamiaceae (Labiadas), atingindo 30100 cm. Existem inúmeras variedades
cultivadas.
É uma planta originária da Ásia,
mas há muito cultivada em todo
o mundo, devido às essências
aromáticas presentes em toda a planta,
principalmente nas folhas. Tolera bem
muitas condições climatéricas, desde
que não falte água.
Temos várias plantas denominadas hortelã. A chamada
hortelã graúda tem, realmente,
a propriedade de trazer alívio
para dores de ouvido. Mas não
deve ser introduzida no orifício
auricular. Deve-se simplesmente
“tapar” o ouvido com algodão
molhado no sumo da planta.
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Muitas espécies no Brasil são
conhecidas como Aroeira. A Schinus
terebinthifolia Raddi é nativa de várias
formações vegetais do nordeste,
centro-oeste, sudeste e sul do Brasil.
É conhecida com os seguintes
nomes populares: Aroeira brasileira,
Aroeira vermelha, Aroeira mansa,
Cabuy, Cambuy, Fruto-de-sabiá,
Aguaraíba, Aroeira da praia, Aroeira do
brejo, Aroeira-pimenteira, Bálsamo ,
Corneíba, Aroeira do Paraná, Aroeira
do sertão.
O uso dos frutos, como digestivo,
é uma bela constatação do que
o povo, na sua simplicidade,
percebe na natureza à sua volta.
Os frutos da aroeira são o que os
gourmets denominam “pimenta
rosa”. Como tantas outras
substâncias utilizadas como
tempero, esta é um digestivo
excelente.
Parecer Técnico
25
Amburana cearensis (Allemao) A. C. Sm.
O que as crianças dizem
Macela
Achyrocline satureioides
O que as crianças dizem
Serve para lavar a cabeça
quando se está gripado (Yara)
serve para dor de barriga/gripe
(Júlia)
Parecer Técnico
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Falta texto
26
Excelente medicamento, rico
em cumarinas, substâncias com
largo emprego em casos de gripe
e tosse.
Parecer Técnico
A macela (Achyrocline satureioides)
é uma erva da flora brasileira também
conhecida por macela-do-campo,
macelinha, macela de travesseiro,
carrapichinho-de-agulha, camomila
nacional etc. Popularmente, em
algumas regiões, é incorretamente
chamada de “marcela”.
É um arbusto perene que atinge cerca
de um metro de altura. As flores são
amarelas, com cerca de um centímetro
de diâmetro, florescendo em pequenos
cachos. As folhas são finas e de cor
verde-claro, meio acinzentada, que
se destaca do restante da vegetação
do campo. No Nordeste elas florecem
em setembro e geralmente são
indicadoras de solos acidificados e
degradados.
Alivia cólicas menstruais e
dor de cabeça porque além
de ser vasodilatador tem
efeito calmante. Com relação
ao uso em casos de diarréia,
desconheço, além de não
encontrar nenhuma justificativa
para esse uso.
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Imburana
27
Romã
Oliveira
Punica granatum
Olea europaea
O que as crianças dizem
O que as crianças dizem
Serve para dor de cabeça. Usa-se
colocando a folha direto na cabeça
prendendo com um pano. (Mª do
Socorro de Nize Lira)
serve para garganta inflamada
(Cíntia).
Parecer Técnico
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Segundo pesquisadores russos, a
romãzeira provém do centro do Oriente
Próximo, que inclui o interior da Ásia
Menor, a Transcaucásia, o Irã e as
terras altas do Turcomenistão.
28
Também rica em taninos, o
que valida sua indicação para
inflamações de garganta, em
gargarejos.
São árvores baixas de tronco retorcido
nativas da parte oriental do Mar
Mediterrâneo. De seus frutos, as
azeitonas, os homens no final do
período neolítico aprenderam a extrair
o azeite. Este óleo era empregado
como unguento, combustível ou
na alimentação, e por todas estas
utilidades, tornou-se uma árvore
venerada por diversos povos.
A civilização minoana, que floresceu na
Ilha de Creta até 1500 a.C., prosperou
com o comércio do azeite de oliva, que
eles primeiro aprenderam a cultivar. Já
os gregos, que possivelmente herdaram
as técnicas de cultivo da oliveira dos
Minóicos, associavam a árvore à força
e à vida. A oliveira é também citada
na Bíblia em vários passagens, tanto a
árvore como seus produtos
As crianças referem o uso igual
ao da mamona, prendendo-se
as folhas na testa, para dor de
cabeça. É uma boa maneira
de aliviar a dor sem que seja
necessário ingerir nada.
