REDAÇÃO Em primeiro lugar (...), pode-se realmente “viver a vida” sem conhecer a felicidade de encontrar num amigo os mesmos sentimentos? Que haverá de mais doce que poder falar a alguém como falarias a ti mesmo? De que nos valeria a felicidade se não tivéssemos quem com ela se alegrasse tanto quanto nós próprios? Bem difícil te seria suportar adversidades sem um companheiro que as sofresse mais ainda. (...) Os que suprimem a amizade da vida parecem-me privar o mundo do Sol: os deuses imortais nada nos deram de melhor, nem de mais agradável. Cícero, Da Amizade. Aprecio no mais alto grau a resposta daquele jovem soldado, a quem Ciro perguntava quanto queria pelo cavalo com o qual acabara de ganhar uma corrida, e se o trocaria por um reino: “Seguramente não, senhor, e no entanto eu o daria de bom grado se com isso obtivesse a amizade de um homem que eu considerasse digno de ser meu amigo”. E estava certo ao dizer se, pois se encontramos facilmente homens aptos a travar conosco relações superficiais, o mesmo não acontece quando procuramos uma intimidade sem reservas. Nesse caso, é preciso que tudo seja límpido e ofereça completa segurança. Montaigne, “Da amizade” (adaptado). Amigo é coisa pra se guardar, (...) Debaixo de sete chaves, E sei que a poesia está para a prosa Dentro do coração... Assim como o amor está para a amizade. Assim falava a canção E quem há de negar que esta lhe é superior? Que na América ouvi... (...) Mas quem cantava chorou, Caetano Veloso, “Língua” Ao ver seu amigo partir... Mas quem ficou, No pensamento voou, Com seu canto que o outro lembrou. (...) Fernando Brant / Milton Nascimento “Canção da América”. Considere os textos e a instrução abaixo: INSTRUÇÃO: A amizade tem sido objeto de reflexões e elogios de pensadores e artistas de todas as épocas. Os trechos sobre esse tema, aqui reproduzidos, pertencem a um pensador da Antiguidade Clássica (Cícero), a um pensador do século XVI (Montaigne) e a compositores da música popular brasileira contemporânea. Você considera adequadas as ideias neles expressas? Elas são atuais, isto é, você julga que elas têm validade no mundo de hoje? O que sua própria experiência lhe diz sobre esse assunto? Tendo em conta tais questões, além de outras que você julgue pertinentes, redija uma DISSERTAÇÃO EM PROSA, argumentando de modo a expor seu ponto de vista sobre o assunto. REDAÇÃO NOTA DEZ – FUVEST / 2007 Thalita Ventura Lima (Colégio Argumento) Vínculos que superam as diferenças 1. 2. 3. 4. 5. Um dos sentimentos mais admiráveis que um ser humano pode desenvolver por outro é a amizade. É através dela que muitas pessoas conseguem suportar grandes problemas em suas vidas e vencem grandes conflitos. Apesar de muitos argumentarem sobre quão difícil é encontrar alguém digno de confiança, o preço a ser pago nessa procura rende frutos ainda maiores, quando se encontra uma pessoa disposta a cultivar uma amizade verdadeira. A sabedoria popular prega que “nenhum ser humano é uma ilha”, e essa máxima é confirmada pelo cantor e compositor Tom Jobim, quando diz que “é impossível ser feliz sozinho”. Os seres humanos precisam conviver em sociedade e criar vínculos fortes uns com os outros, porque a verdadeira amizade é mais profunda do que as pessoas imaginam: não é nenhum relacionamento superficial, mas antes é construída à base da confiança, ou seja, lentamente. Há muitas pessoas que buscam amizades, mas nessa busca não se importam com sentimentos alheios. Essa forma de procura por amigos é prejudicial porque é egoísta. Para ter amizades verdadeiras, as pessoas devem antes moldar-se para serem amigas, respeitando as outras pessoas, interessando-se por elas, e dessa forma descobrirão afinidades que as façam mais próximas umas das outras. Há também quem queira manter-se longe de outras pessoas e não cultivar amizades com medo de ser magoado por alguém. Nos relacionamentos, as pessoas de fato discordam uma das outras, e isso pode acontecer em amizades verdadeiras também, mas, se houver real interesse entre as partes envolvidas, as diferenças são superadas a fim de que haja a retomada da amizade e assim preserve-se também a qualidade nos relacionamentos. Portanto, o preço a ser pago no desenvolvimento de relacionamentos entre as pessoas rende bons frutos, e cultivar amizades verdadeiras faz bem aos seres humanos. A criação de vínculos interpessoais ajuda o indivíduo a superar problemas e moldam-no para que se interesse