UNISUZ

Propaganda
UNISUZ
CURSO DE DIREITO
ANTROPOLOGIA JURÍDICA
PROFA. DRA. RENATA PLAZA TEIXEIRA
TEMA DA AULA: “CAMPOS DE ESTUDO DA ANTROPOLOGIA”
DIFERENÇAS ENTRE ETNOLOGIA E ANTROPOLOGIA
 A ETNOLOGIA estuda a CULTURA DAS ETNIAS HUMANAS.
 O termo ETNOLOGIA é mais utilizado pelos franceses como sinônimo de Antropologia. Nos países anglosaxônicos, por outro lado, utiliza-se o termo Antropologia para designar o estudo da cultura ampla do ser
humano.
 O termo ANTROPOLOGIA SOCIAL, empregado pelos britânicos, tem por objeto de estudo as instituições
sociais, desde as mais antigas até as modernas.
 Já o termo ANTROPOLOGIA CULTURAL, utilizado pelos estadunidenses, refere-se ao estudo dos
comportamentos humanos nas sociedades ditas simples e complexas.
Para Lévi-Strauss:
 ETNOGRAFIA: é a coleta direta e minuciosa dos fenômenos observados em um povo, grupo social etc. por
anotações, gravações, fotografias ou filmagens.
 ETNOLOGIA: consiste em um primeiro nível de abstração, no qual analisam-se os materiais colhidos,
fazendo aparecer a lógica específica da sociedade estudada.
 ANTROPOLOGIA: consiste em um segundo nível de inteligibilidade, no qual busca-se construir modelos que
permitam comparar as sociedades entre si.
ETNOGRAFIA, ETNOLOGIA e ANTROPOLOGIA constituem, para esse autor, três momentos da pesquisa no
campo antropológico.
OBJETO DE ESTUDO DA ANTROPOLOGIA
ENGLOBA AS FORMAS FÍSICAS PRIMITIVAS E ATUAIS DO SER HUMANO E SUAS MANIFESTAÇÕES
CULTURAIS.
INTERESSA-SE, PREFERENCIALMENTE, PELOS
GRUPOS SIMPLES, CULTURALMENTE
DIFERENCIADOS, E TAMBÉM PELO CONHECIMENTO DE TODAS AS SOCIEDADES HUMANAS, LETRADAS OU
ÁGRAFAS, EXTINTAS OU VIVAS, EXISTENTES NAS VÁRIAS REGIÕES DA TERRA.
CAMPOS DE ESTUDO DA ANTROPOLOGIA
Sendo a ANTROPOLOGIA uma CIÊNCIA QUE ESTUDA A CULTURA DA HUMANIDADE, tem um CAMPO DE
INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA AMPLO, atingindo toda a TERRA HABITADA NO ESPAÇO E NO TEMPO,
englobando TODAS AS SOCIEDADES SIMPLES NO PASSADO E NO PRESENTE, bem como SOCIEDADES
COMPLEXAS ATUAIS.
A) ANTROPOLOGIA BIOLÓGICA (antiga ANTROPOLOGIA FÍSICA): estudo das variações dos caracteres
biológicos do ser humano no espaço e no tempo. Preocupa-se com as relações entre o patrimônio genético e
o meio geográfico, ecológico, social. Analisa as particularidades morfológicas e fisiológicas ligadas a um meio
ambiente, investigando sua evolução. Estuda as formas de crânios, mensurações de esqueletos, tamanho,
peso, cor da pele, anatomia comparada das etnias e dos sexos e genética das populações, que possibilita
diferenciar o inato do adquirido, identificando as interações mútuas no ser humano.
B) ANTROPOLOGIA PRÉ-HISTÓRICA: estudo do ser humano por meio dos vestígios materiais enterrados no
solo (ossadas ou quaisquer marcas da atividade humana). Seu objeto de estudo liga-se ao da Arqueologia,
buscando reconstituir as sociedades humanas desaparecidas, relativamente às técnicas e organizações
sociais, bem como às produções culturais e artísticas.