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A romã é o fruto da romãzeira (Punica
granatum). O seu interior é subdividido
por finas películas, que formam
pequenas sementes possuidoras de
uma polpa comestível.
Parecer Técnico
29
Babosa
Mussambê
Aloe vera
Cleome spinosaJacq
O que as crianças dizem
O que as crianças dizem
serve para dor de ouvido
(Adne Adalmir).
Falta texto
O que as crianças dizem
Parecer Técnico
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A Aloe vera, conhecida popularmente
no Brasil como babosa e em Portugal
como aloés, é uma espécie de planta do
género Aloe, nativa do norte de África.
Encontram-se catalogadas mais de
200 espécies de Aloe. Deste universo,
apenas 4 espécies são seguras para
uso em seres humanos, dentre as quais
destacam-se a Aloe arborensis e a Aloe
barbadensis Miller, sendo esta última
reconhecida como a espécie de maior
concentração de nutrientes no gel da
folha.
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Aloe barbadensis é conhecido como
Aloe vera (do latim vera, “verdadeira”)
ou aloés, tem um aspecto de um cacto
de cor verde, mas este pertence à
família dos lírios. Esta planta por dentro
tem um líquido viscoso e macio.
O uso para hemorragia deve-se
à alta concentração de taninos
da planta. Mas só deve ser
utilizada em casos de hemorragia
externas, em casos provocados
por ferimentos. O uso interno
deve ser evitado, já que a dose
tóxica é muito próxima da dose
terapêutica, além de ser um
laxante drástico.
Conhecido também como cleome,
sete-marias, planta-aranha, mussambêfedorento, beijo-fedorento o mussambê
é uma planta da família da Cleomaceae.
É um arbusto semi-herbáceo e muito
florífero, de ramagem ereta, ramificada
e espinhenta, que pode alcançar de
0,6 a 1,5 metros de altura. Suas folhas
palmadas são compostas por cinco
folíolos cada. Estes folíolos apresentam
textura rugosa e membranácea, e
exalam um cheiro forte característico.
As delicadas inflorescências terminais,
despontam na primavera e no verão.
Elas apresentam formato globoso e
são compostas por flores de coloração
rósea, branca ou creme, com longos
estames. Atualmente ocorrem variedades
de diversas tonalidades de rosa, desde o
rosa pink até o rosa bebê.
Não entendo de reza. Sei que
é uma planta que se oferece
a Iemanjá em rituais. Como
fitoterápico conheço o uso em
dores de ouvido. Amassa umas
folhas e tapa o ouvido com
elas. Faz uma aplicação antes
de dormir durante tres dias.
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Parecer Técnico
31
Malva
Papaconha
Malva Silvestris
Cephaelis ipecacuanha
O que as crianças dizem
Falta foto
Parecer Técnico
Parecer Técnico
| Kiambe Kiatunda
Malva L. é um género botânico, bem
como o nome vulgar de diversas
espécies de plantas herbáceas da
família Malvaceae. O género distribuise geograficamente pelas regiões
tropicais, subtropicais e temperadas de
África, Ásia e Europa. As suas folhas
são alternadas, lobadas e palmadas.
As flores medem de meio a 5 cm, com
cinco pétalas rosa ou brancas.
32
serve para ajudar a nascer os
dentes das crianças (Cíntia).
usa-se para febre. Também é
refrescante, trazendo alívio.
Prefiro a denominação Pepaconha por ser mais conhecida. É
usada, sabiamente, para facilitar
a primeira dentição.
Falta texto
| Kiambe Kiatunda
serve para febre. Usa-se o
lambedor (Micheli Vivia)
O que as crianças dizem
33
Juá
Mameleiro
Ziziphus joazeiro Mart.
Falta Nome
O que as crianças dizem
serve para gastura (Cíntia).
Falta foto
Parecer Técnico
Parecer Técnico
O Juazeiro (Ziziphus joazeiro Mart.;
Rhamnaceae), também conhecido por
joá, larajeira-de-vaqueiro, juá-fruta, juá
e juá-espinho, é uma árvore típica do
Nordeste brasileiro.
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Seus frutos, do tamanho de uma
cereja, são comestíveis e utilizados
para fazer geléias, além de possuírem
uma casca rica em saponina (usada
para fazer sabão e produtos de
limpeza para os dentes). São também
utilizados na alimentação do gado na
época seca.