por outras pessoas. A verdadeira amizade faz com que pessoas superem as diferenças e busquem qualidade em seus relacionamentos. Comentário sobre a redação Primeiramente, deve-se observar que o tema “AMIZADE” traz alta carga de subjetividade. Ademais, a proposta pede que se teçam reflexões pessoais “(...) e você julga que elas têm validade no mundo de hoje? O que sua própria experiência lhe diz sobre esse assunto?” Portanto, pede-se ao candidato apresentar “seu ponto de vista sobre o assunto”. Sabemos que, no vestibular, a redação construída na modalidade dissertativa não pode apresentar o sujeito enunciador assumindo o discurso em 1ª pessoa do singular (eu). Dessa forma, o candidato deve estar preparado para discutir sobre um tema sob um olhar que, embora particular, consiga tecer considerações que possam ser aceitas pelo senso comum, recorrendo a outras pessoas, e a Thalita conseguiu isso. Vejamos como esse texto foi estruturado: O 1º parágrafo ocupa-se em apresentar a tese em 4 linhas. Começa com uma afirmação sobre a “amizade”, dizendo que é “um dos sentimentos mais admiráveis que um ser humano pode ter pelo outro.” A Thalita apresentou logo de início seu posicionamento, revelando segurança em relação ao tema. Usa elemento de coesão apesar de (conjunção concessiva) para marcar bem a ideia de obstáculo nessa busca “quão difícil é encontrar alguém digno de confiança”, para, a seguir, apresentar a compensação “o preço a ser pago nessa procura rende frutos ainda maiores”. Quanto ao desenvolvimento, são três os parágrafos utilizados para a argumentação: O 2º parágrafo procura fazer referências de outrem: “sabedoria popular” e “Tom Jobim”, a fim de atestar credibilidade à condução da argumentação que diz “os seres humanos precisam conviver em sociedade e criar vínculos fortes uns com os outros”. Ainda nesse parágrafo insere-se mais uma ideia: a de que “a amizade é construída à base da confiança”. O 3º parágrafo traz reflexões sobre a “amizade” e vem confirmando a tese de que “Há mais pessoas que buscam amizades”. Usa a relação causa / consequência para mostrar que alguns “não se importam com sentimentos alheios” “(...) Essa forma de procura por amigos é prejudicial porque é egoísta”. Completa a ideia do parágrafo ao referir-se ao respeito e afinidades necessários entre as pessoas. Para tanto, emprega os elementos de coesão; para (finalidade) e usa orações reduzidas de gerúndio para sugerir ações em processo (construção da amizade). O 4º parágrafo inicia-se já anunciando um contra-argumento (uma “anti-tese” = antítese) relativamente ao posicionamento assumido sobre a “amizade”, “há quem queira manter-se longe de outras pessoas e não cultivar amizades com medo de ser magoado por alguém”. Tal estratégia argumentativa é um recurso que reforça e destaca o que vem sendo dito e confirmado a seguir, mostrando que a tese defendida merece atenção e reflexão, já que “em amizades verdadeiras (...) as diferenças são superadas (...) e assim preserve-se também a qualidade dos relacionamentos”. O último parágrafo, a conclusão, recupera e confirma as asseverações contidas no parágrafo inicial “o preço a ser pago no desenvolvimento de relacionamentos entre as pessoas rende bons frutos, e cultivar amizades verdadeiras faz bem aos seres humanos”. “Pixels” não valem mais que verbos. E o contrário. FUVEST 2010 – Simone – Cursinho Argumento Uma década após a chegada de um novo milênio a gama de parafernálias digitais — internet, TV digital, celulares - atinge diariamente milhões de pessoas no mundo inteiro, expandindo-se cada vez mais e encurtando distâncias entre culturas, permitindo que dados, fatos e informações sejam compartilhadas em segundos. Os meios de comunicação degladiam-se em busca do momento único em que oferecerão em primeira mão a notícia que abalará os fãs, as empresas, o mundo. Não raro, tais informações surgem acompanhadas de imagens perturbadoras, normalmente dispensáveis à compreensão e assimilação de um fato. No entanto, em um mundo extremamente visual, onde cada vez mais as pessoas têm menos tempo, o dito popular “uma imagem vale mais que mil palavras” parece consolidar-se em detrimento da qualidade literária. Omitir ou deturpar fatos e veicular imagens descontextualizadas já se mostrou — e ainda funciona muito bem na atualidade — uma das melhores formas de construir, restaurar ou destruir a imagem de pessoas, países e governos. Fica claro esse poder