| e d i ç ã o 1 6 | J U L / A G O / S E T 2 0 1 3 | Cinco passos rumo à excelência Gerenciamento de protocolos no Hospital Alemão Oswaldo Cruz garante a ampliação de serviços baseados em qualidade e segurança Págs. 18 a 21 Entrevista O AVC é uma Emergência Médica Págs. 10 e 11 Giro pelo Hospital Fóruns Médicos ajudam a empreender melhorias Pág. 06 Personagem HAOC Evaldo Foz, um homem de muitas histórias Págs. 22 e 23 13 04 05 09 GIRO PELO HOSPITAL Encontro internacional 15 INSTITUTO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS Unidade atua na Avaliação de Tecnologias para Saúde Como eu trato Fraturas maleolares do tornozelo giro pelo hospital Data Center garante mais segurança aos dados do Hospital Tempo Livre Dr. Francisco Collet e sua paixão por óperas 22 10 25 e 11 entrevista O AVC é uma Emergência Médica 26 PERSONAGEM HAOC Evaldo Foz, um homem de muitas histórias Responsabilidade Jurídica Transplante com doador vivo Artigo internacional Gliomas Anaplásicos: melhores perspectivas EDITORIAL Todos por um Um trabalho plural, mas com um objetivo singular. Essa é a minha primeira contribuição no editorial da Visão Médica e não poderia deixar de abordar a realização dos Fóruns Médicos, realizados entre os meses de abril e maio, no Hospital Alemão Oswaldo Cruz. Lado a lado, membros do Corpo Clínico e representantes da Administração deram passos fundamentais e que começam a gerar resultados igualmente importantes. Juntos, reavaliamos métodos e processos, identificamos pontos de melhoria e estabelecemos planos de ação, metas e prazos para alcançá-las. Sabemos que esta é apenas uma parte do grande desafio que temos pela frente, mas, como pudemos testemunhar ao longo dos 12 encontros, a adesão e o comprometimento de nosso Corpo Clínico farão com que o Hospital tenha uma visão completa sobre suas principais necessidades e, dessa forma, avance para manter os padrões de excelência, qualidade e segurança. Dr. Mauro Medeiros Borges Superintendente Médico Momento marcante A realização do 1º Fórum de Debates do Corpo Clínico é o evento que marca esta fase inicial da minha gestão. Foram reuniões marcantes e históricas, que irão contribuir na constante busca da melhor qualidade em assistência para nossa Instituição. No momento em que o HAOC determina novos rumos, cria novas diretrizes, estabelece prioridades, é fundamental, para obtermos sucesso e efetividade, ouvirmos os médicos. Ouvi-los é agregar valor nas decisões, respeitá-los é estabelecer parcerias para seguirmos juntos nesta longa jornada até um Hospital dos nossos sonhos. Nesses Fóruns que assisti, pude perceber determinados aspectos muito impactantes, depoimentos consistentes, mas emocionantes, um grande contingente de médicos realmente envolvidos com a Instituição. Isso é raro, único, especial e, a meu ver, nosso maior patrimônio. Quero agradecer de público a presença de cada um e sua valiosa contribuição. Tenho a certeza de que não deixarei a chama se apagar. Dr. Marcelo Ferraz Sampaio Diretor Clínico edição 16 • Jul/ Ago/ Set • 2013 Visão Médica 3 GIRO PELO HOSPITAL Encontro Internacional Em maio, o Presidente do Conselho Deliberativo do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, Marcelo Lacerda, participou de uma reunião com o Ministro da Saúde da Alemanha, Daniel Bahr. O encontro, realizado na Câmara Brasil-Alemanha, teve como objetivo apoiar empresas alemãs de tecnologia na área da Saúde, discutindo sua entrada no mercado brasileiro. Também estavam presentes o Cônsul Geral da Alemanha em São Paulo, Matthias von Kummer, e empresários do setor. Marcelo Lacerda e Daniel Bahr Neurocirurgião do Hospital é nomeado presidente de Comitê Internacional Em 28 de junho, Dr. Paulo M. Porto de Melo, neurocirurgião do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, foi nomeado Presidente do recém-criado Comitê Diretivo de Robótica, da Walter E. Dandy Neurosurgical Society. O anúncio foi realizado durante o Congresso Mundial da Organização, em Milão, na Itália, e representa um importante capítulo tanto para o médico quanto para a área. Um dos pioneiros na realização de estudos sobre a utilização da tecnologia para esse tipo de procedimento, Dr. Paulo avalia a nova atribuição como um desafio importante relacionado à formação de uma nova geração de neurocirurgiões. “Entre tantos atributos, essa sociedade é uma entidade com foco em educação continuada, inclinada à promoção de avanços relacionados a técnicas cirúrgicas e à disseminação desses conceitos, principalmente junto aos médicos residentes e jovens neurocirurgiões. Só esse ano, fui convidado a ministrar cursos pela Sociedade em duas oportunidades, abordando exatamente a utilização da robótica em neurocirurgias. Então, agora, a partir da criação de um Comitê e com os resultados que pretendemos alcançar, acredito que 4 Visão Médica teremos ainda mais elementos para contribuir com a formação desses profissionais e o desenvolvimento da área”, explica. Já no primeiro mês, os membros do grupo dedicaram-se à revisão da literatura. Agora, de acordo com o neurocirurgião, as etapas seguintes são relacionadas aos estudos experimentais e a avaliações, como as que foram realizadas em cadáveres nas Universidades de St. Louis (EUA) e Nanci (França) e que podem contribuir para a criação de novos equipamentos ou o aperfeiçoamento e a adaptação dos robôs já existentes. “O potencial para o desenvolvimento da robótica na neurocirurgia é imenso. Se considerarmos a Urologia, por exemplo, que hoje é uma das áreas que mais utilizam a robótica, veremos que os procedimentos que exigem a utilização do robô ainda são minoria. Já com relação à neurocirurgia, toda e qualquer intervenção necessita do chamado movimento fino, dessa precisão e é exatamente isso que estamos estudando. Me comprometi com a entrega dos resultados de nossas pesquisas em um ano, mas tenho certeza de que teremos muito a apresentar antes disso”, conclui. edição 16 • Jul/ Ago/ Set • 2013 GIRO PELO HOSPITAL Data Center garante mais segurança aos dados do Hospital Depois de um ano de muito trabalho, a área de Tecnologia de Informação (TI) do Hospital Alemão Oswaldo Cruz prepara-se para inaugurar seu novo centro de processamento de dados. Projetado para ampliar a segurança e a capacidade de armazenamento de dados do Hospital, o novo Data Center conta com um importante diferencial: a sustentabilidade. “Incorporamos o princípio de Green IT a muitas das funcionalidades. Os equipamentos de ar-condicionado, por exemplo, foram projetados para proporcionar o resfriamento ideal aos nossos equipamentos, mas com menor consumo de energia elétrica e redução nas emissões de CO2”, explica Fernando Guedes, Coordenador de Infraestrutura de TI. De acordo com o Gerente de TI, Denis da Costa Rodrigues, a criação do Data Center representa mais uma etapa de um processo contínuo de modernização. “As iniciativas relacionadas à inovação, que irão dinamizar o trabalho dos colaboradores e do Corpo Clínico, necessitam da confiabilidade e da disponibilidade dos dados. Com a construção desse novo centro de processamento de dados, estamos criando a estrutura que tornará isso possível.” Questão de estímulo Apoiado em pesquisas que evidenciam os benefícios da prática de exercícios como suporte em diversos tipos de tratamento e no auxílio à recuperação física, o Hospital Alemão Oswaldo Cruz acaba de lançar o Programa Estímulo. Utilizando a moderna estrutura na Unidade Campo Belo, além de contar com equipe qualificada para acompanhamento e orientação aos pacientes de forma personalizada, a iniciativa teve início em julho, com foco inicial em pacientes em tratamento oncológico e em pré e pós-operatório de cirurgia bariátrica. exercícios representam um estímulo para mudar o estilo de vida, contribuindo no ganho de massa magra, no melhor controle da hipertensão arterial e do diabetes. Já no caso de diagnóstico de câncer, o que se tem visto nas pesquisas é que pessoas que se tornam fisicamente ativas estão lidando melhor com o tratamento e reduzindo o risco de morte e de recorrência da doença”, complementa o Coordenador. À frente do Programa, que dura cerca de 16 semanas, Dr. Rodrigo Bornhausen Demarch explica que os exercícios ajudam a manter o condicionamento cardiorrespiratório, força, resistência muscular e flexibilidade. Os exercícios diminuem o risco para o desenvolvimento de diversas doenças, além de melhorarem a qualidade de vida dos pacientes em tratamento. São ainda de fundamental importância para preservação da independência funcional do indivíduo. “Para quem se recupera de cirurgia bariátrica, o benefício está no recondicionamento físico e na manutenção do peso saudável no longo prazo. Os edição 16 • Jul/ Ago/ Set • 2013 Estrutura do Programa Estímulo na Unidade Campo Belo Visão Médica 5 GIRO PELO HOSPITAL Fóruns Médicos ajudam a empreender melhorias Com participação de 146 médicos do Corpo Clínico e envolvimento de cerca de 20 áreas, o Hospital Alemão Oswaldo Cruz realizou uma importante rodada de encontros com um objetivo muito bem definido: promover o desenvolvimento da Instituição. A partir da discussão de sete temas prioritários – modelo de avaliação do médico, infraestrutura, processos internos, metas de qualidade, canais de comunicação, necessidades dos médicos e do Sistema de Gestão Tasy –, os Fóruns Médicos deram início a um processo de melhoria realizado por meio de um trabalho conjunto entre a Administração e a Diretoria Clínica. Para o Superintendente Médico, Dr. Mauro Medeiros Borges, os 12 encontros, que ocorreram entre os meses de abril e maio, permitiram a avaliação criteriosa de métodos e processos utilizados no Hospital, mas, principalmente, a proposição de soluções e alternativas para empreender avanços. “Graças a este trabalho, já no mês de julho conseguimos eliminar os laudos provisórios da rotina entre o Laboratório Fleury e o Hospital, reduzindo a inconsistência de informações. Também integramos o sistema utilizado