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A referência do uso “para
ferida na cabeça” é correta, o
juá serve para caspa e seborréia. É antiinflamatório e, por
ser rico em saponinas, serve
bem para higiene do couro
cabeludo e, sob a forma de
pó, pode também ser utilizado
para escovação dos dentes.
Planta muito comum no interior do nosso estado, tem seu
uso para alívio em casos de
azias com bons resultados.
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Cinthia - 8 anos
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serve para ferida na cabeça.
Usa-se a raspa em um pano
(Cíntia).
O que as crianças dizem
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Mamona
Pinhão Roxo
Ricinus communis L.
Jatropha gossypiifolia L.
O que as crianças dizem
O que as crianças dizem
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serve para ferida de boca.
Usa-se machucando a folha
e pingando o sumo direto na
ferida (Josivânia)
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Mamona é a semente da mamoneira
(Ricinus communis L.), uma euforbiácea.
Recebe outras designações, conforme
a região: no Nordeste brasileiro,
carrapateira; em algumas regiões da
África, é abelmeluco; na língua inglesa,
como castor bean. O seu principal
produto derivado é o óleo de mamona,
também chamado óleo de rícino.
Embora seja usado na medicina popular
como purgativo este óleo possui largo
emprego na industria química devido a
uma característica peculiar: possui uma
hidroxila (OH) ligada na cadeia de carbono.
Não existe outro óleo vegetal produzido
comercialmente com esta propriedade.
Isto lhe confere uma alta viscosidade e
solubilidade em álcool a baixa temperatura.
Pode também ser utilizado como matéria
prima para o biodiesel.
Parecer Técnico
Usam-se, com sucesso, as folhas presas na testa para aliviar
dores de cabeça. É refrescante.
Foi citado para ferimentos na
boca. Desconheço esse uso, e
acho bem perigoso, porque é
muito cáustico e tóxico.
Falta texto
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Parecer Técnico
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Papaconha – serve para ajudar a nascer os dentes
das crianças (Cíntia).
Oliveira – serve para dor de cabeça. Usa-se
colocando a folha direto na cabeça prendendo com
um pano. (Mª do Socorro de Nize Lira)
Juá – serve para ferida na cabeça. Usa-se a raspa
em um pano (Cíntia).
Macela – serve para dor de barriga/gripe (Júlia)
Mastruz – serve para verme (Cíntia).
Hortelã – serve para dor de ouvido (Micheli Vivia)
Frutos da Aroeira – serve para dor de barriga
(Josilene)
Pimenta – serve para cabeça de prego, ajudando a
sair o carnegão. Usa-se a folha colocando direto na
ferida (Girlene).
Malva Santa – serve para febre. Usa-se o lambedor
(Micheli Vivia)
Imburana de Cheiro – serve para lavar a cabeça
quando se está gripado (Yara)
Pinhão Roxo – serve para ferida de boca. Usa-se
machucando a folha e pingando o sumo direto na
ferida (Josivânia)
Melãozinho – serve para curar ferida. Usa-se
molhando a folha e colocando direto na ferida
(Maycon).
Mussambê – serve para dor de ouvido (Adne
Adalmir).
Mastruz – serve para verme (Cíntia).
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Casca de Romã – serve para garganta inflamada
(Cíntia).
Mameleiro maduro – serve para gastura (Cíntia).
Plantas usadas para cura de doenças também através
da reza:
Mussambê – serve para dor de ouvido (Kaline Myria
de Souza)
Pião Roxo – serve para ferida de boca (Daniela)
Obs. Algumas crianças possuem o conhecimento
de como preparar a erva para a cura do problema de
saúde a que se destina.
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Alecrim – serve para tosse (Micheli Vivia)
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Mamoeiro – serve para dor de barriga (Yara).
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...e para quem quiser recomeçar esta história
com outra comunidade quilombola, saiba que
aprendemos um tanto com as crianças de Conceição
das Crioulas.
Em primeiro lugar, aprendemos que as crianças,
como principal sujeito do projeto Promovendo
Direitos das Crianças Quilombolas e suas Famílias
têm muito, mas muito mesmo, a dizer sobre como
cuidar da saúde. Se, por uma necessidade ou uma
hipótese (dessas bem hipotéticas) todos os adultos
precisassem se ausentar de Conceição das Crioulas,
as crianças saberiam perfeitamente como se curar
das doenças comuns de sua idade: dor de dente, dor
de barriga, resfriado, dor de cabeça, febre. Também
saberiam cuidar do dentinho nascendo nas crianças
menores. Algumas dessas crianças aprenderam a
rezar com os mais velhos: a avó, o avô, a mãe, o pai.