OS PRIMEIROS CONTADORES DE HISTÓRIAS
"Nem em corpo nem em alma habitamos o mundo daquelas raças caçadoras do milênio paleolítico, a cujas
vidas e caminhos de vida, no entanto, devemos a própria forma dos nossos corpos e a estrutura das nossas
mentes. Lembranças de suas mensagens animais devem estar adormecidas, de algum modo, em nós, pois
ameaçam despertar e se agitam quando nos aventuramos em regiões inexploradas. Elas despertam com o
terror do trovão. E voltam a despertar, com uma sensação de reconhecimento, quando entramos numa
daquelas grandes cavernas pintadas."
1
(Joseph Campbell, O poder do mito, 1990)
C) ANTROPOLOGIA LINGUÍSTICA: sendo a linguagem parte do patrimônio cultural de uma sociedade, seu
estudo permite compreender:
 Como os seres humanos pensam, o que vivem e o que sentem (etnolinguística);
 Como os seres humanos expressam o universo e o social (estudo da literatura, tanto escrita quanto de
tradição oral); e
 Como os seres humanos interpretam seu próprio saber e saber-fazer.
Estudam-se os dialetos (dialetologia), bem como as áreas que surgiram a partir das modernas técnicas de
comunicação (mass media, ou “comunicação de massa”, ou cultura de massa).
D) ANTROPOLOGIA PSICOLÓGICA: estudo dos processos e do funcionamento do psiquismo humano. Buscase, dessa maneira, compreender o ser humano em sua integralidade cultural a partir do estudo dos
comportamentos psicossomáticos e psicopatológicos.
E) ANTROPOLOGIA SOCIAL E CULTURAL (ou ETNOLOGIA): abrange tudo o que constitui uma sociedade:
 Seus modos de produção econômica
 Suas técnicas
 Sua organização política e jurídica
 Seus sistemas de parentesco
 Seus sistemas de conhecimento
 Suas crenças religiosas
 Sua língua
 Sua psicologia
 Suas criações artísticas
F) ANTROPOLOGIA FILOSÓFICA: inclui as atividades morais e éticas humanas, englobando as expressões
(mutáveis) de que se serve o ser humano para interpretar e dar sentido existencial à sua vida, sua própria
pessoa, sua família, sua sociedade. Busca-se trilhar novos caminhos para construir uma sociedade mais
existencialmente humana.
G) ANTROPOLOGIA JURÍDICA: trata-se de um campo de investigação antropológica em expansão. Apesar de
não haver consenso entre os antropólogos quanto a seu objeto de estudo, pode-se afirmar que corresponde a
um RAMO DA ANTROPOLOGIA SOCIAL E DA ANTROPOLOGIA CULTURAL aplicada ao ESTUDO DA FORMAÇÃO
DOS DIREITOS CONSUETUDINÁRIOS (DIREITO DOS COSTUMES) NAS SOCIEDADES SIMPLES.
Atualmente, contudo, EXPANDIU SEU OBJETO DE ESTUDO devido a fatores multiculturais da dinâmica da
globalização.
Portanto, ANTROPOLOGIA JURÍDICA (ou ANTROPOLOGIA DO DIREITO) é a CIÊNCIA HUMANA QUE ESTUDA
OS ASPECTOS MULTICULTURAIS DO DIREITO CONSUETUDINÁRIO DESDE AS SUAS ORIGENS PRÉMODERNAS NAS SOCIEDADES SIMPLES E QUE ACOMPANHA O SEU DESENVOLVIMENTO DENTRO DAS
ORGANIZAÇÕES JURÍDICAS NAS SOCIEDADES COMPLEXAS DA GLOBALIZAÇÃO.
MÉTODOS DE INVESTIGAÇÃO ANTROPOLÓGICA
Método: “é um conjunto de regras úteis para a investigação, é um procedimento cuidadosamente elaborado,
visando provocar respostas na natureza e na sociedade e, paulatinamente, descobrir sua lógica e leis”
(Calderón, 1971).
A) MÉTODO HISTÓRICO: investigar os eventos do passado para compreender os modos de vida do presente
por meio da reconstrução da Cultura e da observação das mudanças ocorridas ao longo do tempo.