pelo Fleury com o nosso Tasy, agilizando o acesso aos exames laboratoriais. Outro avanço foi a ampliação de acesso aos laudos e imagens de exames realizados em nosso Centro de Diagnóstico por Imagem (CDI). Com o sistema PACS, desde o dia 1º de agosto é possível acessá-los em qualquer lugar do Hospital por meio dos prontuários eletrônicos”, explica Dr. Mauro. Até setembro, metas como a dinamização dos agendamentos cirúrgicos e a redução de eventuais atrasos ocasionados no trânsito do paciente entre as áreas e o Centro Cirúrgico do Hospital também serão atacadas. “As contribuições do Corpo Clínico permitiram uma leitura abrangente dos processos e métodos utilizados no dia a dia da Instituição. A partir dessa avaliação e, claro, com a participação indispensável de áreas como Superintendência Assistencial, Relacionamento Médico, CDI e Tecnologia da Informação, entre outras, podemos empreender mudanças que irão beneficiar não apenas a atuação dos médicos e colaboradores, mas também funcionamento do Hospital e, sem dúvida, a qualidade de atendimento e a segurança para nossos pacientes”, avalia o Diretor Clínico do Hospital, Dr. Marcelo Ferraz Sampaio. ANAHPdiscute mudanças do setor Em workshop realizado no dia 27 de junho, no anfiteatro do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, a Associação Nacional dos Hospitais Privados (ANAHP) reuniu aproximadamente 150 participantes para o debate sobre ‘Logística e os Novos Modelos de Remuneração do Setor’. “O modelo de remuneração atual é o que mais causa danos à qualidade e segurança dos serviços, pois 6 Visão Médica privilegia a quantidade e não a qualidade, que é a maior preocupação das instituições que representamos”, explica Francisco Balestrin, presidente do Conselho de Administração da ANAHP. Para o representante, a participação de todos os setores envolvidos na cadeia da saúde e a qualidade das discussões representa uma perspectiva de mudança positiva no setor. edição 16 • Jul/ Ago/ Set • 2013 GIRO PELO HOSPITAL O Passado vivo Fotos da inauguração do Centro Cirúrgico, que teve suas obras finalizadas em 1980. Dicas do Tasy Com a integração com o Fleury, será possível alterar data e validade de prescrições dos exames laboratoriais por meio do SIGHA-Tasy? A integração para solicitação de exames laboratoriais ao Fleury por meio do SIGHA-Tasy foi concluída em julho. Agora, ao prescrever um exame laboratorial, será fundamental prestar atenção na data prevista para a realização, apresentada na tela “Exames de Rotina”. Para alterá-la, basta que o médico ou profissional apague-a e informe dia e horário ideais para os exames. Para os procedimentos em caráter de emergência, edição 16 • Jul/ Ago/ Set • 2013 há a possibilidade de selecionar a opção “Urgência”, para que o sistema altere a prescrição para aquela mesma data e hora. Outra possibilidade é selecionar a opção “Dia seguinte”, para que o sistema altere a prescrição já para às 6 horas do dia seguinte. O laboratório utilizará a data e hora para realizar a coleta de exame, por isso, é importante que qualquer alteração seja observada com cautela. Visão Médica 7 GIRO PELO HOSPITAL QuaL É a sua opinião? Cinco dicas importantes para organizar um consultório A decisão de constituir um consultório é, quase sempre, acompanhada por dúvidas que, solucionadas com antecedência, podem evitar muita dor de cabeça. Por isso, para esclarecer algumas das principais indagações, separamos informações sobre etapas fundamentais nesse processo. Nessa edição, falaremos especificamente aos que pretendem fazê-lo como Pessoa Física (autônomo). 1 - Registro no INSS: quando o médico inicia a residência médica, inscreve-se na Previdência Social e é considerado segurado obrigatório, apesar do recolhimento da contribuição previdenciária ser facultativo. 2- Apoio Institucional: o profissional precisa buscar credenciamento junto a um Hospital para, se necessário, realizar a internação dos pacientes atendidos no consultório. 3- Imóvel: além de próximo ao Hospital em que médico é cadastrado, o imóvel que abriga o consultório deve ter a documentação em dia, com relação aos impostos e alvarás para funcionamento. 4- Documentos importantes: o médico deverá solicitar à prefeitura o Alvará de Localização e Funcionamento e o registro relacionado ao Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISSQN) – em algumas cidades, como São Paulo, por exemplo, profissionais liberais são isentos do pagamento; à Anvisa ou à Secretaria de Saúde do município, o profissional deverá requerer o Alvará Sanitário do consultório e, dependendo da especialidade e das atividades realizadas, uma licença ambiental junto à Secretaria do Meio Ambiente; para contratar funcionários registrando-os em regime CLT, deverá solicitar o Cadastro Específico do INSS (CEI) junto à Previdência Social; necessitará também de um Atestado Ocupacional; e, junto ao Ministério da Saúde, deverá providenciar o Cadastro Nacional dos Estabelecimentos de Saúde, fundamental para o credenciamento dos convênios de saúde. 5- Livro-Caixa: o registro é uma exigência por parte da Receita Federal para que o médico possa deduzir seus gastos devidos no exercício da profissão na base de cálculo do Imposto de Renda devido. Na próxima edição da revista Visão Médica, ampliaremos a discussão sobre o tema com uma abordagem para Pessoas Jurídicas. Celso Hideo Fujisawa [email protected] (11) 3469-8788 / (11) 99975-1186 Qual é a sua opinião? Caso relatado por Dr.Luiz Antonio Pezzi Portela Paciente de 41 anos, feminina, com queixa de turvação visual, encaminhada ao Hospital Alemão Oswaldo Cruz por seu oftalmologista. As imagens anexas mostram alterações características de que tipo de problema? Resposta na pág. 27 8 Visão Médica edição 16 • Jul/ Ago/ Set • 2013 TEMPO LIVRE Bravíssimo! Casa de Ópera de Zurique A ópera sempre foi uma das paixões do Dr. Francisco Collet. O que poucos sabem é que a relação do hoje cirurgião com o gênero começou de maneira tão intensa que, por algum tempo, chegou até a tomar conta de suas pretensões de juventude. “Meu contato inicial com a ópera, assim como com a música de uma maneira geral, se deu por meio dos discos de vinil de meu pai. Comecei a apreciar e, como descendente de família italiana, logo me pus a cantarolar trechos do Rigoletto ou da La Traviatta, peças que na voz de estrelas como Maria Callas e outros cantores extraordinários, soavam de forma tão magnífica”, lembra Dr. Collet. Estudou piano para aprimorar seus conhecimentos musicais enquanto ainda cursava o colegial. Teve como professora a pianista Zélia Deri e, além de instrução erudita, aprendeu muito sobre o gênero de que tanto gostava. “A professora era casada com um importante crítico musical, que também adorava óperas. Para ouvir toda a coleção de discos e fitas que ele tinha, seriam necessários três anos inteiros”, lembra. Ao concluir o colegial, partiu para Ribeirão Preto para estudar Medicina e decidiu que se dedicaria às óperas de uma forma muito especial: a de espectador. “Hoje, além das férias, aproveito os congressos internacionais de que participo para apreciar espetáculos que, com séculos de existência, estão sempre se reinventando. Há apresentações com cantores extraordinários, que são também atores com um preparo quase circense, capazes de interagir com uma série de recursos tecnológicos. Recentemente, na Ópera da Bastilha, em Paris, tive a oportunidade de assistir a uma apresentação do ‘Crepúsculo dos Deuses’, em comemoração aos 200 anos do compositor Wagner, e em Zurique, na Suíça, a montagem de Dom Giovane. Ambas trouxeram releituras bastante ousadas e, ainda assim, extraordinárias”, avalia. Com uma coleção que, atualmente, conta com mais de 100 óperas completas, Dr. Collet garante que não é preciso sair do País para ter acesso a espetáculos belíssimos. “Aqui em São Paulo, no Teatro Municipal, tive a oportunidade de assistir a apresentações muito interessantes de clássicos como o Rigoletto e o Turandot. Então, para quem gosta ou tem curiosidade, vale a pena acompanhar as agendas culturais”, recomenda. Dr. Francisco Collet edição 16 • Jul/ Ago/ Set • 2013 Visão Médica 9 ENTREVISTA O AVC é uma Emergência Médica Dr. Jefferson Gomes Fernandes 10 Visão Médica edição 16 • Jul/ Ago/ Set • 2013 ENTREVISTA L iderado pelo neurologista e Superintendente de Educação e Ciências, Dr. Jefferson Gomes Fernandes, e com Coordenação Adjunta do Dr. Roberto de Magalhães Carneiro de Oliveira, o novo Centro de Acidentes Vasculares Cerebrais (AVC) do Hospital Alemão Oswaldo Cruz começa a funcionar, colocando em prática uma estratégia que une o trabalho de uma equipe multiprofissional a uma estrutura adequada ao diagnóstico ágil e ao oferecimento de tratamentos imediatos. Visão Médica – O novo Centro de AVC é uma unidade para o atendimento de emergência? Dr. Jefferson Fernandes: Este Centro tem o atendimento emergencial ao AVC como uma de suas ações principais, mas busca assistir às pessoas com a doença de forma integral e contínua. Quando falamos em doenças cerebrovasculares, seja um AVC isquêmico ou hemorrágico, devemos considerar uma série de questões, tais como fatores de risco, causas, local em que ocorre no cérebro e extensão. Quaisquer que sejam as respostas para essas indagações, um elemento será sempre considerado crucial: o tempo. Os sinais de alerta mais comuns incluem dormências ou falta de força em um lado do corpo ou membro, fala enrolada ou outros sintomas que tenham início súbito. Nesta situação, o atendimento emergencial pode aumentar as chances de recuperação e a redução de sequelas. Desta forma, a atuação do Centro de AVC começa já na Emergência do Hospital, por meio do trabalho de médicos emergencistas treinados, neurologistas, assim como do corpo de enfermagem e de modernos métodos de diagnóstico por imagem. Confirmado o diagnóstico, além de iniciar o tratamento imediato, o paciente receberá a assistência na Unidade de AVC Agudo. Visão Médica – Falem um pouco sobre