As crianças de Conceição das Crioulas não têm
dificuldade em se identificarem como quilombolas.
Isto porque sua identidade maior é como membro
de suas famílias: uma família extensa, que inclui,
além de pai, mãe, irmãos e irmãs, também tios, tias,
...
avôs, avós, primos, primas – às vezes sob o mesmo
teto. E às vezes na casa vizinha, ou a algumas casas
de distância. Não importa: elas têm o sentimento
que toda a comunidade pertence à mesma família.
E da mesma forma que outras mães e outros pais
se responsabilizam por elas, elas também se
responsabilizam, cuidam, se importam com as outras
crianças da mesma idade, mais velhas, mais novas.
Seus desenhos sobre a família mostram a felicidade
e a segurança que esta família extendida proporciona.
Também aprendemos com as crianças a importância
da terra comum a esta grande família. É na terra que
estão as esperanças da comunidade, e as crianças já
sabem expressar este valor em sua vivência. Afinal,
foi por insistência delas que fomos conhecer os
valores naturais da comunidade: o açude, a Pedra
Preta, a Pedra da Mão. As crianças nos levaram
para colher mussambê, uma das tantas plantas que
curam. Elas também nos mostraram onde encontrar
o pinhão roxo, o alecrim, a hortelã, a oliveira. Foram
elas que nos mostraram, com o seu domínio sobre
este conhecimento, que
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Cidreira – serve para abrir o apetite. Usa-se o chá
(Daniel de Oliveira)
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Conhecimento das
crianças sobre
o uso de plantas
medicinais
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O observatório Negro enviou um material para parecer técnico de Fitoterapia, contendo desenhos e lista de
plantas, folhas e frutos utilizadas para curar diversos tipos de doenças, descritas por crianças e adultos da
comunidade de Conceição das Crioulas – Salgueiro /PE.
Abaixo analiso todo material enviado.
Alecrim - É correta a indicação de uso para problemas do aparelho respiratório. O alecrim, além de pertencer ao grupo
das aromáticas, tendo seus óleos essenciais aplicação como fluidificantes de secreções, é uma planta com propriedades
tônicas, promovendo uma melhor circulação das energias, trazendo melhoras no estado geral do indivíduo.
Alfazema - Para dor de cabeça, é interessante, porque é uma planta refrescante, além de aromática.
Ameixa - O uso para garganta inflamada é interessante, se houver presença de tosse, já que o chá e o lambedor de ameixa
são calmantes da tosse. Mas a maior indicação da ameixa é em casos de constipação intestinal. Talvez por isso, tenha sido
citada para casos de inflamação, já que a constipação deixa o organismo presa de elementos tóxicos, o que contribui para o
agravamento do problema.
Aroeira - O uso dos frutos, como digestivo, é uma bela constatação do que o povo, na sua simplicidade, percebe na
natureza à sua volta. Os frutos da aroeira são o que os gourmets denominam “pimenta rosa”. Como tantas outras substâncias
utilizadas como tempero, esta é um digestivo excelente.
O seu uso em casos de inflamação e infecção é referendado por seu uma planta riquíssima em taninos – substância
largamente pesquisada em todo o mundo por suas propriedades antiinflamatórias, hemostáticas e cicatrizantes.
Babosa – O uso para hemorragia deve-se à alta concentração de taninos da planta. Mas só deve ser utilizada em casos
de hemorragia externas, em casos provocados por ferimentos. O uso interno deve ser evitado, já que a dose tóxica é muito
próxima da dose terapêutica, além de ser um laxante drástico.
Banha de tiú – Essa é a maneira que o grupo em estudo se refere ao tejú, lagarto encontrado naquela região.
Este é um animal que é consumido como alimento. Acontece que, por estar ameaçado de extinção, seu uso não deve
ser estimulado.
Berinjela – Os entrevistados referem o seu uso em casos de “disenteria”. Desconheço essa indicação. Como esse fruto é
adstringente (trava na língua), pode ser que promova uma melhora.
Beterraba – Esse é um alimento rico em ferro, desde que seja preservada a casca. Nesse caso, vai contribuir para melhora.
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Cajueiro – Assim como a aroeira, é rico em taninos. Portanto, também tem sua indicação referendada.
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Cansação – É uma planta que promove uma “limpeza” no organismo, por ser depurativo. Como na fase da primeira
dentição a criança se encontra com as defesas baixas, esse tipo de planta faz com que ela atravesse esse momento mais
facilmente.
Catingueira - A catingueira faz parte de uma família botânica que tem outras plantas que são utilizadas para
problemas intestinais. Por isso, acredito que proceda a informação.
