CORAÇÃO IMPREVISTO | 1988

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CORAÇÃO IMPREVISTO | 1988
1. FOGO DE PALHA
5. CORAÇÃO IMPREVISTO
Toninho Horta/Eugénia Melo e Castro
Caetano Veloso/Eugénia Melo e Castro
Preciso de outro espaço
Fazer parar o que eu faço
Cansada
De outro cansaço
Estamos outra vez quase em Março
Falo no plural
Disfarço
Até do que eu me lembro
Eu esqueço
Dentro de mim quase existo
Quase tudo
Quase aquilo
Quase isso
Oposto desde o início
Não peço, não me despeço
Não me mexo nem um passo
Do começo tenho o fim
Já sem riscos
Já sem traços
Não me tenho nem a mim
Tudo é igual
Não e sim
Meu coração nunca acerta
Meu coração nunca falha
Pára
E no lugar que a dor aperta
Arde um fogo eternamenmte
Um fogo eterno
De palha
2. LONGE
Ronaldo Bastos/Danilo Caymmi
Indo para longe
Não me perguntem mais porquê
Um olhar pra trás me basta
Para saber para onde eu quero ir
Não tenho herança
Do fingimento me cansei
Mas ainda tenho amigos
E já sei para onde eu quero ir
Longe
Bem longe
Quem me espera
Longe
Quem me dera
Longe
Encontrar alguém
Pelo princípio das metas
Dos mitos, mal e bem,
Mal e benditos
Vícios de um só mesmo vício
Cada um para seu canto
Lados de um só mesmo encanto
Como serão afinal
Os finais
Os infinitos
Tudo é normal e esquisito
Meu coração imprevisto
Quase tudo
Quase aquilo
Quase isso
Quase isto
6. TALVEZ EM TEUS OLHOS
Wagner Tiso/Milton Nascimento
Que haverá no amanhã?
Tantos planos tenha eu
Que perguntas vão chegar?
Que resposta a se viver?
Mil sorrisos chegarão
Que lacuna se abrirá?
Qual amante, que herói
Outro livro escreverá?
O passado me ensinou
Por onde seguir
E do amanhã só sei
Que a vida não se faz
Sozinha
As fases que a lua tem
Ou momentos de ballet
Frases soltas de canções
São cores dos olhos teus
Na malícia do talvez
Longe
Quem me espera
Triste
Quem me espera
Firme
Quem me quer assim
3. PENSAMENTO
Milton Nascimento/Fernando Brandt
Se é para esquecer
Eu não esqueço
Se é para perdoar
Já perdoei
Não cabe em meu amor
A mágoa da paixão
Carinho que eu fiz
Não vai virar espinho
Se é para amar, eu sigo amando
Se é para viver, viverei
Eu só não vou mudar meu pensamento
Não quero mais saber de solidão
Solidão
4. MALDITA COCAÍNA
Cruz e Sousa/Almeida Amaral
Não esqueço a noite fatal
Em que vi o meu amante
O olhar duro e tão brilhante
Como o aço de um punhal
A sua boca mordia
Suas mãos eram tenazes
Deixando nódoas lilazes
No meu corpo que sofria
Meu desejo enlouqueceu
Toda a chance quero ter
Ser canção nos olhos teus
7. OS ARGONAUTAS
Caetano Veloso
O barco
Meu coração não
aguenta
Tanta tormenta
Alegria
Meu coração não
contenta
O dia
O marco
Meu coração
O porto
Não
Navegar é preciso
Viver não é preciso
Navegar é preciso
Viver não é preciso
O barco
Noite no teu tão
bonito
Sorriso solto, perdido
Horizonte,
Madrugada
O rio, o arco
da madrugada
O porto, nada
Navegar é preciso
Viver não é preciso
Navegar é preciso
Viver não é preciso
Maldita cocaína que roubaste o meu
amante
Que p’ra sempre enlouqueceu
O teu poder fascina
És um corpo de Bacante
Com melodias de Orfeu
Maldita cocaína
Odeio-te e gosto de ti
És a minha companheira
Embora a mais traiçoeira
Que eu amei e conheci
O barco
O automóvel
brilhante
O trilho solto, o
barulho
do meu dente em tua
veia
O sangue, o charco,
barulho lento
O porto, o silêncio
Hoje não posso deixar
Esse pó de maldição
Vivo da sua ilusão
Navegar é preciso
Viver não é preciso
Navegar é preciso
Acordada e a sonhar
A vida instante a instante
Sinto que me vai roubando
Mas ai de mim é sonhando
Que me dou ao meu amante
Maldita cocaína que roubaste o meu
amante
Que p’ra sempre enlouqueceu
O teu poder fascina
És um corpo de Bacante
Com melodias de Orfeu
Maldita cocaína
Odeio-te e gosto de ti
És a minha companheira
Embora a mais traiçoeira
Que eu amei e conheci
Viver não é preciso
8. PRINCÍPIO E FIM
Guto Graça Mello/Eugénia Melo e Castro
Não sei quem precisa mais de nós
Se sou eu a sós longe de ti
Se és tu aí longe de mim
Aqui, atrás dos dias
Fico sem dormir, sem acordar
Sem ir, sem vir, não estar
Não sei quem se ausenta mais de nós
Se quando tentamos não sentir
Estar presente é sempre
E de repente sais antes de mim
E eu chego à tua frente
Ao meu lugar, que vai ficar vazio
Sinto um frio lento e contra o tempo
Perco mil horas a fio
Sinto um calor que aguento dentro do peito
E por fim confio em ti, em mim
Não sei quem se entrega mais a nós
Se o que eu tenho de ti é a voz
É a mesma voz que tens de mim
Aí, o tempo vai passar
Aqui, o tempo vai passar
Tudo é princípio
E fim
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