essa unidade para o atendimento de casos agudos Dr. Roberto de Magalhães Carneiro de Oliveira – Montamos a Unidade de AVC Agudo dentro da UTI Neurológica do Hospital. Lá, os pacientes terão o acompanhamento integral de uma equipe multidisciplinar durante a fase aguda do AVC. Desta equipe fazem parte médicos intensivistas, neurologistas, enfermeiros, nutricionistas, fisioterapeutas, entre outros. Se forem candidatos à cirurgia ou a procedimento neuroendovascular, passarão também pela avaliação de neurocirurgiões e de especialistas em procedimentos endovasculares que também integram a equipe. Ultrapassada a fase crítica, o paciente segue, então, para a Unidade de Internação Neurológica, onde permanecerá sob o acompanhamento das equipes do Centro até que receba a alta hospitalar. edição 16 • Jul/ Ago/ Set • 2013 Visão Médica – Além de atendimento de emergência qualificado e da unidade de atenção à fase aguda, que outros diferenciais o novo Centro apresenta? Dr. Jefferson Fernandes – O Centro de AVC possui dois diferenciais extremamente importantes que são a segurança e a qualidade assistencial. Além disto, o acolhimento humanizado caracteriza a forma como o Hospital cuida de seus pacientes. Outro aspecto interessante é a localização do Hospital Alemão Oswaldo Cruz. Situado no bairro do Paraíso, o Hospital pode ser acessado por algumas das principais vias da capital, como as avenidas Paulista e Vinte e Três de Maio. Em uma emergência, cada minuto conta, e esse, sem dúvida, é um ponto que deve ser levado em consideração. Visão Médica – O AVC é a principal causa de limitações físicas permanentes e uma das principais causas de morte no Brasil. Com a criação de centros como o do Hospital Alemão Oswaldo Cruz e o atendimento específico aos pacientes com doenças cerebrovasculares é possível virar o jogo? Dr. Roberto de Magalhães Carneiro de Oliveira – Estamos colocando à disposição dos nossos pacientes um serviço de qualidade, que combina atuação de profissionais capacitados, estrutura adequada, utilização de protocolos clínicos baseados em evidências científicas, a implantação de processos e rotinas de atendimento que qualificam a assistência. Existe um movimento de vários hospitais do Brasil para criar centros semelhantes, a fim de oferecer atenção adequada a estes pacientes. No ano passado, contando com a participação do Dr. Jefferson Fernandes, assim como de outros especialistas, o Ministério da Saúde elaborou um programa nacional, que resultou numa política de atenção às pessoas com AVC, lançada por meio das Portarias 664 e 665, voltadas ao atendimento de pessoas com a Doença no Sistema Único de Saúde (SUS). Ou seja, de maneira geral, estamos progredindo, mas acho que ainda precisamos avançar em um ponto de extrema importância: a conscientização de que o AVC é uma emergência médica e que, as pessoas devem procurar atendimento especializado em centros de referência imediatamente. Visão Médica 11 INSTITUTO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS EM SAÚDE Hospital cria Escola Técnica de Educação em Saúde (ETES) O Hospital Alemão Oswaldo Cruz acaba de ampliar suas atividades voltadas à capacitação e ao aperfeiçoamento na área da saúde. Com a criação da Escola Técnica de Educação em Saúde (ETES), a Instituição fortalece sua atuação como um centro de formação profissional e de multiplicação de conhecimento, avançando também para a capacitação técnica e assistencial. De acordo com o Superintendente de Educação e Ciências do Hospital, Dr. Jefferson Gomes Fernandes, “a ETES tem a missão de promover a formação profissional, desenvolvendo competências que permitam o desempenho profissional com excelência.” Depois de um intenso trabalho de planejamento pedagógico, organizacional, bem como de um rigoroso processo seletivo para seu primeiro curso Técnico em Enfermagem, a partir de setembro, a ETES iniciará a formação dos alunos com o objetivo de prepará-los para os serviços de assistência de enfermagem individualizada e integral a pacientes de todos os níveis de complexidade e em diversas etapas do ciclo de vida, incluindo cuidados de higiene, conforto, segurança, assistência aos familiares, garantindo a qualidade e a humanização no atendimento. “Ao todo, o curso tem duração de 1.800 horas, divididas em teoria, práticas assistenciais e estágio supervisionado, que será realizado tanto no Hospital quanto em instituições parceiras. Todo o conteúdo foi desenvolvido e aprovado pelas coordenações do curso e pedagógica e pela diretoria da ETES, com participação de profissionais de diversas áreas assistenciais do Hospital. Por isso, 12 Visão Médica queremos que, nesse período, os alunos vivenciem as práticas que fazem do Hospital um modelo de acolhimento. Estamos trabalhando em um modelo que reflete não só a experiência educacional do Instituto de Educação e Ciências em Saúde (IECS), mas também os reconhecidos padrões de excelência, qualidade e segurança do Hospital”, explica a Enfermeira Carmen Peres, Coordenadora do Curso. Para Letícia Serpa, Gerente do IECS e Diretora da ETES, a escola está dando um passo muito importante com o lançamento do seu primeiro curso. “Acredito que a expectativa é grande de ambos os lados. Além de moderna infraestrutura, que conta com cinco salas de aula com recurso multimídia interativo, laboratórios de informática e de práticas assistenciais, biblioteca com salas de estudos e estações de trabalho, pesquisa em base de dados online e assessoria técnica em pesquisas bibliográficas, nossos alunos terão a oportunidade de trocar experiências com uma equipe de enfermagem altamente qualificada e que, certamente, tende a acrescentar e muito na formação desses profissionais. Contamos com isso e espero que, em breve, possamos vê-los trabalhando aqui no Hospital ou em outras Instituições de qualidade”, explica. 14 •Ago/ Janeiro ediçãoedição 16 • Jul/ Set • 2013 INSTITUTO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS EM SAÚDE Unidade atua na Avaliação de Tecnologias para Saúde Utilizada para verificar segurança, eficácia e viabilidade econômica de determinando medicamento, prótese, cirurgia, exame e até mesmo a implementação de um novo modelo de unidade assistencial quando comparado a outras alternativas, a Avaliação de Tecnologia em Saúde (ATS) representa, atualmente, ferramenta fundamental para o Sistema Único de Saúde (SUS). Com a atuação de instituições como o Hospital Alemão Oswaldo Cruz, que desde 2009 integra o Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (PROADI-SUS), a prática auxilia na tomada de decisões com base em evidências científicas, contribuindo para a disponibilização de tecnologias eficientes e, acima de tudo, seguras. do Hospital serão, a partir de agora, relacionados à avaliação de tecnologias em uma nova perspectiva do Sistema Único de Saúde e que requer expertise e atuação interdisciplinar, envolvendo as áreas de Estatística, Epidemiologia e Economia. “O desafio já em um futuro próximo será aumentar nossa equipe para que trabalhos dessa magnitude possam ser realizados na UATS do Hospital e a contribuição possa ser ainda maior”, conclui. “O trabalho de nossa Unidade de Avaliação de Tecnologia em Saúde (UATS) consiste na avaliação e no relato pormenorizado dos prós e contras de determinada tecnologia, assim como sua utilização na prática clínica. Com isso, além de promover a segurança e a qualidade baseadas em evidências, contribuímos para o desenvolvimento do SUS”, explica Dr. Tiago da Veiga Pereira, pesquisador e epidemiologista que coordena as atividades da UATS. Membro da Rede Brasileira de Avaliação de Tecnologias em Saúde (REBRATS), a UATS, ligada ao Instituto de Educação e Ciências em Saúde (IECS) do Hospital, está inserida nas atividades de avaliação tecnológica para a saúde em todo o País. De acordo com o pesquisador, que também coordena as atividades da unidade na rede, vários membros da equipe trabalham diretamente com o Ministério da Saúde para o desenvolvimento de novos projetos, grupos de trabalho e diretrizes metodológicas. “Em 2012 formamos a primeira turma de MBA em Economia e Avaliação de Tecnologias em Saúde. Ao todo, capacitamos 30 gestores e profissionais atuantes no SUS. Além disso, desde 2009, nossa equipe produziu mais de 15 informes de ATS utilizados pelo Ministério da Saúde para tomadas de decisão”, reforça Dr. Tiago. Para o pesquisador, assim como as demais instituições integrantes da REBRATS, os desafios da UATS edição 16 • Jul/ Ago/ Set • 2013 Visão Médica 13 EXAMES LABORATORIAIS Alergia alimentar e os novos testes moleculares Assessoria médica: Dr. Luis Eduardo Coelho Andrade A alergia alimentar é uma reação adversa a alimentos desencadeada por mecanismos imunológicos, mediados ou não pela IgE. A melhoria dos métodos diagnósticos é uma preocupação crescente para um correto diagnóstico do alérgeno. A maioria dos substratos alergênicos usados para avaliação diagnóstica, in vivo (testes cutâneos) e in vitro (IgE específica), consiste em extratos proteicos de fontes alergênicas naturais, o que leva à variabilidade em sua composição. Os extratos contêm diversos componentes orgânicos, não se permitindo identificar os relevantes para cada paciente. Assim, obtêm-se dados sobre a fonte alergênica provável, mas não se identifica a molécula que desencadeia os sintomas, o que só é possível com o uso de componentes moleculares alergênicos naturais purificados ou recombinantes. Recentes avanços permitem a purificação de componentes moleculares específicos e a produção de componentes moleculares alergênicos recombinantes, que mantêm as propriedades imunológicas das proteínas naturais. Surge o conceito de component-resolved diagnosis (CRD) – a identificação do componente molecular específico do alérgeno ligado à sensibilização –, que tem importantes repercussões práticas, pois a reatividade contra componentes moleculares distintos do mesmo alérgeno pode ter implicações diagnósticas e prognósticas inteiramente