quando observam-se declarações públicas como a do ator Robbin Willians a respeito do Brasil ou a decisão judicial a respeito do garoto Sean Goldman. Na primeira, informações — deturpadas — sem imagens; na segunda, imagens sem informações. Fica claro que a imagem complementa a informação, enriquece-a. E o contrário também é verdadeiro. Utilizar, porém, ambas fora do contexto é irresponsável arrogante e covarde, causando a construção, muitas vezes deturpada, de personalidades de indivíduos, sociedades, países, provocando conflitos sem propósito, preconceitos estéreis. A construção da personalidade humana depende, entre muitos aspectos, do que o meio em que vive lhe oferece. Proporcionar informações escritas, visuais e auditivas imparciais e verdadeiras produzirá indivíduos críticos, coesos, seletivos. O trabalho é longo, mas trará efeitos a toda humanidade. SOLVE AT COAGULA Expansão e retração. Criar e eliminar fronteiras. Esta tem sido a história do nosso planeta e de suas gentes. Muitas vezes fronteiras foram modificadas, tanto no aspecto geográfico como nos campos do saber. No âmbito geográfico não faltam exemplos. Começa-se com o continente original, Pangeia, um todo, uma massa cinza, depois separada pelo tectonismo de placas. Surgem fronteiras, continentes separados por oceanos. A seguir, povos formam agrupamentos, deixando a vida nômade. Surgem as vilas, as tribos. Tribos então se separam em feudos. Feudos irmãos estabelecem relações de interdependência. Partilham a mesma língua. Nasce, ou melhor, retorna o instinto geográfico do homem. Feudos unem-se em províncias, condados. Condados viram estados. Estados formam países. Países lançam-se “por mares nunca dantes navegados” e conquistam outras terras: África, Ásia, Américas. Diferentes nações ambicionam mesmas terras. Assinam-se acordos. Partilham-se terras, sem levar em conta as etnias presentes. A seguir, separam-se terras. Fronteiras são criadas, unindo os diferentes (e até incompatíveis), outras vezes separando os iguais. Na África, zulus, hutus e tantos outros moram num mesmo país, criado por um estrangeiro, dividido por outro. Na África do sul, o povo autóctone é relegado a guetos, e o branco os aparta de seu convívio. É o “apartheid”. Por outro lado, os curdos se veem separados no Iraque, na Turquia, nos outros países. Os desiguais unidos e os semelhantes separados, ambos amam-se, gritam, e violência e mais violência se instaura. Limites arbitrários gerando tensão, dor e morte. Nas ciências, fenômeno semelhante ocorre. A Filosofia, “mãe das ciências”, é partilhada entre os homens. Homens originais tomam do saber e o ampliam. Novas ciências emergem: a alquimia, a higiene, a política. Destas, outras tantas nascem: a Química, a Física, a Biologia, a Medicina, a Sociologia, a Antropologia, entre outras. Novas separações, novas especializações. Não há limites para novidades. E chega o ponto em que, para saber Medicina, tem-se de entender de Física (na Ortopedia), de Química (nas intoxicações, na hiperlipidemia, na hipertensão arterial), de Linguística (na aquisição de linguagem pelo bebê). Caem as fronteiras entre as ciências. A prova da Fuvest tem questões interdisciplinares. O que começa com Rui Barbosa e Oswaldo Cruz, termina com febre amarela. Expansão e retração. Separação e depois dissolução. E daí surge a solução: o homem vê-se compelido a estar atento, de mente aberta: fluindo no conhecimento e fruindo dele, para que se possa avançar, vencer limites, quebrar barreiras. Mas tendo claro o que faz dele, Homem, um ser singular, original, diferente de outro homem. Uns artistas, outros técnicos. Uns retóricos, outros pictóricos. Diferentes e separados por suas singularidades, mas unidos como espécie. Retraindo egos para expandir limites. Colocando fronteiras a suas individualidades para usufruir da liberdade de ir sempre cada vez mais além. Sem limites. Comentários sobre a redação nota dez (FUVEST 2009) SOLVE AT COAGULA O texto apresenta a tese (linhas 2 e 3) por antonímia: “expansão / retração; criar / eliminar”, em que “a história de nosso planeta e suas gentes” reforça a ideia de mudança em relação a “fronteira”, propondo discutir o termo tanto sob o aspecto geográfico como sob o de aquisição de conhecimento. Entre as linhas 4 e 18, inicia-se o parágrafo de desenvolvimento em que o texto explora a noção de fronteira geográfica. Com frases sincopadas e em gradação ascendente, faz uma retomada