Por exemplo: origem e mudanças na cultura dos guaranis.
Líderes indígenas do Brasil e de outros três países participam do lançamento da campanha "Povo Guarani,
Grande Povo!" na aldeia Tey Kue, em Caarapó (MS).
B) MÉTODO ESTATÍSTICO: os dados, depois de coletados, são reduzidos a termos quantitativos
demonstrados em tabelas, gráficos, quadros. Dessa forma, pode-se investigar a relação entre os fenômenos,
tanto de natureza biológica quanto cultural e social.
2
Por exemplo: dimensões do corpo humano, grupo sanguíneo, variedade de religiões, diversidade de
línguas etc.
C) MÉTODO ETNOGRÁFICO: análise descritiva dos aspectos culturais das sociedades
principalmente as sociedades simples (ou tradicionais).
Por exemplo: estudo da Cultura dos índios do Alto Xingue dos Yanomami, de Roraima.
humanas,
KAMI YAMAKI URIHIPË, NOSSA TERRA-FLORESTA
Para os Yanomami, urihi, a terra-floresta, não é um mero espaço inerte de exploração econômica (o que
chamamos de “natureza”). Trata-se de uma entidade viva, inserida numa complexa dinâmica cosmológica de
intercâmbios entre humanos e não-humanos. Como tal, encontra-se hoje ameaçada pela predação cega dos
brancos.
Na visão do líder Davi Kopenawa Yanomami:
“A terra-floresta só pode morrer se for destruída pelos brancos. Então, os riachos sumirão,
friável, as árvores secarão e as pedras das montanhas racharão com o calor. Os espíritos
moram nas serras e ficam brincando na floresta, acabarão fugindo. Seus pais, os xamãs, não
chamá-los para nos proteger. A terra-floresta se tornará seca e vazia. Os xamãs não poderão
fumaças-epidemias e os seres maléficos que nos adoecem. Assim, todos morrerão.”
http://www.socioambiental.org/pib/epi/yanomami/yanomami.shtm
a terra ficará
xapiripë, que
poderão mais
mais deter as
YANOMAMI
 Outros nomes: Ianomâmi, Yanomamõ, Yanomama, Yanoama, Xirianá
 Língua: quatro línguas da família Yanomami
 Onde estão: Brasil (Amazonas e Roraima) e Venezuela
 Quantos são: 11.700 no Brasil (em 2000) e 15.193 na Venezuela (em 1992)
∞∞∞∞∞∞∞∞∞∞∞∞∞∞∞∞∞∞
"Quando a última árvore tiver caído,
quando o último rio tiver secado,
quando o último peixe for pescado,
a humanidade vai entender que dinheiro não se come ".
~~~ Greenpeace ~~~
∞∞∞∞∞∞∞∞∞∞∞∞∞∞∞∞∞∞
D) MÉTODO COMPARATIVO ou ETNOLÓGICO: permite verificar diferenças e semelhanças no material
coletado. A Antropologia Física (ou Biológica), pelo Método Comparativo, compara aspectos físicos de
populações extintas por meio de fósseis ou grupos humanos existentes, analisando características
anatômicas: cor da pele, do cabelo, dos olhos, índice encefálico, textura dos cabelos, grossura dos lábios etc.
Por exemplo: estudando os fósseis é possível estudar a evolução dos hominídeos, a distinção entre o
homem e os primatas não humanos.
Etnologia é o Método Comparativo aplicado na Antropologia Cultural ou Social. Pela Etnologia, comparam-se
padrões, costumes, estilos de vida, culturas do passado e do presente.
Por exemplo: populações indígenas rurais e urbanas, instituições (família, religião, política, economia),
usos e costumes, linguagem, habitações, meios de transporte etc.
E) MÉTODO MONOGRÁFICO ou ESTUDO DE CASO: estuda determinado caso ou grupo humano sob vários
aspectos. Este método permite a análise de instituições, processos culturais e setores da cultura.
Por exemplo: estudo de caso dos índios Makuxi de Roraima.