diversas. O ImmunoCAP®Isac (Immuno Solid Phase Allergen Chip) é um teste in vitro para determinar em uma única reação e de forma semiquantitativa a presença de anticorpos específicos da classe IgE (sIgE) no soro ou no plasma humano contra 112 componentes moleculares alergênicos, de 51 fontes. É um imunoensaio em que os componentes alergênicos estão fixados a um substrato sólido, na forma de um microarranjo (microarray), e são incubados com o soro do paciente para a detecção de anticorpos IgE. A ligação entre esses anticorpos e os componentes alergênicos é identificada por anticorpos anti-IgE, com marcação fluorescente. Com um leitor de biochips e software próprio, consegue-se uma imagem representativa da intensidade de fluorescência e proporcional ao nível sérico de IgE específica. Os resultados são expressos em Isac Standardized Units (ISU), com cut-off de positividade de 0,3 ISU. 14 Visão Médica O desempenho diagnóstico e utilidade do teste múltiplo dependem de indicação adequada. Numa população sintomática, um resultado positivo aumenta a probabilidade de o paciente ser alérgico. Mas quando utilizado em indivíduos não selecionados, pode haver resultados falso-negativos e falso-positivos. Desse modo, não é recomendável que o exame seja utilizado como “triagem”, sem uma indicação clínica específica. O ImmunoCAP®Isac é recomendado especialmente na suspeita de múltiplas sensibilizações e/ou possibilidade de sintomas desencadeados por reações cruzadas entre alérgenos. Também pode ser útil em alguns casos de dermatite atópica, anafilaxia idiopática e ausência de resposta à exclusão de um alimento sabidamente implicado na alergia do paciente. Não há indicação desse teste em indivíduos monossensibilizados. Referências Sampson, HA – Food Allergy. J Allergy Clin Immunol, 111: s540-547, 2003. Schmid-Grendelmeier P – Recombinant allergens. Routine diagnostics or still only science? Der Hautartzt 2010, 61 (11): 946-953. Carvalho S, Gaspar A, Prates S, Pires G, Silva I, Matos V, Loureiro V, Leiria-Pinto P - ImmunoCAP ISAC®: Tecnologia microarray no estudo da alergia alimentar em contexto de reactividade cruzada. Rev Port Imunoalergologia 2010; 18 (4): 331-352. Santos KS; Kokron CM; Palma MS – Diagnóstico in vitro. Em: Diagnóstico. Castro FFM et al – Alergia Alimentar. Cap. 6, 53 – 74, Ed. Manole, 2010. Bernstein Il et al – Allergy Diagnostic Testing: an updated practice parameter. Ann Allergy Asthma Immunol 2008, 100: S1 – 148. Ferrer M; Sanz ML; Sastre J; et al – Molecular diagnosis in Allergology: application of the microarray tecnique. J Investig Allergol Clin Immunol 2009, 19 (1): 19-24. edição 16 • Jul/ Ago/ Set • 2013 COMO EU TRATO COMO EU TRATO: Fraturas maleolares do tornozelo Dr. Roberto Santin Por Dr. Roberto Santin As fraturas do tornozelo são frequentes e graves, pois envolvem sempre a articulação gerando risco para a função normal. Elas são também chamadas de fraturas-luxações, pois quase sempre há um desalinhamento articular com perda da congruência entre os espaços articulares. Essas lesões envolvem osso, cartilagem, mas também ligamentos, músculos, tendões, vasos e nervos, podendo, portanto, ser de gravidade e prognóstico variáveis. A cura em posição anatômica é premissa para uma reabilitação funcional completa e duradoura. O conceito fundamental para o tratamento de fraturas é o da estabilidade e é nele que vamos nos concentrar no caso específico do tornozelo. Tratamento Conservador (incruento) O tratamento conservador (não cirúrgico) deve ser reservado às fraturas sem desvio, assim como àquelas com desvio reduzido e que permanecem estáveis. Particularmente, só tenho utilizado o tratamento incruento nas fraturas sem desvio, nas intrinsecamente estáveis e nos casos de contraindicação clínica de anestesia geral e de cirurgia. Os casos de fraturas instáveis, de reduções não anatômicas e em que houve perda da redução, após a resolução do edema/hematoma da fratura são, a meu ver, de indicação de tratamento operatório. Tratamento Cirúrgico (cruento) Paciente com cinco anos de pós-operatório. Clinicamente normal. Sem sinais de desgaste da cartilagem do tornozelo edição 16 • Jul/ Ago/ Set • 2013 É o que permite a redução anatômica, estabilização da fratura por meio da osteossíntese, inspeção da articulação, retirada de pequenos fragmentos ósseos e condrais, mobilização precoce a antecipação da carga, e consequentemente, uma melhor e mais rápida reabilitação. Visão Médica 15 COMO EU TRATO O tratamento cruento também apresenta desvantagens e riscos, como infecção, problemas de cicatrização, estética com relação à cicatriz (especialmente em mulheres), presença do material de síntese, que fica saliente sob a pele – mas que hoje em dia é minimizada pelas placas de baixo perfil e de parafusos de bloqueio –, dor residual com causas difíceis de determinar, lesões em nervos e a limitação de movimentos articulares. A infecção é a mais temida, mas felizmente também rara neste tipo de procedimento. Outra complicação é a distrofia simpática reflexa (DSR) que é causa importante de reabilitação prolongada e limitação funcional, por vezes definitiva. Para ler mais: • Pakarinen HJ; et al- Stability criteria for non operative ankle fractures management. Foot Ankle Int Feb 2011 NE= IV • HakDJ ,Egol KA, Gardner MJ, Haske A - The “not so simple” ankle fractures: avoiding problems and pitfalls to improve patients outcomes. Inst Course Lec- tures 2011. • Tornetta P III; et al- The posterolateral approach to the tibia for displaced posterior malleolar injuries. J Orthop Trauma 2011 • Bonasia DE, Rossi R, Saltszman CL, Amendola A- The role of arthroscopy in the management of fractures about the ankle JAm AcadOrthop Surg. April 2011 • Thomas,G; et al-Meta-analysis: Early mobilization of operatively fixed ankle fractures: NE= I-II N= 9 articles. Foot Ankle Int. 2009 Fratura aparentemente estável, que, no teste em rotação externa, revelou ser instável, com lesão completa do ligamento deltoide. Há alguns anos, autores têm utilizado a artroscopia como auxiliar na redução e fixação das fraturas, método que permite diagnóstico e tratamento de lesões condrais com retirada de fragmentos ósseos e de cartilagem soltos, porém não totalmente apoiada pela maioria dos autores. Outro aspecto que não tem sido abordado em nosso meio é o da carga imediata após a osteossintese que, segundo os autores que a preconizam, permite uma recuperação 16 Visão Médica mais rápida, facilitando a consolidação. As fraturas e luxações de tornozelo nos diabéticos são de difícil solução. As osteossinteses utilizadas têm sido reforçadas, porém toda a atenção deve estar dirigida para as complicações, que são bastante comuns nesses pacientes, principalmente naqueles com comorbidades (alterações circulatórias, neurológicas, entre outras). O tempo de reabilitação é bastante demorado nesses casos. edição 16 • Jul/ Ago/ Set • 2013 COMISSÃO DE BIOÉTICA Ortotanásia. Deixar morrer não é matar. Texto produzido pelo Juiz José Henrique R. Torres e utilizado como base do debate sobre o filme “Você não conhece Jack”, realizado no dia 19 de abril. A imagem de Caronte, transportando os mortos para o Hades, não pode ser esquecida quando se enfrenta, no âmbito da ética médica ou jurídico-penal, o instigante tema da terminalidade da vida. A luta contra a morte, obstinada e sem limites, em quaisquer circunstâncias, não pode mais ser considerada como um dever sagrado e prepotente da Medicina. Embora os avanços técnicos e científicos estejam trazendo indiscutíveis vantagens para a sociedade, não é menos verdade que, muita vez, acarretam consequências paradoxais e indesejáveis, como o indevido prolongamento da vida nas Unidades de Terapia Intensiva, mediante a expropriação da própria existência, com baixa qualidade de vida e altos custos, emotivos e econômicos. A cultura da medicalização da vida, justificada pela concepção falaciosa de que a morte é o resultado do fracasso do conhecimento e da técnica médica, tem legitimado, indevidamente, os abusos da onipotência de muitos profissionais da saúde que acreditam agir sob a égide de um falso dever de prolongar a vida a qualquer custo para vencer a morte. E essa obstinação terapêutica, um fenômeno sociocultural com causas múltiplas, tem como fundamento a carência da educação tanatológica, as irreais expectativas de cura, as perspectivas derrotistas quanto à superveniência da morte, motivos econômicos e até mesmo a intenção de realização de experimentos científicos. Além disso, é estimulada pela prática de uma “Medicina defensiva”, consistente na adoção de todos os recursos disponíveis, ainda que sabidamente desnecessários e fúteis, com o único objetivo equivocado e egoísta de fazer prova de uma boa atuação profissional, especialmente com relação aos pacientes em terminalidade, quando se invoca, como álibi, o temor de eventual responsabilização ética, civil e criminal pela morte. edição 16 • Jul/ Ago/ Set • 2013 Contudo, quando os procedimentos de suporte vital não têm mais sentido curativo diante da irreversibilidade e da não transitoriedade, submeter o paciente em estado terminal a procedimentos dolorosos e inúteis, apenas para que ele sobreviva a custa de seu isolamento e sofrimentos desnecessários, implica distanásia, que, além de constituir crueldade e tortura, constitui violação ao princípio ético previsto no Cap. I inc. XXII do CEM/2009 e pode até mesmo tipificar o crime de constrangimento ilegal, previsto no artigo 146 do CP. Portanto, é imprescindível que os profissionais médicos tenham a consciência de que praticar a ortotanásia, nos termos da Resolução n. 1.805/2006 do CFM e do § único do art. 41 do CEM/2009, ou seja, deixar morrer um paciente acometido de doença grave e incurável, em estado terminal, com respeito absoluto à sua autonomia e autodeterminação, não constitui conduta ilícita nem criminosa, não é homicídio, nem “eutanásia ativa”, nem “eutanásia passiva”, nem “auxílio ao suicídio”, antes