do início do mundo, isto é, “com o continente original, Pangeia”, relembrando as diferentes fases por que passou a raça humana na luta pela terra, até chegar aos dias de hoje em que problemas geopolíticos continuam sendo agravados. Aqui, “fronteira” soa como inexorável. São apresentados acontecimentos incontestes, e o parágrafo pode ser definido como expositivoargumentativo. As frases curtas e a dinamicidade da apresentação dessa retomada, imprimem velocidade ao parágrafo e revelam não só conhecimento linguístico para criar esse efeito, como também uma boa bagagem de conhecimento enciclopédico do candidato. Ao optar por essa estrutura discursiva, “fronteira” é apresentado como um termo altamente polissêmico e garante a ideia inicial construída por termos que, apesar de antitéticos, não se excluem. É interessante observar que a coesão textual não é aparente, isto é, não há, praticamente, elementos coesivos na superfície do texto, já que são as inferências do leitor autorizadas pelo texto que promovem a coesão. Assim, o subentendido sugere a construção do caminho interpretativo. Entre as linhas 19 e 26, ainda parágrafo de desenvolvimento, o texto recorre ao mesmo expediente linguístico: frases curtas, sincopadas, algumas sem verbos, em gradação ascendente para referir-se à questão do saber, em que “fronteira” assume conotação positiva. A insistência na repetição desse tipo de construção de parágrafo é uma estratégia textual que reforça e confirma a tese, ou seja, o 2º e o 3º parágrafos estão em sintonia com “fronteira”: “expansão e retração”, criação e eliminação. Percebe-se, então, o resultado dessa estratégia: o texto convence por meio de argumentos cumulativos. Ponto para o candidato, que mostra domínio na elaboração e condução de seu texto. Nas linhas 27 a 33, tem-se a conclusão muito bem articulada. Esse parágrafo segue a mesma estrutura discursiva dos anteriores e destaca-se pela criatividade do candidato ao terminar seu texto: polaridades quase poéticas são construídas para asseverar seu posicionamento relativamente a “fronteira”. (PROPOSTA DE REDAÇÃO: FRONTEIRA FUVEST – 2009 Acesse – http://www.fuvest.br/vest2009/provas/2fase/por/por06.stm) Escolhi essa redação dentre outras, para mostrar como é possível associar criatividade com conhecimento enciclopédico, adquirido em aulas e em leituras, e, também, com conhecimento de mundo, com relações interpessoais, com experiências do cotidiano. A correta coesão, a linguagem referencial e a obediência ao padrão culto da língua mostraram-se eficientes para a estruturação do texto. Por tudo isso, a nota dez. (Professora Mirian) REDAÇÃO Um mundo por imagens A imaginação simbólica é sempre um fator de equilíbrio. O símbolo é concebido como uma síntese equilibradora, por meio da qual a alma dos indivíduos oferece soluções apaziguadoras aos problemas. (Gilbert Durand) Ao invés de nos relacionarmos diretamente com a realidade, dependemos cada vez mais de uma vasta gama de informações, que nos alcançam com mais poder, facilidade e rapidez. É como se ficássemos suspensos entre a realidade da vida diária e sua representação. (Tânia Piellegrini, Adaptado) Na civilização em que se vive hoje, constroem-se imagens, as mais diversas, sobre os mais variados aspectos; constroem-se imagens, por exemplo, sobre pessoas, fatos, livros, instituições e situações. No cotidiano, é comum substituir-se o real imediato por essas imagens. Dentre as possibilidades de construção de imagens enumeradas acima, em negrito, escolha apenas uma, como tema de seu texto, e redija uma dissertação em prosa, lançando mão de argumentos e informações que deem consistência a seu ponto de vista. Instruções: Lembre-se de que a situação de produção de seu texto requer o uso da modalidade escrita culta da Língua Portuguesa. Dê um título para sua redação, a qual deverá ter entre 20 e 30 linhas. Não será aceita redação em forma de verso. REDAÇÃO NOTA DEZ DE 2010 JULIANA (...) PAUFERRO – ALUNA DO COLÉGIO ARGUMENTO Simbolizar o passado, descobrir o presente A representação da realidade por meio de imagens constituiu um elemento básico no estudo da história da humanidade. Usadas pelo homem como forma de expressão desde a Pré-História, com as pinturas nas cavernas, as imagens servem até hoje como fonte de pesquisa para que os historiadores reúnam mais informações à respeito da realidade de cada período vivido pelo ser humano. Entretanto, no decorrer dos