XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro. O IR E O VIR NA FEIRA DE DELMIRO GOUVEIA: UM OLHAR GEOGRÁFICO SOBRE A MOBILIDADE SÓCIO ESPACIAL E O ENSINO DE GEOGRAFIA Flávio dos Santos1, Kleber Costa da Silva2 Introdução O presente trabalho integra um conjunto de atividades do Programa Bolsa Permanência, do Curso de Geografia – Licenciatura – Universidade Federal de Alagoas, Campus do Sertão, e tem como finalidade trabalhar questões importantes relativas à mobilidade sócio espacial da feira popular de Delmiro Gouveia (Fig. 1), Sertão de Alagoas, de modo a aliar leitura teórica, prática docente, pesquisa de conteúdos, extensão acadêmica e diálogo com a comunidade. A feira de Delmiro Gouveia-AL, se caracteriza pela presença explicita da cultura sertaneja, pelo enorme número de feirantes oriundos de outras localidades (povoados e cidades vizinhas), bem como pela grande quantidade de mercadorias também procedentes de outras regiões (Fig. 1). Nesse aspecto, é de fundamental importância realizar o estudo sobre os meios pelos quais são transportados os feirantes e as mercadorias, no sentido de compreensão das redes geográficas consolidadas para tal fim. A princípio, considerou-se como fundamento teórico-conceitual o conceito de espaço proposto por Santos (2004): “a geografia poderia ser construída a partir da consideração do espaço como um conjunto de fixos e fluxos. Hoje os fixos são cada vez mais artificiais e mais fixados ao solo, os fluxos são cada vez mais diversos, mais amplos, mais numerosos, mais rápidos”. Observamos que o espaço é resultado das interações entre os fixos e os fluxos e, nesse aspecto, temos a feira popular de Delmiro Gouveia como um conjunto complexo de fixos (objetos) que atendem aos fluxos (de pessoas, mercadorias e de capital), ou seja, as ações. Para a compreensão das redes geográficas consolidadas na feira, trabalhamos o conceito de rede como “um conjunto de localizações geográficas interconectadas entre si por um certo número de ligações” (Corrêa, 2011). Observamos que as redes geográficas são essas ligações que conectam uma localização a outra, um centro a outro. No caso da feira de Delmiro Gouveia, existe a ligação entre as regiões onde são produzidas as frutas, verduras etc. com a feira; uma ligação dessas regiões com os feirantes e uma ligação entre a feira e os feirantes. Pois temos o mercado produtor e o mercado consumidor, formando assim uma rede geográfica que os conectam. Em relação ao conceito de mobilidade, trata-se da “necessidade de circular dos indivíduos, ou seja, de se deslocarem pelas vias urbanas, utilizando-se de algum modo de transporte (a pé, mecanizado ou motorizado) para a satisfação de suas atividades sociais, políticas, culturais e econômicas” (Sardinha & Oliva, 2010). Percebe-se então a importância do estudo sobre a mobilidade urbana, neste caso, sobre a mobilidade na feira de Delmiro Gouveia. Em virtude disso, buscaremos nesta pesquisa realizar o estudo sobre a mobilidade decorrente do transporte relativo à Feira livre de Delmiro Gouveia, através do mapeamento do fluxo de pessoas e de mercadorias, além da situação geográfica no que concerne a origem, percurso e destino. Além disso, a fim de estimular a reflexão sobre os serviços de transportes da Feira de Delmiro Gouveia, uniu-se essa proposta a uma atividade realizada em uma escola pública do município, com fins pedagógicos ligados ao ensino de Geografia. Material e métodos O trabalho foi realizado inicialmente com a leitura de aspectos teórico-conceituais ligados às noções de espaço, mobilidade e redes – tendo como base os autores: Santos (2004), Sardinha & Oliva (2010) e Corrêa (2011). Noutro momento, seguiram-se procedimentos práticos onde se realizaram entrevistas, registro fotográfico de fenômenos, processos, objetos e ações existentes na Feira de Delmiro Gouveia feira, além de aplicação de questionários, onde ficou bastante evidente a grande quantidade