configura um dever médico. É preciso compreender a dimensão da vida, aceitar o seu processo natural, admitir a impotência da Medicina diante da inexorabilidade da morte e, assim, saber conduzir os doentes em estado terminal, como Caronte, até o mundo dos mortos, com sensibilidade, com cuidados paliativos, com resignação e respeito à dignidade humana. Visão Médica 17 CAPA Cinco passos rumo à excelência Gerenciamento de protocolos no Hospital Alemão Oswaldo Cruz garante a ampliação de serviços baseados em qualidade e segurança 18 Com o amadurecimento de um importante trabalho iniciado em 2009, durante o processo que resultou na acreditação da Joint Comission International (JCI), o Hospital Alemão Oswaldo Cruz iniciou o gerenciamento de cinco protocolos específicos para o atendimento de acidente vascular cerebral (AVC), síndrome coronariana aguda com supradesnivelamento do segmento ST, dor torácica, sepse grave e choque séptico (infecção generalizada), e profilaxia de tromboembolismo venoso. lecimento de padrões que ampliarão o atendimento baseado em qualidade e segurança. Com esse acompanhamento integral, realizado a partir da mensuração de indicadores de processo e resultado, a Instituição avança rumo ao estabe- “O trabalho que estamos realizando começou já há alguns anos, com a revisão, atualização e mesmo a criação de novos protocolos. A partir da lite- Visão Médica Administrados pela equipe de Desenvolvimento Institucional e com coordenação técnica de Dr. Fernando Colombari, médico intensivista e Gerente de Pacientes Graves do Hospital, esses indicadores balizarão processos de melhoria contínua relacionados ao atendimento, diagnóstico e tratamento dos pacientes nestas situações de emergência. edição 16 • Jul/ Ago/ Set • 2013 CAPA ratura, que nos deu embasamento com relação às evidências médicas, seguindo o guideline de sociedades internacionais e, claro, respeitando o perfil e as características de nosso Hospital, médicos especialistas da Instituição redigiram os protocolos que, aprovados pela Diretoria Clínica, começaram a ser colocados em prática no mês de novembro de 2012”, conta Dr. Colombari. Questão de prioridade Segundo o médico, a adoção dos protocolos gerenciados auxilia as equipes com relação ao suporte no manejo clínico dos pacientes e definição de objetivos, além de orientar a sequência temporal de cuidados e ações diagnósticas e terapêuticas definidas. Dr. Fernando Colombari Por isso, a definição das cinco áreas de emergência, bem como dos protocolos que seriam gerenciados, levou em conta fatores como o número de áreas envolvidas no atendimento para homogeneizá-lo, além da redução da morbimortalidade e da demanda. Para Dr. Mauro Medeiros Borges, Superintendente Médico do Hospital, além de representar um importante passo para a certificação dos programas e serviços da Instituição, o gerenciamento de protocolos é uma etapa fundamental para a manutenção da acreditação internacional conquistada pela Instituição. “O compromisso com a evolução e a melhoria contínua, que tem na JCI um instrumento importante, faz com que o Hospital busque o aperfeiçoamento com relação à qualidade e segurança. Com a adesão das áreas e profissionais aos protocolos, a geração de dados e o gerenciamento dos indicadores, teremos condições de empreender melhorias e evoluir no oferecimento de um serviço de excelência com a cara do Hospital Alemão Oswaldo Cruz”, avalia. Dr. Mauro Medeiros Borges Prática e resultados Por meio de uma plataforma de educação a distância (EAD), 60 médicos e mais de 200 enfermeiros foram capacitados para a adoção dos protocolos no atendimento de casos enquadrados nessas cinco emergências. De acordo com o Dr. Colombari, até outubro a plataforma estará disponível a todos os médicos do Corpo Clínico. “Entendemos que, independentemente do profissional, se existe um protocolo ele precisa ser se- edição 16 • Jul/ Ago/ Set • 2013 Visão Médica 19 CAPA guido. Quando se dá a entrada de um paciente com AVC, por exemplo, o plantonista ou o enfermeiro que inicia o atendimento de acordo com o protocolo, sinaliza o outro setor envolvido que, nesse caso seria o Centro de Diagnóstico por Imagem. A equipe de imagem, então, saberá que, em alguns minutos, receberá um paciente com AVC que precisará passar por um exame rapidamente e, assim, poderá se preparar de maneira adequada. Esse é um exemplo claro de melhoria de processo gerada por meio da adesão ao protocolo e é esse tipo de avanço que iremos perseguir”, explica. De acordo com o médico, a definição dessas práticas padronizadas para o atendimento ocorreu com a participação e o envolvimento de membros do Corpo Clínico. Então, além da adesão dos médicos aos processos, existe uma grande expectativa quanto ao apoio dos profissionais na avaliação crítica dos protocolos para que melhorias possam ser implementadas. 20 Visão Médica “Se na avaliação realizada pelo grupo gerencial um indicador como tempo ou, talvez, a adoção de determinado procedimento apresenta uma variação negativa, temos a chance de conversar com o Coordenador do Pronto Atendimento (PA), da Cardiologia ou da Neurologia, por exemplo, para tentar descobrir qual é o gargalo e como podemos solucioná-lo. Essa avaliação que, assim como os indicadores, pode ser acompanhada por meio do SIGHA-Tasy, nos ajudará a aprimorar a evolução de nosso trabalho mês a mês e tentar reduzir a variabilidade do atendimento”, explica o Intensivista. Para o Superintendente Médico, o grande desafio é estimular a cultura de qualidade e segurança na Instituição. “Demos um salto importante com a criação dos protocolos, e a definição de indicadores gerenciados. Ainda temos muito a fazer, mas tenho convicção de que, com o envolvimento de todos, alcançaremos o objetivo,” conclui Dr. Mauro. edição 16 • Jul/ Ago/ Set • 2013 CAPA Juntos, os cinco protocolos têm 24 indicadores disponibilizados no Tasy. Acidente Vascular Cerebral Alta com prescrição de terapia antitrombótica. Tempo para realização de exame de imagem nos casos de AVC isquêmico. Alta com estatina nos casos de AVC isquêmico. Tempo de atendimento, da porta à avaliação médica, nos casos de AVC isquêmico. Dor torácica Tempo médio, da porta à realização de eletrocardiograma, em pacientes com dor torácica. Tempo médio, da porta ao atendimento médico no PA, em pacientes com dor torácica. Sepse Grave e Choque Séptico Hemoculturas colhidas antes da administração de antibioticoterapia inicial. Tempo médio em minutos para introdução de antimicrobianos a partir do momento do diagnóstico. Percentual de pacientes com sepse grave e choque séptico que receberam antibiótico em até uma hora. Mortalidade devido à sepse grave e choque séptico. Percentual de pacientes com sepse grave e choque séptico que tiveram coleta de culturas no momento do diagnóstico. Coleta de lactato arterial no momento do diagnóstico de sepse grave e choque séptico. Síndrome Coronariana Aguda Mortalidade de paciente internado com infarto agudo do miocárdio (IAM). Tempo médio, da porta ao atendimento médico no PA em pacientes com IAM. Prescrição de ácido acetilsalicílico (AAS) na alta. AAS no momento da chegada. Tempo médio, da porta à realização do eletrocardiograma no PA, em pacientes com IAM. Prescrição de dupla antiagregação plaquetária na alta (em casos de SCA com supra de ST). Tempo médio, da porta ao balão, nos pacientes com síndrome coronariana aguda com supra de ST (em casos de SCA com supra de ST). IECA ou BRA para LVSD (Disfunção sistólica do ventrículo esquerdo). Tromboembolismo Venoso Profilaxia de Tromboembolismo Venoso. Adesão ao protocolo de Tromboembolismo Venoso até 24 horas após a admissão no Hospital ou após a cirurgia (em Unidades de Internação). Profilaxia do Tromboembolismo Venoso na Unidade de Terapia Intensiva. edição 16 • Jul/ Ago/ Set • 2013 Visão Médica 21 PERSONAGEM HAOC Evaldo Foz , um homem de muitas histórias Dr. Evaldo (primeiro à esquerda) com colegas do Hospital C ontemporâneos, amigos, colegas e admiradores. No Hospital Alemão Oswaldo Cruz, histórias sobre o cirurgião Evaldo Foz não são raras. Graças à memória de profissionais que o conheceram e tiveram a oportunidade de vê-lo atuar, é possível identificar contribuições do médico tanto para a estrutura, quanto para forma de atuar da Instituição. “Evaldo era uma daquelas figuras que atraem outras pessoas. Muito prestativo, amigo e sempre pronto a contar uma história ou uma anedota”, lembra Dr. Almiro dos Reis Júnior, do Serviço Médico de Anestesia do Hospital. “Posso dizer que a estrutura do Centro Cirúrgico, como conhecíamos até a inauguração do Bloco E, trazia a marca do Dr. Evaldo Foz. Com grande trânsito e um trabalho sempre muito próximo à administração do Hospital, um dia, ele apareceu com uma planta que revolucionaria o nosso Centro Cirúrgico e que, para nosso espanto, já estava aprovada e devidamente discutida com o engenheiro. A partir daquele dia, vimos a unidade surgir diante de nossos olhos”, explica Dr. Almiro. De acordo com o anestesiologista, que acompanhou o cirurgião em incontáveis procedimentos, Dr. Evaldo destacava-se pela enorme competência, assim como pela versatilidade. “Ele nunca teve grande projeção científica, mas era sempre muito solicitado pelos colegas pela grande capacidade técnica. Era um prazer vê-lo trabalhando porque o mesmo empenho que dedicava a cirurgias complexas aparecia em pequenas intervenções realizadas por ele, fosse uma cirurgia para varizes, fosse a extração de um daqueles bichos-de-pé. Pode parecer exagero, mas ele era um cirurgião extremamente apaixonado pelo que fazia”, explica. Essa dedicação à área, fez com que o médico apoiasse algumas importantes transformações, durante sua gestão como Diretor Clínico do Hospital, cargo em que substituiu seu irmão, o Dr. Carlos Foz. Dr. Evaldo (à esquerda) na inauguração do Centro Cirúrgico 22 Visão Médica edição 16 • Jul/ Ago/ Set • 2013 PERSONAGEM HAOC Personalidade marcante O perfil arrojado do médico não