séculos, a representação de fatos por meio de imagens também foi utilizada como forma de distorcer situações reais, fazendo com que essas situações fossem sufocadas por essa atmosfera de heroísmo que nem sempre condiz com a realidade. Um exemplo dessa distorção a que os fatos são submetidos é a pintura de Pedro Américo que representa o grito do Ipiranga. Nela, o grito de independência é mostrado como fundamental para a libertação do Brasil, além de simbolizar um ato de bravura de D. Pedro I. Porém, na atualidade, essa versão idealizada já é contestada, mostrando que a independência significou apenas a conclusão de um processo de abertura iniciado em 1808, com a chegada da família real e a abertura dos portos a nações amigas. Apesar disso, muitos brasileiros possuem na pintura de Pedro Américo a única versão da nossa independência. A criação de uma figura heroica, que representa simbolicamente determinados ideais já esteve presente na história do Brasil em outras situações. A pintura da morte de Tiradentes foi utilizada para representar as ideias republicanas no século XIX, transformando-o em um mártir. Já a figura do bandeirante do período colonial foi resgatada e restaurada pelos paulistas durante a Revolução Constitucionalista de 1932, com a intenção de exaltar o passado de São Paulo e utilizá-lo como forma de incentivar uma emancipação. Percebe-se, portanto, que a criação de imagens que representam fatos históricos pode ser utilizada com intenções ideológicas e políticas. Torna-se, nesse sentido, fundamental a busca pelas verdadeiras versões dos fatos, que podem até ser menos recheadas de exaltação e heroísmo, mas são, sem dúvida, as únicas capazes de reconstruir um passado livre de falsas vitórias e nos proporcionar alguma chance de enxergar os erros de antes e construir um novo presente. COMENTÁRIO SOBRE A REDAÇÃO A Juliana já começa acertando no Simbolizar o passado, descobrir o presente que se mostra visceralmente integrado aos argumentos apresentados e antecipa o conteúdo da dissertação. Depois de lido o texto, percebe-se o porquê de ela usar as polaridades “passado/presente”. Seu título serviu de moldura para o texto, isto é, conseguiu a abrangência necessária para envolver todas as questões tratadas. Sempre sugiro aos alunos que criem títulos bem referenciais, e a Juliana acertou na medida. Quanto à tese, diz que as imagens sempre serviram “como forma de expressão desde a Pré-História” e assevera a importância delas como “fonte de pesquisa (...) a respeito da realidade vivida pelo ser humano”. Em seguida, entra com uma conjunção adversativa “entretanto” que vem não só encabeçar uma oposição “a representação dos fatos por meio de imagens também foi utilizada como forma de distorcer situações reais” como também vem dar força aos argumentos que serão apresentados nos parágrafos seguintes. Usou dois parágrafos para o desenvolvimento. No primeiro, apresenta como exemplo de distorção dos fatos a pintura de Pedro Américo a qual representa O Grito do Ipiranga. Argumenta que nossa independência passou por processo que difere dessa “versão idealizada” apresentada no quadro e, por isso, “já é contestada” na atualidade. No segundo parágrafo, continua discorrendo sobre o poder de se criarem imagens simbolicamente determinadas, segundo certas intenções. É o caso de Tiradentes (transformado em mártir) a figura do bandeirante do período colonial (resgatada e restaurada pelos paulistas) para “exaltar o passado de São Paulo e utilizá-lo como forma de incentivar uma emancipação”. O parágrafo conclusivo vem corroborar a tese, quando diz “a criação de imagens que representam fatos históricos pode ser usada com intenções ideológicas e políticas”. Os argumentos apresentados deram ao texto credibilidade suficiente para que, nas linhas finais da conclusão, proponha a necessidade de se buscarem as verdadeiras versões dos fatos “as únicas capazes de reconstruir um passado livre de falsas vitórias”, a fim de que “nos proporcione alguma chance de enxergar os erros de antes e construir um novo presente”. O último parágrafo ficou absolutamente primoroso relativamente à coesão textual e à coerência como um todo. Diante dessas observações, nada mais justo que a nota dez. Mais uma vez, parabéns para Juliana que conseguiu criar um texto fortemente argumentativo, revelador de sua capacidade de entretecer informações históricas tão ajustadas ao tema proposto. (Professora Mirian)