Endro – O uso da planta em casos de febre está correto.
Eucalipto – O chá dessa planta não deve ser utilizado em preparações para uso interno. Em casos de febre em
crianças, deve-se fazer um chá e usar em banho de imersão com temperatura tépida.. Em adultos, o vapor é
interessante.
Feijão – Pode ser adicionado à dieta, não apenas na forma de caldo, conforme foi citado. Por ser rico em ferro, vai
auxiliar na reversão de quadros de anemia.
Gergelim - O gergelim é contra indicado, já que é rico em cálcio, elemento que compete com o ferro,
comprometendo a absorção.
Hortelã - Temos várias plantas denominadas hortelã. A chamada hortelã graúda tem, realmente, a propriedade de
trazer alívio para dores de ouvido. Mas não deve ser introduzida no orifício auricular. Deve-se simplesmente “tapar” o
ouvido com algodão molhado no sumo da planta.
Imbira – Desde que não seja ingerida, no uso em hemorragias na pele, está bem.
Imburana – Excelente medicamento, rico em cumarinas, substâncias com largo emprego em casos de gripe e tosse.
Jatobá – Pode ser utilizado em casos de anemia, porque é estimulante do apetite. Como associado à anemia é
comum a inapetência, funciona como coadjuvante.
Juá – A referência do uso “para ferida na cabeça” é correta, o juá serve para caspa e seborréia. É antiinflamatório
e, por ser rico em saponinas, serve bem para higiene do couro cabeludo e, sob a forma de pó, pode também ser
utilizado para escovação dos dentes.
Macela – Alivia cólicas menstruais e dor de cabeça porque além de ser vasodilatador tem efeito calmante. Com
relação ao uso em casos de diarréia, desconheço, além de não encontrar nenhuma justificativa para esse uso.
Malva – usa-se para febre. Também é refrescante, trazendo alívio.
Mamona - Usam-se, com sucesso, as folhas presas na testa para aliviar dores de cabeça. É refrescante.
Mameleiro - Planta muito comum no interior do nosso estado, tem seu uso para alívio em casos de azias com bons
resultados.
Mastruz – É um excelente vermicida, porém não deve ser usado por gestantes por ser abortivo. A planta tem
toxicidade elevada, contra indicando seu uso em crianças menores de dois anos. Em crianças maiores e adultos, não
deve ser tomado por mais de sete dias, e só deve se repetir depois de três a quatro semanas.
Melancia – O uso do chá feito com as sementes de melancia é um recurso interessante.
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PARECER TÉCNICO DE FITOTERAPIA
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Mussambê - Não entendo de reza. Sei que é uma planta que se oferece a Iemanjá em rituais. Como fitoterápico conheço
o uso em dores de ouvido. Amassa umas folhas e tapa o ouvido com elas. Faz uma aplicação antes de dormir durante tres
dias.
Noz Moscada - O chá de noz moscada não é aconselhavel, porque contém uma toxicidade, só devendo ser usada em
pequenas quantidades, como em preparações culinárias.
Oliveira – As crianças referem o uso igual ao da mamona, prendendo-se as folhas na testa, para dor de cabeça. É uma
boa maneira de aliviar a dor sem que seja necessário ingerir nada.
Papaconha – Prefiro a denominação Pepaconha por ser mais conhecida. É usada, sabiamente, para facilitar a primeira
dentição.
Pinhão Roxo – Foi citado para ferimentos na boca. Desconheço esse uso, e acho bem perigoso, porque é muito cáustico
e tóxico.
Quipá – Não conheço essa planta, não podendo opinar quanto ao seu uso.
Quixabeira –O seu uso é bastante interessante no caso de inflamação de garganta, pelo seu alto teor de taninos.
Romã – Também rica em taninos, o que valida sua indicação para inflamações de garganta, em gargarejos.
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Recife, 14 de Novembro de 2009.
MARIA INÊS MOREIRA DE MELO
Farmacêutica industrial, fitoterapeuta e homeopata.
CRF - 0791
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Urtiga – Geralmente, quando a criança está nessa fase, apresenta uma série de problemas relacionados a deficiência
imunológica. No entender das terapias naturais, de uma maneira geral, a saída dos dentes exige um esforço grande
do organismo, requer muita “força”. Na interpretação popular, a criança está “reimosa”, ou com o sangue “reimoso”.
Na indicação da pessoa entrevistada, consta esta planta, um fitoterápico que proporciona aumento da função renal,
“limpando” o organismo.
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