era reservado apenas ao Hospital. Reconhecido por sua habilidade comandando aeronaves, Dr. Evaldo chegou a ser presidente do Aeroclube de São Paulo, entidade em que também fez muitos amigos e admiradores. “Seria difícil traduzir o Dr. Evaldo com uma única característica. Ele possuía uma série de atributos que faziam dele uma pessoa extraordinária. Na década de 40, por exemplo, ele atendeu e operou gratuitamente um grande número de refugiados da Segunda Guerra. Da mesma forma, ele era um talentoso ‘tirador de sarros’, sempre com uma piada na ponta da língua e, ao mesmo tempo, um profissional extremamente atento às novidades. Lembro com clareza do dia em que ele abordou a equipe dizendo ter ouvido falar sobre uma tal tomografia e querendo saber o que pensávamos a respeito. Como anestesista, preferi me abster, mas isso mostra como ele queria levar o Hospital para um outro patamar”, recorda. Dr. Evaldo (ao centro) em inauguração de ala do Hospital Uma perda e tanto Com insuficiência renal e às vésperas de completar 70 anos de idade, Dr. Evaldo passou por transplante, realizado por uma equipe que, literalmente, fez história. Na sala de cirurgia, além do paciente Evaldo Foz estavam os Drs. Emil Sabbaga e Gilberto Góes. O procedimento foi um sucesso e a recuperação do médico superou as expectativas. Para a surpresa de muitos, que até então não conheciam sua faceta devota, Dr. Evaldo mandou erguer uma capela na fazenda que mantinha na Região Sudoeste do Estado, próxima à cidade de Itapetininga. Dr. Evaldo (à esquerda) “Cerca de um ano depois da cirurgia, Evaldo convidou amigos e colegas para uma missa, que seria realizada para celebrar o bom resultado do transplante. Por isso, um ou dois dias antes, seguiu para a fazenda a fim de realizar os preparativos. Poucas horas depois, fomos avisados sobre a tragédia,” recorda Dr. Almiro. A colisão com o caminhão, na Rodovia Raposo Tavares, interrompeu a vida do Dr. Evaldo Foz, mas foi incapaz de fazer o mesmo com suas histórias. Hoje, apesar de não ser facilmente localizado nas páginas de busca da Internet, graças a sua atuação como Diretor Clínico, o médico tem parcela de responsabilidade em cada procedimento cirúrgico realizado no Hospital Alemão Oswaldo Cruz e, talvez, essa fosse a contribuição com a qual ele gostaria de encerrar sua passagem pela Instituição. edição 16 • Jul/ Ago/ Set • 2013 Visão Médica 23 LIVRARIA O Imperador de todos os males Por Dr. Stefan Cunha Ujvari No século XIX, médicos interpretavam a leucemia como uma grande supuração sanguínea, devido ao elevado número de leucócitos encontrados ao microscópio. Por isso, sem êxito, buscavam os supostos locais infecciosos. A ausência do achado bacteriano desviou as atenções para outra explicação daquele ‘sangue branco’ (leucemia) pela intensidade leucocitária. Os avanços médicos apontaram para um novo tipo de câncer e, dessa vez, no sangue. As portas estavam abertas para testes terapêuticos. Por quê? A leucemia foi o tipo de câncer ideal para avaliar a eficácia dos diferentes tratamentos. Bastava, para isso, constatar a queda do número de blastos ao microscópio: único recurso para dimensionar a extensão tumoral em uma época em que não havia ultrassonografia, tomografia ou ressonância magnética. Os avanços terapêuticos vieram de muitas descobertas ao acaso, entre tentativas com erros e acertos. Experimentos secretos com armas químicas evidenciaram efeitos colaterais, com destruição de células sanguíneas e, portanto, precipitaram testes para o tratamento das leucemias. A descoberta do ácido fólico na Índia e sua participação na produção leucocitária induziram seu fornecimento a leucêmicos na tentativa de restabelecer o número normal dos leucócitos. O resultado foi catastrófico. As células tumorais se apoderaram da substância e se multiplicaram. O aprendizado disso? A ciência buscou uma droga que bloqueasse o ácido fólico: nascia o metotrexato. O sucesso de associar drogas para aniquilar a bactéria da tuberculose contaminou os médicos da futura disciplina da Oncologia que, de maneira corajosa, decidiram combinar quimioterápicos di- 24 Visão Médica O Imperador de todos os males Siddhartha Mukherjee Companhia das Letras – 2012 648 p. R$ 54,00 ferentes às leucemias refratárias ou recidivantes. Essas e outras histórias são relatadas no livro “O imperador de todos os males”, da Companhia das Letras. O autor Siddhartha Mukherjee relata de maneira cronológica a história das descobertas relacionadas aos diferentes tipos de câncer e consequentes avanços terapêuticos. 14 •Ago/ Janeiro ediçãoedição 16 • Jul/ Set • 2013 RESPONSABILIDADE JURÍDICA Transplante com doador vivo Por Dr. Sergio Pittelli [email protected] O transplante, no Brasil, é regulamentado pela Lei 9434/97. O capítulo 3º trata do transplante com doador vivo, possuindo apenas dois artigos, um deles com oito parágrafos (dois vetados). O art. 9º, caput, autoriza dispor gratuitamente “órgãos e partes do próprio corpo vivo, para fins terapêuticos”. Para cônjuge e parentes até 4º grau a decisão é do doador. Para qualquer outra pessoa é exigível a autorização judicial, excetuada a medula óssea. O parágrafo 3º restringe a doação a órgãos duplos ou partes de órgãos cuja retirada não implique em risco para a saúde nem comprometimento de “aptidões vitais e saúde mental e não cause mutilação ou deformação inaceitável”, o que é óbvio e dispensável de ser dito. O doador deverá autorizar, preferencialmente por escrito e diante de testemunhas, especificando o tecido, órgão ou parte retirada (parágrafo 4º). Pelo texto, entendemos que a forma é opcional, mas as testemunhas são obrigatórias. No caso da forma não escrita, conclui-se que deve ficar anotado no prontuário tanto a autorização quanto o nome das testemunhas. Aconselhamos, entretanto, vivamente, que a autorização seja sempre colhida por escrito, por motivos óbvios. A doação poderá ser revogada a qualquer momento até sua concretização (parágrafo 5º), princípio comum ao contexto, encontrável, por exemplo, na esfera das diretivas antecipadas ou mesmo do consentimento informado para atos e procedimento médicos de qualquer natureza. O juridicamente incapaz poderá doar exclusivamente medula óssea, provido o consentimen- edição 16 • Jul/ Ago/ Set • 2013 to de ambos os pais ou responsável legal, indispensável ainda a autorização judicial (parágrafo 6º). À gestante é vedado doar, exceto medula óssea e ainda assim se o ato não oferecer risco a ela e ao feto (parágrafo 7º). Por último, o autotransplante depende exclusivamente da autorização do próprio indivíduo, registrado no prontuário médico. Se ele for juridicamente incapaz exige-se a autorização de um de seus pais ou responsável legal (parágrafo 8º). Há dois pontos interessantes a comentar neste caso. O primeiro é que a autorização do responsável no caso de incapaz é instituto jurídico de aplicação universal, não se restringindo a autotransplantes; a simples internação já exige autorização. A segunda é que, aqui, exige-se a autorização de apenas um dos pais, contrariamente ao caso de heterotransplantes, ou seja, vale mais uma vez a regra geral de autorização para tratamento de incapazes. Foi introduzido posteriormente um segundo artigo, 9-A, cujo texto garante à mulher grávida o acesso a informações sobre possibilidades e benefícios da doação voluntária de sangue do cordão umbilical e placentário. No nosso entendimento, a intenção do legislador foi aumentar a disponibilidade desse tipo de tecido. Visão Médica 25 ARTIGO INTERNACIONAL Gliomas Anaplásicos: melhores perspectivas Por Dra. Maria Regina Vianna* e Dr. Venâncio A F. Alves** Comentário sobre os artigos: 1: Nuño M, Birch K, Mukherjee D, Sarmiento JM, Black KL, Patil CG. Survival and Prognostic Factors of Anaplastic Gliomas. Neurosurgery. 2013 May 29. [Epub ahead of print] 2: Frenel JS, Leux C, Loussouarn D, Le Loupp AG, Leclair F, Aumont M, Mervoyer A, Martin S, Denis MG, Campone M. Combining two biomarkers, IDH1/2 mutations and 1p/19q codeletion, to stratify anaplastic oligodendroglioma in three groups: a single-center experience. J Neurooncol. 2013 May 17. [Epub ahead of print] Além da gravidade de manifestações clínicas devido à localização, os tumores do Sistema Nervoso Central (SNC) apresentam aspectos radiológicos e histopatológicos desafiadores. Mesmo os tidos como de graus baixo ou intermediário são, em geral, infiltrativos. Graduados pela Organização Mundial de Saúde (OMS) de I a IV, de acordo com a malignidade, os gliomas constituem um dos principais grupos de tumores primários do SNC em adultos, com destaque para o glioblastoma multiforme (GBM). 