Macuxis – é a maior tribo de Roraima. Esses índios falam uma mesma língua, vivem nas áreas de lavrado e
na região das serras, têm o hábito de se comunicar entre si pelo termo “parente”, são excelentes vaqueiros e
em muitas malocas criam gado de forma comunitária, para suprir as necessidades de carne, uma vez que,
principalmente no lavrado, não há mais caça e a pesca também está muito difícil.
http://www.camara.gov.br/rodolfopereira/indios_1.htm
F) MÉTODO GENEALÓGICO: utilizado na Antropologia Cultural, permite o estudo do parentesco com todas as
suas implicações sociais, estrutura familiar, relacionamento marido e mulher, pais e filhos e demais parentes;
informações sobre o cotidiano, a vida cerimonial (nascimento, casamento, morte) etc.
3
Por exemplo: genealogia do sistema de parentesco dos índios Tupi, genealogia dos grupos étnicos
(japoneses, portugueses etc.)
G) MÉTODO FUNCIONALISTA: estudo das culturas sob o ponto de vista da função. Ressalta a função social e
cultural de cada unidade da cultura no contexto cultural global.
Por exemplo: verificar as funções dos usos e costumes da Cultura Maori antes da colonização inglesa nas
ilhas da Nova Zelândia.
TÉCNICAS DE PESQUISA EM ANTROPOLOGIA
Técnica: habilidade em usar um conjunto de normas para o levantamento de dados.
No campo biológico, são utilizadas técnicas clássicas da Antropologia Física, ou seja, a mensuração, ao lado
de outras técnicas mais modernas, de datação. A coleta de dados no campo biológico vem sendo feita há
mais de um século, usando-se a mensuração como principal técnica no tratamento desse material. As
informações descritivas das medidas antropométricas (cabeça, rosto, corpo, membros) são o primeiro passo
para o conhecimento do material investigado. Quando se trata de restos fósseis, as técnicas usadas são as de
datação.
No campo cultural, o antropólogo desenvolve recursos e técnicas de pesquisa ligados à observação de campo.
Este é o seu laboratório, onde aplica a técnica da observação direta, que se completa com a entrevista e a
utilização de formulários e questionários para registro de dados.
A) OBSERVAÇÃO
A1) OBSERVAÇÃO SISTEMÁTICA: fenômenos observados sistematicamente por um período de tempo.
Observação sistemática direta: fatos observados pessoalmente, no local da investigação.
Observação sistemática indireta: realizada por meio de outras pessoas.
A2) OBSERVAÇÃO PARTICIPANTE: o antropólogo deve ter disponibilidade de permanência em campo por um
tempo suficiente para melhor compreensão da cultura em estudo. É necessário estar isento de Etnocentrismo.
O instrumento de trabalho é o diário (caderno) de campo, utilizado para registro de dados.
B) ENTREVISTA
B1) ENTREVISTA DIRIGIDA: segue um roteiro de perguntas prefixado.
B2) ENTREVISTA NÃO DIRIGIDA ou LIVRE: informal e não há um roteiro predeterminado. O pesquisador leva
o entrevistado a manifestar suas ideias espontaneamente.
C) FORMULÁRIO
Levantamento de dados por meio de uma série organizada de perguntas escritas, sendo as respostas dadas
pelo respondente da cultura estudada.
A técnica do formulário se diferencia da técnica do questionário. O FORMULÁRIO é geralmente aplicado em
membros de sociedades simples ou tradicionais, no qual o pesquisador anota as respostas dadas pelo
membro da cultura. O QUESTIONÁRIO aplica-se a membros de sociedades complexas ou globalizadas, sendo
as respostas anotadas pelo próprio membro da cultura estudada.
Referências bibliográficas:
ALVES, Elizete Lanzoni; SANTOS, Sidney Francisco Reis dos. Iniciação ao Conhecimento da Antropologia
Jurídica. Florianópolis: Conceito, 2007.
MARCONI, Marina de Andrade; PRESOTTO, Zélia Maria Neves. Antropologia: Uma introdução. 6.ed. São Paulo:
Atlas, 2005.
4
Download