de feirantes vindos de outras localidades para a feira de Delmiro Gouveia, bem como os diversos tipos de transportes que são utilizados pelos feirantes (ônibus, caminhonete, motocicleta, bicicleta, carros próprios, etc.) (Fig. 1), e, como complemento, a busca de dados oficiais e o tratamento desses mesmos dados através de recursos geotecnológicos (Quantum Gis, ArcGis, etc.). Concluídos tais procedimentos, realizou-se uma atividade em uma escola pública do município. Através de uma aula expositiva, foram apresentados os resultados da pesquisa. Os alunos foram levados a refletirem sobre a diversidade cultural presente na feira de Delmiro Gouveia e sobre grande quantidade de pessoas que se deslocam de outras localidades (povoados, cidades) para fazerem compras na feira do município. Os alunos participaram intensamente da 1 Graduando do Curso de Geografia Licenciatura, Universidade Federal de Alagoas. Rodovia Prefeito José Serpa de Menezes – AL 145, Km 3, n° 3849, Bairro Cidade Universitária, Delmiro Gouveia, AL, CEP 57480-000. E-mail: [email protected] 2 Professor assistente II do Curso de Geografia - Licenciatura, Universidade Federal de Alagoas. Rodovia Prefeito José Serpa de Menezes – AL 145, Km 3, n° 3849, Bairro Cidade Universitária, Delmiro Gouveia, AL, CEP 57480-000. E-mail: [email protected] XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro. atividade, interagindo, fazendo perguntas e apresentando opiniões. Após o término da atividade, percebeu-se o entusiasmo dos alunos, pois os mesmos passaram a ver a feira de Delmiro Gouveia de outra ótica através do espaço no qual a feira está inserida, através das redes que ela estabelece com várias localidades e através da mobilidade decorrente dos transportes utilizados pelos feirantes. De um modo geral, os alunos passaram a ver a feira através de um olhar geográfico mais apurado, aliado ao domínio de conceitos com leitura de realidade in loco. Resultados e Discussão Para fins de reflexão sobre o ensino de Geografia, preferiu-se para esta proposta pensar o ensino articulado com a pesquisa e a extensão acadêmica. Nesse sentido, o trabalho de iniciação à pesquisa científica trouxe elementos de leitura da mobilidade e da feira como centro importante à dinâmica socioeconômica local, a partir do mapeamento de usos e de fluxos centrado na mobilidade regional, e, ao mesmo tempo, como conteúdos motivadores às aulas de Geografia, especialmente no que tange à sua esfera humana, cultural e econômica. Os alunos foram levados a pensar criticamente a sua situação no espaço local e à compreensão de uma geografia regional que os colocam como participantes de uma realidade local (a partir da feira) interligada em redes complexas de interdependência social e econômica (local x global). A resposta a tal proposta como estímulo ao ensino se revela como um resultado esperado de aprimoramento de nossa situação enquanto futuros docentes e pesquisadores ligados à produção do conhecimento e ao ensino da disciplina. Agradecimentos Ao Programa Bolsa Permanência da Universidade Federal de Alagoas e aos integrantes do Grupo de Estudos Sociedade e Natureza (GESN), aos funcionários da Biblioteca do Campus do Sertão, UFAL, e aos bolsistas do PIBID de Geografia desta mesma instituição. Referências CORRÊA. R. L. Trajetórias geográficas. 6. Ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2011. SANTOS, Milton. A Natureza do Espaço. 4. ed. São Paulo: Edusp, 2004. RODRIGUES SARDINHA. D. F.; DE OLIVA. P. K. R. Mobilidade urbana, transporte e qualidade de vida: uma caracterização da área central de Montes Claros-MG. In: XVI Encontro Nacional de Geógrafos, 2010, Porto Alegre. Anais. XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro. Figura 1. Fig. 1A: Feira popular de Delmiro Gouveia; Fig. 1B: Vista parcial da feira de Delmiro Gouveia; Fig 1C: Comercialização de frutas na feira de Delmiro Gouveia; Fig. 1D: Transportes utilizados pelos feirantes.