26 Visão Médica Ainda que malignos, os gliomas anaplásicos (grau III da OMS) têm prognóstico melhor que o do GBM e vêm apresentando resultados favoráveis com o avanço do tratamento, como demonstram dois trabalhos aprovados para publicação em 2013. Em estudo que envolveu 1.766 pacientes com astrocitomas anaplásicos (AA) e 570 com oligodendrogliomas anaplásicos (AO), diagnosticados entre 1990 e 2008 em todas as regiões dos Estados Unidos, Nuño et al. observaram mediana de sobrevida de 15 meses em pacientes com AA e 42 meses em portadores de AO. A menor idade foi associada à ampliaçãoda sobrevida nos dois tipos. Tratamento radioterápico (RR 0,62, p<0,0001) ou cirúrgico (RR 0,73, p<0,0001), sexo feminino (RR 0,87, p=0,02) e diagnóstico a partir do ano 2000 (RR 0,84, p=0,004) associaram-se ao menor risco de mortalidade nos astrocitomas. Entre os portadores de oligodendrogliomas, o tratamento cirúrgico incompleto não melhorou o prognóstico, mas quando foi possível a ressecção macroscópica total, a sobrevida mediana subiu de 40 para 61 meses (p=0,001). edição 16 • Jul/ Ago/ Set • 2013 ARTIGO INTERNACIONAL/ QuaL É a sua opinião? De outra parte, na Universidade de Nantes, na França, Frenel et al. estudaram 43 casos consecutivos de oligodendroglioma anaplásicos, subdivididos em três categorias prognósticas, com a combinação de dois biomarcadores: mutações nos genes IDH1/2, detectadas em 23 casos com auxílio da pesquisa de proteína mutante, identificada por meio da imuno-histoquímica pelo anticorpo monoclonal mIDH1R132H (20/43) e o sequenciamento dos genes IDH1 (2/43) e IDH2 (1/43); ecodeleção 1p/19q, identificada por hibridização molecular fluorescente (FISH), também em 23 pacientes. do estudo, enquanto aqueles com apenas uma dessas alterações gênicas tiveram medianas de 30 meses de OS e 22 meses de PFS. Já os portadores de oligodendroglioma anaplásico que não apresentaram os biomarcadores tiveram médias de OS de 9,9 meses e PFS de 8,6 meses. A mediana de sobrevida geral (OS) foi de 35 meses, já a sobrevida livre de doença (PFS) foi de 22 meses. Os biomarcadores mostraram grande impacto, com a presença de mutações IDH1/IDH2 associada a OS de cinco anos em 91 % e de PFS de 86%, índices que contrastam com OS de 9% e PFS de 6% nos casos sem essas mutações. Em conclusão, esses recentes estudos demonstram perspectivas melhores para os portadores de gliomasa naplásicos, tendo Nuño et al. identificado avanços no tratamento radioterápico e nos casos em que foi obtida ressecção cirúrgica completa. Por sua vez, a identificação de dois biomarcadores no estudo de Frenel e colaboradores é promissora na seleção de três subgrupos de portadores de oligodendroglioma anaplásico que deverão merecer tratamento diferente nos próximos estudos clínicos, parecendo importante uma abordagem mais agressiva nos casos sem mutação nos genes IDH1/IDH2 e sem deleções em 1p/19q. A análise multivariada segregou três grupos com prognósticos diferentes: nos casos em que mutações IDH1/2 e codeleções 1p/19q ocorreram simultaneamente, a média foi superior ao período de seguimento *Maria Regina Vianna, doutora em Patologia, FMUSP, sócia diretora do CICAP- HAOC **Venâncio A. F. Alves, professor titular de Patologia, FMUSP, sócio diretor do CICAP- HAOC. Aspectos microscópicos dos gliomas anaplásicos: Astrocitomaanaplásico: Neoplasia hipercelular com células fusiformes ou estreladas, com neoformação vascular em meio a estroma fibrilar. Oligodendroglioma anaplásico: Neoplasia hipercelular com células redondas, núcleo central e citoplasma claro. Ausência de necrose em ambas amostras Resposta: Qual é a sua opinião? As imagens evidenciam alterações características de um pseudotumor cerebral, ou hipertensão intracraniana benigna. A angioressonância mostra trombose parcial do seio transverso e sigmoide à direita. As imagens das órbitas mostram edema de papila, com restrição à difusão. edição 16 • Jul/ Ago/ Set • 2013 Visão Médica 27 EVENTOS EM DESTAQUE Simpósio “Distúrbios Comportamentais dos Profissionais de Saúde” Por Dra. Janice C. Nazareth Coordenadora da Comissão de Bioética (CoBi) No dia 29 de junho, em uma iniciativa conjunta com o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (CREMESP), o Hospital Alemão Oswaldo Cruz realizou mais uma edição do Simpósio de Bioética Hospitalar. Com o tema “Distúrbios Comportamentais dos Profissionais de Saúde”, o encontro contou com palestras de especialistas como a Dra. Mariangela Savóia, do Ambulatório de Ansiedade da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, de Dr. Márcio Bernik, também da FMUSP e do Dr. Daniel Sócrates, da Unidade de Pesquisas em Álcool e Drogas da Escola Paulista de Medicina. Aberto pelo Vice-Diretor Clínico do Hospital, Dr. Antônio Marmo Lucon, que elogiou o debate sobre temas tão importantes, o Simpósio abordou tópicos como a dependência de drogas, os transtornos de ansiedade, assim como os de humor (ciclotimia e especificidades do transtorno bipolar no médico). Com grande participação de médicos e profissionais da saúde ligados à esfera psicológica, o Simpósio enfatizou a necessidade da atuação precoce e da atenção aos sinais de distúrbios dessa ordem, a fim de evitar perdas sociais e profissionais ainda mais significativas. Outro resultado importante foi a criação de uma força-tarefa no CREMESP, com o objetivo de elaborar um fluxograma de atuação precoce e efetiva, em cooperação com os serviços envolvidos em transtornos de ansiedade e humor, tal qual o que tem sido tão bem sucedido com relação à dependência de drogas. 1º Simpósio Internacional de Nutrição Clínica Contemporânea Por Dr. Andrea Bottoni Coordenador de Educação Médica do Instituto de Educação e Ciências em Saúde (IECS) O Hospital Alemão Oswaldo Cruz sediou, em 27 de abril de 2013, o 1º Simpósio Internacional de Nutrição Clínica Contemporânea. Com aproximadamente 180 participantes, o evento, organizado pela Equipe Multiprofissional de Terapia Nutricional (EMTN) do Hospital, criou a oportunidade para a ampliação de debates sobre os principais avanços e desafios da área com a participação de especialistas e estudiosos do segmento. Como Médico Nutrólogo, Mestre em Nutrição e Dou- 28 Visão Médica edição 16 • Jul/ Ago/ Set • 2013 EVENTOS EM DESTAQUE tor em Ciências pela UNIFESP, mas também como um dos organizadores do evento, acredito que o encontro contribuiu de maneira significativa, discutindo a importância do trabalho em equipe tanto para o cuidado integral dos pacientes, quanto para a criação, como pudemos ver, de um debate abrangente sobre o tema. Foi apresentado vasto conteúdo científico, trazido tanto pelos profissionais do Hospital, que ministraram palestras e moderaram painéis ao longo de todo o evento, quanto por médicos como a Dra. Maria Isabel Toulson Davisson Correia, Professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais, e do Dr. Alessandro Laviano, Professor da Faculdade de Medicina da Sapienza Universidade de Roma, na Itália. O Simpósio foi classificado como ‘ótimo’ por mais de 80% dos participantes e lançou a pedra fundamental para o estabelecimento do evento como um fórum internacional regular sobre a Nutrição Clínica Contemporânea. Tanto que, graças à articulação dos profissionais da EMTN e ao sucesso do evento, a segunda edição do Simpósio já começa a tomar forma, em torno da data estabelecida para sua realização, no dia 22 de março de 2014. 1º Encontro Internacional de Enfermagem em Nutrição Parenteral e Enteral 2º Simpósio Nacional de Enfermagem em Terapia Nutricional Por Enf. Letícia Faria Serpa Gerente do Instituto de Educação e Ciências em Saúde (IECS) e Diretora da Escola Técnica Educação em Saúde (ETES) Com o apoio da Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral, o Comitê de Enfermagem promoveu, em junho, o 1º Encontro Internacional de Enfermagem em Nutrição Parenteral e Enteral e o 2º Simpósio Nacional de Enfermagem em Terapia Nutricional na cidade de São Paulo. Com discussões sobre o Gerenciamento da Qualidade no Cuidado, o encontro representou uma grande oportunidade para profissionais da área de Enfermagem e contribuiu para a divulgação da especialidade, a atualização de conhecimentos baseados em evidência científica e troca de experiências e educação continuada para uma prática segura. Pela primeira vez, conseguimos reunir profissionais renomados da área acadêmica, como as escolas de Enfermagem da Unicamp, USP e UNIFESP e, além de enfermeiros especialistas atuantes nas Equipes Multiprofissionais de Terapia Nutricional de centros reconhecidos, contamos com a participação internacional da enfermeira Mabel Pellejero, de Montevidéu, Uruguai. edição 16 • Jul/ Ago/ Set • 2013 Durante o evento, de que participaram cerca de 180 enfermeiros de todo o País, realizamos também o lançamento do pocketbook “Terapia Nutricional Enteral e Parenteral – Consenso de Boas Práticas de Enfermagem”. Resultado de oito sessões do Meeting de Boas Práticas, realizadas em 2012, o livro reverbera algumas das reflexões da prática assistencial e que também foram debatidas durante o evento. Organizado pelas enfermeiras Claudia Satiko T. Matsuba, Suely Itsuko Ciosak e por mim, o livro contou com o apoio das enfermeiras Maria Isabel Pedreira de Freitas, Jaqueline Almeida e Thaiz Franzoni e dos cerca de 440 enfermeiros que participaram dos encontros presencialmente ou via web conferência. Visão Médica 29 EVENTOS EM DESTAQUE International Workshop for Latin-American Leaders: Quality Improvement in Health Services Organizations Por Enf. Fátima Silvana Furtado Gerolin Superintendente Assistencial do Hospital Alemão Oswaldo Cruz Com a missão de contribuir com o aperfeiçoamento dos sistemas de saúde em diversos países, a Harvard School of Public Health desenvolve o International Health Systems Program (IHSP), iniciativa de capacitação direcionada a altos funcionários e executivos de instituições em todo o mundo. Conduzido por uma equipe de professores e especialistas em saúde pública, o Programa, que mantém cursos permanentes, realiza ações específicas de treinamentos com a participação de representantes de hospitais e instituições de excelência, a fim de proporcionar a troca de experiências e apresentar modelos bem sucedidos de gestão e qualidade. Para compartilhar os avanços alcançados pelo Hospital Alemão Oswaldo Cruz, fui convidada a participar de um desses encontros: o International Workshop for Latin-American Leaders: Quality Improvement in Health Services Organizations. Realizado entre os dias, 20 e 23 de maio, nas dependências 30 Visão Médica da Universidade, em Boston (EUA), com a presença de aproximadamente 50 representantes de instituições de saúde de diversos países da América Latina, o encontro deu enfoque a questões de qualidade e segurança, ampliando o debate sobre temas como a Tecnologia da Informação na área da Saúde, Segurança, Liderança, e Qualidade, por exemplo. No dia 23, ampliando a pauta sobre os processos de acreditação hospitalar, apresentei o tema ‘Humanização - Modelo Assistencial da Teoria à Realidade’ trazendo um pouco dos avanços alcançados pelo Hospital. Foi uma experiência importante e que, tenho certeza, contribuiu para o constante processo de desenvolvimento da saúde na América Latina. edição 16 • Jul/ Ago/ Set • 2013 REUNIÕES CIENTÍFICAS Reuniões Científicas As Reuniões Científicas têm o importante papel de possibilitar que temas atuais e de interesse de todos sejam compartilhados com o Corpo Clínico do Hospital. Confira o resumo de algumas das apresentações. Uso restritivo do sangue e de seus componentes: visão do Hematologista Por Dra. Selma Soriano Na prática clínica, o uso liberal do sangue e de seus componentes refere-se ao atendimento da requisição de transfusão, tal e qual solicitada pelo médico em assistência ao paciente. O uso restritivo, por sua vez, refere-se à orientação e avaliação sugerida pelo médico hematologista e hemoterapeuta, no sentido de ampliar o conhecimento da especialidade junto ao Corpo Clínico da Instituição, com a finalidade de diminuir as transfusões desnecessárias, bem como as reações adversas às transfusões, com foco na segurança do paciente e na hemovigilância. O gatilho transfusional para o uso de concentrado de hemácias é transfundir entre 10 e 12 gr\dl no uso liberal e entre 7,0 e 9,0 gr\dl no uso restritivo. Por outro lado, as dificuldades e restrições de candida- tos à doação, contribuem para a não manutenção de um equilíbrio sustentável entre estoque e demanda de sangue e seus componentes. Portanto, monitorizar as práticas clínicas adotadas, por meio da educação continuada, auditorias retrospectivas e até mesmo intervencionistas, aumentam a segurança dos pacientes e contribuem para minimizar o desperdício de material biológico, de grande relevância na manutenção da vida dos pacientes críticos e de alta complexidade. Uso dos novos anticoagulantes orais no tratamento da fibrilação atrial não valvar Por Dr. Bruno Papelbaum A anticoagulação oral já está consagrada na fibrilação atrial (FA) para profilaxia de eventos neurológicos, com redução de 39% no risco de acidente vascular cerebral (AVC), segundo metanálise publicada. Até recentemente, somente a varfarina trazia esse benefício com necessidade de manter o INR em estreita faixa terapêutica e orientar sobre interação com fármacos e alimentos. Novos anticoagulantes orais foram introduzidos no mercado, após grandes estudos clínicos de não inferioridade quando comparados com a varfarina. A dabigatrana, um inibidor direto da trombina, foi validada pelo estudo RE-LY, enquanto rivaroxaban e apixaban, inibidores diretos do fator Xa, pelos estudos edição Ago/•Set • 2013 edição16 14••Jul/ Janeiro 2013 Visão Médica 31 REUNIÕES CIENTÍFICAS ROCKET-AF e ARISTOTLE, respectivamente. Como benefícios específicos, podemos destacar redução no risco de AVC hemorrágico pelos três fármacos, no risco de AVC isquêmico com dabigatrana 150 mg duas vezes ao dia e na mortalidade global com apixaban 5 mg duas vezes ao dia. Dispomos hoje, portanto, de novos fármacos eficazes para anticoagulação oral em FA não valvar. A varfarina, contudo, é uma medicação que, com 60 anos de uso, possui efeitos adversos conhecidos e, por isso, mais facilmente reversíveis, não devendo ser abandonada principalmente em pacientes com estabilidade do INR e portadores de valvopatias. Atualização sobre a aplicação clínica de células tronco adultas Por Dra. Isa Dietrich As células tronco adultas representam uma ferramenta terapêutica valiosa para reconstrução de tecidos porque, além de possuírem capacidade de diferenciação em diversos tipos celulares, elas não têm o potencial teratogênico e os questionamentos éticos pertinentes às células tronco embrionárias. As células tronco da medula óssea são as mais estudadas e seu emprego clínico no transplante de medula é rotineiro, mas existem outras fontes de células tronco adultas, entre as quais podemos destacar as células tronco do tecido adiposo e as IPS cells (células induzidas a pluripotência). As células tronco do tecido adiposo podem ser facilmente obtidas do produto da lipoaspiração e vêm sendo empregadas, em ensaios clínicos controlados, para melhorar a trofia de tecidos desvitalizados, produzir aumento de volume tecidual, assim como na engenharia de tecidos. Shinya Yamanaka e John Gurdon ganharam o prêmio Nobel desenvolvendo um método para reprogramar qualquer célula adulta e diferenciada em células tronco totipotentes (IPS cells). As IPS cells se prestam, assim, a reconstruir ou substituir qualquer tecido dos três folhetos embrionários e vêm despertando grande interesse da indústria farmacêutica. Estes avanços requerem investimentos de nossas instituições em medicina translacional, agregando profissionais com conhecimentos sobre as ciências básicas e capacidade de trazê-los à aplicação clínica. Dr. Cláudio Bresciani 32 Visão Médica edição 16 • Jul/ Ago/ Set • 2013 REUNIÕES CIENTÍFICAS Gastrostomia Endoscópica Por Dr. Paulo Sakai, Dr. Rogério Kuga e Dr. Renzo Ruiz A gastrostomia é uma comunicação do estômago com o meio exterior, realizada por meio de um “estoma” (orifício aberto no abdome). A sonda de gastrostomia percutânea endoscópica (PEG), um tubo de silicone flexível e que é introduzido no estômago, é utilizada para a alimentação. Ela permite que a dieta, em estado líquido e/ou pastoso, assim como os medicamentos, sejam administrados diretamente na cavidade gástrica. Em detrimento da jejunostomia, a gastrostomia é sempre preferida por ser mais fisiológica e apresentar menores taxas de complicações. A gastrostomia endoscópica percutânea (PEG) é um procedimento relativamente simples e que substituiu o método cirúrgico tradicional, ficando esse como método de exceção em situações em que o procedimento endoscópico é contraindicado. Rápido e efetivo, em mãos experientes este tipo de gastrostomia apresenta baixas taxas de morbimortalidade, já que as infecções mais comuns são relacionadas às feridas cirúrgicas. A PEG é, atualmente, um dos procedimentos endoscópicos mais comuns. Só nos Estados Unidos, são realizados entre 100 mil e 125 mil procedimentos por ano. Suas principais indicações estão relacionadas à impossibilidade ou deficiência na deglutição, necessidade de uso prolongado de dieta por sonda nasoenteral (acima de três semanas) e episódios frequentes de broncoaspiração. edição 16 • Jul/ Ago/ Set • 2013 Visão Médica 33 agenda / expediente REUNIÕES CIENTÍFICAS DO ALMOÇO REUNIÕES CIENTÍFICAS Coordenação: Instituto de Educação e Ciências em Saúde e Diretoria Clínica Local: Bloco B • 5° andar • Restaurante dos médicos Horário: 12h às 13h 09/09 Reunião Científica Mensal da Clínica Cirúrgica Coordenação: Pedro Renato Chocair Horário: 12h30 Local: Bloco B • 14° andar • Auditório 12/09 Cirurgias Citoredutoras Multivicerais nas Neoplasias da Cavidade Abdominal Pélvica Palestrante: Paulo Cesar Leonardi Moderador: Marcelo Mester e Jacques Tabacof 19/09 Consentimento informado para internações hospitalares – Complicações jurídicas Palestrante: Fernando Cordeiro Moderador: Joaquim José Gama Rodrigues 26/09 Atualização em Escoliose Vertebral Palestrante: Élcio Landim Moderador: Roberto Santin Programação sujeita a alteração e cancelamento 17/09 Reunião Científica Mensal do Pronto Atendimento Coordenação: Pedro Renato Chocair Horário: 19h30 às 22h Local: Bloco B • 14° andar • Auditório 18/09 Reunião Científica da Cardiologia Coordenação: Eberhard Grube e Pedro Graziosi Tema: Cardio-oncologia: onde estamos? Palestrantes: Ariel G. Kann e Ricardo Couto Moraes Horário: 11h às 12h Local: Bloco B • 14° andar • Anfiteatro 18/09 Reuniões Científicas de Infectologia Coordenação: Gilberto Turcato Jr. Horário: 13h às 14h Local: Bloco B • 14° andar • Sala 1 18 e 25/09 Reunião de Oncologia Coordenação: Centro de Oncologia Temas: Oncologia Torácica e Urooncologia respectivamente Horário: 12h às 13h30 Local: Bloco B • 14° andar • Auditório 24/09 Reunião Científica de Neurologia e Neurocirurgia Coordenação: Jefferson Gomes Fernandes e Roberto Carneiro Oliveira Tema: Dor pós-AVC Palestrante: Rogerio Adas Ayres de Oliveira Horário: 11h30 às 12h30 Local: Bloco B •14° andar• Auditório 24/09 Melhores Práticas em Terapia Intensiva Coordenação: Unidade de Terapia Intensiva Horário: 19h30 às 22h Local: Bloco B • 14° andar • Auditório 27/09 Discussão de Casos de Câncer Colorretal Coordenação: Angelita Habr-Gama e Rodrigo Perez Horário: 7h30 às 9h Local: Bloco B • 14° andar • Auditório 30/09 Reunião Mensal do CDI Coordenação: Equipe Fleury Diagnóstico Horário: 19h30 às 21h30 Local: Bloco B • 14° andar • Sala 1 EXPEDIENTE A revista “Visão Médica” é uma publicação trimestral direcionada ao Corpo Clínico do Hospital Alemão Oswaldo Cruz. Comitê Editorial: Dr. Jefferson Gomes Fernandes (Editor Chefe), Dr. Andrea Bottoni, Dr. Claudio José C. Bresciani, Dr. Luis Fernando Alves Mileo, Dr. Marcelo Ferraz Sampaio, Dr. Mauro Medeiros Borges, Dr. Stefan Cunha Ujvari, Dra. Valéria Cardoso de Souza e Dr. Vladimir Bernik. Projeto Gráfico: Bruno Valiante e Diego Bieliauskas Ferreira | Edição de Arte: Diego Bieliauskas Ferreira Coordenação Editorial: Aline Shiromaru Jornalista responsável: Wagner Pinho - MTb 39525 Fotos: banco de imagens do Hospital Tiragem: 2.500 exemplares 34 Visão Médica edição 16 • Jul/ Ago/ Set • 2013 Estar junto Seu paciente em boas mãos O Centro de Oncologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz conta com uma equipe médica de excelência e referenciada, com enfermeiras especialistas em oncologia, nutricionistas, dentistas, psicólogos, farmacêuticos e fisioterapeutas que alinham as recentes descobertas da ciência a um tratamento integral, humanizado e multidisciplinar. Oferece um atendimento completo e integral ao paciente, com os setores de Quimioterapia, Radioterapia e Cirurgia Oncológica, trabalhando em conjunto, de forma a atender as necessidades de seu paciente e proporcionar o seu bem-estar. Agendamento de Consultas: 11 3549 0673 (das 9h às 16h) Mais Informações: 11 3549 0672/ 3549 0665 (das 8h às 18h) Certificado pela Joint Commission International CENTRO DE ONCOLOGIA Padrão Internacional de qualidade em atendimento médico e hospitalar. Diretor Clínico - Hospital Alemão Oswaldo Cruz: Dr. Marcelo Ferraz Sampaio - CRM 58952 Centro de Oncologia